Capítulo 12- Palavras ao vento
GILBERT
Enquanto caminhava para sua fazenda Gilbert tentava ordenar seus pensamentos. A cada passo que dava ia se sentindo cada vez mais inseguro. Não devia ter pressionado Anne daquela maneira para dizer o que sentia por ele, fora levado pelo ciúme e agora sua consciência pesava pela culpa.
Quando a acompanhara até o clube de leitura, sua única intenção fora conversar com ela e ter certeza de que estavam na mesma sintonia, e que seus sentimentos eram os mesmos, mas a teimosia de Anne em não falar sobre o que sentia o deixara tão fora de si que acabara perdendo a cabeça, e tomara uma atitude que poderia pôr em risco tudo o que conquistara com ela até agora.
Não se arrependia de tê-la beijado, pois a experiência tinha sido mais incrível do que todos os beijos que trocaram antes. Fora como se suas almas tivessem se encontrado e tivessem reconhecido que pertenciam um ao outro. A suavidade de Anne no toque de seus dedos o deixara completamente envolvido, e as chamas que se ascenderam a cada carícia fizeram seu coração explodir de amor por ela. Podia perceber que ela correspondera da mesma forma, e o seguira sem pensar naquela escalada de emoções. que deixara a ambos sem fôlego e ansiando por mais.
Ele sabia que a queria por inteiro e precisava dela em sua vida, aqueles momentos em que a tivera nos braços mostraram a Gilbert que Anne era a garota de seus sonhos, a única capaz de fazê-lo vibrar de um jeito que nunca imaginara. Fora incrível como sua raiva logo se transformara em algo totalmente avassalador. Quisera castigá-la, forçá-la a confessar que ele era quem ela queria e que ninguém mais fazia parte de seus pensamentos, mas acabara sucumbindo aos encantos de Anne e se esquecera de tudo, desejando apenas tê-la junto de si.
Mas embora ele tivesse a resposta do que ela sentia por ele fisicamente, as dúvidas ainda o incomodavam. Será que apesar da atração física que sentia por ele ser poderosa, ela tinha outra pessoa em seu coração? Talvez fosse tolice de sua parte, mas precisava ouvi-la dizer que o amava, pois sem isso ele jamais se sentiria completamente seguro.
. Sempre fora ponderado em suas ações, agindo calmamente em qualquer tipo de situação, jamais perdendo o bom senso. Mas desde que conhecera Anne, ele se tornara uma pessoa totalmente inconstante e não se reconhecia mais. Seu ciúme desmedido por Anne se tornara uma parte constante em sua vida, pois bastava vê-la com Cole para que seu sangue fervesse de raiva, não queria que ninguém mais tocasse nela, só de imaginar outro garoto beijando-a, sentia sua pele formigar, sua visão se turvar, fazendo-o perder a razão. Precisava se controlar encontrar seu ponto de equilíbrio novamente, ou acabaria por afastar Anne, e ele não conseguia suportar a ideia de nunca mais vê-la, pois ela era seu raio de sol e não tê-la seria como viver na escuridão.
Um medo absurdo fez Gilbert estremecer. E se ele já a houvesse perdido? E se a ansiedade dele a tivesse levado a um ponto que não queria mais estar a seu lado? Sua vontade era correr até Green Gables, invadir o quarto dela novamente, abraçá-la, pedindo perdão por tê-la pressionado tanto, mas sabia que não devia fazer isso agora. Teria que confiar em seus instintos e acreditar que o que ela sentia por ele era forte o bastante para superar aquele momento de insegurança dele ou então morreria de aflição.
Chegou em casa e encontrou Bash na varanda tomando seu chá preferido. Quando viu o menino, brindou-o com seu sorriso franco tão conhecido por Gilbert, mas ficou sério assim que percebeu o estado de espírito em que ele se encontrava.
- O que aconteceu, Gilbert? Você parece estar aborrecido com alguma coisa.
- Estou me sentindo péssimo. Acho que cometi um erro enorme e não sei como consertar. - respondeu Gilbert suspirando profundamente.
- Isso tem a ver com a Anne? – quis saber Sebastian.
- Sim. Acho que estraguei tudo, meu amigo, e não sei o que fazer.
- Calma. Há sempre uma solução para tudo. E tenho certeza de que Anne vai perdoá-lo logo. - disse Sebastian, dando um tapinha no ombro de Gilbert.
- Eu não tenho tanta certeza. O problema é que não sei se o que ela sente por mim vai bastar para que me perdoe. – Gilbert baixou a cabeça, sentindo como se o mundo fosse desmoronar. Nem quando seu pai falecera sentira tanto desalento como agora.
- Que isso, Gilbert. Está na cara que Anne é louca por você. - Sebastian continuou, tentando confortar Gilbert.
- Não sei o que pensar. Tudo está confuso em minha cabeça. Sinto-me completamente perdido.
- Gilbert, estou sendo sincero quando digo que Anne é louca por você. Ela te olha como se não existisse mais ninguém no mundo. Nunca percebeu? Mary também acha a mesma coisa, e ela também me disse que vocês dois formam o casal perfeito.
- Como eu quero acreditar nisso, mas acho que preciso de tempo para processar tudo o que aconteceu e encontrar um jeito de fazer Anne me desculpar. - olhou para Sebastian, e o amigo pôde ver toda angústia contida em seu espírito.
_ Eu não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas tenho certeza de que não foi algo tão grave que não possa ser resolvido com uma conversa franca. Por que não vai falar com ela?- aconselhou-o Sebastian.
- Vou falar com ela, mas não hoje. Esperarei até amanhã e tentarei encontrá-la na escola. Depois veremos o que acontece.
- É uma boa ideia, mas enquanto isso por que não toma um banho e descansa? Parece estar precisando de uma boa noite de sono. Quer que te prepare um chá? – perguntou Sebastian.
- Não obrigado. Vou seguir seu conselho e tentar dormir um pouco. Preciso recuperar as energias se quiser estar em forma amanhã. - disse isso e foi para o quarto.
A água do chuveiro estava morna e agradável, fazendo com que todos os músculos do corpo de Gilbert relaxassem e se livrassem de toda a tensão acumulada. Mas o coração dele continuava apertado e só aliviaria quando falasse com Anne.
Gilbert se deitou na cama, fechou os olhos e tentou dormir, mas a cabeça dava voltas e o sono não vinha, então ele se levantou e foi até a janela. Uma lua imensa iluminava o céu aquela noite tornando as estrelas ainda mais brilhantes. Ele pensou em Anne e desejou intensamente que ela estivesse ali com ele. Será que algum dia conseguiria não amá-la tanto? Será que algum dia seu coração deixaria de bater por ela? Ele fechou os olhos e fez uma prece silenciosa, desejando que a distancia que ele sem querer criara entre os dois desaparecesse para sempre.
Voltou para a cama e ficou olhando para o teto com os pensamentos se amontoando em sua mente. Finalmente o cansaço o venceu e ele conseguiu adormecer, mas quando o sol surgiu no horizonte, ele já estava desperto e pronto para ir à escola.
Ao abrir a porta da sala percebeu que o clima tinha mudado e nuvens pesadas anunciavam um dia chuvoso e triste. "Exatamente como me sinto", pensou Gilbert. Caminhou para a escola automaticamente, sem prestar muita atenção por onde passava, não conseguia se concentrar em nada que não fosse aquela ansiedade absurda de falar com Anne.
Assim que chegou viu que ela estava sentada em sua carteira conversando com Diana e Ruby, e não notara que ele tinha chegado. De repente ela se virou, olhou para ele e um sorriso lindo se desenhou em seus lábios. Gilbert sorriu de volta, aliviado por ver que ela não parecia zangada com ele e pensou que talvez seus medos tivessem sido infundados e sofrera por antecipação, mas de qualquer forma conversaria com ela na primeira oportunidade que tivessem de ficar a sós.
A primeira aula do dia foi de matemática, deixando Gilbert muito satisfeito, pois era sua matéria favorita e sempre que estava lidando com números se envolvia completamente, e dessa vez não fora diferente. A Srta Stacy havia escrito na lousa vários problemas de difícil solução e isso custou aos alunos várias horas de estudo para encontrarem o resultado correto, e quando terminaram já era a hora do almoço.
O menino observou Anne deixar a sala em companhia de Diana e esperou o momento certo para abordá-la. Sentou em um banco com um livro no colo e fingiu ler, pois não queria que ninguém se aproximasse ou falasse com ele naquele momento, pois seu nervosismo o estava consumindo. Ele ouviu Anne dizendo a Diana que tinha esquecido a sobremesa que Marilla preparara para ela na sala, iria buscá-la e retornaria em seguida. Gilbert a seguiu e ficou observando-a de longe, tentando pensar em um lugar onde poderiam conversar sem serem interrompidos.
Então, ele viu que a porta da sala onde a Srta Stacy guardava os materiais didáticos estava aberta, e pensou que ali seria o local perfeito para ficar sozinho com Anne. Encaminhou-se para lá e ficou esperando pacientemente Anne retornar de onde havia guardado a sobremesa de Marilla. Quando ela passou perto da sala ele pegou em seu pulso e a puxou para dentro, fechando a porta.
Anne olhou para ele assustada, como se tivesse visto um fantasma e disse com certo nervosismo:
- Gilbert! Quer me matar de susto?
- Desculpe Anne. Não quis assustá-la desse jeito. - ele disse.
- Tudo bem, não foi nada. - ela respondeu, mas Gilbert percebeu que sua voz soava estranha. Pegou no queixo dela, a fez olhar para ele e perguntou:
- Você parece nervosa, o que aconteceu?
- Não aconteceu nada. – mas ao dizer isso, o menino viu uma sombra passar por seus olhos e ficou preocupado.
- Não vai me dizer o que a deixou assim?
- Por que acha que aconteceu alguma coisa? - Anne quis saber.
- Você está tensa, seu rosto está sério e tem uma ruga de preocupação na sua testa. - ele tocou o rosto dela com carinho e de repente ouvi-a dizer:
- Me beije, Gilbert.
- O que?- ele achou que não tivesse ouvido direito, mas em seguida sentiu os braços de Anne em volta do seu pescoço e ela tornou a dizer:
- Me beije.
- Anne, tem certeza do que está dizendo? Alguém pode pegar a gente aqui assim e seremos suspensos.
- Eu tenho certeza. Quero que me beije aqui e agora, por favor. - ela suplicou em um sussurro e seus olhares se encontraram. Gilbert fitou aqueles lábios tão tentadores ali próximos dos seus e não conseguiu mais resistir.
ANNE
Anne estava sentada à mesa do café da manhã, tentando mastigar uma torrada que não tinha gosto de nada em sua boca. Tomou um gole grande de leite e desistiu da torrada, não ia conseguir comer nada naquele momento.
Marilla a olhou preocupada, pois Anne parecia muito pálida e desanimada, por isso perguntou:
- Você não me parece muito bem hoje. Está sentindo alguma coisa?
-Não, só estou com um pouco de dor de cabeça, mas vai passar logo, não se preocupe.- respondeu Anne,tentando sorrir.
- Não me espanta que esteja com dor de cabeça, mal tocou na comida ontem a noite. - comentou Marilla. O apetite de Anne parece pior a cada dia e isso era fonte constante de preocupação para ela. Precisava levá-la ao médico com urgência, não queria vê-la cair doente por falta de uma alimentação correta.
Ao ouvir as palavras de Marilla, Anne se lembrou do momento em que chegara em casa no dia anterior. Tinha chorado um rio de lágrimas antes de entrar pela porta da cozinha, e tentara disfarçar para que Marilla não percebesse seus olhos lacrimejantes, sorte que ela parecia concentrada em uma receita nova que estava testando e simplesmente cumprimentou a menina sem olhar diretamente para ela.
Anne fora para seu quarto tomara um banho, se vestira e descera para o jantar. Porém, ela apenas brincara com a comida, não conseguia engolir nada, por fim desistiu, pediu licença e voltou para seu quarto.
Ficara horas deitada na cama, pensando em Gilbert. Lembrou-se dos olhos castanhos maravilhosos dele, do sorriso que fazia com que sentisse sua pele se arrepiar e dos lábios que sempre lhe prometiam o paraíso. Estava completamente apaixonada e não havia cura para este mal. Ele tomara conta de todos os seus sentidos e ela jamais seria a mesma novamente, pois fora tocada pelo cupido do amor e Gilbert tinha toda a sua alma nas mãos.
Então, por que não lhe dissera que ele era seu sopro de vida? Por que não lhe confessara que ele a tinha salvado da existência vazia que a acompanhara até ali? Por que, em nome de Deus, não tinha mandado seu bom senso ás favas e confessado que o amava? Agora sentia que algo havia sido roubado dela e não sabia como recuperá-lo.
Sempre fora uma pessoa racional e talvez isso a estivesse atrapalhando neste momento. Não havia nada de racional no amor, pelo menos era isso que diziam os muitos romances que lera. Os sentimentos é que importavam e quem comandava as emoções era o coração e não a razão. Faltava a ela agir mais pelos instintos e se deixar guiar pela voz que vinha de dentro. Será que algum dia se libertaria dos grilhões de seus medos e se permitiria desfrutar daquele sentimento em toda sua essência? Só esperava que se um dia conseguisse conquistar essa liberdade não fosse tarde demais. Quando conseguiu adormecer já passava da meia noite, estava exausta e a mente cheia de lembranças confusas.
Ao se levantar de manhã a cabeça doía e seu coração ainda tinha muitas perguntas a serem respondidas, mas afastou-as temporariamente, pois precisava ir para a escola e não conseguia raciocinar com clareza àquela hora do dia.
Voltou ao presente e notou que Marilla ainda exibia um olhar de preocupação por ela. Por fim se levantou rapidamente, abraçou e beijou a bondosa senhora e foi para a escola. O dia amanhecera triste e parecia que ia chover a qualquer momento, por isso ela apertou o passo, pois não queria chegar para a aula encharcada. Encontrou Diana pelo caminho e ambas conversaram animadamente até chegarem ao seu destino, e em nenhum momento Anne contou a amiga o que se passara entre ela e Gilbert. Não se sentia confortável o suficiente para falar sobre aquele assunto naquele instante.
Logo que entrou na sala procurou por Gilbert, mas a carteira na qual ele costumava se sentar estava vazia. Se sentia ansiosa pela chegada dele, mas fingiu estar interessada na conversa que estava tendo com Ruby e Diana,e quando percebeu que Gilbert tinha entrado na sala de aula seu coração se acelerou, deu-lhe um sorriso tímido e o menino correspondeu.Graças a Deus! Pensara que ele estava zangado com ela.
Mas mesmo sentindo que estava tudo bem entre ela e Gilbert, não se sentia sossegada, parece que havia no ar um clima pesado que ela não conseguia compreender. Anne deu uma olhada pela sala e deu de cara com Billy Andrews que a observava com um sorriso odioso nos lábios. Anne sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem e tentou afastar aquela sensação se concentrando na aula da Srta Stacy,mas toda vez que se virava para falar com Ruby ou outra colega de sala, pegava Billy olhando para ela. "O que ele pensa que vai conseguir com isso? Me intimidar? Não vai conseguir!"- pensou ela.
Finalmente o horário de almoço chegou. Anne e Diana saíram juntas para o pátio e se sentaram com Ruby em uma das mesas reservadas para os alunos. Ao longe, viu Gilbert sozinho lendo um livro, e desejou que tivessem a chance de conversar antes do fim da aula. De novo viu que Billy Andrews a observava, sentado a alguns passos de onde ela e suas amigas estavam e se sentiu tensa. "Qual é o problema com esse garoto? Vai passar o dia olhando para mim desse jeito?" Aí se lembrou da sobremesa de Marilla e disse para Diana:
- Esqueci-me da sobremesa de Marilla na sala. Vou buscá-la e volto em um instante.
- Está bem- disse Diana.
Anne se sentiu aliviada por ter um motivo para escapar dos olhares insistentes de Billy Andrews e correu para onde tinha guardado a sobremesa de Marilla. Quando passava pela sala de materiais que usavam nas aulas, sentiu alguém puxá-la para dentro e seu coração quase saiu pela boca. Mas respirou aliviada quando viu que era Gilbert, e ele logo se desculpou quando percebeu que a tinha assustado.
Anne olhou para o menino enquanto ele falava e sentiu uma vontade imensa de ter os braços dele em volta de sua cintura, e sentir-se segura como sempre se sentia quando estava entre eles. Ela não sabia por que estava com medo, mas parecia que alguma força estranha a observava nas sombras e ela sentia uma imensa vontade de fugir. Mas Gilbert estava ali com ela e parecia que nada poderia atingi-la, ela precisava da força dele para manter-se serena, e de repente desejou ardentemente que ele a beijasse.
Quando disse isso em voz alta, Gilbert mostrou-se surpreso e disse que ali não era o lugar apropriado, pois se fossem pegos seriam suspensos, e perguntou se ela tinha certeza do que estava lhe pedindo. Em resposta, Anne atirou seus braços em volta do pescoço de Gilbert e disse;
- Eu tenho certeza. Quero que me beije aqui e agora, por favor. - Ela não se importava onde estavam ou se alguém os visse. Tudo o que queria era sentir os lábios dele colados nos seus, queria seus corpos unidos como se fossem um, só assim afastaria aquela sensação de perigo eminente no ar.
Gilbert pareceu considerar a situação por um momento, mas quando seus olhares se cruzaram ele não resistiu mais, a tomou em seus braços e seus lábios enfim se encontraram.
GILBERT E ANNE
Suas bocas se uniram em um beijo lento e doce. Anne encostou-se ao corpo de Gilbert, e ele a abraçou apertado como se não quisesse nunca mais se separar dela. Os lábios de Anne eram quentes e suaves ao mesmo tempo, e o menino se sentiu intoxicado pelo corpo dela de encontro ao seu,não conseguia raciocinar, ele ardia naquele fogo que os consumia completamente.
Enquanto isso Anne se entregava aquele momento sem pensar. Queria que durasse para sempre aquela sensação incrível de ter encontrado seu caminho para casa. Gilbert era seu porto seguro, o amor mais verdadeiro que um dia pudera sentir.
Gilbert nunca imaginara que Anne pudesse tomar a iniciativa e beijá-lo daquele jeito. Ela parecia estar possuída por uma paixão que nem mesmo em seus sonhos Gilbert pensara que ela fosse capaz. Mas tanta volúpia o estava deixando ofegante, e afastou seus lábios do dela em busca de ar. Olhou para o rosto dela e viu que seus lábios ainda estavam entreabertos, e desejou que estivessem em outro lugar para que pudessem dar vazão aos seus sentimentos. Recuperando o fôlego ele disse em tom de brincadeira:
- Nossa.! Você literalmente me deixou sem palavras. O que te deu para me beijar assim?
- Desculpe, eu não quis parecer oferecida. - Anne respondeu, sentindo-se um pouco envergonhada pelo seu comportamento pouco convencional.
- Eu não pensei nada disso. Na verdade adorei essa sua nova versão. Podemos repetir essa cena de beijo sempre que quiser. – ele continuou brincando com a menina.
- Você não perde a oportunidade de ser atrevido. - ela disse acariciando os cabelos dele.
- Você é que me deixa assim. - Gilbert agora sorria e segurou as mãos dela entre as suas. - Podemos nos encontrar mais tarde, por favor?- a maneira como ele disse aquilo fez Anne prender respiração.
- Está bem. Podemos nos encontrar no meu clubinho de leitura.
- Perfeito. Agora acho melhor voltarmos ou daremos margens para especulação sobre o nosso sumiço.
Assim, Anne saiu primeiro e foi procurar Diana. A amiga quando a viu a encheu de perguntas:
- Por Deus, Anne. Como você demorou! Onde estava?
- Desculpe Diana. Tive que falar com a professora Stacy sobre um trabalho especial que ela me pediu para fazer. Mas aqui está a sobremesa de Marilla, espero que goste. – falaria a verdade para Diana mais tarde. Não podia confessar que estivera com Gilbert, pois Ruby estava ali atenta a cada palavra sua.
Depois de alguns minutos, todos os alunos retornaram para a classe e Anne se sentiu aliviada por não ver Billy Andrews por perto. Quando entraram, Gilbert já estava na sala e sorriu para ela disfarçadamente, e Anne teve o cuidado de não deixar Ruby perceber que ela também sorria para ele.
Ao final da aula, Anne se dirigiu para o clubinho de leitura. Diana fora embora com o Jerry novamente e Gilbert tivera que ficar para trás, pois tinha que conversar com a Srta Stacy sobre seus planos de estudo. Assim, Anne caminhou pela floresta sozinha até chegar ao local combinado. Entrou e ficou esperando por Gilbert, lendo um livro enquanto o aguardava.
Ouviu um barulho de alguém chegando e correu para a porta sorrindo;
- Até que enfim você chegou!- mas seu sorriso desapareceu assim que viu quem acabara de entrar.
- Billy Andrews!
- Parece que esperava por alguém. - ele disse
- Com certeza não por você. - Anne respondeu fechando a cara.
- Então é aqui que você se esconde. - disse ele com o desdém estampado em seu rosto.
- O que você está fazendo aqui?- Anne disse horrorizada pela presença daquele garoto ali. Era como se Billy profanasse aquele lugar sagrado para ela.
- Nada em especial, só queria ver onde você passa o tempo depois da escola.
- Vá embora. Não tem nada para você aqui. - Anne estava ficando apavorada com a maneira como ele olhava para ela.
-. Engana-se. Que lugar interessante. Acho que vou ficar um pouco por aqui. - ele realmente não dava indícios de que iria embora tão cedo.
- Vá embora, Billy. Eu não quero que você fique aqui.. - Anne estava quase gritando, e procurava por algum objeto que a ajudasse se defender caso Billy tentasse alguma coisa. Não sabia o que ele tinha em mente.
- Pouco me importa se me quer aqui ou não. Sou eu quem decide quando vou sair.- disse isso e se aproximou dela com um olhar que a deixou gelada por dentro. Ele tocou em seus cabelos e Anne se encolheu assustada.
- Esse seu cabelo ruivo é ridículo. Sabe disso não é?
Anne ficou em silêncio, não queria provocá-lo. Sabe exatamente o que ele estava fazendo. Ela já sentira aquilo na própria pele. Pessoas como Billy tentavam intimidar pela força quando não possuíam inteligência intelectual para isso. Ridicularizando seu cabelo ele acreditava que atingia seu ponto fraco, fazendo com que ela contra atacasse e ele visse ali uma oportunidade para fazê-la perceber quem era mais forte.
Billy examinou seu rosto e seus olhos foram parar nos lábios dela, em seguida disse:
- Você se acha melhor que todos nós. Logo você, uma órfã imbecil. Será que também seria boa na arte de beijar? - Anne sentiu seu estômago revirar. Ele não podia estar pensando em beijá-la. Só de pensar nisso ela tinha vontade de vomitar. Precisava dizer algo, fazê-lo desistir daquilo.
- Você não quis me beijar no jogo da verdade ou desafio, então perdeu sua chance.
- Aquele jogo é uma bobagem. O que tenho em mente é algo muito mais divertido. – disse isso olhando nos olhos de Anne, e se sentiu exultante ao ver o medo estampado ali. Queria aterrorizá-la, vê-la arrasada para que ela entendesse que não devia zombar dele. Quem ria por último agora?
- Você não vai me beijar!- gritou Anne desesperada.
- E quem vai me impedir?- Billy perguntou se divertindo com o terror da ruivinha.
- Eu vou. - Ambos olharam para porta e ao ver Cole, Anne suspirou aliviada. Ele resolvera dar uma volta na floresta par matar a saudade de seus lugares favoritos e ouvira quando ela gritara. Então, correra para ver o que estava acontecendo e encontrou Billy tentando agarrá-la.
- O que o faz pensar que pode me vencer, sua aberração idiota. Quer mesmo me enfrentar?
- Você vai soltar a Anne ou vou ter que fazer isso por você?- A voz de Cole estava muito zangada e seus olhos brilhavam ferozes.
- Você não ousaria. - disse Billy sorrindo maldosamente.
- Vai pagar para ver?- respondeu Cole se preparando par lutar. Não tinha mais medo de Billy, ele só era um covarde idiota que tinha que atacar uma garota para provar sua força.
Billy viu os olhos de Cole faiscarem como se o garoto estivesse possuído por uma força que ele não conhecia. Se acovardou diante dele, pois percebeu que não o conhecia mais. Cole mudara realmente e Billy não possuía mais nenhuma influência sobre ele, então achou melhor desistir e ir embora de uma vez, antes que a situação fugisse de seu controle. Sem dizer nada, deu as costas para os dois amigos, saiu pela mesma porta pela qual entrara, deixando Cole e Anne sozinhos.
Quando Billy foi embora Anne se atirou nos braços de Cole dizendo;
- Graças a Deus que você apareceu. Eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse vindo aqui.
- Calma, já passou. Tente esquecer tudo isso - Cole acariciava os cabelos de Anne.
- O que está acontecendo aqui? Anne ouviu a voz zangada de Gilbert explodir em seus ouvidos. Ela se esquecera completamente de que tinha combinado com ele de se encontrarem ali. A menina se separou de Cole e começou a falar com Gilbert, mas ele a interrompeu;
- Gilbert, eu ...
- O que vai me dizer Anne? Que o que vi aqui é fruto da minha imaginação? Como pode ser tão dissimulada? Me beijou daquele jeito no intervalo hoje, me fazendo acreditar que você gosta de mim, e depois a encontro agarrada com esse garoto mesmo sabendo que eu viria aqui e pegaria os dois.
- Gilbert, não é o que está pensando. - Cole tentou intervir.
- Eu não estou falando com você. Este assunto é entre mim e Anne.- disse Gilbert interrompendo a explicação de Cole.
- Você está errado. - Anne disse.
- Estou? Pois eu acho que você é uma excelente atriz. Enganou-me direitinho. Vou para a casa, não quero mais ter que olhar para sua cara. Divirtam-se, podem continuar o que estavam fazendo antes de eu chegar. Vocês dois se merecem.
Anne viu Gilbert se virar e ir embora, sem dar chance para ela se explicar. Seu corpo todo doía, mas não mais que seu coração, ele tinha sido arrancado e pisoteado por Gilbert Blythe.
- Anne, não fique assim. Você precisa conversar com ele. - disse Cole ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto magoado da amiga.
- Como ele pôde me dizer todas aquelas coisas?- perguntou Anne, entre soluços.
- Ele está com ciúmes, Anne. Tente entender o lado dele. Chegou aqui esperando encontrar você e te viu abraçada comigo. Acho que se fosse ele me sentiria do mesmo jeito. - disse Cole, tentando fazer a amiga entender os sentimentos de Gilbert.
- Como ele pode ter ciúmes de você?
- Anne, ele não sabe do meu segredo. Para Gilbert eu sou um garoto como outro qualquer.
- Não importa. Ele não tinha o direito de me dizer tudo o que disse.- falou Anne ainda chorando.
- Ele vai cair em si assim que a raiva passar. Você precisa procurá-lo e explicar o que aconteceu. - aconselhou –a.
- Não vou procurá-lo. Se ele não confia em mim, então ele não serve para ser parte da minha vida. - respondeu ela decidida. - Preciso ir para casa, não quero ficar aqui nem mais um minuto.
- Espere mais um pouco, Anne. Começou a chover e Green Gables é uma boa caminhada daqui.
- Não importa. Vou embora assim mesmo. - e sem esperar pela reação de Cole, correu pela chuva, sem ligar para o fato de que ficaria encharcada até chegar em casa.. Era como se a chuva pudesse apagar toda dor que estava sentindo.
Cole viu Anne desaparecer por entre as árvores, enquanto a chuva caía torrencialmente. Precisava fazer alguma coisa para ajudar sua amiga, odiava vê-la sofrendo daquele jeito. Decidiu que falaria com Gilbert ainda naquele dia, mesmo que isso lhe custasse seu segredo.
Enquanto isso, Gilbert estava explodindo de raiva. Como fora idiota! Entregara todo o seu coração nas mãos daquela garota e ela o havia traído daquele jeito. Doía demais para suportar e ele nem mesmo conseguia chorar para aliviar aquela angústia. Queria se esconder em alguma montanha, desaparecer no meio do deserto, qualquer coisa seria melhor do que sentir-se daquela maneira. Estava magoado e não havia remédio para aquela ferida que sangrava aberta, e ele sabia que não cicatrizaria tão facilmente. Como um animal atingido por uma bala de fuzil ele deu um grito que ecoou por toda a floresta.
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