Capítulo 19 - Promessas ao luar
"Ele é o sol em dia de tempestade,
Ele é a luz que me guia na escuridão.
Ele é a promessa de felicidade em um fim de tarde,
Ele é a minha doce inspiração.
Ele é a beleza que deixa o mundo mais colorido,
Ele é a alegria que invade meu coração.
Ele é o sentimento onde tudo faz sentido,
Ele é a chama que alimenta minha paixão.
Ele é a música que encanta meus ouvidos,
Ele é o antídoto para minha dor.
Ele é a paz que encontro em um sorriso,
Ele é meu único e verdadeiro amor."
Rosana
ANNE
Era a primeira vez que Anne jantava na casa de Gilbert como sua namorada, e esse fato mexia com seus nervos. Não sabia bem por que se sentia inquieta. Conhecia a família de Gilbert, e embora ele não tivesse laços de sangue com Sebastian e Mary, a menina sabia que a opinião de ambos era importante para Gilbert.
O menino vivia dizendo que Mary a adorava, mas ainda sentia seu coração bater mais rápido com a expectativa do que estava por vir. Talvez fosse porque agora havia entre eles um compromisso que antes não existia, e o velho medo de não ser adequada tomava conta de seus pensamentos como um fantasma a assombrar seus passos.
Quando contara a Gilbert sobre seus receios, ele dissera que era bobagem. Mary e Sebastian jamais teriam qualquer motivo para não aceitá-la uma vez que sabiam o quanto Anne era importante para ele. E mesmo que houvesse algo que os incomodasse naquele caso, Gilbert jamais deixaria que nada no mundo atrapalhasse o namoro dos dois.
Tiveram essa conversa no Domingo à tarde quando Gilbert viera visitar Marilla. Ele aproveitou para conversar sobre seu relacionamento com Anne, e a velha senhora dera sua benção dizendo:
- Acho que ganhei um filho. – Gilbert abraçara Marilla e dera-lhe um beijo na testa, agradecendo as palavras que o emocionaram demasiadamente. Mais tarde ele e Anne conversaram sobre o jantar e o menino a tranquilizara:
- A Mary está muito feliz por você ter aceitado o convite. - Anne então o olhara meio incerta e disse:
- Tem certeza? Não acha que é muito cedo para isso?
- O que está acontecendo, Anne? Está arrependida de estarmos namorando?- Gilbert franzira a testa, olhando para Anne preocupado.
- É claro que não. Estou me sentindo tão insegura que acabo dizendo besteiras. Eu jamais vou me arrepender de ser sua namorada. – acariciou o rosto do menino com ternura no olhar.
- Então, do que tem medo? – Gilbert quis saber.
Assim, Anne contou a ele seus temores mais secretos. Fora rejeitada a vida toda, e agora que finalmente parecia estar encontrando seu lugar, tinha medo de que tudo se acabasse de repente.
- Pare de pensar bobagens. Eu te adoro você sabe. A Mary e o Sebastian já te amam como eu. Ninguém vai te rejeitar, eu prometo.
Anne acreditara nele, e como não acreditaria? Bastava olhar para Gilbert e sentia todos os seus medos irem embora. Ele sempre dizia o que ela precisava ouvir, e no fundo dos olhos de Gilbert encontrava a confiança necessária para baixar sua guarda e se tornar mais forte e segura, ao mesmo tempo percebia que estava ficando dependente daquele sorriso e da presença do namorado. Só não sabia definir se isso era algo bom ou ruim, mas se sentia feliz e isso era o suficiente para ela.
Deu uma última olhada no espelho, analisando sua aparência. Usava um vestido azul turquesa, cor que ela amava, e deixara seus cabelos soltos, pois Gilbert gostava mais deles assim. Seus olhos brilhavam, suavizando as linhas de seu rosto. Pela primeira vez na vida se sentia bonita, e também devia isso a Gilbert, pois ele sempre a olhava como se ela fosse a garota mais desejada do mundo e isso fazia uma bem enorme ao seu ego de garota complexada.
Anne deixou seu quarto e foi se despedir de Marilla. Sabia que quando chegasse, a velha senhora já estaria dormindo, por isso, não quis sair sem falar com ela. Quando a viu entrar, Marilla sorriu:
- Como você está bonita. Minha garotinha está crescendo e se tornando uma mulher linda.
- Obrigada, Marilla. - dissera Anne, corando de prazer pelo elogio.
- Quem diria que você começaria a namorar Gilbert Blythe. Embora eu sempre tenha desconfiado de sua implicância gratuita pelo menino. Você sempre me disse que nunca iria se casar, e olhe só para você, saindo toda arrumada para encontrar o namorado. - Marilla se divertia com a expressão envergonhada de Anne.
- Não exagere Marilla. Só estou namorando, ainda é muito cedo para pensar em casamento.
- Eu vou ficar muito feliz no dia em que isso acontecer, principalmente se for com o Gilbert. Ele me lembra muito o pai dele.
- Tudo bem, Marilla. Agora é hora de você descansar,lembre-se do que o médico disse. Você tem que fazer repouso absoluto por vários dias, para que sua enxaqueca não volte. Já tomou sua medicação?
- Já sim. Mas devo dizer que estou cansada de ficar nesse quarto. - reclamou Marilla.
- Logo você ficará totalmente recuperada e poderá fazer tudo que desejar. Por ora é melhor seguir as instruções do médico. Preciso ir ou vou me atrasar. O Jerry está me esperando lá embaixo. Ele combinou com o Matheus que me levaria até a casa de Gilbert antes de se encontrar com a Diana. Boa noite, Marilla.
- Boa noite, Anne Não volte muito tarde..- disse Marilla bocejando.
- Fique tranquila. Não vou demorar. – e saiu fechando a porta devagar, ao perceber que boa senhora estava quase adormecida.
Desceu as escadas e encontrou Jerry á sua espera na cozinha tomando café. Durante todo o caminho até a casa de Gilbert, os dois conversaram animadamente sobre seus namoros, os estudos e outras coisas sem muita importância.
Jerry acompanhou Anne até a porta de Gilbert, depois continuou seu caminho para se encontrar com Diana. Anne foi recepcionada por Mary assim que bateu na porta:
- Anne, como você está linda! E Marilla? Já se recuperou?
- Está bem melhor obrigada.- disse Anne, entregando a Mary uma cesta com um pudim de leite que ela mesma tinha feito para a sobremesa.
- Hmm... Que delícia. Como adivinhou que adoro pudim de leite?- disse Mary sorrindo.
- O Gilbert me contou então como você foi muito gentil ao fazer esse convite, quis agradá-la com algo que você apreciasse.
- Não precisava minha querida. Só a sua presença já me deixa muito feliz. Fique a vontade. O Gilbert está tomando banho, mas logo descerá para se juntar a nós, assim como o meu marido. O Sebastian é pior do que eu quando resolve se arrumar.- disse Mary achando graça das próprias palavras.
- Me difamado para nossa convidada, mulher? O que ela vai pensar de mim? - disse Sebastian descendo as escadas e se fazendo de ofendido.
- Não contei nenhuma mentira, contei?- Mary abraçou o marido e ele retribuiu com um sorriso largo.
- Oi, Anne. – Sebastian a cumprimentou assim que se separou de Mary.
- Oi, Sebastian. Como você está? – perguntou Anne, se sentindo acolhida pelo sorriso que ele lhe deu. Sebastian era uma pessoa tão simpática que qualquer um se sentia a vontade na presença dele.
- Estou bem, e vejo que você está maravilhosa. – elogiou-a.
- Quer parar de cortejar minha namorada.- Anne ouviu a voz de Gilbert ressoar na sala repreendendo Sebastian em tom de brincadeira.
- Está com ciúmes, garoto? Todos nós sabemos quem é o mais charmoso dessa sala. – disse Sebastian, dando uma piscadela pra a menina.
- Você está falando de você? – perguntou Gilbert divertido.
- Não, minha esposa. - respondeu Sebastian rindo da piada que acabara de fazer.
Enquanto brincavam um com o outro, Anne observava Gilbert com a respiração suspensa. Cada vez que o via parecia que era a primeira vez, pois sempre se surpreendia com a beleza dos traços dele.
Gilbert tinha os cabelos molhados do banho, os cachos brilhando á luz suave da sala de visitas. Ele usava uma camisa verde clara a qual deixara os dois primeiros botões abertos, exibindo a pele bronzeada que contrastava lindamente com a cor da camisa. Suas calças pretas se ajustavam perfeitamente aos seus quadris e combinavam com os sapatos pretos clássicos que ele usava. Gilbert parecia ter saído de uma revista masculina, pois parecia tão relaxado e tão bonito que qualquer câmera faria maravilhas com aquela visão incrivelmente poderosa que deixava Anne tão perturbada.
Quando o menino se aproximou dela, Anne pôde sentir seu aroma delicioso de pinho misturado com limão. Sentiu uma vontade louca de correr as mãos por aqueles cabelos macios, trazê-lo para mais perto e beijar aquela boca tão deliciosamente sexy que lhe prometia o mundo e lhe dava muito mais. "Anne, o que está pensando? Se comporte garota", disse ela a si mesma. Baixou os olhos envergonhada, antes que Gilbert percebesse seu embaraço e só tornou a levantá-los quando ele lhe disse:
- Sebastian tem razão. Está maravilhosa como sempre.- os olhos dele brilhavam cheios de admiração.
- Obrigada. Você também está lindo. – Anne retribuiu o elogio.
- Vamos todos para a mesa que o jantar está servido.- disse Mary quebrando o encanto entre os dois.
Enquanto jantavam conversaram sobre ab fazenda, a escola, Green Gables e a gravidez de Mary. Anne aproveitou para parabenizá-la pelo bebê que era esperado para depois das festividades de natal.
- Já escolheram os nomes para o bebê?- quis saber Anne.
- Ainda não. Pensei em alguns nomes, mas não me decidi. . – respondeu Mary.- Não quer me ajudar a escolher? Se depender de Sebastian vamos chamar a criança de bebê o resto da vida. Meu marido é ótimo com coisas da fazenda, mas quando se trata de usar a criatividade para outras coisas sua imaginação se assemelha a de um peixe. – todos riram da comparação, até mesmo Sebastian.
- Se for menina acho que Sarah é muito bonito,, pois era o nome de minha mãe. .Para um menino eu escolheria Alexander, porque é um nome russo e trás muita força para quem o possui.
- Gostei Anne. Sua namorada tem bastante bom gosto, Gilbert. – disse Mary, sorrindo para o menino.
- Eu sempre soube disso,. – replicou Gilbert apertando a mão de Anne com carinho.
Após o jantar, Gilbert e Sebastian organizaram a mesa enquanto Mary e Anne levaram a louça para a cozinha. Enquanto Mary e Anne cuidavam da louça suja ambas aproveitaram para conversar.
- Como é estar casada? - quis saber Anne.
- Bem, quando encontramos a pessoa certa é a coisa mais maravilhosa do mundo.- respondeu Mary.
- E como soube que Sebastian era a pessoa certa?
- Porque quando eu o vi pela primeira vê meu coração quase saiu pela boca, e senti uma alegria inesperada como se tivesse finalmente encontrado o que estava procurando. - Mary se lembrou de seu primeiro encontro com Sebastian e suspirou feliz com as imagens que surgiram em sua mente.
- Vocês parecem se dar muito bem.- Anne comentou.
- Na maior parte do tempo nos damos bem, mas de vez enquando nos desentendemos também. Faz parte do relacionamento e cada vez que fazemos as pazes sinto que nosso casamento se torna mais forte.
- Acho vocês dois incríveis juntos. – disse Anne.
- E você Como se sente em relação a Gilbert? – Mary olhava para a menina com atenção.
- Ainda não tenho muita certeza. Tudo é muito novo para mim. Sei que estou completamente apaixonada por ele, não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Mas ás vezes alguns sentimentos me confundem e não sei ainda como lidar com eles.
- É normal se sentir assim. Vocês dois são jovens e estão se conhecendo. Com o tempo vocês acabarão tendo o tipo de relação que eu e Sebastian temos. Digo isso porque quando vejo vocês juntos sinto que foram feitos um para o outro, sem contar que o Gilbert é louco por você.- ao dizer isso Mary segurou na mão de Anne com afeto.
- Eu também sou louca por ele, só não deixa o Gilbert saber disso ou ficará convencido demais- disse Anne com fingida seriedade.
- Prometo nunca dizer a ele. –Mary cruzou os dedos em tom de brincadeira. - Ah, acabei de me lembrar de uma coisa. O aniversário do Gilbert será no próximo fim de semana e não consigo pensar em nada interessante. – Mary falou pensativa.
- Ele não me falou nada sobre isso, mas gora que você me contou vou tentar pensar em algo. Quero que seja uma surpresa.- disse Anne animada com a cabeça fervilhando cheia de ideias.
- Bem, me conte quando decidir o que faremos.
- Está bem. – concordou Anne.
Após o jantar Gilbert levou Anne para casa e conversaram todo o trajeto até Green Gables. Ao chegarem à fazenda, o menino se despediu de Anne e se preparava para beijá-la quando Matheus surgira à porta frustrando suas intenções. Encabulado, Gilbert dera-lhe um beijo no rosto, deixando claro pela expressão de seu rosto, que não tinha gostado nem um pouco daquela intromissão. Anne apenas sorrira e dera-lhe um selinho como prêmio de consolação pela carência que viu no rosto do menino. Em seguida, ela entrara em casa cumprimentando Matheus e indo direto para seu quarto.
A lua brilhava no céu solitária atraindo a atenção da menina, e ela pensou em Gilbert e em todos os momentos passados com ele, e o que significavam para ela.
Sabia que era somente uma garota de quinze anos, mas seu corpo e seu coração agiam por conta própria. As coisas estavam mudando entre ela e Gilbert, e o interesse inicial tinha evoluído de uma paixonite adolescente para algo mais profundo. Isso estava explícito na maneira como se beijavam e se tocavam. Ela se sentia cada vez mais atraída por Gilbert, não só fisicamente mais espiritualmente também. Ele era como um espelho da alma dela, pois refletia todos os sentimentos que ambos sentiam um pelo outro., se amavam e se completavam na mesma proporção..
Anne também sentia que estava mudando. A garota que era estava lentamente se transformando na mulher que seria no futuro, e por isso, suas emoções se transformavam. Começava a compreender o que era estar apaixonada de verdade, e isso a libertava de muitos pudores. Sabia que tinha muito que aprender, e estava adorando descobrir com Gilbert a intensidade e o significado de cada beijo e de cada carícia que trocavam. .
Quando estava com Gilbert tudo parecia estar em seu devido lugar, e cada desejo partilhado era mais passo que davam em seu relacionamento. Tocá-lo se tornara um prazer e uma obsessão para ela, muito mais que os beijos adorava ver as reações que causava em Gilbert quando estava nos braços dele, e o olhar cheio de fogo que ele lhe lançava mostrava com exatidão o quanto ele a queria, ela conscientemente sabia que o queria do mesmo jeito.
Era óbvio que sabiam seus limites, e não se aventuravam além deles, pois não tinham pressa. Estavam se conhecendo e ficar juntos era tudo o que queriam no momento, mas chegaria o dia em que enfim se pertenceriam um ao outro e então seriam livres para se amarem como quisessem sem obstáculo algum.
Este pensamento fez Anne sorrir. Ela não tinha dúvidas de que seu sonho de amor se concretizaria nos braços de Gilbert, pois não conseguia imaginar outro lugar onde quisesse estar. Então, se deu conta de que desde a primeira vez que viu Gilbert na floresta ele tinha se tornado o cavalheiro de suas fantasias, e mesmo sem perceber se apaixonara por aquele garoto tão maravilhoso que agora era dela, não podia acreditar em tanta felicidade.
De repente se lembrou do que Mary dissera sobre o aniversário de Gilbert ser no próximo fim de semana. Que tipo de festa prepararia? Pensou por alguns instantes e então se animou de repente. Acabara de ter uma ideia genial, e falaria com Diana para ajudá-la a executar seu plano. Gilbert teria uma linda surpresa, e ela cuidaria para que ele tivesse o melhor aniversário de sua vida.
GILBERT
Gilbert esperava pela chegada de Anne ansiosamente. Ela já estivera ali algumas vezes, mas o fato de recebê-la na fazenda como sua namorada mudava o sentido de tudo.
Era a primeira vez que ele convidava uma garota para jantar em sua casa,e essa novidade o animava bastante, porque não era uma menina qualquer, era a garota que ele secretamente desejara e que agora fazia parte de sua realidade, e Gilbert pensara que isso nunca seria possível.
Anne trouxera mudanças positivas para sua vida e algumas inquietações também. O que sentia por ela ia além do que imaginara que sentiria por alguém um dia, e a intensidade de seu amor por ela o assustava um pouco, pois testava o seu controle a cada momento e Gilbert não estava acostumado a tantas emoções inconstantes.
Ele sentia como se estivesse em uma montanha russa,sendo levado por caminhos desconhecidos e inexplorados que agitavam seu mundo de tal maneira que ele nunca sabia o que encontraria na próxima curva dos seus pensamentos. Ele sempre soubera como agir em todas as situações, sempre encontrava respostas para todos os seus problemas, seus passos eram milimetricamente calculados, e ele nunca tomava uma decisão sem antes planejá-la cuidadosamente, mas ultimamente toda sua coerência caía por terra quando se tratava de Anne.
Seu humor oscilava a todo o momento, e seus pensamentos tomavam rumos inesperados. Anne o desafiava com seu raciocínio ágil, e por vezes lhe dizia coisas que o deixava sem resposta. Ela o emocionava com suas palavras doces e espontâneas, o deixava feliz quando sorria para ele, e quando estavam juntos o mundo parecia caber na palma da sua mão. Anne era tudo para ele e essa constatação o deixava temeroso, pois estava completamente a mercê desse sentimento.
No domingo anterior visitara Marilla e a velha senhora adorara a notícia de que ele e Anne estavam namorando, e quando ela lhe dissera que ganhara um filho ele sentira seus olhos lacrimejarem.. A aprovação dela era muito importante para ele, pois a conhecera a vida toda, e o fato de Marilla e o pai dele terem tido certa ligação tornara aquele momento ainda mais especial.
Somente uma coisa o preocupara e ainda o deixava um pouco apreensivo. Anne dissera que se sentia insegura em relação a aquele jantar, e ele não conseguira entender por que. Quando ela lhe explicara a razão de seu receio foi que ele compreendera que ser órfã a tinha afetado profundamente, e as experiências que ela vivera no orfanato e nas casas onde vivera deixaram-na extremamente sensível à rejeição, e embora ele soubesse que essa preocupação da menina não tinha fundamento algum, ele prometera que passaria a vida inteira se fosse necessário fazendo-a se sentir amada e especial, pois Anne merecia isso por ser uma pessoa tão incrível.
Aquela última semana fora difícil para ambos, pois quase não tiveram tempo de ficar juntos Devido ao problema de saúde de Marilla, Anne saira da escola todos os dias e fora direto para casa apressadamente, porque tinha milhares de coisas para fazer em Green Gables, assim acabavam se vendo entre um intervalo e outro da escola e se despediam com um beijo rápido, o que o deixara extremamente carente dela.
Aquele jantar seria a oportunidade que teria de tê-la por mais tempo ao seu lado e queria que tudo estivesse perfeito. Por isso, enquanto Mary preparava o jantar ele entrara e saira várias vezes da cozinha fazendo com que tanto ela quanto Sebastian o olhassem divertidos..
- Perdeu alguma coisa aqui na cozinha, Gilbert?- perguntara Mary.
- Não, por quê? –ele respondera sem perceber o humor por trás daquela pergunta.
- Você entrou e saiu desta cozinha pelo menos umas dez vezes nos últimos 5 minutos.
- Desculpe Mary. È que estou nervoso por causa desse jantar.
- Por quê? Anne já esteve aqui outras vezes. - dissera Sebastian.
- Não seja tão insensível, Sebastian. Antes Anne era só uma amiga, mas agora ela é a namorada, e isso tem uma grande diferença para Gilbert. – explicara Mary.
- Ora, Blythe. Parece que o cupido do amor te pegou de jeito.- disse Sebastian zombando de Gilbert.
- Não me venha com essa, Bash. Você ficou bem pior quando conheceu a Mary.- brincou Gilbert vendo o amigo enrubescer de embaraço.
- É mesmo, me conte esta história direito. - disse Mary, muito interessada na conversa dos dois de repente.
- Acho melhor você se concentrar no jantar ou ele nunca ficará pronto a tempo. – tentou desconversar Sebastian.
- Tudo bem, mas não pense que você escapou de me contar sobre isso mais tarde. - Mary riu ao ver a cara de incomodado de Sebastian. - E você Gilbert, pare de se preocupar e vá tomar banho antes que a Anne chegue aqui e te pegue ainda com essas roupas de trabalho.
- Estou indo. – respondera Gilbert, subindo as escadas de dois em dois degraus. Tomara um banho rápido e vestira as roupas que Mary tinha escolhido para aquela ocasião. Em seguida, voltara para o andar de baixo e encontrara Sebastian gastando seu charme com Anne. Só para amolar o amigo dissera:
- Quer parar de cortejar minha namorada, Sebastian.
Sebastian somente rira e brincara com a situação com seu costumeiro bom humor e fora para a cozinha ajudar Mary, deixando Anne e Gilbert sozinhos na sala. Ele olhara para ela maravilhado com sua beleza em um vestido azul que realçava seus olhos e ela retribuíra seu olhar examinando-lhe a aparência ,parecendo satisfeita com o que viu.
Naquele momento Gilbert sentira a excitação familiar que tomava conta dele sempre que estavam juntos. Seu coração falava uma linguagem que sua cabeça não entendia, pois agia sem controle e sem ponderação. Queria agarrá-la ali mesmo e enterrar sua cabeça na curva daquele pescoço tentador e sentir o perfume natural que vinha do corpo dela, por esta razão, ele se aproximara de Anne e dissera:
- Sebastian tem razão. Você está maravilhosa.
_ Você também está lindo.- a ouvira dizer e enquanto decidia se abraçava ou a arrastava para fora para mostrar a ela tudo o que estava pensando por meio de beijos longos e molhados, Mary os interrompeu dizendo que o jantar estava pronto.
Deus do céu! O que ele estava pensando? Estava ficando maluco com aquela batalha entre sua razão e sua emoção. Precisava encontrar um equilíbrio antes que perdesse o juízo de vez., mas o jeito que Anne olhava para ele não facilitaria em nada aquela situação. Procurou concentrar sua atenção no jantar e na conversa que estavam tendo à mesa sobre o bebê de Mary que chegaria depois do Natal.
A esposa de Sebastian estava radiante ao falar sobre a criança. Seus olhos estavam mais vivos e a alegria estampada em seu rosto a deixava ainda mais bonita. Enquanto ela e a menina discutiam sobre qual nome escolher para o bebê, Gilbert começou a imaginar como seria um filho de Anne.
Se fosse um menino imaginava-o de olhos escuros, cabelos ruivos e cacheados, sorriso fácil e bastante levado. Mas se fosse uma menina, Gilbert conseguia visualizá-la em sua mente como uma garotinha de pele clara, cabelos ruivos compridos, olhos azuis como os de Anne, temperamento difícil e muito mandona. Gilbert então percebeu que nesse quadro familiar que pintava em sua cabeça o pai das crianças era ele mesmo, pois não conseguia pensar em qualquer outro cara fazendo parte da vida de Anne que não fosse ele, sabia que morreria de ciúmes se isso acontecesse.
Saiu de sua momentânea distração assim que a sobremesa que Anne trouxera fora servida. Em seguida, ele e Sebastian ajudaram a tirar a mesa enquanto Anne e Mary foram para a cozinha cuidar da louça que fora utilizada no jantar. Assim os dois homens se sentaram na sala para uma partida de xadrez, por isso, pouco se falaram concentrando seus pensamentos no jogo. De vez enquando Gilbert ouvia Anne e Mary rirem e se perguntara sobre o que estariam falando.
Uma hora depois, ambas voltaram para a sala e Anne dissera que precisava voltar para casa. Desta forma, Gilbert foi com ela, extremamente feliz pelo jantar ter sido um grande sucesso. O caminho até Green Gables parecera curto demais, pois Gilbert esperava que pudessem ir caminhando devagar, curtindo dessa maneira a companhia um do outro, mas Anne parecia estar com pressa de chegar em casa por causa da enfermidade de Marilla não dando chance a Gilbert de namorá-la como queria.
Quando chegaram à fazenda, Gilbert pensara que finalmente poderia beijá-la como desejara a noite toda, mas a porta da casa se abrira e Matheus apareceu na varanda, fazendo com que Gilbert ficasse tão desconcertado que apenas dera um beijo no rosto de Anne. Uma onda de irritação tomara conta dele e só percebera que deixara transparecer seu estado de espírito quando ouvira a risada suave de Anne, e como consolo ela lhe dera um selinho rápido e entrara na casa acompanhada de Matheus.
Gilbert voltara para sua fazenda contente pelo desenrolar da noite, mas frustrado pela maneira como terminara. Sabia que estava sendo apenas mal humorado, pois veria Anne no dia seguinte na escola, mas para ele parecia um tempo longo demais. Era como se precisasse tê-la em seus braços nem que fosse só por um instante para acalmar a carência de seu coração. A abstinência dos carinhos dela o deixava inquieto, e para satisfazer sua ansiedade absurda, relembrava todos os instantes em que estiveram juntos a fim de senti-la mais perto e suportar a falta que ela lhe fazia.
Quando chegou em sua fazenda o menino percebera que Mary e Sebastian já tinham ido para a cama, pois a gravidez de Mary a cansava demais. Ele se sentou por um instante na sala, pois sua inquietação o deixava sem sono. Não acedera a luz, preferindo ficar na penumbra do ambiente que era iluminado apenas pela claridade do luar.
Após alguns instantes, Gilbert subira para seu quarto sem fazer barulho. Se despira rapidamente e fora para a cama sem esperanças de adormecer logo. Depois de muito tentar conseguiu finalmente dormir, mas bem lá fundo do seu inconsciente uma feiticeira ruiva o provocara a noite toda, fazendo-o sonhar com lábios sedutores, e olhos que lhe prometiam um mundo de delícias onde todos os seus anseios se realizavam em um doce e intenso interlúdio de amor.
GILBERT E ANNE
Quando Anne encontrou Diana na escola na segunda-feira, a primeira coisa que contou a amiga foi sua ideia para o aniversário de Gilbert.
- Diana, no próximo fim de semana será o aniversário de Gilbert e queria sua ajuda para preparar uma festa surpresa para ele.
- Que legal Anne! Adoro festas surpresas! Você tem alguma coisa em mente?- quis saber Diana.
- Sim. Pensei que talvez pudéssemos fazer a festa na praia como um lual. O que acha?
- Acho maravilhoso! Que ideia original, Anne. Eu jamais teria pensado em algo assim. Eu vou te ajudar com todos os preparativos. - Diana já planejava mentalmente alguns detalhes.
- Pensei que podíamos preparar todos os docinhos e salgadinhos da festa juntas. Vou falar com Mary para saber se ela pode preparar o bolo, e podemos servir sucos e refrigerantes como aperitivos.
- Sim. Creio que podemos também montar um cenário típico como decoração. O que acha de acendermos uma fogueira na praia e distribuir colares havaianos para os convidados? – perguntou Diana toda animada com o tema da festa de Gilbert.
- Acho incrível. Mas são tantos detalhes. Será que vamos dar conta? – perguntou Anne preocupada.
- Claro que sim. Podemos chamar alguns de nossos amigos para nos ajudar com os preparativos..- sugeriu Diana.- e estou me lembrando de uma coisa. Minha mãe tem uma prima que mora não muito longe daqui, e ela já viajou para o Havaí. Sei que ela trouxe muita coisa de lá, inclusive, ela tem várias roupas que ela usou nos luaus dos quais participou. Vou pedir para o meu pai me levar lá essa semana e ver se ela pode nos emprestar algumas fantasias. Vou adorar me vestir como dançarina de Hulla – Diana batia palmas de contentamento. Anne sempre tinha as melhores ideias, e aquela sem dúvida era a mais criativa de todas.
Assim, passaram a semana planejando todos os detalhes do aniversário de Gilbert. Anne conversou com Mary a respeito da festa e perguntou se ela se importaria de fazer o bolo de aniversário. Mary disse que o faria com prazer, adorando a surpresa que a menina estava preparando para Gilbert., e aproveitou para dizer que se Anne precisasse de ajuda com os outros preparativos, a ruivinha poderia contar com ela e Sebastian. A ruivinha agradeceu feliz, e pediu a Mary que fizesse o possível para guardar segredo de Gilbert.
Diana e Anne convidaram todos os amigos de Gilbert, e alguns deles fizeram questão de colaborar com elas em tudo que fosse a respeito da festa. A tia de Diana emprestara para elas vários assessórios havaianos, e Anne ficara encantada com as roupas floridas, os colares. e os vários tecidos que serviriam como decoração,e deixariam o aniversário de Gilbert ainda mais especial.
Durante a semana tentara agir normalmente para que o menino não desconfiasse de nada. Ia para casa logo depois da escola, ajudava Marilla que já estava melhor e começara a se ocupar aos poucos dos afazeres mais leves da casa,fazia seus deveres escolares,e quando ficava livre de todas as suas obrigações, corria até a fazenda de Diana para que pudessem trabalhar na organização da festa. Até a mãe de Diana estava ajudando-as com os comes e bebes enquanto Jerry e Muddy trabalhavam na decoração. Consequentemente, ao chegar à Green Gables, Anne caía na cama exausta e dormia até o dia seguinte quando só se levantava para ir à escola.
Embora estivesse sobrecarregada com tantas coisas para fazer, Anne estava adorando cada minuto daquela pequena aventura, pois queria que Gilbert ficasse feliz com a surpresa e não mediria esforços para que aquele dia fosse inesquecível para ele.
Então, na manhã do sábado da festa, Anne e Diana tinham deixado tudo pronto, por esta razão, ao entardecer daquele mesmo dia, elas foram para praia a fim de cuidar dos últimos detalhes da festa. A ruivinha pedira para Muddy buscar Gilbert com a desculpa de que comemorariam o aniversário dele fazendo um piquenique na praia. O menino aceitara prontamente a missão, mas antes, ele perguntara a Anne se podia convidar Ruby para a festa. Ele sabia que ambas não estavam se falando, mas era muito importante para ele que a menina estivesse ali. Anne não gostava particularmente da ideia de ter Ruby por perto, fitando-a com seus olhos recriminadores justamente naquele dia tão especial, mas Muddy sempre fora um amigo leal dela e Gilbert e a menina não teve como negar a ele aquele pedido.
Quando a noite chegou, a praia estava toda iluminada e linda. Além de uma grande fogueira que fora acesa para dar um ar mais típico a festa. Havia uma mesa enorme onde a comida e bebida tinham sido colocados, assim como o bolo que Mary tinha feito para ocasião,e que fora trazido por Sebastian naquela tarde. Ele prometera aparecer para a festa com a esposa, caso o enjoo que ela sentia passasse até a noite, e Anne fizera votos de que eles pudessem comparecer, pois tinha certeza de que Gilbert ia gostar muito de comemorar aquele dia junto com sua família.
Logo que tudo estava devidamente organizado, ela e Diana foram se arrumar para festa. Tinham combinado de se vestir a caráter, e embora Anne tenha achado que a fantasia de havaiana que Diana trouxera para ela era um pouco reveladora, pois deixava seu colo e sua barriga à mostra, ela decidira que entraria no clima e deixaria essas preocupações femininas de lado,pois queria aproveitar todos os minutos daquele dia ao lado de Gilbert.
No momento em que os convidados começaram a chegar, as duas amigas estavam a postos distribuindo os colares havaianos, e dizendo a eles que se servissem do que quisessem da mesa de comida e bebidas.
Anne circulava entre as pessoas presentes ansiosa com a chegada de Gilbert. Percebeu que todos os amigos do menino estavam lá, o que a deixou imensamente satisfeita. Mas o que ela não esperava era ver Josie Pye e Billy Andrews ali, pois ela não convidara nenhum dos dois e tinha certeza de que Diana também não.
- Diana, quem convidou essas duas pessoas insuportáveis para a festa de aniversário de Gilbert?- ela perguntara, assim que vira a amiga se aproximar.
- Não faço a menor ideia. Mas, pelo o que conheço dos dois, aposto que eles mesmo se convidaram.- disse Diana,balançando a cabeça inconformada.
- Bem, não podemos expulsá-los daqui agora. Só espero que não causem nenhum tipo de confusão. – disse Anne.
- Vamos pensar positivo. - disse Diana cruzando os dedos e fazendo graça.
- Acho que o Cole adoraria tudo isso - disse Anne,mudando de assunto.
- Tenho certeza que sim. Vamos guardar parte da decoração para mostrar à ele no Natal.
- Boa ideia, Diana. – disse Anne sorrindo.
- Anne, Diana. O Muddy está chegando com o Gilbert. -avisara Jerry que ficara escondido, a pedido de Anne para observar quando Gilbert aparecesse.
Todos esperaram pacientemente pela chegada do menino, e no momento em que ele se aproximou com Muddy, eles gritaram em coro:
- Feliz Aniversário, Gilbert!
O menino ficou mudo de surpresa, pois nunca imaginara algo assim. Passou as mãos pelos cabelos, deixando a cabeça tombar um pouco de lado, gesto que sempre se repetia quando ele ficava sem jeito. Naquele instante, viu Anne se aproximar e Gilbert perdeu a fala de vez. Ela estava maravilhosa vestindo roupas coloridas de dançarina havaiana, os cabelos ruivos soltos da forma como ele gostava somente presos de um lado com uma rosa vermelha, e tinha os pés descalços.
- Aloha, Gilbert. - ela dissera, saldando-o na maneira havaiana e colocando um colar em seu pescoço. Em seguida, deu-lhe um selinho e disse de maneira que só ele ouvisse. - Feliz aniversário.
- Aposto que foi você que fez tudo isso- Gilbert falou pegando na mão dela e beijando-lhe a palma.
- Sim,mas tive cúmplices para me ajudar.- ela o abraçou sorrindo.
- Eu imagino quem sejam. - ele olhou para Muddy que observava a cena, rindo divertido e falou para o amigo.- Eu bem que desconfiei quando você me disse que faríamos um piquenique na praia para comemorarmos o meu aniversário, e que Anne estaria me esperando aqui,mas nunca pensei que seria algo tão grande assim. –disse ele apontando para a praia.
- Você gostou da surpresa? –perguntou lhe Anne.
- Você sabe que sim. Muito obrigado. - Gilbert acariciou o rosto dela encantado.
- Bem, então venha cortar o bolo que Mary preparou para você.- Anne o puxou para perto da mesa onde estava o bolo.
- Até Mary está envolvida nisso? – perguntou Gilbert surpreso.
- E Sebastian também. – respondera Anne.
- Traidores, não me contaram nada. – Gilbert fingia indignação.
- Eu pedi que não te contassem ou estragariam a surpresa. – contou Anne, e depois chamou todo mundo para a mesa. - Pessoal, se aproximem, por favor, pois o Gilbert vai cortar o bolo. -
Assim, cantaram a famosa música "parabéns para você", e um Gilbert todo envergonhado deu o primeiro pedaço de bolo para Anne que o agradeceu com um sonoro beijo na bochecha. Após todos os convidados terem se servido do delicioso bolo feito por Mary, alguém colocou uma música tipicamente havaiana e algumas pessoas começaram a dançar. Anne aproveitou esse momento para chamar Gilbert de lado e entregou a ele um pacote caprichosamente embrulhado, dentro dele havia um cartão que dizia : "Feliz aniversário, Gilbert. Que muitos outros sejam como este, repletos de felicidade.Com amor, Anne."
Gilbert abriu o presente e dentro dele havia um retrato de Anne, lindamente pintado e assinado por Cole.
- Achei que seria o presente mais apropriado, uma vez que você não tem nenhuma foto minha.
- Está enganada. Eu tenho uma foto sua. - Gilbert sorria para ela enigmático.
-Como assim? Eu nunca te dei um foto minha.- Anne estava confusa.
- Eu fiz um desenho seu, depois daquela vez em que te chamei de cenoura e você quase arrancou minha cabeça por isso.
- Mesmo?- Anne estava surpresa com a confissão de Gilbert.
- Eu carreguei esse desenho comigo para todos os lados, até em minhas viagens, e confesso que foi uma das coisas que me fez voltar para casa.- Anne não sabia o que dizer,estava emocionada com as palavras de Gilbert, por isso, contentou-se em apenas sorrir.
- É claro que o desenho de Cole é mil vezes melhor que o meu. Vou guardá-lo em meu quarto para ter você perto de mim sempre que eu quiser. - dizendo isso, beijou-a demoradamente nos lábios e quando o beijo acabou Anne falou:
- Será que você poderia circular entre os convidados um pouquinho? Tenho que ajudar Diana com as coisas da festa.
- Claro, vou aproveitar para cumprimentar meus amigos por comparecerem ao meu aniversário. - Desta forma, Anne deixou que Gilbert entretece os convidados enquanto ela e Diana verificavam se havia ainda comida e bebida suficiente para todos.
Gilbert não conseguia desviar o olhar de Anne, onde ela ia lá estava ele seguindo-a por toda parte. Ela parecia diferente aquela noite,e esse pensamento fez Gilbert observá-la com mais atenção. Vestida daquele jeito, Anne o provocava e seduzia sem perceber. Queria que estivessem sozinhos, pois assim poderia tê-la só para si sem ter que dividir a companhia dela com ninguém. Gilbert se surpreendeu com seus pensamentos, estava ficando cada vez mais possessivo em relação à Anne, mas a culpa era daqueles olhos e daquele sorriso que o deixavam cada vez mais apaixonado por ela.
Desde que ela se declarara para ele, suas emoções estavam em polvorosa, ele nem se reconhecia mais, embora continuasse bastante focado nos estudos, o resto do tempo seus pensamentos estavam em Anne e nada conseguia tirá-la de sua cabeça.
Sentiu um toque suave em seu ombro e se virou para ver quem era.. Espantou-se em ver Ruby e sua prima Elisabeth ali na sua frente.
- Oi, Gilbert. Acho que se lembra de minha prima Elisabeth. - disse Ruby apontando para a garota ao seu lado.
- Claro. Como vai Elisabeth? Que bons ventos a trazem aqui a Avonlea?
- Oi,Gilbert? Eu estou bem, obrigada. Meu pai tinha negócios a tratar nessa região e aproveitei para vir com ele e visitar alguns parentes que não vejo há algum tempo. Mas retornamos para nossa casa na segunda-feira. Espero que não se importe por eu ter vindo até aqui sem ter sido convidada. - Elisabeth se desculpou sorrindo.
- Claro que não. Eu mesmo não sabia da festa. Anne me enganou direitinho.
- Quer dizer que foi Anne que preparou esta festa maravilhosa? Então estão juntos novamente? – perguntou Elisabeth curiosa.
- Sim, estamos namorando.- respondeu Gilbert sorrindo para ela.
- Fico feliz por vocês. Mas me conte tudo o que aconteceu desde que voltou de viagem das férias. –quis saber Elisabeth.
Enquanto Gilbert conversava com as duas meninas Anne os observava inquieta.Tinha que descobrir quem era aquela garota tão atraente que conversava com Gilbert tão a vontade. Virou-se e começou a caminhar em direção a eles, aí ouviu uma voz falando com ela:
- Está vendo, Shirley. Achou mesmo que Gilbert era todinho seu? Bastou aparecer uma garota bonita para ele te deixar de lado.
- Josie Pye. Tinha que ser você. Não sei o que faz aqui sem ter sido convidada. – Anne olhou para menina com desprezo.
- Vou aonde quiser. A praia é pública e você não é dona dela. - retrucou Josie com sua voz desagradável.
- Não me provoque, Josie.- avisou Anne.
- Você vai fazer o que se eu te provocar?
Ambas estavam próximas da beira do mar, e Anne viu uma onda se aproximar. Sem pensar um segundo a mais,deu um empurrão em Josie e a menina foi pega pela onda, sendo atirada no chão completamente molhada. Olhando para a garota caída na praia Anne não sentiu nem um pingo de remorso e disse friamente:
- Bem, não diga que não te avisei. Pena que eu não tinha um balde, pois poderia muito bem tê-lo atirado nessa sua cabeça oca. – saiu de perto da menina e foi falar com Diana.
Josie viu Anne se afastar, logo se levantou e tentou limpar suas roupas o melhor que pôde. Estava furiosa, mais ainda do que todas as vezes que ela e Anne se enfrentaram. Se pudesse acabaria com a arrogância daquela ruiva em três tempos, mas Anne sempre parecia ter vantagem sobre ela, a vencia em todas as discussões com seus comentários odiosamente inteligentes. Precisava encontrar uma maneira de derrotá-la em seu próprio território, só não sabia ainda como faria isso.
Procurou por Billy um tanto aflita, e se sentiu aliviada ao vê-lo não muito longe de onde ela estava. Aproximou-se do namorado apressadamente, e ele quando a viu naquele estado perguntou divertido:
- O que é isso, Josie? Resolveu nadar de roupa e tudo? Se eu soubesse que você estava tão ansiosa para entrar no mar, teria te trazido uma roupa de banho.
- Não amole Billy. Eu fui pega por uma onda acidentalmente e acabei me molhando. – pegou no braço do menino - Vamos embora, esta festa está muito chata.
- Vá você se quiser. Eu estou me divertindo muito. – respondeu Billy, tirando a mão de Josie de seu braço.
- Billy Andrews. Se não for embora comigo agora mesmo considere tudo acabado entre nós.
- Como quiser Josie.- Billy deu as costas para a menina e continuou conversando com seus amigos, enquanto Josie ia embora bufando de raiva.Quando a viu desaparecer de suas vistas, respirou aliviado. Graças a Deus tinha se livrado daquela garota, já não aguentava mais a sua chatice, só estava esperando uma oportunidade para acabar com aquele namoro, e não precisara fazer muito esforço para isso, já que a própria Josie lhe dera um motivo.
Agora que estava livre, podia se concentrar em coisas mais interessantes, como por exemplo, na garota que tinha acompanhado Ruby até a praia. A menina tinha lhe lançado alguns olhares furtivos, e ele estava esperando uma brecha para se aproximar dela. Já tinha descoberto o nome dela, só precisava que alguém os apresentasse. Então, viu Muddy falando com Ruby e teve uma ideia.
Enquanto isso Anne e Diana conversavam sobre a ilustre visitante que falava com Gilbert:
- Diana,você conhece a garota que está conversando com Gilbert?-perguntara Anne sem tirar os olhos do namorado um minuto sequer.
- Nunca a vi por aqui, mas parece que ela e Gilbert se conhecem muito bem,pela maneira como riem e gesticulam.- respondeu a amiga que observava a garota com muita atenção.
- Parece que os dois têm muita intimidade para o meu gosto. - disse Anne cada vez mais inquieta. Não estava gostando nada da maneira como aquela garota falava com Gilbert.
- Por que você não vai até lá e mostra a ela quem é a dona do coração de Gilbert? –sugeriu a amiga.
- Tem razão. É isso mesmo que vou fazer. - Anne foi em direção onde Gilbert , Ruby e sua acompanhante estavam conversando.Quando chegou perto do menino abraçou-o pela cintura e disse com a voz mais doce do mundo:
- Não vai me apresentar sua amiga, meu amor? – Gilbert se surpreendeu com a atitude de Anne, olhando para ela interrogativamente. Depois, sorriu divertido quando viu as faíscas de ciúmes brilhando nos olhos dela.
- Claro. Anne esta é Elisabeth, prima de Ruby. - os olhos de Anne ficaram ainda mais escuros, dando sinais de fúria eminente.
- Olá, Anne. Gilbert me falou muito de você. Mas a descrição que ele me fez não faz jus a sua beleza. Seu cabelo ruivo é magnífico. - disse Elisabeth visivelmente impressionada com a figura de Anne.
- Obrigada, Elisabeth. Gilbert também me falou de você. – disse Anne um pouco desconcertada pela espontaneidade da menina.
- Estou tão feliz por vocês! Gilbert me contou que tinham se desentendido, mas fico satisfeita que tenham finalmente se acertado.Dá para ver que vocês foram feitos um para o outro,e esse brilho no olhar de Gilbert dispensa qualquer comentário.- Elisabeth segurava a mão de Anne como se fossem velhas amigas.
- Obrigada. - foi só o que Anne conseguiu dizer.
- Elisabeth, desculpe interromper, mas gostaria de te apresentar um amigo meu.- Anne ouviu Muddy dizer.
-Claro. Com licença. Depois continuamos nossa conversa. - disse Elisabeth para Gilbert e a ruivinha, e logo em seguida deu um beijo no rosto de Anne dizendo:
- Anne, adorei te conhecer. Precisamos estreitar nossos laços de amizade, assim que eu voltar a Avonlea, eu te procuro e a gente pode fazer um piquenique juntas.O que acha?
- Será um prazer. - respondeu Anne, decidindo que gostava da menina..
Deste modo, Elisabeth seguiu Muddy que a levou até Billy Andrews, apresentando os dois.Ninguém percebeu o olhar de raiva que Ruby lançou em direção a Gilbert e Anne.Na verdade, ela tinha convidado Elisabeth para vir com ela até a festa de Gilbert na esperança de que a presença da prima atrapalhasse um pouco a relação dos dois.Mas seu plano tinha falhado,pois ao invés de causar desconforto entre Gilbert e Anne a prima tinha caído de amores pela ruivinha..Agora só lhe restava tentar curtir a festa a fim de amenizar um pouco sua frustração.Ainda bem que Muddy estava lá para diverti-la e distraí-la.Tinham se tornado bons amigos e conversar com ele sempre lhe fazia bem
- Gostou de Elisabeth?- disse Gilbert assim que viu a garota se afastar.
- Para falar a verdade, eu gostei.Só achei que ela é animada demais.
- Essa é uma das características dela. Vocês duas se parecem muito. Não em beleza é claro,pois nesse quesito ninguém te supera.- ele sorria para ela agora,todo sedutor e charmoso.
- Muito obrigada. Você me deixa lisonjeada. Quer dizer que andou falando de mim para ela?- quis saber Anne.
- Só um pouquinho. Não fique zangada. ela é só é uma amiga.
- Se você diz, eu acredito. Agora vamos dançar, pois quero aproveitar a festa com o meu namorado.- pegou na mão de Gilbert e o arrastou com ela para onde haviam muitas pessoas se requebrando ao som de músicas havaianas.
Três horas depois os convidados foram se dispersando, e Gilbert, Anne, Diana e Muddy recolheram todos os apetrechos da festa, deixando a praia impecável novamente. Vendo que tudo estava em ordem, Diana e Muddy se despediram deixando Gilbert e Anne sozinhos.
- Quer nadar?- perguntou Gilbert para Anne.
- Quero sim, estou morrendo de calor. Espere só um minuto, pois vou colocar minha roupa de banho. - e correu para o banheiro feminino que havia ali na praia. Como Gilbert trajava shorts e camiseta, ele despiu ambos, ficando só de sunga enquanto esperava a ruivinha retornar.
Anne apareceu minutos depois, vestindo um biquíni azul que moldava as curvas dela com perfeição. Gilbert ficou boquiaberto ao vê-la. Quis dizer algo, mas não conseguiu. Sem que percebesse seus olhos se demoraram em cada parte do corpo dela, como se quisesse gravar em sua mente cada detalhe daquela pele linda que brilhava ao luar,e que fazia com que a imaginação dele fosse além do permitido.
Anne sentiu o olhar de Gilbert sobre ela,e como sempre acontecia,sentiu os arrepios familiares tomarem conta de seu corpo. A maneira como ele a olhava a fazia se sentir incrivelmente bela e poderosa só por saber do efeito que causava em Gilbert. Então ela dissera:
- O que está esperando? Vamos nadar!- e ambos correram para a água..
O contato da água fria sobre sua pele quente fez Anne estremecer por um momento, mas na medida em que se acostumou à temperatura se sentiu mais confiante para nadar ao lado de Gilbert.
Pararam um instante para tomar fôlego e olharam-se em silêncio por alguns momentos, e em seguida foram se aproximando. Anne enlaçou Gilbert pelo pescoço,e ele a segurou pela cintura colando seus lábios no dela e a beijando de maneira forte e possessiva. Em seguida, o menino pegou Anne no colo, a levou até a praia e a deitou na areia. Seus lábios exploraram toda a extensão do rosto dela, descendo pela base do pescoço alvo e chegando até os ombros da menina onde depositou beijos suaves. Depois, refez todo o caminho de volta até os lábios dela onde Anne o esperava ansiosa..Gilbert já tivera seus momentos com garotas,mas nunca com uma pela qual estivesse apaixonado e a sensação era mil vezes mais poderosa. Quando foi que ela se tornara aquela garota incrivelmente sensual? Pensava Gilbert. Até poucos dias ela era somente uma menina irritante e de sangue quente, mas agora estava ali em seus braços entregue aos seus carinhos.
Anne correspondia a paixão de Gilbert sem pensar ou hesitar, pois suas emoções naquele momento eram tão fortes que mesmo que quisesse não resistiria .Pela primeira vez na vida, Anne se deixou levar pelo que sentia sem questionar demais seus sentimentos.Gilbert era tão intenso e apaixonado, que a fazia se sentir nas nuvens. Ela tinha as mãos enroscadas nos cabelos de Gilbert, e lentamente foi baixando-as até as costas dele. No momento em que o tocou ela ficou maravilhada com a força dos músculos de Gilbert na ponta de seus dedos.
Gilbert suspirou baixinho ao sentir o toque de Anne em sua pele que era suave e delicado como tudo nela, e a proximidade da menina, assim como seu perfume natural, o deixavam completamente rendido aos encantos dela. Queria beijá-la além dos beijos e senti-la ainda mais próxima ao seu coração.
Enquanto se envolvia naquele jogo de amor tão doce, Anne se perguntava como era possível sentir-se tão próxima a alguém somente por causa de um beijo? Será que amar era sempre assim? Se sentir elevada até o limite de seus sentidos? Queria ficar para sempre perdida naquele calor que a fazia sentir como se estivesse aquecida sob o sol no inverno.
E quando parecia que o mundo deixara de existir, a consciência chegou até Gilbert devagar e ele parou de beijar Anne de repente, pois seu autocontrole estava no fim, e ele também sabia que havia um limite imposto pela inocência dela, o qual ele não estava disposto a ultrapassar, pelo menos ainda não, por isso, se separou de Anne mesmo contra sua vontade e os protestos de seu coração.
Gilbert olhou para Anne sem encontrar palavras para explicar aquela explosão de sentimentos, então ele tentou falar, mas sua voz não passou de um murmúrio:
- Anne, eu...
- Eu sei. Sinto-me do mesmo jeito. - ela falou suavemente. Gilbert então se deitou ao lado dela na areia, e seus batimentos cardíacos foram voltando ao normal. Ambos ficaram ali olhando as estrelas em silêncio, pois não precisavam de palavras naquele instante, só a companhia um do outro bastava. Em um dado momento, Gilbert tocou o rosto de Anne e disse ;
- Este foi o melhor aniversário da minha vida. Obrigado, Anne..
- O prazer foi todo meu.- ela respondeu, e ao dizer isso olhou bem no fundo dos olhos do menino e Gilbert pôde sentir todo o amor dela por ele refletido em sua alma, e esse reconhecimento fez com que ele se sentisse o garoto mais sortudo do mundo. Depois de alguns minutos, ele perguntou:
- Quer ir para casa?
- Não, mas devemos ir. Está ficando tarde.
Levantaram-se ao mesmo tempo, se vestiram e de mãos dadas foram para casa, enquanto o luar da lua selava uma promessa que se iniciara ali na praia, e que os acompanharia pelos muitos anos do resto de suas jovens vidas.
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