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Capítulo 131-Entre dois mundos

Olá, pessoal. Nesse capítulo, eu quis deixar explícito o lado mais sensível de Gilbert diante dos acontecimentos do passado e mais recente. Espero que tenha conseguido dar o tom certo a cada sentimento do personagem. Beijos. Rosana


GILBERT

Gilbert se sentou na cama de forma desesperada, seus cabelos empapados de suor, cujos fios grudavam em sua testa, os olhos arregalados tentando se acostumar com a escuridão e acabar com a paralisia de seus membros causados pelo terror noturno de um pesadelo que se repetia a semanas. Ele olhou para o travesseiro a seu lado e não viu Anne, e momentaneamente, o pânico o fez sentir palpitações em seu peito, e ele levou a mão direita ao seu coração, em uma tentativa de fazer com que batesse mais devagar, mas falhando ao perceber que as vibrações negativas do sonho ainda estavam em seu organismo.

Sem pensar direito, ele projetou o corpo para fora da cama, e meio cambaleante Gilbert caminhou até a porta, alcançando o corredor que o levou direto para o quarto de Rilla, onde ele suspirou aliviado ao ver Anne na cadeira de balanço, amamentando sua garotinha que em dois meses já tinha crescido vários centímetros, e fitava com os olhos sonolentos o rosto de Anne que lhe sorria e fazia um carinho em sua bochecha com o polegar.

Era uma cena doce em contraste com o pesadelo que tivera, assim, ele cruzou os braços em frente ao seu peito nu, e ficou a observar as duas mulheres de sua vida que significavam seu mundo inteiro.

Anne vinha se recuperando bem. Depois de dois meses após o parto que a deixara bastante debilitada física e emocionalmente, podia-se dizer que ela estava de volta a sua antiga forma . Ela voltara a sorrir com aquele brilho que a tornava perfeita de todas as formas, e ele já estava feito um bobo de novo, babando por ela como se já não conhecesse cada pedacinho daquele corpo e daquela alma.

Talvez a eminência de perdê-la o tivesse feito ver o seu relacionamento com Anne de todos os ângulos, pois naqueles dias em que ela perambulava pelo vale da inconsciência, ele revivera cada capítulo da história deles, como se estivesse relendo um livro que lhe fora tão precioso e precisara ser novamente apreciado em cada linha ou palavra, e então, Gilbert se dera conta de como a história de ambos era linda, mesmo com tanta luta, desencontros, mágoas e sofrimento, ele não mudaria uma vírgula de tudo que vivera com Anne, porque eles caíram e se levantaram muitas vezes durante aquele tempo juntos, e sempre estiveram prontos para a próxima batalha confiantes e cheios de sentimentos um pelo outro.

Dúvidas eles tiveram muitas, fragilidades foram expostas a quem quisesse ver, mas, o amor, esse permanecera intacto por todo o caminho, e fora o principal combustível de cada vitória que conquistaram juntos.

Quem diria que o garoto idealista se transformaria em um homem tão rápido? Quem diria que seus sonhos juvenis tivessem dado espaço a uma outra realidade melhor e mais sólida? Ele tinha orgulho de tudo o que conquistara, e sabia que ainda tinha muita coisa para viver junto a mulher que fora a responsável por sua transformação.

Talvez Bash tivesse mesmo razão quando lhe dissera que tudo o que acontece conosco tem um motivo, e pensando em cada passo que dera até chegar ali, Gilbert percebia como cada situação fora importante para seu crescimento desde que seu pai partira desse mundo e ele ficara responsável por si mesmo. Ele apenas esperava que seu pai, onde quer que estivesse também estivesse orgulhoso do que ele se tornara.

Gilbert continuou observando Anne, enquanto ela falava com Rilla, porém, sua voz estava em um tom tão baixo que ele não conseguia ouvir o que ela dizia, mas, seu carinho e amor maternal estavam lá, e a garotinha a olhava fascinada como se a mulher que acariciava seu rostinho com cuidado fosse uma espécie de divindade que merecesse ser adorada em toda a sua essência.

O rapaz pensou nos pesadelos que vinha tendo desde o dia em que Anne voltara para casa, e ele sabia que eram consequência de seu pavor de perdê-la naqueles dias que foram os piores de sua vida, e mesmo agora que ela estava sã e salva e embaixo de suas asas protetoras de novo, Gilbert não conseguia sentir segurança ou o alívio que deveria ter por saber que tudo tinha acabado bem, apesar dos pesares.

Por isso, era que nunca a perdia de vista agora, quando estavam em casa, e quando estava no trabalho, ele contava as horas para estar com ela de novo, para ter certeza de que não fora só um sonho e que Anne voltara para vida definitivamente.

Ele andara conversando com o Dr. Spencer a respeito desses seus sentimentos, e tudo o que ele lhe dissera fora que a maneira como estava se sentindo era normal diante das circunstâncias, pois ele vivera uma situação traumática que lhe trouxera consequências dolorosas, e aquela sensação de uma falsa segurança que poderia desmoronar de uma hora para outra iria passar, e tudo o que ele precisava fazer era dar tempo a si mesmo para que as feridas pudessem se cicatrizar.

Porém, aquela situação já se arrastava a dois meses, e Gilbert tentava esconder de Anne esse seu estado diário de temor, mas, ele sabia que ela percebia, somente era sensível demais a condição dele para não comentar.

As perdas que ele tivera ao longo da sua jovem vida também eram responsáveis por esse seu desequilíbrio emocional, pois ele nunca lidara de fato com a morte da mãe que permanecera como um espectro nas sombras de sua mente, assombrando-o durante sua infância. Depois, ele se recusara a se permitir ficar de luto pelo pai, o que teria sido importante para que ele terminasse com seu processo de revolta por tê-lo perdido como perdera, e por fim, seu filho morto sem que ele conhecesse, e pelo qual não pudera prantear, pois precisara ser forte para cuidar de Anne que estava em condições bem piores que as suas. Tantas tristezas e mágoas mal resolvidas agora estavam cobrando seu preço, e o fizeram ter consciência de que não era um super homem, e que também podia ser atingido pelas coisas ao seu redor, e se pensasse na bala que o ferira quando salvara a vida de Anne, aquilo não fora nada comparado com as sensações que eram capazes de fazê-lo suar profusamente, mesmo que o dia não estivesse tão quente assim.

Naquele momento, Anne se virou e o viu observando-a com seu olhar apaixonado e disse baixinho, enquanto embalava Rilla nos braços que ainda não tinha voltado a dormir, e tinha suas mãozinhas apoiadas no peito da mãe.

- Eu não vi que estava aí.

- Não quis atrapalhar essa cena tão linda. Amo ver vocês duas juntas. – Ele disse também baixinho, não desejando assustar Rilla que começara a fechar seus olhinhos castanhos que pesavam de sono.

- Venha se juntar a nós. – Anne disse com um sorriso encorajador, ao qual ele não pôde resistir, e logo se pôs a caminhar em direção à mulher linda que não tirava os olhos dos seus.

Próximo dela, Gilbert se abaixou perto da poltrona na qual Anne estava sentada, a abraçou pelo ombro, encostando sua cabeça na dela enquanto seus olhos se fixavam em Rilla que agora estava praticamente adormecida e seu coração se derreteu mais uma vez pela beleza da filha que era uma cópia perfeita da mãe.

- Parece exausto, meu amor. Não conseguiu dormir direito de novo?- ela perguntou, adentrando seus dedos nas mechas dos cabelos macios dele, fazendo Gilbert fechar os olhos suspirando pelo prazer que aquele ato lhe dava.

- Não.- ele respondeu ainda de olhos fechados , se enrodilhado naquela carícia como se fosse um garotinho necessitado de afeto.

- Não acha que deveria procurar um médico? Faz semanas que não descansa como se deve.- a voz preocupada dela o fez abrir os olhos e responder:

- Já falei com o Dr. Spencer, e ele me disse que preciso apenas relaxar e com o tempo tudo vai ficar bem.- Gilbert não queria discutir com ela sobre aquele assunto que a envolvia diretamente, mesmo sabendo que ela devia desconfiar da causa se sua tensão durante aqueles dois meses.

- Você sabe que me preocupo, amor. Além do mais você anda estudando e trabalhando demais, e não acho que isso seja bom para sua saúde. - as mãos dela estavam em sua nuca agora. Deus! Aquilo era tão bom. Como sentira falta daquelas mãos macias que sempre lhe faziam um cafuné gostoso, e o deixavam totalmente relaxado.

- Você também tem dado duro. – Gilbert disse, acariciando o ombro dela enquanto enchia os olhos com a visão daquele rosto delicado.

Anne voltara para a Faculdade depois de um mês do nascimento de Rilla, e embora tivessem um pequeno impasse no começo, porque Anne não aceitava deixar a pequena com uma babá, ela mesma resolveu o problema ao ter uma ideia fantástica que não só a ajudaria como a várias outras mulheres que eram mães e não queriam deixar seus pequenos com outras pessoas.

Anne conversou com o reitor da faculdade, e conseguiu com que eles disponibilizassem uma sala com todos os apetrechos de um berçário, onde os bebês pudessem ficar enquanto suas mães tivessem que estudar, e onde elas também podiam amamentá-los nos horários certos.

Apesar de alguns empecilhos no início, pois a Faculdade não queria arcar com as despesas de ter que contratar um novo pessoal para cuidar dos bebês, Anne conseguiu que algumas meninas que estudavam enfermagem, e que precisavam fazer estágio na ala infantil fossem contratadas sem custo nenhum para a faculdade, que além de ganharem experiência nessa área, lhes daria um desconto na mensalidade para as que não tinham bolsa de estudos, e então problema fora resolvido..

Quando Anne lhe contara sobre a ideia, Gilbert não duvidava nem por um segundo que ela conseguiria, pois quando sua ruivinha colocava algo na cabeça ninguém tirava. E quando ela voltara triunfante para casa, contando-lhe toda feliz que o reitor tinha adorado sua iniciativa e permitido que a tal sala fosse enfim criada , ele apenas lhe dissera com um sorriso cheio de amor:

- Sempre soube que conseguiria.

Ela mesma ajudara decorar a sala, que ficara incrivelmente harmoniosa com almofadas coloridas por todos os lados, papel de parede cheio de temas infantis, bercinhos com bichinhos de pelúcia, travesseiros bordados a mão, pela própria Anne que se divertira muitas noites com aquele trabalho, o qual sempre achara tedioso na adolescência, mas que ganhara um novo encanto para ela que vira isso como um presente para Rilla, e a outras crianças que ficariam menos tempo longe de suas mães.

Logo, Rilla se tornara a sensação da faculdade, todo mundo desejava ter nos braços a sua princesinha. Gilbert não queria admitir, mas, morria de ciúmes da pequena que tinha apenas dois meses e era uma verdadeira bonequinha, atraindo a atenção de todo mundo que a visse. Anne o chamava de pai babão, e embora negasse que não era tão fissurado assim naquele anjinho de cachinhos ruivos, lá no fundo de seu coração, ele se derretia todo por ela.

Outra coisa que sempre lhe vinha à mente, depois que Anne falara sobre isso, era o seu primeiro filho perdido. Antes, ele nunca se permitira pensar em como ele teria sido, pois achava aquilo sofrimento demais, uma vez que nunca teria como comprovar se sua imaginação faria jus a realidade. No entanto, quando ela voltara do coma, ela lhe contara que o conhecera, descrevendo-o para ele, dizendo-lhe até o nome que o menino tinha. Gilbert sempre pensara que seria um menino, assim como sempre tivera certeza sobre Rilla, e saber que teria sido mesmo um menininho, o emocionava demais, e pelo menos conseguir ter em mente o tipo de rosto ele teria, lhe dava um estranho conforto e não doía mais como antes, pois assim como ele podia sentir a presença de seu pai na energia ao seu redor, agora ele podia imaginar que Walter também estava lá.

- Sabe o que eu estava pensando?- Anne disse, tirando-o do mundo de sua imaginação para encarar os olhos azuis de sua esposa que o observavam com atenção.

- Não , porque você sempre pensa em muitas coisas ao mesmo tempo, mas, tenho certeza de que vai me dizer, não é?- Anne passou o dedo indicador por todo o maxilar de Gilbert antes de responder:

- Você me disse que tem direito a duas semanas de férias no trabalho e nossa faculdade entra em recesso daqui a uma semana por conta das provas, então por que não vamos para Avonlea? Assim, poderíamos relaxar e visitar nossos amigos.- Gilbert a olhou encantado pela boa ideia que ela tivera. Ele mesmo teria sugerido isso a mais tempo se ela não precisasse se recuperar do parto de Rilla e da anemia que tivera por conta da hemorragia, mas, se ela se sentia pronta para viajar, ele não se negaria a ir com ela, pois estava com tantas saudades de casa, e louco para apresentar sua filha para todo mundo.

- Grande ideia, meu amor. Acho que está na hora dessa garotinha conhecer um pouco de suas origens.- ele disse cheio de animação.

- Então, podemos viajar no sábado pela manhã, e chegaremos lá no domingo de manhã.- Anne sugeriu.

- Perfeito.- Gilbert disse concordando, enquanto observava Anne colocar Rilla com cuidado dentro do berço.

Quando se voltou para ele, Anne estava bocejando, o que fez Gilbert dizer:

- Pelo jeito não sou apenas eu quem precisa de mais horas de sono.

- Sim, essa garotinha suga demais minhas energias.- ela disse com um sorriso. Assim, Gilbert se aproximou, e a pegou no colo fazendo Anne perguntar surpresa.

- O que está fazendo?

- Matando minha saudade de te carregar assim.- Gilbert disse, acariciando-a com o olhar já que de outra forma ainda não podia.

- Amo suas iniciativas, meu amor.

- Então, vamos para o quarto, pois quero dormir mais algumas horas junto com minha esposa.- ele respondeu, tomando os lábios dela em um longo beijo que não interrompeu em nenhum momento enquanto a carregava de volta para o quarto.

ANNE

Sentada no sofá da sala com Rilla em seus braços e Milk deitado a seus pés, Anne se mantinha pensativa. Gilbert tinha ido para a faculdade naquele dia sozinho, pois sua filhinha acordara febril, e a ruivinha resolvera ficar em casa com ela, pois não queria se afastar dela em sua primeira enfermidade infantil.

Gilbert a tinha examinado assim que se levantaram e perceberam que a menina estava mais chorosa, e com todo o conhecimento adquirido em suas aulas de medicina, ele diagnosticara um leve resfriado, e fora até a farmácia mais próxima do apartamento para comprar um antitérmico que ajudasse a baixar a febre de trinta e oito graus da menina. Anne também lhe dera um banho morno, e depois passara a manhã toda com ela em seu colo, pois a garotinha se mostrava mais manhosa que o normal, e por isso, exigia por meio de seus choramingos ininterruptos mais atenção materna do que o normal, embora muitas vezes naquela madrugada, ela só parara de chorar quando Gilbert a pegara no colo e conversara com ela por alguns minutos, fazendo Anne se perguntar se era mais uma seduzida pelos olhos castanhos de seu marido.

Assim que a garotinha pareceu ter pegado no sono, Anne a observou por alguns instantes, e sentiu seu coração se enternecer. Suas bochechas estavam mais coradas do que quando chegara do hospital, seus cabelos ruivos e cacheados já tinham crescido um pouquinho, e ela ganhara peso deixando seu pediatra e seus pais satisfeitos com seu desenvolvimento que acontecia em ritmo normal.

Sua filha era tão linda que Anne não se cansava de olhar para aquele rostinho de porcelana, o qual beijava muitas vezes no dia. Embora sua personalidade se mostrasse um pouco inquieta em alguns momentos, na maior parte do tempo ela se mantinha serena, era bastante risonha e adorava brincar com os longos fios de cabelo da mãe.

Até Milk se apaixonara por aquele serzinho único, cujos olhinhos amendoados tão parecidos com os de Gilbert também pareciam ter caído de amores pelo maltês de pelo fofinho, que fizera do tapete perto do berço de Rilla, o seu lugar perfeito para dormir. A menina gargalhava toda vez que o cachorrinho lambia seus pezinhos descobertos quando sua mãe a colocava deitada sobre sua barriga, brincando de fazer cócegas em suas dobrinhas adoráveis. Anne podia ver ali uma grande amizade crescendo, e se sentia tão feliz por poder proporcionar a ela uma infância saudável, cercada de um amor que nunca findaria em seu coração, nem no de Gilbert e muito menos no de Milk que já se tornara seu guardião eterno.

Anne se espantava como o amor entre ela e Gilbert parecia ter se expandido, e se estendido aquela bebezinha que era sua felicidade terrena para toda vida, e assim, ela se dava conta que não precisava de mais nada para que pudesse dizer que já alcançara tudo o que precisava naquela sua existência tão sofrida no passado,

reconstruída aos trancos e barrancos, e coroada com um tipo de maturidade que suas experiências lhe trouxeram ao lado do homem mais doce e mais maravilhoso do mundo.

Ela ainda continuava apaixonada por seu marido como no primeiro dia, como sempre fora durante aquele tempo e como sempre seria irremediavelmente. O que viveram juntos, os dias em que tiveram que reafirmar suas esperanças, reavaliar seus conceitos e abrir mão de sonhos um pelo outro lhes mostrara até onde eles poderiam se doar por um sentimento muito maior que eles dois poderiam supor que cresceria em seu corações um dia. Anne entendia agora qual era o real significado do amor incondicional, de viver para fazer alguém feliz, e sorrir apenas porque essa pessoa também lhe sorria. Gilbert lhe dera tudo o que prometera no dia em que pedira para que ela viesse com ele para Nova Iorque, sentados nas areias de sua praia favorita, ele traçara um futuro inteiro entrelaçando suas mãos na dela e depois renovara cada promessa diante de um altar onde suas vidas enfim se uniram nos laços sagrados do matrimônio, onde Rilla já estava com eles, e onde Anne descobrira o que era ser feliz de verdade.

De repente a ruiva, de sardas odiosas, tão magra que seus membros finos desapareciam dentro de roupas doadas por alguém a quem elas não serviam mais, que chegara em uma estação de trem com sua mala quase vazia de objetos pessoais, que eram compensados por uma mente curiosa e cheia de imaginação não tinha se saído tão mal assim. Estava em Nova Iorque, estudando em uma das melhores faculdades o curso que sempre desejara, casada com seu primeiro e único amor e mãe de uma garotinha incrível. O que mais poderia desejar?

Ela sorriu para si mesma, enquanto seus dedos corriam distraídos por todo o pelo espesso e branquinho de Milk, que de vez em quando suspirava de prazer por conta do carinho de sua dona, o que a fez pensar em Gilbert que também adorava quando ela brincava com seus fios escuros.

Anne andava um pouco preocupada com o marido por causa de seus pesadelos que não o deixavam descansar. Assim como ele fizera por ela um dia, a ruivinha visitara o Dr. Spencer para poder entender o que se passava com seu marido em um momento em que toda a tensão dos dias escuros fora deixada para trás. Ela estava bem, eles tinham sua Rilla como sonharam, então, por que ele parecia estar mergulhado na mais profunda aflição? Assim, o Dr. Spencer lhe contara que o que Gilbert vinha enfrentando era o efeito colateral de muitas coisas que haviam lhe acontecido durante a vida, e que ele nunca deixara que viessem à tona, não por medo ou para provar o quanto era forte, mas, sim porque ele simplesmente não se permitia pensar nelas, acreditando que se transferisse sua atenção para outros tipos de atividades a dor não o atingiria de forma nenhuma. Mas, como um copo cheio demais ele transbordara, e a montanha russa trancada dentro dele por anos o estava massacrando agora como um rolo compressor. Contudo, o bom médico também lhe dissera que se ela fosse paciente, e desse a Gilbert toda a atenção e assistência possível, ele acabaria por superar aquilo bem mais rápido que ela pensava, Ele precisava apenas deixar de lado o medo que tinha de perder as coisas mais preciosas da vida dele que eram Anne e Rilla, e então, tudo acabaria bem. Entretanto, ele prometeu a Anne que ficaria de olho no rapaz, e em último caso se as coisas piorassem demais, ele entraria com terapia e remédios controlados, mas, o bom médico tinha certeza de que Gilbert não precisaria de nada tão pesado, e que boas doses de amor e carinho seriam suficientes.

Ainda assim ela se preocupava, porque Gilbert era o tipo de pessoa que carregava o mundo nas costas e se fazia de forte e inatingível, e durante todas as situações de estresse que tiveram, seu marido sempre fora sua fortaleza, e de repente, a conta de tudo aquilo chegara para ele também, e Anne tinha certeza que seu parto prematuro e seu coma de semanas foram a gota d'água. O Dr. Spencer dissera que ele ficaria bem, e Anne realmente queria acreditar que sim, por isso, desejava cuidar de Gilbert como ele sempre fizera por ela. Seu marido a ajudara a vencer os seus demônios, e agora estava na hora de auxiliá-lo a acabar com os dele.

Passava um pouco das cinco e meia quando Gilbert chegou em casa naquele dia, e depois de ter apresentado um trabalho importante na faculdade e trabalhado por muitas horas no laboratório, ele parecia mais do que feliz por chegar em casa.

- Como está, Rilla?- ele perguntou assim que entrou em casa, deixando sua maleta marrom de trabalho em cima do sofá, e caminhando até Anne que estava sentada no sofá com um livro nas mãos e Milk deitado no tapete lhe fazendo companhia.

- Ainda está um pouco febril, mas já está melhor em relação ao seu estado hoje de manhã.

- Eu marquei o pediatra dela para amanhã, pois já que você tem sua consulta de rotina com o dr. Miller, eu achei que poderíamos passar pelo médico de Rilla para que ela seja examinada por ele.- Anne assentiu, sabendo que Gilbert só estava sendo precavido. Como Rilla era prematura e tinha ainda poucos meses de vida, todo cuidado com ela era necessário, embora ela fosse uma garotinha forte e essa ser a primeira vez que ela apresentava alguma enfermidade.- Eu também aproveitei e comprei nossas passagens para Avonlea no próximo sábado. Vamos esperar que Rilla melhore até lá, e possamos viajar sem nenhum problema.- Gilbert continuou, antes de dar um beijo na testa de Anne.

- Estou feliz que tenha aceitado minha sugestão. Estou louca para ver a cara de Matthew quando conhecer Rilla.- Anne disse abraçando Gilbert que puxou a cabeça dela para seu ombro, enquanto deslizava os dedos pelos fios ruivos do alto da cabeça dela as pontas.

- Ele vai se apaixonar por ela como todo mundo.- Gilbert disse com tanto orgulho na voz, que fez Anne responder sorrindo:

- Rilla tem muita coisa de você além dos olhos castanhos. Apesar de ela só ter dois meses, já consegui perceber que em questão de personalidade ela puxou mais a você que a mim.- Anne ergueu os olhos para encarrar o rosto de Gilbert tão perto do seu.

- Teremos que esperar mais um pouco para sabermos como ela será. – ele concluiu, e depois como se analisasse uma questão profundamente, Gilbert ficou em silêncio com seus pensamentos, e em seguida, ele perguntou:- Como acha que Walter seria, Anne?- a ruivinha levantou cabeça para observar a expressão do marido, e como não viu nenhuma tristeza ou tensão, respondeu:

- Acho que ele seria todo você. Pelo menos foi o que senti no meu sonho. Por que me perguntou isso?- ela disse em uma tentativa de fazer Gilbert falar sobre seus sentimentos.

- Apenas curiosidade.- foi tudo o que ele disse, porém, Anne sabia que aquela pergunta tivera um significado mais profundo para ele, do que Gilbert queria demonstrar,

- O que te contei sobre Walter te deixou triste?- Anne sondou o terreno enquanto Gilbert a olhava com seu jeito carinhoso.

- Não, na verdade me deixou contente por poder ter uma imagem mental dele agora quando antes eu não tinha nada.- Anne segurou em sua mão, a apertou e afirmou:

- Eu só quero que saiba que eu sei que as coisas foram difíceis para você durante muito tempo, e que tem passado por momentos de tensão que te deixam vulnerável. No entanto, apenas entenda que não está sozinho, que eu te amo e estou aqui para o que quiser.- Gilbert se inclinou, lhe deu um beijo na ponta do nariz e respondeu:

- Eu sei e obrigado.

Naquele instante, Rilla começou a chorar, e quando Anne fez menção de se levantar para ir até ela, Gilbert a impediu dizendo:

- Deixa que eu vou.

E ao ver Gilbert se encaminhar para o quarto da filha, Anne suspirou e disse a si mesma que a viagem que fariam era uma oportunidade para Gilbert se reencontrar, recuperar seu equilíbrio e voltar a ser aquele rapaz tão sensato e otimista que sempre fora, e ela faria de tudo para que isso acontecesse.

ANNE E GILBERT

As primeiras horas da manhã já anunciavam um dia ensolarado, e apesar de ansiosa pela sua ida ao médico naquele dia com Gilbert, Anne não pôde deixar de dar boas- vindas a mais um dia em sua vida recém-iniciada, pois era assim que se sentia depois de acordar do coma como se tivesse uma linha do tempo determinando o fim de um ciclo e início de outro.

Era um ritual somente seu, que não compartilhava com mais ninguém, nem mesmo com Gilbert, pois se lembrava bem do que tia Josephine lhe dissera uma vez que uma mulher precisava ter um cantinho de sua mente só seu, onde guardaria suas lembranças mais preciosas, seus segredos mais íntimos, e tivesse um lugar para recarregar seu coração quando a vida lhe cobrasse mais tributos do que se poderia suportar onde ninguém mais pudesse alcançar.

Por isso, Anne sempre se levantava antes de Gilbert corria para a janela e tinha seu momento íntimo consigo mesma, agradecendo a vida por tudo o que tinha, e renovando assim seu otimismo em acreditar que dali para frente teria mais motivos para sorrir do que chorar.

Aquele dia seria conclusivo para si mesma, pois após dois meses de tratamento e cuidados especiais, sua ida ao médico seria para atestar seu atual estado físico, quando o Dr. Miller lhe diria se todas as suas funções estavam normais, e se ela poderia voltar a realizar todas as atividades as quais estava acostumada antes da gravidez.

Anne voltara para a Faculdade, e também voltara a fazer alguns trabalhos domésticos que não exigiam tanto esforço físico a princípio, cuidando sempre para não exagerar e se cansar demais, tendo Gilbert sempre de olho nela para que não excedesse o que lhe fosse permitido.

Ela ainda não podia realizar exercícios físicos, e continuava a tomar remédios fortes para curar sua anemia recorrente do seu parto difícil. Porém, se tudo desse certo, e ela fosse liberada de todo aquele sacrifício, então estaria livre para a normalidade de antes, inclusive namorar seu marido de quem se mantinha um pouco distante fisicamente pela impossibilidade de terem suas noites quentes de amor, das quais tanto sentia falta, e podia perceber pela maneira como Gilbert a olhava quando estavam juntos, que ele também sentia muita falta daquela conexão especial que tinham e que sempre era fortalecida quando estavam nos braços um do outro

Ambos já tinham passado por esse tipo de abstinência outras vezes, e embora em todas tivessem se saído relativamente bem, não era fácil para nenhum dos dois colocar uma barreira entre sentimentos que sempre foram fortes demais desde o princípio. No entanto, eles entendiam que aquilo era necessário e que não duraria para sempre aquele distanciamento obrigatório ao qual foram submetidos, e Anne torcia para que naquele dia pudesse recuperar sua vida de antes totalmente.

Ela saiu da janela onde uma brisa fresca começara a soprar, e caminhara até cozinha em passos vagarosos e silenciosos, pois não queria fazer nenhum ruído que atrapalhasse o sono de Gilbert ou de Rilla, e começou a preparar o café da manhã.

Como de costume, Milk apareceu na porta da cozinha com seus olhinhos caramelos que imploravam por sua porção de ração com leite que sua dona lhe dava todas as manhãs. Anne lhe sorriu, abaixando-se para afagar-lhe o pelo enquanto ele se deitava no chão esperando pela sua refeição . Logo após alimentá-lo, Anne se pôs a preparar o seu café da manhã e de Gilbert, no qual não podia faltar as rosquinhas favoritas de seu marido.

Anne estava satisfeita por poder comer tudo o que gostava, depois de passar quase três meses sem ingerir alimentos que levassem altas quantidades de sódio. Por isso, além das rosquinhas , ela preparou uma omelete com tudo que tinha direito, além de suco de laranja, o preferido de Gilbert, café e leite.

Quando o rapaz apareceu na cozinha, ainda em trajes de dormir, os cachos desfeitos e o olhos inchados de sono, Anne não pôde deixar de sorrir com ternura ao ver a melhor versão desarrumada de seu marido, que mesmo sem suas roupas impecáveis de aluno de medicina, continuava sendo lindo demais.

- Que banquete maravilhoso é esse?- Gilbert perguntou ao mesmo tempo em que se sentava à mesa, e roubava uma rosquinha quente que acabara de sair do forno e que Anne colocara em uma travessa em cima da mesa.

- Achei que merecíamos comemorar, depois de todos esses meses que tive que seguir uma dieta restritiva. Como estão as rosquinhas ?- Ela perguntou, ao ver Gilbert terminar de comer a primeira e já pegar uma segunda com aquele olhar adorável de gula que só ele tinha.

- Estão maravilhosas.- ele respondeu, mastigando o doce devagar como se quisesse saborear cada pedacinho enquanto se servia de suco de laranja.

- Ótimo. Depois de todos esses meses sem cozinhar pensei que tinha perdido o jeito.- Anne respondeu, desamarrando o avental que estava usando sobre a camisola, e se sentando a mesa para comer sua omelete que de tão cheirosa lhe dava água na boca.

Ao mastigar o primeiro pedaço, ela deixou que uma expressão de prazer surgisse em seu rosto que vez Gilbert comentar admirado:

- Você olha para essa omelete com o se estivesse no sétimo céu.

- Definição perfeita, meu marido. Eu realmente estou no sétimo céu com essa delícia.- Anne disse fechando os olhos, e deixando que toda a satisfação que estava sentindo com a comida transparecesse em seu rosto. Quando abriu os olhos novamente, Gilbert tinha os dele fixos em seu rosto, como se estivesse hipnotizado pela sua esposa ao vê-la saboreando sua primeira refeição de verdade depois de tanto tempo.

- O que foi, Gilbert ? Eu exagerei na expressão?

- Não, meu amor. É que você não sabe o quanto é bom ver esse rosto lindo feliz de novo. Eu senti falta dessa Anne cujo sorriso sempre foi capaz de deixar meu dia melhor. – Enquanto Anne ouvia Gilbert falar abertamente do que sentira quando ela ficara em coma, ela pôde ver a emoção em forma de lágrimas brilhando nos olhos castanhos mais amados do mundo, e que a faziam se lembrar de Rilla no mesmo instante. Tocada pelo sentimento dele, Anne disse, segurando-lhe a mão tão carinhosa que tantas vezes afagara seus cabelos nos momentos mais difíceis e disse:

- Essa Anne nunca mais vai desaparecer, e estará sempre aqui para te lembrar o quanto ela te ama.- eles se encararam por um longo tempo, se comunicando com o olhar de onde todas as suas emoções transbordavam. Quando Gilbert abriu a boca para dizer a Anne novamente o quanto à amava, o choro de Rilla vindo do quarto quebrou o encanto, fazendo-os sorrir um para o outro cheios de uma ternura nascida dos dias em que ficaram separados.

- Termine seu café que vou cuidar de nossa menina.- ele disse para sua esposa ainda com a metade da omelete em seu prato.

Anne concordou, sorrindo para si mesma, sabendo que sua bebê não estaria em mãos melhores que as de seu pai.

Assim que terminou de comer, a ruivinha colocou a louça suja na pia e foi ao encontro de seu marido e filha que estavam apenas a alguns passos dela. Logo que chegou na porta, seu coração se encantou ao ver a cena de Gilbert brincando com Rilla que ria com vontade conforme o rapaz mordia de brincadeira a pontinha do nariz dela como ele sempre fazia com Anne, e beijava cada parte do rostinho dela.

Ele tinha dado banho na garotinha, a enchido de talco e trocado sua fralda, deixando para Anne apenas a tarefa de colocar a roupa a que Anne tinha separado para levá-la ao médico.

A ruivinha ainda ficou alguns segundos na porta se emocionando com a visão de seu marido e sua menina se divertindo juntos. Gilbert estava se tornando o excelente pai que sempre pensara que ele seria, portanto, Anne só tinha motivos para se orgulhar do ser humano maravilhoso que ele era, sua maturidade apesar da pouca idade, e até já podia visualizá-lo dali a alguns anos, em seu próprio consultório com uma boa clientela e fazendo o que realmente nascera para fazer.

Gilbert levantou a cabeça e sorriu ao ver Anne olhando-o feito boba e perguntou:

- Não quer se juntar a nós?

- Não acho que Rilla vai gostar que eu atrapalhe seu momento com o pai dela. Nossa princesinha já é tão apaixonada por você.- Anne disse se aproximando devagar, e parando ao lado do marido que lhe entregou a menina enquanto respondia:

- Exatamente como a mãe dela.

- Você é tão convencido, meu amor.- Anne disse rindo, e para provocá-la Gilbert lhe deu um beijo no pescoço e perguntou:

- Vai negar que me ama?

- Não, isso já está escrito na minha testa desde os meus quinze anos.- Anne deu-lhe um beijo suave nos lábios, e o rapaz acariciou sua bochecha e disse:

- Eu já te amava bem antes disso, e agora temos esse pedacinho de gente que fizemos juntos e que é nosso tesouro mais precioso.- Gilbert beijou a testa da garotinha que retribuía tanto amor com seu sorriso mais lindo e puro, fazendo o coração de Anne se emocionar mais ainda.

Assim, ambos terminaram de arrumar Rilla que naquele dia estava encantadora vestida de rosa. Anne que sempre odiara a cor, teve que concordar com seu marido, que sua filha ficava encantadora com todas aquelas rendas e babados que Gilbert comprara para ela em um impulso ao voltar para a casa do trabalho naquela semana, e ver o tal vestido em uma vitrine de uma loja de artigos infantis, e como Anne não conseguia lhe negar nada, lá estava sua bebê todinha de cor de rosa e tinha até um lacinho de cabelo para combinar.

O pediatra que cuidava de Rilla atendia no mesmo prédio que o ginecologista de Anne, por isso, ficava mais fácil para que ambas passassem por seus respectivos médicos no mesmo dia. Depois de pesá-la, medi-la e examinar-lhe a garganta e checar-lhe a temperatura corporal, o médico de Rilla atestara que ela estava em um processo de desenvolvimento muito bom, e também tranquilizara Gilbert e Anne a respeito da febre de dias anteriores, confirmando que fora mesmo um pequeno resfriado como o rapaz diagnosticara, e assim, ele receitara apenas uma vitamina para fortalecer o sistema imunológico da menina, e parabenizara Anne por amamenta-la sem recorrer a mamadeiras como algumas mães faziam.

Deste modo, sentindo-se mais aliviada, ela foi para sua consulta acompanhada de Gilbert que carregava Rilla nos braços enquanto a menina ressonava tranquilamente agarrada a gola da camisa do rapaz.

Dr. Miller recebeu Anne muito sorridente, e claramente aliviado por vê-la tão bem. A ruivinha era uma de suas pacientes mais queridas, e ele nunca confessaria o quanto temera perdê-la, e o quanto se preocupara com Gilbert que parecia ter ficado completamente desnorteado, e andara pelo hospital feito um fantasma por dias. Felizmente tudo acabara bem, e Anne estava saudável de novo com a filha que desejara, e seu marido que a adorava de todo o coração.

Ele fez os exames físicos de rotina, observando que sua recuperação já podia ser atestada como cem por cento apta a fazer tudo o que estava acostumada. Seu exame de sangue também não mostrava mais nem um resquício de anemia, porém havia um assunto sobre o qual precisava tratar e teve receio pela reação dela, sabendo de todo o seu histórico anterior.

Desta forma, ao vê-la sentada em seu consultório, tendo seu marido do lado e a bebezinha que dormia tranquilamente no colo dele, Dr. Miller temeu o que tinha que dizer, procurando as palavras certas, sentindo um pesar imenso por abalar aquela aparente alegria que dava o ar de sua graça na vida daquele casal que lutara tanto por um final feliz.

- E então, Dr. Miller, como estão os meus exames?- Anne perguntou, parecendo ansiosa e confiante ao mesmo tempo.

- Está tudo bem. Sua recuperação foi total.- ele respondeu, vendo-a sorrir aliviada, sabendo que dali a cinco minutos, ele estaria lhe deferindo um outro golpe doloroso. Anne pareceu perceber que por trás das palavras do médico havia algo mais, e disse:

- Há um porém, não é?

- Como sabe?- ele perguntou admirado pelo sexto sentido dela.

- O senhor me deu essa notícia sem sorrir, então logo intui que tem algo a me dizer.- Anne disse com a tranquilidade características de pessoas que estavam acostumadas aos golpes da vida, porém, não devia ser assim, o Dr. Miller pensou entristecido.

- Anne, eu não sei como vai receber isso. Eu queria ter apenas ótimas notícias para te dar, mas, infelizmente não depende do que eu quero e sim da realidade dos fatos.- ele respirou fundo, e depois continuou tendo os olhos de Anne pregados sobre ele.:- Eu sei o quanto ser mãe é importante para você, mas, levando-se em conta seu primeiro aborto e a hemorragia que sofreu com o parto de Rilla, eu não aconselharia que engravidasse outra vez. Os riscos são muito altos, e é melhor que evite conceber a todo custo.- ele viu os lábios dela tremerem, e sua mão apertar a de Gilbert com força, mas ela não derramou uma lágrima sequer, e ele se espantou ao ver no rosto dela uma serenidade que não esperava encontrar diante das notícias das quais acabara de ser o portador.

- Obrigada, Dr.Miller, pela sinceridade. Eu acho que já esperava por isso, mas tinha uma pequena esperança de que talvez eu estivesse errada. Embora eu desejasse ter mais filhos, acho que já fui abençoada o bastante por Rilla ter nascido tão bem apesar das circunstâncias. Não posso desejar mais nada, tenho tudo que quero exatamente aqui.- Anne disse olhando para a menina adormecida e para o homem que a tinha nos braços.

- Fico aliviado por entender os riscos, e por aceitar o meu conselho. Vou te passar pílulas anticoncepcionais que vão protegê-la melhor, pois não queremos que corra riscos desnecessários.- ele disse, escrevendo rapidamente o nome do medicamento no receituário, e o entregando para Anne logo em seguida.

A caminho para casa, Anne se manteve pensativa sobre o que o médico lhe dissera enquanto Gilbert a observava preocupado. Ele sabia que sua esposa sempre quisera uma família grande por conta de ter sido órfã, e sentir falta de ter irmãos e irmãs, e de repente, seu sonho fora interrompido da forma mais triste e injusta possível, e ele só esperava que ela conseguisse lidar com isso sem se machucar demais.

- Você está bem?- Gilbert perguntara, pousando a mão na coxa dela para dar-lhe apoio.

- Estou sim. As notícias não foram o que eu esperava, mas, não posso dizer que estou surpresa. Porém, como eu disse ao Dr. Miller, eu já tenho tudo o que preciso em minha vida. Seria egoísmo da minha parte desejar algo mais. Vamos apenas ser felizes daqui para frente.- Anne disse sem nenhum tipo de angústia. Ela ficara triste com a notícia de que não poderia mais ser mãe, no entanto, entendia que era tempo de olhar para frente e aceitar da vida o que ela pudesse lhe dar, e deixar que a felicidade fizesse morada permanente entre ela e Gilbert. Não fazia mais sentido se entregar a um tipo de mágoa egoísta quando Deus lhe dera o que ela mais desejara. Ela só tinha a agradecer por isso.

Eles chegaram em casa em um ótimo humor, e mais aliviados do que aquela manhã quando saíram para irem ao médico com certo receio pela saúde de Anne, e passaram um dia tranquilo na companhia um do outro apenas desfrutando daquela paz tão rara que a muito tempo não sentiam.

Tanto Anne quanto Gilbert foram para a cama mais cedo, pois sairiam cedo para irem para Avonlea no dia seguinte, e precisavam estar descansados para a longa viagem que fariam. O sono chegou logo para os dois, que adormeceram quase que no mesmo instante em que deitaram suas cabeças no travesseiro.

Passava da meia-noite, quando Anne acordou com Gilbert delirando em meio a um outro pesadelo que não o deixava descansar tranquilamente.

- Anne.- ele dissera com um sofrimento tão grande, que fez Anne se aproximar dele, abraçá-lo pelo pescoço e dizer baixinho em seu ouvido:

- Amor, estou aqui. Abra os olhos e veja. Não precisa mais ter medo de nada.

Gilbert abriu os olhos no mesmo instante, se sentando na cama com Anne em seu colo, abraçando-a tão apertado que ela pensou que ele nunca mais a largaria. A testa dele estava completamente suada, e o coração disparado, deixando a respiração de Gilbert tão ofegante que parecia que ele tinha corrido muitos quilômetros.

- Calma, meu amor. Só me deixe cuidar de você.- ela disse muitas vezes enquanto Gilbert parecia ainda perdido no terror do próprio sonho. Assim, ela fez o que sabia que a ajudaria a chegar até ele, fazendo-o se sentir seguro de novo.

Ela o beijou suavemente na testa, e depois esfregou seu nariz no dele de forma carinhosa. Em seguida, Anne beijou-o em cada uma de suas faces, descendo até os lábios masculinos que receberam os dela de forma desesperada, fazendo com que suas línguas se enroscassem de maneira sensual e faminta.

Anne ouviu o coração de Gilbert disparar novamente , mas dessa vez o motivo era diferente. Não era o pavor que comandava as batidas, e sim o amor que o trazia de volta para ela da forma mais apaixonada possível. Gilbert se deitou na cama, e fez Anne se deitar sobre ele, se deleitando com o contato de suas peles que não se sentiam assim a muito tempo. Os lábios dele revisitaram lugares tão bem conhecidos, mas que lhe provocavam as mesmas emoções intensas que ele tivera quando a amara pela primeira vez. Ele nunca esqueceria que gosto tinha a pele de Anne, assim, como ele também não esqueceria a maciez e suavidade daquela menina-mulher que o levava a um ponto onde nada poderia impedi-lo de tê-la completamente sua.

Anne também se viu perdida nas mesmas sensações que sempre a jogaram de cabeça em um mundo que só conhecia com Gilbert, onde o amor e o desejo eram o complemento um do outro e onde ela se entregava ao seu marido sem receio algum, pois assim como ela podia fazê-lo chegar cada vez mais alto em sua necessidade por ela, Anne também sentia que precisava de Gilbert da mesma maneira. Nunca seria feliz sem ele, e com ele, Anne não sentia mais falta de nada, pois ele tornava seu coração inteiro, sua alma completa e todos os seus desejos por ele satisfeitos.

Eles se amaram bem devagar naquela noite, sem pressa e sem vontade nenhuma de que tudo terminasse, porque o amor que faziam não era somente pelo sentimento que os unia sempre daquela maneira, e sim um processo de cura que exorcizava o passado, e mostrava um futuro brilhante bem a frente dos dois. Seus dedos entrelaçados, assim como seus corações que seguiam o mesmo ritmo um do outro lhe ensinavam mais uma vez que estavam juntos, porque a lei da vida determinara, e se amavam porque tinham nascido um para outro.

E então, tal qual uma folha seca levada por um vendaval, ele se deixaram voar um nos braços do outro mais uma vez e o que encontraram bem acima da linha do horizonte compensou aqueles dias de espera em que apenas se olhavam , sonhando com o dia em que estariam de novo se amando livremente. E mais uma vez se entregaram ao calor intenso que emanava de suas almas, se espalhava por suas peles, e o fazia encontrar a paz e a harmonia dentro de si mesmos.

Anne observou Gilbert dormindo por muito tempo naquela noite, em que se amaram novamente como se nunca tivessem sido privados desse contato íntimo divino. Suas mãos se perderam por horas nos cabelos escuros, enquanto ela apoiava sua cabeça no peito dele e ouvia o coração dele bater em um ritmo normal novamente, ao mesmo tempo que sentia que era apenas uma questão de tempo para que Gilbert deixasse para trás cada uma de suas mágoas, acelerando dessa maneira seu processo de cura interna.

Era de madrugada quando o sono finalmente a arrastou para as profundezas de uma inconsciência tranquila, e tudo o que restou naquele quarto foi o amor verdadeiro entre duas pessoas que encontraram um no outro, depois de erros e acertos, descidas e subidas, fracassos e sucessos o caminho certo para ser feliz.

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