Capítulo 127-Entre rosas vermelhas
Olá, pessoal. Aqui está o capítulo da semana. Desculpem o atraso, mas prometo não deixar de atualizá-la sempre que possível. Espero que gostem e me deixem seus comentários. Vou corrigir depois. Beijos, Rosana.
ANNE
O riso de Diana encheu o ar enquanto ela corria com Milk, levando Brian em seus braços. Anne olhou para aquela cena adorável e suspirou. Se tudo corresse bem, logo seria ela brincando com Rilla em seus braços, caso contrário, Gilbert poderia fazer isso por ela. Uma tristeza súbita fez seus olhos se entristecerem. Ela fazia de tudo para que os pensamentos negativos não a alcançassem, mas, em momentos em que tudo parecia bem era que eles a perturbavam mais.
Elas estavam no Central Parque e naquela manhã, Diana insistira para que Anne saísse um pouco de casa, pois o máximo que ela fazia para tomar sol ou respirar um pouco de ar puro, era ficar na sacada do apartamento, olhando para o movimento, e duelando com os próprios pensamentos. Anne estava contente que a amiga estivesse por perto, pois era um conforto a mais assim como Cole, que todas as tardes dava uma passadinha pelo apartamento para ver como ela estava, e dizer-lhe palavras de carinho e alento.
Sua Cesária havia sido marcada para o fim do mês, e por mais que Anne dissesse a si mesma que era o certo a se fazer, ela não conseguia se conformar com aquilo. Com certeza não era o fim do mundo, e muitas mães passavam por isso, mas Anne não queria estar no meio das estatísticas de mulheres que tiveram seus filhos prematuros por alguma razão.
Ela ouvira milhares de vezes de Diana naquela semana que isso era normal e que muitas mulheres tinham seus filhos desta maneira, porém ela não queria que sua filha nascesse antes do tempo, pois se esforçara demais para que chegasse aos nove meses com saúde, e não conseguira, quebrando a promessa que fizera a Rilla de que ela viria ao mundo no lindo mês de Setembro. No entanto, ela tentava aceitar que não seria assim, mais a sua decepção ainda doía fundo, mesmo sabendo que não dependia dela aquela condição.
Gilbert vinha fazendo um trabalho psicológico incrível com ela. Sob as orientações do Dr.Miller e Spencer, ele sempre ficava de olho em qualquer mudança sensível que ela pudesse ter, e dava-lhe o suporte que ela precisava em seus momentos mais delicados. Palavras carinhosas nunca lhe faltavam, abraços confortadores sempre estavam lá, os beijos de amor continuavam a ser seu combustível mais eficaz, mas também havia momentos em que o colo dele estava sempre preparado para deixá-la chorar quando necessário. Seu marido era a pessoa mais incrível e preciosa em sua vida. Nunca conhecera alguém tão capaz e disposto a se doar pelos outros, e por ela. Anne sabia que Gilbert lhe daria o céu se ela pedisse, e ter alguém assim amando-a daquela maneira era o que fazia valer a pena tudo o que estava passando.
Além das cartinhas para Rilla, ela também escrevera uma para Gilbert, e deixara-a escondida até o momento certo de entregá-la. As palavras ali escritas não eram de despedida como podia se pensar em sua atual situação, e sim de agradecimento por todos os anos que passaram juntos, e por todo o amor que ele lhe dera independentemente da situação. Ela queria fazer algo assim por ele já fazia algum tempo, mas, somente naqueles dias era que tal ideia lhe ocorreu. Ela sempre fora melhor escrevendo do que falando, e esperava que tudo o que colocara na carta chegasse até o coração de Gilbert de verdade.
Anne deu uma olhada ao seu redor, e percebeu que havia poucas pessoas por ali, o que contribuía para a paz reinante naquele momento afastando o barulho do carros, e o ar poluído das grandes cidades. Quem tinha o privilégio de passar algum tempo no Central Park quase conseguia esquecer que a alguns passos dali existia uma grande Metrópole onde a correria do dia a dia era constante, e já se tornara parte de seus moradores. Apesar de já estar ali a bastante tempo, Anne sentia que sua alma por mais aventureira que fosse sempre encontraria seu lar em Avonlea, e ela sabia que para Gilbert também era assim.
Eles já tinham conversado sobre isso várias vezes, e a vontade de voltar era grande, embora ainda fosse impossível para ele abandonar a faculdade pela qual lutara tanto para entrar. E por isso, por mais que se sentisse tentada a viver em sua terra natal, ela não deixaria que Gilbert desistisse de seus sonhos apenas para que ela pudesse realizar o seu. Ela era feliz com ele em Nova Iorque. Eles estavam vivendo suas vidas juntos, e apesar dos inúmeros obstáculos pelos quais já tinham passado, tudo tinha sido importante para que continuassem tendo fé um no outro, se amando ainda mais, e consequentemente se tornaram mais forte.
Rilla se mexeu inquieta naquele instante, e Anne acariciou sua barriga com carinho. Sua bebê andava cada vez mais agitada, e Anne se perguntava se ela pressentia que estava prestes a nascer. Era uma felicidade imensa pensar que logo teria em seus braços um pedacinho dela e de Gilbert, e ainda por muitas vezes, ela custava a acreditar naquele milagre.
O amor deles lhe dera a coisa mais maravilhosa do mundo, e ela nunca se cansaria de agradecer por isso. Ela era finalmente uma mulher realizada. Depois de todas as tempestades que enfrentara ao lado de Gilbert, ter ganho aquele presente de Deus era a melhor recompensa de todas, e nenhum sacrifício seria grande demais pela sua filha e também pelo seu marido, pois aquele bebê era seu presente para aquele rapaz que nunca desistira dela, que sempre fora otimista e acreditara que ela poderia alcançar o que quisesse, se realmente se empenhasse para isso. Ele abrira mão de muitas coisas por ela, assim como Anne também o fizera por ele, e Anne sabia que Gilbert continuaria a fazê-lo se disso dependesse a felicidade dela. Ele nunca pensava somente em si. Gilbert nunca fora uma pessoa que agia por egoísmo. Ele era impulsivo, teimoso e tinha uma personalidade forte, embora dissesse que a de Anne sempre o superava em tudo, porém a sua bondade, altruísmo e capacidade de cair e se levantar quantas vezes fossem necessárias fazia de Gilbert Blythe uma pessoa rara no mundo.
Anne continuou a observar Diana e seu filho, e sorriu. Era tão bom tê-la por perto, assim como Cole, ela era sua irmão de coração, e jamais aquele elo que existia entre elas seria quebrado, porque a amizade que sobrevivia até a distância era outra dádiva que ganhara ao conhecer aquela garota tão linda e forte de todas as maneiras. Diana Barry era um ser humano incrível, assim como Anne, ela lutara por sua felicidade e agora a tinha na palma de sua mão, pois casara com o rapaz de seus sonhos, construíra sua família com ele, e agora ela tinha tudo o que mais desejara na vida.
Como se pressentisse que Anne pensava nela, Diana parou de correr atrás de Milk com seu filho, e veio se sentar ao lado de Anne. Suas feições estavam coradas, a testa suada, e ela mantinha um lindo sorriso no rosto quando perguntou:
- Como está se sentindo, Anne?
- Estou bem, apenas um pouco incomodada, pois Rilla não para de se mexer.- Anne disse, fazendo uma careta ao sentir outra pontada em seu ventre.
- É normal, pois agora falta pouco para ela nascer.- Diana disse continuando a sorrir.
- Eu sei, mas, é nessa hora que sinto mais falta de Gilbert. Ele e Rilla parecem já ter um elo entre eles, porque toda vez que ela está inquieta assim, basta que ele converse com ela, para que ela se acalme no mesmo instante.
- Mais uma fã de Gilbert Blythe?- Diana disse com seu olhar inteligente sobre Anne.
- Pelo jeito sim.- Anne disse pensando que mais uma vez o charme de Gilbert entrava em ação.
- Então, terá mais uma mulher para competir pelo coração de seu príncipe.- Diana disse continuando a brincar.
- Só que dessa vez será uma concorrência justa. Afinal ela tem o DNA dele.- Anne disse com um sorriso iluminado que fez Diana olhar para ela admirada. Anne sempre fora bonita, mas, com a gravidez ela adquirirá aquela áurea que todas as mulheres que estão gerando uma nova vida adquiriam, e a sua amiga a seus olhos estava simplesmente deslumbrante.
- Com quem você acha que ela vai parecer?- Diana perguntou, soltando os longos cabelos que estavam presos por um laço, enquanto Brian de agarrava a seus fios como que fascinado pela cor escura e brilhante.
- Eu torço para que ela se pareça com Gilbert. Mas, é claro que ele deseja o contrário. É como se fosse mais uma aposta nossa.
- Ela pode ser uma mistura dos dois . E se isso acontecer, Rilla será maravilhosa.- Diana afirmou, pensando na genética de Anne e Gilbert. Não tinha como a filhinha de Anne não ser linda.
- Gilbert afirma que ela vai ser ruiva. Não sei qual o fascínio que essa cor de cabelo tem sobre meu marido. – Anne disse, ao se lembrar de todos as vezes que pegara Gilbert admirando seu cabelo. Fora por causa disso que ficara mais cuidadosa a respeito deles, e que passara a ser mais vaidosa. Simplesmente porque amava ver os olhos de Gilbert brilharem enquanto olhava para ela, enquanto suas mãos se perdiam em seus fios rubros.
- Eu imagino que seja justamente porque a mulher que ele ama seja ruiva. Então é natural que ele deseje que sua filha seja a cópia da mãe.
- E eu quero que ela seja a cópia do pai pelo mesmo motivo.
- Bem. Vocês terão que esperar mais alguns dias para saber quem ganhou essa competição maluca. – Diana disse ajeitando Brian em seus braços que já demonstrava cansaço, pois seus olhinhos pesavam sonolentos.
Anne ficou em silêncio ao pensar sobre o que Diana acabara de falar, e aquele temor que ela sabia esconder muito bem dentro de si a fez suspirar alto sem perceber
- O que foi, Anne?- Diana perguntou, pois conhecia bem todas as expressões de sua velha amiga, e aquela que estava estampada no rosto dela naquele momento lhe mostrava claramente que ela estava preocupada.
Anne pensou em dizer que estava bem, que Diana estava tendo uma impressão errada , mas a garota morena saberia facilmente que Anne estava mentindo, assim, como Anne saberia se fosse o contrário.
- Estou com medo, Diana.
- Do que?- a amiga olhou espantada para ela, e logo deu um jeito de segurar em sua mão.
- Do que pode acontecer no parto de Rilla. Sempre que penso nisso, sinto que meu coração se aperta.
- Anne. Eu também tive medo no parto de Brian. Não acho que seja uma situação fácil para nenhuma mulher. Mas, o prazer que se sente quando olhamos para esse pinguinho de gente em nossos braços compensa tudo. Não tenha medo, ser mãe é um dom divino.- Anne olhou para amiga e viu a felicidade brilhando em seus olhos. Anne não tinha dúvidas de que a maternidade tornara Diana uma mulher realizada. Era assim que ela se sentia também, embora Rilla ainda não tivesse nascido, ela já sentia os efeitos daquela pequena vida em seu mundo. Era como carregar um tesouro precioso demais, que deveria ser guardado como algo extremamente sagrado, assim como era o seu amor por Gilbert.
- Acho que tem razão, Diana. Eu estou me preocupando à toa. Cole sempre diz que exagero demais as emoções.- Anne disse sorrindo.
- Mas, se não fosse assim, não seria você.- Diana disse, beijando-a no rosto.- O sol está ficando forte. Acho melhor voltarmos para o apartamento.- ela disse se levantando, e ajudando Anne a fazer o mesmo.
Juntas e de braços dados como nos velhos tempos, as duas amigas caminharam pelas ruas de Nova Iorque. Diana carregava seu filhinho adormecido nos braços, e Anne que ainda não era mãe carregava a coleira de Milk em sua outra mão vazia, enquanto o cachorrinho a acompanhava pulando em seus calcanhares como um fiel escudeiro e seu anjo protetor.
GILBERT
Gilbert assinou seu último laudo do dia, e deu seu expediente por encerrado. Ele se levantou de sua mesa de trabalho, colocou a caneta que usara de volta no estojo que mantinha por perto para aquele fim, e se encaminhou para a saída, não antes de colocar sua boina vermelha, companheira de todas as horas. Aquele fora um presente de Anne a alguns Natais atrás, e ele não largava dela de forma nenhuma. Era mais um pedacinho de Anne que carregava com ele, além da foto em sua carteira, e seu amor por ela no coração.
Ele pisou na rua, e respirou o ar quente de verão. Às cinco da tarde, uma brisa começou a soprar aliviando um pouco o calorão de um dia inteiro, mas não o suficiente para que ele não tivesse que dormir com as janelas abertas, pois por conta da gravidez, Anne sentia mais calor que o normal, e às vezes , ela o acordava no meio da noite reclamando de estar transpirando sem parar, e não foram raras as madrugadas em que tinha que entrar com ela no banho, para que a água fria do chuveiro esfriasse seu corpo quente, e pudesse dessa forma lhe fornecer condições para que pudesse voltar a dormir.
Estava tão perto agora, tanto, que ele não conseguia conter a ansiedade da espera pelo nascimento de sua filha. Ele iria finalmente conhecer sua princesinha, e essa sensação era tão única que ele não cabia em si de felicidade. Era como se estivesse realizando a coisa mais importante do mundo, e ver a perfeição dos olhos de sua filha em seus braços era tudo com o que vinha sonhando.
A única coisa que ainda o deixava preocupado era a condição de Anne, e sua frustração pelo parto de Rilla não ser o que ela esperava. Embora a aceitação dela estivesse a caminho sobre aquele assunto, em muitos momentos a rapaz ainda a pegava pensativa, enxugando uma lágrima ou outra quando pensava que ninguém pudesse ver. Porém estar atento a ela era tudo o que Gilbert vinha fazendo nos últimos dias, e para isso, ele procurara ajuda com os dois médicos de Anne, seu obstetra e seu terapeuta.
Psicologia não era o forte de Gilbert, e ele nem tinha a pretensão de se comportar como se realmente entendesse do assunto. Contudo, ele queria dar a sua esposa todo o suporte emocional que ela merecia dentro de casa, e para isso não mediria esforço nenhum. Ele precisava que ela ficasse bem, porque só assim ele também se sentiria confortável em toda aquela situação. Gilbert sabia que não estava sendo fácil para Anne, e que todos aqueles meses ela vinha tentando agir como se esperava dela, porém, ele detestava quando ela fingia que estava tudo bem, que seu coração estava sereno quando ele podia ver que não era bem assim.
Gilbert não queria que ela mentisse para ele. Várias vezes durante as semanas em que ela não se sentia muito bem, Anne deixava de lhe falar as coisas que estava sentindo porque não queria preocupa-lo, mas mesmo que ela não lhe dissesse nada, ele se preocupava mesmo assim, então, ele não via sentido ela esconder-lhe coisas para poupá-lo se no final ele estaria apreensivo do mesmo jeito.
Fora em boa hora que Diana tivesse vindo para fazer companhia a Anne. Se havia uma pessoa capaz de tirá-la de sua melancolia era ela. A amiga de Anne tinha um jeito especial de fazê-la se sentir forte, capaz e principalmente amada, e isso para Gilbert era extremamente importante. Cole também ajudava bastante, e Gilbert podia perceber que quando o rapaz estava por perto, sua ruivinha parecia ficar mais leve, como se pudesse respirar com mais facilidade, e sentir a vida ao seu redor com mais naturalidade.
Anne sentia falta de casa, por isso talvez a presença de seus amigos mais queridos lhe dessem a sensação de que Avonlea e principalmente Green Gables estavam mais próximos dela, e se não fosse por sua faculdade, Gilbert a levaria até lá, e esperariam junto com seus familiares o nascimento de Rilla. No entanto, tanto tempo de estudo e dedicação não poderiam ser desperdiçados assim. Por mais que a vontade fosse grande e a saudade imensa, o rapaz sabia que teriam muito tempo para isso depois. Eles aguentariam mais alguns anos em Nova Iorque, e depois voltariam para casa e nunca mais sairiam de lá.
Ele também sentia falta de seus amigos, e a visita de Muddy lhe provara exatamente isso. Era verdade que adorava seus amigos de Nova Iorque, mas jamais se esqueceria de seu parceiro de toda vida. Era muito boa essa sensação de pertencer a algum lugar, e ele sempre acabava se lembrando de seu pai dizendo que conhecer o mundo era importante para seu próprio crescimento pessoal, mas nunca se deveria esquecer suas origens, pois era onde sua base familiar estava, seus princípios e sua educação.
Gilbert caminhou mais um pouco, e ao passar em frente a uma floricultura, o rapaz viu rosas vermelhas exuberantes, as flores preferidas de sua esposa, e em um impulso, ele comprou um buquê, e pediu que fizessem um arranjo bonito. Rosas vermelhas faziam os olhos de Anne brilharem, e ele adorava o efeito que elas causavam nela. Vê-la sorrir era a sua principal alegria, e não havia nada que ele não fizesse para conseguir pelo menos um sorriso daqueles lábios rosados.
Ele esperou que a vendedora terminasse de arrumar as rosas, pagou pelo buquê, e caminhou para casa feliz por ter tido uma boa ideia. Anne ficaria feliz, e Gilbert quase podia ver o seu olhar encantado ao ver o arranjo de flores . Sua ruivinha merecia o melhor de tudo, e mesmo que a vida não a tivesse tratado com delicadeza ou gentileza, ele faria isso por ela, pois Anne era sua vida, sua motivação, seu incentivo para vencer, seu amor e sua paixão.
Gilbert entrou no apartamento ofegante, pois não quisera esperar pelo elevador, e subiu todos os lances de escada até ali. Ele estava ansioso para ver Anne, pois passara dia todo longe dela, e lidar com sua saudade nunca fora um ponto muito fácil para ele.
Ao abrir a porta tudo estava silencioso, e Gilbert percebeu que Diana já devia ter ido embora. Com cuidado, ele colocou as flores na mesinha da sala, e saiu pelo apartamento a procura de Anne. Ele a encontrou no quarto completamente adormecida. Ela vinha dormindo mais vezes no período da tarde agora, e ele imaginava que os oito meses de gravidez estavam pesando mais do que ela esperava. Ele se aproximou dela devagar, e se sentou na beirada da cama, afastando algumas mexas do cabelo ruivo do rosto dela. Suas mãos viajaram pelo braço desnudo dela em uma carícia suave esperando que ela acordasse, e foi o que aconteceu um minuto depois de sua tentativa em despertá-la.
Os olhos azuis tão claros que sempre lhe lembravam um céu límpido sem chuva, que também podiam ficar tempestuosos, se ela se irritasse com alguma coisa, ou então em sua versão mais escura quando ela estava triste e perdida em seus pensamentos, o encararam no momento em que Anne os abriu, e um sorriso sonhador se desenhou em seu rosto perfeito, tão fresco como o despertar de uma nova manhã.
- Você está aqui.- ela disse estendendo a mão e pegando a dele com carinho.
- Acabei de chegar.- ele disse, observando-a com mais atenção, sem perder de vista nenhum detalhe. Sem querer seu olhar se prendeu no decote da camisola pérola, que evidenciavam o início dos seios dela. Ele engoliu em seco, tentando mudar a direção de seu pensamento, mas era como se estivesse perdido no meio do mar, em busca de salvação, e Anne fosse a bússola que o levaria de volta para o caminho certo.
- Desculpe-me por não estar acordada te esperando. Era para ser só um cochilo, mas creio que caí em um sono pesado.- ela disse sem perceber a situação em que Gilbert se encontrava. O som melodioso daquela voz era como o canto da sereia, atraindo-o para mais perto, e o rapaz fez bem pouco para resistir, pois fazia algum tempo que não se tocavam, e ele nunca soubera se controlar ao máximo quando Anne e eles estavam sozinhos dentro do apartamento a mercê de seus sentimentos por ela. Porém, não queria fazer nada que ela realmente não quisesse ou estivesse preparada, pois nos últimos dias ela andara sensível demais com os recentes acontecimentos, e Gilbert entendia, por isso se mantivera afastado dela, mas, naquele instante, ele percebia o quanto estar com ela dessa maneira lhe fazia falta, porque a conexão de seus corpos sempre fora a expressão legítima de seu amor, e não amá-la assim o deixava carente demais.
- Eu vou preparar o jantar.- ele disse se levantando, e beijando-a no topo da cabeça. Porém, antes que pudesse se afastar, Anne o segurou pela mão, impedindo que ele se fosse, e perguntou:
- O que você tem, amor? Está tão estranho.- Gilbert ia responder, mas o olhar dela o fez ficar em silêncio, deixando-o apenas consciente daqueles lábios vermelhos, e as batidas de seu próprio coração, e então, ele se sentiu sem forças para se afastar. Seus olhos castanhos se prenderam no dela, e naquele momento foi o que bastou para que ele se aproximasse de novo e tomasse os lábios dela nos seus, sedento, apaixonado e intenso. Então, ele descolou seus lábios dos de Anne, apenas para observar-lhe o rosto, mas, ela o puxou de volta, e colou seus lábios novamente, deixando que Gilbert explorasse aquele território tão bem conhecido, tornando o beijo mil vezes prazeroso.
O rapaz se sentou na cama, e Anne foi parar em seu colo, seus corpos se incendiando em uma agonia de desejo que não desfrutavam a dias. As mãos dela passearam pelo peito do rapaz ainda coberto pela camisa, avançando até a barra, onde a puxou para cima, deixando a pele dele exposta para sua livre exploração. Os lábios femininos não perderam tempo, e deixaram a pele de Gilbert marcada com seu beijos, descendo e subindo em uma provocação enlouquecedora, fazendo Gilbert ofegar e suspirar baixinho de olhos fechados ,enquanto ele apertava Anne suavemente contra si.
Os dedos másculos desceram pelas laterais do corpo de Anne, chegando até suas coxas nuas, deslizando a palma sobre elas, em uma carícia lenta e provocante, indo em direção à sua intimidade onde a tocou com carinho, fazendo-a arfar em seu ouvido, tentando aproximar ainda mais seu corpo do dele. Com um único movimento, Gilbert tirou a camisola de Anne, e o contato de suas peles aumentou as sensações que tomavam conta dos dois. Era como estar revivendo cada parte daquela história que os trouxera até ali fortes e se amando ainda mais do que se amaram no passado. Cada carícia era como mais um território conquistado por Gilbert que se perdeu naquele corpo feminino que se movia contra o seu como uma onda se quebrando nas margens da praia, os gemidos de Anne compondo uma melodia em seu ouvido de rendição e prazer. Logo seus corpos nus se entrelaçaram, e seus beijos se tornaram mais profundos, não havia limites ou tempo certo, porque tudo deixou de existir, era somente ele e a mulher amada que se encontravam e se reencontravam na ponta de seus dedos, no deslizar das mãos ansiosas, nas línguas que duelavam e se enroscavam sedentas por mais contato e mais espaço. Assim, ele deslizou para dentro dela, encontrando seu caminho para o mar de prazer que o esperava do outro lado, e como um marinheiro que precisa ser guiado a céu aberto, ele deixou que o corpo feminino lhe mostrasse o ritmo certo , a cadência exata, em um encaixe perfeito que os fazia se movimentar cada vez mais rápido. Anne se segurou no pescoço dele, enquanto ambos continuavam naquela dança que se tornava cada mais intensa, e suas peles escaldantes naquele amor imenso que completava a ambos e os enchia de felicidade. E quando ambos se desmancharam um nos braços do outro quase completamente sem fôlego, Anne sorriu de olhos ainda fechados e se declarou novamente como tantas vezes havia feito em momentos assim:
- Eu te amo tanto.- Gilbert deixou um suave beijo casto em sua testa e respondeu:
- Eu também te amo demais. Nunca se esqueça disso.- Gilbert sussurrou para uma sonolenta Anne que adormeceu com um sorriso lindo no rosto enquanto se aconchegava no peito do homem que amava.
Horas depois, quando despertou, ela olhou para Gilbert que a observava com uma ternura imensa no olhar e perguntou:
- Que horas são?
- Quase sete horas.- ele respondeu com suas mãos acariciando os cabelos dela.
- Precisamos preparar o jantar.- ela disse se sentando na cama ainda apoiada no corpo de Gilbert.
- Sim, mas, antes eu quero te dar uma coisa. Espere aqui.- ele disse, saindo do quarto e voltando com o buque que comprara para ela antes de voltar para casa.
- Rosas vermelhas! São lindas.- Ela disse levando o lindo buquê em direção ao seu rosto para sentir-lhe o odor perfumado.
- Tão lindas quanto a mulher que eu amo.- Gilbert respondeu, beijando-a nos lábios.
- Obrigada. Você sempre me surpreende com essas coisas delicadas.- Anne disse tocando cada pétala com suavidade.
- Você merece isso e muito mais, e tudo o que eu puder te dar para te fazer um pouquinho mais feliz, eu juro que te darei.
- Eu já sou feliz tendo você ao meu lado, e não preciso mais de nada, porque você e Rilla são tudo o que preciso.- eles trocaram mais um beijo, e Gilbert disse:
- Vou preparar o nosso jantar.
- Não vá, fique aqui comigo.- Anne disse segurando em seu pulso.
- Não está com fome?
- Não, só estou com saudades do meu marido.- ela disse com um convite no olhar que Gilbert não pôde e nem quis recusar. Assim, ele se juntou a ela na cama de novo, deixando o jantar para ser preparado muito mais tarde.
GILBERT E ANNE
Alguns dias se passaram, e a vida ia seguindo o seu rumo. Embora a apreensão pelo nascimento de Rilla ainda assombrasse os pensamentos de Anne, ela se divertiu como nunca. Diana a arrastou para vários lugares em nova Iorque que ela acabou descobrindo por intermédio de Cole, e quase tudo envolvia o encantado e maravilhoso mundo infantil.
Diana a encheu de presentes, e quando os pacotes foram colocados no quartinho de Rilla, Anne viu que logo teria que comprar um armário maior para caber a quantidade de coisas que vinha ganhando de seus amigos nos últimos dias. Matthew e Marilla também lhe enviaram presentes, e Anne ficou encantada com que Rilla ganhara de seus avós postiços. Marilla lhe mandara uma cestinha onde poderia carregar sua filhinha para todos os lugares, e Matthew lhe presenteara com um vestidinho azul todo bordado, que fez Anne chorar de emoção ao imaginar sua pequenina vestindo algo tão adorável.
A cumplicidade de Gilbert e Anne tinha crescido demais naquelas semanas em que faltavam para o nascimento da bebezinha. Não tiveram mais tardes tórridas de amor, mas acabavam sempre trocando carinhos intensos antes de dormir, o que não os deixava exatamente satisfeitos, mas, entendiam que com o parto tão próximo, eles deviam tomar mais cuidado e se conter um pouco mais, pois teriam tempo para isso depois.
Anne fizera sua última consulta naquela semana, e o Dr. Miller dissera que tudo estava correndo como o previsto. Anne às vezes ainda se entristecia ao pensar que Rilla não nasceria de nove meses, mas, ia aos poucos compreendendo que o que importava era que Rilla nascesse bem e não quando exatamente esse parto aconteceria.
Naquela semana, Cole apareceu com Pierre e resolveram fazer um jantar a moda francesa que Anne poderia comer sem problemas, pois a maioria dos pratos de Pierre levavam tipos de temperos diferentes que utilizavam muito pouco o sódio. Quando Gilbert abriu a porta do apartamento, aromas diversos chegaram à suas narinas, fazendo-o ir até a cozinha para investigar de onde aqueles cheiros todos estavam vindo. Logo, ele encontrou Anne sentada na mesa da cozinha com Cole e Pierre vestidos de mestre cuca, em volta de um enorme pote no fogão, onde Pierre acrescentava os legumes, e Cole os mexia com uma colher de pau.
O que deixou Gilbert feliz não foi o inesperado e sofisticado jantar, e sim a alegria no rosto de Anne que ele pouco vira naqueles dias tensos. Ela sorria com uma calma reconfortante, sentada feita uma rainha com suas mãos na barriga, que Gilbert observou-a acariciando de leve de vez em quando, os cabelos soltos em ondas suaves descendo por seus ombros, e os olhos azuis feito aquele mar no qual ele muitas vezes se sentia navegar quando se encaravam com tanto amor. Não demorou muito tempo, Anne percebeu sua presença na porta da cozinha e disse com seu sorriso ainda maior:
- Oi, meu amor. Que bom que chegou.- Gilbert se aproximou, beijou-a na testa e disse:
- Parece que temos uma comemoração por aqui.
- Ah, Gilbert. Espero que não se importe por termos invadido sua cozinha, mas, Pierre cismou que queria cozinhar para Anne hoje, e não tive como fazê-lo mudar de ideia.- O rapaz parecia pouco a vontade, talvez porque pensasse que Gilbert poderia não gostar daquele intromissão.
- De forma nenhuma. Qualquer pessoa que faz minha esposa sorrir desse jeito merece o meu respeito.- Gilbert respondeu, apertando a mão de Cole e a de Pierre com afeição .- O que teremos para o jantar? O aroma está maravilhoso.- ele perguntou dando uma olhadinha dentro da panela com curiosidade.
- Uma sopa francesa que se chama La Crème que é constituída de legumes amassados com creme de leite. Não se preocupe com a dieta de Anne, pois Pierre teve o maior cuidado com o tempero.- Cole explicou.
- Precisam de minha ajuda para alguma coisa? – Gilbert se ofereceu.
- Não, o jantar está quase pronto.- Cole respondeu com um sorriso.
- Então, vou tomar banho e volto daqui a pouco para experimentar essa delícia.- Gilbert disse, dando mais um beijo em Anne e se dirigindo para o quarto do casal, do qual voltou em instantes, mais para apreciar aquele sorriso de Anne que o deixava tão feliz naquele dia do que propriamente interesse na comida que Cole e Pierre estavam preparando. Embora fosse grande apreciador de uma boa comida, estar com Anne naquele estado de humor maravilhoso era mais importante para ele do que qualquer coisa, pois lhe lembrava muito a sua antiga ruivinha com seus sorrisos fáceis e seus olhares brilhantes cheios de uma curiosidade natural pela vida e por tudo ao seu redor. De todas as coisas que sentia falta de seu passado, ver Anne sorrir como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo era uma delas, e esperava que com o tempo, depois que tudo isso passasse, ela voltasse a ser o que fora um dia, livre em seu coração, sonhadora e cheia de planos para o futuro.
O jantar foi excelente assim como a companhia. Pierre ainda não falava tão bem o inglês, e por isso, boa parte da conversa era intermediada por Cole, mas, não deixava de ser interessante ou animada. Anne parecia outra aquela noite, ela chegara a gargalhar com as piadas de seu amigo, que fez Gilbert apurar melhor o ouvido para ouvir aquela raridade. Às vezes, ela encarava Gilbert sorrindo e apertava sua mão por sobre a mesa como se quisesse que ele partilhasse com ela aquele momento único de desconcentração, e ele sentia em seu coração um alento sem igual.
Anne também se sentia diferente aquela noite. Era como se toda sua apreensão tivesse sido reduzia a zero. A companhia de Cole era mágica, assim como a de seu marido que não parava de olhar para ela como se ela fosse uma preciosidade tão grande que ele queria proteger de todo o mal, e ela realmente se sentia preciosa quando o amor dele brilhava em seus olhos castanhos, quando seu sorriso dizia bem mais do que as palavras, e quando ela sentia que tudo que existia entre os dois era perfeito porque Gilbert não escondia que a amava daquela maneira.
Quando a noite terminou, depois de Gilbert ter sido desafiado por Pierre para uma partida de xadrez, eles foram para o quarto ainda envoltos pela magia da noite, e a leveza que não tinham a muito tempo, mas da qual realmente precisavam naqueles últimos dias antes de Rilla vir ao mundo. Ela estava na janela, quando Gilbert terminou de se arrumar para dormir, e como de costume, ele a segurou pela cintura e ficaram olhando a lua que brilhava intensamente aquela noite como as estrelas.
- Essa noite foi incrível.- Gilbert disse, beijando-a no seu ombro direto com carinho.
- Sim.- Anne respondeu de um jeito pensativo que o fez perguntar:
- No que está pensando?
- Em nós, na nossa vida, e na nossa filha que vai nascer daqui a tão pouco tempo.- ela respondeu com o olhar ainda perdido na escuridão da noite.
- Ainda está com medo?- ele perguntou fazendo com que Anne apoiasse as costas em seu peito.
- Acho que estou melhor em relação a isso. Desculpe-me pelos momentos tensos que te fiz passar esses últimos meses.- Anne disse, se virando para Gilbert e descansando a cabeça em seu ombro.
- Não há nada a desculpar. Você é minha esposa, e tudo que te afeta, consequentemente me afeta também. Você é humana e tem direito a ter seus medos e incertezas, e estou muito feliz de estar aqui e poder te dar o apoio que precisa. Eu te amo, Anne, e o amor é isso, assim como no casamento, na alegria e na tristeza, na saúde ou na doença, até que a morte nos separe.- Ele disse todo poético, e Anne apenas riu, se aconchegando naqueles braços que eram seu refúgio preferido.
- Esse nosso amor é tão grande que vai continuar sobrevivendo em outra esfera, mesmo quando não estivermos mais aqui.- ela disse olhando nos olhos dele.- Eu nunca vou deixar de te amar. Nem daqui a mil anos.- Gilbert sentiu seu coração se agitar, e depois começar a bater tão rápido com aquela simples declaração, que ele não soube de onde veio a emoção que o atingiu, deixando seus olhos marejados, e lágrimas escorreram por seu rosto, sem que ele pudesse explicá-las
- Amor, você está chorando?- Anne perguntou espantada, segurando o rosto dele entre suas duas mãos.
- Não se preocupe, eu apenas me emocionei com o que disse. É incrível pensar que podemos sentir um amor assim, que irá conosco mesmo quando não mais existirmos.- ele disse, passando as mãos pelo rosto, tentando secar as lágrimas inesperadas em seu rosto.
- Mas, você acredita no que eu disse?
- Sim, eu me sinto do mesmo jeito. Nunca mais vou amar ninguém assim tão absolutamente e tão completamente. Às vezes eu me lembro de nossas brigas por conta de algum ciúme seu, e me pergunto como você nunca percebeu que nunca houve concorrência nenhuma, e que eu sempre fui totalmente seu desde que te salvei de Billy Andrews naquela floresta.- Anne acariciou os cachos castanhos de Gilbert e respondeu;
- Eu era uma boba que não confiava em mim mesma e no seu amor por mim, mas, depois de todo esse tempo juntos, e as inúmeras situações pelas quais passamos, eu posso te dizer com toda certeza que você nunca mais vai ter que provar seu amor por mim, pois eu o sinto aqui em meu coração, e aqui onde nossa filha cresce, porque ela é o fruto do que sentimos, e estou tão imensamente feliz por te dar esse presente.- eles se beijaram, como não poderia deixar de ser, porque naquele contato de lábios quando não precisavam mais falar todas as emoções se multiplicavam e se misturavam, unindo o passado, o presente e o futuro.
Eles foram para a cama naquela noite e adormeceram se sentindo completos, porque nada no universo inteiro poderia destruir o que carregavam em seus corações um pelo outro. Quando amanheceu, como de costume, Gilbert foi preparar o café da manhã, enquanto Anne se levantava devagar, pois sua barriga de oito meses a impedia de ter a agilidade de antes, e foi para o banheiro tomar um banho antes de se juntar a Gilbert na cozinha.
O rapaz cantarolava contente uma de suas canções favoritas, quando ouviu Anne chamá-lo com uma voz que parecia aflita. Imediatamente, ele parou o que estava fazendo para ir até o quarto e ver o que tinha acontecido. Quando Gilbert entrou, ele encontrou Anne na porta do banheiro segurando a barra da camisola com um olhar assustado que fez Gilbert baixar seus olhos para o chão, e quase gritar de surpresa. Ele chegou perto de Anne para tentar acalmá-la e disse:
- Amor, fique calma, pois sua bolsa estourou.
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