Capítulo 138 - Uma mulher completa
Olá, pessoal. Estou postando mais um capítulo dessa linda e intensa história de amor, e queria avisar que além desse teremos mais dois capítulos e o epílogo para finalizar essa saga enorme que pretendo terminar ainda nessa semana. Me deixem seus comentários e votos se se sentirem confortáveis em fazê-lo e também me contem de que maneira essa história os tem emocionado em determinados momentos de suas vidas. Muito obrigada por tudo. Beijos.
ANNE
Parada em frente ao auditório onde várias pessoas estavam ali para ouvi-la, Anne leu as últimas linhas de suas memórias com a voz emocionada e algumas lágrimas escorrendo por seu rosto rosado. Sentado na primeira fila estava Gilbert, que a observava tão comovido quanto orgulhoso por ouvir um relato sincero de uma vida toda dedicada ao amor.
Seus olhos se encontraram com os de sua esposa, e cada palavra escrita naquelas simples folhas de papel parecia passar por eles como lembranças de cada momento vivido e partilhado, cada sofrimento e dor incrustados em sua carne, cada promessa feita, e cada vitória conquistada.
Não fora fácil para Anne descrever tudo o que vivera de forma cursiva e clara. Foram noites passadas sem dormir, quando o choro a impedia de continuar ou quando ela amassava folhas inteiras com capítulos quase prontos para recomeçar tudo outra vez. Lembrar parecia ser pior do que experimentar de maneira real cada acontecimento de sua vida, pois era como reviver milhares de vezes o mesmo tipo de dor ou alegria, e sair ileso de um tipo de situação assim nem sempre era tão simples.
Mas para isso ela tivera mais uma vez seu marido maravilhoso, que segurara em sua mão quando era difícil demais escrever uma linha que fosse, que a encorajara quando ela pensara em desistir, que enxugara suas lágrimas nos trechos mais pesados, que a abraçara quando os soluços eram maiores que sua criatividade, mas no fim ela conseguira, com seu coração em frangalhos, a alma cheia de curativos e seus olhos inchados de tantas lágrimas, ela conseguira colocar uma vida inteira dentro de cem páginas escritas como um diário, de uma mulher chamada Cordélia que todos pensavam que era fictícia, e sequer imaginavam que a autora e personagem eram a mesma pessoa.
Ao terminar de ler sua incrível jornada de vida, Anne fora aplaudida de pé, e ao olhar de relance para seus expectadores, muitos deles choravam junto com ela, outros disfarçavam seus olhos marejados, mas ninguém tinha dúvidas de que aquela tinha sido a história mais linda que já tinham ouvido, pois continua ensinamentos, sobre fé, amor, e perseverança e deixaria em cada coração que tivera o privilégio de ouvi-la uma sementinha plantada de esperança e de força.
Ao caminhar para fora do palco, Anne tinha dentro de si uma enorme sensação de dever cumprido, e ao ser envolvida pelos braços do homem de sua vida e ouvi-lo dizer para que apenas ela escutasse:
- Eu estou orgulhoso de você. - Anne descobriu que essa o único aplauso do qual precisava, pois, nenhum elogio por mais importante que fosse a faria mais feliz do que ver nos olhos de seu marido a admiração e amor que sempre foram seu suporte em todos aqueles anos juntos.
Haveria uma festa de encerramento de semestre na faculdade, da qual Anne resolvera participar, e no dia seguinte ela, Rilla e Gilbert estariam viajando para Paris, em uma segunda lua de mel com a qual seu marido a havia presenteado. Esse era um sonho que não pensara que realizaria tão cedo, mas Gilbert como o príncipe que era, cumprira sua promessa de anos atrás, e voltariam finalmente para a cidade do amor como marido e mulher, e sua filhinha de cinco meses.
A festa estava movimentada, e com os braços de Gilbert ao redor de sua cintura, Anne aproveitava desses momentos de descontração com grande serenidade. Era a primeira vez em tempos que ela e Gilbert podiam desfrutar de algo assim sem grandes preocupações com o presente ou o futuro, e tudo o que desejava era que pudessem viver suas vidas juntos sem pensar no que o amanhã poderia lhes trazer.
Vendo-a sorrir com os olhos brilhando, Gilbert perguntou:
- Preparada para nossa viagem amanhã?
- Sim, estou louca para rever as luzes de Paris a seu lado.- ela respondeu fitando o rosto do rapaz que tanto amava como se o estivesse vendo pela primeira vez. Cada dia ao lado de Gilbert era uma benção, e Anne nunca deixava de agradecer aos céus por não o ter perdido, pois uma existência sem Gilbert seria intolerável. Eles tinham sobrevivido ao cataclismo de suas vidas para estarem ali um ao lado do outro, e poder tê-lo em todos os seus grandes e pequenos momentos, sorrindo para ela daquela forma tão linda era a única coisa que desejaria para o resto de seus dias.
- Paris a seu lado sempre terá um sabor diferente para mim.- Gilbert disse acariciando seu rosto. - Eu te disse o quanto está linda essa noite?
- Várias vezes, mas amo toda vez que te ouço dizer . Me faz sentir única e especial.
- Você é única e especial para mim.- Gilbert disse.- E estou louco para te beijar.- ele aproximou seu rosto do dela, e quando iam colar seus lábios, um leve pigarrear os interrompeu.
- Desculpe ter escolhido um momento inapropriado para lhe falar, Sra. Blythe.- um senhor que lembrou Matthew lhe disse com humor.
- Tudo bem. No que posso ajudá-lo? - Anne perguntou com um sorriso.
- Eu ouvi a história que escreveu, e devo cumprimentá-la por sua imaginação primorosa. Que relato incrível. - Anne olhou para Gilbert, e o rapaz retribuiu o seu olhar. Só ambos sabiam a verdade contida em cada linha daquela história, pois tinham chorado juntos, sangrado juntos, sorrido, e muitas vezes caído juntos, e embora o caminho de volta tivesse sido imensamente difícil, eles permaneceram juntos ao longo dele até o final.
-Obrigada. - Ela disse, sentindo o aperto suave de Gilbert em sua mão como forma de encorajamento.
- Eu vim até aqui cumprimentá-la pelo seu trabalho, e perguntar se estaria interessada em publicá-lo . Meu nome é Charles Watson. Sou presidente de uma editora de grande prestígio em Nova Iorque, e me interessei imensamente por essa criação maravilhosa. É lógico que você seria bem paga com direito a divulgação e noite de autógrafos. Também estou oferecendo trinta por cento de lucro no total das vendas de seu livro.- Anne o olhou incrédula. Aquela proposta era sem dúvida extremamente generosa. No entanto, ela não sabia se queria expor ao mundo sua história daquela maneira, pois mesmo que a maioria das pessoas não soubessem que era uma autobiografia, ela e Gilbert saberiam, e todos os seus amigos que participaram dela direta ou indiretamente também. Era algo extremamente pessoal, dolorido e íntimo, que lhe arrancara mais lágrimas do que conseguia se lembrar ao colocar no papel, pois retratava fielmente suas lutas internas, suas dúvidas, seus medos mais terríveis, e seu amor imenso por um rapaz que sempre fora o centro de tudo aquilo do começo ao fim.
Todavia, ela não queria recusar logo de cara e frustrar os esforços daquele gentil senhor que lhe oferecia tal oportunidade, por isso ela respondeu:
- Posso pensar sobre o assunto? É que eu e meu marido vamos sair em uma viagem de férias amanhã, e não queria decidir nada sem ponderar com calma sobre sua proposta. - Ela olhou novamente para Gilbert que lhe sorriu de forma suave, e sentiu que estava fazendo a coisa certa.
- É claro. Tome o tempo que quiser. Como disse, uma história como essa, escrita de uma forma encantadora e tão emocionalmente envolvente não se encontra em qualquer lugar, e estou realmente interessado em publicá-la. Tenho certeza de que ela poderia ensinar muito ao mundo em que vivemos hoje sobre o amor abnegado e absoluto, pois se entendi bem, é disso que se trata, não é? - Anne sorriu com as palavras usadas por aquele senhor que descreviam exatamente o que ela quisera contar naquelas cem páginas do Diário da Princesa Cordélia e respondeu:
- Sim, é exatamente isso de que se trata.- Anne olhou para seu cúmplice de toda aquela aventura, e sentiu seu coração se aquecer. Ali estava a prova do seu amor incondicional, encontrado tão cedo naquela vida, mas que duraria sua existência inteira ou além dela, como ela sempre dizia ou gostava se pensar.
- Aqui está o meu cartão. Quando se decidir, me procure. Tenho certeza de que poderemos fazer algo incrível juntos com seu talento com as palavras.
- Obrigada. Foi um prazer conhecê-lo. - Anne apertou a mão que ele lhe estendia
- O prazer foi meu. - Ele respondeu, repetindo o gesto com Gilbert, antes de se afastar e deixá-los sozinhos.
- O que você acha? - Anne perguntou quando percebeu que o bom senhor já estava a uma boa distância deles.
- O que eu acho é que minha esposa incrível acaba de me dar mais um motivo para que eu sinta ainda mais orgulho dela.- O rapaz respondeu lhe dando um selinho.
- Eu estou falando sério, amor. O que acha que devo fazer?- ela perguntou, enlaçando Gilbert pelo pescoço, enquanto ele a abraçava pela cintura.
- O que quer fazer? Acha que se sentiria bem deixando que o mundo soubesse da sua história?- Gilbert perguntou de volta, fitando-a com atenção.
-Eu não sei.- ela respondeu com sinceridade. - Enquanto ele falava, eu pensava exatamente nisso. Eu não sei se sou corajosa o bastante para encarar algo assim sem sentir que estou sendo invadida em minha intimidade. Escancarar tudo o que vivemos para quem quiser ler nunca foi algo que eu almejei com esse livro.
- Eu sei, mas você também tem que pensar como aquele homem disse que seria uma enorme lição de vida para muitas pessoas, e um alento para quem passa ou já passou pelas mesmas coisas.- Gilbert ponderou, e Anne não pode deixar de pensar que de certa forma seu marido estava certo. Apesar de toda a dor e dos dias difíceis que vivera, Anne sempre tivera apoio de alguém enquanto muitas pessoas tinham que enfrentar suas tragédias pessoais sozinhas. Talvez pudesse usar seu livro para ajudar alguém que estava tão desesperadamente necessitado de esperança, e ela sabia bem como era tentar se agarrar a algo e sentir que o chão se abriria a seus pés, engolindo seus sonhos e sua motivação para viver.
-Talvez você tenha razão, se pensarmos por esse lado. Mas eu ainda preciso de tempo, pois é minha vida que está naquelas páginas e não um conto fictício. -Anne respondeu, apoiando sua cabeça no peito de Gilbert, e sentindo-se extremamente segura naqueles braços que sempre foram o seu lar.
- Sem contar que vou amar ser casado com uma celebridade.- Gilbert disse em tom de brincadeira, fazendo Anne sorrir e responder:
- Eu sabia que havia um certo interesse oculto nessas suas palavras. - Ela levantou a cabeça encarou os olhos castanhos que mais amava na vida e continuou:- Você nem sabe se meu livro será um sucesso.
- É claro que será, meu amor. Sucesso é a palavra que sempre esteve escrita na sua testa, porque você nasceu para fazer a diferença nesse mundo. Eu sempre soube disso. - Gilbert disse, beijando-a na testa.
- Você sabe que tem a maior participação nisso tudo. - Anne respondeu, olhando-o com amor.
- Eu discordo. Me lembro de ter lido em algum lugar que mulheres não precisam de um homem para serem completas, pois elas já nascem completas. Então, meu amor, nessa nossa história linda de amor, eu sempre fui o coadjuvante e você é a estrela única e absoluta.- Anne olhou para Gilbert tão emocionada com as palavras dele que tudo o que pôde fazer foi beijá-lo, demonstrando assim a ele todo o seu amor, ao mesmo tempo em que pensava que seu marido sempre encontrava um jeito de fazê-la se sentir bem consigo mesma, e nos tempos difíceis quando sentia que caminhava por entre uma névoa de desespero, foi esse apoio incondicional que lhe mostrara o caminho para fora dela.
- Eu preciso tanto de você. - Ela disse quando o beijo apaixonado terminou.
- Você nunca precisou de mim, minha Anne com e. Eu é que sempre precisei, preciso e precisarei de você na minha vida .
- Eu te amo tanto.- Anne disse acariciando o rosto de Gilbert com seus dedos delicados.
- Eu te amo mais.- ele correspondeu com um de seus olhares amorosos que a enchia de vida e energia. Gilbert Blythe sempre seria seu combustível para tudo o que tivesse que enfrentar naquela vida.
- Que tal irmos para aquele salão, e mostrar para todos os seus colegas de faculdade como se dança? - Gilbert sugeriu cheio de animação.
- Convite aceito.- Anne respondeu rindo, e logo estavam no meio de outros casais dançado ao sabor de músicas incrivelmente românticas, e enquanto observava o rosto de seu marido que se tornava mais lindo a cada minuto que passava, Anne pensou que aquele era mais um momento para guardar em seu baú de memórias.
GILBERT
O dia amanheceu límpido. Nenhuma nuvem apareceu para manchar o incrível azul daquele céu iluminado que lembrava muito os olhos de Anne nos últimos dias. Havia um brilho novo que Gilbert não cansava de admirar naquele olhar que sempre lhe chegava primeiro ao coração. Gilbert amava aqueles olhos tanto quanto amava a garota que o conquistara desde o primeiro instante com sua inteligência incomum, sua eloquência admirável e sua beleza irretocável. Ela fora desde de sempre uma inspiração, e saber que compartilhariam juntos todos os passos daquela maravilhosa aventura que se chamava vida, era uma felicidade suprema.
Anne mudara nos últimos tempos, de um jeito que ele não imaginaria. Era tão bom ver aquele sorriso brilhando no rosto dela todos os dias que acordavam juntos. Gilbert tivera tanto medo que ela perdesse a sua maneira otimista de encarar os problemas e nunca mais conseguisse sorrir com a naturalidade que vinha de dentro. Mas apesar dos inúmeros obstáculos, ela lhe provara que era mais resistente do que imaginara, e seus receios foram todos embora quando presenciara com seus próprios olhos sua evolução diária, e assim ele aprendera a nunca mais subestimar a força de sua mulher.
Estar de volta à Avonlea fora a decisão mais acertada que fizera. Anne estava feliz ali como nunca fora em Nova Iorque, e o rapaz tinha que confessar a si mesmo que ele também estava. Anos brigando contra suas origens o fizeram descobrir que o melhor lugar do mundo para ele era onde nascera, e pretendia nunca mais deixar que suas ambições por maiores que fossem o levassem para longe de casa.
Outro fator que o estava deixando extremamente satisfeito era que no próximo Natal, ele e Anne já estariam morando em sua própria casa. Sebastian acelerara as obras, contratara mais gente para ajudá-lo na construção e o resultado fora que a casa dos sonhos deles estava quase pronta, e Gilbert não via a hora de iniciar sua vida com Anne no lugar que idealizaram juntos, e onde criariam Rilla com todo o conforto e amor do mundo.
Raízes eram importantes, e era isso que ele queria para Rilla. Um lar estruturado em um ambiente onde ela pudesse confiar que sempre seria acolhida, cuidada e principalmente aceita com suas qualidades e defeitos, e que nunca fosse julgada pelo que quer que fosse.
Gargalhadas animadas encheram seus ouvidos, e após colocar o último item na mala para a grande viagem que fariam naquela tarde, o rapaz a fechou devidamente e caminhou até o quarto de Rilla onde teve o cuidado de parar na porta para não atrapalhar a cena linda diante de si.
Naquele espaço totalmente infantil decorado por Anne com a ajuda de Mary estavam seus dois tesouros mais valiosos, e olhando para Anne e Rilla em seu momento mais íntimos entre mãe e filha, o rapaz não conseguia parar de sorrir. Elas estavam na cadeira de balanço que Sebastian tinha construído especialmente para o quarto da garotinha, e se olhavam como aquele mundo pertencesse apenas as duas e ninguém mais tinha acesso aquele instante em que seus corações amorosos se uniam. Anne beijava o rosto da garotinha e com o queixo fazia cosquinhas no pescoço de Rilla que se acabava de tanto rir, fazendo com que sua mãe também sorrisse, e lhe falasse palavras carinhosas que a garotinha apesar de ainda não compreender o significado delas adorava ouvir.
Gilbert sabia que não tinha o direito de interromper, mas também não conseguia não continuar onde estava, observando aquele momento de puro amor. Ele já presenciara aquela troca de carinho entre Anne e Rilla muitas vezes antes dessa, e se emocionava em todas as vezes. Era lindo demais ver Anne no papel no qual se preparara a vida toda para viver. Sua esposa era a mãe mais perfeita que ele já tinha visto, e quem sabia da história da gravidez dela e sua luta para que Rilla nascesse saudável, colocando em risco seu próprio bem-estar com certeza concordaria com ele.
Pressentindo a presença do marido, Anne virou seu rosto em direção a porta, e sorriu largamente ao dizer:
- Não quer se juntar a nós, papai?
- Eu não quero atrapalhar. Vocês estão tão lindas juntas.- ele respondeu, sorrindo para Anne de volta.
- Acho que Rilla adoraria que o pai dela viesse até aqui brincar com a gente. -Anne disse encorajando-o a se aproximar.
- Já que vocês insistem.- Gilbert andou até elas e ao se aproximar de Anne e Rilla, ele perguntou: - Será que tem espaço nessa cadeira para eu dividir com vocês?
Anne o olhou com ar de dúvida, se levantou da cadeira pensando em como dividiria um espaço tão pequeno com o marido. No entanto, o rapaz foi mais rápido, se sentando na cadeira no momento em que ela se levantou, e a puxando com cuidado para seu colo e dizendo logo em seguida:
- Assim está perfeito. - Anne apenas lhe lançou um olhar divertido, balançou a cabeça e disse:
- Você sempre encontra a solução para qualquer tipo de problema.
- É por isso que sou um homem da ciência. - Gilbert respondeu, com um sorriso convencido nos lábios fazendo Anne responder:
- E é por isso que te amamos, homem da ciência. - Gilbert acariciou os cabelos da esposa por um segundo, em seguida dirigiu seu olhar para Rilla que o observava com toda a atenção.
- Olá, princesa do papai. Está feliz por viajar com a gente?
- Ela ainda não entende esse tipo de coisa, amor.- Anne disse, sem tirar os olhos do marido.
- É claro que entende. Olha o sorriso que ela me deu. Isso quer dizer que ela está adorando a ideia. E pelo jeito vai ser como a mãe dela, apaixonada por Paris.- o rapaz disse, enrolando um cachinho comprido da filha em seu dedo indicador .
- Estou um pouco preocupada com ela. Rilla ainda é tão pequena para uma viagem longa como essa.- Anne comentou, lançando um olhar sério para a filha.
- Ela vai ficar bem, amor. Eu conversei com a pediatra dela, e a doutora disse que Rilla pode viajar sem problemas. Você sabe que eu não a levaria se houvesse algum risco para a saúde dela.
- Eu sei. Acho que me preocupo demais por conta de tudo o que envolveu o nascimento dela. Depois de tudo o que passei com essa gravidez, eu fiquei um pouco neurótica a respeito da saúde dela.- Anne disse se desculpando, o que fez Gilbert beijá-la no rosto e responder:
- É compreensível, meu amor. Feridas assim demoram a cicatrizar, nós dois sabemos disso. O importante é não deixarmos que isso determine o que somos. E essa garotinha linda do papai, é tão forte quanto a mãe dela.- Gilbert disse, acariciando o rostinho macio com o polegar. Depois, voltando seu olhar novamente para Anne, ele disse: - O Sebastian disse que até o Natal podemos mudar para nossa casa.
- É mesmo?- os olhos dela adquiriram um brilho lindo com a boa notícia. - Você ouviu, Rilla? No Natal você vai ganhar um quarto inteirinho novo. Isso não é maravilhoso.?- em resposta a garotinha sorriu, mostrando um dentinho frontal que estava acabando de nascer. Por conta disso, ela andara meio chorosa nos últimos dias, deixando Anne aflita com seus picos de febre e recusa em comer. Gilbert tivera que marcar consultas fora de época na pediatra da menina, para que a médica explicasse a Anne que aquilo era normal, e que toda criança passava por aquilo com mais ou menos intensidade. Tudo o que Gilbert já tinha lhe dito, mas como diziam por aí Santo de casa não faz milagre. Assim, Anne se acalmara e parara de sofrer a cada choro sentido de Rilla.
Gilbert abriu a boca para fazer um comentário sobre a casa nova, mas parou no instante em que viu o olhar triste de Anne. Qualquer mudança no humor dela lhe causava um tipo de alarme que ele sabia ser exagerado, mas não conseguia evitar. Era mais forte que ele, e mesmo fazendo todos os exercícios mentais sobre isso que o Dr. Spencer lhe ensinara, Gilbert ainda se mantinha vigilante a respeito de sua esposa na maioria das ocasiões.
- No que está pensando, Anne?
- Que é uma pena que uma casa tão grande tenha apenas uma criança. - a voz dela saiu triste, mas não de forma preocupante, o que foi um alívio para Gilbert ao vê-la lidar com esse tipo de frustração melhor que no passado.
- Você sabe que não tem que ser assim. Podemos adotar, como tínhamos planejado antes de Rilla. - O rapaz a lembrou.
- Eu não estou reclamando, amor. Meu sonho de ser mãe se realizou, você está aqui a meu lado saudável, estamos construindo nossa vida e nossas carreiras juntos. O que mais posso desejar? Estou bem com isso, de verdade.
- Fico muito feliz em ouvir isso. Mas como disse, se sua vontade de ser mãe outra vez se tornar mais forte que tudo, podemos adotar. Um filho biológico e um filho adotado não faz a menor diferença para mim.- ele disse, olhando com carinho para Anne.
- Eu sei, e te amo ainda mais por isso. Obrigada por sempre colocar meus sonhos à frente dos seus.- Anne aproximou o rosto de Gilbert e o beijou de leve, pois apesar de Rilla ainda ser pequena, ela não se sentia bem em deixar a paixão que sentia pelo marido bem a vista de sua filha. Isso era para quando estivessem sozinhos ou entre quatro paredes.
- Seus sonhos são os meus, Anne. E por isso, tudo o que desejar virá em primeiro lugar para mim. - Eles se olharam por um tempo infinito, até que Rilla começou a balbuciar coisa em sua língua infantil que ninguém ainda entendia, e deu seus bracinhos para que Gilbert a pegasse no colo. Anne mudou de posição para que o marido tivesse mais espaço para colocar a pequena em uma posição confortável.
- Já arrumou as malas? - Gilbert perguntou enquanto embalava a garotinha em seus braços.
- Já sim. E você?
- Terminei agora a pouco.
- Tem mais uma coisa que eu gostaria de fazer antes de viajarmos. - Anne disse, observando Rilla começar a bocejar.
- E o que é?
- Quero ir até Green Gables me despedir de Matthew e Marilla. Eles ficariam muito chateados se não pudessem ver Rilla antes de partirmos.
- Claro, meu amor. Podemos ir quando quiser.
- Depois do almoço seria perfeito.- Anne respondeu, enquanto Gilbert admirava seus traços delicados, quase suspirando pela mulher perfeita que era sua esposa. Cada dia que passava, a beleza dela florescia regada pelo amor dele, e pela felicidade de estarem finalmente juntos no lugar que se conheceram e que dali para frente seria sempre o seu lar.
Assim, horas depois estavam a caminho de Green Gables e quando lá chegaram, diferente dos outros dias que estiveram ali, foi Matthew Cuthbert que os recebeu, seguido de Marilla que como sempre veio da cozinha, vestindo um avental branco e enxugando as mãos em um pano de prato. Essa era uma das coisas que Gilbert amava em Avonlea. A sensação boa de equilíbrio que lhe mostrava que não importava quanto tempo passasse, tudo aconteceria no mesmo ritmo e seguindo o mesmo padrão. Muitas pessoas diriam que isso era enfadonho, e por um longo tempo ele pensara assim também. Porém, ele aprendera que essa rotina repetida ano após ano era o que lhe dava a segurança de que não importava o caos que estivesse sua vida, ele sempre encontraria seu caminho de volta em meio às coisas que lhe eram familiares.
- Que surpresa boa, meu anjo. - Matthew disse, beijando as mãos de Anne, enquanto pegava Rilla no colo que lhe sorriu em reconhecimento. Gilbert sentiu um certo aperto no peito ao observar o quanto o bom homem parecia frágil. Desde sua última internação, ele não mais se recuperara inteiramente, embora ainda realizasse alguns trabalhos na fazenda autorizado por seu médico . O rapaz apenas se sentia aliviado por Anne não ter o mesmo conhecimento médico que ele tinha para entender que o tempo não seria benevolente com seu pai adotivo, e que a cada dia que passasse essa fragilidade se tornaria maior, até que ele não fizesse mais parte desse mundo.
E isso um dia aconteceria, por mais que Anne não o desejasse, e por mais que a medicina estivesse avançando, e conseguisse prolongar a vida das pessoas por mais alguns anos. Infelizmente, ainda não havia sido inventado um remédio que retardasse o envelhecimento do corpo humano, evitando assim a sua morte.
- Então minha florzinha vai viajar? Espero que você não esqueça desse velho tolo naquelas ruas tão lindas de Paris, - ele disse, beijando a garotinha no rosto várias vezes.
- Ela nunca vai te esquecer, Matthew. Rilla te ama tanto quanto eu. - Anne disse, olhando com ternura para o seu velho amigo.
- Ah, minha querida. Eu também amo muito vocês duas, e também queria te agradecer por ter me dado uma netinha tão linda. Foi o melhor presente de toda minha vida.
- Não me faça chorar, Matthew Cuthbert.- Gilbert ouviu Anne dizer, enquanto ela enxugava os olhos já marejados. Ele sempre achou lindo aquele amor que Anne e Matthew compartilhavam, tão parecido com o que ele tivera com John Blythe.
- Anne, eu queria te dar isso. - Marilla se adiantou e entregou um pacote para a ruivinha. - É para Rilla. Espero que ela possa usá-lo em algum momento especial durante a viagem. - Ela explicou enquanto trocava um olhar cúmplice com Gilbert. Eles tinham um segredo do qual Anne só saberia no momento certo.
- Que coisa mais linda. - Anne disse, olhando para o vestido azul cujo tecido era bastante delicado, e tinha duas saias sobrepostas uma sobre a outra. - Muito obrigada, Marilla. - Anne disse, beijando a boa senhora no rosto, que a olhou com uma evidente satisfação.
-Vamos entrar e tomar um café. - Marilla os convidou.
Um tempo depois, após se despedirem dos dois irmãos, e logo em seguida fizeram o mesmo com Mary e Shirley, eles foram conduzidos até a estação ferrovia de trem por Sebastian que lhes desejou boa viagem. Então, com o peito ardendo em expectativa pelo que os aguardava na cidade luz. Gilbert e Anne que tinha sua filhinha adormecida nos braços embarcaram novamente naquela doce aventura que só as luzes de Paris com todo o seu fascínio poderiam lhes proporcionar.
GILBERT E ANNE
A viagem de trem até Paris mostrou-se melhor do que Anne poderia esperar. Rilla se comportou feito uma princesinha e dormiu a maior parte do tempo, salvo os momentos em que acordava para que sua mãe a amamentasse, fazendo do colo de seu pai o melhor lugar onde seu corpinho infantil poderia repousar.
Livre para se encantar pelos lugares por onde o trem obrigatoriamente passava, Anne aproveitou cada segundo para reativar sua memória e se recordar das outras vezes em que ela e Gilbert fizeram aquele trajeto. Sua primeira viagem a capital francesa parecia ter acontecido a milhares de anos atrás depois de todos os acontecimentos que os cercaram depois, por isso seu retorno aquele lugar magnífico teria um sabor mais especial do que antes.
Eles chegaram à cidade em uma manhã cinzenta e fria. Paris nas primeiras horas do dia não deixava de ter seu charme e as luzes que seduziram Anne e Gilbert em sua primeira visita ali, fizeram o mesmo pela segunda vez.
Ambos sabiam qual era o significado de estarem de volta, reforçado pelos olhinhos de Rilla que parecia hipnotizada pelo movimento da estação onde uma quantidade enorme de pessoas caminhavam por ali naquela hora quando Paris começava a acordar.
Gilbert olhou para Anne e sorriu. Havia tanta luz no rosto dela que que era impossível não a admirar com a mesma intensidade que ele admirava Paris em toda sua exuberância.
- Está feliz?- ele perguntou ao ver a expressão extasiada dos olhos dela que não perdiam um só detalhe ao seu redor.
- Sim. Não pensei que voltaríamos aqui tão cedo. São tantas lembranças incríveis. - Ela respondeu, encarando-o com sua íris azul magnífica.
- Eu te prometi que voltaríamos um dia, e quero que aproveitemos cada minuto juntos dessa cidade maravilhosa. - Gilbert disse, segurando na mão dela e a apertando de leve.
- Obrigada por isso. Você não sabe o quanto significa para eu estar aqui com você e Rilla.
- Significa muito para mim também - Gilbert beijou Rilla na testa, e abraçou Anne pela cintura.
- Sr. Blythe.- Gilbert se virou para encarar o homem uniformizado que se dirigia a ele com uma expressão séria.-
- Sim.
- A Sra. Josephine me pediu para vir buscá-los. - O rapaz disse com toda a formalidade europeia que Gilbert e Anne conheciam bem.
- Obrigado. - Gilbert agradeceu e após alguns minutos dentro do veículo já estavam chegando na mansão de tia Josephine, que muito pouco tinha mudado naquele tempo em que ficaram sem visitá-la. A porta foi aberta por um mordomo assim que Gilbert tocou a campainha, e a figura elegante e inconfundível da tia de Diana surgiu. Era surpreendente como ela não tinha envelhecido nada durante aqueles anos, como se tempo não tivesse passado para ela. Anne imaginou que era assim, porque tia Josephine tinha um espírito jovem, além de seu tempo.
- Meu Deus! Finalmente estão aqui. Como esperei ansiosa por esse dia. - Ela se virou para Anne, tocou seu cabelo com suavidade e disse. - Como você está linda, meu amor. A última vez que te vi ainda era uma adolescente cheia de dúvidas sobre a vida, e agora é essa mulher linda com o olhar confiante e cheia de vida. E você, meu rapaz. Está mais charmoso que em sua última visita. Que casal maravilhoso vocês formam. E agora me deixe ver essa princesa .- tia Josephine disse, pegando Rilla do colo do pai.- Que joia preciosa é essa? Uma mistura linda do papai e da mamãe. Nós vamos nos dar bem, não vamos, meu anjinho?- em resposta Rilla sorriu, e segurou uma mecha de cabelo da boa senhora entre seus dedos. Era assim que a garotinha se expressava quando gostava de alguém.
- Vou pedir para que Mike leve as bagagens de vocês para o quarto de hóspedes. Eu tive o cuidado de preparar um quarto ao lado do se vocês para Rilla, pois um casal tão jovem e tão apaixonado precisa de privacidade. - Ela disse, piscando para Anne que enrubesceu com a sutil insinuação. Tia Josephine também não mudara seu jeito sincero de ser.
Depois de alimentar sua filha, e colocá-la para dormir no enorme berço que fora preparado com todo o carinho pela dona da casa, onde havia todo o tipo de brinquedo e conforto para a garotinha de cinco meses, Anne e Gilbert desceram para o café que tia Josephine pediu para que fosse servido ao jovem casal.
- Agora eu quero que me contem tudo sobre o casamento do qual eu não pude participar, e quais são os planos de vocês para os dias que passarão em minha casa.- Tia Josephine pediu enquanto se servia de sua costumeira xícara de chá, e ouvia com atenção tudo o que seus hóspedes lhe contavam cheios de animação.
Nos dias que se seguiram, a vida de Anne é Gilbert se tornou uma sucessão de passeios e atividades fora da casa de sua anfitriã, e sempre com a participação de sua doce filhinha que parecia absorver tudo com seus olhos castanhos cheio de curiosidade, embora sua pouca idade não permitisse que pudesse compreender ou mesmo reter na memória tudo o que estava vivendo junto a seus pais em uma das cidades mais famosa e românticas do mundo.
Eles visitaram a Torre Eiffel, caminharam pelas ruas mais conhecidas no centro de Paris, se deliciaram com iguarias deliciosas nos bistrôs mais charmosos que encontraram e os quais não tiveram a oportunidade de conhecer da outra vez, e viveram a arte e a cultura mais inspiradora do mundo dentro do Museu do Louvre, onde Anne Gilbert mais uma vez se emocionaram com séculos de beleza e criatividade humana.
Foram dias incríveis, onde Anne sentia que estava vivendo seu sonho parisiense com mais intensidade que da outra vez, porque a felicidade que sentia dentro de si era tão genuína que a maneira como estava experimentado Paris ao lado do marido e sua filha lhe dava uma ótica totalmente diferente da cidade que tivera quando pisara naquelas terras francesas pela primeira vez.
Talvez a maturidade que adquirira no último ano fosse responsável por essa mudança de perspectiva, e lhe oferecesse a oportunidade de sentir Paris pelo que realmente era. Uma cidade cujos padrões de vida, arte e beleza eram totalmente distintos de tudo que já conhecera até então . A capital Francesa não era apenas para ser admirada pelos olhos de quem a via, e sim sentida em toda sua plenitude na própria pele e no coração.
A sexta-feira pareceu chegar rápida demais, e depois de sair com Gilbert e Rilla para mais uma manhã de passeios e visitas, Anne se deitou logo depois do almoço para descansar um pouco e quando acordou a tarde já tinha caído. Ela olhou ao redor a procura de seu marido, mas não o encontrou, e ao entrar no quarto de Rilla, Anne percebeu surpresa que a filha não estava lá, mas para acalmar sua ansiedade havia um bilhete dentro do berço da menina em cima de uma caixa cheia de fitas que cuja letra inconfundível de seu marido dizia:
Rilla e eu estamos esperando você neste endereço às seis horas. Dentro da caixa existe algo que quero que vista e venha nos encontrar assim que puder. Com amor, Gilbert.
Anne sorriu ao pensar que seu marido não perdera aquela mania de lhe fazer surpresas, e seu sorriso se alargou ao ver o vestido azul de tecido delicado que havia dentro da caixa que ele deixara ali sabendo que ela a encontraria assim que viesse ver sua filha. Ela o vestiu e o tecido abraçou seu corpo com perfeição. O decote em V era discreto, valorizando seu busto e seu colo acetinado. As mangas eram bufantes do jeito que Anne gostava, e sua cintura marcada destacava ainda mais a cintura fina de Anne, enquanto a saia descia até seus pés, fazendo-a se sentir uma verdadeira princesa.
Como não conhecia o lugar onde Gilbert a estava esperando, Anne optou por deixar os cabelos soltos, e vestir uma sapatilha de cetim que por sorte era quase da cor do vestido. Sua maquiagem foi leve e uma borrifada do seu perfume favorito completou a produção do dia, fazendo com que ficasse satisfeita com sua aparência refletida no espelho do quarto.
Quando desceu as escadas, o motorista de tia Josephine a esperava, dando-lhe a impressão de que tudo aquilo havia sido preparado previamente por seu marido, com a participação ativa da tia de Diana que Anne ainda não tinha visto em nenhum lugar da casa.
Logo que ela se acomodou no banco do carro elegante, o rapaz começou a dirigir e Anne se viu rodando pelas ruas movimentadas de Paris que àquela hora da tarde estavam repletas de visitantes. Sem saber para onde estava indo, a ansiedade de Anne chegou ao auge, e sua curiosidade só aumentou quando o carro parou em frente a uma igreja antiga, mas muito linda que ela ainda não conhecia, e levada por sua necessidade de desvendar aquele mistério, a ruivinha subiu as escadas rapidamente e quando chegou na porta, ela magicamente se abriu, e um Gilbert vestindo terno e gravata a esperava no altar, enquanto uma moça se aproximava dela e lhe entregava um busque de rosas vermelhas, suas flores preferidas.
Os olhos de Anne marejaram e ela quase soluços ao ver Tia Josephine parada no altar ao lado de Gilbert com Rilla no colo, usando o vestido que Marilla havia lhe presenteado, e com um laço azul em meio aos seus cachinhos ruivos.
A murcha nupcial começou a tocar, e Anne caminhou vagarosamente até onde seu marido a esperava com um lindo sorriso no rosto, quando finalmente o alcançou, o rapaz levou suas mãos aos lábios e perguntou:
- Gostou da surpresa?
- Por que você não me contou nada? - Anne disse, enxugando uma lágrima teimosa que acabara de rolar por pele suave de seu rosto.
- Porque aí não seria mais uma surpresa. Eu te disse que um dia nos casaríamos em Paris, e estou aqui com você para renovar os votos que fizemos a pouco tempo atrás. - Ele explicou entrelaçando seus dedos nos dela, como sempre fazia em ocasiões importantes.
- Quando foi que planejou tudo isso?- Anne perguntou cheia de curiosidade, pois em todos aqueles meses Gilbert não deixara escapar nenhuma pista do que estivera planejando.
- Um mês antes de comprar as passagens para nossa viagem. Eu escrevi para tia Josephine, contando sobre o meu plano, e ela prontamente se ofereceu para ajudar. Então, eu pedi para Marilla fazer o seu vestido e de Rilla, e o melhor de tudo é que você não desconfiou de nada.- Gilbert disse com seu sorriso ladino, que a fez responder:
- Eu não sei o que dizer.
- Só me dê aquele sorriso que amo tanto, pois não preciso de mais nada além disso.- o rapaz disse, beijando-a na testa com carinho. Anne fez o que ele lhe pediu, e logo o padre começou a cerimônia que como no dia de seu casamento na praia a emocionou imensamente, e o mesmo aconteceu com Gilbert que não tirava os olhos dela, admirando a beleza etérea de sua esposa que naquele instante o lembrava uma fada saída de um conto de fadas, e não importava quanto tempo passasse, ele sempre se lembraria dela daquela maneira.
Quando chegou o momento da renovação dos votos de casamento, Gilbert pediu um minuto e disse:
- Eu preparei algumas palavras que gostaria de dizer a você. - Anne assentiu e respirou fundo, esperando ansiosa pelo que o marido lhe diria. Assim, o rapaz tocou seu rosto de leve e começou a falar:
- Meu amor, em todo esse tempo que estamos juntos, você tem sido o sol da minha vida. Não tem um só dia em que eu não acorde e não me sinta feliz por você estar a meu lado a cada passo dessa longa jornada onde partilhamos dias alegres e tristes, pois um casamento não é só feito de imensas alegrias, mas de momentos difíceis também. Então, quero agradecer por cada instante em que você está comigo, por cada sorriso que me dá, por cada palavra de carinho e incentivo, por cada olhar de amor com o qual me presenteia quando estamos juntos. Obrigado por me fazer ver o mundo pelos seus olhos, e obrigado pela filha linda que me deu, e pela qual lutou com unhas e dentes para que viesse ao mundo e fizesse parte da nossa história. Eu te amo, Anne, e quero que saiba que esse amor não conhece limites, e sempre farei de tudo para seja a mulher mais feliz do mundo e que sempre encontre motivos para sorrir como agora.
- Eu já sou a mulher mais feliz do mundo porque tenho Rilla e você na minha vida.- Anne disse com o rosto banhado de lágrimas antes de trocar um beijo longo e apaixonado com seu príncipe encantado.
Ao retornarem para a mansão de Tia Josephine, uma pequena recepção os esperava organizada pela tia de Diana que se sentia extremamente feliz por dessa vez ter podido participar de um momento tão lindo na vida daquele jovem casal a quem aprendera a admirar e amar como se fossem seus próprios filhos. Quando Anne e Gilbert finalmente subiram para seu quarto depois de cortarem o bolo, brindarem com champagne a uma vida plena e feliz juntos, uma Rilla sonolenta e manhosa se agarrava ao pescoço de sua mãe que ficou com ela até que estivesse completamente adormecida e confortável em seu pijama de moranguinho que Anne ganhara de Diana assim que voltara a viver em Avonlea.
- Ela está bem?- Gilbert perguntou assim que Anne retornou para o quarto deles.
- Sim, ela demorou a adormecer por conta da agitação, mas agora está tudo bem.- Anne respondeu, olhando para o marido com admiração. Ele tinha tirado o paletó, afrouxado a gravata, e seu cabelo cacheado já voltara a sua forma bagunçada original.
O rapaz se aproximou, a envolveu pela cintura e disse em seu ouvido:
- Eu estava louco por esse momento. Agora você não me escapa.
- E quem disse que quero escapar, Dr. Blythe?- Anne perguntou, desabotoando a camisa branca dele devagar, sentindo as mãos de Gilbert no zíper do seu vestido. Quando ela tirou a camisa dele, o vestido dela já estava no chão, e os lábios de Gilbert encontraram o caminho do seu pescoço até seus lábios, causando-lhe a costumeira paixão que não diminuíra com o passar do tempo. Ele despiu sua lingerie, enquanto as mãos dele deslizavam por suas costas livres do sutiã, e seus lábios desceram até os seios arredondados onde ele tocou com a ponta da língua, até ouvir Anne ofegar, completamente arrepiada e excitada pelo toque preciso de seu marido que sabia exatamente do que ela mais gostava. Ela o ajudou a se livrar do restante das roupas, e em seguida, Gilbert se deitou na cama, fez Anne se acomodar por cima dele, e o contato de suas peles quentes fez tanto Anne quanto Gilbert gemerem juntos pelo prazer que sentiram com a leve fricção de seus corpos.
- Você é linda.- ele disse segurando o rosto dela com as mãos.
- Você também. - ela respondeu, imitando o gesto dele, antes de mergulhar sua boca na dele, e deixar que Gilbert explorasse cada parte sua com toda a paixão que queimava entre eles, assim como ela também mapeou o corpo de seu marido com suas mãos e lábios, pensando no quanto Gilbert era perfeito por inteiro, não só no físico que a enlouquecia completamente, mas também em sua alma e coração que se revelavam a seus olhos diariamente.
Enquanto observava a mulher que era a razão da sua vida suspirar de prazer diante de seu toque naquela pele de seda, Gilbert não pôde deixar de pensar na primeira vez que tinham feito amor assim. Eram apenas dois adolescentes que não sabiam nada da vida, mas que se entregaram ao que sentiam sem duvidar por um instante que estariam na vida um do outro para sempre. Anne fora a primeira e única garota a quem amara com tanta paixão, e seria a única mulher com quem sempre faria amor tão apaixonadamente como agora. Seus corpos se pertenciam assim como seus corações, e jamais deixariam de se sentirem parte um do outro, principalmente nesse momento em que entregavam um ao outro todo o sentimento que havia dentro de si.
O amor que fizeram aquela noite foi lento, e a paixão que se acendeu a cada beijo queimou entre eles por horas. Era como se estivessem escrevendo uma nova história marcada apenas pela felicidade que sempre encontraram um no outro. O toque de Gilbert em cada pedacinho de Anne a levou para outra dimensão, e os lábios dela marcando cada parte da pele masculina com seu desejo fez Gilbert sentir que Éden terreno estava tão próximo como o êxtase que explodia dentro de si com uma força sempre maior que a última vez.
Ao sentir Gilbert dentro de si com sua volúpia poderosa, Anne sussurrou:
-Até que a morte nos separe.
- Até que a eternidade nos encontre.- Gilbert respondeu, entrelaçando suas mãos, deixando que o todo desejo e o prazer se juntassem em uma onda gigantesca, carregando-os até o oceano da satisfação completa.
Muito mais tarde, adormecida nos braços do marido em meio a um sono tranquilo, Anne sequer podia imaginar que uma nova e surpreendente etapa de sua vida ao lado de Gilbert estava apenas começando.
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