Capítulo 40- Desejos do coração
ANNE
Família. Anne adorava essa palavra. Olhou para todas as pessoas reunidas ao redor da mesa de jantar em plena sexta feira, e sorriu. Aquela era sua família, embora não tivesse nascido dentro dela, era como se sempre tivesse pertencido à aquele grupo de pessoas que a amavam, da mesma maneira com que ela também os amava.
Matthew e Marilla eram as pessoas mais generosas que Anne conhecia, e abriram as portas para aquela garota ruiva, sem mesmo saber direito de onde ela vinha e a criaram com amor e disciplina, com valores e princípios como se ela fosse uma filha, e Anne nunca teria como agradecer pelo carinho que recebera naquela casa. Ela não conhecera seus pais, mas a vida lhe dera aqueles dois irmãos que significavam tudo o que ela tinha, eram sua base, seu apoio e seu alicerce.
Seus olhos se desviaram para Mary e Sebastian com a pequena Shirley no colo, e sua expressão se enterneceu. Ela também os considerava parte daquela família, principalmente, porque eram responsáveis por Gilbert ter uma vida feliz e normal de novo, depois que o pai se fora.
Anne sabia da mágoa do noivo, e como seu coração estava ferido quando ele partiu. Perder o pai tinha sido um golpe muito duro para Gilbert, e que transformara a personalidade dele por certo tempo. Anne se lembrava do quanto aqueles dias foram difíceis, e como ela também sofrera com ele, sem Gilbert saber. Ela quisera se aproximar dele e dizer que entendia sua dor, mas Gilbert se fechara em um silêncio doloroso, mal prestando atenção nas aulas ou conversando com os amigos. Eles não eram próximos na ocasião, e viviam em competição pelas melhores notas e pelo prêmio de melhor soletrador da sala, mas isso não impediu que Anne sentisse compaixão por ele e se vissem como iguais naquele tipo de situação. Dentro dela havia mais do que simpatia por aquele garoto tão irritantemente lindo, que uma vez lhe puxara as tranças e a fizera se sentir a garota mais estranha do mundo. Gilbert se desculpara um tempo depois, e foi a primeira vez que Anne notara a beleza do sorriso dele.
Mas, quando o pai de Gilbert morrera tudo mudara, Gilbert mudara e Anne se lamentou por não té-lo mais por perto para ser seu adversário nas discussões entre alunos, ou nas experiências que a professora Stacy teimava em fazer, e nas quais ela e Gilbert sempre divergiam em suas opiniões.
E quando ele voltara com Sebastian a tiracolo, Anne pode vislumbrar o velho Gilbert de novo, com seus sorrisos fáceis e incríveis, olhares que pareciam querer desvendar todos os seus segredos, e a simpatia e inteligência que secretamente sempre a encantaram. Mary fora a segunda parte boa da volta de Gilbert Ela encontrara em Sebastian seu companheiro para vida, e assim dera a Gilbert sua amizade e cuidados de mãe, e depois uma irmã que não era de sangue, mas que Gilbert amava de todo o coração.
Enquanto Anne admirava aquelas três pessoas incríveis que tornavam aquele grupo pequeno tão querido para ela, seus olhos foram capturados pelos de Gilbert, e ela percebeu que ele compartilhava do mesmo afeto que ela por todos ali presentes, e seu coração suspirou feliz. Gilbert Blythe seria se marido, teriam seus filhos e construiriam uma família tão forte e bela como aquela, e suas vidas seriam ricas e abundantes de amor.
Anne mal podia esperar para viver tudo aquilo. Havia nela uma fome de viver que nem mesmo a crueldade do orfanato onde vivera tirara dela. Ela mantivera seu espírito intacto e cheio de curiosidade pela vida além dos portões de sua clausura. No fundo de seu coração sempre acreditara que deixaria aquele lugar, e teria uma existência cheia de aventuras, somente não contara que viveria também um amor tão grande que não cabia dentro de seu peito.
Gilbert apertou as mãos dela com carinho e perguntou:
- Está tudo bem, Anne? Você estava olhando para mim tão seria que por um momento pensei que queria me dizer alguma coisa. - Anne apertou as mãos dele de volta e respondeu:
- Estou ótima. Somente estava divagando.
- E eu fazia parte desse seu momento de pensamentos tão particulares?- Gilbert levantou uma sobrancelha esperando pela resposta dela.
- Claro que sim. Você está sempre em meus pensamentos. – Anne levantou a mão e tocou o rosto de Gilbert, acariciando-lhe as bochechas.
- E não vai me contar o que monopolizou tanto a sua atenção?
- Os pensamentos particulares de uma dama somente pertencem a ela. Não seja curioso, Gilbert Blythe. - Anne usou um tom severo, mas divertido.
- Pensei que o fato de ser seu noivo me concedesse o privilégio de ter o acesso a qualquer pensamento ou segredo seu. –Gilbert fez um muxoxo, mas não conseguiu esconder o seu olhar divertido.
- Quem sabe um dia, Sr. Blythe, mas não neste exato momento, pois todos os meus pensamentos são de propriedade somente minha. - Anne disse, encerrando a discussão, pois começou a prestar a atenção no que Marilla dizia.
- Podemos fazer a festa de batizado de Shirley aqui em Green Gables. O que vocês acham?
- Não queremos dar trabalho, Marilla. - Mary disse para a velha senhora.
- Não será trabalho nenhum, querida. Todos nesta casa adoram essa coisinha linda.- Marilla apertou a bochechas de Shirley com afeição e a pequenina sorriu para ela, deixando- a encantada.
- Ficaremos honrados. Sabemos que não é comum nesta comunidade batismos de crianças tão novas, já que os batismos são realizados quando elas são maiores e podem escolher a religião que querem seguir, mas em meu país isso é uma tradição, e pretendemos criar Shirley dentro desses preceitos. O pastor Jackson foi bastante compreensivo quando falei sobre isso com ele. - Sebastian comentou.
- Aquela raposa velha somente parece ter o coração duro, mas no fundo é mais mole que manteiga – Todos riram da observação de Matthew. Até Marilla que tentou disfarçar sua reação dizendo:
- Matthew, respeite o pastor Jackson. Ele é um homem de Deus. – depois voltou ao assunto do batizado. - Está decidido. A festa de Shirley será aqui no domingo de manhã, após o culto. O que me lembra que amanhã teremos que começar cedo todos os preparativos. Por que não dormem aqui esta noite? Temos quartos de hóspedes vazios aqui. Assim, vocês não precisariam acordar tão cedo para virem para cá. - Marilla sugeriu.
- Se você acha que não vamos atrapalhar, aceitamos sim. - Mary disse sorrindo.
Gilbert olhou para Anne com seus olhos brilhando, mas ela apenas acenou com a cabeça em negativa, sabendo exatamente no que ele estava pensando. Não se arriscaria a passar a noite com ele, sabendo que Marilla e Matthew estavam ali. Poderiam facilmente serem pegos, e depois ela sabia que isso deixaria Marilla muito chateada. Não se envergonhada do seu relacionamento íntimo com Gilbert, adorava cada momento, e se entregara a ele por amor, e por saber que nunca mais se entregaria daquela forma a ninguém. Uma vez que tivera certeza do que sentia por ele, descobrira que queria e seria dele, não se importando com mais nada a não ser com eles dois. Mas, infelizmente, ainda viviam em uma sociedade que condenava qualquer ato que não estivesse de acordo com suas regras, e Anne não queria fazer Matthew ou Marilla passarem por qualquer tipo de constrangimento por causa dela.
Logo depois do jantar, ela e Gilbert saíram para a varanda, a fim de que pudessem namorar um pouco antes de dormir, e acabaram falando sobre aquele assunto.
- Anne, bem que eu poderia aparecer em seu quarto mais tarde, depois que todos estivessem dormindo. – Ele disse tentando fazê-la mudar de ideia.
- Gilbert, não acho isso prudente. Marilla poderia descobrir, e você sabe que ela é bastante esperta quando se trata dessas coisas. - Anne disse com toda a paciência.
- Odeio estas convenções idiotas que determinam como devemos amar alguém. Eu sou seu noivo, por que não posso passar a noite com você.? – Gilbert disse teimosamente, embora soubesse que Anne estava certa.
- Eu também não concordo com isso, mas vivemos nessa sociedade da qual Marilla e Matthew fazem parte desde que nasceram. Não quero ser motivo de escândalo para eles.
- Perdão, amor. Sei que tem razão. É que não consigo mais ficar longe de você, especialmente por que logo estaremos longe um do outro, e quero estar com você todos os momentos possíveis. – a fisionomia de Anne mudou ao ouvir Gilbert falar de sua partida eminente, e ela ficou contrariada. Não queria pensar naquilo, não queria se lembrar que Gilbert iria embora. Era algo inevitável, mas enquanto pudesse evitar a dor de seu coração, ela o faria.
- Será que podemos não falar disso? Quero apenas que nos concentremos no presente, - Gilbert concordou e ela continuou. – não fique bravo, amor. Será apenas por uma noite.
- Está bem, acho que consigo ficar sem você por um dia mas quero avisar que é o máximo que consigo sobreviver sem os seus carinhos.- Anne riu da dramaticidade que Gilbert dava ao assunto.
- Prometo que haverá muitas compensações. - Anne disse maliciosa.
- Vou esperar por isso. - Gilbert respondeu antes de beijar Anne repetidas vezes. Um pouco mais tarde se despediram e cada um foi para o seu quarto.
No dia seguinte, eles começaram a preparar tudo para o batizado de Shirley no domingo. Anne chamou Josie para ajudar, pois a menina tinha um dom com laços e fitas melhor que Anne, e ela fazia arranjos maravilhosos.
Ambas estavam na sala terminando as lembrancinhas que dariam ais convidados, quando Josie olhou para Anne um pouco desconfortável e disse:
- Anne estou em um dilema terrível.
- Se quiser me contar talvez eu possa te ajudar.
- O meu namoro com o Muddy tem ficado cada vez mais sério e ultimamente ele tem falado muito em construirmos um futuro juntos.
- É você não quer isso? – Anne perguntou.
- Eu quero, mas não sei se será possível.
- Eu não consigo ver qual seria o problema. Você acabou de me falar que deseja uma vida ao lado do Muddy. – Anne disse não entendendo a indecisão da menina.
- O problema Anne é que tive um relacionamento íntimo com Billy Andrews, e não sei se Muddy aceitaria uma noiva que não é mais virgem. – Ela disse tudo de uma vez sem olhar para Anne.
- Que bobagem é essa que está dizendo Josie? Quando isso aconteceu tenho certeza de que você o fez por que na sua cabeça você o amava. Seu único erro foi se entregar para o cara errado. Além do mais, eu te contei sobre Gilbert e eu.
- Mas, é diferente. Você e ele se amam, e o que aconteceu entre vocês foi fruto desse amor. Eu me entreguei para um garoto que sequer me respeitava, somente por que ele me pediu uma prova de amor. - os olhos dela marejaram e Anne teve pena.
- Josie, pare de se crucificar. Você não fez nada de errado.. Muddy é uma pessoa maravilhosa e vai entender o que aconteceu. Quando se sentir pronta, conte para ele, pois assim estará sendo honesta com ele e consigo mesma.
- Mas, e se ele não entender?
- Se ele não entender, eu mesma faço questão de dizer na cara dele que ele é um idiota e não a merece. - Josie sorriu agradecida e Anne a abraçou com afeto.
Como o mundo dava voltas, Anne pensou. Há um tempo atrás, ela sequer podia suportar Josie e agora estavam ali juntas e fazendo confidências uma para outra como se fossem velhas amigas. E ela não pode deixar de admirar as tramas do destino que faziam com que cada coisa acontecesse no momento certo. Pensando em tudo o que ela vivera até ali, ela perguntou a si mesma "a vida não é mesmo maravilhosa?"
GILBERT
De todas as coisas incríveis que já experienciara em sua jovem vida, aquele momento com certeza era o mais importante para Gilbert, embora soubesse que haveria muitas coisas ainda por vir, ele sempre pensaria que estar com sua família era o que valia a pena, e tudo de bom que acontecesse depois somente abrilhantaria ainda mais esses instantes em seu livro de memórias.
Naquela sexta feira à noite estavam sentados na mesa de jantar dos Cuthberts, discutindo sobre o batizado de Shirley. Gilbert olhou para a garotinha que brincava com um chocalho tranquilamente no colo de Mary, enquanto os adultos discutiam os detalhes da festa, e sentiu seu coração se suavizar.
Shirley não era sua irmã de sangue, mas Gilbert já a adorava como tal, e ele não se cansava de brincar com ela e mimá-la. Ela era incrivelmente inteligente e já dava sinais de que logo começaria a engatinhar, tornando-se um pouco mais independente e livre para explorar com seus olhinhos curiosos o mundo fascinante dos adultos.
Gilbert desviou o olhar da garotinha para ouvir um pouco mais da conversa que se desenrolava ali na sua frente, mas logo se perdeu novamente em sua contemplação pelos membros daquele pequeno grupo que era sua família.
Ganhara um irmão quando conhecera Sebastian. A diferença da cor da pele nunca tivera importância para Gilbert, embora ele soubesse que muita gente em Avonlea não via com bons olhos essa amizade. O pai de Gilbert sempre lhe ensinara a olhar além da aparência das pessoas, porque a essência de cada uma delas estava dentro de seus corações, e fora isso que mais o conquistara em Sebastian.
Ele era um homem que sofrera na pele o preconceito por sua raça, e por ser de origem pobre. Deixara a família muito cedo para se aventurar pelo mundo em busca de algo que acalmasse seu espírito inquieto. Porém, o mundo lá fora não era muito diferente do que ele experimentara em sua própria comunidade, e cedo ele descobrira que sua cor de pele ditava as regras em sociedades claramente racistas. Para preservar sua liberdade, ele trabalhara em todos os tipos de subemprego, ganhando apenas o suficiente para sobreviver, mas às vezes as coisas se tornavam tão difíceis, que ele nunca sabia se teria comida suficiente no dia seguinte.
Sua revolta e sede de aventuras o levara a conseguir trabalho em uma navio cargueiro, e mesmo não vivendo nas condições que gostaria, pelo menos tinha comida e um lugar para dormir todas as noites. Mas, sua sorte começará a mudar quando ele conhecera Gilbert e se tornaram amigos. A princípio, a presença de Gilbert lhe despertara certa curiosidade, pois se perguntava por que um garoto branco que claramente vinha de uma família de posses se meteria naquele navio onde havia poucas esperanças de mudança? O que o trouxera de tão longe para se esconder naquele lugar? Mas, depois de certo tempo observando-o, ele percebera que Gilbert parecia trazer a alma ferida com a dele, e foi essa constatação que os aproximou. Ambos compartilharam suas histórias tristes, e viram sua amizade se fortalecer a cada dia. Fora Sebastian que convencera Gilbert a voltar para casa, percebendo que não havia nada naquela vida que estavam vivendo que pudesse trazer ao menino a cura para o seu coração partido. Além disso, Gilbert era extremamente inteligente e talentoso para muitas coisas, então, por que desperdiçar todo aquele talento em viagens pelo mundo que não lhe ofereceram nada além de solidão.? As origens de um homem eram muito importantes, pois era onde estava sua base e toda a estrutura de sua vida, por isso, Gilbert deveria voltar, fazer as pazes com o seu passado, e ser feliz ao lado de quem ele escolhesse como companheira para sua jornada em busca do conhecimento de si mesmo.
Nesse momento, Gilbert olhou para Anne e pensou no quanto era grato por Sebastian ter-lhe aberto os olhos em relação a tantas coisas. Se não fosse por ele, sabe-se lá onde Gilbert estaria. Talvez perdido em algum continente, longe de seus amigos e de seu amor.
Anne era tudo para ele, seu porto seguro e sua motivação. Ela lhe dava ânimo todos os dias para se levantar e levar adiante todos os seus planos para o futuro. Ela também fora um dos motivos de Gilbert ter voltado para casa, pois mesmo estando tão longe nunca pudera esquecê-la, e ele duvidava que qualquer pessoa que conhecesse Anne pudesse ficar indiferente a ela. Sua personalidade singular era marcante demais para que passasse despercebida. A vida de Gilbert se enchera de cor depois que Anne começara a fazer parte dela, e deixá-la ir estava fora de cogitação. Ele a tornara sua noiva, logo a tornaria sua esposa, e juntos iriam viver uma vida repleta de felicidade.
Um suspiro de Anne chamou sua atenção, e ele observou que ela parecia estar a quilômetro dali, então perguntou curioso:
Está tudo bem, Anne? Você estava olhando para mim tão séria que por um momento pensei que quisesse me dizer alguma coisa.- ela sorriu e então respondeu
- Estou ótima. Somente estava divagando.
- E eu fazia parte desse seu momento de pensamentos tão particulares?- Gilbert perguntou, segurando as mãos de Anne firmemente entre as suas.
- Claro que sim. Você está sempre em meus pensamentos. – o toque dela em seu rosto o fez sorrir novamente, e ele olhou dentro dos olhos de Anne e fez outra pergunta:
- E não vai me contar que monopolizou tanto a sua atenção?
- Os pensamentos particulares de uma dama somente pertencem a ela. – Anne sempre lhe dava resposta a espirituosas e inteligentes, o que o fez pensar que não havia mesmo nada de fútil em sua futura esposa.
-Não seja curioso, Gilbert Blythe.- ela ralhou com ele ao que ele respondera:
- Pensei que o fato de ser seu noivo me concedesse privilégio de ter o acesso a qualquer pensamento ou segredo seu. – Gilbert dissera em um tom afetado, somente para irritar Anne. Ele às vezes gostava de provocá-la deliberadamente, apenas para ter o prazer de ver os olhos azuis dela se escureceram de raiva, deixando Anne ainda mais bonita.
- Quem sabe um dia, Sr. Blythe, mas não neste exato momento, pois todos os meus pensamentos são de propriedade somente minha. - Anne disse terminando a conversa naquele ponto, deixando Gilbert sem argumentos. Ela o vencerá de novo em seu próprio jogo, e esse fato fez, Gilbert rir deliciado com a inteligência de sua noiva.
Gilbert voltou sua atenção para Marilla que estava oferecendo Green Gables como local para fazerem a festa do batizado. A princípio, Mary não quisera aceitar, temendo que Marilla pudesse pensar que ela estava se aproveitando de sua recente amizade, mas depois Marilla a convencera de que não haveria lugar melhor que a fazenda dos Cuthbert para tornar aquele dia tão especial em algo simples, mas bonito.
A conversa ainda continuará por um tempo, com Sebastian explicando as diferenças que existiam entre culturas sobre o batizado, e como o Pastor Jackson se prontificara a realizar o batizado, mesmo fugindo das regras da igreja em Avonlea.
Todos riram quando Matthew fizera um comentário sobre o Pastor Jackson, o que lhe valera um.olhar zangado de Marilla, que disse que Matthew estava desrespeitando um homem de Deus, mas Gilbert vira no olhar de Marilla certo humor pelas palavras do irmão, mostrando que ela também se divertira com aquilo. Mas a parte da conversa que Gilbert apreciara fora quando a boa senhora dissera:
- Está decidido. A festa de Shirley será aqui no domingo de manhã. O que me lembra que amanhã teremos que começar cedo todos os preparativos. Por que não dormem aqui está noite? Temos quarto de hóspedes disponíveis. Assim, vocês não precisariam acordar tão cedo para virem para cá.
- Se você acha que não vamos atrapalhar, aceitamos sim. - Mary respondera agradecida.
Naquele momento Gilbert olhara para Anne cheio de expectativa pela noite que passariam juntos sob o mesmo teto,, mas a menina frustrada seus planos ao balançar a cabeça, recusando a sugestão que ela vira nos olhos dele.
Mas, ele não pensara em desistir e por isso, quando estavam sozinhos na varanda depois do jantar, ele tentara convencê-la dizendo::
- Anne, bem que eu poderia aparecer em seu quarto mais tarde, depois que todos estivessem dormindo. – mas novamente ela recusou.
- Gilbert, não acho isso prudente. Marilla poderia descobrir, e você sabe que ela é bastante esperta quando se trata dessas coisas. - aquilo o irritara um pouco. Detestava quando Anne colocava o relacionamento deles entre as regras da sociedade que deveriam ser seguidas, e ele acabou respondendo um tanto seco:
- Odeio estas convenções idiotas que determinam como devemos amar alguém. Eu sou seu noivo, por que não posso passar a noite com você? – mas Anne não se deixou levar pelas palavras dele, e respondera, tentando apelar pelo lado sensato dele:
- Eu também não concordo com isso, mas vivemos nessa sociedade onde Marilla e Matthew fazem parte desde que nasceram. Não quero ser motivo de escândalo para eles. - Gilbert percebeu que tinha sido rude sem necessidade e disse, acariciando os cabelos de Anne:
- Perdão, amor. Sei que tem razão. É que não consigo mais ficar longe de você, especialmente por que logo estaremos longe um do outro, e quero estar com você todos os momentos possíveis. – ele viu o rosto de Anne mudar de relaxado para tenso. Gilbert sabia que Anne não gostava de ser lembrada da partida dele agora tão próxima, por isso, ele evitava tocar no assunto, mas havia momentos em que isso era inevitável. Ele ouvira Anne dizer um tanto contrariada:
- Será que podemos não falar disso? Quero apenas que nos concentremos no presente. Depois ela continuou. – não fique bravo, amor. Será apenas por uma noite.
- Está bem, acho que consigo ficar sem você por um dia, mas quero avisar que é o máximo que consigo sobreviver sem os seus carinhos.. - ele disse aquilo de maneira tão exagerada que fez Anne rir e dizer:
- Prometo que haverá muitas compensações.
- Vou esperar por isso. - Gilbert disse também rindo. – Ficaram ainda um bom tempo namorando na varanda, antes de se despedirem na porta de seus quartos e irem descansar.
O dia seguinte amanheceu cheio de tarefas para realizar, e enquanto as mulheres se reuniam dentro de casa para assarem tortas e bolos, e se ocuparem com a confecção de enfeites que seriam usados na festas, um grupo de homens se reunia do lado de fora da cada, trabalhando na limpeza de onde a festa aconteceria. Muddy viera para ajudar, assim como o pai de Diana, e em pouco tempo tudo estava limpo e organizado para a festa.
Quando Marilla os chamou para o almoço, ela os encontrou envolvidos em uma conversa agradável e amistosa deixando todos muito a vontade e alegres.
Assim que entraram para comer, Gilbert pensou que eventos assim seriam raros nos próximos quatro anos em que ele estaria fora, e por isso, gravou tudo em sua memória mentalmente, para que em seus momentos de solidão pudesse se lembrar de tudo isso e se sentir em casa novamente.
GILBERT E ANNE
O domingo amanhecera ensolarado e sem uma única nuvem no céu. Da sua janela, Anne dava graças por aquele dia ser tão especial, e estava ansiosa pelo que aconteceria mais tarde.
Mary convidou Anne e Gilbert para serem os padrinhos de Shirley em batismo, e eles aceitaram sem hesitar. Anne também aprendera amar aquela garotinha que vira nascer e que tinha crescido tanto nos últimos dias. Era mais um laço que a unia a Gilbert, era mais uma alegria para partilhar com ele, e ela compreendia que já tinham começado a construir sua vida juntos, pois cada compromisso familiar no qual se envolviam estreitava ainda mais a relação de ambos., e Anne se sentia cada vez mais feliz com.isso.
Ela fechou os olhos e desejou que os anos passassem rápidos, e que o dia de seu casamento chegasse logo. Não via a hora de ser a Sra. Blythe, e acordar todos os dias ao lado do rapaz que o seu coração escolherá para amar.
Ela olhou para o calendário onde fazia a marcação dos dias que iam de extinguindo e aproximando-a da partida de Gilbert. Ela decidira que tentaria não ficar mais triste com isso, e tentaria encarar aquilo como o começo de algo sólido, e que traria muitos benefícios e alegrias para ela é Gilbert.
E enquanto ele estivesse fora, ela se ocuparia em cuidar dos preparativos para o casamento e a construção da casa onde iriam morar. Os materiais já haviam sido providenciados, e assim que chegassem, Sebastian seria o responsável por tudo, junto com outros homens que ele especialmente escolhera para isso. Quando Anne pensava sobre isso, se sentia tão animada. Seria maravilhoso ver seu sonho de ter um.lar somente seu ser realizado , e ela jurou que faria com que tudo acontecesse exatamente como tinha imaginado, e sentia que seu futuro com Gilbert estava finalmente começando a tomar fôrma.
Ela se arrumou e desceu as escadas onde encontrou Marilla e Mary atarefada com a comida que seria servida após o batizado. Elas estavam de pé a horas e quando Anne olhou pela janela da cozinha, viu que Gilbert já tinha se levantado e se reunido a Matthew e Sebastian para darem os retoques finais em Green Gables para a festa.
Anne e as duas outras mulheres trabalharam na cozinha cerca de duas horas, e depois foram se arrumar para irem até a igreja onde o batizado aconteceria. Ela viu Gilbert sair do quarto de hóspedes todo arrumado e lindo como sempre. Ele usava calças e camisa branca de linho, e tinha no rosto um sorriso incrível.
- Como você está elegante, meu amor. – Ela o abraçou e deu-lhe um selinho rápido.
- Obrigada. Você também está maravilhosa. É sempre um prazer olhar para você de manhã. Não vejo a hora de tê-la só para mim está noite.
-Poderíamos ir a praia mais tarde. Marilla e Matthew convidaram Mary e Sebastian para passearem até uma cidade vizinha, e ficarão fora até amanhã. Então, creio que estaremos por nossa conta esta noite. - os olhos de Anne brilharam alegres e ele riu de sua animação.
- Ótimo. Podemos ver o pôr do sol juntos.
- Que grande ideia, Gilbert. Faz tempo que não vejo o pôr do sol na praia.- Anne disse aprovando a sugestão do noivo.
- Então, está combinado. Agora vamos, pois todos nos esperam na igreja.
A igreja estava cheia de gente quando chegaram lá, e logo Gilbert e Anne tomaram seus lugares ao lado se Sebastian e Mary no altar. A cerimônia foi tão linda, que trouxe lágrimas aos olhos de Anne, e Gilbert percebendo sua emoção apertou-lhe as mãos com carinho.
Enquanto tinha Shirley em seus braços, Anne olhou nos olhos de Gilbert e viu seu futuro brilhar nos olhos dele. Podia enxergar dias assim, em que teriam toda a família reunida para comemorarem cada evento importante, cada conquista e cada alegria. Podia ver com clareza tudo o que seu coração desejava, e tudo o que estava ao alcance de suas mãos. Porque Gilbert Blythe era o rapaz de seus sonhos, o amor que conquistara para vida inteira, ele era o seu lar.
Saíram da igreja ainda elevados pela cumplicidade que compartilharam, e a todo o momento, Anne pegava Gilbert olhando para ela com adoração, intrigada ela perguntou lhe:
- O que foi, Gilbert? Por que está olhando para mim dessa maneira?
- Porque não canso de admirar sua beleza, e não consigo parar de imaginar você com nossos filhos nos braços. - o coração de Anne bateu forte com as palavras do noivo,
- Você será um pai maravilhoso, Gilbert. Quero que nossos filhos saibam que o pai deles é a pessoa mais incrível do mundo.
- É eu quero que ele a saibam o quanto eu amo a mãe deles, e o quanto ela é especial para mim.- ficaram se olhando enquanto o futuro passava por seus olhos, e tantas outras coisas sobre as quais eles sequer ainda tinham pensado, e tudo pareceu tão simples e possível que Anne e Gilbert não pararam de sorrir um para o outro..
E permaneceram assim durante a festa do batizado de Shirley, como se soubessem de um segredo que ninguém mais sabia. Seus olhares se encontravam a todo o momento, suas mãos se tocavam sempre que passavam um pelo outro, e a alegria de ambos era visível a todos que participavam daquele momento tão importante em Green Gables.
Quando ia convidados se foram, e Matthew e Marilla partiram com uma cesta cheia de guloseimas junto com Mary, Sebastian e Shirley, o casal de noivos foi até a praia. Fazia bastante tempo que Anne não aparecia por ali, e tudo estava calmo e tranquilo, pois naquela hora não havia ninguém perambulando pela areia ou nadando no mar.
Anne e Gilbert caminharam pela praia de mãos dadas, e depois se sentaram em uma pedra para verem o sol desaparecer no horizonte dando passagem para a lua que já surgia exuberante iluminando o céu da noite que chegava de mansinho, dando a praia um ar mágico e acolhedor.
- Que visão fantástica, não acha Gilbert?- Anne disse se virando para olhar para Gilbert.
- Não tanto quanto você – Ele não conseguia tirar os olhos dela. Anne o fascinava de tal maneira, que mesmo depois de se conhecerem tão bem, ela ainda o deixava sem fôlego. Eles se beijaram com a paixão evidente que corria quente em suas veias Por entre os cabelos de Anne Gilbert disse:
- Vamos para casa, - Anne sorriu concordando.
Durante todo o percurso até a fazenda de Gilbert , eles não se falaram, apenas se olhavam como se tudo se resumisse naquele breve toque das mãos de dedos que se entrelaçavam dentro do carro, como se também estivessem entrelaçando suas vidas.
Gilbert abriu a porta da sala, e Anne entrou, e antes que desse mais um passo, Gilbert a pegou no colo e ela disse rindo sem parar:
_ O que está fazendo?
- Quero levar a Sra.Blythe para o nosso quarto.- Gilbert respondeu também sorrindo.
- Mas ainda não nos casamos, e o noivo só carrega a noiva no colo até o quarto na noite de núpcias.
- Então, que essa seja uma de várias noites de núpcias que teremos juntos.- ele disse, subindo as escadas com Anne no colo até chegar no quarto dele. Depois, colocou-a no chão e com as mãos no cabelo dela ele disse:
- Esse quarto é tudo o que simboliza nosso amor. Foi aqui que você foi minha pela primeira vez, foi aqui que vivi a noite mais maravilhosa de minha vida, foi aqui que você se entregou a mim de maneira tão intensa que jamais poderei esquecer a visão do seu rosto naquela noite, tão cheio de confiança e amor por mim. Você me disse que tem medo que eu te esqueça quando eu estiver em Nova Iorque. Como eu posso esquecer a única garota que faz meu coração disparar toda vez que sorri para mim? Como eu posso esquecer a única. mulher que faz com que meu corpo vibre toda vez que ela me beija com paixão? Não, Anne, definitivamente, eu jamais conseguirei te esquecer ou deixar de amar você. - enquanto falava Gilbert já ia retirando cada peça de roupa que Anne usava, seus lábios depositando beijos em todas as partes da pele dela, e Anne ofegou em vários momentos sem conseguir falar. A intensidade do momento a deixava envolvida pelas palavras de Gilbert e as lembranças daquela noite que ela também nunca esqueceria.
Os lábios dela procuraram pelos dele, e quando se encontraram se beijaram com fúria, como se não conseguissem mais controlar o desejo dentro de si. Anne puxou Gilbert até a cama e quando se deitaram nela, seus corpos ardiam em chamas. Ela deslizou as mãos pelas costas dele, enquanto sentia os lábios de Gilbert em seu pescoço, e eram lábios que não pediam, mas exigiam tudo dela, seu amor, sua paixão, seu coração. E eles se amaram, com as mãos, lábios e sussurros, e tudo no que Anne conseguia pensar era que queria se fundir com Gilbert naquela sensação de plenitude que enchia sua alma, e quando Gilbert sentiu que Anne se entregava a ele completamente , ele se juntou a ela naquela viagem incrível onde seus corpos explodiram juntos em um prazer nunca antes sentido.
- Eu te amo. – Anne disse quando se olharam de novo nos olhos.
- Eu também te amo. Você me completa de um jeito que ninguém mais poderia. - ele tocava o rosto de Anne com a ponta dos dedos como quisesse desenhar com suas mãos cada linha e cada traço.
- Você também me completa, e não existe nada no mundo que me faça mais feliz do que quando estou nos seus braços. Eu pertenço a você Gilbert e sempre será assim. - ela o abraçou sentindo as batidas descompassadas do coração dele bater no mesmo ritmo que o seu. E eles se amaram de novo, desta vez com mais calma como se quisessem que aquele momento durasse a vida inteira.
Quando acordaram no dia seguinte, tomaram na banho juntos , e depois se vestiram e foram para a escola. Enquanto caminhavam de mais dadas, a cada passo que davam, Anne sentia que havia algo diferente no ar, quase como se fosse uma promessa selada por, ela e Gilbert na noite anterior quando adormeceram um nos braços do outro. Ela olhou ao redor observando cada árvore e cada flor pelas quais passavam suas velhas conhecidas e companheiras de tantos momentos naquela floresta, onde ela tantas vezes desabafara suas tristezas, e onde também confessara seu amor por Gilbert, e sentiu que tudo se conectava como se o universo estivesse trabalhando a favor da harmonia e da felicidade, e pela primeira vez Anne sentiu que era dona de seu futuro, e que estava finalmente em casa.
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Este capítulo como todos os outros foi inspirador para mim. Por favor compartilhem suas opiniões, pois fico ansiosa por elas.
Beijos, Rosana.
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