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Capítulo 43- Noite de Natal


ANNE

Anne estremeceu, e apertou mais o casaco de lã que a cobria da cabeça aos pés. O frio era tão intenso, que ela podia sentir as pontas dos dedos de seus pés congelados dentro de suas botas grossas de inverno, e mentalmente repreendeu a si mesma por ter se oferecido para levar as encomendas de pães de Marilla até a casa de Rachel, Agora teria que caminhar por quase um quilômetro, ouvindo o zumbido do vento gelado por entre as árvores, dando a ela a impressão que estava mais frio do que os números dos termômetros acusavam, fazendo com que Anne temesse morrer de hipotermia antes de chegar aos portões da casa de Rachel.

Ela apressou o passo, tentando caminhar mais rápido, mas seus pés pesavam como chumbo, conseguindo apenas andar poucos passos por minuto, e ela percebeu desgostosa que demoraria mais tempo que o normal para percorrer a distância entre Green Gables e a fazenda de Rachel. Devia ter aceitado a carona que Matthew oferecera quando estava saindo de casa. Anne recusara porque queria fazer um pouco de exercícios, depois de ficar confinada dentro de casa por vários dias, por causa das nevascas constantes. Precisava de ar puro e, por isso, se animara a sair quando vira que naquele dia o céu estava limpo e quase sem nuvens, mas se enganara quando pensou que a temperatura também estaria mais alta, o que tudo indicava continuaria assim por um bom tempo.

A época em que estavam era propícia para isso, pois aquela noite seria véspera de Natal, data que Anne mais amava no ano, mas daquela vez não estava tão animada. Talvez fosse porque depois das festas, Gilbert iria enfim para a faculdade, sobrando apenas aquelas duas semanas para desfrutarem da companhia um do outro, e isso tinha um efeito devastador sobre as emoções de Anne.

Enquanto caminhava em ritmo lento e quase desanimador, ela observava as casas pelas quais passava todas enfeitadas para aquele grande dia, mas o ar de festa que ela podia sentir em cada enfeite ou luzes natalinas não parecia alegrá-la como costumeiramente aconteceria, pois ela simplesmente não conseguia tirar da cabeça a partida de Gilbert tão próxima agora que se não prestassem atenção já os alcançaria em um segundo.

Eles resolveram que não participariam de nenhuma festa natalina daquela vez, preferindo as comemorações familiares. Anne e Gilbert passariam a noite de Natal com Mary e Sebastian, enquanto Matthew e Marilla iriam para a casa de Rachel que ainda estava convalescente de seu acidente de meses atrás, mas que não quisera abrir mão de sua festa tradicional que organizava para amigos e familiares todos os anos.

Apesar de não estar em clima festivo, Anne não pretendia passar aqueles últimos dias que restavam se lamentando. Planejara uma maratona de atividades para fazer com Gilbert, passeios e momentos a dois que fariam bem a ambos e lhes dariam a oportunidade de relaxar. Mas, mesmo acompanhando a noiva em tudo que ela programara para eles, Gilbert se mostrava estranhamente calado aqueles dias. Anne o conhecia bem, e sabia que sua ida para Nova Iorque o estava perturbando também. Ele não falava muito sobre aquilo, mas a maneira como ele se aproximara dela nos últimos tempos a fizera perceber o quanto tudo aquilo o estava afetando.

Gilbert a abraçava com mais frequência, tocava o rosto dela a todo momento, e quando a beijava além da paixão sempre presente, havia um toque de melancolia ou mesmo despedida no qual Anne tentava não pensar. Odiava o silêncio que caía entre eles agora, e o olhar perdido de Gilbert que ela não conseguia decifrar, os momentos em que ele parecia se afastar dela elevando seus pensamentos a um nível o qual era impossível para Anne alcançar. Era difícil para ela amá-lo tanto e saber que em poucos dias um oceano estaria entre eles, e ela não poderia simplesmente vê-lo cada vez que sentisse saudade.

A vida era assim, ela sabia por experiência, que não havia meio termo, ou se agarrava o que desejava ou soltava de vez desistindo de tudo e vivendo somente de lembranças, Ela não queria isso para si, e certamente, não queria isso para Gilbert. Nunca deixaria que ele desistisse de nada que o fizesse feliz somente por causa do amor deles, porque ela sabia que as cobranças viriam com o tempo, e o arrependimento não traria de volta as oportunidades perdidas, por isso preferia sofrer agora com a distância, do que agonizar depois com a infelicidade do noivo.

Por esta razão, ela repetia para si mesma cinquenta vezes por dia que a partida de Gilbert era algo temporário, que nos quatro anos seguintes ela estaria tão ocupada com sua vida e com o planejamento do casamento que não veria o tempo passar, mas o coração dela não se convencia com facilidade e sua cabeça estava decidida a fazê-la se lembrar.

Como era difícil amar alguém assim, Anne pensava. O sentimento conseguia levá-la ao paraíso e ao inferno ao mesmo tempo, e ele tentava se equilibrar entre os dois extremos sem muito sucesso. O sonho de Gilbert os levara a isso, mas ela seria mais feliz se ele continuasse em Avonlea insatisfeito com sua vida? Ela sabia qual era a resposta, e mesmo que isso a fizesse sangrar até a última gota, ela se agarraria esperança de que nada afastaria os dois, e que quando Gilbert se formasse seus laços de amor estariam mais fortes, e suas vidas estariam interligadas para sempre,

Anne chegou à fazenda de Rachel no exato momento em que temperatura parecia estar ainda mais baixa. Seu rosto estava vermelho, as pernas cansadas e suas mãos formigavam por causa do frio. Ela desejou que já estivesse de volta a Green Gables onde se serviria do seu chá favorito e se sentaria envolta da lareira em companhia de um livro e um cobertor quentinho.

A menina chegou até a varanda de Rachel, e ao seu segundo chamado, a velha amiga de Marilla apareceu, apoiando a pena doente em uma muleta.

- Anne, querida. Como vão as coisas em Green Gables?

- Está tudo bem. Marilla me pediu para trazer sua encomenda.

- Obrigada. Ela me disse que você e o Gilbert não virão para a festa hoje à noite.

- É, vamos passar a noite de Natal com Sebastian e Mary. A pequena Shirley está resfriada, e o médico aconselhou Mary a não expô-la ao mau tempo, por isso, eu e Gilbert resolvemos fazer a ceia em casa mesmo.

- Que pena. Vamos sentir falta de vocês. Então, me conte como vai o noivado com Gilbert? Será que podemos esperar o casamento para breve? – Rachel perguntou, seu olhar curioso caindo sobre Anne como uma ave de rapina. Ela tinha fama de fofoqueira na comunidade de Avonlea, mas também era conhecida por ser generosa quando não estava preocupada em tomar conta da vida dos outros, é claro.

- Estamos bem, mas o casamento vai demorar um pouco. Gilbert quer se formar primeiro em Medicina, e eu concordo com ele. Ainda somos jovens, e eu também quero estudar e ter minha própria profissão.

- Só não espere muito, querida ou acabará velha demais para ter filhos. E em um casamento é muito importante ter filhos. – Rachel não tinha papas na língua. Ela adorava dar sua opinião em tudo sem nem mesmo ter sido convidada a fazê-lo. Uma leve irritação tomou conta de Anne ao ouvi-la falar de seu casamento com Gilbert, mas respirou fundo, pois não queria ser mal-educada com a amiga de Marilla.

- Ainda sou muito jovem para ter filhos, e quando Gilbert terminar a faculdade terei tempo de sobra e maturidade para isso.

- Claro, meu bem. Mas você tem que se lembrar que uma mulher que não pode gerar filhos nunca é bem vista pelo próprio marido. – ela ia mesmo insistir naquele assunto, Anne pensou, mas tentou ser tolerante com Rachel, pois ela vinha de uma geração que acreditava que a mulher era feita somente para cuidar da casa e do marido, e que construir uma carreira era pura perda de tempo.

- Duvido que Gilbert pense assim. Além do mais, se eu não puder ter filhos, podemos adotar um. Existem tantas crianças nos orfanatos pelo mundo que precisam tanto de um lar.

- Ah, mas não é a mesma coisa que gerá-los em seu ventre, pois assim você terá a certeza de que terão o seu sangue e não de uma outra pessoa qualquer.

- O sangue é da mesma cor para todos Rachel. Não existe essa coisa de linhagem ou berço. Somos todos iguais perante Deus. Você deveria saber disso, já que não sai da igreja e vive pregando os sermões do Pastor Jackson pela comunidade de Avonlea afora. – Anne sabia que tinha sido rude ao ver o olhar chocado que Rachel lhe lançou, mas a mulher parecia sentir em prazer em provocá-la, e isso sempre acabava despertando o pior lado de Anne. Ela gostava de Rachel, mas não sabia como Marilla a tinha suportado por todos aqueles anos.

- Bem, preciso ir. Marilla me espera e temos muita coisa para fazer em Green Gables hoje. Até logo.

- Até logo. – Rachel respondeu sem graça.

Anne voltou para Green Gables na metade do tempo que gastara para chegar na fazenda de Rachel, Estava terrivelmente irritada, e ela podia sentir a ira vibrar em seus nervos, lhe dando energia para caminhar passos largos e firmes. Ela estava acostumada com a língua ferina de Rachel, e na maior parte do tempo ela não se importava com a maneira como ela falava as coisas, mas naquele dia em que a tensão parecia tomar conta de cada fibra de seu ser, não conseguira suportar a curiosidade excessiva daquela mulher, e usara seu melhor tom de ironia.

Por que será que todo mundo resolvia falar de seu casamento e da partida de Gilbert com ela? Será que não percebiam o quanto ela sofria com tudo aquilo? Será que teria que carregar uma placa presa ao próprio corpo ou escrever na testa "assunto proibido"? Anne sabia que estava exagerando, e que estava transformando aquilo tudo em um grande dramalhão, mas ela não se importava, estava sofrendo e lidar com aquilo sozinha a estava deixando maluca.

Marilla estava na cozinha como sempre, quando Anne entrou com as roupas em desalinho e os cabelos bagunçados pela brisa que soprava lá fora. O rosto trazia uma expressão estranha que a lembrava aquelas tragédias vitorianas encontradas nos livros. Ela teria achado a cena engraçada se não fosse o olhar de Anne que lhe indicava que havia algo errado, A menina nunca sabia disfarçar quando havia algo lhe incomodando, pois seus olhos eram expressivos demais.

- O que foi, Anne? Aconteceu alguma coisa? – Marilla perguntou preocupada.

- Não, é só que....... – para o seu horror lágrimas começaram a cair. Marilla a abraçou e aquele gesto tão pouco comum nela fez Anne chorar ainda mais.

- Vamos, querida. Você sabe que pode me contar qualquer coisa. Prometo que vou tentar ajudar.

- Gilbert.- Anne disse simplesmente.

- O que tem ele? Vocês brigaram? – Anne balançou a cabeça, respirou fundo e começou a falar:

- Ele vai embora, Marilla. O que vou fazer da minha vida sem ele?

- Anne, ele não vai embora. Gilbert irá para Nova Iorque estudar, mas isso não vai durar para sempre. E ele também virá para casa sempre, então, não vejo motivos para você ficar neste estado. – Marilla viu o sofrimento de Anne e se compadeceu dela. As dores de amor sempre levavam tempo para se amenizarem, ela própria já sofrera uma vez por amor, e nunca mais quisera repetir a experiência. John, pai de Gilbert, fora o único dono de seu coração, e quando ele resolvera partir de Avonlea sem ela, levara o seu coração com ele e nunca mais ela conseguiu recuperá-lo. Mas, no caso de Anne, a história era outra. Gilbert não estava de fato indo embora, o menino estava partindo para Nova Iorque porque queria começar a construir um futuro sólido com Anne, e a Medicina além de lhe proporcionar isso, também era sua outra paixão. Marilla sentiu seu coração se apertar ao pensar que sua garotinha estava aprendendo da maneira mais dura o que significava crescer e ter responsabilidades na vida, o que significava também se sacrificar por aqueles que mais se amava, às vezes abrindo mão de seus próprios sonhos para que o outro pudesse realizar os seus.

Ela fizera isso, deixara John partir sem ela, porque seu senso de lealdade com sua família falara mais alto. Em todos aqueles anos ela nunca pensara muito naquilo, pois para Marilla uma decisão uma vez pesada e tomada não deveria dar margens para arrependimentos depois. Sua família precisara dela e como filha mais velha dera o seu melhor, embora, não pudesse dizer que fora fácil no início e que não sofrera, mas aprendera com o tempo a ser paciente e a lidar com a amargura de maneira positiva. Quando John voltara para Avonlea anos depois viúvo e com um filho nos braços, ela pensara em se aproximar dele novamente, mas desistira por pensar que o tempo deles já tinha passado e que suas vidas tinham seguido em direções opostas. Com a morte dele, ela enterrara definitivamente o passado, e não pensara mais no que sua vida poderia ter sido se tivesse tomado uma decisão diferente.

Marilla voltou a se concentrar em Anne que continuava a chorar desconsolada, e com seu jeito prático, tentou fazê-la ver a situação por outro ângulo,

- Anne, pare de chorar, você somente está avaliando a situação por um lado, por que não começa a pensar que quando tudo isso acabar você e Gilbert poderão ficar juntos, e nunca mais terão que se separar?

- Eu sei que está certa, Marilla e que eu deveria estar feliz por Gilbert ter conseguido essa bolsa de estudos e poder realizar finalmente o seu sonho, mas existe algo dentro de mim que não quer que ele vá. Tudo isso é irracional, eu sei, mas não consigo mudar o que sinto. – ela enxugava as lágrimas com as mãos um tanto irritada por ter pedido o controle na frente de Marilla. Ela raramente chorava na frente de alguém, pois odiava expor sua fragilidade, mas naquele momento ela precisava daquele desabafo para que assim não enlouquecesse com o rumo de seus pensamentos.

- Você sempre foi muito passional, Anne, e confesso que quando veio para Green Gables, eu me assustei com esse seu jeito um tanto exagerado de ver as coisas, mas com o empo percebi que isso é o que faz de você ser essa garota incrível que é, e tenho certeza que é justamente essa sua paixão que a ajudará a superar todas as suas dificuldades com certos fatos da vida com coragem e serenidade.

- Obrigada, Marilla. Vou tentar pensar em tudo que disse. Me desculpe por aborrecê-la com isso.

- Não diga isso, querida. Somos família e se não pudéssemos contar com aqueles que nos amam nos momentos mais difíceis, não faria sentido estarmos nesse mundo. Agora vá para seu quarto descansar um pouco de sua longa caminhada até a casa de Rachel, e depois, desça para me ajudar com os pratos que levarei para a ceia na casa dela esta noite.

Anne assentiu com a cabeça e foi para seu quarto. Quando lá chegou se atirou na cama, pensando na conversa que tivera com Marilla minutos antes. A boa senhora tinha razão, Anne estava se comportando como uma garotinha birrenta que se recusava a dividir seu brinquedo favorito. Gilbert merecia aquela oportunidade, e ela deveria estar dando força a ele e não fazendo com que ele se sentisse culpado por estar indo em busca de um futuro melhor para ambos. Racionalmente ela sabia de tudo aquilo, mas emocionalmente não conseguia enxergar com clareza.

Como Diana lhe fazia falta naquele momento, e Cole também. Se estivessem ali com certeza a ajudariam a pensar com mais coerência e os seus sentimentos não estariam naquela confusão total, deixando-a exausta e sem boas perspectivas. Ela se sentia tão fragilizada e a solidão nunca pesara tano em sua vida como agora. Queria respostas, mas somente tinha perguntas, queria certezas, mas as dúvidas se multiplicavam. Não havia garantias ou fórmulas mágicas que a ajudariam a encarar tudo aquilo de maneira mais suave e sem sofrer tanto. Ela teria que ser forte por ela, por Gilbert, pelo amor deles, e somente esperava não sucumbir pelo caminho.

GILBERT

Gilbert acordou com o uivo do vento em sua janela e suspirou. O inverno tinha chegado com força total, e ele se lembrou que Anne detestava o frio tanto quanto amava o Natal. Ela sempre lhe dizia que achava lindo um Natal todo branco, mas o único problema era a temperatura abaixo de zero que sempre acompanhava essa época, e ela odiava a sensação congelante em seu corpo, seus pés que nunca ficavam quentes o suficiente, suas mãos que pareciam feitas de pedra, e o nariz que ficava tão vermelho quanto tomate, contrastando com o seu cabelo ruivo. Definitivamente, o frio não combinava com sua vaidade, ele ouvira Anne dizer inúmeras vezes.

Gilbert não conseguia entender por que Anne era tão desfavorável a sua própria aparência. Ela era adorável de todas as maneiras, tudo lhe caia bem, e não havia em Avonlea uma garota mais linda do que ela, Ele cansara de dizer isso a ela, mas Anne apenas rira dizendo que o amor dele por ela era que o fazia vê-la daquela maneira, mas que se olhasse bem, ele veria que havia muitas garotas naquela comunidade bem mais bonitas do que ela. Aquela discussão continuava por horas, e acabavam desistindo dela por falta de argumentos de ambos os lados.

Ele se levantou e foi para a cozinha sem se importar em trocar o pijama que usava por algo mais quente. Sua casa era aquecida e por isso não tinha necessidade de usar roupas pesadas de inverno dentro dela, sendo possível ficar mais já vontade em trajes informais.

Mary estava com Shirley no colo, quando ele se sentou à mesa, e exibia o semblante preocupado enquanto embalava a menina para dormir.

- Como está, Shirley esta manhã, Mary? – Gilbert perguntou enquanto enchia sua xicara de café quente.

- Ela parece estar melhor. A febre cedeu e as crises de tosse se espaçaram.

- Mas, então, por que tenho a impressão que você continua preocupada? – Gilbert colocou a xícara de café sobre a mesa e olhou parra Mary fixamente.

- São coisas de mãe, você sabe. Nós sempre queremos ver nossos filhos bem. É difícil para mim observá-la todos esses dias tão amuada, mal se alimentando e chorosa, Eu só queria que ela se recuperasse logo para voltar a ser aquela garotinha sorridente que nos encanta a todos.

- Calma, Mary. Toda enfermidade precisa de um tempo para perder a força e ir embora, assim como o nosso corpo precisa desse mesmo tempo para se curar. Shirley ficará boa logo, você só tem que ser paciente. – ele estendeu a mão sobre a mesa e tocou a de Mary com carinho. Em seguida, se serviu de outra xicara de café e se perdeu em seus pensamentos,

- Você já começou a empacotar suas coisas para a viagem até Nova Iorque? – Mary perguntou quebrando o silêncio que se instalara entre eles.

- Ainda não. – ele respondeu e tornou a ficar em silêncio.

- Eu não te entendo, Gilbert. Você lutou tanto para conseguir essa bolsa, e agora parece que não quer mais isso para sua vida. Será que você se enganou de vocação e somente descobriu isso agora? Nunca é tarde para mudar, Gilbert. Basta ter coragem.

- Não é isso, Mary. Medicina é a minha vocação, não tenho dúvidas acerca disso.

- Mas, então, qual é o problema? – ela insistiu. Queria saber como ajuda-lo, pois aquele semblante sério não combinava com um rapaz que tinha conseguido da vida o que mais queria.

- Anne. – ele passou as mãos pelos cabelos em um gesto nervoso, e seu olhar se perdeu na paisagem que se estendia lá fora, e que era possível ser vista pela grande janela da cozinha.

- Isso de novo, Gilbert? Pelo que sei, ela tem te apoiado tanto desde que você se candidatou para o concurso de bolsas. Por que ela seria um problema agora?

- Anne anda tão estranha estes dias, e não consigo entender por que. Toda vez que pergunto qual é o problema ela me diz que não é nada, mas sinto que ela tem se distanciado de mim, e essa atitude tem me inquietado muito. É verdade que tem me apoiado desde o início, apesar de ela ter ficado chateada por eu não ter contado antes sobre eu ir estudar em Nova Iorque, mas depois que conversamos, ela pareceu entender e nunca mais me disse nada sobre isso.- Gilbert parecia perdido e Mary teve pena. Algumas decisões eram difíceis de serem tomadas, e precisavam de coragem para serem mantidas.

- Por que não fala com ela sobre isso?

- Eu já tentei, milhões de vezes, mas ela sempre se fecha quando abordo o assunto. A única coisa que ela me diz é que não quer que eu fiquei chateado com isso. Eu sei que nossa separação vai ser difícil para nós dois, mas Anne não se abre, fica estranha quando alguém faz alguma pergunta sobre isso, e só se anima quando falamos sobre o casamento. A sensação que tenho é que ela está me escondendo alguma coisa. – Gilbert se calou e olhou para as próprias mãos como se daquela maneira conseguisse ordenar seus pensamentos e encontrar as respostas certas para suas indagações.

- Você precisa falar com ela, Gilbert. Daqui há duas semanas você irá para Nova Iorque e não será nada bom para nenhum dos dois que você viaje com as coisas nestes termos.- Mary aconselhou.

- Você tem razão, Mary. Vou tentar falar com ela, essa situação não pode continuar assim.

Ele terminou o café e voltou para o quarto. Olhou para a janela e percebeu que o céu tinha mudado e estava carregado novamente, anunciando uma nevasca em breve, parecia que teriam mesmo um Natal branco, Se afastou da janela e se sentou na cama pensando em como falaria com Anne sobre os últimos acontecimentos. Não queria aborrecê-la em uma noite tão especial, mas não podia mais adiar aquela conversa. Ele não suportava mais a distância entre eles, aqueles momentos em que ela parecia estar tão longe que ele não conseguia se aproximar. Ele queria a cumplicidade deles de volta, ele queria sua Anne de volta, pois doía demais tê-la em seus braços, beijá-la e abraçá-la, mas sentir que havia entre eles algo mal resolvido.

O baile de formatura fora perfeito, assim como a viagem que fizeram, Houvera tanto amor entre eles que Gilbert ainda se lembrava da sensação de adormecer com Anne junto a si. Ele a amava tanto e sabia que ela o amava também, e por esse amor ele faria qualquer coisa, pois viver sem ela era. como viver sem esperanças e sentir o coração tão vazio como se estivesse no meio do deserto. Anne era responsável por ele ser quem era agora, ela lhe dava forças para superar cada momento difícil, ela era a sua luz e sem ela Gilbert se sentia perdido.

O barulho do vento estava cada vez mais forte e sacudia a janela de Gilbert ruidosamente. Ele estava pensando em dar uma volta para esfriar a cabeça, mas a instabilidade do tempo o aconselhava a ser prudente e ficar em casa. Por isso, resolveu começar a empacotar as coisas que levaria para a faculdade. Estava mesmo acontecendo, ele iria para Nova Iorque e não havia como voltar atrás, ele só não se sentia mais feliz por causa do seu impasse com Anne, mas resolveria tudo aquilo naquele mesmo dia. e não deixaria que nada o afastasse de seu amor.

ANNE E GILBERT

Estava nevando quando Gilbert apareceu para buscar Anne, e embora ainda estivessem no meio da tarde, o mau tempo fazia parecer que a noite não demoraria a chegar. Assim que viu Anne, Gilbert a puxou para seus braços e a beijou de um jeito que deixou ambos sem ar.

- Estava louco para te beijar. Passei o dia todo desejando ter você em meus braços. – ele disse abraçando-a apertado.

- Eu também pensei em você e estava morrendo de saudades. – ela retribuiu o abraço e ficaram assim por alguns momentos. Havia tanto para se dizer, Gilbert pensou, mas achou melhor deixar para mais tarde, não queria estragar aquela noite que ainda mal começara.

Eles foram para a fazenda dele e enquanto Mary e Anne cuidavam da comida, Sebastian e Gilbert preparavam as bebidas,

- Quando suas aulas começam na faculdade? – Mary perguntou a Anne.

- A minha faculdade começa daqui a dois meses.

- E imagino que deva estar feliz com isso.

- Estou sim e ansiosa também. É um mundo desconhecido para mim e espero me sair bem. – Anne respondeu sorrindo.

- E como você está lidando com o fato de Gilbert ir para Nova Iorque? - esse assunto de novo, pensou Anne. Ela respirou fundo, e respondeu devagar, tendo o cuidado de esconder seus reais sentimentos.

- Eu vou sentir muitas saudades, mas se é o sonho dele eu o apoio.

- Tem certeza de que está bem resolvida com isso?

- Estou sim. Por que pergunta, Mary? - a menina quis saber, intrigada com o interesse de Mary naquele assunto.

- Por nada, querida. Só estava querendo conversar.- Anne achou as palavras dela estranhas. Mary não era de falar sobre um assunto só pelo prazer de jogar conversa fora. Mas resolveu deixar o assunto morrer, pois não iria estragar a noite de Natal por causa de uma desconfiança boba.

Jantaram cedo, bem antes da meia-noite, e trocaram os presentes. Mary deu a Anne um lenço que ela mesmo bordara e Anne retribuiu com um livro de receitas. Para Sebastian Anne deu um vidro de Colônia, e ganhou luvas novas de Inverno. Gilbert lhe deu um par de brincos de ouro e ela lhe presenteara com uma boina vermelha que ela mesma tricotara, e a qual ele fizera questão de usar imediatamente. Assim que o relógio de parede badalou meia-noite, Sebastian e Mary se despediram, e foram para o quarto deixando Anne e Gilbert sozinhos.

- Que tal fazermos um boneco de neve, - Gilbert sugeriu. Ele sabia que tinha que falar com Anne, mas aquele momento com ela estava sendo incrível, e Anne parecia tão bem aquela noite que Gilbert não queria deixar passar aquele instante de descontração em que a comunicação entre eles era perfeita.

- Agora? Tem certeza Gilbert?

- Por que não? A noite está propícia para isso.

- Está bem.- e assim durante a meia hora seguinte eles voltaram a ser as crianças despreocupadas que um dia foram, e se divertiram como nunca. Anne olhava para Gilbert feliz por estar ali com ele, enquanto Gilbert observava o rosto corado dela pelo frio, e achava que Anne era a coisa mais maravilhosa que ele já tinha visto na vida.

De repente ela parou de sorrir, seu olhar se entristeceu e ela disse:

- Será que podemos ir para casa? - Gilbert não entendeu a súbita mudança de humor de Anne, mas apenas assentiu e disse.

- Se é o que quer.- foram para Green Gables caminhando. Gilbert segurava na mão de Anne e sentia os dedos gelados dela entrelaçados nos dele. Queria que ela dissesse o que estava errado para que ele pudesse saber por onde começar a fazer tudo ficar certo de novo entre eles. Mas, Anne continuava dolorosamente calada, e ele não sabia o que dizer para fazê-la relaxar e voltar a sortir para ele de novo como minutos antes.

Em alguns minutos estavam em Green Gables. Anne abriu a porta da sala e eles entraram na casa. Enquanto Anne fazia chocolate quente na cozinha, Gilbert acendia a lareira. De repente, seus olhos foram atraídos por um papel azul que estava jogado displicentemente em cima do sofá. Ele o pegou, examinou-o atentamente e depois, guardou-o no bolso. Naquele instante, Anne voltou com uma bandeja cheia de rosquinhas e duas xícaras de chocolate quente. Eles se sentaram no tapete de frente para lareira, e tomaram o chocolate quente enquanto ouviam o crepitar do fogo na madeira. Gilbert se virou para Anne e disse:

- Você vai me contar o que é isso? – Ele tirou o papel do bolso e mostrou para ela. Anne arregalou os olhos ao ver se calendário nas mãos de Gilbert, mas não disse nada.

- Anne, você tem contado dia a dia o tempo que falta para eu ir para Nova Iorque? - ela apenas balançou a cabeça concordando.

- Por que você tem se torturado desde jeito, meu amor? – ele tocou o rosto dela com o polegar e Anne apenas balançou a cabeça em negativa, como se não suportasse os pensamentos em sua mente naquele momento.

- Fale comigo, Anne. Me diga como se sente.- Gilbert não suportava vê-la daquele jeito, havia dor demais naquele curvar de ombro, a cabeça abaixada, e os braços cruzados em volta dos joelhos. Ela estava longe demais dele, e seu coração doía insuportavelmente. Então, Anne levantou a cabeça, olhou diretamente nos dele e disse com a voz cheia de raiva que o surpreendeu

- Você quer saber como me sinto? Pois vou te dizer. Você escolheu ir para Nova Iorque, e não me consultou. Resolveu tudo sozinho sem pensar em mim, sem pensar no quanto isso me magoaria. Você tinha um sonho, mas não dividiu-o comigo, logo eu, a garota que você diz amar Eu me senti traída, deixada de fora da coisa mais importante da sua vida, e agora você está indo embora e eu não quero que vá, porque se for, sinto que vou perder você, e não consigo suportar isso. – ela parou um minuto para respirar, e depois continuou com a voz entrecortada por soluços. – Por que, Gilbert? Por que está me abandonando, por que está me deixando para trás quando a única coisa que eu quero é fazer parte da sua vida e amar você? – Ela chorava sem parar, as lágrimas rolavam feito cascata, surpreendida pelas próprias palavras e envergonhada pela sua explosão momentânea, ela escondeu o rosto nas mãos. Nem ela mesma sabia quanta raiva e mágoa tinha guardado dentro de si todo aquele tempo.

Gilbert ouviu as palavras de Anne com o coração em frangalhos. Até aquele momento ele não percebera o quanto tinha sido egoísta. Anne tinha razão, ele resolverá tudo sozinho sem pensar em como ela se sentiria, e depois despejara sobre ela seu sonho sem aviso nenhum, esperando que ela aceitasse e o apoiasse sem questionar coisa alguma. Ele era o responsável por ela estar se sentindo daquela maneira, e como ela deveria ter sofrido carregando tufo aquilo sozinha. Ele se aproximou dela e tocou seu ombro, mas ela não se mexeu, então ele levantou o queixo dela e trouxe seu rosto para mais perto do dele, e ouviu-a dizer:

- Gilbert eu sinto muito, eu não queria dizer tudo isso, eu...- ela tremia, e parecia tão frágil. Gilbert beijou a testa dela com ternura e respondeu:

- Não, Anne. Está tudo bem. Você tem razão. Eu fui egoísta e não pensei em você, eu devia ter te contado antes de me candidatar a bolsa de Nova Iorque, mas, naquele momento eu só pensei que era meu sonho e também o de meu pai, e não achei que isso iria te fazer sofrer tanto. Me perdoa, eu estou me sentindo péssimo. Por que não me disse tudo isso antes, Anne? Se eu soubesse como você estava se sentindo eu teria feito qualquer coisa para te ver feliz de novo, até deixaria de lado esse sonho idiota e viveria o seu.- ele beijou as mãos dela, agora um pouco mais aquecidas pelo calor do fogo.

- Não é um sonho idiota, Gilbert. É o seu sonho e eu o respeito. Você tem uma missão linda na vida que é salvar pessoas, e eu jamais te pediria para desistir de algo que faz parte de seu DNA desde que nasceu. Me perdoe, por minhas palavras a pouco, eu não estava pensando direito, é que nos últimos meses eu tenho lidado com tantas perdas que não sei como lidar com o fato de ver você se afastar de mim também. Diana e Cole estão em Paris e se estivessem aqui as coisas seriam mais fáceis para mim. A verdade é que estou me sentindo tão miseravelmente sozinha que não sei nem mesmo onde dói mais. Porém, quero que saiba que te apoio totalmente, vai ser difícil ficar em Avonlea sem você, mas sempre estarei aqui te esperando quando voltar, porque eu te amo e não saberia como viver minha vida sem você.

Eles ficaram se olhando por uma eternidade, como se quisessem ler nos olhos um do outro a verdade daquele amor tão grande que não duraria por somente uma vida. Assim, Gilbert se aproximou mais ainda de Anne, deixando um espaço mínimo entre seus lábios, e falou com seus olhos grudados no dela, enquanto suas mãos a despiam completamente.

- Você quer saber como eu te amo Anne? Eu te amo quando esses seus olhos me dizem coisas sem que eu precise escutá-las de seus lábios, Eu te amo quando o seu sorriso é a única coisa que consigo enxergar depois de um dia inteiro sem te ver. Eu te amo quando seus cabelos caem pelo seu rosto como nesse momento, iluminados pelo calor do fogo como chamas vivas em minhas mãos. Eu te amo quando o seu silêncio me mostra a intensidade de seu amor por mim. Eu te amo quando fazemos amor e você sussurra meu nome com tanta paixão, Eu te amo simplesmente por você ser essa pessoa incrível e a quem o meu coração pertence eternamente.

Quando Anne percebeu já estava deitada no tapete com o rosto de Gilbert tão próximo ao seu, e as palavras dele ainda ecoando em seus ouvidos. Ela entrelaçou o seu corpo no dele, enquanto sentia cada beijo incendiá-la como se fosse o próprio fogo. Jamais pertenceria a qualquer outra pessoa que não fosse Gilbert, e jamais vibraria nos braços de alguém como ele a fazia vibrar. Suas mãos tinham vida própria e tocaram em todos os lugares sensíveis do corpo dele, e Gilbert vibrava com ela na mesma intensidade de sua paixão. O desejo de ambos era como uma labareda que os levava para longe, muito longe da terra ou de qualquer outro lugar. Anne perdeu a noção do tempo e Gilbert se perdeu com ela no prazer de seus corpos, ele a desejava cada vez mais, e ela lhe deu tudo o que ele queria. Anne era uma fonte inesgotável de delícias e ele mergulhou em cada uma delas sem nunca se fartar daqueles beijos que lhe davam vida, daqueles suspiros que se misturavam aos seus. Ela era perfeita para ele, seu corpo tinha a medida exata do dele, e ele jamais pensou que um dia teria alguém tão intenso como ela em sua vida. No auge da paixão ele sussurrou "diga que é minha, Anne", e ela obedeceu dizendo " sou sua para sempre", e assim eles se deixaram levar pela onda de desejo que os engoliu como se estivessem queimando no mesmo fogo que crepitava na lareira e mergulharam juntos na satisfação absoluta do seu amor.

Quando a madrugada foi embora e um novo dia nasceu, Anne e Gilbert observavam a neve que caia lá fora de mãos dadas e com um sorriso nos lábios, tendo a certeza de que seus destinos estavam conectados, assim como todos os seus sonhos, e nunca mais viveriam separados ou se sentiriam sós dentro de seus corações. E quando a tempestade chegasse trazendo com ela dia difíceis ou tristes, eles se lembrariam que mesmo que houvessem lágrimas ou momentos de escuridão eles poderiam olhar para o horizonte, e descobrir que sempre haveria um arco- íris esperando por eles por trás das nuvens.



Olá, queridos leitores. Espero que tenham gostado de mais este capítulo e me enviem seus comentários. Gosto muito de saber a opinião de todos. Muito obrigada por todos os comentários maravilhosos que recebo. Eu aprecio cada um deles.

Beijos, Rosana.

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