Capítulo 120- Um novo paraíso
Olá, pessoal. Boa leitura. espero pelos comentários. Beijos
GILBERT
De todos os sentimentos que Gilbert pensara ter naquela manhã ao acordar ainda abraçado a Anne no quarto de hospital, com certeza, impotência não era um deles, entretanto, era o único que prevalecia naquele momento em que sua felicidade estava de novo ameaçada. Talvez fosse esse tipo de situação ou mesmo emoção que fazia um moribundo ou doente terminal dar mais valor à vida, ou apreciar pequenas coisas que no dia a dia são tão pequenas que passam despercebidas. Ele não era bem uma coisa e nem outra, mas se sentia como se estivesse com um pé no paraíso e outro na danação total.
Tais pensamentos o fizeram olhar para a mulher em seus braços com um misto de amor e inconformidade. Anne estava linda e tão serena, como se não tivesse recebido nenhuma notícia que colocasse em risco sua maternidade tão desejada ou mesmo sua vida. Em momentos assim, Gilbert desejava não estar estudando medicina, e não saber os perigos contra os quais Anne teria que lutar nos próximos meses se quisesse que a vida que crescia em seu ventre tivesse uma chance de vir ao mundo, sem que ambas perecessem. Seria uma luta de vida contra a morte, e a morte contra a vida, e mesmo que o médico de Anne tivesse amenizado o problema todo, tanto ele quanto Gilbert sabiam sob qual sentença a cabeça de sua esposa estava naquele momento.
Olhar para ela enquanto em seu sono tranquilo, ela sequer podia imaginar a batalha que se travava no íntimo de Gilbert, lhe dava vontade de chorar. O rapaz sabia que deveria ser forte mais uma vez pelos três, por si mesmo, por Anne e por Rilla. Gilbert sentiu uma fisgada tão profunda em seu coração ao pensar na filha tão pequenininha que estava por nascer, que sentiu vontade de gritar como um animal que tivesse levado um tiro certeiro.
Como poderia um anjinho tão puro ter que lutar para sobreviver antes mesmo de ter visto a luz do dia? E o que ele como pai poderia fazer a não ser observar e rezar para que ela vencesse sozinha uma provação tão dura?
A lembrança da felicidade de Anne ao contar que estava grávida o fez olhar para ela novamente, e se admirar mesmo com seu coração em frangalhos com tanta beleza.
Ele desceu o dedo indicador devagarinho por cada traço do rosto como se fizesse um rascunho de cada detalhe em suas próprias digitais. Havia tanto de Anne nele, que Gilbert achava impossível conseguir viver sem ela algum dia. O sentimento corria forte em suas veias como se o mero fato de respirar fizesse seu íntimo se encher da presença dela. Ele nunca pensara na razão de tanto amor que o fazia desejar ter super poderes para livrá-la de mais um calvário que seria sua vida nos próximos meses, porque sempre aceitara aquela emoção como algo natural de acontecer quando uma alma se reconhece na outra, e a sua sempre fora o espelho da de Anne desde o princípio, embora ele fosse muito novo naquela época para entender que ambos eram como a lua e sol, a chuva e o arco íris, água e fogo, opostos tão iguais, cara e coroa da mesma moeda.
Gilbert passou seu polegar na linha do queixo de Anne, enquanto seu olhar apaixonado não perdia um milímetro que fosse dos contornos da face daquela mulher a quem ele nunca possuíra totalmente. Havia partes da personalidade de Anne, que ela mantinha só para si, e Gilbert respeitava o fato de ela desejar ser completamente livre em sua essência. Eles se pertenciam, o amor que sentiam os unia como se fossem uma só pessoa, mas eram indivíduos sem amarras em seu corações, pois quando o amor era verdadeiro, ele libertava o ser humano de qualquer prisão, sem impor, exigir, ou enganar, e seu amor por Anne o libertara de seus preconceitos e de suas mágoas pela perda da mãe, e depois a morte de seu pai, a angústia de ter concebido um outro filho, e de sua vida ter sido interrompida sem que ele soubesse de sua existência.
Mas, como ele poderia fazer uso dessa liberdade, e deixar que Anne se fosse, caso essa possibilidade lhe fosse cobrada? Como poderia criar uma filha se tivesse perdido a mãe? Após ter vencido tantas barreiras e lidado com mais sofrimento do que pudesse se lembrar, como a vida podia lhe cobrar mais essa conta? Ele se levantou da cama devagar e caminhou pelo quarto por tantas vezes que teria feito um buraco no chão de tanto nervosismo. Gilbert não queria se lembrar que fora dessa maneira que seu pai perdera a mulher que amava, e também fora assim que Bash quase perdera Mary, mas por pura sorte ou força de vontade extrema, ela conseguira se salvar, mas, mesmo com essa casualidade feliz, Gilbert sabia que tinha muito com o que se preocupar.
Em muitos casos, quando a mãe corria risco de vida, um aborto era aconselhável, mas Gilbert sabia que Anne jamais concordaria com isso, e ele tinha que confessar para si mesmo que não suportava essa ideia também. Rilla já era parte integrante daquela família, e mesmo que fosse apenas em sua imaginação, ela já tinha um rosto, uma personalidade incrível, e era sua princesinha, pensar assim em relação a sua menina seria como cometer um assassinato consciente, e doía lhe lá no fundo se ver frente a uma situação como aquela. Deus! Ele sequer conseguia imaginar como seria tomar uma decisão assim, e rezava para que Deus os livrasse de tal dor.
- Amor, se não parar de andar de um lado para o outro vai me deixar tonta.- A voz cheia de sono de Anne chegou até ele, fazendo-o se virar de repente, e se deparar com os olhos azuis tão claros que seu coração se enterneceu ao ver como ela parecia tão pequena naquela enorme cama de hospital.
Ele se aproximou meio hesitante, tentando mascarar seus sentimentos, receoso de que ela percebesse sua preocupação excessiva, pois Anne detestava quando ele se preocupava com ela, mesmo que na maioria das vezes fosse a situação ao contrário. Anne achava que era ela que tinha que ficar de olho em Gilbert com medo que situações como a do passado voltassem a acontecer, e ele sabia que ela ainda sofria com lembranças de sua amnésia, pois tinha ligação com a mais recente cirurgia dele. No entanto, Anne parecia se esquecer que também era humana, e que assim como Gilbert era suscetível aos limites do próprio corpo.
- Desculpe -me. Não sabia que estava acordada. Eu sempre me comporto assim quando não tenho nada para fazer, e preciso matar o tempo. - Gilbert nunca fora bom em dar desculpas, mas, esperava que aquela fosse boa o suficiente para fazer Anne acreditar que estava tudo bem com ele. Entretanto, ela não engoliu uma palavra do que ele dissera, e deixou isso bem claro quando disse:
- Acha que me engana, meu marido? Não existe uma linha nesse rosto que eu não conheça. Acredita mesmo que eu não saberia o que está por trás desse seu desassossego?- Gilbert baixou a cabeça querendo fugir do olhar dela, porque a coisa mais difícil do mundo para ele era fingir-se de indiferente, quando emoções turbulentas queriam jorrar para fora, e naquele momento bastaria um olhar de Anne para ele se quebrar inteiro.- Vem cá.- ela disse como na outra noite, e Gilbert não pôde recusar. Assim, ele se aproximou da cama, forçando-se a engolir o bolo em sua garganta. Ele não queria e não ia chorar. Anne precisava dele, e não teria nada a oferecer se deixasse que sua dor fosse maior que sua força.
- Deita aqui comigo. - Ela disse passando a mão pelo lençol onde ela desejava que Gilbert ficasse com ela na cama, mas ao invés disso, ele colocou a cabeça no colo dela, onde ele poderia ficar mais próximo de sua bebê, pois queria tanto que ela se mexesse para que ele pudesse fazer com que Rilla sentisse todo o seu amor por ela, e assim, ele beijou o ventre de Anne várias vezes, enquanto ela fazia carinho nos seus cachos emaranhados.
Gilbert fechou os olhos por um instante, e desejou que tudo aquilo fosse um daqueles sonhos que ele costumava ter com sua mãe quando ainda era criança. Como ele poderia imaginar que um dia estaria no lugar de seu pai, tentando lutar contra um mal que crescia lentamente, e que na maior parte do tempo revelava sua verdadeira face quando era tarde demais para combatê-lo? Será que seu pai tinha experimentado aquele sentimento vazio de que não havia nada a se fazer a não ser esperar, que a vida escolhesse como se fosse uma roleta russa, decidindo na sorte o destino de uma pessoa?
-Por que não fala comigo, amor? O que está sentindo? Odeio quando fica calado assim.- se ele ao menos pudesse falar de todos os seus pensamentos loucos naquele instante, talvez se sentisse melhor, mas, Anne não estava em condições de lidar com sua instabilidade. O que diria a ela? Que tinha um medo feroz do que aquela gravidez tão comemorada por ambos estivesse fadada a uma tragédia da qual ele nunca se recuperaria?
- Não posso. – Ele respondeu, agarrando as mãos dela entre as suas, e vendo-as tão pálidas quanto o rosto dela, fez entrar em um desespero silencioso.
- Por que não tenta? Não foi você que me disse uma vez que partilhar um sofrimento o torna menor? - ele se lembrava bem quando dissera isso a ela. Fora quando Anne lhe contara sobre o bebê perdido, e depois se fechara em sua depressão sombria. Porém, agora a história era outra, pois a mesma alegria que os motivara por meses, poderia destruir em uma única tempestade vidas inteiras.
- Eu quero te pedir perdão. - Ele disse com a voz baixa, pois tinha medo de não conseguir chegar até o final do que tinha para lhe dizer.
- Por que, querido, está me pedindo perdão? - ela o fez olhar para ela, e segurou com as duas mãos ao rosto de Gilbert, não permitindo que ele escapasse de seu olhar inquiridor.
- Por ter te colocado nessa situação. - Anne o olhou de um jeito confuso, e respondeu:
- Não sei se estou entendendo o que quer dizer. - Gilbert beijou as mãos dela que ele segurava ainda entre as suas e respondeu:
- Estou falando da gravidez, Anne. - Os olhos dela se arregalaram, e depois o olhar se endureceu como se uma fúria além do inimaginável estivesse se formando ali. Anne afastou as mãos dele das suas e perguntou com a voz mal controlando a indignação:
- Você está dizendo que preferia que eu não estivesse grávida?
- Eu não disse isso. - Ele tentou desesperadamente soar coerente, mas estava totalmente perdido nas palavras.
- Então, o que quis dizer? Porque eu juro que não estou entendendo nada do que está tentando me dizer.
- Eu não quero perder você, Anne. Eu não posso te perder. Já passei por isso outras vezes, e jurei a mim mesmo que nunca mais tornaria a acontecer. - Ele estava quase chorando, mas, aguentou firme, porque não podia desmoronar na frente dela justo naquele momento em que ela parecia frágil e infeliz com o que ele dissera.
- Você não quer mais nossa filha? - Quem estava chorando era ela, e Gilbert não suportava vê-la daquele jeito. Ele não deveria ter dito nada, mas, não conseguira guardar apenas para si sua angústia como fizera tantas vezes no passado. Desta vez eram duas pessoas que corriam risco, e Gilbert sabia que não aguentaria lidar com a perda de nenhuma das duas.
- Anne, é claro que eu quero nossa filha. Eu a amo tanto quanto você. Você entendeu mal o que eu disse, e talvez eu não tenha conseguido me explicar com clareza. - Ele a abraçou, porque ela ainda chorava, e também porque ele não conseguia ficar longe dela, pois queria Anne em seus braços onde poderia protegê-la de todo mal.- Eu estou preocupado com vocês duas.- ele disse quase em um sussurro, o que a fez chorar ainda mais agarrada a ele , como se tivesse sido atirada ao mar, estivesse se afogando e encontrasse em Gilbert sua única tábua de salvação.
Mas, assim como a onda de emoção veio ela foi embora, e como se tomasse consciência do que estava acontecendo ali, Anne se afastou de Gilbert e enxugou o rosto com a barra da camisola, e disse com a voz mais controlada:
- Você poderia me deixar sozinha, por favor. - A tom de voz dela estava calmo, mas, ao mesmo tempo era tão frio como se todo o gelo do mundo se concentrasse ali. Gilbert sentiu seu coração se contrair e tentou se aproximar dela novamente, mas, Anne apenas balançou a cabeça e tornou a dizer.
- Eu quero ficar sozinha, por favor, saia.
Gilbert respirou fundo, sentindo um manto de tristeza alcançar a sua alma, porém, ele não insistiu mais, caminhando para a porta, deu uma última olhada em Anne, que se deitara na cama novamente toda encolhida abraçando a si mesma, parecendo tão desolada quanto ele. Gilbert saiu para o corredor, fechou a porta e se encostou nela, deixando por fim que um oceano de lágrimas descesse rolando por seu rosto.
Braços femininos o abraçaram, enquanto Jonas apertava seu ombro em um apoio mudo por sua condição naquele instante, e então ele ouviu Sharon dizer;
- Estamos aqui, não vamos te deixar sozinho. - E foi naquele exato momento que sua garganta liberou seu desespero, e ele não pôde mais controlar seus próprios soluços.
ANNE
Anne não soube quanto tempo tinha se passado, depois que Gilbert saiu e a deixou sozinha. Mas, isso não lhe importava porque o tempo era irrelevante naquele caso. Ela olhou para o parapeito da janela onde ela havia a visto um passarinho no início da madrugada, e encarou o vazio do local com certo pesar.
Ela não desejava ter pedido a seu marido que a deixasse sozinha, pois só Deus sabia como precisava dele naquele momento, mas do que já precisara em todos os momentos difíceis que passaram juntos, mais ainda do que quando ele a esquecera, e se sentira tão sozinha e machucada que ela pensara que ir embora para outro continente seria a solução para sua vida reduzida a mil pedaços. Mas, ela soubera naquela época como sabia agora que ficar longe de Gilbert nunca seria a coisa certa a se fazer, pois juntos eram fortes e venceriam qualquer batalha que o destino teimasse em colocar em seu caminho como um presente de grego desavisado, sem se importar em quantos estragos poderia causar.
No entanto, não estava preparada para vê-lo tão desesperado, como se buscasse um abrigo para suas emoções descontroladas, e depois de meses se apoiando na força dele, Anne descobriu naquele momento que estava sem chão, sem alento, e sem as costumeiras palavras de Gilbert que lhe dizia com um sorriso todas as vezes em que estivera a beira de um precipício, que tudo ficaria bem
Ela não podia dizer que ele lhe falhara, porque não fora isso que acontecera. Anne compreendia o quanto aquele assunto era difícil para ele, pois fora o problema que mais embalara sua infância, levando o trauma até sua adolescência, onde ele quase se destruíra com a dor e culpa por algo que ninguém poderia de fato ser culpado. Não podia sequer pedir a ele que fosse forte por ela agora, pois ele já o tinha sido até demais, e também não podia julgá-lo ou exigir qualquer tipo de comportamento de alguém que construíra uma vida totalmente nova para ela, que lhe dera tudo o que estava a seu alcance, e que fora até o fim de suas forças para que ela realizasse seus próprios sonhos e fosse feliz.
Talvez não houvesse um caminho alternativo para os dois agora. E ela sabia o que estavam enfrentando não seria fácil naquele momento em que ambos tentavam tirar de dentro de si o que restara do otimismo diante de cada revés da vida que os fizera quase perder o fôlego no passado, e que os fazia tatear no escuro, em busca de uma certeza que não poderia ser encontrada em lugar algum. Anne estava cansada, assim como Gilbert de ficar à mercê do desconhecido. Ela estava exausta de mergulhar nas ondas de um mar revolto, que a fazia submergir e afundar na mesma proporção, e se não desistira antes fora porque aprendera a ser uma sobrevivente se agarrando a si mesma para não se afogar de vez.
Ela mudou de posição e abraçou o travesseiro como se ele pudesse lhe dar a proteção que precisava para o que teria que enfrentar. Gilbert pensara que ela não sabia dos riscos, mas, os conhecia bem. O Dr. Miller lhe explicara tudo o que deveria fazer se quisesse que sua gravidez chegasse até o final, e ela não pretendia desistir, pois sua Rilla viria ao mundo nem que fosse seu último ato naquele mundo. Anne não estava pensando em si mesma, e sim em sua bebê e Gilbert. Ela lhe daria o filho que prometera, mesmo que tivesse que abrir mão de si mesma.
Quando Gilbert lhe pedira perdão por ela estar vivendo uma gravidez de risco, Anne ficara muito magoada, pois fora como se ele estivesse rejeitando o se presente mais precioso, porém, ao ver naqueles olhos um sofrimento pelo qual ela esperava que ele nunca mais tivesse que passar, ela entendera subitamente que Gilbert tinha medo que ela não fosse fisicamente forte o bastante para aguentar todas as consequências com as quais teria que lidar com a pré-eclâmpsia. Talvez não fosse realmente tão forte, talvez ela não tivesse a mesma capacidade de Mary de passar por tudo aquilo sem que entregasse os pontos no final, mas, de uma coisa, ela estava certa. Não deixaria de lutar até o final para que Rilla nascesse, e conhecesse o melhor pai que ela poderia ter, porque sua filha merecia viver para poder enfeitar o mundo com sua graça, inteligência, e todas as qualidades que ela herdaria do espetacular Gilbert Blythe. Seu corpo falho não a faria desistir do seu sonho de ser mãe, mesmo que tivesse que desempenhar esse papel apenas em sua imaginação.
- Anne, posso entrar? - a ruivinha ouviu a voz de sua amiga Sharon dizer, enquanto ela mantinha apenas sua cabeça no vão da porta, e o resto do corpo estava no corredor do hospital.
- Claro, Sharon. - Anne respondeu sem muito entusiasmo.
- Eu sei que talvez você não queira companhia, pois Gilbert me contou que você o mandou embora do quarto. Porém, eu não podia deixar de vir ver como você está depois de tudo isso. - A garota disse, andando pelo quarto até se aproximar de Anne.
- Como eu deveria estar? Triste, magoada e morrendo de medo. Porém, decidida a levar essa gravidez até o fim. - Ela disse com convicção, que fez Sharon pensar que se estivesse no lugar de Anne, será que conseguiria ser tão forte assim?
- Você sabe que não será fácil.- Sharon comentou, pois perdera uma prima com o mesmo problema de Anne, e os médicos sequer conseguiram salvar o bebê, Só de pensar que algo assim pudesse acontecer com sua amiga, a fez ter vontade de chorar como Gilbert minutos antes, mas se conteve, pois estava ali para dar força e não se debulhar em lágrimas como se Anne já estivesse condenada à morte.
- Eu sei, mas, o que foi fácil na minha vida até agora? Eu não deveria me admirar que minha gravidez tão sonhada tivesse que passar por mais uma prova.- ela disse dando de ombro, porque era inútil lamentar. A vida era feita de escolhas, e ela escolhia Rilla acima de tudo.
- Não tem medo das consequências de levar isso adiante?
- Não temo por mim, se é isso que está me perguntando. Mas, eu temo pelo estado emocional de Gilbert que já foi avariado demais desde o dia em que nos conhecemos.
- Ele está arrasado. - Sharon comentou ao se lembrar do choro sentido dele no corredor.
- Eu sei, e não queria que fosse assim, mas não sou eu que escolho o que vai acontecer no próximo minuto. - Anne disse passou as mãos pelos cabelos.
- Anne, ser mãe é tão importante assim para você para colocar sua vida em risco? -Anne lançou um olhar para Sharon que fez a menina dizer:- Por favor não me olhe assim. Eu só quero entender o que se passa em sua cabeça para poder te dar o apoio que precisa.
- Eu sei que talvez seja difícil para você entender essa minha obsessão, principalmente quando seu órgão reprodutor feminino funciona como se deve. Eu nunca pensei em ser mãe até perder meu primeiro bebê, e descobrir tempos depois que talvez nunca pudesse dar ao homem que eu amo o filho que ele poderia desejar. isso fez com que eu me sentisse menos mulher do que eu deveria, me sentia quebrada como um brinquedo sem conserto. Se não fosse por Gilbert, eu não sei como eu teria vivido cada dia depois disso. Ele foi meu suporte, minha luz no fim do túnel, minha única alegria. Eu nunca pensei que eu pudesse sentir mais amor ainda por ele do que eu já sentia, e por um bom tempo foi somente eu ele contra o mundo. Mas, apesar de eu tentar levar minha vida da maneira mais normal possível, eu tinha esse vazio aqui dentro.- ela colocou a mão sobre o lugar onde ficava seu coração, depois continuou sua narrativa.- e esse vazio só foi preenchido quando eu soube sobre minha bebê.- os olhos dela marejaram ao se lembrar do dia em que descobrira que estava grávida, quando já tinha quase perdido todas as esperanças, e tinha quase se conformado com o fato de que não seria nunca agraciada com aquele milagre.- Você pode imaginar a felicidade de Gilbert quando soube? Sharon, eu nunca vou esquecer o olhar que ele me deu, a maneira como falou comigo. E eu disse a mim mesma que nunca mais queria que aquela luz se apagasse do rosto dele, pois eu nunca tinha visto o Gilbert tão feliz assim.- ela parou de falar para enxugar uma lágrima teimosa que rolou sem que ela o desejasse.- E é por isso que eu farei o possível para que Rilla venha ao mundo sadia e perfeita.
- Você faria isso à custa da própria vida, Anne? - Sharon perguntou, encarando-a com seriedade. Ela podia compreender toda aquela paixão da amiga por seu marido, e também sua necessidade de lhe dar um filho. No entanto, ela não conseguia não achar que aquele pensamento de Anne não fosse egoísta, porque ela estava se baseando em apenas em seu desejo pessoal, e não levava em conta o que Gilbert deveria pensar sobre o mesmo assunto.
- Eu faria isso de qualquer maneira. Gilbert merece ter a filha dele nos braços.
- Mas, ele também merece ter a esposa que ele ama do lado. Você não pensou que talvez ele prefira qualquer outra coisa do que perder você? - Anne a olhou com um jeito triste e respondeu:
- Você fala como se a minha maternidade fosse minha sentença de morte.
- Talvez você devesse considerar esse ponto. Afinal, você sabe a seriedade da situação. - Sharon disse segurando na mão da amiga.
- E o que sugere que eu faça? Que eu renegue minha filha, e que aceite que talvez ela precise não nascer para que eu possa viver? - eram palavras cruéis que machucaram, abriam feridas, e se tornavam terrivelmente letais se fossem consideradas as circunstâncias. Mas, olhando para Anne, Sharon entendeu que ela não ia desistir, mesmo que aquilo causasse uma dor terrível em Gilbert, mesmo que ela morresse dando à luz àquela garotinha de quem já falava com tanto orgulho, e mesmo que um amor tão lindo terminasse de uma maneira tão injusta.
- Anne, ninguém está te pedindo nada. São apenas possibilidades que talvez nem cheguem a se concretizar. Eu quero apenas que considere os sentimentos do Gilbert nisso tudo. Ele está sofrendo demais, Anne. Não exija dele uma compreensão que talvez ele não consiga ter no momento, pois quando se ama alguém como ele te ama, fica terrivelmente difícil pensar com clareza.- Anne apenas balançou a cabeça, concordando, porque ela conhecia bem os sentimentos de seu marido, e mesmo quando ele fingia que não se importava, dentro dele havia uma represa inteira de emoções pronta para explodir em qualquer momento de tensão mais intensa.
- Eu vou tentar. - Foi tudo o que conseguiu prometer, enquanto Sharon a abraçava tentando dar-lhe apoio. Anne suspirou longamente sentindo o tempo se escoando entre seus dedos lentamente.
GILBERT E ANNE
Gilbert entrou no quarto de hospital não sabendo exatamente em que humor encontraria Anne. Ela o impedira de ficar com ela por duas horas inteiras, pois dissera que precisava pensar, e ele respeitara a decisão dela, mas no fundo queria ter ficado com ela cada segundo, pois tinha medo de desperdiçar um minuto que fosse longe dela.
Ele a viu sentada na cama, com seu olhar azul fixo em seu próprio ventre, seu rosto de madona esboçava um sorriso de leve, enquanto suas mãos rodeavam o volume redondo escondido pela camisola do hospital, e ela cantava baixinho uma canção de ninar que ele não conhecia, mas que lhe trouxe lágrimas aos olhos só de observar a cena. O rapaz enxugou rapidamente o rosto, quando Anne o viu na porta, pois não queria que ela o pegasse naquele momento emotivo novamente, embora fosse difícil disfarçar seus olhos vermelhos, as pupilas inchadas, e seu sorriso triste que ele lhe deu assim que ela estendeu a mão e disse:
- Vem falar com sua filha, amor. Ela está com saudades do pai dela. - Ele tentou não sentir seu coração doer, mas, como evitar de não pensar que podia nunca ver o rostinho de sua bebê, assim como poderia perder a mulher da sua vida? Ele se forçou a caminhar em direção à Anne, e quando a alcançou, seus dedos se entrelaçaram nos da mão que ela lhe estendia, e ele beijou-a antes de se deitar na cama, colocando a cabeça no colo de Anne, tocando barriga dela e dizer:
- Olá, Rilla, é o papai. - Um leve tremor no ventre de Anne o fez respirar fundo e sorrir feito um bobo ao sentir a menininha responder ao som de sua voz.
- Ela te ama muito, papai, e só responde rápido assim quando é você que fala com ela. - Anne disse com suas mãos perdidas nas ondas castanhas escuras e macias de seu marido.
- Eu também a amo muito, Anne. Não duvide disso. - Gilbert respondeu, beijando os dedos das mãos de Anne.
- Eu não duvido. Desculpe-me se me exaltei antes. Não devia ter falado que você não queria a Rilla. Eu fui injusta, e não me preocupei com seus sentimentos.
- Está tudo bem. - Ele disse, pois não estava com vontade de falar sobre aquilo de novo. A posição de Anne era a mesma, e seus sentimentos também, portanto, uma discussão não levaria a nada como acontecera horas atrás. Mas, Anne não deixaria aquele assunto morrer sem que tivessem resolvido todas as questões pendentes. Por isso, ela disse:
- Não, não está. Porque se estivesse, você não estaria com essa cara de choro que parte meu coração. Odeio te ver assim, Gilbert. Era para estarmos felizes, planejando o nascimento de Rilla, e, no entanto, aqui estamos nós encarando um ao outro como se nosso mundo estivesse ruindo. Eu não quero que seja assim, por favor, querido, o que posso fazer para te fazer sorrir de novo?
- O que quer que eu diga, Anne? Eu não queria pensar no que nos espera daqui para frente, mas, eu não consigo. Queria não ter medo por você ou por nossa filha, mas, confesso que tremo por dentro com a possibilidade de perder vocês. - O olhar dolorido dele fez Anne sentir-se em pedaços. A última coisa que desejava era que Gilbert tivesse que sofrer daquela maneira. Ambos já tinham derramado tantas lágrimas, por que agora não podia ser diferente? Nos olhos dele ela vai brilhar o amor que ele não tinha mais que lhe confessar porque ela sentia quando o coração dele batia junto ao dela, mas, ao mesmo tempo havia uma briga interna para ter fé quando tudo o levava a crer que não haveria um final feliz.
Ele a abraçou, porque precisava sentir o cheiro dela, ouvir sua respiração suave, retê-la em seus braços pelo máximo de tempo possível, amá-la um pouco mais, tocá-la uma vez mais, porque ele temia que no futuro ele não pudesse ter mais momentos como aquele. Deus! Porque doía tanto? Por que ele simplesmente não podia viver todos os dias com a mesma alegria que vivera até o dia anterior quando sonhava com Anne e Rilla na casa que estavam construindo em Avonlea? Por que ele não conseguia acreditar mais nessa felicidade?
- Eu quero te pedir uma coisa, embora eu saiba que não será nada fácil para você, mas, eu preciso que você me prometa que vai fazer o que eu pedir, pois só assim conseguirei ficar em paz com esse assunto, e seguir em frente.- Gilbert fixou seu olhar no de Anne, sabendo exatamente que o que ela iria lhe fazer não era um pedido qualquer. Sem escolha, ele apenas concordou, esperando com o peito apertado o que ela o queria dizer.
- Eu quero te pedir que se chegar o momento em que você tiver que escolher entre minha vida e de Rilla, que escolha nossa filha.- Gilbert sentiu um baque dentro de si, como se um soco o tivesse atingido diretamente no estômago. Desesperado, ele olhou para Anne e disse:
- Anne, por favor, não me peça isso. - Ele balançava a cabeça em negação enquanto uma dor maior do que ele já havia sentido até ali o estraçalhava por dentro.
- Por favor, meu amor. Prometa-me que fará isso, Nossa filha precisa nascer para conhecer o pai maravilhoso que ela terá.- ela segurou o rosto dele entre as mãos, e Gilbert se perguntou naquele momento, olhando para o ser mais lindo que já tinha visto na vida, como poderia viver sem ela? Ele engasgou com as próprias palavras, porque de repente se tornara tão difícil respirar. Com a voz por um fio ele disse:
- Não posso, eu não poderia fazer isso, eu não.... - Não conseguiu terminar, pois os soluços estavam a ponto de explodi. Anne não podia forçá-lo a aquilo, era cruel demais.
- Por favor, me prometa, Gilbert. Eu não poderei ficar sossegada sem isso.- Gilbert levantou seu olhar torturado, e viu em Anne uma determinação maior do que já havia visto antes, e ele percebeu que ela não mudaria de ideia, e o atormentaria com aquilo até que ele dissesse sim, por isso, com sua alma quebrada, ele respondeu:
- Eu prometo.
- Obrigada, meu amor. - Gilbert viu o rosto de Anne relaxar de alivio, e não suportou mais. seu peito explodiu em soluços enquanto Anne o abraçava, dizendo palavras cheias de amor, carinho e compreensão. Ele a abraçou tão apertado, que ela pensou que fosse sufocar, mas, ela não reclamou, porque sabia que Gilbert precisava daquilo tanto quanto ela precisava daquele calor bom que irradiava em seu interior como se injetasse vida em suas veias.
Ela esperou que crise dele passasse, e depois ficaram deitados nos braços um do outro, e ela se deixou ser tocada por Gilbert, adorada, observada, pois os olhos dele não a largavam um minuto, e os dedos dele a faziam se sentir tão preciosa e tão amada, que se pudesse, ela pararia o tempo e ficariam ali para sempre, onde nada podia alcança-los, magoá-los ou fazê-los sofrer. Foram horas de um silêncio cumplice que nenhum dos dois tivesse vontade de falar, porque seus corações se comunicavam assim, desde o primeiro instante em que haviam se conhecido.
O Dr. Miller apareceu no começo da tarde, dizendo que todas as suas funções estavam normais, e que ela poderia enfim ir para casa. Uma lista enorme de cuidados e prescrições fora passada a Gilbert que garantiu que Anne as seguiria à risca. Quando deixaram o quarto, Anne sentiu que uma nova etapa se iniciava, nem tão feliz, e nem tão calma, pois uma grande batalha estava para ser travada, e por mais boa vontade que tivesse, e mais motivada que estivesse, a vitória era uma incógnita, e seu desfecho fora selado por seu destino.
Jonas e Sharon já tinham ido para casa a horas, depois de passarem a madrugada toda no hospital em companhia de Gilbert, e assim, ele foram para o apartamento em companhia apenas um do outro, aproveitando cada segundo do contato de suas mãos que acariciavam uma a outra toa vez que se olhavam sem necessidade das palavras.
Ao entrarem no apartamento, Gilbert levou Anne até o quarto, onde a deixou descansando. Em seguida, ele alimentou Milk, cuidou de alguns afazeres no apartamento, saiu por alguns momentos para comprar a medicação que Anne deveria começar a tomar para controle de sua pressão, assim como alimentos que o médico prescreveu para sua dieta de pouco sódio, e traçou mentalmente um plano de exercícios que faria com ela para melhorar sua circulação sanguínea. O rapaz também se lembrou que dali a dois dias as aulas da faculdade se iniciariam, e talvez não fosse mais possível para Anne trabalhar na monitoria. Não era um serviço pesado, mas ainda assim exigia muito dela, e ele não queria que ela arriscasse sua saúde por algo desnecessário.
Anne estava cochilando quando ele voltou, por isso, Gilbert decidiu que também era sua hora de descansar. Ele passara quase a noite toda em claro, e aliado a todas as emoções que o esgotaram, o rapaz se sentia exausto. Mas, antes de se deitar na cama em companhia de Anne, Gilbert resolveu tomar um banho, pois o dia estava realmente quente, apesar de o ar dentro do apartamento se manter agradavelmente fresco.
O banho refrescante lhe devolveu um pouco do ânimo perdido, e assim, ele se deitou na cama apenas de cueca, e fechou os olhos tentando dormir. Sua cabeça ainda rodava com tantos pensamentos, e o pedido de Anne o atormentava a um ponto de impedir que o sono chegasse de vez. Ele virou várias vezes na cama, mudando de posição, mas seu corpo apesar de relaxado o impedia de pegar no sono. Com muito custo ele conseguiu cochilar, mas, então sentiu mãos macias subirem pelo seu peito, e abriu os olhos, surpreso por se deparar com olhos azuis brilhantes que encaravam seu rosto com doçura.
- O que está fazendo, Anne? - ele perguntou segurando-lhe os pulsos.
- Eu quero você. - Ela respondeu com a voz baixa, mordendo os próprios lábios, sabendo o quanto este gesto provocava seu marido.
- Anne, não podemos. Sua condição é frágil demais agora. - Ele também a queria, mas, o bem-estar dela lhe era mais importante que seu desejo louco por ela.
- Então, me deixe cuidar de você, pois posso sentir que você também me quer. - Ela disse com suas mãozinhas suaves voltando a tocá-lo com carinho.
- Anne. - Ele disse com intenção de protestar, mas, o mesmo tempo sentindo o seu corpo desejar mais daquele toque suave. Por isso, Gilbert fechou os olhos e deu sua permissão silenciosa para que Anne fizesse o que desejava, pois ele estava totalmente entregue às mãos dela.
Com um sorriso vitorioso, ela beijou-o na testa, descendo-os até as bochechas, onde ela encheu de beijos. Seu nariz tocou o dele por um breve segundo, assim como a boca dela continuou a traçar um caminho lento até a boca dele, que Gilbert entreabriu, deixando que ela, o provocasse mordiscando-lhe o lábio inferior, e em seguida o beijando com todo o seu ardor de mulher apaixonada. Sua boca abandonou a dele, e desceu pelo pescoço masculino, onde pequenas mordidas foram deixadas, fazendo Gilbert suspirar e gemer baixinho, mudando o ritmo de sua respiração conforme o toque ela ia avançando por todo o seu corpo. O peito cheio de músculos foi seu próximo alvo de adoração, onde ela depositou beijos quentes, mordidas suaves, e continuou sua viagem pela pele dele até alcançar o abdómen, do qual ela fez seu parque de diversões favorito, onde sua língua o provocou de todas as formas, conforme ela subia e descia saboreando cada parte daquele local excitante com o qual secretamente sonhava em seus sonhos mais eróticos com ele.
Gilbert tentava em vão conter sua excitação crescente, e sem perceber, começou a movimentar os quadris em direção aos lábios dela, e foi aí que Anne teve sua ideia mais ousada. Decidida, ela livrou Gilbert de sua roupa íntima, que ele sequer notou, pois estava envolvido demais pelas sensações em sua pele que os beijos dela provocavam, mas, quando sentiu a língua suave dela tocando sua intimidade, ele abriu os olhos e disse quase protestando:
- Anne. - Os olhos dele a encararam surpresos porque ela nunca o tocara daquela maneira tão íntima, mas, então ela disse:
- Eu falei que ia cuidar de você essa noite. Por favor, querido, me deixe te dar prazer como eu desejo.- Com um suspiro de derrota, ele mais uma vez cedeu, e foi ao delírio, quando ela o tocou com suas mãos e lábios, de um jeito que nunca tinha feito antes, e ela o teve em seus domínios com toda a luxúria que conseguia provocar, fazendo- gemer o seu nome, afundando as mãos nos cabelos ruivos, que espalhados pelo seu peito lhe causava ainda mais prazer por conta do seu leve roçar na pele sensível. Anne acelerou o movimento, e Gilbert pensou que enlouqueceria, pois seu corpo todo estava em chamas em um prazer novo que o fazia ir até as estrelas e voltar ao planeta terra, Então, ele não se controlou mais, e se desmanchou no calor daqueles lábios que lhe mostraram um paraíso diferente naquela noite.
Gilbert a puxou para ele e a beijou, fazendo Anne sorrir por ver que tinha atingido o seu objetivo. Ela quisera que Gilbert tivesse todo o prazer que merecia como seu homem e marido, e o fizera com maestria. Ainda com seus lábios nos dela, ele disse com todo o amor que conseguia expressar contido em suas palavras:
- Eu te amo tanto, Anne, de um jeito que você nunca irá saber. Por favor, querida, não me deixe. - E então a envolveu seus braços como se ela fosse feita do mais fino cristal.
- Nunca. - Ela respondeu sorrindo e deitando sua cabeça no peito de Gilbert, onde adormeceu minutos depois, sentindo-se a mulher mais amada do mundo.
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