Capítulo 42- Caixinha de Lembranças.
ANNE
Anne terminou de arrumar a mala, e suspirou. Ela adorava viajar, mas definitivamente odiava arrumar malas. Era um processo tedioso e o pior de tudo era escolher cada item com cuidado, prestando atenção em cada detalhe, ou ela acabaria com uma mala grande demais e muito pesada para que seu corpo delicado pudesse carregá-la.
Anne deu uma boa olhada em si mesma no espelho, e percebeu o quanto seu corpo tinha mudado. Sua constituição franzina de antes agora exibia inúmeras curvas que chamavam atenção para sua figura elegante, dando lhe um ar mais adulto, embora seu rosto ainda exibisse suas odiosas sardas, e os cabelos que agora chegavam a sua cintura, fossem tão ruivos quanto no dia em que chegara a Green Gables, podia-se dizer que tinha uma figura agradável.
Gilbert costumava dizer ela era linda, mas Anne não pensava que chegasse a tanto. Ela secretamente ainda cobiçava a cor negra dos cabelos de Diana, apesar de ter se conformado com a ideia de que seus cabelos nunca teriam outra tonalidade além do vermelho que parecia incendiar o mundo quando exposto ao sol.
Anne terminou de colocar o último item em sua mala e desceu as escadas ajeitando o chapéu cheio de fitas em sua cabeça. Fariam uma última viagem, agora de formatura antes de Gilbert e Muddy irem para a faculdade. Desta vez fora Anne que escolhera o destino que os levaria em direção às montanhas além dos limites de Avonlea, e que prometia ser também mais uma relíquia para guardar em sua caixinha de lembranças.
Muddy e Josie os acompanharia e Anne estava ansiosa por conhecer todos os lugares diferentes e interessantes possíveis. Seu gosto por aventura continuava imenso, e ela parecia ter dentro de si uma fonte inesgotável de curiosidade, além de sua imaginação sempre fértil que sempre a levava até lugares que queria conhecer, mesmo sem nunca ter estado lá antes.
Ela gostava muito de comparar a imagem idealizada das coisas com a realidade que se apresentava diante dela. Às vezes, se decepcionava outras não, mas ela sempre acabava encontrando um ponto positivo para tudo.
Quando ela mencionara que achava que as montanhas eram um excelente lugar para passarem alguns dias, Josie olhara para ela como se ela estivesse fora do seu juízo perfeito Anne sorriu só de se lembrar das palavras dela.
- As montanhas, Anne tem certeza? Por que não podemos ir à praia ou a uma fazenda? Creio que seria mais divertido do que encontrar ursos pelo caminho.
'- Não temos ursos ao redor de Avonlea - Anne respondera.
- Tudo bem, mas e se encontrarmos uma cobra, uma onça ou até mesmo um leão da montanha? Eu não sei você, mas eu ainda quero viver alguns bons anos.
- Nossa, Josie. Eu achei que minha imaginação fosse fértil, mas você acaba de me superar.- Anne disse sorrindo, depois acalmou a menina que parecia realmente acreditar no que falava.
- Fique tranquila. Gilbert já providenciou tudo. Ele encontrou uma pousada aconchegante em uma cidade pitoresca, onde podemos fazer nossas refeições, dormir e deixar nossos pertences enquanto fazemos turismo. Podemos fazer caminhadas, andar a cavalo, participar da vida local, nadar e muitas outras coisas interessantes. Acho que é uma boa oportunidade de fazermos algo assim juntos pela última vez. Não teremos outra oportunidade assim tão cedo.
- Tudo bem. Você me convenceu. Desculpe-me por meu pânico inicial, agora estou me sentindo uma idiota.
- Mas, para onde achou que estávamos indo? – Anne perguntou intrigada.
- Pensei que fôssemos acampar nas montanhas. Não sabia que havia uma cidade tão interessante assim para se conhecer perto daqui.
- Existem muitos outros lugares para conhecermos, devemos apenas enxergar as oportunidades quando elas se apresentam.- Anne disse enquanto olhava para Josie que parecia estar mais aliviada com as palavras da ruivinha.
- Você gosta mesma de uma aventura, não Anne?
- A vida é uma grande aventura, Josie, você apenas precisa usar sua imaginação de forma positiva- Anne mostrava- se bastante animada.
- Você sabe que nunca gostei muito de viajar, mas com você tenho aprendido a apreciar melhor esses momentos.
- Que bom! Assim não me sentirei tão sozinha quando o Gilbert estiver em Nova York.- a voz dela mudou sutilmente soando triste aos ouvidos de Josie.
- Isso realmente tem sido difícil para você, não é? – O olhar de Josie era de compaixão, e Anne tentou não se deixar levar por aquele sentimento ou entraria em um processo emocional que não lhe faria nada bem.
- Você não sabe o quanto é difícil. Você tem sorte de o Muddy ter entrado para uma faculdade próxima daqui. Vocês poderão se ver todos os fins de semana.- Anne disse aquilo sentindo uma pontinha de inveja de Josie. Ela não teria que ver o namorado ir embora, e passar quatro anos vendo-o esporadicamente, sentindo a falta dele cada segundo, e sentindo seu coração se partir em mil pedaços a cada separação.
Afastou aquele pensamento nocivo com um vigoroso balançar de cabeça. Não queria ser contaminada por auto piedade. Nunca fora de se lamentar, e não começaria agora. As coisas em sua vida sempre foram difíceis, ela sempre tivera que lutar por tudo, nada viera para ela como um presente, tudo que tinha conquistara com sua boa fé e esperança, e até mesmo para ter Gilbert ao seu lado tivera que enfrentar uma batalha tremenda, não ia permitir que nada o tirasse dela, nem o tempo e nem a distância tinham esse poder.
Olhou para sua recente amiga e deu- lhe seu melhor sorriso dizendo:
- Ficaremos bem, não se preocupe. Gilbert e eu temos planejado nosso futuro juntos, e mesmo que demore um pouco, vamos ter tudo o que queremos e merecemos juntos. Agora vamos nos alegrar, pois uma viagem incrível na espera.
Josie riu da animação de Anne, pensando no quanto a admirava. Anne era um ser humano extraordinário, e aprendia algo novo com ela todos os dias. Era uma pena que tivesse perdido tanto tempo invejando-a ao invés de ter aberto as portas do seu coração para aquela menina tão sábia e inteligente, dona de uma alma tão generosa que fora capaz de perdoar Josie por sua ignorância e pobreza de espírito. Ela tivera sorte de ter tido uma segunda chance com Anne, pois ela se sentia muito melhor agora que se livrara daquela parte negativa de sua vida. Tinha amigos que se importavam com ela, um namorado que a amava, e no próximo ano iria para a faculdade de enfermagem. De repente, ela descobriu que queria ajudar pessoas, dedicar seu tempo a quem mais precisasse, e levar conforto e consolo aos menos desvalidos. Josie sabia enfim qual era o seu lugar no mundo. Ela voltou ao presente e disse:
- Anne, já que vamos viajar logo, irei para casa para deixar tudo pronto para nossa partida.
- Está bem, Josie. Nos vemos em alguns dias.- se despediram com beijos na bochecha e abraços.
Havia se passado exatamente cinco dias após essa conversa, e ali estava Anne esperando ansiosa pela chegada de Gilbert. Os dois não se largavam ultimamente, e tinham desenvolvido um tipo de relacionamento que provocava inveja em qualquer um. Eram cúmplices em tudo e afinidade era o que não faltava entre eles. Mas, mesmo assim o humor de Anne oscilava tanto que se sentia como se estivesse em uma gangorra gigante. Às vezes se tornava impossível controlar certas reações, e ela acabava preocupando Gilbert que buscava sempre uma maneira de deixá-la mais confortável em relação a sua partida, e na maior parte do tempo ele conseguia e ambos tinham momentos maravilhoso juntos, mas havia momentos que Anne não conseguia relaxar, parecia que seus dias giravam em torno de seus sentimentos, ela buscava desesperadamente por equilíbrio, mas lhe era penoso até para respirar.
Mas, no fundo, Anne sabia que todas as suas reações naquele caso eram inúteis. Gilbert partiria de qualquer maneira e ela teria que se acostumar com aquilo. Entretanto, havia aquela sensação em seu peito que não a deixava em paz. E se Gilbert conhecesse outras garotas mais interessantes em Nova Iorque e seu encanto por ela desaparecesse? E se vivendo tão longe de Avonlea ele descobrisse que não queria mais voltar? E o que Anne faria se um de seus medos se tornasse realidade? Ela não tinha a resposta para essa pergunta por que sequer conseguia imaginar sua vida sem Gilbert. A única coisa que podia faze era acreditar que o amor de ambos era forte o suficiente para sobreviver a todas as tempestades que encontrariam pelo caminho.
Uma batida na porta a fez estremecer, e ela deixou de lado seus pensamentos para concentrar seu olhar no seu noivo que acabava de chegar. Ele era como o sol adentrando seu coração naquele momento em que se sentia fragilizada. Ela se atirou nos braços de Gilbert, dando- lhe boas vindas com um beijo. A princípio, o rapaz ficou surpreso com a recepção tão calorosa àquela hora da manhã, mas depois como sempre acontecia, seu sangue ferveu com aquele beijo, e ele abandonou qualquer cautela, agarrando Anne pela cintura e beijando-a com o mesmo ardor, somente se separando dela quando o ar lhes faltou. Então, ficaram abraçados sentindo a batida do coração um do outro.
- Senti sua falta ontem à noite. – Anne disse assim que conseguiu falar.
- Eu também, mas tive que ajudar Bash na fazenda e fiquei tão cansado que acabei adormecendo. Você me perdoa, meu amor? - seus olhos eram termos e Anne sabia que jamais poderia negar nada àquele sorriso.
- Eu te perdoo com a condição de que vai me compensar com todos os beijos que eu quiser.
- É claro, meu amor. Tudo o que você quiser.- ele disse entrelaçando seus dedos nos dela.
Ouviram uma buzina e saíram juntos para receber Josie e Muddy que acabavam de chegar. Marilla e Matthew apareceram para se despedirem, e assim Anne entrou no carro de Gilbert e seguiram Muddy e Josie até o seu destino.
Enquanto Gilbert dirigia pelas estradas as quais os levariam a caminho das montanhas, Anne desejou de todo o coração que aquela última viagem fosse muito especial, e que tanto ela quanto Gilbert pudessem aproveitar cada segundo juntos.
GILBERT
O tempo passava rápido, e a vida parecia ter entrado em ritmo tão acelerado, que Gilbert mal via os dias passarem. Ele tentava fazer o máximo de coisas possíveis para deixar a fazenda organizada e pronta para ser entregue nas mãos de Bash, assim que ele fosse para a faculdade, mas até lá Gilbert dividia com o amigo todas tarefas relacionadas ao trabalho braçal e mental.
Era Gilbert quem cuidava da contabilidade, e ultimamente vinha ensinado Bash a administrar este setor também, pois quando Gilbert não estivesse mais ali, Bash teria que cuidar desta parte também, e Gilbert não queria que o amigo tivesse qualquer problema financeiro pelo caminho.
Apesar de não ter estudado muito, e conhecer as letras o suficiente para ler textos mais simples e assinar o próprio nome, Sebastian era bastante inteligente quando se tratava de números. Gilbert ficara realmente impressionado com que facilidade Bash compreender a todo o processo de compra e venda da fazenda, e como calcular os lucros e prejuízos que por ventura pudessem ocorrer. Pena que o amigo não tivera a mesma oportunidade de estudar que pessoas brancas, porque caso isso tivesse acontecido, ele com certeza seria um grande homem de negócios, ou quem sabe um erudito. Bash nunca parava de surpreender Gilbert, ele tinha uma capacidade tão grande de se adaptar a diferentes formas de situações, que Gilbert tinha certeza de que a fazenda estava em excelentes mãos.
Gilbert olhou pela janela de seu quarto que dava para a parte de trás da casa e seus olhos se perderam na plantação de milho que se estendia por acres de terra a perder de vista. A colheita seria excelente aquele ano, o que deixava Gilbert bastante satisfeito. Os lucros seriam bons e ele poderia ir para a faculdade de Medicina sabendo que sua família estaria bem amparada. Ele sentiria falta de caminhar entre todo aquele verde observando cada semente se transformar em grãos que alimentariam famílias inteiras ali em Avonlea e em outras cidades perto dali.
Gilbert sorriu de si mesmo ao pensar nisso, pois passara metade de sua infância, e boa parte da adolescência dizendo para quem quisesse ouvir que a vida na fazenda não era para ele, e que assim que tivesse uma oportunidade ele partiria dali e deixaria toda essa vida difícil para trás.
Ele vira o pai trabalhar de sol a sol, embaixo de tempestades e nevascas para no final perder colheitas inteiras, e ter que recomeçar tudo de novo. Essa não era o tipo de vida que ele desejava para si mesmo, e por isso quando o pai falecera, ele partira. Não suportara a ideia de continuar naquela fazenda sem a presença do homem que fora tudo para ele, pois se antes a vida ali para ele parecia dura demais, naquele momento em que vivia seu luto, ela se tornou insuportável.
Porém, quando voltara curiosamente descobrira que embora tivesse negado para si mesmo aquela verdade, havia sim dentro dele um fazendeiro, um homem do campo que amava suas terras assim como amava sua família. Ele queria ser médico, mas isso não mudava o fato de que ele pertencia aquele lugar, e que era ali que queria construir sua carreira médica. Ele não ambicionava em se tornar um famoso cirurgião, ou ganhar rios de dinheiro, a única coisa que desejava era cuidar e curar pessoas e dar a Anne e seus filhos uma vida confortável.
Ao pensar em Anne sentiu seu coração bater mais rápido e se lamentou pelo fato de que não a veria naquela noite, tinha muitas coisas para fazer antes se viajarem no dia seguinte, e ele não sabia que horas ficaria livre de todo o trabalho que tinha pela frente, mas já sentia falta dela e a ideia de nem sequer abraçá-la antes de dormir o deixava inquieto.
Ele sabia que estava na hora de começar a se desapegar e se acostumar com o fato de que logo passaria semanas sem sequer olhar para ela, mas sua mente se recusava a deixar de pensar nela todos os minutos, suas mãos continuavam a querer tocá-la indefinidamente e seu corpo odiava a ideia de não poder mais fazer amor com ela todas as noites.
A separação seria tão difícil para ele quanto seria para Anne. Ele fingia todo o tempo que estava bem com a ideia de ir para Nova Iorque, enquanto Anne ficava em Avonlea estudando para se professora e cuidando de todos os detalhes de seu casamento futuro, mas na verdade seu coração estava despedaçado e quanto mais o tempo passava aproximando a data de sua partida, mais ele sentia um pedaço dele sendo arrancado.
Em toda a sua vida Gilbert nunca pensou que amaria alguém tanto assim, a ponto de fazer com que ele quisesse deixar tudo de lado somente para viver o seu amor, até mesmo a medicina ficava em segundo plano quando se tratava de Anne, e ele realmente só não desistia de tudo porque sabia que nunca seria feliz profissionalmente em outra área. Ser médico era sua vocação, estava em seu sangue assim como Anne estava em seu coração.
Eram dois amores tão diferentes mas que se complementavam tanto, pois ele não teria perseguido aquele sonho com tanto afinco se não fosse pelo incentivo de sua noiva. Ela lhe mostrara qual caminho seguir para conseguir o que desejava, ficara do lado dele segurando sua mão quando ele achara que não podia mais continuar. Anne era parte de tudo aquilo, portanto, suas vidas estavam entrelaçadas, não tinha jeito.
Gilbert correu as mãos pelos cabelos, se levantando da cadeira para esticar seus membros que estavam doloridos pelas horas que passara debruçado sobre as contas da fazenda. Ele foi até a cozinha e encontrou seu jantar no forno. Já era bem tarde, e por esta razão, tanto Mary quanto Sebastian já estavam dormindo. Ele fez a refeição sentado sozinho na mesa da cozinha e quando terminou, lavou a louça suja e voltou para seu quarto onde muito trabalho ainda o esperava. Gilbert ficou trabalhando até as primeiras horas da madrugada começarem a badalar no relógio.
Ele então escovou os dentes e foi para a cama completamente exausto. Acordou um tempo depois com o alarme do relógio tocando. Gilbert de vestiu tomou o café da manhã, deixou uma pequena nota para sua família de despedida, pegou o carro e foi até Green Gables. Ele estava louco para ver Anne e quando entrou na cada dela pela porta da sala, fora surpreendido pelo abraço urgente que ela lhe dera, e o beijo intenso que se seguiu. Seu corpo despertou assim que entrou em contato com o dela, e quase perdeu a cabeça quando os lábios de Anne exploraram os dele famintos. Como ele poderia resistir aquele apelo tão claro que vinha da pele de Anne? Como poderia dizer não aos encantos dela como mulher que já o tinha completamente nas mãos quando suas bocas se tocaram? O ar acabou e tiveram que se separar ainda ofegantes sob os efeitos do beijo que trocaram
- Senti falta de você ontem à noite. Anne finalmente dissera.
Eu também, mas tive que ajudar Bash na fazenda e fiquei tão cansado que acabei adormecendo. Você me perdoa, meu amor? - ele amava aqueles olhos azuis que olhavam para ele amorosamente tanto quanto amava a dona deles.
- Eu te perdoo com a condição de que vai me compensar com todos os beijos que eu quiser - ele ouvi-a dizer, e respondeu apertando-a em seus braços.
- É claro, meu amor. Tudo o que você quiser.-
Muddy e Josie chegaram naquele instante, fazendo com que Gilbert e Anne se apressasse, pagassem a bagagem de Anne, se despediram de Matthew e Marilla que também apareceram por ali, e foram para o carro dele.
Gilbert dirigiu em silêncio, enquanto sentia a presença vibrante de Anne ao seu lado. Ele somente esperava do fundo do coração que aquela viagem fosse tão maravilhosa e inesquecível como foram todas as outras, e que tanto ele quanto Anne pudessem guardá-la em seu álbum de memórias para sempre.
ANNE E GILBERT
A viagem até as montanhas fora bastante interessante. Anne não se cansava de admirar a paisagem magnífica que se revelava diante de seus olhos, e apontava para cada novidade que surgia com o entusiasmo de uma garotinha, fazendo Gilbert rir deliciado com sua alegria.
Ele estacionou o carro na frente da pousada seguido por Muddy e Josie. Em seguida, retiraram a bagagem dos carros, e foram direto para a recepção onde um atendente simpático os aguardava, entregando-lhes as chaves dos quartos. Josie e Anne ficaram juntas no mesmo quarto, enquanto Gilbert e Muddy dividiriam outro bem ao lado do delas.
Acabaram de desfazer as bagagens e desceram juntos para o café. Logo, eles saíram para conhecer os arredores, e adoraram tudo o que viram. Existiam tantos lugares para serem explorados que eles passaram a manhã toda ocupados andando para todos os lados, em alguns momentos a pé outros a cavalo e se divertiram como nunca.
Gilbert nunca vira Anne tão feliz. Seus olhos brilhavam enquanto seus cabelos esvoaçavam ao sabor do vento, e ele adorara vê-la sorrir daquele jeito, como se o mundo fosse uma caixinha de surpresas que se revelava pouco a pouco diante de seus olhos, e Gilbert sentia em seus ossos com a certeza que sempre tivera que Anne era a mulher da sua vida.
Eles voltaram para a pousada a tempo para o almoço, e depois de descansarem um pouco, saíram novamente. Dessa vez, eles foram a um lugar diferente de todos que Anne conhecia. Havia vários balões coloridos, e quando Gilbert disse que subiriam nele para dar voltas pela cidade, Anne olhou para ele como se o rapaz tivesse ficado louco.
- Eu não vou subir nessa coisa, Gilbert. Nem adianta insistir.- Anne disse com a voz um pouco alterada talvez pela tensão que sentia por Gilbert querer leva-la naquela viagem maluca.
- Por que não, Anne? Onde está seu espírito de aventura? – Josie disse, tentando incentivá-la.
- É alto demais, e eu nunca fui fã de altura.- Anne disse, demonstrando nervosismo pelo olhar.
- Anne é seguro, eu juro. Vamos, amor, você vai gostar.- Gilbert disse segurando na mão dela. Anne ficou indecisa por um momento entre ceder ao pedido do namorado ou deixar-se vencer pelo seu medo. Por fim, resolveu deixar o seu receio de lado e entrar com Gilbert no balão.
Quando eles começaram a subir, Anne sentiu um frio no estômago e fechou os olhos. Sempre tivera medo de lugares muito altos, apesar do seu espírito aventureiro, ela nunca se arriscara em algo assim, e estava quase se arrependendo de ter aceitado aquela loucura, pois o pânico que sentia fazia seu corpo inteiro se encolher de medo.
- Vamos, Anne, abra os olhos. Você não sabe o- que está perdendo. -Gilbert disse com a voz tão animada, que Anne resolveu abrir os olhos só um pouquinho, e o que viu a deixou extasiada. O medo se foi assim como qualquer preocupação que tivesse em relação à altura. O mundo parecia tão pequeno lá de cima, era quase como se fosse parte de uma moldura de um quadro feito por um artista anônimo. Era perfeito e tão lindo que Anne não conseguia respirar. Gilbert a abraçou por trás e ficaram assim contemplando o horizonte, como se pudessem tocar o céu com suas mãos. Anne olhou para Gilbert e disse:
- Obrigada, meu amor, por mais essa experiência incrível. Você nunca para de me surpreender.
- Não precisa me agradecer. Se eu pudesse ficaria aqui com você para sempre.- Gilbert disse beijando os seus cabelos.
- Eu também. – Anne respondeu abraçando Gilbert pela cintura.
Quando voltaram a terra, estavam simplesmente encantados por aquele momento que viveram juntos. Logo, Muddy e Josie se juntaram a eles, e pareciam muito felizes por terem vindo naquela viagem tão incrível.
Em meia hora estavam de volta a pousada, e antes de entrarem em seus quartos, Gilbert segurou Anne pela cintura e disse:
- Fique preparada, pois hoje à noite vou te levar para jantar.
- É mesmo? Está bem. Nos vemos daqui a pouco então. – Ela deu-lhe um beijo rápido e entrou com Josie no quarto.
Enquanto tomava banho e se arrumava, Anne se perguntava onde Gilbert a levaria para jantar. Não vira nenhum restaurante por perto, e estava curiosa para saber aonde iriam. Gilbert como sempre estava preparando alguma surpresa, e ela estava ansiosa para saber o que era. Terminou de se arrumar e viu que Josie também estava se preparando para sair.
- Parece que você vai sair também. - Anne observou.
- Eu e Muddy vamos a uma praça aqui perto, parece que tem música vivo.
- Então, espero que se divirta.- Anne disse sorrindo.
- Você também.- Ela deu um beijo no rosto de Anne e saiu.
Quando Anne saiu do quarto, Gilbert a esperava sorrindo. Ele pegou em sua mão, correu o olhar pelo vestido branco simples que ela usava, os cabelos soltos pelo ombro, e disse com sua voz apaixonada:
- Sempre maravilhosa.- Anne sentiu o arrepio familiar percorrer todo o seu corpo, esperando ansiosa pelo que a noite lhe reservava.
Gilbert então a levou até um chalé lindamente decorado e Anne exclamou maravilhada:
- Que lugar incrível, Gilbert!
- Fico feliz que gostou. Eu aluguei este lugar por uma noite. Vamos entrar, pois o jantar na espera.- colocou a mão na cintura dela e a conduziu para dentro.
O encantamento de Anne foi ainda maior ao ver que havia uma lareira acesa, uma mesa posta com o jantar e muitas flores.
- Gilbert, isso é lindo. Amor, eu não tenho palavras. Você é incrível. – Ela tocou o rosto dele com carinho.
- Não precisa dizer nada. Basta que esteja aqui comigo. – Ele sorriu e aquele sorriso para Anne era como o melhor presente do mundo.
Sentaram-se a mesa e começaram a jantar. Conversaram muito sobre o dia que passaram juntos, a beleza das montanhas, os momentos mais preciosos para eles daquela viagem. E todo o tempo, os olhos de Gilbert não abandonavam o rosto de Anne. O olhar dele era tão intenso que Anne se sentiu corar.
- O que foi, amor? Por que está me olhando assim?
- Quero gravar cada detalhe de seu rosto e levá-lo comigo quando eu for para Nova Iorque.- ela não soube o que responder por um momento, pois ficara incomodada por ele mencionar sua partida, quando ela somente queria esquecer que logo não estariam mais juntos.
- Gilbert, eu...- ele a interrompeu, colocando a mão em seus lábios dizendo:
- Anne, espere. Eu preciso te dizer uma coisa. – Ela então esperou pelo que ele tinha a dizer.
- Eu sei que temos evitado falar sobre isso, mas é que tenho tanta coisa para te falar que não consigo mais guardar tudo isso dentro de mim.- ele esperou um instante, e depois continuou. – Você é o amor da minha vida, sempre soube disso desde a primeira vez que te vi, e ir para Nova Iorque sem você é a coisa mais difícil que já tive que fazer na minha vida. Eu sei que você pensa que decidir ir para Nova Iorque foi fácil para mim, mas quero que saiba, que não foi nada fácil. Ser médico é uma das coisas que mais quero em minha vida, mas não é tão importante quanto ter você. Se eu pudesse te levaria comigo para onde fosse, pois te deixar em Avonlea parte meu coração de tal maneira, que não consigo parar de sangrar. – Ele se levantou e a puxou para seus braços, o rosto escondido em seus cabelos enquanto continuava, as mãos acariciando as costas dela devagar. – Quando penso como será minha vida em Nova Iorque sozinho, eu me pergunto, como vou sobreviver sem seus beijos? Como vou poder viver sem ver seu rosto todos os dias, sem tocar sua pele, sem fazer amor com você? Me diga, Anne, como posso respirar sem ter você para amar a cada minuto do meu dia?
A cada pergunta de Gilbert, Anne sentia pele a emoção dele ao formulá-las e seus olhos se encheram de lagrimas Ela também não sabia o que fazer com a ausência dele, e sua dor parecia ferir-lhe a alma, mas tinha que haver uma maneira de tornar aquilo suportável para ambos, ou caso contrário sofreria demais. Ela levantou o rosto e mergulhou seus olhos no dele, para que cada palavra sua chegasse até o coração de Gilbert.
- Você também é o amor da minha vida, Gilbert Blythe, desde que me salvou de Billy Andrews naquela floresta, e se superamos todos os obstáculos e estamos aqui juntos, é por que temos forças para vencer qualquer coisa. Então, quero te fazer um pedido neste exato momento. – Ela rodeou o pescoço dele com seus braços e continuou falando. – Me ame agora como tem me amado todo esse tempo, e me deixe te mostrar o quanto o que sinto por você é imenso e inesgotável, pois quero que se lembre disso todo tempo em que estivermos separados
Gilbert sorriu para ela com ternura e a pegou no colo. Anne colocou suas pernas ao redor da cintura dele, enquanto Gilbert a beijava com paixão. Ele a levou para o quarto e acendeu todas as luzes, pois queria olhar para ela enquanto se amavam.
Quando se deitaram na cama suas roupas já jaziam no chão do quarto, pois tinham pressa e não queriam perder nenhum segundo. Anne colou seu corpo ao de Gilbert, deixando que suas pernas deslizassem pelas dele em uma carícia lenta e sensual. Logo, seus lábios descerem sobre o corpo dele arrancando suspirou incontroláveis da boca de Gilbert, ela sabia exatamente como deixá-lo maluco, e quando Gilbert percebeu que não suportaria mais o toque de Anne em seu corpo sem perder a cabeça, eles trocaram de posição e ele manteve o corpo dela embaixo do seu. As mãos de Gilbert se enroscaram nos cabelos compridos dela, enquanto seus lábios a tocaram de todas as maneiras. Anne suspirava a cada carícia, sua respiração ficou pesada, e seu corpo implorava pelo dele totalmente sem controle. Gilbert a provocava, e a estimulava, fazendo-a lhe dizer exatamente o que queria, enquanto ele falava em seu ouvido tantas palavras que aumentaram ainda mais seu desejo por ele, e então seus corpos se uniram em um balé secreto de volúpia. De repente, eles eram um único corpo, um único desejo e uma única paixão. Assim, alcançaram as estrelas como se levitassem de encontro um ao outro. Gilbert puxou Anne de encontro ao seu peito quando ela sussurrou o seu nome, e a satisfação de seus corpos chegou até eles como uma descarga elétrica que os deixou presos em um abraço por alguns segundos. Quando se separaram, Anne se aconchegou a Gilbert sentindo o calor dele aquecê-la por muito tempo. Nenhum dos dois falou, pois não queriam quebrar aquele momento perfeito em que mais uma vez foram um do outro. E adormeceram felizes ouvindo a chuva que começara a cair lá fora, sentindo que nada no mundo poderia separá-los, pois estavam ligados um ao outro pela força de seu amor.
Os dias que se seguiram foram de pura magia. Anne sabia que todos aqueles momentos que estava colecionando em sua memória seriam raros daquele dia em diante. E a única certeza que tinha ao voltar para Avonlea em companhia de Gilbert, Muddy e Josie era que viveria cada segundo ao lado de Gilbert como uma celebração, e quando o futuro chegasse trazendo em suas asas um mundo de possibilidades, ela ainda se lembraria daqueles momentos em que entregara sua vida e seu coração ao único rapaz que amaria até o último de seus dias.
-
[Olá, espero que gostem de mais este capítulo e comentem sobre ele, pois gosto de saber sua opinião sobre o meu trabalho. me desculpem qualquer erro de digitação ou ortográfico.
Beijos, Rosana.
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