Capítulo 116- Príncipe Encantado
Olá, pessoal. Estou postando mais um capítulo da nossa história. Espero que gostem e comentem, Vou revisar depois. Obrigada por todos os comentários e incentivos de sempre. Beijos, Rosana.
ANNE
O trem corria nos trilhos em seu ritmo normal, mas, o coração de Anne batia tão rápido que ela quase não conseguia respirar normalmente, pois a ansiedade que sentia estava em um nível incrivelmente alto, e ela tentava a todo custo manter uma postura serena, fazendo exercícios respiratórios, relaxando os ombros, observando a paisagem lá fora que sempre fora uma das suas coisas preferidas em uma viagem até Avonlea, no entanto, nada surtia o efeito esperado.
Seus olhos azuis refletiam exatamente o que ia em seu íntimo, e suas mãos inquietas pareciam ter vida própria, pois se movimentavam todo o tempo. Elas iam dos cabelos até o pescoço onde paravam por um instante, depois desciam até seu ventre, acariciando o volume que havia ali e que aumentava dia a dia, e então ela cruzava e descruzava os dedos em seu colo, e assim recomeçava cada gesto, seguindo uma simetria contínua que até mesmo Gilbert que estava imerso em uma leitura interessante de sua área de Medicina, pareceu ser afetado pelo nervosismo intenso de sua noiva. Ele colocou o artigo de lado, se aproximou de Anne que estava sentada no banco em frente ao seu, e segurou em suas mãos, fazendo-a perceber de imediato que sua inquietação não estava de fato nem um pouco controlada por suas precárias tentativas em disfarçá-las.
- Querida, se acalme ou acabará afetando Rilla. Você sabe que tudo o que sente, ela sente também, e você vai acabar com distensões musculares terríveis até o fim dessa viagem. - Gilbert disse com toda sua preocupação por sua noiva e filha exposta em seu rosto. Anne elevou sua mão até o rosto de seu amado, fez-lhe uma carícia leve, e respondeu:
- Desculpe-me. Estou nervosa com a chegada de nosso casamento. Dá para imaginar que falta apenas uma semana? Não consigo acreditar que o tempo voou tão rápido.
- Por mim, teríamos nos casado meses atrás, mas, eu sei que é seu sonho casar na igreja, e por isso, quero que tudo aconteça de acordo com o que deseja.- a preocupação de Gilbert com ela sempre deixava seu coração aquecido, assim, como fazia com que seu amor por ele aumentasse de intensidade. Nunca ninguém tinha se importado tanto com suas necessidades antes, e era quase impossível não se emocionar com tanto cuidado e atenção. Pela primeira vez podia dizer que estava feliz, sem medo que isso lhe fosse roubado de uma hora para outra. Gilbert era seu sonho de amor idealizado, e a bebezinha que carregava em seu ventre e que logo nasceria para coroar aquela união tão esperada, tornaria real seu maior desejo de vida que era ser mãe, e se nada mais lhe fosse concedido depois disso, Anne estava satisfeita com o que recebera dos céus, e somente pedia para que pudesse fazer daquela família um lar de verdade para Gilbert e Rilla.
- Eu te agradeço muito por isso. Eu sei que já estamos unidos em nossos corações, porém, uma cerimônia religiosa não é somente importante para mim. Eu faço isso por meus pais adotivos também que sonham em me ver casada na igreja. Marilla por suas convicções religiosas e Matthew porque ele sempre me disse que queria entrar comigo, e caminhar até o altar onde me entregaria nos braços do meu futuro marido. - Anne terminou de falar e Gilbert apertou suas mãos fortemente antes de dizer:
- Eu entendo e aprecio demais tudo isso, e também sei que meu pai ficaria feliz que nossa união fosse abençoada dessa maneira. John Blythe podia não ser um homem muito tradicional em certos aspectos, mas, era uma pessoa de uma fé imensa, e quero muito homenageá-lo, fazendo de você minha esposa com as graças divinas. - Gilbert disse com seu olhar suave sobre ela.
- Eu não esperaria menos de você, meu amor. Eu sei o quanto seu pai significa para você e como a morte dele te afetou, Isso realmente é algo lindo de se fazer por alguém que se respeita de verdade.- Anne disse se levantando e se sentando ao lado de seu noivo que a abraçou pelo ombro trazendo-a para mais perto.
- Ele também ficaria imensamente feliz com o nascimento de Rilla. Na verdade, ele foi o primeiro a notar meu interesse por você. - Gilbert confessou um tanto envergonhado.
- É mesmo? Você nunca tinha me contado isso. - Anne disse surpresa com as palavras do noivo.
- Foi naquela vez em que você apareceu na porta da minha casa com a matéria da escola que perdi por conta de ter que ficar cuidando dele. Você se lembra? - Anne balançou a cabeça confirmando. Como ela poderia ter esquecido da primeira vez em que sentira borboletas em seu estômago por estar conversando com Gilbert Blythe, o garoto mais bonito da escola. Naquela época ela ainda não sabia que estava começando a se apaixonar por ele, por isso, confundira aquele sentimento com raiva pura e simples de ter que fazer algo que não lhe agradava em absoluto.
- Sim, eu fiquei tão brava pelo professor me obrigar a ir até sua casa naquele dia terrivelmente frio, só porque o aluno preferido dele não podia ficar sem sua matéria de estudo. - Eles riram das lembranças, e Gilbert a beijou no rosto e disse:
- Você estava com uma carranca do tamanho do mundo quando apareci de repente depois de meu pai ter aberto a porta, e eu te achei maravilhosa mesmo assim.
- Você não imagina o quanto fiquei nervosa ao te ver. Nunca tinha sentido nada parecido por um garoto. Na maior parte do tempo eles me aborreciam e zombavam de mim, e você sempre foi tão educado e atencioso comigo. Não acredito que se apaixonou por uma menina tão geniosa e sem modos. - Anne ainda se surpreendia com a capacidade que Gilbert tivera em ver um lado seu que ninguém tinha enxergado. Ele a tratara com tanto respeito e consideração que ela ainda se sentia mal por ter ignorado toda aquela gentileza, e retribuído com palavras ferinas e cheias de ressentimento.
- Querida, você nunca foi uma garota comum. Havia tanta energia, e tanto fogo nesses olhos azuis que eu teria sido um tolo se tivesse ignorado alguém tão único e especial. Eu não teria me apaixonado por nenhuma outra, tinha que ser você. - E para complementar suas palavras ditas, Gilbert a beijou e Anne sentiu o calo familiar que aqueles lábios contra os seus lhe provocavam. Era a magia do amor agindo sobre eles em todos os instantes em que pudessem estar tão juntos assim, reafirmando o quanto eram certos um para o outro. Eles se separaram e Anne deixou sua cabeça encostada no ombro de Gilbert e disse:
- Como fui tola por negar por tanto tempo algo que eu queria tanto. Coloquei minhas amizades a frente dos meus sentimentos para me esconder de algo que achava que não merecia.
- Não pense assim, Anne. Você só não estava pronta para aceitar o amor da forma como lhe foi oferecido, e isso é normal em alguém que sofreu demais por conta do desprezo e crueldade de outras pessoas. O importante é que você se convenceu de que o que eu sentia por você era verdadeiro, e olha só tudo o que construímos e estamos construindo juntos. Nós teremos uma vida maravilhosa. - Gilbert olhou para Anne, e ela viu ali todos os sentimentos dele por ela sendo expostos sem nenhum receio, e ela tocou ambas as faces dele com a palma de sua mão ao dizer:
- Acho que nunca te agradeci por ter insistido tanto em ficarmos juntos. Se não fosse por você, eu estaria ainda perdida em minha rebeldia e amargura por ter sido deixada em um orfanato. Você me ensinou o que é ser amado por alguém e amar de volta, e nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi você dizer as palavras "eu te amo", pois foi ai que compreendi que você era o cara certo para mim, e que eu me arrependeria se te deixasse escapar e sair da minha vida.
- Você não precisa me agradecer por nada, pois você foi meu presente não o contrário. Eu só soube o que era ser feliz quando você entregou a mim seu amor, e principalmente quando me deu essa bonequinha linda que nasce a daqui três meses.- Gilbert disse colocando a mão na barriga de Anne que como sempre se mexeu ao toque dele. Ela riu feito boba ao ver os olhos brilhantes de Gilbert cheios de emoção por algo tão simples mais repleto de significados para os dois.
- Está vendo como ela reconhece o seu toque? Rilla já te ama exatamente como eu. - Anne disse dando a Gilbert um beijo rápido.
- É incrível como me sinto toda vez que isso acontece. Eu nunca pensei que ser pai me deixaria tão emotivo e chorando à toa. - Gilbert passou a mão pelo rosto onde uma lágrima escorria suavemente.
- Isso é lindo, meu amor. Espere até tê-la em seus braços de verdade. - Anne o abraçou pelo pescoço, e ficaram assim agarrados por um tempo considerável, pensando nos dias que se seguiriam a este. Com certeza teriam muito mais emoção pela frente já que o casamento se realizaria no sábado seguinte.
Anne tinha feito a última prova do vestido naquela semana, e tinha adorado o resultado. A costureira que tia Josephine lhe indicara fora perfeita em todos os detalhes, e Anne se sentira uma princesa ao colocar o vestido pronto. Nunca vestira nada tão delicado e tão fino, e quando se olhara no espelho pela última vez, ela imaginara o que Gilbert pensaria ao vê-la naquele vestido maravilhoso. Ela imaginava que ele ficaria lindo também, levando-se em consideração como ele ficava incrível em qualquer coisa que vestisse.
No total de quatro horas de viagem, eles chegaram em Avonlea. Sebastian os esperava com seu sorriso cativante. Ao vê-los descer do trem, ele correu para ajudá-los com a bagagem ao mesmo tempo em que dizia:
- Sejam bem vindos.
- Obrigado. Estamos felizes de estarmos finalmente aqui. - Gilbert respondeu abraçando o amigo de longa data.
- E como está a grávida e noiva do ano? - Sebastian perguntou apertando a mão de Anne com carinho.
- Ansiosa demais, mas, acho que sobrevivo até o dia do casamento. - Anne disse em tom de brincadeira que fez os dois homens rirem com sua careta exagerada.
- Mary está louca para ver vocês dois, sem contar Shirley que não para de perguntar pelo Gilbert. – Anne sorriu ao pensar na garotinha de quase três anos. que tinha verdadeira adoração por seu irmão de criação. Era assim desde que nascera, e a ruivinha imaginava que seria assim com Rilla. Afinal quem resistiria ao charme de Gilbert Blythe?
Sebastian e Gilbert colocaram toda a bagagem no porta mala do carro, e logo estavam a caminho da fazenda dos Blythes. Anne ficaria ali até a véspera do casamento quando iria para Green Gables, onde prometera para Marilla e Matthew que se vestiria e sairia com seu pai adotivo para a cerimônia de casamento. Ela sabia que aquilo também era importante para os dois, já que Green Gables fora seu lar por alguns anos, e ela jamais se recusaria a satisfazer os desejos de pessoas que a tinham acolhido com tanto amor.
Quando chegaram na fazenda, Mary estava na porta com Shirley que se atirou nos braços de Gilbert assim que ele se aproximou. A menininha o encheu de beijos enquanto o rapaz a abraçava com todo o carinho do mundo.
- Assim, eu vou ficar com ciúmes. Não ganho nenhum beijo da minha afilhada? - Anne perguntou para Shirley que a recompensou com um beijo molhado em sua bochecha, mas, não largou o pescoço do rapaz nem por um segundo, reafirmando sua paixão pelo seu irmão mais velho.
- Deixe-me olhar para você. - Mary disse sorridente, observando a barriga saliente de Anne com carinho. - Como você está linda, minha querida. E posso ver esse brilho em você por dentro e por fora. É tão bom te ver feliz de novo, Anne.
- Você sempre foi uma boa amiga, Mary. Eu lhe agradeço de todo o coração por todos os conselhos que me deu. - Anne disse, abraçando Mary com afeição. Ela fora um apoio e tanto na época do seu aborto e amnésia de Gilbert, e Anne não tinha palavras para dizer o quanto aquilo fora essencial para que aguentasse os dias duros que vieram depois. Mas, tudo tinha finalmente passado e voltado ao seu lugar, e agora tudo o que esperava era que seu futuro e de Gilbert fosse cheio de paz e dias tão felizes quanto os que viveriam nos próximos dias, até que fosse finalmente sua esposa.
- Querida, você é como uma filha para mim, e te ver tão feliz depois de tudo o que aconteceu não tem preço. Você e Gilbert merecem todas as bençãos dos céus. - Ela se virou para Gilbert e disse carinhosa. - Vem cá, meu amor, eu quero te dar um abraço também. Eu tenho que te agradecer por ter me recebido nessa casa com Sebastian como um membro da família, e o meu maior orgulho e prazer é ver você casado com o amor de sua vida. - Gilbert beijou Mary no rosto antes de responder:
- Você me deu um amor de mãe que nunca tive, e tê-la morando aqui com Sebastian e Shirley me trouxe de volta a família que perdi. Obrigado por ter cuidado tão bem dessa casa e de mim.
- Foi um prazer. - Mary disse, e depois enxugando os olhos ela continuou:- Agora vamos entrar, pois preparei um almoço especial para vocês dois. Aposto que estão morrendo de fome, depois de horas dentro daquele trem.
- Eu nunca dispensaria uma refeição preparada por você, e eu já posso sentir o cheiro bom daqui. - Gilbert disse seguindo Mary até a cozinha, no que foi acompanhado por Anne, Sebastian e Shirley.
Logo, eles estavam sentado à mesa e provando uma excelente lasanha à bolonhesa, prato favorito de Gilbert e Sebastian, e enquanto Anne observava o sorriso luminoso no rosto de seu noivo, Anne pensava que era assim que imaginava sua vida no futuro, todos sentados juntos compartilhando uma boa refeição, rindo da piada um do outro, e principalmente, sentindo-se parte de uma família de verdade.
GILBERT
Estar em casa nunca foram tão especial para Gilbert quanto naquele momento, pois não estava ali para mais uma de suas visitas de férias, e sim para realizar o seu maior sonho que era tornar Anne sua esposa, e isso aconteceria no próximo sábado, com todos os seus amigos por testemunha, e no cenário mais perfeito que puderam escolher para abrilhantar mais ainda aquele dia.
Ele tentara acalmar Anne no trem, mas, não contara para ela que se sentia tão nervoso quanto ela, porém, tivera que fazer seu papel de noivo e deixá-la mais confortável a respeito da situação. Ele sempre pensara que a sua formatura da faculdade o deixaria ansioso, mas se enganara. O dia do seu casamento com Anne ganhava de longe de qualquer outro no qual ele vivera algo tão incrível assim, pois mal continha seus pensamentos em ordem, e tudo o que desejava era que John Blythe estivesse ali para abraçá-lo e dizer que tudo daria certo, que ele faria Anne feliz e seria um excelente pai para Rilla.
Apesar de toda sua coragem e animação da juventude, Gilbert tinha seus receios também. Por mais determinado que estivesse em dar uma vida confortável para os dois amores de sua vida, ele se perguntava se seria mesmo um médico tão bom quanto esperava ser? Ele saberia educar Rilla como seu pai o educara? Ele conseguiria dar a Anne tudo o que ela desejava e merecia? Eram perguntas comuns de um rapaz prestes a se casar, e que queria dar o melhor de si para que nunca faltasse nada às preciosidades de sua vida. No entanto, para Gilbert aquelas perguntas tinham um significado mais profundo, pois, por acreditar que tinha falhado com Anne no passado, não queria que acontecesse nada no futuro que a fizesse olhá-lo com outros olhos que não fossem de amor, e ele odiaria a si mesmo se a decepcionasse de alguma maneira de novo.
Sebastian bateu na porta e Gilbert deu permissão para que o amigo entrasse, e assim que o fez, Gilbert pôde sentir toda a alegria do amigo inundando o quarto. Era algo tão típico de Sebastian transformar o ambiente ao seu redor em algo extremamente animado, pois apesar da vida dura que tivera, ele carregava em si a alma de uma criança que nunca deixava que nada o abatesse ou perdesse a esperança. Mary dizia que quando ele se juntava a Shirley para brincar, não se sabia quem era o mais infantil dos dois, entretanto, Gilbert sabia que ela amava esse lado o amigo tanto quanto Gilbert.
- Oi, amigão. Mary me pediu para te perguntar se quer tomar café. Ela acabou de passar.
- Eu desço daqui a pouco. A Anne está com ela?
- Sim. Você sabe que quando elas se juntam rendem assunto para conversar o dia todo. - Sebastian disse observando Gilbert com atenção; - O que foi? Parece preocupado.
- Eu estava pensando no meu casamento no próximo sábado. - Gilbert disse tentando sorrir.
- Está arrependido? - Sebastian disse sério.
- É claro que não. Eu nunca me arrependeria de casar com a minha cenourinha.
- Eu estava brincado, Blythe. Eu sei que é apaixonado por ela desde que viajávamos no cargueiro, mas, toda vez que eu tocava no assunto, você ficava muito bravo, porém, nunca me enganou com aquela história de que "somos apenas amigos". Eu me lembro bem que toda vez que recebia uma carta dela, você ficava com aquele sorriso idiota no rosto, e nem dormia a noite. E quando voltamos para cá, eu te via com o mesmo sorriso cada vez que chegava da escola depois de tê-la visto ou conversado com ela. Essa garota sempre esteve em seu coração, Blythe. Só um cego não conseguiria ver o que estava escrito na sua testa. - Gilbert se lembrava bem dessa época, principalmente, quando fingia não sentir nada por Anne, e seu coração o desmentia completamente.
- Eu sei que neguei por muito tempo, mas é que eu tinha medo de estar nessa sozinho. Eu queria ter certeza de que ela também se sentia da mesma maneira que eu para poder me declarar.
- E pelo jeito conseguiu bem mais que esperava, não é? Quem imaginaria que aquele garoto marrento estaria se casando aos vinte anos, antes mesmo de se formar? Você dizia que não se casaria até chegar aos trinta anos porque queria se firmar na profissão primeiro., e agora tem até uma filha a caminho.
- Você sabe que vou me casar só porque é a Anne. Eu nunca teria me apaixonado desse jeito se não fosse por ela. Outras garotas nunca me interessaram assim. Mas., quando a conheci todas as minhas teorias sobre o amor caíram por terra. - Gilbert disse pensativo.
- Ou seja, tinha que ser ela, não é? - Sebastian deu-lhe uma tapinha no ombro e Gilbert respondeu:
- Tinha que ser ela.
- Então, por que parecia tão preocupado agora a pouco? - Gilbert coçou a nuca, olhou para o amigo e disse:
- Você acha que vou ser um bom marido e um bom pai?
- Blythe, não sei porque você está me perguntando isso. Você já é um bom marido, e se tem dúvidas quanto a ser um bom pai devia se observar com Shirley. A maneira como lida com ela é mil vezes melhor que a minha, mas, é normal ter essas dúvidas antes do casamento. Acho que essas duas perguntas são o que a maioria dos homens faz a si mesmos antes do grande dia. Você vai se sair bem, não se preocupe.
- Obrigado pela conversa, Bash. Eu queria que meu pai estivesse aqui. Assim como você ele sempre me dizia a coisa certa, mas, na falta dele, eu fico feliz que seja você a me dar esses conselhos. - Gilbert abraçou Sebastian e o amigo respondeu:
- Você é como um filho para mim, e que honra poder substituir mesmo que por poucas horas John Blythe. Pelo que me disseram, ele era um grande homem.
- Ele era sim, o melhor deles. - Gilbert disse com os olhos marejados ao pensar no pai, mas ao mesmo tempo feliz por ter um amigo tão bom quanto Sebastian. Além do mais, por alguma razão, ele sentia que seu pai estaria em seu casamento espiritualmente, e esse pensamento o confortava imensamente.
- Bem, agora vamos descer, ou a Mary vai querer vir até aqui nos dar bronca pela demora. Você conhece minha mulher. Ela sabe ser carne de pescoço quando quer. - Bash disse com uma gargalhada, e Gilbert desceu com ele até a cozinha.
- Por que demoraram tanto? - Mary perguntou com as mãos na cintura.
- Eu não te disse? - Bash disse para Gilbert que não pôde evitar de rir. - Calma, mulher. Eu estava tentando acalmar nosso amigo aqui que está nervoso com o casamento. - Gilbert sentiu o olhar de Anne sobre ele, e as milhões de perguntas que haviam ali, mas, preferiu ignorá-las no momento, pois falaria com ela depois.
- E conseguiu acalmá-lo? - Gilbert ouviu a voz dela enquanto os olhos dela buscavam resposta para suas perguntas, e ele apenas sorriu para ela, e apertou sua mão tentando fazê-la entender que não havia nada para se preocupar.
- Parece que sim. Pelo menos ele está mais sorridente agora. - Bash disse zombando do ar envergonhado de Gilbert.
- Muito bem, então vamos tomar o café que preparei, e depois vocês podem descansar um pouco, pois eu sei o quanto essas viagens de trem são cansativas, principalmente para uma grávida.- Mary disse acariciando os cabelos de Anne, e colocando uma xícara de café na sua frente, depois fez o mesmo com Gilbert e Bash, e por último serviu a si mesma. Havia uma broa de fubá caseira também, mas, Gilbert viu Anne recusar. Ela evitava coisas muito pesadas, pois sua digestão era lenta, e como havia comido lasanha no almoço daquele dia, sua noiva não comeria mais nada que pudesse fazê-la sentir desconforto em seu estômago. Ela era tão responsável com sua gravidez, e na maneira como cuidava para que Rilla viesse ao mundo saudável e bem. Sem pensar, ele a beijou no rosto, e Anne o olhou surpresa sem entender porque ele o fizera, mas, não perguntou nada. Ela apenas balançou a cabeça como se tentasse aceitar aquele gesto sem motivo como mais uma das peculiaridades de seu noivo.
Após o café, eles desfizeram as malas, e depois se sentaram na varanda. O sol estava alto e logo iria se pôr. Anne deitou sua cabeça no colo de Gilbert, e deixou que suas mãos tocassem o rosto dele com carinho, e logo perguntou:
- O que você estava conversando com Sebastian?
- Não devia se preocupar com isso, Anne. Não era nada demais. – Gilbert disse com seus dedos brincando com as ondas dos fios dela esparramadas por sua calça jeans.
- Ele disse que você estava nervoso. Não quer me contar por que? - ele viu os olhos azuis dela preocupados, e se perdeu na cor deles por um instante. Ele sempre sentia que havia um mar inteiro ali onde ele poderia navegar por horas. Era onde refugiava seu cansaço depois do trabalho, ou as incertezas de sua alma, porém, naquele instante, eles pediam por respostas, e ele as daria porque não queria que sua noiva imaginasse coisas que não tinham fundamentos, sabendo como a mente dela funcionava.
- Eu apenas me perguntava se serei um bom marido e um bom pai para Rilla. - Ele disse, e Anne lhe lançou um olhar surpreso, depois respirou fundo e disse:
- Será que não está arrependido?
- O que está me perguntando? - agora o surpreso ali era ele.
- Não sei. No outro dia quando perguntei se tinha certeza que queria se casar comigo agora, você me respondeu que estava totalmente seguro, então, será que não está sentindo o peso disso tudo afinal? Não pense que eu o culpo. Eu sei o quanto tudo isso pode ser imenso para um rapaz de vinte anos que ainda tem que se preocupar em se formar e com uma filha por nascer. Não quero que eu e Rilla sejamos um empecilho para que você realize seus sonhos.
- Anne, eu não sou apenas um rapaz. Eu sou seu noivo e pai de Rilla, e nunca vou me arrepender de casar com você e ajudá-la a criar nossa filha. Eu não estou me casando com você por um senso de dever, eu estou me casando porque eu te amo, e sou completamente apaixonado por nossa bebezinha. Você não sabe o que esse casamento significa para mim, e nem o homem que me tornei por sua causa. Essas duas perguntas que me fiz só estão relacionadas com minha capacidade de ser o marido que você precisa, e não por duvidar se quero formalizar nossa relação. E quanto a realizar os meus sonhos, você já fez isso quando aceitou ser minha esposa e me deu nossa filha. Eu não preciso de mais nada para ser feliz, pois essa é a família que quero ter, e não importa o que venha depois. Se eu tiver vocês, o resto não importa. Eu já te falei isso muitas vezes, por que ainda duvida? - ele perguntou acariciando a nuca dela com carinho.
- Eu não duvido, eu só fiquei preocupada quando Sebastian disse que você estava nervoso. - Ela disse deixando que sua mão descansasse no peito dele.
- E achou que eu queria fugir do casamento? - ele perguntou com um sorriso.
- Eu sei que não me traria aqui para desistir no último minuto, mas, dúvidas podem surgir, e eu não queria que se casasse comigo com perguntas em sua cabeça.
- Então, já que tocou no assunto, eu tenho três perguntas para você.
- Pode me perguntar o que quiser. - Ela disse em expectativa.
- Você se arrependeu de aceitar meu pedido de casamento?
- Claro que não. Casar-me com você é o que eu mais quero.
- Acha que vou ser um bom marido e um bom pai?
- Você já é as duas coisas, nem precisaria me perguntar. - Anne respondeu segurando na mão de Gilbert e levando-a ao próprio coração.
- Eu também acho que você já é a melhor esposa e melhor mãe do mundo. Uma última pergunta.
- Sim. - Anne disse mordendo o lábio inferior.
- Ainda quer se casar comigo?
- Sem dúvida nenhuma.
- Eu também quero me casar com você. Então, já que respondemos as perguntas um do outro será que podemos apenas curtir esse pôr do sol incrível?
-Claro, meu amor. Veremos todos que você quiser daqui para frente. - Anne respondeu, e Gilbert a atraiu para um beijo. Em seguida, ficaram assim, com os olhos perdidos no lindo espetáculo a sua frente, e desejando que todos os seus finais de tarde fossem daquela maneira em seu futuro ainda por vir.
GILBERT E ANNE
Nenhum dos dois esperava que a semana passasse com tanta rapidez, mas de repente, já era sexta-feira, véspera do casamento, e a ansiedade de ambos se igualava em nível e expectativas.
Naquela semana, eles tinham realizado as últimas atividades que ainda faltavam para fechar com chave de ouro aquela maratona que envolviam os noivos, e somente na quinta feira a noite puderam relaxar e curtir alguns momentos em família na fazenda dos Blythes. Na sexta-feira de manhã, ambos acordaram bem dispostos, e ainda mais ansiosos pelo dia seguinte quando seria a realização de seu sonho maior que uniria suas vidas para sempre.
Anne ensaiara várias vezes seu nome completo acrescentando Blythe no final, e se sentia uma tola por andar pelos cômodos da casa repetindo-o baixinho sem parar, receosa que alguém a pegasse no ato, e risse desse seu passatempo adquirido durante aquela semana. No entanto, por mais embaraçoso que pudesse ser, ela adorava o som de seu novo sobrenome junto aos demais, porque ser uma Blythe era o que vinha desejando desde que ela e Gilbert ficaram noivos, e embora ele já a chamasse assim a um bom tempo, não se comparava a sensação que estava tendo de pensar que no dia seguinte aquilo realmente seria real e não mais uma brincadeira carinhosa de seu noivo.
Se Gilbert a viu utilizando o novo nome como um hobby pessoal, ele não disse nada, mas, ela imaginava que sim, pois o pegara várias vezes perto da porta rindo baixinho , ela também não sabia se isso era por diversão de observá-la se comportar como uma boba, ou se gostava de ouvi-la utilizar seu sobrenome como se tivesse sido oficializado. O que fosse realmente não lhe importava, pois ela estava feliz demais para se ater a detalhes tão pequenos.
Assim, naquela sexta -feira especial, após o café da manhã, como o combinado, Gilbert levou Anne até Green Gables. Internamente, ele não estava muito satisfeito com isso, apesar de entender a necessidade dela de satisfazer o desejo de seus pais adotivos em vê-la saindo da casa onde fora criada nos últimos anos vestida de noiva para ir finalmente ao encontro de seu futuro marido, ele sabia que ia sentir a falta terrivelmente dela até a hora do casamento, pois não dormiam separados a bastante tempo, e mesmo que fosse apenas por uma noite, isso lhe parecia intolerável.
- Tem mesmo que fazer isso? - ele perguntou enquanto levava Anne em seu carro até a fazenda dos Cuthberts
- Eu pensei que já tivéssemos conversado sobre isso e combinado tudo. - Anne disse olhando-o com curiosidade.
- Eu sei, mas agora que pensei melhor sobre isso, a ideia não me parece mais tão boa.- ele não queria parecer possessivo ou carente demais, no entanto, era exatamente assim que já se sentia mesmo que ainda não estivessem longe um do outro.
- Por que mudou de ideia? Achei que concordasse com isso. - Anne esperava por uma explicação por aquele completamente subitamente contrário ao do dia anterior quando ele lhe dissera que entendia seus motivos, então, por que Gilbert parecia tão relutante agora?
- Eu não discordo, eu só não acho mais viável. - Ele estava constrangido, e se odiando por ter concordado com aquilo. Não queria ser insensível, mas também não podia ignorar como estava se sentindo. Por isso, tentou encontrar uma explicação que não deixasse Anne zangada com ele, ao mesmo tempo em que a faria ver a coerência de seu pensamento.
- Eu acho que Green Gables é muito longe da praia onde vamos nos casar, e você poderia chegar atrasada.
- Não sei qual o problema disso. Afinal, noivas sempre chegam atrasadas, então, eu não estaria quebrando nenhuma tradição. - Fora uma bola fora, e ele não contava que ela teria uma reposta na ponta da língua, mas, ele precisava continuar tentando.
- Até pode ser, mas, você tem que concordar que a fazenda Blythe é maior que Green Gables, e imagino que temos mais espaço para sua despedida de solteira que você me contou que suas amigas estão preparando.
- Acontece, meu amor, que apenas quatro amigas vão participar da minha despedida de solteira, então só a sala de Marilla ou meu antigo quarto já são suficientes .- Gilbert bufou, e Anne riu, depois apoiou seu queixo no ombro do rapaz e perguntou:- Diga-me a sua real razão para todos esses seus motivos ridículos de não querer que eu fique essa noite em Green Gables?- sem argumentos melhores, Gilbert se deu por vencido, e acabou dizendo toda a verdade, sentindo que seu rosto queimava de embaraço por confessar algo tão absurdo. Anne iria zombar dele, porém, sem muita saída, ele confessou:
- Não quero ficar longe de você.
- Amor, nós só vamos nos separar uma noite. Acho que pode aguentar até a hora do casamento. - Anne disse acariciando-lhe os cachos macios.
- Não vou conseguir dormir sem você e a Rilla. - Gilbert disse, lançando a Anne uma rápida olhada, porque estava dirigindo.
- Nós não vamos estar muito longe, você sabe disso. – Anne beijou-o no rosto,
- Faz tempo que não ficamos longe um do outro assim, e eu não quero passar minha última noite de solteiro sozinho.
- Pare de fazer manha, Gilbert. Vamos ter o resto da vida para dormirmos juntos. - Anne disse ralhando com ele com carinho.
- Isso quer dizer que não vai sentir saudades de mim esta noite? - ele perguntou, sentindo-se chateado por Anne não demonstrar nenhuma relutância em ficar longe dele.
- É claro que vou sentir sua falta, e a Rilla também. No entanto, eu acho que nós dois podemos sobreviver uma noite separados. – Gilbert não insistiu mais, embora ainda se sentisse um pouco contrariado. Contudo, ele sabia quando tinha perdido uma discussão com Anne, e não adiantaria retornar ao assunto, porque ela não cederia do que já tinha decidido.
Ao chegarem a Green Gables, ele desligou o carro e se virou para ela com seus olhos castanhos preocupados e perguntou:
- Vocês vão ficar bem? - Anne sabia que ele se referia a ela e a Rilla, e acho adorável aquela preocupação toda dele, como se não confiasse em mais ninguém para tomar conta das duas.
- Nós vamos ficar bem. E você? - Anne perguntou, ajeitando os cachos dele na testa.
- Vou morrer de saudades, mas, como você mesma disse vai ser só uma noite. - Anne balançou a cabeça diante do olhar melodramático que Gilbert lhe lançou.
- Tão exagerado, meu amor. Eu achei que era a rainha do drama, mas, você está ficando melhor nisso do que eu.
- Eu sou um pai de família agora. Tenho que me preocupar. - Ele a abraçou e Anne se agarrou no pescoço dele.- ela também ia sentir falta dele aquela noite, mais do que na verdade admitira, mas, Marilla e Matthew a estavam esperando, e não poderia decepcioná-los de jeito nenhum.
- Seus amigos devem estar chegando. Por que não se diverte com eles essa noite? Só me prometa que vai estar inteirinho para o nosso casamento amanhã. - Anne disse, pois conhecia bem os amigos de seu noivo e sabia por experiência que eles adoravam passar do ponto, principalmente Patrick que era o mais atiradinho.
- Eu vou estar naquele altar louco para torná-la minha Sra. Blythe. - Ele disse, puxando o rosto de Anne em sua direção, o qual ele acariciou com cuidado e depois colou seus lábios. A língua dele pediu passagem, e Anne deixou que ele a envolvesse naquele seu ritmo quente que despertava seus instintos mais primitivos, porém naquele instante, eles estavam em Green Gables, e não queria que Matthew ou Marilla os pegasse naquele beijo comprometedor, por isso o interrompeu, dizendo em seu ouvido:
- Espere até amanhã, amor.
- Vou tentar. Desculpe-me pela animação, mas, eu queria matar minha saudade de você antes mesmo de sentir a sua falta.
- Eu preciso entrar. Você me ajuda com as bagagens? - ela pediu, sentindo Gilbert beijar sua testa com carinho.
- Sim. Vamos lá. - Ele desceu do carro e em seguida ajudou Anne a fazer o mesmo. Logo, Gilbert foi até o porta malas e pegou a única mala que ela trouxera e mais o vestido de noiva protegido por uma capa escura, e caminhou com Anne até a porta de entrada da casa da fazenda. Eles bateram na porta e Marilla e Matthew apareceram ao mesmo tempo.
- Anne, estávamos esperando. - Marilla disse, beijando o rosto de Anne, e depois virou-se para Gilbert e o abraçou apertado:- Que bom te ver, filho.
- Oi, Srta. Cuthbert. Desculpe o atraso. - Gilbert respondeu, beijando Marilla no rosto.
- Não importa, querido. Que bom que chegaram.
- E essa barriga linda? Como está minha menininha? - Matthew perguntou, acariciando o ventre de Anne de leve, e ela respondeu sorrindo:
- Rilla está muito bem.
- Eu estou contente que você vai ficar conosco até amanhã. Eu quero tanto te ver de noiva, filha. - Anne beijou a mão de Matthew e respondeu:
- Eu vou ficar muito feliz quando você me levar ao altar amanhã. Você é o pai que nunca tive, Matthew.
- Ah, não me faça me emocionar, minha menina. - Matthew disse enxugando os olhos com manga do seu casaco.
- Matthew Cuthbert. Pare de chorar feito um bebê e ajude o Gilbert com a bagagem da Anne. - Marilla disse ralhando com Matthew que se apressou em fazer o que a irmã o tinha pedido. - Desculpem meu irmão. Às vezes ele age como um tolo.
- Não diga isso, Sra. Cuthbert. Matthew é um bom homem e assim como a senhora, ele criou Anne como uma filha. É natural que se emocione assim.- Gilbert disse com pena do pobre homem. Marilla às vezes era muito dura com ele, mas, no fundo o rapaz sabia que ela amava o irmão de verdade.
- Tem razão, Gilbert. Acordei ranzinza hoje. Vamos entrar e tomar um café. - Marilla disse sorrindo.
- Eu adoraria, mas, eu apenas vim trazer a Anne. Alguns amigos estão para chegar na fazenda, e eu preciso estar lá para recebê-los.
- Está bem, vou deixá-los sozinhos para se despedirem. Anne, a Diana disse que vem para cá mais tarde junto com outras amigas para comemorarem seu último dia de solteira.
- Obrigada, Marilla. – Anne agradeceu.
- Quando entrar, venha até a cozinha, querida. - Marilla disse e então entrou.
- Preciso ir, meu amor. A gente se vê amanhã na hora da cerimônia. – Gilbert disse, puxando Anne pela cintura.
- Vou ficar pensando em você. - Anne enlaçou Gilbert pelo pescoço e deixando seus rostos bem próximos.
- E eu em vocês. - Ele acariciou como o polegar os lábios de Anne, antes de deixar que seus lábios pousassem sobre os dela. O beijo dessa vez não foi tão intenso como o anterior, pois de onde estava Marilla podia vê-los pela janela, e o rapaz não queria deixar a pobre mulher escandalizada. Assim, que o beijo terminou, eles se separaram, e Gilbert disse antes de ir:
- Sonha comigo.
- Você também. - Anne respondeu. Gilbert mandou-lhe um último beijo pelo ar e partiu, deixando Anne suspirando até vê-lo sumir pelo portão da fazenda.
Logo que ela entrou, Anne foi para a cozinha tomar café com Marilla e Matthew, e depois foi até o seu antigo quarto descansar um pouco, pois queria estar bem quando suas amigas chegassem e no ponto em que estava sua gravidez. ela se cansava com facilidade e não conseguia ficar muitas horas em pé. Assim, a ruivinha dormiu por duas horas seguidas, até que Marilla veio chamá-la, pois suas já estavam em Green Gables. Anne pediu a boa senhora que dissesse as suas amiga que ela desceria em poucos minutos, e em seguida tomou um banho rápido, vestiu um vestido soltinho que tinha trazido com ela, e foi para o andar debaixo, tomando bastante cuidado com os degraus da escada.
Quando chegou na sala, Anne ficou feliz em ver que Diana, Josie, Sharon e Cole esperavam por ela, e quando a ruivinha os abraçou, a namorada de Jonas lhe disse:
- Anne, espero que não fique zangada comigo, mas, tem uma pessoa lá fora esperando sua permissão para entrar.
- Quem é? - A noiva de Gilbert perguntou curiosa.
- Acho melhor você ir até lá e ver por si mesma. - Sharon disse um tanto apreensiva, buscando o olhar de Cole que não sabia bem como Anne reagiria com aquela visita de última hora.
Anne caminhou até a porta e quando a abriu, ficou espantada por ver que Dora estava lá e a olhava meio sem jeito, deixando a ruivinha sem saber o que falar.
- Anne, eu sei que você não se simpatiza comigo, e não tiro sua razão, afinal eu fui bem desleal com você e o Gilbert, mas, eu vim até aqui porque não tive oportunidade de falar om você antes, e queria te dizer que me arrependo de tudo o que fiz para atrapalhar a relação de vocês. Eu não espero que me perdoe, apenas que aceite meu pedido de desculpas., porque Gilbert sempre foi meu melhor amigo e eu gostaria muito de ver o casamento de vocês. Se pudesse imaginar o quanto o Gilbert sonhou com isso. Ele me contou como vocês se conheceram e tudo o que aconteceu depois. Eu estou muito feliz que estejam finalmente se casando, e vão poder criar essa garotinha que vem aí juntos. Talvez eu não tenha o direito de te pedir isso, mas será que posso participar da cerimônia amanhã? E por favor, não fique brava com seus amigos, eu é que insisti em vir até aqui falar com você.
Anne olhou para Dora ainda se mantendo calada, pois realmente aquela visita a surpreendera, e pensando em tudo o que acabara de ouvir, ela tinha que concordar que aquela garota tinha agido muito mal no passado, e criara um atrito entre Anne e seu noivo que quase os separara, e justamente por isso, talvez ela merecesse seu desprezo. No entanto, apesar de tudo, Anne não tinha uma natureza rancorosa e embora soubesse que não tinha ainda perdoado Dora por toda tristeza que ela havia lhe causado, ela resolveu dar uma chance para a garota, pois ela parecia sinceramente arrependida, e Anne queria deixar as coisas ruins no passado e começar sua vida com Gilbert longe de qualquer mágoa ou tristeza. Por esta razão, ela se virou para Dora e disse:
- Dora, eu não vou dizer que te perdoei, pois para isso, eu ainda vou precisar de um certo tempo, e espero que você entenda, mas, isso não quer dizer que não podemos recomeçar. Você gostaria de entrar e participar de minha despedida de solteira? - Anne disse com um meio sorriso.
- Se você não se importar, eu gostaria sim. - Dora disse com o semblante iluminado.
- Então, venha comigo. - Anne disse, e no momento que apareceu com Dora, seus amigos a olharam com alívio, principalmente Sharon que a trouxera até ali. A namorada de Jonas se aproximou de Anne e falou:
- Espero que não esteja zangada.
- Não estou. Fiquei tranquila.
- Gilbert não sabe que ela veio com a gente. - Sharon disse preocupada.
- Não se preocupe. Eu conto para ele depois. - Anne disse tranquilizando a amiga.
E desta forma, a despedida de solteira de Anne começou com Diana anunciando que na verdade seria um chá de bebê, pois logo Rilla viria ao mundo, e elas não teriam outra oportunidade de compartilhar com Anne aquele momento único.
O primeiro presente foi sapatinhos vermelhos tricotados a mão, e logo Anne imaginou que fosse de Josie, pois a menina tinha grande habilidade com agulhas e novelos e lã.
- Obrigada, minha querida. São lindos. - Anne disse segurando os sapatinhos encantada.
- Eu escolhi o vermelho, pois sei que você odeia rosa. - Josie abraçou a ruivinha, e ela apenas sorriu.
O segundo presente foi um macacãozinho branco bordado na frente com o nome de Rilla, e Anne adivinhou que era de Cole. O rapaz lhe deu um beijo e disse:
- Ela vai ser linda como você.
O terceiro presente foi um kit inteiro de fraldas e roupinhas de bebê que adivinhou que era de Diana.
- Como mãe mais experiente, eu sei que tudo isso lhe vai ser muito útil desde o primeiro dia do nascimento de sua garotinha.
- Obrigada, Diana. Não sei como agradecer. - Anne disse quase chorando.
- Me agradeça sendo feliz. - Diana respondeu abraçando a amiga com carinho.
E o último presente sem sombra de dúvidas era de Sharon que consistia em um kit de mamadeira e chupetas de todas as cores e tamanhos.
- Como os cumprimentos de Jonas. Foi ele que me ajudou a escolher. - A garota disse rindo, e Anne a abraçou e beijou apertado. Foi então, que ela ouviu Dora dizer:
- Anne, eu também tenho um presente para Rilla. A Sharon me contou que seria um chá de bebê, então, eu me adiantei e comprei algo. Posso entregar?
- Claro. - Anne disse surpresa, vendo Dora sair um pouco e retornar com um carrinho de bebê que ela tinha escondido em um canto da varanda para que Anne não pudesse ver antes da hora.
No mesmo momento, Anne se encantou com os desenhos de várias abelhinhas no carrinho todo branco, e dentro dele, havia uma almofada azul e um chocalho da mesma cor. Anne se virou para Dora e disse:
- Muito obrigada. Eu adorei, e já quase posso ver minha filha deitada aí dentro e sendo apresentada para o mundo em um fim de tarde.
- Que bom que gostou. Fiquei receosa que não aceitasse. - Dora disse encabulada.
- Eu jamais recusaria um presente para minha filha. - Anne respondeu dando um abraço caloroso em Dora. – Obrigada por ter vindo.
- Eu é que te agradeço por me permitir estar aqui.
- Bem, agora que terminamos com os presentes. Que tal irmos ao que interessa? - Diana disse animada, e todas as suas amigas sabiam que ela falava da comida que cada uma havia trazido para o chá de bebê. Anne balançou a cabeça rindo ao pensar que a gula de Diana continuava a mesma
Foram horas de bastante animação e risadas, um tipo de descontração da qual Anne não participava a muito tempo. Era de todo esse carinho e amizade que ela mais sentia falta, e era ali que queria voltar a viver quando Gilbert finalmente se formasse. Em Nova Iorque, ela e Gilbert também tinham seus amigos, e não podia dizer que eles não estavam do seu lado sempre que precisassem, mas, em Avonlea, o que cultivavam ia além da nomenclatura de amigos, pois eles eram todos irmãos de coração e de almas.
A reunião terminou quase ao anoitecer, e todas as garotas combinaram de vir ajudá-la a se arrumar no dia seguinte para o seu casamento, inclusive Cole que ficou responsável pelo seu penteado. Anne quase não cabia em si de felicidade. Ela tinha tido uma tarde deliciosa junto com suas amigas, e esperava que pudesse repeti-la muito em breve.
Aquela noite, depois de tomar banho, jantar na companhia de Matthew e Marilla com quem conversou por muitas horas, Anne finalmente foi para seu quarto descansar, mas ela se sentia estranhamente inquieta. Rilla não parava de mexer, e ela sentia a falta de Gilbert como nunca. Se não fosse por seus pais adotivos, ela não teria se separado dele naquele dia, e agora sentia que passaria horas insones até que conseguisse finalmente fechar os olhos e dormir.
Ela se sentou em sua velha cadeira de balanço, e ficou se lembrando de suas noites em Green Gables quando ainda era uma menina cheia de sonhos, e sem querer seus olhos se encheram de lágrimas. Anne tinha ido em busca de seus objetivos em outra cidade, mas, seu coração ficara para trás, assim como sua saudade e suas doces alegrias.
Sua cerejeira se mexeu de leve, e o perfume de suas flores chegaram até Anne fazendo sorrir de orelha a orelha, ao mesmo tempo em que um jovem rapaz escalava sua janela, e pulava para dentro de seu quarto fazendo-a dizer espantada:
- Gilbert! O que faz aqui?
- Vim ver o meu amor.- ele respondeu se aproximando de Anne que logo pôde sentir o cheiro de maresia que vinha dele, assim como podia ver deliciada a pele de Gilbert queimada de sol, dando-lhe a certeza absoluta de que ele passara a tarde ao ar livre na praia. E assim, que ele tomou nos braços e a beijou, o gosto salgado dos lábios dele a intoxicaram em um minuto de contato, fazendo-a perceber o quanto estava sentindo falta daquele corpo másculo junto ao seu. Quando por fim se separaram, depois de terem matado a saudade tanto dos abraços quanto dos beijos, Anne perguntou:
- Como foi seu dia?
- Foi bastante divertido. Eu achei que Jonas tinha me preparado alguma coisa indecente para fazer, mas, ele, Carlos e Jonas levaram o Muddy e eu para um campeonato de surf na praia, e devo dizer que gostei muito. Eles me surpreenderam dessa vez. E como foi o seu dia? - ele perguntou roçando os lábios na testa dela:
- Eu me diverti também. Na verdade, eu tive um chá de bebê. Mal posso esperar para te mostrar tudo o que ganhei. - Ela se lembrou de Dora, mas, não queria falar com Gilbert sobre ela naquele momento, pois estar com ele era mais importante do que conversar sobre desafetos do passado.
- Depois você me mostra. Agora, tudo o que eu quero é acabar com a falta que estou sentindo de você naquela cama enorme da fazenda. – ele se sentou na mesma cadeira de balanço que Anne estivera antes, e a puxou para seu colo.- Se lembra quando eu vinha te ver depois da escola quando Marilla e Matthew já estavam dormindo?- ele perguntou, suas mãos deslizando pelas costas dela sobre o tecido fino da camisola.
- Sim. Eu morria de medo de Marilla pegar nós dois aqui. Tem saudades daquela época? - ela perguntou seus olhos encarando os de Gilbert.
- Muito, principalmente quando eu te beijava assim.- ele disse, descendo os lábios pelo pescoço de Anne, fazendo-a arfar.- Ou te tocava dessa maneira.- as mãos ele já estavam embaixo de sua camisola, e ele acariciava sua intimidade quente, fazendo Anne gemer por entre os beijos que ele lhe dava sem parar.
- Gil, nós não podemos...- ela protestou debilmente.
- Por que não? - ele parecia não querer parar, e Anne não se sentia confortável em fazerem amor ali com Marilla e Matthew dormindo no andar de baixo.
- Porque estamos na casa de Marilla e Matthew. - Ele mordiscou seu pescoço, e ela fechou os olhos, rezando para conseguir resistir aquela necessidade que sentia dele.
- Anne, você está grávida de quase seis meses. A essa altura eles sabem o que fazemos juntos em nosso apartamento em Nova Iorque, e não temos mais nada a esconder.- a camisola dela estava a um passo de ser tirada, e Anne enterrou suas mãos nas costas bronzeadas dele ao sentir os lábios de Gilbert tocando seus seios por cima do tecido. Ela tinha que fazê-lo parar antes que fizessem amor naquela cadeira de balanço.
- Amor, por favor. Se controle. Teremos a noite inteira amanhã. Eu não quero desrespeitar meus pais adotivos enquanto eles estão dormindo aqui. Eu sei que já nos amamos nesse quarto muitas vezes, mas, estávamos sozinhos, e hoje não estamos. - Gilbert a abraçou apertado e esperou que sua respiração voltasse ao normal. Não concordava com ela, mas, não ia contrariá-la. Se Anne não se sentia confortável em fazer amor com ele aquela noite, Gilbert não queria força-la.
- Eu queria te levar para casa comigo.
- Nós já conversamos sobre isso. - Anne disse acariciando-lhe as costas nuas.
- Eu sei. Acho que não devia ter vindo. - Ele disse beijando o rosto dela.
- É claro que sim. Rilla não parava de se mexer. Acho que queria te dizer boa noite. - Anne disse sorrindo, e Gilbert beijou-lhe a barriga suavemente e disse:
- Boa noite, meu amendoinzinho. O papai te ama. - Depois, e ele olhou para Anne e disse:- Eu amo você.
- Eu também amo você. - Anne disse dando-lhe um beijo apaixonado que fez o coração de ambos palpitar.
- Eu vou te deixar descansar, pois deve estar exausta. Ah, eu quase me esqueci de uma coisa. - Ele disse ao se levantar da cadeira com Anne.
- O que? - ela perguntou confusa, vendo Gilbert ir até o parapeito da janela e voltando com uma rosa vermelha.
- Eu nem vou te perguntar de onde roubou isso. - Ela disse pegando a rosa que ele lhe entregou e aspirando-lhe o perfume.
- Bem, Rachel vai sentir falta de uma rosa de seu jardim amanhã de manhã. - Ele disse com uma gargalhada.
- Eu sabia. - Anne disse acompanhando-o até a janela.
- Eu te vejo amanhã. - Gilbert disse
- Sim, na hora do casamento. - Ela respondeu.
- Não se atrase. - Ele disse, dando-lhe um selinho e começando a escalar a cerejeira de Anne até embaixo.
- Vou tentar. - Ela respondeu, vendo Gilbert pisar no chão correndo todo o gramado de Green Gables e acenar de longe, antes de sumir na escuridão, enquanto ela ficava na janela com um sorriso no rosto feito boba, sabendo que sonharia com seu príncipe a noite inteira.
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