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Capítulo 123- Uma nova forma de amar


Olá, pessoal. Aqui está mais um capítulo da história. espero que gostem e se sintam motivados a comentar e também me deixem seus votos. Beijos. Vou corrigir depois.


GILBERT

Os últimos dias de primavera passavam devagar, e logo dariam lugar a estação favorita de Gilbert. Era uma pena que não estivessem em Avonlea, onde bastava andar alguns metros e já estariam na praia, e assim curtiriam o verão do jeito que mais gostava, nadando no mar juntos com seus amigos mais queridos. Fazia tanto tempo que não perdia uma tarde inteira tocando violão, fazendo piqueniques, jogando xadrez ou rindo das histórias absurdas que Moody adorava lhe contar.

Ele sentia muita falta da vida despreocupada que tivera na adolescência, tirando a época que ele viajara por um ano em alto mar junto com Bash, onde tivera que vestir a roupagem do garoto quase adulto, que decidira viver por conta própria, sendo assim o único responsável por si mesmo. Quando voltara, Gilbert assumira uma postura mais leve, e passara a viver a sua idade da maneira como seria esperado de um rapaz de dezessete anos, embora essa leveza durasse apenas dois verões, pois logo viera a época da faculdade, e outras responsabilidades surgiram, que o obrigaram a deixar os sonhos juvenis para trás e encarar desafios mais sérios que demandavam um cérebro mais adulto, e atitudes mais consistentes.

E assim o menino Blythe que tinha desejado ser um cidadão do mundo deixara que seu coração o levasse para uma aventura muito maior que se chamava casamento e paternidade, e em nenhum momento, ele se arrependera de ter dado esse passo tão cedo. Apesar da saudade que sentia de seus tempos de outrora, Gilbert não trocaria sua vida de agora pelo que tivera antes, porque pensar em viagens, cada dia atracar em uma cidade diferente, dormir em lugares diferentes era conceber uma vida sem Anne, e isso era como pedir que deixasse sua própria pele de lado e se transformar em outra pessoa, pois ele sendo quem era e tendo seu coração tomado pela imagem da ruivinha, nunca conseguiria dar um passo se ela não tivesse do seu lado, e assim, mesmo tendo a alma livre como um pássaro que desejava levantar voo até outros territórios, ele sabia que no momento o que era imperativo em sua vida, além de terminar a faculdade de medicina, era cuidar de Anne até que ela desse a luz à filha deles, e então, quem sabe em um futuro onde a vida estivesse em ritmo mais tranquilo, ele não pudesse sonhar com mais viagens só que dessa vez levaria com ele duas passadeiras muito especiais.

Seu horário de trabalho terminou como todos os dias às cinco da tarde, e por conta do clima agradável, ele decidiu caminhar para casa. Gilbert gostava de andar pelas ruas quando o movimento ainda não era muito intenso, assim lhe dava a oportunidade de observar os lugares por onde passava, enquanto deixava que seu pensamento corresse livre para os últimos acontecimentos da semana ou do dia, e também lhe dava tempo para se preparar para o que quer que o estivesse esperando no apartamento.

Anne tinha altos e baixos, e desde sua segunda crise de pressão alta, ela vinha exibindo diferentes tipos de humor. Havia dias que ela acordava sorrindo, e passava o dia como se estivesse em uma nuvem de felicidade que pudesse transportá-la para o mundo mágico de sua imaginação que não deixara de ser rica de ideias apesar de seu amadurecimento precoce. Era como se ela se transformasse na princesa Cordélia de sua infância, e conseguisse vislumbrar novos horizonte a percorrer, e novas histórias para escrever em seu diário de memórias, e havia dias que ela amanhecia em um melancolia extrema, onde o brilho de seus olhos eram roubados por sombras escuras, como se sua alma se consumisse lentamente por uma dor e sofrimento que somente ela era capaz de sentir.

Era nesses momentos que Gilbert percebia o quão limitado eram seus conhecimentos acerca de emoções humanas, e por mais que lesse a respeito, e conversasse com o Dr. Spencer e o Dr, Miller sobre essa inconstância das emoções de Anne, havia muito pouco que ele pudesse fazer para ajudá-la a sair desse quadro obsessivo. E por mais carinho que desse a ela, e por mais que a fizesse se sentir amada, ele nunca conseguia alcançá-la totalmente. Havia um vácuo entre os dois que ele não conseguia preencher, e o rapaz levara um certo tempo para entender que Anne não mantinha uma distância sentimental deliberada dele, como Gilbert costumava pensar no passado, e até se sentia magoado por acreditar que sua esposa não confiava nele o bastante para lhe confessar seus receios. Era o subconsciente dela que agia por conta própria como forma de preservação de qualquer influência externa que pudesse fragilizá-la ainda mais.

Não eram somente os hormônios da gravidez que estavam fazendo-a reagir de maneira exagerada em relação a todos os acontecimentos ao seu redor, ou suas crises de pressão alta que a empurravam morro abaixo de seus sentimentos, fazendo-a quase despencar rumo a um abismo onde suas emoções poderiam facilmente serem manipuladas por pensamentos destrutivos. Era todo um conjunto de fatores que comandavam os dias de Anne agora, e até que conseguisse chegar ao fim daquela gravidez, ela teria que encontrar uma maneira de lidar consigo própria e seu sofrimento interior solitário.

Por conta de suas mudanças de ânimo descontroladas, ela tivera que deixar de ir à faculdade. Na primeira semana, tudo tinha corrido razoavelmente bem, e Gilbert tinha visto até certo progresso em sua maneira de lidar com sua limitação física, mas, conforme os trabalhos que tinha que fazer foram se acumulando, e o nível de estresse em seu corpo tornou-se excessivo, as crises de choro foram inevitáveis, sua depressão passou a ser mais persistente, então, tanto seu psicólogo quanto seu obstetra acharam por bem afastá-la de suas atividades acadêmicas por tempo indefinido.

Anne ficara desolada com a notícia, e por dois dias não quisera sair da cama. Preocupado, Gilbert conversou com os professores dela e a coordenação pedagógica do curso de literatura, e decidiram que ela poderia estudar em casa, e depois quando permitido, ela realizaria todos os exames pendentes, pois achavam uma pena, uma aluna com uma inteligência como a dela perder o ano por conta de um problema físico que não duraria para sempre. Com notícias mais promissoras, Anne voltara a se animar, e assim, todos os dias, quando Gilbert saía da sua aula, ele se encontrava com Sharon e ela lhe entregava toda a matéria que Anne teria que estudar naquela semana, assim como os trabalhos que deveria realizar para complementar sua média.

Assim, ela ia ocupando seus dias que teriam sido terrivelmente tediosos se tivesse que ficar trancada em casa sem ter nada substancial para ocupar sua mente, e Gilbert só podia agradecer aos professores que de boa vontade providenciaram aquelas atividades tão necessárias, pois assim, ele podia trabalhar tranquilo sabendo que Anne não passaria o dia todo pensando em suas tragédias pessoais, o que poderia afetar Rilla diretamente.

A duas quadras do apartamento, ele caminhou apressadamente. De repente, chegar em casa era o único pensamento que persistia em sua mente, pois como acontecia todos os dias assim que cruzava a esquina da sua rua, a ansiedade começava a apertar seu peito, e automaticamente ele levava a mão ao coração disparatado, que somente voltava ao bater normalmente quando ele pisava dentro do apartamento e olhava para o rosto de sua esposa, certificando-se de que ela estava realmente bem.

Ele não gostava de deixá-la sozinha. Em dias ruins ele chamava uma enfermeira para ficar com ela, o que lhe valia milhares de olhares gelados de Anne, pois ela simplesmente detestava depender de estranhos, mas, nos dias bons ela se recusava a ter outro tipo de companhia que não fosse a dele, e assim tentava se equilibrar entre os vários polos em que se dividia o humor de Anne nesses momentos incomuns.

Ele chegou na porta do apartamento, respirou fundo e esperou por alguns segundos seu corpo voltar a funcionar em um ritmo normal. Gilbert não sabia quando começara a desenvolver essa apreensão absurda pelo estado de Anne, mas a verdade era que cada vez que voltava para casa depois de quase um dia inteiro sem vê-la, ele se sentia quase doente de preocupação, e embora Gilbert tentasse de todas as formas controlar esse seu lado até certo ponto irracional, ele acabava por se deixar levar por seus receios acerca do bem-estar de sua esposa.

O rapaz adentrou o apartamento, e suspirou de alívio ao ver Anne sentada na mesa da sala cercada de papéis. Vê-la assim ativa era mil vezes melhor do que quando ela se recusava a sair da cama, pois esse lado afável dela era muito mais fácil de lidar do que sua melancolia sombria.

- Oi, meu amor. Você veio caminhando do trabalho para casa? - Anne perguntou com um sorriso amável no rosto.

- Sim, como adivinhou? - ele perguntou ao se aproximar dela.

- Seus cabelos despenteados te entregaram. - Ela disse rindo com um ar divertido. E Gilbert pensou que só mesmo ela para notar um detalhe tão sutil em sua aparência, assim como ele jamais deixaria de notar qualquer mudança no rosto dela ou corpo por menor que fosse.

- O que está fazendo? - ele apontou para as folhas em cima da mesa, e Anne respondeu:

- Estou escrevendo cartas para Rilla. - Anne respondeu com seu semblante suave.

- Por que está escrevendo essas cartas, Anne? - Gilbert perguntou, franzindo o cenho.

- Não é nada demais. Estou escrevendo essas cartas, pois quero que quando Rilla tenha idade para entender, ela saiba sobre todo esse período antes do nascimento dela. - Anne explicou segurando na mão dele que estivera pousada antes em seu ombro.

- Por que escrever essas cartas são tão importantes para você? - Gilbert insistiu no assunto, pois queria entender o que Anne tinha em mente e porque tal fato o deixava inquieto.

- Eu quero que ela saiba como foi amada e desejada por nós dois. Eu não tive isso de meus pais, e talvez se algo assim tivesse acontecido, eu não me sentiria tão rejeitada como me senti a vida toda por não saber o tipo de amor que meus pais um dia sentiram por mim.- Gilbert acariciou os cabelos dela e pediu:

- Posso ler essas cartas? – O rapaz não se sentia bem com aquela ideia, pois um pensamento de finalidade tomou conta de sua mente, causando uma angústia que ele tentou afastar com todas as suas forças.

- Ah, meu amor. Você ficaria muito bravo se eu não te mostrasse? São muito pessoais, e não sei se conseguiria partilhar meus pensamentos com você nesse momento. – O olhar dela lhe transmitiam tantos sentimentos que Gilbert sentiu uma fisgada em seu coração. Quando iria parar de doer ver aquele rosto tão lindo lutar para manter seu próprio sorriso.?

- Tudo bem. – Ele disse mudando totalmente de assunto. Não queria insistir em uma conversa que por alguma razão não o estava agradando. - Eu trouxe a matéria que você tem que estudar essa semana.

- Obrigada. - Ela disse examinando todo o conteúdo que teria que revisar.

- Qual é o autor que estudaremos juntos? - Gilbert perguntou ao ver o sorriso satisfeito dela.

- Jonathan Swift- As Aventuras de Gulliver.

- Que interessante. Um autor viajante. – Gilbert disse animado.

- Você ainda sente saudades de velejar? - Anne perguntou olhando-o com curiosidade.

- Não como antes. Agora eu tenho um motivo para ficar. - Ele disse puxando-a para seus braços.

- Mas se tivesse a oportunidade novamente não gostaria de voltar a viajar pelo mundo?- Gilbert a olhou e percebeu que aquela era uma questão importante para ela, e que a pergunta feita não fora construída aleatoriamente Era algo no qual ela vinha pensando a algum tempo. Gilbert conhecia sua esposa como conhecia a si mesmo, e sabia que Anne nunca tocava em um assunto se já não estivesse com ele solidificado em sua mente.

- Só se você e Rilla fossem comigo. Eu falei sério em comprar um barco, e levar vocês duas para viajarem comigo. Por que está tão preocupada com esse assunto agora? - ele perguntou segurando o rosto dela entre as mãos em um ato que o fazia enxergar cada pequenina sarda que um dia ela odiara tanto, e que a tornava única a seus olhos como uma marca registrada de sua ruivinha.

- Às vezes acho que é egoísmo meu te prender aqui comigo. Você é tão jovem, e tem tanta coisa para viver e conhecer. Quem em sã consciência se casa aos vinte anos e se torna pai de família? Eu queria que você tivesse mais oportunidades além das que já teve. O mundo é tão grande e você o tem a seus pés, basta seguir seu coração e seus sonhos. - Então era isso. Ele pensou. Aquilo explicava muita coisa. Ela vinha imaginando que um dia ele poderia se arrepender das escolha que fizera ainda tão jovem, e se tornar alguém amargurado, mas, o que ela não sabia era que o amor dela o tinha salvado de se tornar alguém exatamente assim se tivesse continuado em seu propósito anterior, pois naquele tempo, a insatisfação o acompanhava por todos os continentes, e embora estivera fazendo o que sempre desejara fazer, fugir de sua terra natal não lhe dera a paz que sonhara, e que só encontrara quando seus olhos se prenderam na íris azul dos dela.

- Eu não o quero sem você. Será que não entende, Anne, que o mundo nunca terá o mesmo sabor para mim sem você nele? Eu preciso apenas de você para ser feliz e a Rilla que logo vai estar aqui conosco. Não encha sua cabeça de ideias absurdas, meu amor. Um dia eu irei viajar de novo, mas, somente se vocês duas forem comigo. Eu me casei aos vinte anos com a mulher que eu sempre desejei, e em breve terei outra ruivinha em minha vida para completar essa felicidade. Eu tenho tudo o que preciso exatamente aqui. - Gilbert uniu seus lábios, e uma fagulha de desejo passou por seus corpos como o início do fogo aceso na lareira, mas Gilbert o sufocou antes que começasse realmente a ficar quente para os dois. Anne precisava de uma pausa, e ele não se importava de esperar até que ela estivesse bem de novo, mesmo sendo difícil manter suas mãos longe dela. Assim que se afastaram, ele disse;

- Vou me trocar e volto logo para te ajudar com os seus estudos. - Ele se virou para ir para o quarto quando Anne o chamou de volta e disse:

- Obrigada por não desistir de mim.

- Se eu desistisse de você, eu teria que desistir de mim e seríamos dois corações divididos e infelizes demais para continuar vivendo em um mundo totalmente separados. – ele beijou-a na testa e disse: Espere por mim que eu já volto.- e assim continuou o seu caminho do corredor até o quarto sentindo que mais um elo entre eles havia sido reforçado, e esperava de todo o coração que nada mais fizesse Anne pensar que não merecia o seu amor.

ANNE

O calor estava quase se tornando insuportável, e o fim de sua tão amada primavera deixava Anne triste, que era simplesmente apaixonada pelos dias floridos e frescos que aquela estação era capaz de proporcionar. Tudo se tornava tão alegre com flores diversas por toda parte, o perfume das azaleias que chegavam até sua janela e que vinha diretamente do parque ali na frente era doce e suave, e Anne podia senti-lo em cada cômodo da casa, dando lhe um falsa e confortadora impressão que Green Gables estava tão próxima, o que também a fazia pensar em sua Rainha das Neves.

Ela ainda deveria estar carregada de flores, apesar do fim eminente da estação. Anne se lembrava o quanto sua cerejeira ficava majestosa naquela época do ano, e de repente, seu coração ficou moído de saudades da simplicidade da casa de Matthew e Marilla, das manhãs em que acordava ao alvorecer para realizar as tarefas da casa, de suas fugas para a floresta quando ela sentia que estava lutando sozinha contra uma sociedade inteira que insistia em julgá-la por ser uma órfã que não sabia onde estavam suas verdadeiras origens, de suas caminhadas na praia que passaram a ser um ritual viciante e apaziguador de seus temores internos, e de seu amor por Gilbert que levara a conhecer um outro lado seu desconhecido, fazendo-a descobrir que por trás de sua indiferença a respeito de encontrar sua cara metade havia uma mulher ansiosa que sempre seria comandada por suas paixões.

Seria bom poder voltar, pisar descalça na grama molhada pelo orvalho da madrugada, nadar no lago nos dias mais ensolarados, e depois se deitar na relva macia, olhando para o infinito e tentando decidir quais imagens as nuvens tentavam formar no céu como anjos brincando em um playground infinito. Ela sentia-se saudosa de tantas coisas, e de tantos momentos que gostaria de reviver se tivesse a oportunidade de viajar no tempo, e trazer novamente para si a essência de cada um. Mas, a vida seguia seu curso, e ela não era mais aquela menina tagarela, que falava o que lhe vinha a cabeça, que não se importava em dizer o que pensava, e que quando a feriam com palavras, ela feria de volta porque era a única maneira de se defender que conhecia naquela época.

Com o tempo e após boas conversas com Matthew, Anne aprendera que nem sempre precisava ficar esperando com uma pedra na mão para contra atacar se quase fosse atingida pela língua ferina de alguém. Ela podia simplesmente agir com sutileza, usando a inteligência que tinha e não a força, e fora assim que ela ganhara o respeito que lhe era devido, e se tornara um membro permanente da sociedade de Avonlea. Ela pensou em Rilla e suspirou aliviada ao constatar que a filha não teria que passar pelo que ela passara, pois já nasceria em um berço privilegiado, onde teria todo o amor e cuidado do mundo dos seus pais. Gilbert faria dela uma princesa, disso Anne tinha certeza, pois a menina nem tinha nascido ainda e ele já a paparicava no útero da mãe.

Um lembrança súbita a tirou da janela e de onde se despedia de sua querida primavera, pois no dia seguinte o verão já teria chegado, e aquele calor medonho se tornaria três vezes mais potente ao tocar o asfalto inclemente, onde não havia nenhuma lagoa por perto para refrescar os pés. Ela olhou para o calendário onde marcava uma data especial, e se deu conta que Gilbert sequer tocara no assunto que na próxima sexta-feira seria o aniversário dele de vinte um anos.

Seu marido chegava à maioridade, e ela não podia se sentir mais orgulhosa do homem que ele se tornara, assim como ela sabia que a maturidade estava lhe cobrando um preço extremamente caro, principalmente pela recente fase pela qual estavam passando. Anne tinha consciência que não estava sendo uma companhia muito fácil de se conviver, embora não fosse sua intenção tornar a vida de Gilbert difícil ou mesmo intolerável, e ainda assim, ela o via lidar com cada uma de suas inconstâncias de humor com um paciência maior que ela mesma não teria se estivesse no lugar dele.

A ruivinha nunca pensara que se veria no papel de paciente, uma vez que se acostumara a cuidar de todas as pessoas ao seu redor, mas, agora ela se via em uma posição que não lhe agradava muito, e por isso se ressentia toda vez que Gilbert contratava uma enfermeira para ficar com ela. Ela entendia que era para o seu bem, e que dessa forma, seu marido podia ir para a faculdade e trabalhar sossegado sabendo que ela estava sendo monitorada enquanto ele não estava por perto, e só por isso tolerava a presença da enfermeira em sua casa.

A sua frustração nesse caso não era pela pessoa contratada em si que vinha até ali de muito boa vontade desempenhar suas funções, e sim pelo seu corpo fraco que a colocava naquela posição. Ela queria ser capaz de cuidar de si mesma e de sua filha sozinha, mas na maior parte do tempo, se sentia sem energia, tornando qualquer tarefa por mais simples que fosse tão difícil de ser realizada. E se não bastasse tudo isso, sua incapacidade de controlar suas emoções era outro fator terrivelmente desanimador. Ela nunca pensara que lutar para que sua filha nascesse bem sugaria até a última gota de seu ânimo, mas, ela sabia que no final valeria a pena , por isso continuava firme, segurando na mão de Gilbert que era o único reforço que precisava ter pra seguir em frente.

Ele realmente fora um anjo ao falar com seus professores sobre as aulas que ela perderia. Se não fosse por Gilbert, Anne ainda estaria no quarto completamente entregue a um inconformismo flagelador. Pelo menos com as matérias que tinha que estudar, e os trabalhos que os professores lhe enviavam através de Sharon, Anne podia se manter ativa durante as horas em que Gilbert não estava com ela, e o sentimento de inutilidade que sentira nos primeiros dias tinha desaparecido conforme ela se envolvia no mundo da literatura, que era realmente uma de suas paixões.

Afastando seus pensamentos, ela fixou novamente seu olhar na data do aniversário de Gilbert, pois precisava pensar em alguma coisa especial que gostaria de preparar para seu marido nesse dia, já que ele não parecia muito inclinado a comemorar um dia que marcava sua entrada em definitivo para a vida adulta.

A campainha tocou, e Anne franziu a testa por não conseguir imaginar quem poderia ser àquela hora, pois ela não esperava por ninguém em especial, mas, logo tratou de atender, pois o visitante parecia mais ansioso que ela já que não largava a campainha. Assim, ela abriu a porta, pronta para reclamar daquela intromissão ruidosa, quando viu a sua frente Cole Mackenzie mais bonito do que nunca, com seus cabelos muito loiros cortados na última moda, suas roupas elegantes e escuras contrastando com sua pele alva, e exclamou cheia de felicidade:

- Cole!

- Olá, minha querida. Senti muitas saudades. - O rapaz disse abraçando-a com seu jeito carinhoso e delicado que fazia Anne se sentir em casa, assim como quando abraçava Gilbert.

- Eu também. Por que demorou tanto para voltar? - Anne reclamou um tanto chorosa, sem se soltar do amigo que tinha lhe feito tanta falta em muitos momentos em que precisara desabafar e não tivera com quem falar.

- Perdoe-me. Eu tive que resolver alguns problemas pessoais, mas, me deixe olhar para você. - Ele examinou cada detalhe da aparência de sua querida amiga, e comentou: - Como você está linda, Anne. Acho que em todo esse tempo que te conheço nunca a vi tão radiante. A gravidez lhe fez muito bem.

Anne queria agradecer pelo elogio, falar alguma coisa espirituosa ou mesmo engraçada como sempre acontecia quando estava na presença do amigo, mas, as lembranças dos últimos dias, todo o histórico de sua doença, e mais as situações que ela e Gilbert tinham que driblar para conseguirem alcançar o objetivo de toda aquela jornada a fizeram fraquejar, titubear, diante do rapaz que sempre fora mas do que um amigo para ela, que sempre estivera lá direta ou indiretamente dando-lhe todo o apoio do mundo.

Lágrimas quentes chegaram aos seus olhos e transbordaram pelo seu rosto delicado, deixando sua mágoa exposta ao olhar de Cole que a amparou em seus braços no mesmo instante, enquanto falava carinhosamente:

- Não chore assim, meu amor. Eu sei que não tem sido fácil, mas eu estou aqui, e você não está mais sozinha.- Anne se afastou um pouquinho para fitar o rosto do amigo surpresa com suas palavras, mas, não teve que lhe perguntar nada, pois logo ele lhe explicou.

- Eu encontrei a Sharon no dia em que cheguei em Nova Iorque, e ela me contou de sua doença. Eu sinto tanto, Anne, por não ter estado aqui antes, mas eu juro que não vou mais me afastar até que você tenha sua filhinha nos braços. - Anne apoiou a cabeça no ombro de Cole e disse por entre seu choro sentido:

- Eu tenho tanto medo, Cole, de não conseguir ver minha filhinha nascer.

- Não diga, isso. Nada vai acontecer. Eu e Gilbert vamos cuidar de você, e tudo isso vai passar o mais rápido possível. Acredita em mim, não é? - ele disse de maneira firme.

-Eu acredito. - Anne disse baixinho.

- E como o Gilbert tem lidado com tudo isso? - Cole perguntou levando Anne com ele para se sentar no sofá da sala.

- Ele tem sido maravilhoso, e tenta me animar a todo momento, mas, eu sei que ele está sofrendo, só finge estar bem para não me preocupar. Às vezes eu me pergunto se não estou testando os limites dele ao submetê-lo a esse estresse todo, Cole. Gilbert carregou por muito tempo a culpa pela morte de sua mãe que não lhe cabia de forma nenhuma, passou pelo mesmo sofrimento com Mary, e agora eu me pergunto que direito eu tenho de arrastá-lo para algo incerto e tão intimidador quanto essa situação toda.- ela disse, sentindo-se arrasada com as próprias palavras. Anne evitava falar disso com qualquer pessoa, porque não queria dar a impressão que tinha se arrependido por ter engravidado. Rilla era a única coisa da qual nunca se arrependeria, e daria sua vida por ela sem pestanejar se preciso fosse.

- Anne, acho que está errada ao pensar assim. Quando duas pessoas decidem passar o resto de suas vidas juntas, elas assumem o compromisso de se apoiarem em todas as situações, e foi isso o que você fez quando Gilbert teve que se submeter a uma cirurgia tão delicada, e é isso que ele está fazendo ao ajudá-la a passar por esse período turbulento. Não deve se sentir culpada por isso. Vocês se amam e devem estar juntos agora pelo bem de sua filhinha.- era tão bom ouvir as palavras de Cole, que entravam em sua alma e caiam sobre ela como se fossem chuva sobre terra seca, mais, ainda assim Anne sabia bem o que estava enfrentando, e ela nunca tivera que pensar em sua própria morte antes, como vinha pensando no último mês, pois por mais feliz que estivesse porque tinha um bebê dentro de si, ela também entendia que não havia nenhum romantismo ali, a não ser atenção redobrada pelo que poderia acontecer. E ela sabia por instinto que Gilbert pensava nisso também, só não tinha coragem de expor em palavras aquela verdade tão crua.

- Eu tenho escrito cartas para Rilla. - Anne confessou, olhando para qualquer lugar menos para o rosto de Cole, pois, imaginava que ele não aprovaria o que ela andava fazendo.

- Por que tem feito isso, Anne?

- Porque se ela não chegar a me conhecer, eu quero que ela saiba o quanto eu a amei e desejei seu nascimento. Não quero que ela passe pela mesma coisa que eu de não saber nada sobre quem foi sua mãe, e ter que depender da memória e da boa vontade de outras pessoas para lhe darem as informações que tanto deseja. – Ela disse por fim, não desejando que Cole soubesse como era difícil para ela colocar nas cartas todos os seus sentimentos, e inevitavelmente, ela sempre acabava em prantos ao assinar cada uma delas com seu nome. Anne nunca tivera dificuldade de escrever o que quer que fosse antes, mas, não estava lidando com poesias ali ou com o lado mais bonito da vida. Era uma tentativa de que se por acaso no momento final seu corpo falhasse, ela tivesse deixado um legado para Rilla que nunca seria perdido ou relegado à poeira dos esquecidos. Sua filha tinha o direito de saber que tipo de sangue corria em suas veias, e como ela fora concebida por duas pessoas que se amaram mais do que seria possível acreditar.

- Anne, eu não vou dizer que o que está fazendo é errado, embora eu não concorde nem um pouco com isso, mas, o que eu quero saber é se Gilbert sabe dessas cartas.- Cole perguntou, e Anne se mexeu um pouco no sofá inquieta antes de responder:

- Ele me viu com elas ontem, me fez algumas perguntas e quis saber se podia lê-las, mas eu dei uma desculpa qualquer, e mudei de assunto logo.

- Não acha que ele tem o direito de saber? - Cole perguntou com uma expressão grave.

- Talvez, mas, não agora. - Cole apenas assentiu, e resolveu mudar de assunto, pois não fora para deixar Anne triste que viera ali, e sim para lhe dar a melhor notícia o mundo.

- Anne, visitá-la não foi o único motivo de eu vir aqui. Na verdade, que queria te contar que eu e Pierre vamos ficar noivos. - Anne deixou que um sorriso enorme se abrisse em seu rosto e perguntou:

- Vocês se acertaram afinal?

- Sim, depois do seu casamento que ele não compareceu por motivos pessoais, Pierre me procurou, nós conversamos e decidimos que iríamos assumir nosso amor de vez. E então, na próxima sexta feira faremos uma pequena festa para comemorarmos nosso compromisso com alguns amigos, e quero muito que você vá.

- É claro que irei. Apenas terei que pensar em algo para comemorar o aniversário do Gilbert que será no mesmo dia do seu noivado. - Ela disse um tanto pensativa, e logo ouviu Cole sugerir:

- Porque não comemora o aniversário dele junto com a gente?

- Mas, Pierre não vai se importar? Afinal é um dia muito importante para vocês. - Anne perguntou adorando a ideia, mas receosa de interferir em algo tão importante para o amigo.

- É claro que não. Ele adora vocês dois. Se quiser te ajudo com o bolo. - Ele ofereceu sorridente.

- Bem, e você garante que não vamos atrapalhar em nada, eu aceito, mas, terá que ser uma surpresa para o Gilbert. – Ela pediu e Cole concordou dizendo:

- Claro. Eu vou te ajudar a planejar tudo direitinho.

E então como nos velhos tempos em que sempre planejavam alguma travessura juntos, Cole e Anne passaram o resto da tarde falando de seu noivado e da festa surpresa dos vinte e um anos de Gilbert que Anne desejou de todo o coração que fosse a melhor de sua vida.

ANNE E GILBERT

Depois de semanas amargando uma solidão deprimente, a volta de Cole foi bastante providencial para Anne, que voltou a sorrir com mais facilidade, pois o bom humor do amigo e sua ironia inteligente ao encarar os tombos da vida, eram tão contagiantes que a deixavam mais confortável para enfrentar os obstáculos emocionais impostos por sua doença, e até um certo pessimismo que começara a rondar seus pensamentos em seus instantes de ócio forçado e totalmente improdutivo.

Organizar a surpresa para o aniversário de Gilbert era outro fator que abrilhantara um pouco seus dias, além de melhorar em grandes porcentagens seu estado de humor que não passou despercebido ao seu marido, cujo alívio por ver os olhos de sua esposa brilharem de novo com alegria foi gigantesco.
O que ele não imaginava era que não fora somente o retorno de um amigo tão querido a sua vida que causara aquela mudança repentina em Anne, mas sim a sensação de estar preparando algo especial para uma pessoa que merecia tanto tal atitude de sua parte era que fazia a ruivinha rir à toa, e levantar da cama todas as manhãs daquela semana como se estivesse prestes a viver a mais bela das aventuras de sua vida.

Anne estava feliz de verdade naqueles dias, pois o peso de suas responsabilidades consigo mesma e com Rilla tinha sido amenizado enquanto sua mente trabalhava nos detalhes da festa de noivado de Cole, e no aniversário surpresa de Gilbert.
Era-lhe muito fácil se deixar envolver pelo entusiasmo do planejamento que quando levava a intenção a fato concretos era realmente empolgante. Anne adorava esse tipo de coisa, e sentia-se realmente plena ao saber que seria a causa de mais sorrisos de Gilbert, que tinham se tornado escassos nos últimos dias por conta das responsabilidades que se duplicaram naquele período.
E ela queria vê-lo sorrir com despreocupação como no passado, onde tudo era motivo para gargalharem juntos. A quanto tempo não viviam um momento assim? Ela queria compensar Gilbert por cada minuto de preocupação ou infelicidade que ele tivera por sua causa, e esperava ser capaz de fazer isso naquele fim de semana onde ver Gilbert sorrir de verdade em semanas era sua maior prioridade.

Assim, ela e Cole fizeram tudo às escondidas, e não deixara que Gilbert percebesse que ela estava lhe preparando uma surpresa foi uma das coisas mais difíceis que tivera que fazer, sobretudo quando se morava com a pessoa em questão. Felizmente, com tantos afazeres do seu dia a dia o rapaz sequer tivera tempo para prestar atenção nas atitudes um tanto suspeitas de sua esposa, principalmente porque com tudo o que vinha acontecendo, ele não cogitara comemorar seu aniversário naquele ano, e assim deixaria a data passar em branco como outra qualquer.

Na data em questão, ele se levantara cedo como todos os dias, tomara seu café sozinho, o que era algo incomum já que Anne sempre o acompanhava, mas, naquela manhã ela preferira ficar na cama por mais tempo, pretextando um cansaço que deixou Gilbert preocupado a princípio, pois era a primeira vez na semana que ela reclamava de algum desconforto, mas, como ela lhe garantiu que era apenas cansaço por sua semana agitada por conta de muito estudo, ele se permitiu relaxar e ir para a faculdade tranquilamente, principalmente depois de ter cruzado com Cole na escadaria na frente do prédio, que chegava para ficar com Anne, como tinha feito todos aqueles dias. Eles se cumprimentaram de longe, e o jovem rapaz se lembrou que naquela noite seria o noivado de Cole e Pierre, e que Anne praticamente o intimara a ir com ela.

Gilbert gostava muito de Cole, e Pierre também era uma ótima pessoa, mas, ele não achava uma boa ideia ir aquela festa , pois Anne poderia se cansar, o que não lhe faria nada bem no ponto da gravidez na qual estava, e especialmente porque o obstetra dela havia proibido qualquer tipo de agitação, mas quem conseguia controlar Anne Shirley Cuthbert Blythe quando ela colocava algo na cabeça? Ele simplesmente concordara para não gerar nenhuma tensão entre eles, pois Anne jamais deixaria de ir aquele noivado, sendo Cole um dos seus amigos mais queridos.

Assim, ele passara todo o período da manhã na faculdade, onde tiveram aulas práticas no laboratório do campus, e depois fora para o trabalho sem imaginar que sua esposa e o melhor amigo dela estavam as voltas com os preparativos daquela noite. Gilbert sequer estava pensando que Anne se lembrara do seu aniversário, pois como ela nem tocara no assunto fora natural para ele deduzir que ela se esquecera. Mas, tal fato não lhe causou nenhum aborrecimento, pois não queria que sua ruivinha perdesse tempo com preocupações desnecessárias. Ela tinha que poupar suas forças para o que realmente importava naquele instante que era o nascimento da filha deles, e seu aniversário era uma data que acontecia todos os anos, portanto, poderiam comemorá-lo em um outro momento qualquer.

No entanto, ele não deveria ter esquecido o quão primorosa era a memória de sua esposa, e o quanto sua inteligência além de ser esmerada conseguia fazê-la pensar em formas diferentes de surpreendê-lo, pois enquanto ele trabalhava achando que o final daquele dia seria como os outros, ela já tinha feito sua lição de casa muito bem, e preparado uma surpresa simples para o seu marido que completava vinte um anos, o que ela considerava uma idade muito especial.

Por isso, quando chegou em casa naquela tarde, ele já a encontrara se preparando para a festa, e olhou-a admirado por sua beleza ruiva ser reforçada por um vestido branco estampado por pequenas rosas amarelas. Ela tinha prendido o cabelo em um rabo de cavalo que a fazia parecer mais jovem do que realmente era, e seus pezinhos delicados calçavam um par de sandálias de salto baixo, dando-lhe um ar de garotinha que enterneceu seu coração ao vê-la com seus olhos azuis cheios de uma expectativa animadora.

- Você parece mais ansiosa por essa festa que os noivos. - Gilbert disse, tocando-lhe a tez macia.

- E realmente estou. Não é todo dia que Cole Mackenzie se compromete com alguém de fato.- Anne respondeu, colocando seus braços ao redor do pescoço de Gilbert, e ele quase pôde enxergar a íris azul dela em toda a sua constituição incrível.- Pena que não poderão se casar de verdade.- Anne disse com certo pesar que fez Gilbert sorrir e responder:

- O mundo ainda precisa evoluir muito até que aceite uma união entre pessoas do mesmo sexo, mas, você pode encontrar conforto no fato de que eles vão ficar juntos de qualquer maneira, mesmo não tendo um papel para comprová-lo.

- Eu sei, mas, não seria incrível se pudessem se casar como nós dois fizemos? – ela perguntou com as mãos ajeitando seus cachinhos na testa, não deixando de notar como Gilbert estava bonito mesmo com suas roupas de trabalho.

- Quem sabe não possam no futuro? Talvez não seja um sonho tão distante assim. Não perca a fé, meu amor. - Ele disse beijando-a nos lábios de leve.

- Vou me lembrar disso, prometo. Agora, por que não toma banho e se arruma? Deixei uma roupa para você em cima da cama. - Gilbert assentiu, indo para o quarto de onde retornou pouco tempo depois vestindo uma camisa branca e calça preta que combinavam perfeitamente com seus cabelos escuros que se mostravam mais cacheados ainda, por conta de estarem molhados pelo banho.

- Você está lindo, meu amor. - Ela disse beijando-o no rosto, cujo comentário ele respondeu:

- Duvido que esteja mais bonito que você. - Seus olhos a admiraram novamente, constatando que ele falava a mais pura verdade. Aquela luz radiosa que vinha dela parecia infinitamente mais brilhante aquela noite, e se Gilbert pudesse descrever como a via naquele instante, ele diria que o próprio sol habitava dentro dela, deixando-a de tirar o fôlego.

- Acho que podemos ir. Não quero chegar atrasada. Prometi a Cole que o ajudaria com alguns detalhes.

- Tudo bem, mas, não vá se cansar mais que o necessário, Você sabe que só concordei que fôssemos, porque Cole é seu amigo e sempre ficou do seu lado nos piores momentos, e sei o quanto você ficaria desapontada se não estivesse lá para dar a ele o seu apoio.- ele continuava não gostando muito da ideia de participarem daquela festa, mas, Anne estava tão feliz que Gilbert não teve coragem de acabar com sua alegria espontânea, pois era tão raro vê-la assim nos últimos dias.

- Eu prometo. - Ela disse sorrindo.

Logo eles se encaminhavam para o prédio de apartamentos onde Cole e Pierre viviam. A festa seria na cobertura da piscina, onde vários convidados já estavam espalhados conversando e se servindo da comida e bebida depostas sobre a mesa de petiscos.

Cole e Pierre se aproximaram deles sorrindo de orelha a orelha e Gilbert pôde comprovar com os próprios olhos a felicidade de ambos, e como ver Cole naquele estado de espírito fazia bem a Anne, e por isso, ele acabou se convencendo de que não tinha sido tão má ideia vir até ali afinal. Anne precisava de alegria, e de pessoas que a amavam por perto, e Cole Mackenzie era uma das pessoas que Gilbert poderia colocar nessa categoria com louvor.

Como não conheciam muitas pessoas por ali, pois a maioria eram artistas amigos de Cole e Pierre, o casal preferiu ficar em uma mesa em particular curtindo a festa juntinhos, e se divertindo à sua maneira.

Gilbert não se cansava de olhar para Anne cuja animação era contagiante. Fazia tanto tempo que não a via se dar ao luxo de viver cada momento despreocupadamente, curtindo sua juventude como deveria ser, que ele achava inconcebível não gravar na memória aquele momento que não tinha data certa para se repetir.

Foi então que Cole se aproximou da mesa deles, caminhando em seu jeito elegante e disse para Anne:

- Será que poderia me ajudar agora?

- Claro que sim. - Anne disse e se virando para Gilbert que observava de perto a conversa dos dois e falou:- Eu já volto – e se afastou de seu marido, seguindo Cole até no meio do salão.

Pierre também se juntou a eles, e Gilbert soube que a hora da troca das alianças havia chegado. Ele observou o amigo de Anne limpar a garganta, olhar para o seu parceiro e começar a dizer:

- Eu quero agradecer a todas as pessoas que compareceram a esse momento tão especial para mim, e Pierre que estamos consolidando nossa união que já dura a algum tempo. - Ele pegou as alianças das mãos de Anne e falou:

- É com essas alianças que reafirmo nosso amor e nosso compromisso um com o outro, e espero que nossa união dure para sempre. – Cole finalizou, colocando a aliança no dedo anular de Pierre, e o rapaz fez o mesmo, sorrindo um para o outro. Em seguida, ele olhou para Anne e continuou:- Agora passo a palavra para minha amiga do coração. – Gilbert olhou para aquela cena curioso com o que Anne diria, já imaginando que seria algo emocionante, pois sua esposa sabia como conquistar o coração das pessoas com seu dom com as palavras.

Assim, ela ficou em silêncio por dois pequenos segundos e então começou a falar:

- Bem, como meu amigo disse bem, hoje é um dia muito especial por vários motivos, e um deles eu vou revelar nesse momento. – Ela fez outra pausa, respirou fundo e voltou a falar: - Eu quero falar para vocês sobre uma pessoa muito importante em minha vida em todos os sentidos, porque tem me dado motivos para acordar todos os dias sabendo que a minha vida vale a pena, porque ele está comigo, e essa pessoa é o meu marido Gilbert Blythe.- naquele momento o rapaz olhou para sua esposa sem saber ao certo o que estava acontecendo, mas já se sentindo emocionado mesmo assim, enquanto a voz de Anne chegava até ele tão suavemente que ele não conseguia enxergar mais ninguém, apenas sua esposa tão linda de todas as formas.

- Gilbert, hoje você completa vinte um ano, e por isso, e não poderia deixar que essa data passasse sem que eu pudesse te dizer tudo o que você significa para mim. Desde que te conheci eu nunca mais fui a mesma, pois você modificou tudo em minha vida para melhor. Eu não sabia o que era felicidade até te encontrar, e não sabia o que era o amor até vê-lo brilhando em seus olhos por mim. Você me deu o mundo quando me mostrou tudo o que eu poderia ser, e me fez enxergar a mim mesma pelos seus olhos. Eu sempre pensei que príncipes encantados não existiam no mundo real, mas então eu encontrei o meu príncipe tão incrivelmente humano, e tão maravilhosamente perfeito dentro de seus próprios defeitos e eu não pude evitar de me apaixonar. Estar casada com você é tudo o que desejei desde o dia em que ficamos noivos, e não me arrependo um só dia de ter essa aliança em meu dedo. Como já te disse muitas vezes, eu não poderia ter escolhido outro pai para minha filha que não fosse você, então aceite os meus parabéns por esse seu aniversário tão importante e também de sua filha que te ama como eu.- assim, ela pegou o bolo que ela e Cole tinham mandado fazer , e o levou até Gilbert que não conseguia tirar os olhos dela enquanto nenhuma palavra se atrevia a sair de sua boca, pois Gilbert sabia que se tentasse falar, inevitavelmente começaria a chorar e acabaria por protagonizar uma cena constrangedora Porém, quando ele olhou para o pequeno bolo que Anne trazia nas mãos e viu escrito: Feliz aniversário, meu amor, e mais abaixo dele outro escrito que dizia: Feliz aniversário, papai. Eu te amo, da Rilla, o rapaz não conseguiu mais se segurar, e começou a soluçar enquanto se levantava e abraçava Anne com toda a força, fazendo-a chorar junto com ele, enquanto em seu coração ele pensava que em toda a sua vida ele nunca tinha recebido um presente tão lindo quanto aquele do qual nunca se esqueceria.

Quando Gilbert conseguiu controlar suas emoções, o tradicional parabéns para você foi cantado, o bolo cortado e servido, e assim Anne pode finalmente puxar Gilbert para perto da piscina onde vários casais estavam dançando.

Quando o marido a enlaçou pela cintura, e ela sentiu-lhe a colônia pôs barba dele agitar lhe todos os seus sentidos, Gilbert disse:

- Por que será que não desconfiei que você não deixaria essa data passar em branco?

- Só se faz vinte um ano uma vez, meu amor. Gostou do meu presente? – Anne perguntou, estudando-lhe o rosto que em resposta lhe deu o sorriso que ela tanto desejava ver naqueles dias.

- Eu nunca ganhei algo tão lindo. Você se superou dessa vez. Obrigado. - Ele disse dando-lhe um selinho, ao que ela respondeu:

- Foi um prazer imenso organizar essa surpresa para você, e aproveitando esse momento, posso te fazer um pedido?

- O que quiser. – Ele disse puxando-a para mais perto.

- Nunca mais deixe de sorrir assim para mim. - Aquelas palavras fizeram o sorriso de Gilbert se alargar, enquanto eles continuaram dançando mais duas músicas seguidas daquela.

Quando voltaram para casa horas depois, eles se deitaram na cama e ficaram se encarando como se pudessem traduzir por meio do olhar todas os sentimentos que se agitavam no âmago de cada um.

Anne se aproximou mais de Gilbert e colou seus lábios, deixando que a paixão como rastro de pólvora crescesse entre os dois. No entanto, Gilbert não deixou que aquilo fosse longe, se afastou dela e acariciou seu rosto com carinho ao dizer:

- Anne, você sabe que não devemos.

- Eu sei, mas você sabe que sinto sua falta. - Ela disse com uma ponta de frustração na voz.

- Eu queria tanto que fosse diferente, mas no seu estado atual too cuidado é pouco. - Gilbert disse, tabém se sentindo frustrado.

- Então, apenas me toque e me deixe te tocar também, e eu juro que somente isso vai bastar por agora.

Com um suspiro, Gilbert juntou suas mãos com as de Anne palma com palma, sentindo dessa forma o calor de sua ruivinha na ponta de seus dedos, e depois, ele os deixou deslizarem pelos cabelos dela até os ombros. Em seguida, Gilbert a fez se sentar na cama, e a ajudou a se livrar da camisola, deixando-a apenas com sua lingerie preta de seda, e assim, ele aproveitou e tirou a calça de seu pijama ficando apenas de roupa íntima como Anne. Então, eles se deitaram novamente, e Gilbert começou sua exploração lenta pela pele dela, sentindo-lhe a textura, a maciez e cada curva dela mais acentuada pela gravidez.

Era uma doce tortura ser tocada assim e saber que havia um limite até onde podiam ir. Não fariam amor aquela noite, mas havia uma certa excitação naqueles carinhos inocentes que a faziam suspirar ao se lembrar de como era se entregar a seu amado no ápice mais alto da paixão, seu corpo se incendiava igual, seus sentidos todos em alerta, mas a satisfação estava nos beijos, nos quais Gilbert não economizou um só movimento de seus lábios contra os dela.

Ela também tocou Gilbert, em cada músculo, ondulação, em cada parte daquele corpo masculino que tinha sua eterna fascinação, e descobriu que era tão fácil fazê-lo suspirar por ela mesmo quando as carícias de suas mãos eram sutis, e assim, ela descobriu uma nova satisfação em ser mulher, e dar ao seu parceiro um tipo de amor que só se encontrava na alma de duas pessoas que o compartilhavam além de todos os limites como ela e Gilbert.

E assim naquela noite eles se amaram com seus olhos abertos, com os lábios que tornavam cada beijo mais prazeroso que o anterior, com o a ponta dos dedos que descobriram no tato uma forma nova de sentir, de se conectar, de partilhar. Não tiveram uma união de corpos, nem aquele frenesi do minuto final quando se tornavam apenas um, mas tiveram algo talvez mais importante que qualquer contato mais íntimo. Eles descobriram que amar ia além das emoções físicas, era se ver em seu homem ou em sua mulher como se suas próprias almas trocassem de lugar por um segundo, e pudessem enxergar a totalidade do sentimento naquele único segundo de contemplação verdadeira, e era assim que Anne e Gilbert se viam, parte um do outro, nunca separados, nunca dissociados, apenas uma corrente, apenas um elo, apenas um coração repleto de muito amor.



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