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Capítulo 112- Por uma vida inteira a seu lado


Olá, pessoal. Este capítulo fala de muitas coisas que de alguma forma mexeram comigo enquanto eu o escrevia, mas, vou deixar que vocês me digam o que acharam e se de alguma forma, ele mexeu com vocês também. Vou revisá-lo quando puder. Obrigada por tudo. Rosana.

ANNE

Rosas. Anne abriu os olhos naquela manhã de sexta-feira sentindo o odor suave entrar por suas narinas, e trazer-lhe lindas lembranças do seu passado, porém não tão distante assim. Ela virou o rosto 'para o lado, e lá encontrou uma rosa vermelha perfeita com um bilhetinho na caligrafia desenhada e caprichada de seu noivo que dizia "Bom dia, minha cenourinha, eu te amo", G.

Ela pegou a rosa e a levou aos lábios onde depositou um beijo carinhoso. Gilbert vinha fazendo isso todas as manhãs naquela semana, e Anne sorriu ao pensar no quanto aquilo era romântico. Seu Mr. Darcy estava evoluindo para o perfeito papel de príncipe encantado, não que antes ele não fosse, porém, quando o conhecera e começaram a namorar, Gilbert era mais contido em suas demonstrações de afeto, e somente na intimidade de seu quarto era que ele deixava Anne ver o quão profundo ele poderia ser. No entanto, nos últimos tempos, principalmente naquela semana ,ele parecia mais predisposto a deixar que todos vissem o que havia embaixo de sua pele de estudante de medicina e provavelmente cético as coisas do amor. Gilbert se transformara por ela e para ela, e era incrivelmente gratificante ver que contribuíra imensamente para aquela metamorfose que tornara o amor deles em algo que ela nunca pensara ser possível.

Eles haviam passado a muito tempo da fase das descobertas, mas ainda assim, havia coisas que ela ia percebendo no seu dia a dia, e que antes, talvez por falta de tempo, ela deixara de olhar com mais cuidado. Seu noivo era uma mistura de milhares de detalhes, alguns perfeitos outros nem tanto, mas não deixava de ser empolgante o fato de que desvendar cada parte mais íntima de Gilbert Blythe se tonara sua prioridade durante cada minuto de seus dias, e ela nunca tivera tanto tempo para isso como agora.

Anne pensara que já tinha se diplomado sobre a personalidade de seu noivo, mas, descobrira que ainda conseguia se impressionar com certas atitudes que no passado ela nunca imaginara que ele fosse capaz de tomar. Ele tinha pavio curto, embora nunca tivesse entrado em uma briga se não fosse provocado, mas seu bom senso nunca funcionava se ele estivesse dominado pela raiva. Ele magoava sem pensar e atingia sem perceber com um só golpe quem estivesse em seu caminho nesses momentos, e Anne já sentira na própria pele esse tipo de situação. Contudo, ele era o primeiro a pedir desculpas quando deixava seu orgulho de lado e admitia que estava errado, e não media esforços para consertar o estrago que tinha feito em seu minuto de descontrole.

No entanto, a maneira como ele conduzira a situação com Roy Gardner contrastava bastante com o tipo de atitude que ele teria tomado, se o Gilbert de antigamente estivesse no comando de tudo, e pela raiva que Anne sabia que ele sentia do rapaz, não sem razão era verdade, ele provavelmente teria quebrado a cara de Roy e somente depois teria chamado a polícia, e esse tipo de ação mostrava claramente a ela que Gilbert tinha amadurecido mais do que ela pensara.

Anne não era amante da violência, e abominava esse tipo de comportamento. Não estava em seu sangue odiar ninguém, muito menos agredir fisicamente uma pessoa, mesmo que isso envolvesse diretamente seu bem-estar. Por causa de Roy, ela tinha ido parar em um hospital, sua filha correra o risco de talvez nunca ver a luz do dia, e se a tivesse perdido, Anne não queria pensar no que teria sido dela e de Gilbert. Ainda assim, ela consegui enxergar que Roy era um ser humano doente, perdido no sentido do que considerava ser amor, e por isso, acaba causando mal a quem se aproximasse dele, porque por trás de suas intenções, mesmo que fossem as melhores possíveis no início, sempre esconderiam uma necessidade de favorecer a si próprio a todo custo. Fora assim com ela, e Anne não era tola para acreditar que com outras pessoas tivesse sido diferente, pois fazia parte da natureza dele destruir ao invés de construir.

Não podia negar que ele fora um bom amigo quando ela e Gilbert ficaram separados. Roy agira corretamente com ela, lhe dera apoio sem nunca tomar certas liberdades que pela índole dele não seriam consideradas anormais, porém, Anne nunca de fato tinha confiado nele, então, não ficara de todo decepcionada ou surpresa por ele ter conduzido aquele assunto de seu amor mal resolvido por ela daquela maneira. Entretanto, entender como ele era não queria dizer que podia perdoá-lo por levá-la a uma situação de ter que encarar outro trauma a queima roupa. Não teria se recuperado nunca se tivesse perdido seu bebê pela segunda vez, e nem tinha ilusões de que ia querer continuar vivendo se tivesse saído daquele hospital com seu útero e alma vazios. Nem todo o amor de Gilbert teria conseguido esse milagre pela segunda vez, e ninguém, poderia julgá-la porque somente quem passava por algo assim poderia entender como um coração mutilado por desastres consecutivos não conseguia sobreviver à flagelação extrema, e ela já nascera tendo o seu coração magoado por dores que ela nunca deixara totalmente para trás.

Ela não era tão forte como todos diziam que era. Anne apenas se julgava teimosa demais para desistir das coisas que lhe importavam, e por isso seguia em frente quando tudo parecia desmoronar, porque se recusava a perder algo que de fato amasse. Fora assim com Gilbert em todas as situações em que lhe ofereceram perigo de não tê-lo mais em sua vida, e como ele lhe dissera no hospital, ela nunca o deixaria ir enquanto ela tivesse forças para lutar por ele, porém, não teria lutado por si mesma, se seu bebê não estivesse mais dentro dela, e isso era algo que confessara indiretamente para Gilbert, levando-o a um desespero que lhe partira o coração, e partir o coração dele era algo que lhe teria doído fazer por conta do imenso amor que sentia por ele e que nunca teria sentido por mais ninguém além dele.

Anne olhou para a rosa novamente e sentiu todos aqueles sentimentos fluírem através de si mesma. Gilbert não era perfeito e constatar isso não o diminuía diante dos seus olhos, pelo contrário, tornava mais palpável o seu sentimento por ele que o aceitava exatamente como era. Um ser humano composto de muitas qualidades e alguns defeitos que ele próprio era capaz de admitir, mas esses defeitos nunca a impediram de enxergar a alma nobre que ele possuía, mesmo quando queria escondê-la para não sofrer. E quando o conhecera e se apaixonara, Anne soubera de imediato que estava ali o que sempre procurara, não um príncipe de contos de fadas que a sua Cordélia interior um dia desejara, mas, sim alguém capaz de amá-la como era, sem artifícios, sem falsidade, sem uma base familiar, apenas ela por ela mesma, e ele lhe dera tudo, até mais do que pensava que merecia, e aquela rosa era apenas um símbolo de tudo o que sua vida fora ao lado dele e ainda seria dali para sempre, talvez não sem espinhos, mas completa e totalmente cheia de amor.

Anne olhou para o relógio na cabeceira de sua cama, e viu que marcava oito horas. Gilbert não estava mais na cama com ela, mas, podia ouvi-lo assoviando na cozinha. Isso também era novidade, pois além das poucas vezes em que ele tocara seu violão e cantara para ela, Gilbert nunca fora pessoa que expressasse seu estado de humor por meio de canções. Anne sempre sabia como ele se sentia pela maneira como a olhava e falava com ela, ou mesmo quando ficava em silêncio, pois seu rosto era bastante expressivo, porém, sentir que ele estava tão feliz a ponto de cantarolar de manhã não tinha preço. E ela sabia que essa alegria fora de seus padrões normais era porque em breve ele seria pai, e a paternidade lhe caía bem como uma luva.

Sentindo uma enorme vontade de se juntar a ele, Anne fez um esforço para se levantar. Faziam poucos dias que estava de repouso absoluto, e já se cansara daquela sua posição ociosa na qual dependia de Gilbert para tudo, e o único momento em que podia fazer algo sem que seu noivo estivesse lá para ajudar era na hora do banho. Não que ele não tivesse se oferecido para auxiliá-la nisso também, porém, Anne achou que era demais e que se permitisse que isso acontecesse, sua dignidade estaria em sério risco, pois cuidar de sua própria higiene pessoal era o mínimo que uma pessoa tinha direito, e agora ela entendia como as pessoas que ficavam inválidas na cama para o resto da vida se sentiam. No caso dela seria algo temporário, e era necessário para que sua filha não corresse mais risco nenhum, entretanto, a situação a aborrecia em demasia, e era mais um item a creditar na culpa de Roy Gardner pela sua atual condição.

Ao seu lembrar da última vez que o vira, Anne sentiu seu coração se apertar. Ela não pensara que veria Roy naquele estado, e se sentia culpada com isso, mesmo não sendo ela a causadora daquela situação. Por ser um rapaz vaidoso, Anne não pensara que ele cairia tão baixo e se submeteria a ser visto por todos que o conheciam daquela maneira. A ruivinha nunca acreditara no amor que ele dizia sentir por ela, pois sempre vira aquilo como uma obsessão por ela nunca ter lhe cedido a atenção que ele lhe exigia, porém, vê-lo bêbado e parecendo sem rumo cortara-lhe o coração, e apesar tudo o que ele fizera com ela, Anne não conseguia odiá-lo, pois onde todos viam maldade, ela enxergava alguém sozinho, carente e ansioso por atenção.

Agora a questão era, iria falar com Roy? Acataria o pedido do pai dele que em nenhum momento ocultara a culpa do filho no incidente que levara Anne a passar as horas mais difíceis de sua vida, mas que implorava por sua compaixão? Ela não tinha certeza do que fazer, e ainda pendia entre o sim e o não, entretanto, ela tinha que se decidir logo, pois prazo que tinha estava se esgotando, e tinha que pensar bem no que iria fazer para não se arrepender depois.

Ela caminhou bem devagar até a cozinha que não era a uma distância muito longe do quarto, mas, que na velocidade em que se movia a fez perder pelo menos dez minutos. Quando chegou na porta, Anne ficou parada um instante observando Gilbert se mover pela cozinha como se ali fosse seu habitat natural. Quem o olhasse naquele instante preparando o café da manhã com tanta desenvoltura não imaginaria que aquele rapaz conhecia mais de laboratório do que de uma receita caseira de pão, mas, ele desempenhava seu papel muito bem como pai de família naquele instante e futuro esposo de Anne Shirley Cuthbert. Ele ainda ficou assoviando a música que Anne não conhecia, mas que tinha uma sonoridade muito boa por alguns segundos, até que percebeu a presença dela parada na porta e disse:

- Amor, por que não em avisou que já tinha acordado? Não pode sair da cama desse jeito. - Ele ficava irritado quando Anne não seguia as regras, ela podia sentir pelo seu tom, embora, ele nunca levantasse a voz para ela. Anne podia entender sua preocupação, assim como também esperava que ele entendesse sua necessidade de ter um pouco de independência.

- Estou cansada de ser carregada de um lado para outro como uma boneca sem vontade própria. E nem tive que caminhar tanto do quarto até aqui, fiz todo o percurso o mais devagar possível. - Ela respondeu quase bufando, o que fez Gilbert rir e dizer:

- Você é ainda a mesma pimentinha que conheci anos atrás. Talvez eu devesse mudar seu apelido de cenourinha para pimentinha. - Ele a pegou no colo e a sentou em uma das cadeiras da mesa da cozinha.

- Não sei se gosto disso. - Ela disse com os braços em volta do pescoço de Gilbert que tinha puxado uma cadeira perto da dela.

- Por que não? - ele perguntou com o rosto próximo do dela.

- Porque acho que me acostumei a te ouvir me chamando de cenourinha, e qualquer outro apelido me parece totalmente inadequado. - Anne respondeu olhando-o nos olhos.

- Na minha opinião, pimentinha também é um apelido adequado para você.

- E posso saber por que? - ela perguntou intrigada pelas palavras dele.

- Porque você é cheia de vida, vibrante e muito quente. - Ele disse com a voz mais carregada, e Anne só teve tempo de ver aqueles olhos castanhos mirando os seus antes de Gilbert puxá-la em sua direção e beijá-la.

Ela deixou que ele conduzisse o beijo como quisesse, e apenas o seguiu, sedenta por aquilo e por tudo que sentia falta a uma semana. Gilbert aprofundou o beijo tomando conta de toda a sua boca, enquanto ela apenas suspirava sabendo internamente que não deviam estar fazendo isso, mas, não conseguia parar. Ela enterrou as mãos nos cabelos da nuca de Gilbert, puxando-o para mais perto, sentindo o beijo ficar ainda mais intenso, porém, quando sentiu as mãos de Gilbert subindo até seus seios, Anne encontrou forças para se separar dele e encostar sua testa na dele, enquanto esperava seu coração voltar a bater normalmente.

- Desculpe-me.- Gilbert disse depois de alguns segundos que estavam dessa maneira.

- Eu também queria, então, não se desculpe.

- Estou com saudades. - Gilbert disse baixinho.

- Eu também, mas, vamos ter que esperar mais um pouco. - Ela disse tocando o rosto de Gilbert.

- Eu sei. Desculpe-me se pareci muito carente e necessitado. - Ele disse sorrindo daquele jeito especial que fazia qualquer dia ruim ficar melhor.

- E você não está carente e necessitado? - Anne disse em tom de brincadeira.

- Você sabe que sim. – Ele disse suspirando.

- Isso está sendo difícil para nós dois, mas eu acho que a gente dá conta de esperar mais alguns dias. Sinto muito que tenha que ser assim.

- Tudo bem. Já fizemos isso antes, e vamos no sair bem como das outras vezes - Anne o abraçou e ficaram assim ouvindo a respiração um do outro, enquanto seus pensamentos também se misturavam. Ela e Gilbert sempre tiveram um relacionamento ardente desde o princípio, e podia entender a frustração dele que se assemelhava a sua. A questão ali não era sobre sexo, e nem a necessidade que tinham de satisfazer seus desejos carnais. Era a maneira como expressavam seu amor através do toque, e qualquer carícia deixava de ser somente física quando estavam juntos dessa forma. Havia mais no jeito que as mãos dele deslizavam por sua pele, ou quando seus olhos se encontravam naquele instante em que se tornavam um. Era disso que sentiam falta e não do ato em si, pois entre eles fazer amor tinha um significado diferente do que poderia parecer a outras pessoas, fazer amor era pertencer a alguém no sentido amplo da palavra, não ser submisso um ao outro, ou ter o direito de posse sobre alguém, mas, sim se entregar de corpo e alma ao amor de sua vida, e saber que seria assim a cada dia que vivessem juntos.

- Você encontrou a rosa que deixei em seu travesseiro. - Ele disse chamando sua atenção para o fato de que ainda estava segurando a rosa entre seus dedos.

- Adoro isso, e você não se esqueceu, não é? - ela disse beijando-o de leve.

- Eu nunca esqueço nada que tem relação com você desde que te conheci.- ele pegou a rosa da mão dela, quebrou a haste e a colocou atrás da orelha de Anne.- Assim ficou bem melhor.- eles se olharam por alguns instantes e então Gilbert perguntou:

- O que é essa ruguinha na sua testa?

- Não é nada importante. – Ela disse surpresa mais uma vez pela sensibilidade dele em sempre perceber todas as suas perturbações.

- Quando me diz que não é importante é porque realmente te importa. Vamos, me diga o que está te incomodando.

- É somente uma decisão que tenho que tomar. - Gilbert ergueu uma sobrancelha, e Anne viu sua expressão alegre mudar para apreensiva.

- Não vai me dizer que é sobre o que estou pensando?

- Gilbert, por favor, não fique bravo.

- Anne, tem ideia do que aquele cara fez com você, com a gente? Eu não acredito que está considerando a possibilidade de falar com Roy Gardner. Só de falar esse nome me dá vontade de gritar. - Gilbert disse um tanto alterado, e Anne lamentou ter começado aquele assunto, eles estavam em um clima tão bom, e fora estragado pelo seu pouco tato em saber o momento certo de falar sobre ele.

- Eu não disse que vou, eu disse que estou pensando no assunto. - Ela tentou remediar.

- Eu sei bem que quando está pensando é porque já se decidiu.

- Isso não é verdade. - Ela protestou.

- Como se eu não a conhecesse bem. Na minha concepção, esse cara não merece nem meia consideração sua, mas parece que você pensa diferente, o que me faz imaginar se ele não tem um significado maior para você do que você me revelou.- Anne não acreditou no que ouviu. Gilbert não podia estar dizendo o que ela imaginava, por isso, para não achar que estava ficando louca, ela perguntou:

- O que quer dizer com isso?

- Você me entendeu. - Ele disse, se levantando da mesa e servindo o café que preparara para os dois.

- Está maluco. Eu não sinto nada por Roy, apenas acho que não custa nada atender um pedido do pai dele. Eu sei o que ele fez, mas, acho que merece a chance de se desculpar. - Anne ouviu Gilbert bufar e esperou pelo que seu noivo diria, e as palavras que chegaram até ela vieram cheias de indignação.

- Por que tem que ser tão boa, Anne? Por que tem que perdoar todo mundo que te magoa com essa facilidade toda? Aposto que se fosse o contrário, você não seria perdoada com a mesma facilidade.

- Está falando sobre Roy Gardner ou sobre si mesmo? – Ela se arrependeu no mesmo instante em que disse isso, e quando viu o olhar de dor que Gilbert lhe lançou ela tentou se desculpar dizendo:

- Perdão, Gilbert, eu não quis te fazer lembrar da última vez que brigamos.

- Pois eu acho que foi exatamente o que quis fazer. - Ele disse seco tomando seu café sem açúcar.

- Não é verdade. Você me provocou e eu revidei, mas, por favor, não vamos discutir por isso.

- Acho que é tarde demais para isso, não acha? Como sempre Roy Gardner conseguiu o que queria.

- Gilbert...- ela tentou conciliar, mas, ele a cortou no mesmo momento.

- Tome o seu café, Anne. Você não pode ficar mais de três horas sem se alimentar.

Ela abriu a boca para argumentar, mas a fechou novamente quando percebeu que perderia o seu tempo. A expressão irredutível de Gilbert a alertou para não tentar dizer mais nada, pois o dia já havia sido arruinado por conta da teimosia de ambos. Infeliz, ela tomou seu café completamente sem vontade, e esse sentimento perdurou pelo resto do dia.

GILBERT

Gilbert olhou para Anne lendo no sofá da sala, e praguejou baixinho por ser a causa de sua expressão séria. Ele sabia ser um idiota completo quando queria, e a magoara de novo. Contudo não conseguia pedir desculpas, não quando ainda estava bravo com ela, irritado por ela ser tão boa que não percebia o que sua bondade fazia consigo mesma.

Roy Gardner era um babaca da pior espécie, e lá estava ela preocupada com seu estado emocional. Ele não merecia o perdão dela, não merecia uma lágrima sequer, mas, ela estava disposta a dar-lhe o benefício da palavra, e mesmo que não tivesse confirmado isso para Gilbert, ele sabia que ela estava pensando nisso. Ele fora duro com ela, mas, ela também não deixara barato ao lembrá-lo de sua estupidez na última vez que haviam se separado, e pelo jeito ela não tinha esquecido disso, pois não perdera a oportunidade de jogar-lhe isso na cara.

Ele olhou para ela de novo, e dessa vez Anne jogou os cabelos de lado, deixando seu pescoço a mostra, justamente como fazia quando estavam juntos, e ele tinha a permissão dela para beijá-la exatamente ali. Gilbert fechou os olhos tentando escapar daquela visão, sentindo todo o desejo de dias acumulado ferver em seu sangue. Ele sequer podia tocá-la como queria, pois sua condição frágil o impedia, e mais uma vez ele odiou Roy Gardner por provocar toda aquela situação. Uma raiva insana o fez apertar o copo que segurava com força, e ele acabou quebrando-o em sua mão, exatamente como daquela vez no restaurante e por causa da mesma pessoa, Ele viu o olhar de Anne sobre ele quando o barulho de vidro quebrado chegou até ela, mas, apesar de sua expressão preocupada, ela não disse nada e voltou a atenção para o livro que estava segurando.

Ela também estava brava com ele, Gilbert podia sentir pelo seu olhar, mas, enquanto, ele não conseguisse se livrar da sensação de que ela estava dando importância demais a alguém que não valia nada, ele não podia ir até ela e dizer que sentia muito por tê-la deixado chateada daquela forma. Não seria sincero e nem verdadeiro, e ele jamais mentiria para Anne apenas para ficarem bem, porque ele sabia que na primeira discordância que tivessem sobre algo, eles brigariam de novo por um motivo que já os saturara demais no passado, mais que ainda estava entre eles bem mal resolvido. Se ele pudesse teria apagado aquela manhã de sua semana, mas, eles disseram o que estavam sentindo no momento, e como Anne lhe falara uma vez, as palavras uma vez ditas não poderiam ser apagadas , e teriam que conviver mais uma vez com o peso delas até que pudessem conversar sobre aquilo novamente sem mágoas.

Ela se deitou nas almofadas parecendo cansada, mas, em nenhum momento ela lhe pediu que lhe fizesse companhia, e Gilbert se sentiu deixado de fora como punição por ter sido um insensível com seus sentimentos em relação ao crápula cujo nome, ele se recusava a pronunciar. Será que ela não entendia que ele agia assim porque queria protegê-la? Talvez ele exagerasse, ou melhor, ele exagerava na maioria das vezes, ele admitiu com um sorrisinho para si mesmo, mas não daquela vez. Roy Gardner era encrenca, uma bomba relógio que dia destruir quem se aproximasse dele. Gilbert não se admirava de o rapaz desejar sua noiva para si, porque Anne além de linda brilhava como um cristal bruto fora do alcance dele. Gilbert lutara por ela por tanto tempo, e não deixaria que aquele imbecil a afastasse dele com seu arrependimento falso.

Ele não engolia aquela história de que ele queria pedir perdão a Anne. Ele fizera aquela estupidez com ela, e achava que dizer "sinto muito' apagava qualquer culpa, mas, a verdade era que não apagava, e ele tinha muita sorte por Anne não ter perdido o bebê, porque se isso tivesse acontecido, Roy iria pagar com sangue e suor por aquele seu momento de insanidade infeliz. Gilbert se encarregaria disso, e o faria sentir na própria pele o sofrimento e dor que Anne quase sentira outra vez.

O jovem estudante pensou no dia em que passara com ela no hospital e estremeceu. A angustia que vira ali o quebrara ao meio, assim como as palavras dela dizendo que não queria mais viver nem mesmo em nome do amor que sentiam um pelo outro o fizera perceber que não existiria um mundo para ele sem Anne. De que adiantaria continuar se ela não estivesse com ele? Ele nunca pensara que chegaria o dia em que ouviria algo assim vindo de sua noiva, logo ela que sempre amara explorar o mundo com seus incríveis olhos azuis, e ir até onde sua curiosidade a levasse, pois seu espírito de aventura era inesgotável, ou assim ele pensara até ver sua luz interior apagada por conta de uma pessoa vil que ousara deixá-la infeliz, a mesma pessoa que ela queria visitar, a mesma pessoa que quase destruíra a felicidade de ambos, a mesma pessoa que a fizera ir parar naquele hospital em risco de perder a única coisa que a fizera feliz em meses.

Gilbert cerrou os punhos, pois a raiva o pegara outra vez de um jeito que fazia sua garganta se apertar e seus olhos arderem. Ele fez um esforço para fazer aquele sentimento desaparecer antes que Anne o visse assim, e após respirar fundo várias vezes, ele conseguiu se acalmar o suficiente para ir até onde ela estava e ver se ela estava bem. Anne tinha os olhos fechados, mas, Gilbert pôde ver que o rosto dela estava úmido, e isso queria dizer que ela andara chorando naquele espaço de tempo em que ele estivera xingando Roy Gardner e a si mesmo mentalmente, e ele se odiou por isso.

Detestava ver Anne chorando por algo que ele tivesse feito ou dito, porque isso o fazia se sentir um canalha, idiota e insensível. Ele a amava tanto que só de pensar que a fizera sofrer de graça mais uma vez o deixava tão mal quanto ela. Ele vinha tentando fazer tudo certo, mas acabava errando na mesma medida, então, por que não se controlara antes de dizer o que dissera para ela? O problema ali era que ele não a merecia, por mais que a amasse, ele não merecia a maneira como ela o olhava, cuidava dele e lhe dava amor. Ele queria entender porque agia tão impensadamente para depois se arrepender e não conseguir dizer o que estava sentindo, porque ele nunca foi tão bom com as palavras quanto Anne. Ele metia os pés pelas mãos no momento em que ela estava psicologicamente frágil, e se fosse perdoado por isso seria um milagre.

Ele tocou de leve o braço dela, e Anne abriu os olhos fitando-o com a mágoa brilhando naquele oceano azul. Gilbert ia dizer que sentia muito quando ela disse primeiro:

- Poderia me levar para o quarto? Eu quero descansar um pouco.

- Não quer almoçar primeiro? Como eu disse hoje de manhã, você não pode pular refeições, Anne.

- Eu como depois, eu só quero ficar um pouco sozinha. - A voz seca dela o fez entender que sozinha queria dizer longe dele, e por isso, não insistiu mais. Ele a pegou no colo, sentindo-se mortalmente ferido porque ela sequer olhara em seu rosto, e quando ela a o ignorava daquele jeito era como se ele chegasse ao fundo do mar e não conseguisse voltar a superfície, e era lá que estava naquele momento quase se afogando.

Com cuidado, ele a colocou na cama, acariciou seus cabelos de leve, mas, ela se encolheu na cama como se evitasse seu toque. Gilbert fingiu não notar, assim como fingiu que seu coração não sangrou ao vê-la o ignorando daquele jeito. Ele tinha errado, mas, ela não podia lhe dar um desconto? Será que tinha que tratá-lo com toda aquela frieza, não lhe dando espaço para chegar perto e cuidar dela como desejava? Com grande esforço, ele engoliu o bolo que se formou em sua garganta, e disse da maneira mais suave que conseguiu:

- Se precisar de algo, é só me chamar. - Ela assentiu com a cabeça, e Gilbert saiu deixando-a sozinha como ela lhe pedira.

Uma vez sem a companhia de Anne, Gilbert pensou que surtaria, ela não o queria por perto, e tudo o que queria era ficar o mais próximo que podia dela. Ele queria pedir desculpas, mas, ela o afastara, e assim, ele passou a hora seguinte tentando se concentrar em um livro que começara a ler, mas, seus pensamentos não abandonavam sua ruivinha que estava isolada no quarto ao lado. Assim, ele se rendeu a sua carência dela e foi até o quarto tentar falar com ela, mas, para sua decepção ela estava dormindo, deste modo, ele resolveu sair um pouco do apartamento, pois estava se sentindo sufocado.

Ele saiu para a rua sentindo-se a pior pessoa do mundo, e a mais solitária também. Era o inferno estar apaixonado por alguém de quem se precisava desesperadamente, e cuja metade lhe fazia falta como o próprio ar. Ali estava ele, em toda a sua arrogância, juventude e talento para ser o que nascera para fazer, e sentindo completamente perdido sem o amor de sua vida. Ele simplesmente odiava quando ele e Anne brigavam, porque por mais que ela chorasse e sofresse, era ele que se sentia miserável sem ela.

Seu infortúnio o levara até o apartamento de Jonas, e o amigo o olhou espantado, pois não esperava vê-lo ali àquela hora, e logo que permitiu que ele entrasse perguntou:

- O que houve, Gilbert? Você não me parece nada bem.

- Desculpe-me vir sem avisar, mas, é que eu não tinha mais nenhum lugar para ir.

- Aconteceu alguma coisa com a Anne? - ele negou com a cabeça, e depois disse:

- A gente brigou, e eu resolvi dar uma volta para aliviar a cabeça.

- Mas, por que brigaram, Gilbert? Vocês se amam tanto. - Jonas disse admirado.

- É justamente por amá-la tanto que às vezes deixo esse homem das cavernas sair de dentro de mim, e a magoo quando ela mais precisa de mim. - Ele disse desolado.

- O que foi que fez dessa vez? - Jonas esperou pacientemente que ele lhe contasse.

- Eu não fiz nada, Roy Gardner fez. - Ele disse com raiva.

- Como assim?

- O pai dele apareceu lá em casa e pediu para Anne ir visitá-lo, porque ele vai para uma clínica tratar de sua bipolaridade, ou seja, lá qual é o problema dele, e eu não acho que ela deva ir, mas, você conhece a Anne. Ela está cogitando a possibilidade de ir vê-lo.

- E por isso discutiram. - Jonas concluiu.

- Sim. Eu fui um estúpido, e ela não ficou atrás. Dissemos coisas que não devíamos, e agora ela mal olha na minha cara. - Ele disse tristemente.

- Gilbert, se ela quer ir, por que não a apoia? Eu entendo o seu ponto de vista e como se sente, mas, já cogitou a possiblidade de levar em conta os sentimentos dela a respeito de tudo isso? Talvez ela precise encarrar Roy Gardner de frente para esquecer tudo o que aconteceu, e seguir em frente.

- Eu não acho que ele mereça o perdão dela. - Gilbert disse teimosamente.

- Não cabe a você decidir isso. Se ela quiser perdoá-lo, é um direito que ela tem. Não importa como você vê toda essa situação se Anne não pensa da mesma maneira. Pare de querer protegê-la de tudo, de querer impedir que ela sofra ou se machuque, pois você não tem esse poder. Aceite-a como ela é, ame-a como ela é e merece. - Jonas aconselhou.

- Eu a amo. Você sabe. Desde que a conheci eu não sei o que é amar ou querer outra pessoa. Talvez seja esse o meu erro, amor em demasia.

- Não, o seu problema é ciúmes em demasia, porque é disso do que se trata, não é?

- Talvez. - Ele disse envergonhado.

- Eu te conheço, Gilbert, e eu sei que está assim porque pensa que Anne se importa mais com esse cara do que imagina. Ela te ama, Gilbert, tanto que você nunca vai saber. Eu vi o quanto ela sofreu quando você estava em cirurgia, pare de ser um tolo, e aceite o amor dela de uma vez. - Jonas disse com um sorriso.

- Acho que não a mereço.

- Merece sim, ambos merecem um ao outro, porque se amam de verdade. Vocês são meu casal modelo. Não estraga isso, porque eu nunca vou te perdoar. - Jonas disse cheio de humor.

-Quando foi que se tornou tão sábio assim? - Gilbert disse também sorrindo.

- Depois que comecei a conviver com um cara extraordinário que me fez ver com outros olhos o relacionamento entre duas pessoas. Eu não acreditava no amor verdadeiro até ver a maneira como você e Anne se amam.

- Obrigado por suas palavras. - Gilbert disse meio encabulado. - Agora preciso encontrar um jeito de fazê-la me perdoar pela minha estupidez.

- A surpreenda e terá o perdão dela quando menos esperar.

Gilbert deixou o dormitório de Jonas se sentindo outra pessoa. Chegara lá completamente quebrado, e saía sentindo que poderia reverter aquela situação da melhor forma possível. Jonas dissera que ele deveria surpreender Anne, e era exatamente isso o que faria. Sorrindo para si mesmo, Gilbert sentiu pela primeira vez desde que tinha deixado Anne sozinha no apartamento que tudo ficaria bem mais uma vez.

ANNE E GILBERT

Antes de pegar no sono naquela tarde Anne pensara muito no que havia acontecido entre ela e Gilbert , e se sentiu tão triste por ele não perceber que sua única preocupação era que ficassem bem, e para ficarem bem, ela precisava superar o que Roy lhe fizera, e isso envolvia vê-lo pessoalmente. Ela não esperava que ele compreendesse, mas que ao menos a apoiasse para que ela enfim eliminasse de vez aquele assunto inacabado por assim dizer. Porém, Gilbert se zangara e ainda a acusara de estar se preocupando com Roy mais do que devia, e para tornar tudo ainda pior, e por se sentir injustiçada, ela o fizera se recordar da briga que tiveram meses atrás quando o incidente com Dora ocorrera, e ele não a perdoara de pronto, fazendo-a amargar sua desconfiança por quase dois meses.

Não fora essa sua intenção, mas, ele entendera assim, e por fim ficaram mal um com o outro quando deviam estar mais unidos do que nunca por conta da bebezinha em seu ventre. Brigar com ele a deixava arrasada, magoá-lo a fazia ter vontade de arrancar os próprios cabelos, ignorá-lo era ainda pior, pois sentia que tudo perdia o sentido se ele não estivesse com ela, mas, ao mesmo tempo não sabia agir diferente, porque o amava tanto que qualquer coisa que dissesse poderia piorar a situação toda. Por isso ficara calada, por isso, dissera a ele que preferia focar sozinha, e por isso, chorara um rio de lágrimas quando ele saiu do quarto e a deixou lá sem sequer olhá-la direito.

Ambos eram orgulhosos, e ela sabia que esse era o pior defeito dos dois, mas, se Gilbert não amaciava o passo, por que ela deveria fazê-lo? Se ele não admitia que tinha errado, por que ela tinha que fazer isso primeiro? Da outra vez, ela engolira todos os sapos de uma só vez e procurara por ele, passando por cima de todos os seus princípios apenas para tê-lo de volta, coisa que nunca faria por mais ninguém, mas não tornaria a se humilhar se ele não dissesse que fora um ciúme bobo de Roy Gardner que o fizera falar com ela de maneira mais dura. E o pior de tudo era que já sentia tanta falta dele que seu coração não parava de doer, e essa era a pena que tinha que pagar por amá-lo com cada músculo de seu corpo, e chorar por ele não era mais novidade, pois quantas vezes fizera isso, mesmo prometendo que não o faria da próxima vez. Não queria sentir como se um punhal atravessasse o seu peito só porque ele sequer lhe dera um beijo antes de sair do quarto, contudo, era inevitável que isso acontecesse , porque a ausência de Gilbert em sua vida fosse por qualquer motivo a faria sentir que seu coração tinha sido levado com ele no processo.

De tanto chorar, Anne adormeceu, e quando acordou mais tarde, ela se espantou pelo quarto estar completamente escuro, e somente a luz do abajur foi mantida acesa por Gilbert que estava sentado ao seu lado na cama com uma bandeja de comida a sua espera, e assim que a viu desperta ele disse:

- Você não almoçou, então queria me certificar de que também não pularia o jantar.

- Obrigada. - Ela disse sem saber o que pensar daquele gesto. Ele não tentou se aproximar ou abraçá-la como normalmente faria, contudo, ele ficou observando-a comer até a última colherada, e Anne decidiu que isso era o suficiente para ela pelo menos por aquele dia.

- Eu andei pensando, e acho que se quer falar com Roy Gardner, deveria fazê-lo.- ela olhou para o rosto de Gilbert espantada com suas palavras, e tudo o que viu na expressão dele foi uma sinceridade explicita. Ela não sabia o que o tinha feito mudar de ideia, contudo, ela sentia-se melhor por isso, porque não queria fazer uma coisa contrária ao que ele desejava, e não queria sentir que ao fazer algo que Gilbert claramente reprovava a fazia perder um pouco dele pelo caminho, porque dele ela sempre ia querer tudo até a última gota.

- Se quiser ir amanhã até lá eu te levo. - Ele disse sem esperar que ela reagisse da primeira vez, e Anne respondeu:

- Seria ótimo. - Ela não disse mais nada porque não sabia o que mais poderia falar.

- Sendo assim, saímos amanhã sendo daqui e vamos visitá-lo, depois podemos voltar para casa e aí você descansa e se livra de toda essa tensão. - Ele disse com um sorriso leve e Anne concordou.

Naquela noite eles não dormiram abraçados, ou sequer se falaram, mas pelo menos estavam próximos e juntos. Não foi nem de longe um daqueles momentos em que partilhavam seus pensamentos, medos ou planos, porque Anne ainda podia sentir que uma certa mágoa no ar ainda existia, mas, ele estava ali com ela e era tudo o que importava. Teria sido horrível se ele tivesse decidido que dormiria no quarto de hóspedes, pois aí sim, ela teria se sentido abandonada na enorme cama de casal do dois.

No dia seguinte, como Gilbert prometera, ele a levara até a casa de Roy Gardner, que não era exatamente uma casa bem localizada, mas, sim uma mansão que ocupava quase a rua toda de onde morava. Anne ficou espantada pelo tamanho, e pensou com seu coração cheio de compaixão, como uma casa imensa como aquela não podia haver amor suficiente para fazer com que Roy pensasse que precisava buscar esse sentimento em outro lugar de maneira completamente errada.

Eles foram recebidos pelo pai de Roy que os atendeu a porta com bastante simpatia, oferecendo-lhes algo para beber enquanto ele pedia para um do empregado chamar Roy que até aquele momento se mantinha trancado em seu quarto. Ao ouvir passos na escada, Gilbert se aproximou de Anne e disse em um tom baixo:

- Vou dar a vocês a privacidade que precisam. Eu te espero na varanda. - Ela assentiu sentindo-se um pouco tensa, mas, não corajosa o bastante para pedir para Gilbert ficar.

- E eu estarei na biblioteca. - O Sr. Gardner disse ao ver o filho se aproximar.

- Bom dia, Anne. - Roy disse ao se sentar em frente a ela, o que fez Anne levantar o olhar das próprias mãos e observar a aparência de Roy. Ele tinha feito a barba, os cabelos haviam sido cortados, e a aparência doentia que ela tinha visto na última semana não estava mais lá, seu rosto parecia tranquilo, porém, suas mãos denunciavam seu nervosismo, pois tremiam sem parar.

- Bom dia, Roy. - Ela respondeu sem deixar de encará-lo

- Como você está? - ele perguntou e Anne estudou a expressão dele, tentando ver se havia ali algum sarcasmo ou ironia, mas tudo que viu foi um olhar atormentado que lhe causou pena.

- Estou bem. - Um meio sorriso se formou em seus lábios, mesmo que sorrir fosse a última coisa que tinha vontade de fazer, mas ela o manteve no rosto porque assim sentia que aliviava um pouco a tensão do ambiente.

- E o bebê? - ele tornou a perguntar.

- Ela está bem.

- Então, é uma menina? – ele a olhou com intensidade, e Anne desviou seus olhos do rosto dele, porque não queria que aquele momento ficasse mais íntimo do que deveria.

- É sim. - Ela respondeu.

- Eu o queria pedir perdão pelo que eu quase causei. Meu pai me contou o quanto foi grave sua situação. Eu quero que saiba que eu nunca quis te causar nenhum mal e nem ao seu bebê. Eu meio que me descontrolei. - Ele parecia envergonhado e Anne respondeu:

- Eu estou feliz que vai procurar ajuda. Cuidar de si mesmo e colocar-se em primeiro lugar é extremamente importante em certas situações. E eu também espero que você aprenda a se amar mais.

-Amar eu só amei e amo você. - Ele respondeu, e Anne começou a se sentir desconfortável.

- Roy...- ela disse tentando interrompê-lo, mas ele não permitiu.

- Por favor, me deixa terminar. O que eu disse é verdade, Anne. Eu te amo, e é uma pena que eu não tenha conseguido te fazer me amar de volta, porque se isso tivesse acontecido, talvez esse bebê que você carrega agora fosse meu e não dele.- o rosto do rapaz ficou sério de repente, e Anne aproveitou seu silêncio para dizer;

- Eu quero que entenda uma coisa, Roy. Meu coração sempre foi do Gilbert e sempre será. Ele nasceu para mim assim como eu nasci para ele. Eu nunca te dei esperanças sobre meus sentimentos, e você sabe disso. Se um dia você teve a ideia de que ficaríamos juntos, se iludiu sozinho – ela disse torcendo as mãos. Ela estava ficando nervosa com a maneira como Roy não parava de olhá-la, mas fora dela a escolha de estar ali, por isso teria que ficar e resolver tudo aquilo até o fim.

-Eu sei, Anne, Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando decidi te perseguir daquele jeito. Se posso te dizer algo em minha defesa é que nunca estive apaixonado antes, e não sabia muito bem como agir.- ele parecia realmente estar pensando sobre isso enquanto confessava a Anne suas más ações em relação a ela, e a ruivinha sentiu pela primeira vez que fora uma boa ideia ter vindo até ali e resolver de uma vez todas as suas pendências com ele.

- São águas passadas, Roy. O importante é que daqui para frente você comece a ver a vida de maneira diferente, e faça de tudo para ficar melhor.

- Posso te fazer uma pergunta? - ele disse assim que ouviu suas palavras.

- Claro. - Ela respondeu tentando imaginar o que seria.

- Se o Gilbert não existisse, acha que poderia me amar? - a pergunta a pegou de surpresa, e por um instante, Anne pensou nela em silêncio. Um mundo sem Gilbert Blythe? Seria possível para ela existir se o amor de sua vida nunca tivesse nascido? Essa era uma pergunta que definitivamente nunca saberia responder, pois transformava em escuridão toda a felicidade e luz que o amor de Gilbert trazia para sua vida, e um mundo sem ele nunca seria bom o bastante para que ela quisesse viver nele. E assim, ela foi sincera.

- Eu não sei o que te dizer, Roy. Porque a única pessoa que consigo imaginar para amar é o Gilbert, e sem ele não acho que me apaixonaria de verdade.

- Você gosta mesmo dele, não é? - ele disse com a voz triste.

- Eu não gosto, eu o amo, e além do mais ele é o pai do meu filho. - Ela disse sorrindo.

- Estou perdoado então? - ela o olhou e sentiu que perdoá-lo iria demorar um certo tempo para acontecer, mas seu coração caridoso a fez dizer:

- Eu te perdoo se você me prometer que vai tentar ser feliz.

- Eu prometo. - Ele disse com um sorriso.

- Então, está bem. Agora preciso ir. Até logo, Roy. Seja muito feliz.

- Até logo, Anne. Obrigada por ter vindo até aqui e aceitar falar comigo. Eu também espero que você e o Gilbert sejam muito felizes. - Ele lhe sorriu aliviado, e em um impulso, Anne deu-lhe um beijo no rosto e caminhou devagar até a porta, saindo para a varanda onde Gilbert a esperava.

- Tudo bem? - ele perguntou parecendo preocupado.

- Sim, está tudo certo. Agora eu só quero ir para casa e descansar. – Ela respondeu. Assim, ele não perguntou mais nada, a ajudou a chegar até o carro e assim voltaram para o apartamento.

O resto da manhã passou tranquilo com Gilbert preparando o almoço para ambos, assim como a tarde veio e também se foi, e fazendo Anne ir para cama logo depois do jantar. Ela não percebeu que por trás de toda atividade que Gilbert estivera realizando por todo o dia, havia muito nervosismo sendo escondido em grande camadas de uma falsa calma que ele tentava aparentar para que ela não tivesse uma pista sequer do que ele estava planejando, e esperava que ela o perdoasse por sua atitude impensada do dia anterior depois de sua surpresa.

Ela estava dormindo quando ele entrou no quarto, mas, isso não o desanimou, ele até achava mais romântico acordá-la dessa maneira, e assim ele pegou o violão que ele havia trazido come ele, para Nova Iorque e estivera guardado todo aquele tempo no quarto de hóspedes, e tocou alguns acordes esperando pacientemente que Anne abrisse os olhos, e logo ela o fez, levada por aquele som que chegava aos seus ouvidos de forma tão agradável. O que ela não esperava era ver Gilbert sentado em sua frente com um violão na mão e tocando somente para ela como ele não fazia a tanto tempo.

Quando ele viu que Anne o observava com os olhos muito abertos, e aquele sorriso pelo qual ele se apaixonava toda vez que o via dançando no rosto dela, ele começou a cantar:

Oh! Thinking about all our younger years
There was only you and me
We were young and wild and free

Now, nothing can take you away from me
We've been down that road before
But that's over now
You keep me coming back for more

Baby, you're all that I want
When you're lying here in my arms
I'm finding it hard to believe
We're in heaven
And love is all that I need
And I found it there in your heart
Isn't too hard to see
We're in heaven

Oh, once in your life you find someone
Who will turn your world around
Bring you up when you're feeling down

Yeah, nothing could change what you mean to me
Oh, there's lots that I could say
But just hold me now
'Cause our love will light the way

And, baby, you're all that I want
When you're lying here in my arms
I'm finding it hard to believe
We're in heaven
And love is all that I need
And I found it there in your heart
Isn't too hard to see
We're in heaven

I've been waiting for so long
For something to arrive
For love to come along
Now, our dreams are coming true
Through the good times and the bad
Yeah, I'll be standing there by you

And, baby, you're all that I want
When you're lying here in my arms
I'm finding it hard to believe
We're in heaven
And love is all that I need
And I found it there in your heart
Isn't too hard to see
We're in heaven

Heaven
Oh

You're all that I want
You're all that I need

We're in heaven
We're in heaven
We're in heaven

Oh! Pensando em nossos tempos de juventude
Só existia eu e você
Nós éramos jovens, selvagens e livres

Agora, nada consegue te levar pra longe de mim
Nós já estivemos naquela estrada antes
Mas agora já acabou
E você continua me fazendo voltar pra ter mais

Meu bem, você é tudo o que eu quero
Quando você está aqui deitada em meus braços
Eu acho isso difícil de acreditar
Estamos no paraíso
E o amor é tudo o que eu preciso
E eu achei isso em seu coração
Não é tão difícil de enxergar
Estamos no paraíso

Oh, uma vez na sua vida você acha alguém
Que irá fazer seu mundo virar
Te colocar pra cima quando você sentir pra baixo

É, nada pode mudar o que você significa pra mim
Oh, tem muitas coisas que eu poderia dizer
Mas só me abrace agora
Porque o nosso amor vai iluminar o caminho

E, meu bem, você é tudo o que eu quero
Quando você está aqui deitada em meus braços
Eu acho isso difícil de acreditar
Estamos no paraíso
E o amor é tudo o que eu preciso
E eu achei isso em seu coração
Não é tão difícil de enxergar
Estamos no paraíso

Eu estive esperando por tanto tempo
Por alguma coisa que chegasse
Por um amor que viesse junto
Agora nossos sonhos estão se realizando
Através dos bons e dos maus momentos
Eu estarei lá por você

E, meu bem, você é tudo o que eu quero
Quando você está aqui deitada em meus braços
Eu acho isso difícil de acreditar
Estamos no paraíso
E o amor é tudo o que eu preciso
E eu achei isso em seu coração
Não é tão difícil de enxergar
Estamos no paraíso

Paraíso
Oh

Você é tudo o que quero
Você é tudo o que preciso

Estamos no paraíso
Estamos no paraíso
Estamos no paraíso


Anne não pensou que poderia chorar mais do que já tinha chorado naqueles dias, mas, dessa vez era de emoção e alegria por Gilbert ter lhe preparado algo tão lindo que ela sequer tinha imaginado que ele faria. Assim que ele terminou os últimos acordes, ela enxugou seu rosto molhado com um lencinho branco que ele docemente lhe ofereceu, e ela disse:

- Gilbert, que lindo! Eu pensei que nunca, mas te veria cantar para mim. - Ele se aproximou da cama, deixando o violão de lado, sentou-se ao lado dela, segurando-lhe as mãos e disse:

- Eu queria que fosse uma serenata, mas, o apartamento é mais alto que seu quarto em Green Gables. - Ela acariciou o rosto dele com a mão e disse:

- Fico lindo mesmo assim, e eu amei,

- De verdade? - ele perguntou ansioso, sentindo o impacto da proximidade dela e seu perfume sem igual tão ao seu alcance, mas, ainda não tinha coragem de tocá-la.

- Você sabe que sim, mas, por que me preparou essa surpresa incrível?- ele olhou naqueles olhos que o faziam perder sua direção, que o levavam de encontro ao mar cheio de ondas onde seus medos eram confrontados, enfim vencidos só por causa dela e daquele amor que carregaria com ele até sua morte, e respondeu.

- Foi um pedido de desculpas por eu ter te magoado e ter tem feito chorar ontem. Eu não te apoie no que você queria fazer, e no fim, te disse coisas absurdas mais uma vez.- ele deitou a cabeça no ombro delicado dela sentindo- lhe a maciez que ele conhecia muito bem, ouvindo-lhe a respiração suave em seus ouvidos.

- Eu também te magoei, e por isso te peço desculpas. Eu não devia ter trazido à tona um assunto que já ficou resolvido entre nós lá trás. - Ela sentiu-o abraçar sua cintura enquanto ele dizia com a voz um tanto abafada:

- Você não fez nada de errado, eu fiz. E sei que não te mereço, mesmo tentando fazer tudo certo, eu erro e erro de novo, e te faço chorar, a gente discute, eu te machuco com minhas palavras, e então a gente se afasta, e é tudo por minha causa , e a última coisa que eu quero na minha vida é afastar você.- Anne o fez olhar para ela, levantando o queixo dele com o polegar, e falou daquele jeito em que o deixava completamente hipnotizado pelo som da voz dela tão doce como o mais puro mel que ele já provara na vida.

- Não fale assim. É claro que você me merece. Eu sei que a gente discute, briga por coisas pequenas, e acaba se magoando, mas, eu também sei o que acontece aqui quando a gente diz que se ama.- ela disse colocando uma mão sobre o seu coração, e a outra sobre o coração de Gilbert.- e isso que mais importa para mim, Não existe Roy Gardner capaz de destruir o que a gente sente um pelo outro. Isso é para sempre. - Gilbert a abraçou de um jeito que fez Anne quase parar de respirar pela força do sentimento que sentiu nesse gesto enquanto ouvia-o dizer:

- Eu te amo, Anne, e não pensei que ainda assim fosse capaz de te machucar com minha estupidez. Eu achei que amar você como eu amo seria a formula mágica para te fazer feliz, mas, de repente eu descobri que às vezes só isso não basta.

- Basta para mim, e um relacionamento verdadeiramente baseada no amor é feito de bons e maus momentos, porém isso é mais real do que viver um conto de fadas que não existe e nunca seria possível existir. Eu quero o que nós temos, Gilbert, cada parte dele, perfeito ou imperfeito, é isso que me faz querer passar a minha vida inteira com você, O que você me dá todos os dias com seu cuidado e atenção é o que sempre desejei e eu não trocaria um minuto sequer do que tenho vivido a seu lado por nada mais, e é por isso que eu também te amo tanto.- eles se beijaram como se estivessem perdidos no meio de uma tempestade de areia e se encontrassem um nos lábios do outro para que nenhuma parte encontrada fosse perdida outra vez.

- Eu queria tanto fazer amor com você. - Ele disse com sua voz rouca enquanto beijava os cabelos dela, seu rosto, seus lábios, seu pescoço.

- Então me ame com suas mãos e seus lábios, porque quando você me toca ou me beija eu sei exatamente a intensidade do seu amor por mim. - Ela disse sabendo que também o queria daquele jeito.

E assim ele obedeceu ao pedido da mulher que ele amava com todo o seu coração. Gilbert a despiu devagar como se estivesse em frente a coisa mais preciosa e delicada do mundo, suas mãos descendo pelas curvas dela vagarosamente, fazendo Anne descobrir um amor diferente naquela noite apenas pelo toque daqueles dedos que eram capazes de levá-la a um êxtase nunca antes alcançado daquela maneira. Anne era pura seda, e Gilbert podia senti-la em cada fibra de seu corpo, porque ela era toda dele em sua essência mais autêntica. Anne também tocou Gilbert como se fosse a primeira vez que fazia isso, deixando-se guiar pelo brilho daqueles olhos que lhe falavam quanto amor ela encontraria em cada pedacinho de pele que conseguisse explorar, pois Gilbert era como um diamante bruto pronto para ser apenas lapidado pelas suas mãos.

O prazer que sentiram aquela noite não foi por meio de uma união de corpos, e sim pela união de almas, alcançando uma profundidade em seus espíritos que nunca pensaram que um dia aconteceria. Anne não entregou a Gilbert seu corpo, mas sim seu coração inteiro com a imensidão do amor que o fazia bater por ele todos os dias, e Gilbert descobriu que em um milhão de toques sobre aquela pele perfeita, ele encontraria um milhão de maneiras diferentes de amar a sua Anne mais ainda do que já a tinha amado.

Foi uma noite de reconhecimento, e de descobertas sobre si mesmos, foi uma noite onde o amor foi revelado a eles em toda sua plenitude, foi uma noite onde o desejo deixou de ser o centro de tudo para dar lugar ao sentimento que duraria por sua vida inteira.

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