Capítulo 135- Paixão, amor e cumplicidade
Olá, pessoal. eu sei que demorei, mas, aqui está o capítulo da semana, e por favor, após lê-lo me deixem seus comentários, pois gosto muito de saber a opinião do leitores sobre os capítulos. Eu sei que esta história tem sido escrito já há dois anos, mas eu achei que esse casal merecia uma história intensa e com um final feliz. Ela terá um final, e não vai demorar muito agora, e quero agradecer a quem tem acompanhado desde o primeiro capítulo por estarem aqui a cada atualização, pois sem vocês essa história não teria chegado aonde chegou. Estou muito feliz por isso. Beijos, e mais uma vez muito obrigada. Os erros ortográficos vou corrigir depois.
ANNE
Esperar, essa sempre foi a palavra que Anne mais detestara, mas, que fazia parte do repertório de sua vida inteira. Em todos os momentos cruciais, bons ou ruins, ela sempre tivera que esperar que a mão do destino fosse misericordiosa o suficiente para que o tempo não se constituísse em uma provação muito árdua, e aliviasse a tensão que tanto magoava o coração pela certeza de que nada se podia fazer com as próprias mãos, e que as horas determinavam o compasso dos acontecimentos.
E de novo ali estava ela, em um corredor de hospital esperando que alguém lhe dissesse que seu melhor amigo, aquele que a salvara de voltar para o orfanato, aquele que lhe dera um amor paternal genuíno e verdadeiro ficaria bem, pois não conseguia suportar a ideia de não ter Matthew Cuthbert em sua vida.
Desde que viera para Green Gables, ele fazia parte de cada momento seu, e lhe dera suporte quando pensara que não conseguiria vencer as adversidades que como espinhos se interpunham em seu caminho. Matthew estivera com ela quando perdera seu bebê, quando atravessara os dias impiedosos com a amnésia de Gilbert, quando a vida lhe fizera tropeçar inúmeras vezes, e saber que tinha a mão dele para segurar na sua sempre que se sentia fraca para seguir em frente fora um consolo poderoso. Então, o que faria se não pudesse mais olhar naquele rosto cansado, marcado por inúmeras rugas que o tempo colocara ali e sentir sua bondade interior enchê-la de paz e harmonia? Era inconcebível imaginar Green Gables com toda a sua história e construção sem Matthew dentro dela. Cada pedaço daquela fazenda tinha a alma de um homem que dedicou sua vida ao campo, a lida diária de plantar e colher, enfrentar o mau tempo, as imposições da natureza sobre a vontade humana, tendo sua pele castigada pelo sol inclemente, o corpo exaurido das longas horas de trabalho sem descanso, suas mãos calejadas e ásperas, e ainda assim nunca desanimara, nunca desistira, e continuava no mesmo lugar há anos por amor aquelas terras que nem sempre foram bondosas com ele, mas que ainda assim, estavam impregnadas em cada poro de seu corpo, e em cada batida de seu coração.
Seus pensamentos a estavam castigando, e enquanto olhava para sua filha dormindo em paz em seus braços, Anne apenas agradecia por ter podido dar a Matthew aquela alegria. Ele lhe pedira uma netinha, e Anne realizara seu sonho, e nunca o tinha visto tão feliz como quando estava com Rilla nos braços. Matthew parecia ter remoçado muitos anos, e vê-lo brincar com sua filha, a fazia entender o quanto aquele homem tão calado em muitos momentos transbordava amor e afeição, e eram os mesmos sentimentos que a faziam desejar estar perto dele de novo como nos velhos tempos.
Ela se recriminava por ter demorado para voltar, por ter construído sua vida longe daquele lugar, e das pessoas que amava, por ter deixado Matthew e Marilla sozinhos com todas as suas dificuldades e problemas de saúde, e ido morar tão longe para perseguir seu sonho de ser feliz. No entanto, Anne sabia que se tivesse como voltar no tempo, ela não tinha certeza se teria feito algo diferente, porque sua ida para Nova Iorque com Gilbert fora sua salvação, pois estava definhando em Green Gables com todas as suas lembranças e traumas e não tinha como imaginar se teria conseguido superar tudo o que lhe acontecera se tivesse continuado levando sua vida da maneira como a estava conduzindo naquela época.
Ir para Nova Iorque fora a solução mais plausível, mesmo que aquela decisão a fizesse se sentir culpada agora e incrivelmente egoísta. Gilbert salvara sua vida quando lhe oferecera aquela chance de recomeçar em outro lugar, e tanto Matthew quanto Marilla apoiaram sua escolha, e com os melhores votos de uma existência mais próspera e feliz, eles a viram ir embora sem nunca terem reclamado a sua súbita falta, e pensando sobre tudo aquilo, Anne também se perguntava se não agira de forma tão impensada e com tão pouca consideração por duas pessoas que somente tentaram lhe oferecer o melhor de tudo, lhe deram uma família que fora seu desejo e até seus treze anos não soubera como era ser parte de uma, lhe deram educação e lhe ensinaram princípios que ela levaria pelo resto da vida, e os quais ela queria que Rilla aprendesse também. Não tinha como pagar o que os Cuthberts tinham feito por ela, e naquele exato momento, ela apenas rezava para que Matthew ficasse bem, e ela pudesse contar com sua presença muitos anos ainda em sua vida, assim como Marilla que vinha se mostrando uma verdadeira fortaleza naqueles momentos em que Anne sentia o chão oscilar sobre os seus pés.
Olhando para ela, sentada a pouco a metros de Anne, a boa mulher se mantinha de cabeça baixa, olhos fechados, e as mãos posicionadas em oração. Marília era como um carvalho forte e resistente, que tinha suas raízes fincadas no chão, permanecendo por anos dessa maneira em uma exibição de força que Anne nunca vira igual.
A fé de Marilla também era comovente, e a ruivinha desejava ter metade da crença que ela tinha para conseguir rezar e se apoiar em sua religião, porém, Anne não conseguia se espelhar nela. A vida difícil que levara desde o seu nascimento acabara com boa parte de sua fé, e Anne achava difícil demais se ajoelhar e rezar por horas a fio, e depois ver o seu pedido sendo-lhe negado bem diante de seus olhos. A ruivinha acreditava em Deus, mas, às vezes achava que ser testada o tempo todo como ela fora por tantos anos era injusto. Sempre tentara agir certo, e ser uma boa pessoa, colocando em prática o que lhe fora ensinado no orfanato pelas freiras, e também por outras pessoas bondosas que passaram por sua vida, e tivera como pagamento uma cota de sofrimento maior do que conseguira suportar, e não achava que merecesse todos os infortúnios que lhe foram designados.
Ela estava cansada de ouvir as pessoas dizendo que a felicidade não era deste mundo, e que os caminhos do Criador eram tortuosos, e que era apenas através do sofrimento que a alma alcançava a graça divina. Ela não culpava Deus por toda dor que sofrera naquela sua curta caminhada, mas também, não conseguia ser grata por tê-la sentido. Porém, vendo Marilla tão arraigada em sua fé, Anne desejou que pudesse encontrar consolo na sua também.
- Amor, não acha que seria melhor ir para casa? Você e Rilla precisam descansar.- Gilbert disse em um tom baixo, pois estavam em um hospital, e também porque não queria acordar Rilla que dormia profundamente nos braços da mãe.
- Não posso ir para casa sem saber como Matthew está. - Anne disse no mesmo tom baixo que o dele, mostrando ali toda sua determinação e teimosia.
- Serão longas horas de espera sem sabermos quando teremos alguma informação concreta do caso de Matthew. - Gilbert estava preocupado com ela. Anne podia ver seus olhos castanhos aflitos, observá-la com atenção. Ela conhecia aquela expressão tensa que seu marido tentava esconder dela, pois desde que tivera suas crises depressivas, Anne sentia que Gilbert temia que ela tivesse uma recaída. No entanto, por mais que a angústia de tudo o que estava acontecendo com Matthew a deixasse baqueada, ela tinha razões suficientes para nunca mais deixar que sua alma alcançasse tal grau de infelicidade e desespero outra vez.
- Eu não consigo, Gilbert. Preciso estar perto dele para ter certeza de que nada pior vai acontecer.- eram absurdas aquelas palavras, Anne sabia. Estar ali não era garantia de que Matthew sairia ileso daquela situação, mas, mantinha sua cabeça no lugar, e sua esperança um pouco maior de que seu velho amigo lutaria pela vida e não abandonaria sua família.
- Marilla, você poderia segurar a Rilla por um instante?-Gilbert perguntou à boa mulher que tinha terminado sua oração, e se mantinha calada, e à espera de notícias do irmão, assim como Anne.
- Claro, Gilbert.- ela disse, pegando a garotinha do colo de Anne e a aninhando em seus braços.
- Venha comigo.- Gilbert sussurrou para Anne, segurando na mão dela e a puxando para fora do hospital.
Anne não queria deixar Marilla sozinha, mas a ideia de respirar ar puro longe daquele odor desagradável do hospital a convenceu quase imediatamente a seguir Gilbert para onde ele a queria levar. O jardim ainda era o mesmo das vezes em que estivera ali para visitar Gilbert, e as lembranças a atingiram como um furacão, fazendo seus olhos marejaram ao dizer a Gilbert:
- O passado parece que sempre retorna para me magoar. Por mais que eu me esforce para deixar tudo para trás, ele parece sempre bater em minha porta em um momento ou outro.- Gilbert a abraçou, e Anne deitou a cabeça em seu peito, pensando no quanto era bom que ele estivesse ali daquela vez, porque em todas as outras ela se sentira miseravelmente sozinha.
- Eu sei o quanto estar aqui novamente justamente em outra situação complicada deve mexer com você, mas, apenas se lembre que desta vez é diferente, e estou aqui com você. - o abraço de Gilbert era tão bom, assim como seu beijo na testa. Ela se sentia protegida daquele mundo que sempre a golpeara de todas as formas, se aproveitando de sua fragilidade, mas, em Gilbert estava sua força, seu escudo, sua esperança de que quando um novo dia nascesse, ela estaria bem de novo para voltar a lutar.
- Eu tenho medo que o Matthew não se recupere, Gilbert.- ela disse de repente, suas mãos afundadas nos cachos escuros, enquanto ainda sentia os lábios de Gilbert grudados na sua testa.
- Não deve pensar assim, Anne . Apesar da idade, Matthew é forte, e vai sair dessa - Gilbert disse, acariciando suas costas para acalmá-la.
- E se ele não sair? E se eu o perder, Gilbert?- ela prometeu que não ia chorar, mas naquele momento de extrema fragilidade, ela não conseguiu se controlar, e as lágrimas desceram por seu rosto feito uma tempestade impossível de conter.
- Amor, não fica assim. Deus! Eu odeio te ver chorar.- Gilbert disse quase numa súplica. Ele beijou todo o seu rosto, e estreitou o abraço, até que a crise de choro dela passasse. Mas, mesmo se sentindo mais aliviada, ela ainda ficou agarrada a Gilbert, ouvindo o coração dele bater contra seu ouvido, o perfume suavemente amadeirado que ele usava, e a maciez dos cabelos dele em seus dedos, fazendo-a se esquecer momentaneamente da sua angústia desejando que aquele pequenino minuto de paz durasse o resto da sua vida.
- Acho melhor voltarmos para dentro. Rilla pode ter acordado, e Marilla talvez precise de nós.- Gilbert disse, trazendo Anne de volta para sua realidade.
- Sim. Talvez já tenhamos notícias de Matthew.- Anne disse, tentando animar a si mesma.
Eles caminharam de volta para a sala de espera, onde Marilla e Rilla se encontravam. Felizmente a garotinha ainda dormia, enquanto Marilla afagava seus cachinhos ruivos de maneira bastante maternal, o que fez Anne pensar que Marilla merecia ter tido seus próprios filhos ao invés de se contentar em cuidar dos filhos de outras pessoas. Ela teria sido uma mãe maravilhosa, sem sombra de dúvidas.
- Alguma notícia? - Anne perguntou ansiosa.
- Ainda não.- Marilla respondeu desanimada.
Rilla estava de novo no colo da mãe, e assim permaneceu até que o médico que atendeu Matthew os procurou para atualizá-los sobre o estado do irmão de Marília.
- E então, doutor . Qual é o estado do meu irmão? - Marilla perguntou, apertando as mãos nervosamente.
- Bem, o paciente está estável, mas nós o sedamos para que ele pudesse ser examinado com mais calma. O que ele teve foi uma ameaça de infarto que não aconteceu felizmente, mas isso não o isenta de ter esse problema mais tarde.
- Podemos vê-lo?- Marilla perguntou.
- Infelizmente ainda não. Só liberarei as visitas depois de vinte quatro horas da primeira internação. - o médico disse, lançando um olhar de desculpas para eles, e se despediu dizendo.- Voltem amanhã, e poderão vê-lo.
-Obrigado- Gilbert disse e depois se voltando para Anne e Marilla o rapaz afirmou.
-É melhor irmos para casa e voltarmos amanhã . - tanto Marilla quanto Anne assentiram, e enquanto Gilbert dirigia de volta para a fazenda, Anne desejou que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo que acabaria em breve.
GILBERT
Anne finalmente dormia, e Gilbert vigiava seu sono depois de horas tentando convencê-la a descansar. Sua esposa continuava teimosa, e Gilbert não podia dizer que não gostava dessa faceta dela, pois fora a primeira coisa que notara nela e o fizera se apaixonar, além de sua inteligência incomum que sempre achara fascinante nela, e sua vontade obsessiva de provar do que era capaz, especialmente quando recebia um olhar de dúvida de alguém quanto à sua habilidade de realizar algo complicado ou difícil.
Depois de saber de toda sua história , Gilbert entendera a necessidade de Anne de competir com ele. Sua esposa jamais aceitara que alguém a olhasse de forma superior, especialmente porque era uma garota e órfã. Por anos, ela tivera que lutar contra esse tipo de pensamento preconceituoso, e passar por cima de qualquer insinuação que a fizesse se sentir menos importante do que era. Certamente não fora fácil, mas Anne conseguira provar o seu valor mesmo Gilbert pensando que ela não tinha necessidade de provar nada a ninguém. Anne tinha luz própria, e quando se mostrava ao mundo como era, se tornava completamente impossível não olhar para ela com admiração. Sua inteligência e valor iam além de qualquer feito que ela se propusesse a realizar, porque ela já tinha nascido para brilhar em qualquer lugar que fosse.
Gilbert tinha tanto orgulho de chamá-la de esposa, e se sentia imensamente sortudo por tê-la em sua vida, por que Anne Shirley Cuthbert Blythe fazia valer a pena até um pequeno ato como respirar.
Os anos juntos, mesmo não sendo tantos assim, o fizeram descobrir a verdadeira Anne. Ela era um arsenal de sentimentos conflitantes que muitas vezes entravam em guerra entre si. Anne sabia ser doce, provocante, ácida quando levada ao seu limite, apaixonada quando estava em seus braços, extremamente amorosa quando cuidava de Rilla, e uma companheira magnífica em qualquer situação. Essa era a mulher por quem ele estava apaixonado, e amava até a loucura. Um ser humano tão raro e difícil de se encontrar, complexo de se entender, mas tão fácil de se amar.
E tantas nuances diferentes em uma só pessoa era que a tornava tão inesquecível, e inspiradora, e por isso, Gilbert podia dizer que ninguém seria a mesma pessoa depois de conhecer Anne. Ela o transformara em alguém novo depois de fazê-lo enxergar o mundo através dos olhos dela, e viver a vida ao lado de Anne tinha com certeza um sabor inigualável.
Gilbert ajeitou os cabelos dela que caíram sobre seu rosto, e depois deitou-se ao lado dela, observando o seu leve ressonar. Ele ainda se preocupava com ela, na verdade, aquele sentimento era algo constante, porque depois de vê-la nas piores situações, Gilbert temia por sua saúde mental. Mesmo que Anne viesse provando diariamente que não era mais aquela garota com tendências depressivas, que o nascimento de Rilla levara embora todo aquele sentimento de negatividade que rondava seu subconsciente, o rapaz não conseguia ficar tranquilo a respeito dos sentimentos dela quando estavam em situações que demandavam um alto grau de controle psicológico, e exatamente naquele instante, eles estavam enfrentando mais um.
O jovem estudante de medicina sabia o quanto Anne tinha uma ligação profunda com Matthew. Embora não tivessem o mesmo sangue, a relação de pai e filha que desenvolveram desde que Anne fora morar em Green Gables era comovente , e se assemelhava muito com a que Gilbert tivera com seu próprio pai.
Perdê-lo a destruiria por dentro, e Gilbert conhecia bem a sensação, porque se sentira completamente perdido sem John Blythe nos primeiros meses do seu falecimento. O rapaz sentia que tinha perdido qualquer vínculo familiar que pudesse ter com sua própria casa, e por isso, ele tivera que ir para longe e tentar descobrir quem ele era e o que queria para sua vida.
Não desejava que isso acontecesse com Anne, embora ela tivesse mais apoio do que ele tivera na época. Gilbert queria que ela entendesse que mesmo que o pior acontecesse com Matthew, que ela sempre teria um lar em Green Gables para onde voltar, e uma vida enriquecida de amor e paixão ao lado dele que nunca acabaria enquanto estivessem nesse mundo.
Gilbert deu um último beijo na testa de Anne e a deixou descansando, pois ela quase não dormira à noite, e quando pegara no sono já era de madrugada, e como sabia que ela queria visitar o Matthew ainda naquele dia, Gilbert pretendia deixá-la dormir a quantidade de tempo que precisasse.
O rapaz saiu do quarto e foi até o de Rilla, que ao contrário da mãe dormira a noite toda, e ainda não havia acordado. Ele olhou para o rostinho angelical da filha, e sorriu, admirando seus traços parecidos com os de Anne. Ela com certeza fora uma benção na vida dos dois, apesar de toda dificuldade que envolvera seu nascimento, ela crescia forte e desabrochava como a florzinha que Matthew a apelidara. E tudo isso era mérito de Anne que insistira tanto na concepção e na gestação de Rilla, pois muitas vezes Gilbert sofrera com a ideia de que era melhor que ela não nascesse porque não suportaria perder Anne. Muitas vezes, após o nascimento de sua bebezinha, ele pedira perdão silenciosamente à Rilla pelos seus pensamentos conturbados na época, pois nenhum deles foram por falta de amor a ela a quem se apaixonara profundamente mesmo antes de saber a cor dos seus olhinhos lindos, e a forma dos seus cachinhos ruivos. No entanto, a tensão daqueles dias não o deixaram pensar direito, e o terror de saber que a mulher que amava poderia ser retirada dele pelo sonho mais acalentado pelos dois, Gilbert covardemente optara pelo caminho mais fácil. Ele não quis lutar a mesma batalha que Anne, e ela lhe dera uma lição de força e coragem que ele nunca tinha visto em ninguém. Sua esposa era uma guerreira, e ele aprendia a cada dia a ser um pouco mais forte por causa dela, e Rilla seria como ela, Gilbert tinha plena certeza disso.
Deste modo, ele deixou sua princesinha dormindo e desceu as escadas, indo em direção à cozinha onde ouvia ruídos de gente trabalhando. Aquela hora, Mary já estava de pé, pois Sebastian começava cedo sua lida diária na fazenda, antes mesmo do sol nascer e o café da manhã acabava sendo preparado de madrugada por Mary.
- Gilbert, já se levantou? Como está a Anne?- Mary perguntou, olhando-o de forma maternal que o rapaz apreciava demais. Até ela se casar com Sebastian, Gilbert não sabia o que era ser cuidado por uma mãe, e Mary lhe dedicara todo o tempo e atenção dos quais ele sempre sentiu falta, pois tivera que aprender a cuidar de si mesmo muito cedo. No entanto, foi tão fácil se acostumar a alegria e energia de Mary, que de muitas maneiras lhe lembrava Anne. Eram duas mulheres tão diferentes, mas se igualavam em força e paixão, e ele amava as duas, uma como um filho zeloso e dedicado e a outra como um homem que precisava dela como uma bússola que o levasse para onde precisasse ir com seus pés no chão.
- Ela está dormindo agora, mas passou muitas horas inquietas até que conseguisse realmente relaxar.- ele disse, se sentando à mesa e aceitando xícara de café que Mary colocou diante dele.
- Você se preocupa com ela.- era uma afirmativa tão verdadeira que ele não poderia dizer que Mary estava enganada.
- Eu não consigo não me preocupar, por mais que eu tente. Você sabe porque.- ele disse, tomando seu café devagar.
- Anne é mãe agora, Gilbert. Não acha que com tudo o que aconteceu, ela se fortaleceu por dentro? Ela não é mais aquela garota fragilizada que conhecemos no passado.
- Eu sei que você tem razão, Mary. Mas, não consigo esquecer aqueles meses terríveis quando recuperei minha memória e Anne parecia morta por dentro, e as crises dela em Nova Iorque, a gravidez difícil e o coma depois do parto. Todas essas lembranças não me deixam em paz, e por isso, que eu tenho medo quando a vejo tão tensa quanto ontem. - Ele colocou a xícara vazia sobre a mesa e recusou o pedaço de bolo de milho que Mary lhe ofereceu.
- Não a trate como se ela fosse de vidro e pudesse se quebrar a qualquer momento. Anne pode enganar muito com aquele corpo esguio e rosto angelical, mas aquela garota é valente e não se dobra fácil.- Mary disse colocando a mão por cima da dele que estava apoiada na mesa.
- Talvez eu a esteja subestimando. - Gilbert disse balançando a cabeça. Ele tinha fé em Anne, mas, a mente tinha formas de brincar com o psicológico de alguém, e mesmo pessoas mais fortes poderiam sucumbir às suas próprias neuroses .
- Tente não se preocupar tanto. Anne vai ficar bem.- Mary disse, sorrindo largamente.
- Vou tentar. - Ele respondeu, se levantando da mesa, beijando Mary no rosto e voltando ao quarto para fazer companhia a Anne.
Assim que se deitou na cama, ele sentiu um toque suave em suas costas e se virou para encarar o olhar azul de sua esposa que lhe perguntou:
- Por que já está acordado? Eu atrapalhei seu sono com minha dificuldade para dormir?- aquela preocupação dela era tão doce, que que fez Gilbert acariciar o rosto dela com o polegar e dizer:
- É claro que não. Eu também não consegui dormir muito bem, e acabei indo até a cozinha onde conversei um pouco com Mary. Você sabe que ela levanta antes que todo mundo.
- Por que não conseguiu dormir?- Anne acariciou os cabelos dele, fazendo Gilbert fechar os olhos, pois ele adorava o toque dos dedos dela em seus fios encaracolados.
- Eu estava preocupado.
- Comigo?- ele abriu os olhos e viu a expressão apreensiva no rosto de Anne. Não saberia mentir para ela de forma nenhuma.
- Sim. Você sabe que eu me preocupo.
- Mas, não deveria. Eu estou bem.- Anne encostou sua testa na dele, e Gilbert aproximou mais seu corpo do dela.
- Você está sempre em meus pensamentos. Não consigo evitar.
- Ainda tem aqueles pesadelos?- ela perguntou, enterrando suas mãos na nuca dele.
- Não, mas isso não quer dizer que superei tudo pelo que passamos. Eu simplesmente odeio essa parte minha tão covarde. - Ele disse aborrecido consigo mesmo.
- Você não é covarde. Nunca mais diga isso.- Anne colocou seus dedos nos lábios dele.- Amo que se preocupe comigo, mas, não a ponto de perder o sono por minha causa .
- Eu sei. Não é sua culpa, amor. Sou eu que tenho que lidar com minhas próprias inseguranças. Prometo que vou tentar melhorar isso.- ele disse, beijando-a de leve nos lábios.
- Amo isso em você também, porque não há nada em você que eu não considere perfeito.
- Eu não sou perfeito, Anne.
- Para mim você é. Obrigada por cuidar tão bem de mim. Sem você nessa situação toda com o Matthew eu ficaria maluca.- Anne disse, afundando o rosto no ombro dele.
- Ele vai ficar bem. Vamos confiar no melhor .- Gilbert disse consolando-a em um abraço apertado.
- Acha que vamos poder vê-lo hoje?- ela perguntou olhando-o nos olhos.
- Sim. O médico disse que após vinte quatro horas da internação do paciente as visitas são permitidas.
- Eu ainda tenho medo, Gilbert.- Anne disse, deitando a cabeça no peito do rapaz.
- Não precisa ter medo. Vai ficar tudo bem.- ele passou a mão de leve pelos cabelos de Anne. Gilbert detestava vê-la tão frágil, mas também adorava poder cuidar dela, principalmente no momento em que estavam vivendo.
- Você tem me dito isso desde ontem.- Anne disse suspirando.
- Não acredita mais em mim?- ele perguntou com um meio sorriso.
- É claro que acredito, mas, o bem estar de Matthew não é algo que você possa me garantir. Eu sei que quer me manter tranquila, e te agradeço por isso. Mas, a verdade é que não sabemos como ele vai ficar até que o médico nos diga ou possamos ver com nossos olhos.
- Tenha um pouco mais de paciência, e em mais algumas horas vamos poder vê-lo.- Gilbert disse , olhando-a com carinho. Anne assentiu dando -lhe um beijo no rosto, e em seguida, ela ficou calada perdida em seus próprios pensamentos, e Gilbert prometeu que faria de tudo para que ela ficasse bem.
GILBERT E ANNE
A poucas horas de ver Matthew, Anne se sentia nervosa, pois não sabia como encontraria seu velho amigo. Gilbert a vinha acalmando desde o dia anterior, e ela não podia deixar de amá-lo mais por isso.
Seu marido fazia de tudo para que ela se sentisse confortável, e não sofresse demais com o baque do tempo de espera por notícias, e ela realmente não sabia o que faria se ele não estivesse ali. Provavelmente estaria descabelado, ou tendo um ataque de histeria, porque sua ansiedade tinha voltado com força total.
Nos últimos meses após se recuperar do parto difícil de Rilla, ela vinha sendo cercada de uma calmaria emocional com a qual se acostumar mais rápido do que pensara, no entanto, ela devia saber que isso não duraria tanto tempo assim.
Para diminuir sua apreensão, assim que se levantou, Anne tomou o café da manhã em companhia de Gilbert, lavou a louça suja,e depois foi cuidar de Rilla que chorava no andar de cima.
A garotinha estava adorável com seus cachinhos bagunçados igual os do pai quando acordava. Ela parou de chorar assim que viu a mãe, e seu rostinho se iluminou em um sorriso infantil que derreteu o coração de Anne de tanto amor por aquela bebezinha tão delicada que era seu maior e melhor feito na vida.
Rilla lhe mostrara um outro lado do amor, aquele abnegado que não conhece limites e que vai mais longe que qualquer outro tipo de sentimento. O nascimento dela fez Anne entender que daria qualquer coisa pela felicidade de sua filha, assim como faria pela de seu marido. Ser mãe era uma dádiva, e um condição permanente de se preocupar com os filhos até na fase adulta, porque protegê-los era tanto uma missão quanto uma aceitação de que a maternidade era para sempre e não somente em uma determinada fase da vida.
Anne deu banho na garotinha e depois a vestiu com um vestido azul, sapatinhos brancos, e nos cabelos da menina, Anne colocou uma tiara com um laço branco de cetim.
Quando voltou para o andar de baixo pronta para ir ao hospital, Gilbert a esperava com as chaves do carro na mão e um olhar preocupado no rosto, que Anne decidiu ignorar, pois sabia que enquanto aquela situação não melhorasse, ele não sossegaria. A aborrecia um pouco que Gilbert não confiasse nela em situações de risco, mas, ela entendia que o rapaz tinha suas razões para se sentir assim. Não fora fácil para Gilbert lidar com todas as suas fases ruins, e o trauma de todos aqueles momentos ainda estavam presente entre eles, mesmo que camuflados pelo nível de felicidade que tinham alcançado após o nascimento de Rilla.
Anne gostava de ter Gilbert a seu lado, e valorizava todo o apoio que ele lhe dava, mas às vezes, ela apenas desejava que ele não a olhasse como se fosse se partir em mil pedaços na frente dele, pois tal pensamento a fazia se sentir fragilizada e não lhe agradava aquela sensação.
-Você está bem?- ele perguntou, beijando-a na testa e depois fazendo um carinho na cabeça de Rilla.
- Eu estou ótima. Nós já podemos ir?- ela perguntou sentindo-se ansiosa para ver Matthew.
- Podemos sim. Marilla está à nossa espera em Green Gables, e depois iremos direto para o hospital. - Gilbert explicou, e Anne concordou com os planos dele.
Em pouco tempo já estavam na fazenda dos Cuthberts. Marilla apareceu na porta assim que Gilbert estacionou o carro, e caminhou apressada em direção a eles. Após cumprimentar Anne e Gilbert com um beijo no rosto, e Rilla com um carinho em suas bochechas, Marilla se sentou no banco do passageiro, totalmente calada, e Anne observou que ela parecia um pouco pálida, mas seus cabelos estavam arrumados em seu coque costumeiro, e suas roupas ainda conservavam a austeridade de antes, pois os anos poderiam passar, mas Marilla Cuthbert continuava a mesma.
Logo o hospital surgiu no campo de visão de Anne, e de novo a apreensão começou a sufocá-la, porém, ela controlou seu nervosismo, pois não queria preocupar Gilbert mais do que ele já estava preocupado. Ao chegarem na recepção, Gilbert perguntou:
-Viemos ver Matthew Cuthbert. As visitas estão liberadas?
- Sim, o paciente já está acordado e o médico falará com vocês mais tarde, pois nesse instante, ele está em cirurgia.- uma das recepcionistas explicou a Gilbert, fazendo uma anotação no prontuário de visitas.
O jovem estudante se virou para Anne e disse:
- Acho que seria melhor você vê-lo primeiro.
- Tudo bem para você?- Anne perguntou para Marilla.
- Sim, minha querida. - Marilla respondeu assentindo.
- Volto logo.- ela disse, beijando Gilbert nos lábios.
Andando pelos corredores brancos, Anne não pôde deixar de lembrar das outras vezes que estivera ali e no hospital de Nova Iorque, mas tratou de tirar de sua mente todos esses pensamentos, pois não queria ser influenciada pelo negativismo deles. Ela olhou para Rilla que a encarava com seus olhinhos inocentes, e lamentou que sua garotinha tivesse que passar por algo assim em tão tenra idade. Anne alcançou o quarto de Matthew e respirou fundo antes entrar, pois não sabia em que condições o encontraria. Para seu alívio, o bom homem estava acordado, e sua face pálida se iluminou ao ver Anne e Rilla.
- Oi, minha querida. E essa florzinha linda? Como está?- Anne se aproximou com seus olhos já marejando de alívio, e também de tristeza ao ver seu velho amigo preso em uma cama de hospital que não combinava com ele de forma nenhuma. Ela se aproximou da cama de Matthew que lhe sorriu tristemente ao ver sua expressão de choro.
- Não fique assim, Anne. Eu estou bem. Ainda não estou pronto para deixar vocês.
- Não fale assim, Matthew.- Anne se sentou na poltrona perto da cama, ajeitou Rilla em seu colo, e pegou na mão de Matthew antes de continuar:- Eu nunca vou estar preparada para isso. Para mim, você poderia viver para sempre.
- Por mais que eu ame essa vida, você sabe que um dia terei que partir como todo mundo. É a lei natural da vida.- ele respondeu, beijando a palma da mão de Anne.
- Eu não consigo aceitar isso, Matthew. Você é importante demais para todos nós.- Anne respondeu, enquanto duas lágrimas grandes rolavam pelo seu rosto suavemente.
- Você é meu orgulho. Sabe disso, não é? Não quero que fique triste ou se desespere por minha causa. Você tem sua vida, está construindo sua família com o homem que escolheu e merece ser feliz. Eu ainda me lembro quando você veio para Green Gables e me apaixonei imediatamente por esse rostinho ladino. Minha garotinha inteligente, tão ansiosa para agradar e ser amada, e olha só para tudo o que conquistou com seu próprio esforço e dedicação. Gilbert tem muita sorte de ter você.- Anne apertou a mão de Matthew antes de responder:
- Eu é que tenho sorte de ter Gilbert a meu lado. Ele tem sido um marido e um pai incrível.
- Você está feliz, meu amor? - Matthew perguntou, olhando-a com carinho.
- Sim, me sinto muito feliz. Principalmente agora que sou mãe. - Anne respondeu sorrindo entre as lágrimas.
- Que bom. Isso sempre foi fonte de grande preocupação para mim. Agora, me dê essa princesinha linda, que o vovô Matthew está com muitas saudades.- ele disse estendendo os braços para Rilla que foi para o colo dele sem reclamar.
Enquanto o via brincar com sua filha, um sentimento de alívio a invadiu, mas, não conseguia tirar da cabeça as palavras dele sobre um dia ter que partir. Era óbvio que ela sabia disso, pois ninguém vivia eternamente, porém, foi a primeira vez em tempos que pensou realmente nessa possibilidade, e a cada ano que passava, tanto Matthew como Marilla estavam envelhecendo e a vida ia -lhes sendo roubada um pouco mais a cada dia.
Seu tempo com Matthew acabou, e depois de prometer que voltaria no dia seguinte para visitá-lo, Anne retornou para a sala de espera.
- Tudo bem?- Gilbert perguntou com um sorriso fraco.
- Está sim.- Anne respondeu e depois se voltou para Marilla, ela disse:- Ele está à sua espera.
Assim, Anne ficou em companhia de Gilbert até que Marilla voltasse e o rapaz tivesse um tempo com o bom senhor. Antes de irem para casa, o médico apareceu e explicou que Matthew estava bem, mas precisaria ficar mais alguns dias hospitalizado em observação, e assim, nada mais restou aos visitantes a não ser deixar o hospital, tristes por não poderem levar Matthew com eles.
Enquanto dirigia para a fazenda, depois de ter deixado Marilla em Green Gables, Gilbert observava o comportamento retraído de Anne. Ele não via com bons olhos aquele silêncio dela, por isso tratou de quebrá-lo no momento em que estacionou o carro na frente de casa.
-O que está te incomodando?
- Nada. Eu só estava pensando.- Anne disse, sem encará-lo, enquanto ajeitava Rilla adormecida em seus braços.
- Sobre o que exatamente?- ele insistiu, e Anne o olhou antes de responder:
- Acho que não quero mais voltar para Nova Iorque.
- Você só pode estar brincando.- Gilbert disse, sem acreditar no que acabara de ouvir.
- Não, eu estou falando sério. Andei pensando, e não acho justo deixar Matthew e Marilla sozinhos. Eles estão envelhecendo e não quero mais ficar longe deles. Não é justo depois de tudo o que fizeram por mim.
- Você esqueceu que temos uma vida em Nova Iorque? Que estamos na faculdade e tudo o que construímos juntos? Vai desistir de tudo assim de repente?- Gilbert estava ficando cada vez mais exaltado, mas estava tentando controlar sua indignação para não discutir com Anne.
- Eu posso me transferir para a faculdade daqui.- ela disse desviando o olhar do dele, e encarando a paisagem fora do carro.
- E eu? Eu não posso desistir da minha bolsa que lutei tanto para conseguir.
- Eu não estou te pedindo para desistir de nada.- Anne respondeu, baixando a cabeça.
- Então, o que sugere? Que eu volte para Nova Iorque sozinho?- Ele disse irritado, e quando Anne não respondeu, ele soube que era exatamente isso que ela tinha pensado.- Eu não acredito que quer fazer isso com a gente. - Gilbert disse, sentindo-se desesperado por dentro.- Eu não vou voltar sem você. Nós somos casados, e temos uma filha, Anne. Você me disse que eu era seu lar, e que se sentiria feliz em qualquer lugar comigo, e agora simplesmente você quer se separar de mim.- as últimas palavras foram ditas quase em um lamento, que fez Anne olhar para Gilbert, segurar em sua mão e dizer:
- Eu não quero me separar de você.
- Mas, é o que vai acontecer se você ficar aqui e eu em Nova Iorque. Eu não quero te ver só nos fins de semana, e não quero ficar longe de você e de Rilla um dia sequer.
- Por que a gente não entra e conversa melhor lá dentro?- Anne perguntou, detestando ver o olhar magoado de Gilbert. De todas as pessoas do mundo, ele era a única que não queria magoar de forma nenhuma, porém, seus sentimentos contraditórios a estavam machucando por dentro, e precisava da coerência de seu marido para colocá-los no lugar. Não fora assim que planejara conversar com ele. Na verdade, não tinha pensado em nada daquilo direito até Gilbert começar a deduzir as coisas. Precisava de calma para poder pensar melhor, mas com o olhar de Gilbert sobre ela, não estava conseguindo.
- Entra você, eu vou ficar mais um pouco aqui fora. Preciso pensar.- ele disse seco, e Anne ia protestar, mas achou melhor não fazê-lo. Gilbert estava com aquela expressão impenetrável que não deixava ninguém se aproximar dele, e assim ela respondeu:
- Está bem. Eu te espero lá dentro.
Deste modo, Anne saiu do carro e foi para dentro de casa, que estava completamente silenciosa, pois ao que tudo parecia, Mary e Sebastian tinham saído com Shirley.
Assim, ela colocou Rilla no berço dela, tomou um banho relaxante, pois estava com todos os seus músculos tensos, e quando saiu do chuveiro vestindo apenas um roupão, Anne foi até a janela, e observou que Gilbert ainda estava dentro do carro e sua expressão parecia zangada. Suspirando, ela tirou o roupão, hidratou a pele, e vestiu uma camisola, pois tinha a intenção de descansar um pouco antes do jantar. No momento em que estava ajeitando o travesseiro, Gilbert entrou no quarto sem dirigir-lhe a palavra, e começou a se despir. Primeiro, ele tirou a camisa, e quando se sentou na cama para desamarrar os sapatos, Anne se aproximou dele, e deslizando a mãos devagar pelas costas dele, ela disse:
- Não fica bravo comigo.- Ele não respondeu, e então, ela se aproximou um pouco mais, beijando-o no rosto.- Eu não quis te magoar, me perdoa.- ele continuou em silêncio, mas, Anne percebeu que ele engolia em seco, o que queria dizer que ela já estava começando a mexer com ele, e por isso, ela insistiu ao dizer:- Eu te amo tanto.- Anne segurou o rosto dele com as duas mãos e o beijou com vontade. A princípio, Gilbert parecia que não ia corresponder, mas, depois com um gemido abafado, ele a puxou para seu colo e esmagou os lábios dela com o dele em uma paixão enorme e quente. Logo, as mãos dele desceram a alça da camisola de Anne, e abandonando os lábios dela, Gilbert deixou uma pequena mordida em seu queixo, passou a ponta da língua por todo o seu pescoço, distribuindo pequenos beijos por seu colo e quando chegou aos seios, ele beijou e sugou a ambos deixando o corpo de Anne elétrico e desejando mais. Ele continuava bravo, Anne podia ver a expressão séria no rosto dele, mas também podia perceber seus olhos castanhos escuros de desejo, e a fúria com que ele beijava todas as partes de sua pele como se quisesse deixá-la marcada com seu toque. Ela nunca fizera amor com Gilbert em um momento em que ele estivesse zangado com ela. No entanto, ela podia sentir que a intensidade dele em amá-la era maior, e ela não queria que Gilbert parasse, pois as sensações que ele estava provocando eram tão selvagens em seu íntimo, que ela sentia a mesma urgência que ele em fazer amor de um jeito que os levava a um ponto de excitação extrema, muito maior que tudo que já haviam experimentado juntos. Ele despiu sua lingerie, e ela o ajudou a tirar o resto da roupas, e então, ele se deitou na cama, colocando Anne por cima dele, prendendo as pernas dela entre as dele, onde Anne podia sentir o quanto ele a queria, fazendo-a desejá-lo na mesma medida. Seus corpos se encaixavam tão bem, assim como seus movimentos eram sincronizados como se fossem combinados para se moverem assim pelos seus próprios instintos. Anne brincou com a pele do pescoço masculino por alguns instantes, ouvindo Gilbert gemer baixinho e apertar sua cintura com força. Ela então serpenteou sobre o corpo dele, mapeando cada local da pele dele com seus beijos, e quando voltou a sentir os lábios de Gilbert sobre os seus, ambos estavam ofegantes e cada vez mais excitados. Anne sentiu cada parte sua se arrepiar, enquanto seus dedos apertavam tanto os músculos dos braços que ela quase tinha certeza que ficariam marcas de suas unhas. Gilbert trocou de posição, e Anne ficou por baixo dele. Seus corpos estavam tão quentes que Gilbert começou a transpirar com a força do que estava sentindo naquele momento. Ele e Anne não disseram uma palavra um ao outro, mas a troca de olhares era intensa, e eles sabiam exatamente o que estavam provocando um no outro.
Quando ele entrara naquele quarto depois de quase ter discutido com Anne, ele não pretendia sequer tocá-la, pois sua raiva estava forte demais, porém, bastou ela beijá-lo para ele perder o controle, e ali estava ele, completamente vidrado nela, em seus movimentos, em seus toques e em seus beijos. Ele não conseguia resistir, e na verdade, nem tentava escapar dos encantos daquela mulher que o tinha completamente nas mãos e sabia disso muito bem. Seu corpo apenas obedecia ao comando de sua esposa, que fazia com ele o que desejava. Ele era louco por ela, e o desejo que sempre sentira desde a primeira vez que a tocara nunca o abandonara.
Assim, ele mergulhou naquele corpo deslumbrante toda a sua fúria e paixão, e quando ouviu Anne implorar que a possuísse, ele obedeceu, e de seus lábios um suspiro longo se ouviu por todo o quarto, assim como Anne se movimentava cada vez mais rápido, louca para chegar ao êxtase que sempre acompanhava esses momentos de completa entrega dos dois, provando-lhe mais uma vez que fazer amor com seu marido era a melhor coisa do mundo .
O prazer explodiu em ondas, e quando seus corpos completamente suados pareciam não querer se desgrudar mais, Anne disse com a voz rouca:
- Me lembre de deixá-lo bravo outras vezes. Isso foi incrível.- Gilbert concordou, beijando-a com paixão, e depois disse:
- Eu não posso ficar sem você. Por favor, querida, não me peça isso.- Gilbert disse entre seus cabelos.
- Nós nunca vamos ficar separados. Me desculpa se o fiz pensar que queria isso. Eu só estava me sentindo culpada por não estar aqui para cuidar de Matthew e Marilla, mas, eu sei que minha vida é do seu lado e nunca vou desejar outra coisa.- ela disse afastando os cachinhos suados da testa dele.
- Eu vou tentar resolver essa situação de algum jeito, eu prometo.- Gilbert disse, beijando-a nos lábios, e em agradecimento por suas palavras, Anne sorriu com seus olhos transbordando de tudo que sempre sentiria por aquele rapaz tão singular.
- Acho que preciso de outro banho. Estou completamente suada.
- Quer companhia?- Gilbert disse, acariciando suas costas nuas.
- Eu ia sugerir exatamente isso.- Anne disse rindo, e enquanto Gilbert a carregava no colo para o banheiro, ela suspirou feliz, porque tudo entre eles ter acabado do jeito que ela mais amava, cheio de amor, paixão e cumplicidade.
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