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Capítulo 22- Sempre no meu coração

Capítulo 22

Sempre no meu coração

ANNE

Anne chegou à escola, e a primeira coisa que fez foi olhar para a carteira de Ruby,que continuava vazia pela segunda semana consecutiva. A menina faltara nas aulas nos últimos dias, ou melhor, ela simplesmente não aparecera desde a malfadada festa, e Anne se perguntava como Ruby estaria.

Diana percebeu o olhar de Anne e disse para a amiga:

- Você não deveria se preocupar com Ruby, depois de tudo o que ela fez você passar naquela festa.

- Eu sei Daiana. Mas não consigo deixar de lembrar que fomos boas amigas por um tempo, e me parte o coração saber a que ponto chegamos por causa de meu namoro com Gilbert.

- O que quer dizer com isso? Não vai me dizer que está se culpando por você e o Gilbert terem se apaixonado? – Diana olhava para a amiga indignada.

- Não é isso, Diana. É só que as coisas aconteceram de um jeito que eu não esperava. É verdade que me sinto culpada por muitas coisas, mas não por ter me apaixonado por Gilbert. Seria uma hipócrita se dissesse que queria que as coisas fossem diferentes. Não me arrependo de ter assumido meus sentimentos por ele, só queria ter agido diferente com a Ruby. Se tivesse contado a ela desde o início quando as coisas entre Gilbert e eu começaram a mudar, talvez ainda fôssemos amigas. – Anne se lamentou por um momento.

- Se acredita mesmo nisso é mais ingênua do que eu pensava.

- Por que diz isso, Diana?- Anne perguntou incomodada com o tom de voz que a amiga usou para dizer aquilo.

- Ruby jamais te perdoaria, mesmo que tivesse ouvido de sua boca que você e Gilbert se amam. Ela decidiu desde o jardim da infância que ele seria namorado dela, e sempre procurou afastar qualquer garota que se interessasse por ele. Cansei de vê-la usando artimanhas para que ninguém se aproximasse do objeto de desejo dela. Ruby sempre foi egoísta, nunca acreditei muito na amizade dela por mim, e olha que a gente se conhece desde sempre. Talvez ela tenha mais consideração por Josie Pye do que por qualquer uma de nós duas. Esqueça a Ruby, Anne. Ela não merece nem sua amizade e nem sua consideração.

Anne procurou seguir o conselho de Diana, mas para ela era difícil esquecer o que acontecera. Gostava de Ruby, e embora a menina a tivesse magoado, não conseguia guardar rancor. Se ela aparecesse ali e dissesse que queria ser sua amiga de novo, Anne aceitaria sem pestanejar. Ela era assim, pelo seu próprio bem ou mal não era o tipo de pessoa que carregava ódio no coração. Preferia cultivar bons sentimentos, pois acreditava que quando plantamos boas sementes colhemos flores maravilhosas.

Sentiu alguém tocar de leve seus cabelos, interrompendo o fluxo de sues pensamentos, olhou para trás e viu que Gilbert e Muddy acabaram de chegar. Sorriu para ambos e Gilbert retribuiu com outro sorriso, o que lhe aqueceu o coração. Em seguida, olhou para Muddy e perguntou:

- Tem notícias da Ruby? – percebeu o olhar de reprovação de Gilbert enquanto esperava pela resposta de Muddy.

- Eu tenho ido para a casa dela todos os dias depois da aula, e estudamos todos os conteúdos aplicados pela Srta. Stacy.

- Ela não vai voltar para as aulas? - a voz saiu mais triste do que esperava.

- Bem, creio que ela vai voltar algum dia, mas no momento ela está muito envergonhada com o que aconteceu na festa.

- Os pais dela sabem de tudo?

- Não tinham como não saber. O irmão dela estuda aqui, e ouviu todos os comentários que os outros alunos fizeram sobre o comportamento de Ruby na casa da Sra. Blewett e acabou contando para os pais deles.

- Eles ficaram muito zangados com ela? - Anne perguntou preocupada.

- Não ficaram zangados, mas conversaram bastante com ela sobre os perigos do álcool. Eles têm tentado convencer Ruby a voltara para a escola, mas até agora não conseguiram, por isso, me pediram para estudar com ela até que ela se sinta confortável para retornar.

- Se eu soubesse que Ruby me receberia, eu iria visitá-la - Anne disse pensativa.

- Acho que não seria uma boa ideia, pelo menos por enquanto. Ruby não quer ver ninguém, nem mesmo seus amigos. Acho que ela precisa de tempo para voltar a ser a menina que era, pois no momento a única coisa que tem feito é ficar trancada no quarto, portanto, acho melhor você esperar mais um pouco, se tem mesmo intenção de visitá-la. - Muddy encerrou a conversa com um meio sorriso e voltou para sua carteira. Diana interrompeu o silêncio em que ficara durante a conversa entre Anne e Muddy e disse para Gilbert:

- Eu desisto. Espero que você consiga pôr um pouco de bom senso na cabeça dessa minha amiga de coração mole. – viu uma de suas colegas acenando para ela do outro lado da sala e disse: - Volto em cinco minutos.- e saiu deixando Anne e Gilbert sozinhos.

- O que foi, Gilbert? – Anne perguntou ao notar que Gilbert ainda tinha no rosto o mesmo olhar de reprovação de minutos atrás.

- Anne, quantas vezes vou ter que te dizer para deixar esse assunto morrer? A Ruby não merece sua preocupação. - Gilbert respondeu revelando um tom de voz um pouco alterado.

- Eu tenho tentado Gilbert, mas não consigo tirar isso da minha cabeça. Desculpe se te aborreço. - a voz dela era quase um sussurro.

- Você não me aborrece nunca. É que não suporto ver você sofrer desse jeito por algo que não vale a pena. Eu tenho visto você todos esses dias cabisbaixa e com um olhar perdido que não consigo decifrar. Queria tanto poder ajudá-la a superar isso. – Gilbert colocou as duas mãos nos ombros de Anne.

- Você me ajuda demais, Gilbert. Estou bem, não se preocupe. – Anne fitou-o com ternura.

- O problema é esse seu coração maravilhosamente sensível.

- Isso te incomoda? Você gostaria mais de mim se eu fosse menos sensível?

- Eu te amaria de qualquer jeito, você sabe disso. – Olhou-a com tanta intensidade que Anne sentiu como se o ar enchesse de eletricidade. Nesse momento a Srta Stacy entrara na sala, e eles se sentaram lado a lado esperando pelo início da aula.

Começaram as atividades do dia estudando literatura. Anne adorava esta matéria, pois lhe dava a oportunidade de viajar nas ondas das palavras, deixar sua imaginação à solta, e criar em sua mente um mundo onde só havia beleza, amores possíveis e finais felizes, e o melhor de tudo era que naquele dia tinha Gilbert ao seu lado, o que a deixava mais inspirada ainda.

No fim daquela aula, a Srta Stacy chamou a atenção dos alunos dizendo:

- Muito bem, agora que estudamos alguns dos melhores autores americanos e britânicos na área de poesia, quero lançar um desafio à vocês.- a professora olhava para os alunos enigmaticamente como se quisesse criar certa expectativa para o que diria a seguir.

- Qual seria esse desafio, professora?- Muddy perguntou não aguentando o suspense.

- Quero lançar um concurso de poesias. O que acham? Sei que alguns aqui não apreciam essa matéria. – a Srta Stacy disse aquilo olhando diretamente para Billy Andrews. – Mas mesmo assim, eu queria que todos participassem. Será um trabalho que influenciará na nota de vocês, e também selecionarei as melhores poesias e depois as levarei à votação. A poesia mais votada será a vencedora.

- Teremos algum prêmio? – Josie Pye perguntou com os olhos brilhando de interesse.

- Bem, Josie. Achei que tickets para o cinema e sorveteria da cidade seria algo singelo, mas prazeroso. O que acham? – os alunos aplaudiram a ideia com alegria. Para muitos, aquela tarefa não seria fácil, mas acharam que era uma coisa boa serem desafiados para fazer algo que nunca tentaram antes, talvez assim encontrassem talentos nunca antes revelados.

Gilbert se virou para Anne e disse:

- Creio que esta tarefa não será difícil para você, e tenho certeza que se sairá muito bem ao executá-la. Quanto a mim não tenho tanta certeza, creio que me identifico melhor com os números.

- Quer ajuda? Posso te dar algumas ideias se desejar - Anne falou sorrindo.

- Bem, creio que se tivéssemos mais encontros durante a noite, sob a luz das estrelas lá no telhado de casa, poderia funcionar muito bem para mim. – Gilbert disse em tom de brincadeira.

- Sabia que você iria aceitar a minha oferta só para tirar algum proveito dela. – Anne fingiu estar aborrecida.

- Você também teria vantagens nestes nossos encontros. – Gilbert olhou para ela com aquele seu ar maroto, que sugeria que tinha outras ideias além da poesia.

- É mesmo? E quais seriam essas vantagens? – Anne quis saber.

- Você teria todos os beijos que quisesse como pagamento.

- Você é mesmo espertinho, Sr. Blythe. Isso não seria bem só vantagens para mim, não é? – Anne ouviu Gilbert rir baixinho.

- Que graça teria se eu não pudesse aproveitar sua companhia de alguma forma? – o menino lhe perguntou dando-lhe uma piscada. Anne balançou a cabeça, mostrando-se inconformada, mas no fundo estava se divertindo com as palavras do namorado.

Anne adorou a ideia do desafio de literatura, pois escrever era algo de que gostava muito, era como se fizesse parte de seu DNA, a essência do que ela era, e sempre encontrava nas palavras a conexão perfeita para expressar exatamente como se sentia em relação ao mundo, ou as experiências que vivia. Escrever a ajudara a suportar a vida solitária no orfanato, assim como a existência sem perspectivas nas casas de adoção pelas quais passara, pois criara um ambiente paralelo aquele no qual vivia, fazendo-a acreditar que era possível escapar de seu desespero e encontrar na combinação de versos e prosas a liberdade para o seu coração.

Tinha certeza de que Gilbert teria um ótimo desempenho naquele trabalho também, pois embora, ele não tivesse o hábito de escrever como ela, o menino sabia harmonizar seus pensamentos e colocá-los no papel de maneira coerente, mas ainda assim ela prometera ajudá-lo com algumas ideias.

Passaram juntos vários dias escrevendo. Pesquisaram estilos e rimas ,tentando encontrar a fórmula perfeita para que escrevessem um poema único e especial, mas no final decidiram apenas deixar fluir os sentimentos e descrevê-los de maneira simples e fiel ao que pensavam.

O trabalho final ficou incrível. Anne se admirou com a criatividade de Gilbert em misturar conceitos e ideias, escrevendo com segurança o que lhe ia no coração,enquanto ela criara uma combinação interessante de frases que juntas formavam um poema bonito e incrivelmente verdadeiro como ela própria era.

Assim, no final da semana, todos os poemas tinham sido entregues, e depois de passar o fim de semana selecionando os melhores, a Srta Stacy criou na sala de aula um grupo de votação, onde alguns alunos ficaram encarregados de escolher os três melhores, o que foi anunciado por ela no fim da semana seguinte.

- Bem, como prometi anunciarei os três melhores poemas, e aproveito para dizer que fiquei feliz pelo resultado, pois foi muito merecido.. Em terceiro lugar, o poema escolhido foi o de Gilbert intitulado "O mar". Parabéns, Gilbert, adorei os versos que você criou como se fosse um marinheiro velejando pelo mundo em busca de si mesmo. - abraçou o menino, dando-lhe uma medalha e um livro moderno sobre medicina. Gilbert ficou contente pelo prêmio e mais ainda pelo olhar de admiração de Anne. Neste momento a Srta Stacy continuou:

- Em segundo lugar escolhemos o poema de Muddy com o título "O amanhã". Querido, que grata surpresa! Sempre soube que você era bom com números, mas não com as palavras, fiquei sinceramente comovida. - Muddy recebeu sua medalha e um livro sobre Biologia, matéria favorita do menino.

- Em primeiro lugar devo anunciar que o poema escolhido foi o de Anne com o nome de "História de amor". Anne, nem sei o que dizer, você sempre teve o dom das palavras, mas desta vez se superou, estou muito orgulhosa de você.

Quando fora anunciada pela Srta Stacy como ganhadora do primeiro lugar, Anne achou que não tinha ouvido direito, pois nunca na vida ganhara algo assim. Mas logo percebeu todos os olhares admirados em sua direção, e o grande sorriso de Gilbert encorajando-a a se levantar de onde estava e ir receber seu prêmio. Respirou fundo duas vezes, tomou coragem e foi até onde a professora a esperava. Então, ela abraçou a ruivinha com carinho, entregando-lhe a medalha de primeiro lugar, os tickets para o cinema e sorveteria, e também o livro "Morro dos ventos Uivantes" de Emily Bronté,pois sabia o quanto Anne era apreciadora desta escritora. Em seguida, continuou com sincera alegria. – Como de costume, pedimos que o primeiro lugar leia o seu poema. Por favor, Anne, faça as honras.

A menina olhou para a sala inteira, sentindo-se tímida por expor seus pensamentos a quem quisesse ouvir, mas novamente o olhar encorajador de Gilbert libertou-a de sua inibição momentânea, e começou a ler o poema com sua voz melodiosa e clara:

"Existem inúmeras histórias de amor que poderíamos dizer que são inspiradoras. As melhores são aquelas que nos dão uma nova percepção do mundo, uma perspectiva inovadora da nobreza dos sentimentos que se escondem no íntimo de cada um e que podem se transformar em grandes paixões.

Uma história de amor também é uma história de vida, pois marca um instante no tempo de nossas lembranças, em que guardamos em nossa caixinha de memórias nossas esperanças, nossos sonhos, nossas alegrias, e ao abri-la em outros momentos pode se tornar um balsamo para as feridas da alma, nos trazendo a certeza de que dias melhores virão.

Uma história de amor não precisa ser um conto de fadas, mas tem que ser de verdade, não precisa ser perfeita, mas tem que ter em suas linhas uma dose de honestidade, onde encontramos as facetas mais incríveis do ser humano, quando ele se propõe a abrir-se por inteiro e compor ao longo do caminho uma sinfonia de emoções compartilhadas, deixando que o mundo veja a sinceridade de cada verso impresso nas entrelinhas da vida.

Histórias de amor não se escondem atrás de muros, elas viajam de porto em porto, de cidade em cidade, de palavras em palavras, espalhando pelo mundo sua essência mais pura, construindo novas pontes entre corações que se procuram pelas estradas do destino, deixando para trás um rastro de possibilidades infinitas.

E assim, vão escrevendo outras histórias que se entrelaçam nos fios de nossos desejos, e vão costurando com linhas de sabedoria tantos outros momentos e tantos segredos, deixando que sigam seu curso até desembocar no mar de nossos mais íntimos anseios, buscando nas ondas de cada pensamento uma única frase que descreva a intensidade de tanto amor.

Uma história de amor é como um livro escrito pelo amanhecer de cada dia, pelas experiências que vivenciamos, pelas pessoas que encontramos ao longo do caminho, pelas lágrimas que caem quando a dor ou felicidade toca nosso espírito, e é contada aos quatro ventos sempre que colocamos em nossos lábios a beleza de cada segundo que nos propomos a experimentar.

E então compreendemos que o amor quando acontece já conta por si só uma história, naquele minuto em que dois olhares se encontram sem realmente esperar. E unem em um só sentimento todas as páginas de sua existência, como se fossem autores de sua própria realidade, de um enredo cheio de recordações que ficará guardado para sempre na biblioteca de suas vidas.

É assim que uma história de amor começa, ás vezes por rumos tortuosos, frases desconexas, sentidos obtusos, e parece pouco provável que exista um pingo de harmonia onde tanto descompasso parece imperar, mas então a mágica acontece e tudo se encaixa perfeitamente, como se dois corações nunca tivessem vivido separados, como sempre tivessem se amado, e os espaços entre suas histórias nunca tivesse existido.

É desde modo que ideais são construídos, que amores são encontrados e que vidas são unidas. E capítulos vão sendo escritos, e rimas vão sendo inventadas, e assim o amor nasce entre um ou outro parágrafo, desta história que dia após dia é colhida no cair de tarde, no jardim de nossos devaneios, onde todas as promessas nos levam a um final feliz de verdade."

ANNE

A voz de Anne foi morrendo aos poucos, enquanto a sala permanecia em um silêncio emocionada. Ninguém ousava quebrar aquele momento mágico, que tocara os corações de todos com palavras sinceras e incríveis. Anne olhou para Gilbert e viu que ele a olhava de uma maneira diferente, como se a visse pela primeira vez, e ela sentiu aquele laço que os unia se tornar ainda maior, pois ao escrever aquele poema, o fizera pensando na história de ambos, e o resultado ficara melhor do que esperava. Fora verdadeira em cada palavra e se sentia feliz por compartilhar com ele aquele momento. Até mesmo Josie Pye sempre pronta a caçoar de tudo que a ruivinha fazia, parecia ter sido tocada pelas palavras dela, e Anne quase podia jurar que vira lágrimas brilhar nos olhos dela, mas que a garota tentava disfarçar das vistas de todos. Diana, ao contrário, chorava abertamente, e foi a primeira a cumprimentá-la quando toda a entrega dos prêmios terminou.

- Anne! Que coisa mais linda! Você fez meu coração quase sair pela boca de tanta emoção. Eu, mesmo que tentasse, jamais conseguiria escrever algo tão comovente e belo .- Anne sorriu feliz com o elogio da amiga.

- Obrigada, Diana. Sua opinião é importante para mim.

- E a minha?Também conta? – Muddy se aproximou e deu um beijo na bochecha de Anne.

- Muddy! Fiquei contente pelo seu prêmio. Parece que temos mais um poeta entre nós. - Anne abraçou o amigo com carinho.

- Obrigada, Anne. Mas não acho que seguirei nesta carreira. Minha praia é outra ,você sabe. – Muddy se referia à biologia, sua verdadeira paixão.

- Eu sei, mas é um desperdício de talento. - Anne concluiu.

- Será que a nova poetisa da escola tem espaço na sua agenda para seu humilde namorado. – Anne se virou para falar com Gilbert.

- Você está sempre no topo da lista. - os dois riram. – Adorei seu poema, Gilbert. Você tem muito talento. Talvez queira se aventurar na área de Literatura já que agora provou que possui conexão com as palavras.

- Não, obrigado. Deixo isso para você. - segurou na mão dela e s disse baixinho em seu ouvido.- Vamos comemorar mais tarde. Tenho uma surpresa para você.

Anne apenas assentiu com a cabeça, já curiosa para saber que surpresa era aquela que Gilbert lhe reservava. A aula terminou um pouco mais cedo naquele dia, e Anne voltou para casa em companhia de Gilbert, Muddy e Diana. Assim que se despediram, Gilbert disse:

- Não se esqueça de nossa comemoração mais tarde.

- Não vou esquecer. - beijaram-se rapidamente, e ambos se dirigiram para suas respectivas casas.

Anne estava intrigada. Que tipo de comemoração Gilbert tinha em mente? Ele não lhe dera nenhuma pista, e ela muito ansiosa por causa disso. Mas tinha certeza de que o que fosse seria algo inesquecível, pois já conhecia Gilbert o suficiente para saber que ele sempre a surpreendia., e por essa razão, seu coração cantou feliz ao pensar que em poucas horas estariam juntos novamente, e com o pensamento cheio de expectativa, ela sorriu para Marilla que a esperava na varanda para o lanche da tarde.

GILBERT

Enquanto caminhava para casa Gilbert pensava em Anne e nos acontecimentos das últimas semanas.

Logo após a festa da colheita, as coisas andaram um pouco estranhas entre ele e Anne. O namoro deles não sofrera nenhuma mudança, mas Gilbert sentia que alguma coisa incomodava a menina profundamente, pois várias vezes a vira de cabeça baixa, olhar pensativo e todas as vezes em que ele tentara descobrir o que estava acontecendo, ela fugia de suas perguntas e fingia que estava tudo bem.

Anne tinha uma profunda dificuldade em partilhar seus sentimentos, especialmente quando algo a fazia sofrer. Embora houvesse entre eles uma confiança mútua, Anne tentava se manter longe de qualquer situação em que tivesse que expor seus pensamentos e emoções íntimas. Gilbert era mais expansivo que ela nesta área, aprendera com o pai a ser sempre sincero a respeito do que sentia, e por isso não tinha nenhum problema em deixar às claras seus sentimentos ou mesmo conversar sobre eles.

Esperara com ansiedade a voltas as aulas, acreditando que ao se manter ocupada, Anne acabaria por esquecer sua situação com Ruby, mas à medida que Anne percebera que a menina não voltaria tão cedo para a escola, ela parecera murchar e sua costumeira espontaneidade deixara de existir. Era como se o fantasma de suas culpas a assombrasse, e com isso o fardo sobre suas costas começara a pesar novamente.

Gilbert fizera todo o possível para que ela se esquecesse de todas as palavras duras que Ruby tinha atirado sobre ela, mas Gilbert não conseguira afastar a sombra que pairava sobre ela todas às vezes que a lembrança desse momento desagradável alcançava o recanto mais profundo de sua mente. O menino temera que Anne acabasse atribuindo a si mesma a responsabilidade pelo comportamento de Ruby, e deixasse que isso atrapalhasse o relacionamento dos dois. Mas Graças a Deus seus medos não se confirmaram, pois Anne estava mais próxima dele do que nunca, e isso afastara completamente todos os seus receios.

Naquela manhã, ficara extremamente aborrecido ao perceber o quanto Anne ainda se importava com Ruby ao ouvi-la perguntar a Muddy sobre a menina. Não conseguia entender por que Anne valorizava tanto uma amizade que nunca fora verdadeira de fato. Tentara disfarçar, mas Anne percebera sua reação e perguntara:

- O que foi, Gilbert?

Ele respondera, tentando fazê-la entender o porquê de seu incômodo:

- Anne, quantas vezes vou ter que te dizer para deixar esse assunto morrer? A Ruby não merece sua preocupação.

Anne mostrara certo constrangimento, como se pensasse que Gilbert considerava terrivelmente errado o seu comportamento a respeito dos recentes acontecimentos, e por isso, dissera:

- Eu tenho tentado Gilbert, mas não consigo tirar isso da minha cabeça. Desculpe se te aborreço..- ele percebera a tristeza dela e quisera lhe mostrar que não criticava a maneira como ela lidava com o caso, mas sim que ele estava preocupado com seu bem-estar e saúde emocional. Queria poupá-la da dor e do sofrimento desnecessário, e fazê-la ter consciência que estava lutando por uma causa perdida, e por isso, ele respondeu:

Você não me aborrece nunca. É que não suporto ver você sofrer desse jeito por algo que não vale a pena. Eu tenho visto você todos esses dias cabisbaixa e com um olhar perdido que não consigo decifrar. Queria tanto poder ajudá-la a superar isso. – ao ouvir aquilo ela apenas sorrira de maneira doce e dissera:

- Você me ajuda demais, Gilbert. Estou bem, não se preocupe.

Ele então ressaltara a sensibilidade incrível de seu coração, o que a fizera perguntar se ele a amaria mais se ela fosse menos sensível, e ele lhe respondera:

- Eu te amaria de qualquer jeito, você sabe disso.

Neste momento, foram interrompidos pela chegada da Srta Stacy que iniciou a aula de literatura. Gilbert sabia que esta era a matéria favorita de Anne, e viu o interesse da menina crescer quando a professora falara sobre o concurso de poesia. Particularmente, Gilbert não era um grande conhecedor de obras literárias, embora gostasse de ler como Anne, não era tão profundo quanto ela na arte de escrever. Ele preferia as coisas mais práticas, deixando este outro lado para pessoas que realmente tivessem o dom de fazê-lo. Mas desta vez, ele resolveu que participaria somente para estar perto de Anne, e ajudá-la no que precisasse, embora desconfiasse que quem necessitaria de mais ajuda seria ele.

Eles se encontraram todos os dias depois da aula, e desenvolveram um trabalho interessante. Gilbert achara divertido explorar esse seu lado poético, algo que nunca fizera antes. É claro que já escrevera poesias, mas somente para ocasiões específicas e não para competir em um concurso, o que tornava a coisa toda mais complexa e estimulante do que pensara. Ele resolvera usar como tópico central o mar, pois era algo do qual fisicamente participara e era um assunto mais fácil de desenvolver. Gilbert se impressionara com a habilidade de Anne em juntar e rimar palavras, tornando sua poesia rica em detalhes e significado.

Por isso, não se surpreendera ao ver que ela tinha ganhado em primeiro lugar o concurso lançado pela Srta Stacy. Ficara surpreso com seu terceiro e segundo lugar de Muddy, pois ambos eram dois amantes da matemática e jamais pensara que se dariam tão bem com frases românticas e versos apaixonados. E no final parecera que todos os alunos aprovaram os poemas escolhidos, principalmente o de Anne que com certeza era o melhor de todos.

Ouvi-la ler o que escrevera em voz alta fizera Gilbert perceber o quanto Anne era profunda em seus sentimentos. Ele sabia dessa capacidade dela de se expressar por meio de palavras escritas, o que nem sempre acontecia quando tinha que discutir sobre emoções com ele. Mas naquele instante em que Anne deixara de lado seu medo de exposição, e declamara ali na frente de todos que a escutavam atentamente a intensidade de suas paixões, Gilbert a vira se transportar para outro nível onde somente existia ela e mais ninguém.

Pela primeira vez, Anne se deixara envolver pela magia do momento, e Gilbert vira o sorriso no rosto dela se transformar em puro deleite. Por esse motivo, ele queria prolongar aquele sorriso e aquela alegria inesperada que ele não via nela há dias. Assim, teve uma ideia que o deixou demasiadamente animado. Iria surpreender Anne com algo que o menino sabia que ela adoraria.

Esperou que os amigos terminassem de parabenizá-la pela sua linda conquista naquela manhã, e dissera em seu ouvido

- Vamos comemorar mais nesta tarde. Tenho uma surpresa para você.

Anne olhou para ele curiosa, mas não o atropelou com um caminhão de perguntas, o que seria normal da parte dela, pois nunca conseguia segurar sua ansiedade por muito tempo em relação à surpresas ou novidades. Talvez ainda estivesse tão envolvida com sua satisfação por si mesma que não prestara muita atenção ao sentido das palavras de Gilbert.

Quando se despediram em Green Gables, ele a lembrara da comemoração daquela tarde e vira acender nos olhos de Anne certo ar de expectativa que o fizera rir satisfeito.

Estava quase chegando em casa, e pensou que a primeira coisa que faria era resolver todas as pendência em relação aquele assunto, e então apresentaria a Anne seu plano. Gilbert quase podia ver a felicidade dela quando lhe contasse, e com pensamentos cheios de perspectivas positivas, ele entrou em casa cumprimentando Sebastian e Mary que parecia bem melhor naquele momento, e começou a lhes contar todas as novidades maravilhosas daquele dia..

GILBERT e ANNE

- Vamos, Gilbert. Conte-me logo o que está planejando, pois já me manteve em suspense por muito tempo, e essa espera está me matando. – Estavam sentados embaixo de uma seringueira na fazenda de Gilbert, e o menino mantinha seus braços envolta da cintura da namorada, mantendo-a confortavelmente apoiada em seu corpo.

O verão já tinha ido embora, e Anne pôde sentir que a brisa que soprava estava mais fria que de costume, anunciando a chegada do outono. Esta não era uma estação que Anne particularmente apreciasse, pois tornava a paisagem um tanto melancólica, mas era melhor que o inverno, quando o vento se tornava tão gelado que chegava a machucar a pele, e a menina não tinha boas lembranças deste período no passado. Houvera tantas ocasiões em que ela quase não tivera roupas quentes o suficiente para protegê-la das noites impiedosas, quando o frio era tanto, que com o tempo passara quase a fazer parte da alma dela. Anne estremeceu com a lembrança, parecia sentir aquela sensação desagradável em seus ossos novamente, e se aconchegou mais ao corpo de Gilbert, como se o calor que vinha dele pudesse pôr um fim as suas memórias geladas.

- Calma Anne. Eu vou te contar e tenho certeza que você vai adorar. - Gilbert disse respondendo aos apelos dela.

- Bem, estou esperando. - Anne estava cada vez mais impaciente e Gilbert acabou logo com todo aquele mistério:

- O que você acha de irmos até Charlotte town neste fim de semana? Podemos fazer um passeio de barco, e depois jantar em um restaurante. O que me diz? – agora era a vez de Gilbert ficar ansioso, esperando pela resposta de Anne.

A menina virou seu rosto para ele, com os olhos arregalados de surpresa. Atirou seus braços em volta do pescoço de Gilbert e quase gritou de animação:

- Que ideia maravilhosa! Eu amei Gilbert! - mas de repente, seu sorriso morreu e ela tornou a ficar séria.

- O que foi Anne? Eu fiz alguma coisa errada? – o menino perguntou preocupado.

- Não, mas você sabe que nem Matthew e nem Marilla vão deixar que viajemos juntos, não é? – a expressão de Gilbert desanuviou em um instante e ele respondeu sorrindo.

- Não se preocupe. Eu já pensei nisso. Você se lembra da Sra. Ford? A diarista que ajuda Mary com a limpeza duas vezes por semana? – Anne assentiu concordando com a cabeça.

- Ela me disse outro dia que queria muito visitar seus parentes em Charlotte town, pois faz muito tempo que não os vê. Só que ela não gosta de viajar sozinha, assim, eu a convidei para ir com a gente, e ela aceitou imediatamente. E então? Acha que agora Matthew e Marilla aceitarão que viajemos para Charlotte town neste fim de semana?

- Você é um gênio, sabia? É por isso que me apaixonei por você. - Anne deu um beijo em Gilbert de tirar o fôlego,

- Se eu soubesse que você me agradeceria com tanta vontade, já teria contado meu plano antes. - ele disse quando se separaram, rindo do entusiasmo da namorada. - Vamos falar com eles agora mesmo, e se aceitarem, podemos viajar ainda esta noite. - Dessa forma, caminharam até Green Gables de mãos dadas, ansiosos para falarem com os dois irmãos.

Quando Gilbert contou a Matthew e Marilla sobre seus planos de levar Anne a Charlotte town, a velha senhora não pareceu muito favorável à ideia, mas mudou de opinião assim que o menino explicou que teriam a companhia da Sra Ford, pois ela sabia que a diarista de Gilbert era uma viúva respeitável e muito estimada nos arredores de Avonlea, .

Assim que Marilla e Matthew deram sua benção para a viagem de Gilbert e Anne, a ruivinha fora voando para seu quarto. Arrumara sua mala rapidamente, pois não precisaria de muita coisa. Em quinze minutos estava pronta. Despediu-se dos dois irmãos com um abraço, e Matthew recomendou a Gilbert que tomasse conta da menina. Logo em seguida, Anne acompanhou Gilbert até a sua fazenda, parando no caminho para avisar a Sra Ford sobre a viagem que aconteceria ainda naquele dia.

Enquanto esperava por Gilbert, Anne aproveitou para conversar com Mary que ainda fazia repouso devido ao seu estado gestacional. Anne percebeu que a barriga da esposa de Sebastian tinha crescido muito naqueles dias, tornando quase impossível para Mary ficar em uma posição confortável. Mas apesar de todo o desconforto, ela irradiava felicidade, e não se queixara nenhuma vez dos problemas de saúde que vinha enfrentando por causa da gravidez que avançava. Anne torcia apenas para que ela pudesse ter seu bebê de maneira saudável. e com segurança.

Quando Gilbert ficou pronto, Sebastian os levou até a casa da Sra. Ford e depois para a estação de trem. Quando lá chegaram, o amigo de Gilbert desejou a eles boa vigem e retornou para a fazenda, pois ele não queria que Mary ficasse sozinha por muito tempo. O trem não demorou a chegar, e logo que entraram Gilbert e Anne se sentaram juntos em um assento, enquanto a Sra Ford se sentou em outro, para deixar os dois namorados mais a vontade.

A viagem foi tranquila, e embalada pelo leve sacolejar do trem, Anne acabou adormecendo encostada no ombro de Gilbert. Chegaram a Charlotte town pela manhã, e foram direto para a casa de uma das cunhadas da Sra. Ford que possuía uma pousada, pois a velha senhora fizera questão que eles ficassem hospedados com ela em um ambiente familiar e aconchegante.

Anne adorou a casa de estilo colonial que parecia oferecer aos seus hóspedes um pouco de história antiga. Na frente dela, havia um jardim cheio de magnólias e hortênsia, que a fez se lembrar das flores de Marilla, dando um toque de romantismo à paisagem local.

Quando entraram, foram recebidos por uma senhora baixinha, de rosto roliço e expressão maternal. Assim que ela viu a Sra. Ford, exclamou encantada:

- Marta, que surpresa! Por que não avisou que vinha?- abraçou e beijou a Sra. Ford no rosto.

- Não tive tempo. Decidi que viria em um impulso. Desculpe se a atrapalho. - a Sra. Ford disse sorrindo.

- Que isso, querida. Você sabe que não atrapalha nunca. – depois olhou para Anne e Gilbert que se mantinham em silêncio, esperando serem apresentados e disse;

- E quem são esses belos visitantes. -abraçou a ambos, dando um beijo na bochecha de cada um.

- Estes são Gilbert e Anne. Eles me acompanharam durante a viagem, pois querem passear pela cidade neste fim de semana. Você teria dois quartos para oferecer a eles?

- Claro que sim, mas insisto para que fiquem como meus convidados, pois se são seus amigos também são os meus. - depois disse apertando as mãos de Anne e Gilbert. - Me desculpem, não me apresentei. Meu nome é Sarah. Deixem suas bagagens aqui que pedirei a meu filho que as leve aos seus quartos. Mas agora venham comigo, vocês parecem estar precisando de um bom café. - e os três visitantes acompanharam Sarah até a cozinha onde havia um bule de café recém-preparado e broas de fubá fresquinhas.

Logo após a refeição matinal, Sarah perguntou olhando para o rostinho cansado de Anne:

- Gostariam de ir para seus quartos agora? O almoço será servido ao meio dia.

- Sim, por favor. A viagem foi longa e apreciaríamos muito um bom banho e algumas horas de repouso. - Anne sorriu agradecida.

- Desde já queremos agradecer a sua hospitalidade, senhora.

- Podem me chamar de Sarah. Não precisam me agradecer. Adorei a surpresa. Faz muito tempo que Martha e eu não nos falamos. Isso me lembra que temos muito assunto para pôr em dia..

- Muita fofoca, você quer dizer. – a Sra. Ford adorava implicar com sua cunhada Sarah, pois ela era uma pessoa extremamente agradável, e gostava muito de contar história sobre a família e seus amigos mais próximos.

- Que isso, Martha. Desse jeito, Gilbert e Anne vão pensar que a única coisa que faço na vida é prestar atenção na vida dos outros. – Sarah disse fazendo-se de ofendida.

- Não se preocupe, Sarah. Tenho certeza de que Gilbert e Anne tiveram uma ótima impressão a seu respeito.

- Bem, nesse caso, me sigam, crianças. Vou mostrar-lhes seus aposentos. – Sarah subiu a escada acompanhada dos dois namorados.

Anne ficou encantada com seu quarto. Era um ambiente simples, mas bem limpo e organizado. Tinha uma cama de casal coberta com uma colcha de retalhos, uma penteadeira, um guarda roupa e uma mesinha de canto. As janelas possuíam cortinas de renda branca, e no chão havia um tapete grosso e peludo que deu a Anne a sensação aconchegante de estar em casa.

Como estava muito cansada, a ruivinha tomou um banho quentinho e vestiu um pijama de algodão, deitou-se na cama e adormeceu logo em seguida. Acordou com Gilbert batendo em sua porta, anunciando a hora do almoço.

- Anne, está acordada?Já passa do meio dia e o almoço já esta sendo servido.

- Acabei de acordar, Gilbert. Você poderia me esperar lá embaixo? Vou me vestir e desço em seguida. – Anne disse com a voz sonolenta e rouca,

- Está bem, mas venha preparada, pois após o almoço vou te levar para um passeio de barco.

- Está bem. Estarei pronta em dez minutos.

Anne se vestiu rapidamente e desceu para se encontrar com Gilbert e a Sra. Ford na sala de refeições da pousada. O ambiente estava quase vazio naquela hora do dia, por isso, puderam desfrutar da refeição tranquilamente.

Gilbert e Anne saíram logo após o almoço, e deram uma volta pela cidade para conhecerem melhor os arredores. A casa de Sarah ficava um pouco afastada do centro de Charlotte town, por esse motivo, as pessoas que por ali transitavam podiam apreciar uma paisagem muito bonita ainda não tocada pela poluição das grandes cidades.

Gilbert prometera a Anne que a levaria para um passeio de barco, e naquela manhã, tinha conversado com Sarah e descobrira que havia um local bem próximo à pousada onde alugavam barcos para o lazer de muitas famílias, que vinham passar o fim de semana, a fim de descansar um pouco da correria do dia-a-dia.

Encontraram o lugar com facilidade, e Anne pôde observar que além das famílias, havia muitos casais de namorados também. "Que romântico passar uma tarde assim com Gilbert", ela pensara. Era diferente de tudo o que já haviam feito juntos, e estava ansiosa para viver aquela nova experiência.

O menino lhe deu a mão e entraram no barco alugado por ele. Ambos se sentaram e começaram a remar em sincronia, como se tivessem treinado aqueles movimentos harmoniosos muitas vezes. Anne se deixou levar pelo cenário ao seu redor. Havia muitas árvores e flores, e ao longe se podia ouvir o canto dos pássaros. Gilbert olhou para a menina, notando seu ar sonhador, e se perguntou no que ela estaria pensando.

Após alguns segundos dando asas à sua imaginação, Anne percebeu o olhar de Gilbert sobre ela e corou instantaneamente. Mesmo depois de todos aqueles meses juntos, o menino ainda tinha o poder de fazê-la se sentir tímida na presença dele. Não sabia bem por que. Talvez fosse pela expressão de admiração que via no rosto dele e lhe dava a sensação de que Gilbert podia ler seus pensamentos.

- Por que está olhando para mim dessa maneira, Gilbert? – Anne perguntou ainda um pouco envergonhada.

- Estava apenas admirando sua beleza. Você parece que fica mais bonita a cada dia. - Gilbert disse elogiando-a.

- Obrigada pelo elogio. Você parece cada vez mais atraente para mim também. - Anne sorriu retribuindo o elogio.

- Então, o que está achando do passeio?- ele quis saber.

- Estou adorando. Nunca tinha passeado de barco antes, e está sendo uma experiência muito agradável até agora.

- Não se esqueça que ainda não acabou. Teremos um jantar especial hoje à noite.

- Obrigada por tudo, Gilbert. Você está tornando esse final de semana muito especial para mim.

- Não precisa me agradecer. Você merece tudo de bom que eu puder te oferecer. Espero que este seja o primeiro de muitos momentos inesquecíveis que teremos juntos. - Ele riu de maneira cúmplice e Anne sentiu que seu mundo era muito melhor só por causa dele.

Ficaram em silêncio um bom tempo, só curtindo a presença um do outro em meio aquele ambiente encantador. Não precisam falar, pois as palavras estavam em seus olhos, nos gestos e nos sorrisos que trocavam vez ou outra, mostrando que já tinham uma sintonia que muitos casais só adquirem após anos de convivência, mas entre eles isso se desenvolvera de maneira natural.

Retornaram para pousada ao anoitecer. Queriam se preparar para a noite especial que se aproximava, e assim passaram os minutos seguintes se arrumando para aquela ocasião única em suas vidas. Gilbert bateu na porta do quarto de Anne exatamente às sete horas, e a fitou admirado quando a viu sair. Ela usava um vestido verde escuro de renda justo que chegava aos seus joelhos, alongando sua figura miúda e deixando a mostra suas costas em um decote profundo. Os cabelos foram presos no alto da cabeça em um coque perfeito, e brincos da mesma cor do vestido lhe enfeitavam as orelhas. Anne nunca usava maquiagem, pois Marilla nunca permitia, dizendo que ela ainda era muito jovem para isso, mas naquela noite ela resolvera ousar um pouquinho, colocara nos lábios um batom rosa claro que realçava o colorido natural de seu rosto. Sem desviar os olhos dos dela, Gilbert tomou sua mão, levou-a aos lábios e disse:

- Você está incrível.

- Obrigada. Acho que posso dizer o mesmo de você. - Anne respondeu, observando a camisa azul marinho social que ele usava e calças brancas de linho. Tudo em Gilbert lhe caia bem. Ele era uma dessas raras pessoas que não precisava de muito para ficar atraente, pois já era naturalmente assim.

- Acho que podemos ir então. Aluguei um carro para nos levar ao restaurante e Sarah me deu o endereço de uma posada que pertence a uma amiga dela na cidade, pois como sairemos tarde do restaurante, achei melhor pernoitarmos por lá. Não acho prudente voltarmos de madrugada.

- Concordo com você. E depois, podemos pegar o trem de volta de manhã.

Desceram as escadas de mãos dadas. Sarah e a Sra Ford não estavam em casa. Tinham ido visitar uma amiga que se encontrava enferma. Assim, Gilbert e Anne entraram no carro de aluguel que os aguardava em frente da casa e seguiram para sua pequena viagem.

Gilbert levou Anne a um pequeno, mas aconchegante restaurante no centro da cidade onde serviam comida caseira. O menino já tinha estado ali vezes sem conta com seu pai, e apreciava muito o ambiente informal e convidativo que fazia com que seus clientes se sentissem bem vindos. Ele notou satisfeito que Anne apreciara também sua escolha, pois ela lhe sorria a todo o momento, como se estivesse encantada demais com tudo o que via para conseguir falar.

Assim que entraram, o garçom lhes trouxe o cardápio. Escolheram uma sopa de legumes com ervas, salada de aspargo, suco de uva e pudim de maracujá como sobremesa. A comida estava deliciosa como Gilbert se lembrava, e quando olhou para Anne notou seu rosto iluminado pela luz suave do ambiente, dando a seus traços uma delicadeza especial. Gilbert parou de dar atenção ao que estava comendo para se concentrar na visão da garota que tinha ali a sua frente. Nunca se cansava de olhar para Anne, pois a beleza dela era algo raro de se ver. Quando pensava nela, não via apenas a perfeição de cada linha que compunha seu rosto, ele também se lembrava de todas as qualidades que ela possuía como ser humano, e este fato a tornava única para ele. Nunca mais conheceria ninguém como Anne Shirley Cuthbert, e mesmo quando estivessem velhinhos, e ele esperava que envelhecessem juntos, ele se lembraria dela exatamente assim, com o rosto corado de felicidade e seus olhos brilhando como duas safiras azuis.

Anne sorriu para Gilbert quando levantou os olhos de seu prato para falar com ele, e lá estava aquela expressão de adoração refletida no rosto dele que a fazia se sentir a mais linda das mulheres. Gilbert tinha aquele dom de fazê-la esquecer de seus receios e complexos que muitas vezes a impediam de seguir em frente, fazendo-a sentir-se capaz de conquistar o mundo se assim o desejasse, e esta era mais uma razão para se sentir grata por tê-lo em sua vida.

- O jantar está maravilhoso, Gilbert. Obrigada por tudo. - ele ouviu-a dizer.

- Eu também estou adorando cada momento desse fim de semana com você. - ele respondeu pegando na mão dela que descansava sobre a mesa. Se olharam novamente em silêncio por alguns minutos e então, Anne falou de novo, interrompendo aquele momento tão doce:

- Bem, é uma pena, mas creio que devemos ir.

- Tem razão, está ficando tarde. Vou pedir a conta.

Quando saíram do restaurante, foram pegos de surpresa por uma chuva inesperada que começava a cair naquele momento. Gilbert procurou por um taxi que pudesse levá-los até a pousada que Sarah tinha sugerido, mas não encontrou nenhum. A chuva não dava sinais de que cessaria em breve, e eles não podiam ficar parados na frente do restaurante sem saber para onde ir, por isso tomou uma decisão e disse para Anne:

- Anne, não conseguiremos chegar até a pousada uma vez que não há nenhum táxi disponível no momento. Mas sei que existe um hotel perto daqui onde meu pai e eu nos hospedávamos quando vínhamos jantar neste restaurante. Você se importaria se mudássemos nossos planos?

- Claro que não. Qualquer coisa é melhor do que ficarmos aqui sozinhos. Onde fica este hotel? É muito longe daqui? – Anne quis saber.

- Não, mas teremos que caminhar um pouco. - Gilbert disse quase se desculpando.

- Não se preocupe Blythe. Não vou derreter se me molhar um pouco. - Anne disse divertida.

- Então vamos, antes que a chuva piore.

Chegaram ao hotel encharcados e Anne tremia de frio. Gilbert pediu dois quartos, mas só havia um disponível, ele olhou para Anne indeciso ao que ela respondeu:

- Tudo bem Gilbert. Pegue logo este quarto, pois estou morrendo de frio e quero me livrar dessas roupas molhadas.

Logo que chegaram ao quarto, Anne entrou no banheiro, despiu-se e tomou um banho quentinho que ativou todas as suas circulações congeladas pela frieza da água da chuva. Assim que ela saiu do chuveiro, começou a enxugar seus longos cabelos ruivos em uma toalha felpuda. De repente, sentiu Gilbert atrás de si dizendo:

- Deixa que eu faça isso. – e então, ele tomou a toalha das mãos da menina e começou a enxugar-lhe os cabelos.

Gilbert fazia aquilo com tanta delicadeza, que Anne fechou os olhos se deliciando com a sensação das mãos dele em cada mecha dos fios ruivos.Após alguns minutos, o menino largou a toalha, afastou um pouco os cabelos de Anne, a enlaçou pela cintura e a beijou no ponto mais sensível do seu pescoço, causando arrepios por todo o corpo dela.

Anne virou-se de frente e colou seus lábios nos dele, deixando que o fogo da paixão inundasse seus sentidos e consumisse a ambos em suas labaredas ardentes. Em seguida, Gilbert a apertou contra seu corpo e a manteve assim presa em seus braços, sentindo cada músculo de seu corpo em contato com os dela, e ouvindo as batidas de seus corações que se aceleravam como loucos pela intensidade do momento. Anne então fez um movimento, e seu roupão se abriu um pouco deixando a mostra seus ombros e colo macios. O menino não resistiu e deslizou suas mãos por eles, se maravilhando com a suavidade da pele de Anne, enquanto ela se agarrava mais ainda a Gilbert, fazendo com que seus corpos ficassem tão colados que quase se fundiram em um só. Ambos sabiam o que estava acontecendo entre eles, mas queriam viver cada momento com calma, queriam aprender um com o outro o prazer de se tocarem e chegarem ao limite de seus desejos.

Gilbert olhou para Anne e viu refletido no rosto dela tudo o que ele estava sentindo e pensou que nada daquilo tinha a ver com sexo, com luxúria ou satisfação dos sentidos, pois o desejo físico uma vez satisfeito somente deixava um sentimento de vazio, e ele conhecia bem aquela sensação. Entretanto, tudo era diferente com Anne. O que existia ali era um amor tão puro e verdadeiro que tornava cada ato entre eles natural e perfeito, e por isso, ela merecia ser venerada, amada com doçura, tocada como se fosse feita da porcelana mais delicada e rara, ela merecia todo o amor do mundo e todas as coisas maravilhosas que ele pudesse lhe dar.

Naquele momento, Anne tocou o rosto de Gilbert e ele percebeu com uma nitidez incrível que Anne não precisava de muitos artifícios para enlouquecê-lo. Bastava apenas olhar para ela como naquele exato instante para que nada mais existisse no mundo, a não ser ela, seu aroma doce de flores que lembravam campos verdes brilhando ao sol, seus olhos luminosos como duas estrelas cadentes, e seu sorriso encantador que aquecia seus dias mais frios. Mas ele também sabia que ainda não era o momento de tê-la por completo, e esperaria por ela mesmo que durasse anos, pois o amor que sentiam um pelo outro valia aquela espera e ele queria Anne em sua vida para sempre.

Anne sentiu Gilbert se afastar dela e quase protestou. Era sempre ele a colocar limites em seus momentos de paixão mais intensos, e ela não sabia se sentia agradecida ou frustrada. Tinha certeza de que se desejavam e se queriam com a mesma força, e por esta razão, era difícil para ela resistir a toda aquela avalanche de sensações que os beijos e o toque de Gilbert provocavam em seu íntimo, mas entendia que ainda não era hora de se entregarem a todos esses sentimentos. Por outro lado, não se sentia culpada e nem se arrependia de todos os beijos e caricias trocadas. Estar com Gilbert era para Anne a coisa mais maravilhosa e preciosa de sua vida, e nunca deixaria que nada a fizesse se sentir diferente a respeito disso.

- Bem, creio que é hora de irmos para a cama. Acho que posso dormir naquele colchão que está no chão para que você possa se acomodar melhor na cama. - Gilbert sugeriu.

- Não seja bobo, Gilbert. Já dormimos na mesma cama antes e não vejo problema nenhum em fazê-lo novamente. Além do mais, esta noite está muito fria e não quero dormir sozinha naquela cama enorme. - Anne disse apontando para a cama de casal perto da janela.

- Se você insiste. - Gilbert disse sorrindo.

Ambos se prepararam para dormir e vestiram uma camisola de algodão e um pijama que encontraram no armário do hotel. Foram para a cama e se aconchegaram um ao outro, adormecendo logo em seguida, enquanto lá fora a chuva continuava a cair sem trégua.

Quando acordaram de manhã, não chovia mais e um sol fraquinho aparecia entre as nuvens. Pegaram o trem de volta para a pousada de Sarah, e quando lá chegaram, a Sra Ford já os esperava para voltarem para casa. Tomaram um café reforçado e pegaram seu segundo trem naquele dia, retornando para Avonlea.

E durante todo o tempo em que durou a viagem, Anne olhava para Gilbert, segurava em sua mão e sorria, pois ela sabia lá no fundo de sua alma, que jamais esqueceria aquele fim de semana, como também jamais se esqueceria daquele garoto que para sempre seria o dono de seu coração.

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