Capítulo 13- A lua por testemunha
GILBERT
Gilbert olhava a chuva que caía como lágrimas, molhando tudo ao seu redor. Lágrimas essas que ele não derramara, porque se sentia tão desapontado que chorar não traria o alento que ele precisava.
Sentado em sua varanda, ele buscava palavras para descrever seu estado de espírito, mas a única que encontrava era "deserto". Sim, havia um deserto onde antes havia um coração, e tudo porque perdera a coisa mais preciosa que possuía.
Entretanto, só um pensamento lhe ocorria agora. Será que algum dia Anne fora dele? Não podia ser mentira tudo o que experimentaram juntos. Ele se recusava a acreditar que ela fingira tanto. Mas a imagem dela abraçando Cole ainda o deixava furioso, era como se revivesse tudo outra vez, e a mesma dor o atingia como uma faca.
Que inferno era esse amor que sentia e que não o deixava em paz um segundo? Tiraram o seu chão, e parecia que ele estava caminhando sobre brasas , com a alma sangrando e em pedaços.
Ele se levantou e deixou que o ar frio que vinha por causa da chuva atingisse seu rosto. Gilbert precisava de algo que aliviasse sua agonia, mas não encontrava consolo em coisa alguma.
Quando chegara em casa com as roupas encharcadas por causa de sua caminhada pela floresta, esperava encontrar Bash e colocar para fora tudo o que estava sentindo. Infelizmente, Sebastian não estava, deixara um bilhete para Gilbert avisando que passaria a noite na casa de Mary e que não o esperasse para o jantar. O menino suspirou profundamente, e em seguida, se livrou das roupas molhadas, tomou um banho quente e vestiu um pijama confortável. Detestava comer sozinho, por isso não teve ânimo para cozinhar o jantar, apenas preparou um chocolate quente e foi tomá-lo na varanda onde permanecia até aquele momento.
A chuva não dava trégua, e Gilbert tinha a impressão que continuaria até de madrugada. Como estava sozinho, pensou que a melhor opção seria ir para a cama, já que não tinha vontade de ler um livro ou estudar os conteúdos que costumava revisar à noite. Virou-se para entrar, mas então viu um vulto surgir na escuridão. Quem seria? Será que Bash mudara de ideia e resolvera voltar para casa? Porém, ao observar melhor, viu que a pessoa que caminhava em sua direção era um pouco mais baixa e mais franzina que Bash, e quando ele fixou o olhar reconheceu quem era.
Cole! Como ele ousava aparecer ali no meio daquele temporal depois do que acontecera naquela tarde? Viera zombar dele? Gilbert não tinha a menor vontade de falar com aquele garoto, ia entrar e bater a porta na cara dele, mas sua boa educação não permitiu. Esperou impassível que Cole chegasse até sua varanda, com um guarda chuva nas mãos e os cabelos úmidos pela longa caminhada e ouviu-o dizer;
- Boa noite, Gilbert. Desculpe-me aparecer aqui assim sem avisar, e sei que provavelmente sou a última pessoa do mundo com a qual quer conversar, mas eu precisava vir aqui e te encarar de frente ou não me perdoaria.
- Não sei estou interessado no que você tem a me dizer. - respondeu Gilbert de cara fechada.
- Gilbert, eu não viria até aqui se não soubesse que o que tenho a te dizer é muito importante tanto para você quanto para a Anne.
- Não me leve a mal, Cole, mas não quero falar dela. Estou muito magoado e não me fará nada bem discutir a relação de vocês dois. – disse Gilbert, já se preparando para dispensar o garoto.
- Eu e Anne somos apenas amigos. Não existe entre a gente nada mais do que isso. - respondeu Cole. Ele tinha que fazer Gilbert ouvi-lo, a felicidade de Anne dependia disso.
- Olha, Cole. Você não precisava vir até aqui tentar me convencer de uma coisa que não é verdade. Eu vi vocês dois, ninguém me contou.
- O que você viu Gilbert foi o carinho de alguém tentando acalmar sua melhor amiga.
- E por que você teria que acalmar Anne? - perguntou Gilbert, sem muito interesse. Começava a se sentir entediado.
- Acontece que Billy Andrews seguiu Anne até o clube de leitura, e eu por acaso estava caminhando nos arredores e ouvi quando ela gritou. Quando cheguei lá, ele estava tentando agarrá-la. Consegui intimidá-lo, e Anne estava muito descontrolada quando ele foi embora, por isso estávamos abraçados quando você chegou. - explicou Cole, contando toda a história.
- Não acredito que aquele cretino teve a coragem de fazer isso! - disse Gilbert muito zangado.
- Anne me contou que na escola ele ficou o dia todo olhando para ela com um ar estranho, mas ela nunca imaginou que seria seguida por ele.
- Então, era por isso que ela estava estranha quando nos encontramos no intervalo. Eu perguntei se ela tinha algum problema, mas me disse que não. – comentou Gilbert, se lembrando do momento em que falou com Anne na sala da Srta Stacy..
- Ela não quis te contar para não aborrecê-lo. - explicou Cole.
- Este garoto merece uma lição. Quem ele pensa que é para fazer esse tipo de coisa?- Gilbert estava indignado. Se Billy estivesse ali na frente dele lhe daria uma lição que ele jamais esqueceria.
- Billy sempre foi assim. Eu senti na pele essa sua covardia.
- Eu me lembro que ele implicava com você, mas nunca soube o motivo.- disse Gilbert.
- É por causa deste meu jeito diferente. Billy sempre adorou zombar de mim - explicou Cole.
- Eu não acho que você seja diferente. Para mim você é um garoto como outro qualquer.
- Aí é que você se engana. Existe algo diferente sobre mim. - Cole baixou o olhar e Gilbert notou que ele parecia envergonhado.
- O que quer dizer com isso?- quis saber Gilbert.
- Gilbert, o que vou te contar é algo muito íntimo e faço isso porque quero que você entenda de uma vez por todas que não existe absolutamente nada entre mim e Anne. Mas tem que me prometer que vai manter a mente aberta e não me julgar quando eu terminar o que tenho a lhe dizer.
- Tudo bem. O que é? – perguntou Gilbert.
Cole ficou em silêncio por um instante, tentando tomar coragem para o que iria dizer. Depois olhou firmemente para Gilbert e disse:
- Eu não me interesso por garotas. - pronto tinha dito, esperou apenas pelo comentário de Gilbert.
- O que?- o menino parecia não entender o que Cole tinha dito.
-- Você me entendeu. - ele não iria repetir o que tinha dito. Não sabia se teria coragem.
Gilbert ficou olhando para Cole, esperando que a qualquer momento ele dissesse que estava brincando.
- A Anne sabe disso?- Gilbert perguntou finalmente.
- Sim, só ela sabe do meu segredo e agora você, além de tia Josephine, é claro.
- E por que ela não me contou? Poderia ter evitado toda essa situação. – disse Gilbert pensativo.
- Ela só queria me proteger. Olha Gilbert, eu sei que isso pode ser estranho para você, mas apenas te contei para que parasse com este ciúme bobo e sem sentido de mim. Você precisa entender que a Anne gosta de você, mesmo que ela não tenha te falado nada sobre isso. Além do mais, sei que isso deve soar absurdo para você.
- Cole, me desculpe se dei a impressão errada. Não estou te julgando e não acho nada absurdo. Eu conheci muitas pessoas como você em minhas viagens pelo mundo, e todas me pareceram excelentes pessoas. Você não tem por que se envergonhar. - disse Gilbert.
- Você sabe que as pessoas aqui são bem preconceituosas. Anne foi a única pessoa que nunca me tratou diferente, ela é como uma irmã para mim.
- Anne é realmente uma pessoa incrível. E isso me lembra que tenho que me desculpar com ela. Eu fui terrivelmente injusto - disse Gilbert, horrorizado com seu próprio comportamento.
- Anne está bastante magoada, mas tem bom coração e vai te perdoar com o tempo. - Cole agora se sentia mais relaxado, tinha pensado que seria mais difícil, mas no final tudo estava bem.
- Espero que esteja certo, ou eu nunca me perdoarei. - respondeu Gilbert ainda constrangido por todas as palavras cruéis que dissera a Anne.
- Bem, acho que cumpri minha missão. Agora vou para casa e deixar você descansar. Boa noite.
- Boa noite, Cole - e antes que o garoto sumisse na escuridão, Gilbert disse - Todas as formas de amar são válidas,.se lembre sempre disso.
- Obrigada, Gilbert. Agora entendo porque Anne se apaixonou por você. - Cole sorriu e foi para casa com o coração mais leve. Esperava que Anne e Gilbert se acertassem afinal.
Enquanto Gilbert observava Cole ir embora, sua cabeça estava a mil. O que fizera? Meu Deus! Anne devia estar odiando-o. Mas como poderia saber? Jamais imaginara que Cole não gostasse de meninas. Como ele fora tolo! E agora? Precisava se redimir de alguma maneira, e teria que fazer isso naquela noite, não aguentaria esperar até o dia seguinte.
Entrou em casa, trocou de roupa colocando botas e capa de chuva para se proteger do aguaceiro que caía lá fora, e se encaminhou para Green Gables. Quando chegou na fazenda dos Cuthberts achou que não seria uma boa ideia bater na porta, pois já era tarde e não queria assustar a família de Anne, aparecendo sem avisar e àquela hora da noite. Então, como falaria com ela? Olhou para a janela do quarto da menina e percebeu que a luz ainda estava acesa. Tomou uma decisão, entraria pela janela do quarto dela como fizera no outro dia. Havia uma escada na lateral que facilitaria seu acesso até lá, e apesar de estar bastante escorregadio por causa da chuva, conseguiu alcançar a janela sem dificuldade.
Ao entrar, deu de cara com Anne sentada naquela mesma cadeira de balanço em que tinham trocado tantos carinhos há tão pouco tempo. Ela tinha os cabelos úmidos de banho, e estava enrolada em um cobertor grosso que a protegia do vento gelado que vinha de fora, seus olhos estavam perdidos no espaço e ela parecia estar imersa em pensamentos perturbadores, pois seu rosto exibia uma expressão de quem estava se debatendo entre ideias confusas.
Quando percebeu a presença de Gilbert, a menina não disse uma palavra, mas ele podia ver em seus olhos que ficara momentaneamente abalada por vê-lo ali, e antes que Anne disse qualquer coisa, Gilbert perguntou sem rodeios:
- Por que não me contou sobre o Cole?
- Gilbert, por que está aqui?- ela perguntou.
- Por que você não me contou sobre o Cole?- Gilbert insistiu.
- Não sei do que está falando. - Anne se fez de desentendida.
- Sabe sim, mas não quis me contar. Por quê?- agora o menino a fitava diretamente nos olhos.
- Quem te contou sobre Cole?.- Anne quis saber.
- Ele mesmo. Cole me procurou há uma hora atrás e conversamos sobre tudo. Por que não me disse Anne? Por que me fez acreditar que vocês dois tinham algo mais além de amizade? –ele precisava entender por que ela não tinha confiado nele.
- O segredo não era meu para contar. Cole é meu amigo e eu nunca trairia a confiança dele. Além do mais, eu não sabia como você reagiria se te falasse sobre isso. - ela explicou.
- Acho que consigo entender isso agora. Ele também me contou que o crápula do Billy Andrews fez com você. Eu podia estrangulá-lo só por ele ter pensado em encostar a mão em você.
Ao ouvir Gilbert mencionar aquele incidente fatídico, Anne estremeceu, e ele viu quando as lágrimas alcançaram os olhos dela e começaram a cair sem parar. Ele correu para ela preocupado, e a abraçou com carinho, secando cada gota de lágrima com seus lábios. Anne não ofereceu resistência, aceitando aquela carícia sem se mostrar contrariada ou zangada com ele, talvez porque o que passara naqueles momentos com Billy Andrews a tivesse afetado tanto que precisava daquele instante para se sentir segura.
Estavam tão próximos um do outro que Gilbert embora tivesse prometido que não a forçaria a nada, teve que beijá-la. Ele queria fazê-la esquecer de qualquer coisa que a tivesse magoado até ali, e se lembrasse apenas do sentimento que os unia. Gilbert também queria que ela entendesse que apesar de tudo o que ele tinha dito para ela na floresta, Anne não estava sozinha, ele sempre estaria por perto para protegê-la e amá-la.
Como era bom tê-la de novo em seus braços! Gilbert se sentira tão vazio quando pensara que a tinha perdido para sempre. Não sabia ainda se Anne o perdoaria, mas aquela sensação era tão boa que ele não queria que terminasse nunca.
Após alguns segundos envolvidos pelo beijo, enfim se separaram e o menino encostou sua testa na de Anne e disse:
- Será que pode me perdoar pelas coisas que te disse?
- Gilbert, eu não quero pensar nisso. - Ela respondeu ainda de olhos fechados.
- Anne, eu sei que fui injusto e horrível com você. Admito que passei da conta. Mas, por favor, me dê uma segunda chance para que eu possa te compensar pelo sofrimento que te causei, e juro que isso jamais tornará a acontecer. - ele ficou esperando ansioso pela resposta dela. Gilbert não queria nem imaginar o que seria dele se Anne não quisesse mais vê-lo.
Anne demorou alguns segundos para responder, e quando o fez sua voz soou tão triste que fez o coração de Gilbert se quebrar.
- Eu não sei se consigo discutir esse assunto com você neste momento. Eu preciso de tempo para pensar. - ela se afastou de Gilbert e se aproximou da janela, observando a noite lá fora.
Gilbert chegou perto dela, sentindo o aroma de flores que vinha de seus cabelos, queria abraçá-la novamente, mas não ousou fazê-lo. Em vez disso disse:
- Você acha que consegue me dar outra chance?
- Eu não sei o que pensar e nem o que te dizer. - ela respondeu simplesmente.
Gilbert sentiu a tristeza dela tocá-lo. Ele também estava triste pelas circunstâncias que o levara a magoá-la, pela distancia que ele criara entre os dois novamente, pelas palavras que saíram de sua boca e partiram o coração dela. Ele seria o único culpado se Anne não o perdoasse.
O menino percebeu que ela continuava olhando para fora, e que curvara de leve os ombros, o que denotava tensão. Ele a fez se virar para ele e disse pegando em suas mãos:
- Por favor, Anne. Não desista da gente. Diga o que tenho que fazer para que me perdoe.
- Gilbert, eu não consigo responder essa pergunta agora. Preciso ficar sozinha e colocar meus os pensamentos em ordem. Eu mal consigo compreender tudo o que aconteceu nesta tarde. – ela parecia exausta de repente e Gilbert achou melhor não pressioná-la.
- Está bem. Acho melhor ir embora e te deixar descansar. A gente conversa melhor sobre isso amanhã. Está bem?
Ela assentiu com a cabeça e ele deu um beijo no rosto dela, mas quando estava descendo as escadas, olhou para cima e viu a figura de Anne no parapeito da janela. Ela tinha um olhar tão vago que o preocupou, só que não havia mais nada que ele pudesse fazer para consertar aquela situação, teria que esperar e ver como as coisas se resolveriam.
Mas tinha ainda uma coisa que ele precisava fazer no dia seguinte, alguém com quem ele faria um acerto de contas. Fechou os punhos zangado e endureceu o olhar. Mal podia esperar para o dia amanhecer.
ANNE
Marilla preparava o chá da tarde quando entrou pela porta da cozinha, encharcada até os ossos e os dentes batendo de tanto frio. Imediatamente a boa senhora veio em seu socorro dizendo;
- Pelo Amor de Deus, Anne! Não podia esperar a chuva passar até voltar para casa? Olhe só para você, toda molhada e gelada de frio. – ela esfregou os braços da menina como se pudesse aquecê-la.
- Desculpe Marilla. Não queria arruinar o vestido. - disse Anne com a voz chorosa.
- Não estou preocupada com o vestido e sim com você. Vá imediatamente para o seu quarto e tome um banho quente. Daqui a pouco te levo uma xícara de chá.
Anne subiu as escadas sem protestar. Estava esgotada fisicamente e emocionalmente e não tinha a menor vontade de conversar.
Demorou-se no banho mais do que o normal, pois sentia tanto frio que nem mesmo a água escaldante do chuveiro parecia aquecê-la. Encontrou o chá que Marilla preparara em cima da mesinha de canto, tomou-o devagar, sem pressa, enquanto sua mente vagava até algumas horas atrás.
Custava a acreditar em tudo o que acontecera com ela naquele dia. A raiva que sentia de Billy Andrews era enorme, mas a mágoa que se instalara em seu coração depois de ouvir Gilbert acusá-la de tantas coisas horríveis era maior que o mundo.
Jamais imaginara que ele sentisse ciúmes de Cole. Aquela ideia lhe parecia tão absurda que a faria rir se não estivesse tão desapontada. Mas o que mais a deixava triste era Gilbert não ter-lhe dado a chance de explicar tudo o que estava acontecendo, mostrando-lhe que não confiava nela.
Como ele pudera jogar fora todos os momentos maravilhosos que passaram juntos? Como ela conseguiria olhar par ele sem sentir aquela dor aguda que a estava dilacerando por dentro? Anne começou a sentir-se péssima, tremendo de frio. Enrolou-se em um cobertor e se sentou na sua cadeira de balanço. Apesar de sentir-se um pouco mais aquecida, por dentro parecia que havia um inverno em sua alma que não a largava.
Repassou mentalmente todos os acontecimentos daquele dia, seu rosto se contraía cada vez que se lembrava de Gilbert. Deus! Doía demais pensar nele! Queria bloquear suas emoções, mas elas estavam ali expostas para quem quisesse vê-las, pois seu olhos não conseguiam ocultar o que lhe ia no íntimo. Era tanto amor e tanta dor que ela se sentia completamente encurralada por sua mágoa e desilusão.
De repente sua atenção foi atraída para a janela e ficou sem ação. Gilbert Blythe estava ali, e por um segundo pensou que sua mente estivesse lhe pregando uma peça, mas logo em seguida percebeu que era ele mesmo em carne e osso, e a fitava com seus olhos preocupados.
Gilbert tinha os cabelos molhados pela chuva e caiam em sua testa em desalinho. Seu rosto estava corado pelo frio e seus lábios não sorriam desta vez. Ele exibia um semblante sério e comedido, mas mesmo assim ele nunca lhe parecera tão bonito.
O será que viera fazer ali? Gilbert tinha deixado bem claro que não queria vê-la mais, e que estava tudo acabado entre eles. Ela não conseguia compreender o que mais ele poderia querer com ela. Será que não era suficiente tudo o que lhe dissera antes, ou será que sua visita inesperada significava que ele viera até ali a fim de arrasá-la de vez?
Depois de alguns segundos que pareciam ter durado uma vida interira, ouviu-o perguntar:
- Por que não me contou sobre o Cole?
Ela buscou em sua mente o significado para aquelas palavras dele, pois sua cabeça doía tanto que não conseguia raciocinar, precisou de um minuto para entender do que ele falava e pensou, como ele descobrira sobre o segredo de Cole? Tentou não demonstrar o quanto estava surpresa pela pergunta dizendo que não sabia sobre o que ele estava falando, mas Gilbert insistiu até que ela tivera que admitir que era verdade o que ele já sabia. Então, ela lhe perguntou quem contara a ele sobre aquilo, e ele respondeu que fora o próprio Cole quem o procurara para revelar tudo.
Novamente, o menino quis saber porque Anne não lhe contara sobre a relação que ela e Cole tinham. Anne simplesmente respondeu, que não podia contar um segredo que não era dela e que como Cole era seu amigo, ela jamais faria qualquer coisa que pudesse magoá-lo. Neste ponto da conversa, Gilbert disse que agora compreendia todo aquele afeto entre a ruivinha e o amigo dela, e em seguida, lhe contou que também sabia sobre o que Billy Andrews lhe fizera e disse com ódio:
- Eu podia estrangulá-lo só por ele ter pensado em encostar a mão em você. - Anne viu os punhos dele cerrados em sinal de ira acumulada, e estremeceu. Toda aquela cena horrível lhe veio a mente, e lágrimas de angústia caíram de seus olhos já tão cansados de chorar, rolando soltas sem que pudesse impedi-las.
Neste momento, sentiu Gilbert abraçá-la e percebeu o quanto desejara aquilo desde o momento em que entrara pela janela. Apesar da mágoa que sentia por ele, deixou-se envolver por aqueles braços tão amados. Logo, a boca dele tocou seu rosto, secando com beijos cada gota de lágrima que caía, e Anne carente como estava, não resistiu àquele carinho reconfortante..
Ela levantou a cabeça, e os lábios deles ficaram próximos, tão próximos que bastava apenas que ambos se inclinassem um centímetro. Gilbert fez exatamente isso, beijando-a tão ternamente que Anne suspirou, então, se separaram e ele encostou sua testa na dela dizendo:
- Será que pode me perdoar pelas coisas que te disse?
Anne não soube o que dizer. Seria tão fácil deixar de lado sua dor e se consolar no calor das emoções que podia perceber em cada gesto de Gilbert. Mas será que seria capaz de esquecer como ele a ferira? Será que depois não se recriminaria por não ouvir a voz do seu bom senso?
O menino continuou dizendo que sabia que tinha passado dos limites, e que a maneira como a tratara não tinha sido a mais correta, mas que mesmo assim, achava que merecia uma segunda chance.Será que ela seria capaz de esquecer esse descompasso e deixá-lo continuar sendo parte de sua vida?
Anne não respondeu imediatamente, pois duelava com seus desejos, vontades e sua dignidade. Uma parte dela queria perdoá-lo, mas a outra lhe dizia que o comportamento de Gilbert é que tinha levado os dois àquele impasse, e que Anne deveria fazê-lo pagar pelo sofrimento que lhe causara.
A ruivinha se afastou do menino, e caminhou até a janela, olhando para a escuridão da noite que espelhava o que se passava em seu coração. Uma sensação de solidão começou a tomar conta de seu espírito, e Anne sentiu que se distanciava de si mesma, sem conseguir alcançar a serenidade que precisava naquele momento.
Sentiu as mãos de Gilbert em seus ombros virando-a para ele, e o que Anne viu nos olhos dele foi um desespero tão grande que se igualava ao dela, fazendo-a querer estender sua mão e tocar o rosto dele, mas ao invés disso, permaneceu em silêncio enquanto Gilbert lhe pedia com a voz embargada:
- Por favor, Anne, não desista da gente. Diga-me o que tenho que fazer para que me perdoe.
Desistir deles? Mas fora ele que tinha desistido, abandonando-a como se todas as confidências que fizeram, os beijos intensos que trocaram não valessem nada. Será que ele tinha o direito de pedir a ela qualquer coisa? -pensou .
Mas em seguida, se ouviu dizendo a Gilbert que não conseguiria e não queria falar com ele sobre toda aquela situação naquele momento, pois precisava pensar sobre tudo o que acontecera para enfim chegar a uma conclusão concreta de como se sentia.
Gilbert não insistiu mais, apenas dissera que iria embora e que se falariam na escola. Anne concordara apenas para que ele a deixasse sozinha. Não sabia se queria falar com ele no dia seguinte, pois não acreditava que estaria pronta para outra conversa como aquela. Levaria tempo até que conseguisse não pensar mais em tudo aquilo sem chorar.
Quando viu Gilbert indo embora, após ter se despedido dela dando-lhe um beijo no rosto, Anne sentiu como se ele estivesse saindo de sua vida para sempre, e aquele pensamento a fez se encolher dentro de si mesma, como se a tempestade que continuava caindo lá fora estivesse também desabando em sua alma.
ANNE e GILBERT
O dia amanheceu limpo e sem uma nuvem no céu, e Gilbert sentiu o ar fresco da manhã entrar por suas narinas lhe causando um enorme bem-estar. Mas estava longe de sentir aquela calmaria que o dia ensolarado parecia proporcionar. Dentro dele havia tantas emoções misturadas, que era difícil definir qual tomava conta dele naquele momento.
Deu uma última olhada ao seu redor, e decidido caminhou para a escola. Precisava controlar seus pensamentos e manter a cabeça fria para que não tomasse nenhuma atitude impensada, mas não estava conseguindo raciocinar direito devido aos acontecimentos do dia anterior. A única coisa que tinha em mente era encontrar Billy Andrews, e dizer a ele tudo o que estava engasgado em sua garganta e que quase o sufocava.
Entrou na sala de aula e viu Billy conversando com alguns colegas, parecia que fazia algum tipo de piada, pois todos estavam rindo da história que ele contava. Gilbert foi até ele e disse:
- Posso falar com você um minuto, Billy?
- Claro que sim. - disse o menino, sem desconfiar da ira que Gilbert tentava a todo custo esconder.
Os dois saíram para o pátio e Gilbert foi direto ao assunto:
- Fiquei sabendo que você tentou ameaçar Anne ontem?
- Não acredito que me chamou aqui para falar daquela ruiva estúpida. Acredite amigo, ela não vale a pena. - mal teve tempo de terminar a frase, pois Gilbert o agarrou pelo colarinho dizendo;
- Não sou seu amigo, e nunca mais fale da Anne desse jeito, pois você não tem a metade do caráter que ela tem. - estava tentando se controlar, mas a cara de deboche de Billy deixava-o fora de si.
- Ora vamos, Gilbert. Vai começar a defender esta órfã ridícula?- disse Billy, sem perceber a intensidade da raiva de Gilbert.
- Vou te dar só um aviso e quero que ouça bem o que estou dizendo. Nunca mais ameace a Anne de novo ou vai se arrepender de ter nascido. Está me entendendo? – como queria arrancar aquela expressão cínica do rosto de Billy, mas era totalmente contra a violência, por isso, falou com toda autoridade que foi capaz.
Billy percebeu que Gilbert não estava brincando, pois podia ver no rosto dele a ameaça explícita na maneira como seus olhos o fitavam. Achou melhor concordar, assentindo com a cabeça. Nunca fora um lutador, adorava provocar, mas quando a situação se tornava perigosa para ele, Billy dava um jeito de escapar deixando para os outros a responsabilidade de resolvê-la, mas naquele caso não havia ninguém para culpar ou responsabilizar, então preferiu não confrontar Gilbert, pois não valia a pena se encrencar por causa de uma garota com quem não na verdade não se importava.
Gilbert soltou Billy e voltou para dentro da escola sem sequer olhar para trás, por isso, não percebeu que Ruby chegara naquele momento e ouvira toda a conversa deles.
Então era verdade que Gilbert e Anne estavam envolvidos. Quando Josie fizera insinuações sobre isso não quisera acreditar, pois Anne era sua amiga e sabia de sua paixão por Gilbert. Mas agora não tinha dúvidas e isso a deixou com muita raiva. Como Anne ousara chegar perto do único garoto pelo qual Ruby suspirara por todos aqueles anos?
Quando Gilbert partira para longe, deixando tudo para trás, fora Anne que ela procurara para desabafar sua saudade e inconformismo pela ausência dele. Não foram poucas as vezes que chorara no colo dela, Anne sempre a consolara, dizendo que não ficasse triste, pois com certeza ele não demoraria a retornar. E agora, Ruby descobrira que ela não tinha sido sincera quando dizia não suportar Gilbert e que não queria nem a amizade dele. Talvez tanto desdém escondesse uma paixão velada, a qual Ruby nunca tivera o discernimento para compreender, e naquele momento ela compreendia que Gilbert estava apaixonado por Anne, pois a maneira como a defendera de Billy não deixava dúvidas quanto a isso.
Ruby foi para a aula contrariada, iria falar com Anne assim que a visse, e lhe jogaria na cara a traição da amizade delas por parte da ruivinha, mas ficou muito frustrada quando não a viu como de costume em sua carteira conversando com Diana. Não havia sinal dela em lugar algum, e Ruby perceberam que teria que adiar aquela conversa para outro momento. Diana devia saber de tudo e não lhe contara nada, por isso, se sentia duplamente traída. Não falaria nada para Diana, pois quando confrontasse Anne queria surpreendê-la e ver se ela teria coragem de continuar mentindo.
A menina não era a única procurando por Anne. Gilbert também queria muito falar com ela, mas estava ficando nervoso por não encontrá-la. Esperou até o intervalo para falar com Diana, quando a viu sozinha correu para ela e perguntou:
- Diana, você sabe por que a Anne não veio para a escola hoje?
- Não faço a menor ideia, Gilbert. Também estou preocupada porque ela nunca falta, odeia perder aula. - respondeu Diana, e percebendo a angústia de Gilbert continuou. - Após a aula irei até casa dela ver o que está acontecendo e te aviso, está bem?
- Obrigado, Diana, me ajudaria muito. - disse o menino visivelmente perturbado.
Esperava que a ausência de Anne não tivesse nada a ver com a conversa que tiveram no dia anterior. Será que ela não viera para a escola por que não queria falar com ele? Seus pensamentos o estavam deixando louco e não conseguia prestar atenção em nada, o que não era de seu feitio, pois ele jamais deixava que algo interferisse em seus estudos, mas naquele momento não conseguia afastar Anne de sua mente.
Foi para casa assim que a aula terminou, encontrando Bash na cozinha com Mary. Tinham feito o almoço e esperaram até que ele chegasse para servi-lo. Gilbert sentou a mesa sem apetite nenhum, mas fez um esforço para comer a deliciosa refeição preparada por ambos. Sebastian percebeu a falta de ânimo do menino e perguntou preocupado:
- Qual é o problema, Gilbert? Não gostou da comida?
- Claro que gostei, está deliciosa como sempre. É só que tenho muitas coisas na cabeça neste momento.. - explicou Gilbert.
- E todas essas coisas têm a ver com Anne?- perguntou Mary simpática.
- Sim, estamos tendo alguns problemas que quero resolver em breve. Só que ela não apareceu na escola hoje, e isso me deixou preocupado.
- Podem existir milhões de motivos para ela não ter ido para a aula, Gilbert. - disse Sebastian, tentando acalmar o menino..
- Eu sei, mas e se ela não foi para a escola porque não quer falar comigo?- ele passava as mãos no cabelo incomodado.
- Anne não me parece o tipo de garota que se acovardaria diante de uma situação assim. - disse Mary. - Você deve confiar mais no que ela sente por você.
- Mas aí é que está o problema. Neste exato momento, não sei o que ela sente por mim. Pisei muito na bola com ela, e meu medo é que a tenha perdido por minha própria culpa.
- Não pense assim, tenho certeza de que tudo se resolverá e logo vocês estarão juntos novamente. - disse Mary, com os braços em volta do ombro de Gilbert.
Espero que esteja certa, caso contrário nunca me perdoarei. – disse Gilbert deixando o garfo que ainda segurava de lado.
- Sei que não é um momento muito feliz para você, mas queremos te contar uma coisa- disse Sebastian com um sorriso no rosto.
- É mesmo?- perguntou Gilbert curioso.
- Sim, eu e Mary vamos nos casar, e ela queria te fazer um convite especial. - Sebastian agora fazia certo suspense sobre o que diria em seguida.
- E o que seria? – perguntou Gilbert.
- Queria te convidar para me levar ao altar. Eu não tenho mais meu pai e nunca tive irmãos, por isso ficaria muito feliz se você realizasse esse meu desejo, já que foi você que trouxe Sebastian para minha vida.- disse Mary com lágrimas nos olhos.
- Seria uma honra, Mary. E quero dizer que estou muito feliz por vocês. - Gilbert abraçou os dois, muito emocionado pelo pedido de Mary.
Mais tarde enquanto estudava, ouviu alguém batendo na porta insistentemente. Correu para atender na esperança de que fosse Diana trazendo notícias de Anne, porém, encontrou Marilla Cuthbert na soleira de entrada. A boa senhora o olhou aliviada dizendo;
- Oi, Gilbert. Graças a Deus você está em casa.
- Oi, Sra.Cuthbert. Aconteceu alguma coisa?
- É a Anne. Hoje de manhã fui acordá-la para ir à escola, e ela me disse que estava com muita dor de cabeça. Quando chequei a temperatura do corpo dela percebi que tinha febre alta e tossia muito. Pedi a Matheus que buscasse um médico imediatamente, e o doutor disse que Anne pegou uma gripe muito forte, e teria que ficar de repouso por alguns dias. Eu devia ter imaginado, depois que ela chegou em casa ensopada ontem por causa da chuva. O problema é que Matthew e eu temos que ir até Charlotetown para resolvermos um assunto com o banco sobre a fazenda, e não tenho com quem deixar a Anne. Pedi ao Jerry que perguntasse a Diana se podia me fazer esse favor, mas quando ele chegou à casa dela, tanto Diana quanto sua família, tia Josephine e Cole tinham saído para visitar alguns parentes nos arredores de Avonlea.Também pensei em Rachel, mas ela viajou para a casa de um de seus filhos este fim de semana, então imaginei se você não poderia me dar o endereço daquela senhora que trabalha para você durante semana, talvez ela possa ficar com Anne até voltarmos, é claro que eu a pagaria por isso.
Antes de Gilbert responder, Mary que havia aparecido para ver quem estava à porta respondeu:
- Se a senhora não se importar, tanto eu quanto Sebastian e Gilbert podemos ficar com a Anne. Sebastian me pediu para passar o fim de semana aqui e como amanhã é sábado, não teria nenhum problema para mim.
- Que bom! Assim fico mais tranquila. Green Gables tem muitos quartos vagos, vocês poderão se acomodar confortavelmente.- respondeu Marilla, visivelmente mais calma.
- Vou arrumar nossas coisas por aqui e encontraremos a senhora daqui a pouco. - disse Mary alegremente.
- Combinado. - respondeu Marilla e voltou apressadamente para Green Gables.
Gilbert arrumou seus livros de estudo em uma mochila, pegou um pijama, sua escova de dentes e estava pronto.Esperou até que Bash e Mary aparecessem com o que precisariam para passar a noite, e em quinze minutos partiram para a fazenda dos Cuthberts.
Quando chegaram, Marilla e Matthew já os esperavam dizendo que havia muita comida na geladeira, e seus quartos já estavam preparados, explicando também sobre os remédios que Anne estava tomando. Gilbert ficou encarregado de ministrar a medicação necessária, enquanto Mary ficara encarregada de preparar para a menina as refeições aconselhadas pelo médico.
Assim que Matthew e Marilla partiram, Gilbert foi dar uma espiada em Anne. Ela parecia tão pequena e pálida entre os lençóis brancos de sua cama, que o coração do menino se enterneceu. O sono dela parecia tranquilo, por esta razão, ele fechou a porta do quarto dela devagarzinho, pois não queria perturbá-la.
O jantar foi servido às seis horas da tarde, e quando o relógio contava sete horas, Sebastian foi falar com Gilbert que estava concentrado, respondendo um questionário de Geografia preparado pela Srta Stacy.
- Gilbert, eu e Mary teremos que nos ausentar por duas horas, pois o Pastor Jackson combinou de falar conosco às sete e meia sobre os preparativos de nosso casamento. Será que você poderia fazer companhia para a Anne até voltarmos?
- Claro que sim. Podem ir tranquilos que tomo conta dela. - respondeu Gilbert prontamente.
Antes do casal de noivos ir até a casa do Pastor Jackson, Mary aconselhou Gilbert a acordar Anne um pouco mais tarde para tentar fazê-la se alimentar um pouco com a sopa que ela havia preparado especialmente para a menina.
Logo em seguida, Gilbert tomou um banho, vestiu um pijama confortável e resolveu ler um livro no quarto de Anne, pois assim poderia observá-la mais de perto. Acomodou-se na cadeira de balanço enquanto a menina continuava dormindo. Trinta minutos tinham se passado quando Gilbert ouviu Anne resmungar durante o sono, falando coisas desconexas que ele não conseguia entender. Colocou a mão na testa dela e percebeu que a ruivinha ardia em febre, assim, ele fez com que ela bebesse o remédio que o médico havia receitado, em uma tentativa de fazer a temperatura do corpo dela baixar, mas a febre não cedia e a menina começou a tremer sem parar.
Gilbert então teve uma ideia. Tirou a camisa do pijama e deitou com ela na cama, abraçando-a. O calor do corpo dele foi aos poucos fazendo com que a tremedeira dela passasse, e assim que percebeu que ela voltara a dormir tranquilamente, Gilbert saiu da cama, mas então sentiu a mão de Anne em seu pulso e ela disse com os olhos ainda fechados:
- Por favor, fique. Estou com tanto frio.
O menino percebeu que ela delirava, e não tinha realmente consciência de que ele estava ali, mas resolveu atender ao pedido dela, prometendo que a deixaria assim que ela estivesse dormindo profundamente.
Ele voltou a deitar-se na cama de Anne, e percebeu que a temperatura do corpo dela ainda estava alta. Acomodou a cabeça dela em seu peito, acariciando seus cabelos, depois suas mãos começaram a massagear-lhe a nuca, descendo até alcançar sua espinha. Embalado pelo ritmo da respiração de Anne, Gilbert adormeceu, mas acabou acordando minutos depois, sentindo um toque suave em seu rosto.
Abriu os olhos e se deparou com Anne fitando-o com seus olhos azuis ainda febris, e ouviu-a dizer;
- Gilbert, que bom que está aqui. Tive tantas saudades.
Ele sabia que ela ainda delirava, pois se estivesse realmente acordada, não estariam tão intimamente perto um do outro. Os lábios dela estavam rosados por causa da febre e pareciam tão convidativos que o menino, tomado por seu sentimento por ela estava a ponto de beijá-la, mais aí se lembrou que Anne estava doente e ele não quis se aproveitar da situação.
Mas Anne, apesar de não estar totalmente consciente de seus atos, tinha suas próprias vontades. Estava perdida em meio a um sonho onde Gilbert estava em seu quarto, em sua cama com ela, mas não a beijava. Por que ele estava demorando tanto? Será que não se sentia mais atraído por ela? Tinha que saber, por isso tomou a iniciativa, não aguentava esperar mais.
Seus lábios colaram nos deles antes que Gilbert esboçasse qualquer reação. O menino tentou afastá-la, mais foi traído por sua enorme necessidade de tê-la em seus braços, sentir o gosto da boca dela que para ele era mais poderoso que qualquer afrodisíaco, então se rendeu aos encantos da ruivinha, adorando o contato de seus corpos enroscados um no outro.
Mas a consciência dele interrompeu seu interlúdio, fazendo-o perceber que apesar de Gilbert ser completamente louco por aquela garota, não era hora nem lugar apropriado para que ele deixasse que sua paixão por ela se manifestasse. Foi aos poucos se afastando dela, e esperou até que Anne caísse no sono novamente. Cuidadosamente saiu da cama, tentando não acordá-la, vestiu a camisa do pijama novamente e foi para o quarto que Marilla havia reservado para ele.
Estava um pouco agitado e sabia que seria um pouco difícil dormir naquele momento, por isso, se aproximou da janela e ficou observando o cenário à sua frente. No céu uma lua redonda brilhava cercada por milhares de estrelas que cintilavam talvez atraídas pela beleza dela.
Aquela lua era a única testemunha de uma história de amor que começara tão inesperadamente, mas que se fortalecera com o tempo e estava longe, muito longe de terminar.
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