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Capítulo 111- Matador de dragões

Olá, pessoal. Fiquei muito emocionada com esse capítulo., e realmente me fez chorar a cada palavra escrita. Espero que vocês também se emocionem e me deixem seus comentários. Eles são o que me motivam a continuar. Muito obrigada por tudo. Beijos. Vou revisar depois.

GILBERT

Chegar ao hospital nunca pareceu demorar tanto para Gilbert que mantinha Anne em seus braços. Ela tinha parado de chorar, mas, sua cabeça estava inclinada e encostada no ombro dele, os olhos estavam fechados e o rosto pálido feito cera, mas a expressão que viu ali foi que o deixou assustado. Ela parecia derrotada, como se toda a força que ele sempre vira brilhar dentro dela como uma fonte de vida inextinguível tivesse ido embora, deixando-a vazia, como um tronco de árvore oco, prestes a desmoronar com a primeira lufada de vento.

Aquele pensamento o deixou desolado, ao mesmo tempo o fez balançar a cabeça com força, afastando o negativismo que havia ali. Ele não a deixaria desistir, Anne não estava sozinha dessa vez, ele seria a força que lhe faltava naquele instante e não a abandonaria como acontecera da outra vez mesmo que tivesse sido de maneira involuntária de sua parte, Havia amor demais em seu coração para deixar que Anne se entregasse daquele jeito, seus braços estavam ali prontos para sustentá-la por todo o caminho da dor, do sofrimento ou tropeço que a fizessem querer recuar.

Seus dedos da mão esquerda entrelaçaram nos dela, enquanto os da mão direita seguraram no queixo dela com carinho, e o puxou delicadamente em sua direção. Ela abriu os olhos no mesmo instante, e Gilbert mordeu o canto do lábio com força ao ver que estavam tão apagados quanto uma noite escura, mas, ele disfarçou a tempo sua própria ansiedade, e disse baixinho, de modo que somente ela o ouvisse.:

- Eu te amo, e estou aqui, e prometo que vou fazer de tudo para que você fique bem de novo. Nunca mais você vai ter que sofrer dessa maneira. Vou carregar sua dor em mim até que eu te veja sorrir como antes. - Seu beijo na ponta do nariz dela a fez dizer:

- Gilbert, não posso perder nossa Rilla, não vou suportar isso. Faça essa dor parar, não deixa que isso aconteça. - A voz dela saiu tão cansada e baixa que Gilbert mal conseguia ouvi-la. Seu peito se contraiu, e ele pensou infeliz que aquilo não dependia de nenhum dos dois. Era o corpo dela que devia lutar para manter a filha de ambos ali e em segurança. Ele não podia fazer isso por ela, mas, tentaria a todo custo não deixar que sua esperança fosse aniquilada por mais um revés do destino que os colocava a prova de novo.

- Amor, eu não sei o que vai acontecer daqui a pouco como não sei o que nos espera quando chegarmos aquele hospital, assim, quero que saiba que sei o quanto está cansada de sentir dor, de chorar e sofrer por coisas que estão além de nossa compreensão, por isso, deixe que seu coração se liberte, apenas feche os olhos e se agarre em mim, porque eu nunca mais vou te soltar, meu amor, meus braços estão exatamente aqui para que se apoie neles até que consiga caminhar sozinha outra vez.- ela assentiu e encostou sua testa na dele e de olhos fechados ela disse:

- Obrigada. - Uma única palavra e foi dita de forma tão dolorida. Gilbert queria gritar a injustiça e tudo aquilo, mas, ele sabia que o autocontrole de Anne dependia do dele, e se demonstrasse sua revolta e anseios, ela se despedaçaria aos seus pés. Ele era quem estava no controle daquele barco agora, era em sua mão que Anne segurava e esperava que a guiasse, porque naqueles breves instantes, ela tinha perdido seu rumo e não sabia para onde ir. Gilbert a abraçou mais forte, e foi com ela em seu colo que ele entrou no hospital. Uma enfermeira correu até eles com uma cadeira de rodas, mas, Gilbert a dispensou dizendo:

- Não, obrigado. Eu a levo. - Ele disse sentindo Anne se agarrar ao seu pescoço, e pensou que ninguém no mundo o separaria dela naquele momento. Porém, ela teria que ser levada para a sala de exames, por isso, ele precisou colocá-la na maca do hospital, mas, quando os enfermeiros começaram a levá-la, Anne segurou a mão dele e disse chorando:

- Por favor, Gilbert. Vem comigo.

- Amor, eu não posso. Eles não permitem que ninguém a não ser os médicos e enfermeiros estejam presentes na sala de exames. Eu prometo que quando sair de lá, eu estarei aqui esperando por você. - Ele respondeu, sentindo seu coração doer ao ver os olhos dela marejados. Se havia uma coisa que o tirava do eixo a ponto de entrar em desespero era ver Anne chorando, e não poder fazer nada para fazê-la se sentir melhor.

Ele se sentou na recepção sozinho, esperando ansioso que as notícias fossem as melhores possíveis. Somente naquele instante em que não havia ninguém com ele, ele se permitiu pensar em sua garotinha tão desejada e amada. Rilla, fora o nome que Anne escolhera, e ele tinha aprovado instantaneamente, já sonhando em tê-la em seus braços, brincar com ela no tapete da sala, levá-la ao parque, para nadar na praia de Avonlea onde ele e Anne tiveram seus melhores momentos, e de repente, imaginar que poderia perdê-la sem sequer saber como era seu rostinho de verdade o deixava no chão. Lágrimas espessas desceram por seu rosto. Ele não planejara se sentir assim, não por achar que era fraqueza um homem chorar, mas, porque não era isso que Anne precisava dele no momento, e no entanto, a dor era grande demais para ser ignorada, e dessa forma ela se manifestava por meio daquelas lágrimas inesperadas que ele era incapaz de conter. Um soluço ameaçou escapar de seus lábios, mas, Gilbert o engoliu, quase engasgando com sua força. Ele precisava se controlar, ou Anne não teria nada dele a não ser um ser humano em frangalhos, e ele queria ser para ela o que não fora no passado. Um alicerce, um apoio, onde ela pudesse encostar sua cabeça e chorar, encontrar alívio, um abraço reconfortante, um sentido para o que não havia nenhum naquele momento, e ele não a decepcionaria daquela vez.

- Graças a Deus, te encontramos. - Sharon disse ao vê-lo sentado ali. Jonas estava com ela, e ambos se sentaram ao lado dele, procurando lhe dar apoio.

- Como ela está? - Jonas perguntou colocando uma mão em seu ombro.

- Não sei. Ainda não me deram notícias nenhuma. Ela está na sala de exames. - Ele colocou a cabeça entre as mãos, e disse em um tom desesperado; - Deus! Eu não aguento mais isso. Eu não consigo imaginar o que vai ser de Anne se ela perder esse bebê. Ela estava tão feliz, tínhamos escolhido o nome de nossa filha, e agora isso. Por que não podemos viver nossa vida em paz? Por que cada vez que estamos felizes, alguma coisa acontece para tirar tudo de nós? Ela não vai aguentar mais esse golpe, por mais que ela seja forte, eu sei que a escuridão vai vencê-la dessa vez.

- Não fale assim, Gilbert. Não sabemos ainda o que aconteceu. Não seja pessimista antes da hora. Anne tem tanta sorte por ter você que a ama incondicionalmente, e é bem mais do que muitas pessoas tem. E você sabe que ela pode contar com cada um de nós que somos seus amigos, e vamos ajudá-la a passar por isso se caso o diagnóstico do médico for o pior possível. Porém, vamos torcer para que algo mais grave não tenha acontecido além de um grande susto. - Sharon disse tentando animá-lo, e Gilbert tentou com todas as forças acreditar nas palavras dela. Segundos depois se deu conta de que com tudo o que acontecera, ele tinha se esquecido de perguntar como Anne tinha caído, e olhando para Jonas de um jeito inquiridor. ele disse;

- Agora me contem o que aconteceu naquela pizzaria. Como foi que Anne acabou na calçada daquele jeito? - Sharon e Jonas se entreolharam, sabendo que no minuto que Gilbert soubesse a verdade toda, ele derrubaria o mundo todo e sairia a caça de Roy Gardner onde quer que ele estivesse. Jonas conhecia Gilbert muito bem e sabia de seu senso de conseguir justiça a qualquer custo, principalmente se fosse algo que estivesse envolvendo sua noiva, porém, ele tinha que contar que o tombo de Anne fora provocado pelo cara que ele mais desprezava na face a terra, pois Gilbert não o perdoaria se mentisse ou omitisse a realidade dos fatos.

- Fique calmo, eu vou te contar. - Jonas disse em um tom decidido.

Assim, no instante seguinte, ele com ajuda de Sharon, contou a Gilbert cada detalhe do que havia ocorrido. A cada nova informação processada por Gilbert, Jonas viu seu rosto ir mudando do rapaz preocupado e aflito por sua noiva que estava em uma sala de exames sem saber ainda se o bebê de ambos sobreviveria, para um cheio de ódio, raiva e rancor. Aquilo não combinava com o Gilbert que Jonas conhecia, tão pacifico e dedicado a curar pessoas, mas, não o culpava, porque se algo assim tivesse acontecido com Sharon, ele se sentiria do mesmo jeito, sem contar que Roy Gardner tinha ido longe demais daquela vez.

- Aquele imbecil odioso! Como ele ousou colocar as mãos em minha noiva? Se algo acontecer a Anne ou ao bebê, eu juro que ele vai se arrepender de ter nascido.! - ele tremia tanto que não conseguiu ficou muito tempo sentado no mesmo lugar. Por isso, ele começou a caminhar pelo corredor o hospital com os dedos enterrados em seus cabelos, que aos poucos transformaram seus cachinhos em uma bagunça total. Preocupada com o estado do noivo de Anne, Sharon disse:

- Calma, Gilbert. Esse seu estado de tensão e nervosismo não vai fazer bem nem a você e nem a Anne. Lembre-se que ela vai precisar muito de você quando tudo isso passar.

- Eu preciso fazer alguma coisa. Esse cara não pode sair impune. Ele tem que saber que a Anne tem quem a defenda. - Ele disse com os punhos cerrados, o rosto tenso, o maxilar travado, enquanto a veia em sua têmpora pulsava sem parar. De repente, ele parou, como se algo lhe ocorresse, então, ele olhou para Jonas e perguntou:- Tem uma delegacia de polícia aqui perto, não é?

- Sim, por que? - Jonas disse surpreso com a pergunta.

- Porque eu quero ir até lá denunciar esse cara. Quero vê-lo atrás das grades nem que seja por vinte quatro horas. O que ele fez vai ter um preço alto a ser pago, e eu vou fazê-lo pagar por ter feito Anne vir parar nesse hospital mais uma vez.

- Gilbert, tem certeza do que quer fazer? Se lembre que ele é o filho do diretor da faculdade. Você pode perder a bolsa por isso. - Sharon disse, mas, Gilbert a olhou de forma determinada quando respondeu:

- Estou pouco me importando com minha bolsa. E se uma faculdade de Nova Iorque acobertar algo assim, então, não é a instituição honrada que eu pensei que era, e não vou sentir nem um pouco de remorso de denunciá-la também.

- Eu vou com você. - Jonas disse apoiando o amigo. Não abandonaria Gilbert naquela situação sozinho. Se precisassem de seu testemunho ele o daria.

- Fique aqui, Sharon, e se caso eu não tiver voltado até que levem Anne para o quarto, não fale nada com ela sobre isso, e diga apenas que voltarei logo.- Sharon apenas assentiu, e ficou observando apreensiva os dois amigos saírem pela porta da frente do hospital, e torceu para que tudo fosse resolvido da melhor forma possível.

A delegacia ficava apenas a duas quadras do hospital, e logo que chegaram lá, Jonas e Gilbert foram atendidos por um policial que os encaminhou até o delegado responsável de lá. Gilbert assim como Jonas relataram tudo o que sabiam sobre o que acontecera entre Anne e Roy na pizzaria, e após, assinarem seus depoimentos saíram de lá com a promessa de que o rapaz seria procurado e preso para esclarecimentos do caso ainda naquele dia. Aliviado e satisfeito com o que acabara de fazer, Gilbert voltou para o hospital e para sua noiva que àquela altura já deveria ter sido levada para o quarto.

- Posso falar com você? - o médico de Anne que falava com Sharon lhe disse assim que o viu chegar com Jonas.

- Sim, doutor. - Gilbert respondeu apreensivo, seguindo-o até o seu consultório como da outra vez e sentou esperando pelo diagnóstico, rezando para que não fosse nada terrível demais.

- Nós fizemos os exames padrões e teremos que esperar por vinte quatro horas pelos resultados, portanto, acho melhor a Anne passar a noite aqui caso precise de alguma coisa. Não encontramos nenhum vestígio de hemorragia, o que é bom, mas, não é um diagnóstico conclusivo. Temo pelo descolamento da placenta que no caso dela, por ter um histórico complicado de um aborto espontâneo antes poderia ser perigoso e até fatal para o bebê, mas, como disse, teremos que esperar até amanhã para termos certeza. Sinto muito não ter notícias concretas sobe o ocorrido, mas, você como estudante de medicina sabe como dependemos muito de resultados de exames antes de podermos afirmar algo com certeza. Eu sei o quanto deve estar ansioso por isso, mas, não há mais nada que possamos fazer a não ser esperar- o médico disse quase se lamentando.

- Eu entendo. O senhor pode pelo mesmo me dizer se acha que ela pode realmente perder o bebê? - ele perguntou mais preocupado ainda do que antes.

- Não posso afirmar nada, mas, você sabe que em casos assim tudo pode acontecer, por isso, vamos esperar pelos resultados dos exames e somente aí poderei te dizer alguma coisa mais consistente.

- Obrigado, doutor. Será que posso ficar com ela essa noite?

- Claro. Ela deve estar dormindo, pois tivemos que ministrar-lhe um sedativo leve porque ela não parava de chorar e chamar por você. Ela está no quarto B 14, e vou avisar na recepção que você vai passar a noite com a paciente. - O médico disse com simpatia e Gilbert se sentiu um pouco mais calmo por poder ficar com Anne naquela noite. Não queria que ela passasse um segundo daquele dia estressante sozinha.

Por esta razão, ele foi até Jonas e Sharon e explicou a situação, e depois se encaminhou até o quarto de Anne. Logo que se aproximou da cama, ele notou seu semblante tranquilo onde a marca das lágrimas que derramara durante uma hora ainda era visível. Ele se sentou na cama, acariciou com cuidado aquele rosto lindo que tantas vezes lhe sorrira com amor, e depois beijou-lhe a testa desejando tanto que ela abrisse os olhos e visse que ele estava ali e que sempre estaria, mas, ela continuou adormecida totalmente isolada em seu mundo do sonhos. Então, ele encostou o corpo na cabeceira da cama, puxou a cabeça dela para o seu colo, e foi assim que adormeceu horas mais tarde, com Anne confortavelmente aninhada em seus braços, e suas mãos perdidas nos fios brilhantes e sedosos dos cabelos dela.

ANNE

Os primeiros raios do dia despertaram Anne, que teve que piscar várias vezes para conseguir abrir seus olhos totalmente. Ainda se sentia sonolenta, mas fez um esforço para acordar, sentindo a confusão de seus pensamentos deixá-la sem ação por dois segundos até que ela deu uma olhada ao seu redor e se lembrou de onde estava.

Automaticamente suas mãos foram parar em seu abdômen onde a suave elevação de antes ainda estava lá, mas, a angústia de não saber se o seu bebê ainda estava vivo a fez arregalar os olhos, e sentir seu coração disparar. Não podia perder sua Rilla, não podia perder a coisa que mais desejara na vida durante todos aqueles meses, porque sentia que se isso tivesse acontecido, ela não queria mais viver, pois nem mesmo o amor de Gilbert poderia salvá-la da sua dor. Seu coração já tinha sido partido tantas vezes que ela perdera a conta, mas sempre conseguira colar os pedaços aos trancos e barrancos, e continuar de pé, mas, desta vez ela sabia que não resistiria, e por mais que amasse Gilbert, ela sentia que esse peso seria demais para o seu coração.

Ela levantou o olhar e percebeu seu noivo dormindo com as costas coladas na cabeceira da cama. Ele passara aquela noite com ela, e da maneira mais desconfortável possível, e Anne pensou com tristeza em como dormir assim deveria ter sido penoso para ele. Gilbert prometera e cumprira, não a deixara sozinha e pelo menos nisso ela poderia encontrar um certo conforto. Ela o amava tanto, e dar-lhe o filho com o qual ele tanto sonhara tinha sido a coisa mais maravilhosa que podia ter-lhe acontecido. Ela se lembrava bem da alegria dele quando descobriram que era menina, e sua insistência em comprar o berço na cor que Anne detestava, e apesar de ter reclamado com ele por isso, Anne não se importara em ceder, porque a felicidade dele era tanta, que ela achou que não tinha o direito de lhe negar o que quer que fosse, pois se havia alguém no mundo que ela queria ver sempre sorrindo era seu noivo. Mas, agora em vias de perderem sua alegria recente, ela sentia que fracassava em seu propósito, e decepcionar Gilbert a feria mortalmente.

Quando ela perdera o primeiro bebê deles fora brutal, mas, ela sequer soubera que estava grávida até que Mary lhe contara. Doera demais, porém, tanto ela quanto Gilbert não tinham feito planos, nem escolhido um nome ou mesmo apostado qual seria o sexo do bebê, pois não lhes fora dada essa oportunidade, seu corpo apenas concebera e depois expulsara o feto dele como se Anne não merecesse aquela benção porque não percebera que ele estava lá antes, não se cuidara, e por consequência o perdera.

Contudo, na segunda vez fora diferente, e ela descobrira a tempo, compartilhara com Gilbert aquela felicidade, fizeram seus planos, estavam para marcar o casamento, e então, aquilo acontecera, e pela segunda vez, sentia que estava sendo punida, porém, não sabia bem porquê. Já não tivera o bastante? Até quando teria aquela corda em volta do seu pescoço, sentindo que se apertava, deixando o mínimo para que ela pudesse respirar? Só que dessa vez estava próxima demais de perder o fôlego, e se isso acontecesse, ela nunca mais se levantaria. Sua mão tocou de leve o rosto de Gilbert, o qual ela devorou com o olhar. Ele era lindo demais e a cada dia ela o amava um pouco mais, por isso, tirar dele algo com o qual ele já criara um futuro todo em sua cabeça era cruel e doloroso. Ela precisava que ele fosse feliz, e daria tudo para que ele não sofresse como ela. Gilbert já perdera coisas demais também, e aquele bebê tinha sido seu presente para ele, e não queria pensar em como a morte de mais um sonho faria com ele, não era justo, ela não suportaria ver a dor naquele olhar.

- Anne? - Gilbert disse abrindo os olhos e sentindo a carícia dela em seu rosto. - A quanto tempo está acordada?

- Não faz muito tempo. - Ela respondeu deitando a cabeça no peito de Gilbert. Era sua posição favorita quando estava com ele, pois se sentia próxima de seu coração cujas batidas chegavam em seus ouvidos em uma cadência deliciosa. - Eu não te vi chegar ontem à noite.

- Você já estava dormindo e eu pedi ao seu médico para passar a noite com você. - Ele disse acariciando-lhe a nuca.

- Obrigada por ter ficado. Eu não sei o eu faria se você não estivesse aqui. - Ela se sentou na cama e envolveu o pescoço de Gilbert com seus braços.

- Eu te fiz uma promessa, se lembra? Daqui para frente você nunca mais terá que enfrentar nada sozinha. - Anne apenas assentiu aspirando a loção de barbear de Gilbert. O aroma dele era delicioso, mesmo que ele tivesse acabado de acordar e sequer tivesse tomado seu banho matinal. Era algo que vinha de dentro dele, sua essência que ela amava mais do que já amara alguma coisa na vida.

- Você falou com o médico? - ela perguntou, não sabendo ao certo se queria mesmo saber o que seu obstetra tinha dito a ele.

- Sim. - Gilbert respondeu de maneira cuidadosa.

- Ele falou alguma coisa sobre a nossa bebê? - era uma pergunta perigosa, porque não sabia qual era a resposta, e dependendo do que Gilbert lhe dissesse, ela poderia cair facilmente em um abismo profundo.

- Ele ainda não sabe, amor. Vamos ter que esperar os resultados dos exames que vão sair mais tarde.- as mãos de Gilbert em suas costas faziam movimentos circulares, como ele sabia que a acalmava nos seus momentos mais tensos .Então, isso era amar alguém de verdade, Anne pensou, conhecer tão bem o outro e saber o que mais lhe faria bem. Definitivamente, Gilbert era o único motivo de não ter sucumbido ao seu desespero interior. Os pensamentos a estavam deixando louca, mais um pouco, e iria gritar sem conseguir parar.

- Esperar. Parece que é isso que tenho feito em minha vida toda. Tive que esperar você voltar da Faculdade quando veio para Nova Iorque sem saber quando veria meu noivo novamente, depois tive que esperar por três meses para que você se lembrasse de mim quando teve amnésia, e a dois meses atrás tive que esperar novamente para saber o resultado de sua cirurgia, esperar para te contar sobre o bebê, e agora vou ter que esperar para saber se minha filha ainda respira dentro de mim. Que vida é essa, Gilbert me diz? Não aguento mais abaixar minha cabeça, respirar fundo e dizer que tudo vai ficar bem enquanto eu espero que o destino decida o que fazer com a minha vida.- a raiva vinha e explodia em ondas como nunca acontecera antes, mas, Anne não se importava, nem o olhar de preocupação de Gilbert a fez parar. Ela precisava colocar tudo aquilo para fora, pois estava cansada de ser otimista, e se decepcionar todas as vezes.

- Anne, calma. Você não pode ficar nervosa assim.- Gilbert segurou seu pulso com delicadeza, mas, ela continuou a jogar para fora sua ira. Agora que começara iria até o fim, depois de anos sofrendo calada, ela não aguentava mais.

- Eu não quero me acalmar e não vou me acalmar. Estou cansada, Gilbert. Não aguento mais sentir dor. Tudo que me deixa feliz de um jeito ou de outro é tirado de mim. E se eu perder esse bebê, eu não quero mais continuar, eu não posso, eu não consigo mais. - As lágrimas vieram então, como um tiro de misericórdia, arrastando-a como em uma corrente no mar, sem rumo, ela sentia-se afogando enquanto ouvia Gilbert dizer:

- Anne, eu estou aqui. Apoie-se em mim, eu posso te ajudar, me deixa acabar com sua dor, me deixa curar você com o meu amor.- ele lhe afagava seus cabelos, e falava daquele jeito que ela amava, e que sempre a fazia se sentir melhor e cuidada, mas, não estava ajudando dessa vez, na verdade, estava tornando tudo pior, porque Gilbert a fazia perceber que ele também estava sofrendo por sua causa, e a dor dela se tornava maior, e aquilo tinha que parar. Ela não queria ver aqueles olhos castanhos tristes por sua causa, ela amava Gilbert demais para querer que ele continuasse lutando por ela, quando ela mesma não queria mais lutar.

- Não posso mais fazer isso. Não quero mais, Gilbert. - A dor no peito era tão forte que ela sentia seu coração se despedaçar. Ela odiava deixá-lo triste, mas, não podia continuar mentindo para Gilbert e dizer que estava tudo bem quando não estava, e talvez nunca estivesse.

- Você não poder estar dizendo o que penso que está dizendo. Que história é essa de não quer mais? Que não consegue mais? Anne, eu não posso te perder, e não vou. Você não vai me deixar como minha mãe ou meu pai. Eu prefiro não ter nada do que não ter você. Por favor, diz que vai tentar mais um pouco por mim. Talvez eu não tenha o direito de te pedir isso, depois de tudo o que você suportou sozinha sem mim, mas, querida, eu te suplico, não desista da vida, do nosso futuro, do nosso amor. Eu preciso de você mais do que imagina. - Gilbert estava chorando como ela, e Anne não aguentava aquilo. Ela nunca pensara que o amor podia aumentar a um ponto em que engolia o mundo todo ao seu redor, e ver Gilbert com o rosto molhado de lágrimas a fazia querer chorar mais ainda pelas injustiças que sempre os alcançavam, não importava o quanto fossem bons, fizessem de tudo para terem uma vida digna, honesta e verdadeira, a dor sempre estava na próxima esquina, zombando de sua pretensa felicidade, como se não merecessem ter um pingo que fosse de paz. Olhando para o rapaz que mais amava na vida, ela podia ver o quanto eram verdadeiras suas palavras, mas, Anne não queria ouvi-las, não queria senti-las adentrando seu coração e rasgando-o ao meio quando ela não tinha mais forças para consertá-lo, não tinha mais como fazê-lo, pois estava a um passo de ser aniquilada dessa vez para sempre.

- Gilbert, eu não posso mais viver assim.- ela disse enxugando as lágrimas dele com suas próprias mãos. Ele agarrou-as entre as suas e as apertou tão forte que Anne pensou que ele poderia quebrá-las com a força que usou sem perceber.

- Não, eu não quero ouvir você dizer isso. Eu me recuso a aceitar que você não queira mais viver nesse mundo comigo. Eu não vou te deixar ir nunca, entendeu? - ele reprimiu um soluço antes de dizer; - Anne, eu te amo, por que não acredita em mim? Por que o meu amor não é suficiente para você desejar continuar vivendo? Por que quer desistir quando tudo o que sei fazer é amar você mais e mais? Quando vai se convencer que você é o amor da minha vida?

- Eu acredito. - Ela disse beijando-o no rosto.

- Então, fica comigo, por favor. Eu preciso tanto de você. - Anne respirou fundo, e deixou que os lábios de Gilbert encontrassem os seus. Era um beijo de amor desesperado, daqueles que dão tudo e tomam tudo, daqueles em que a alma se abre como um portal entre dois mundos, daqueles em que não existem barreiras suficientes para impedir de acontecer. Seus corpos se colaram, e as carícias trocadas foram apenas para que se sentissem, para que se doassem um pouco mais um do outro, para que a busca pela salvação, perdão e redenção fosse encontrada ao mesmo tempo em um só lugar. Eles sabiam que não podiam ir além disso, mas, era o que bastava para sentirem a vida fluir entre eles porque juntos eram mais do que apenas duas pessoas apaixonadas, eles eram como uma energia duplicada muitas e muitas vezes, até que se encontrassem novamente dentro de seus corações.

Eles passaram horas assim, agarrados como se fossem um, em um silêncio cúmplice, pois de tudo o que fora dito entre ao nascer do sol o que sobrara foi o amor e a necessidade de estarem próximos e unidos para aguentarem o que viria um tempo mais tarde. Anne não ousara mais falar sobre a filha deles ou do seu medo de perdê-la, porque não queria ver seu desespero refletido nos olhos de Gilbert. Ele sofria por ela e com ela, e enquanto, não dissesse em voz alta talvez suas preces mesmo que sem muitas esperanças, fossem atendidas. O café da manhã foi servido pela enfermeira, o horário do almoço também chegou, mas, em nenhum momento, Gilbert saiu de perto de Anne, e ela se sentia tão agradecida por ele estar ali que também não o largou um minuto.

No início da tarde, uma chuva fina começou a cair, e Anne aproveitando que Gilbert tinha adormecido, foi até a janela, puxou uma cadeira para perto dela , se sentou e começou a observar a paisagem molhada lá fora que parecia renascer com aquele presente vindo dos céus. Anne também queria se sentir renovada assim, com alguns pingos de chuva, mas, ela precisaria de muito mais que aquilo para que sua alma voltasse a ser jovem outra vez.

- Amor, o que está fazendo fora da cama? - Gilbert perguntou se aproximando dela. Anne nem percebeu que ele tinha despertado tão envolvida que estava em seus pensamentos.

- Nada, eu só estava olhando a chuva.

- Você não devia se levantar, sabe disso. Vamos voltar para cama. - Ele a pegou no colo, e Anne escondeu seu rosto no pescoço dele. Era tão bom ser amada daquele jeito, aliviava um pouco a opressão em seu peito.

Quando o médico apareceu um pouco mais tarde com o resultado dos exames, Anne deixou que Gilbert agarrasse sua cintura, e a apoiasse em seu peito, pois ela se sentia sem forças nenhuma para suportar a tensão de seu corpo sozinha, e assim, esvaziou a sua mente e esperou o que o médico tinha a dizer.

- Bem, Gilbert e Anne. Esses exames foram conclusivos para o que vou dizer. - Anne respirou fundo mais uma vez e Gilbert também, e assim o médico continuou:- O meu maior medo de que Anne pudesse ter descolado a placenta felizmente não aconteceu, embora o tombo que você levou quase tenha causado esse problema grave. Isso quer dizer que sua bebezinha continua se desenvolvendo normalmente. Porém, quero que vocês entendam que Anne deve manter-se em repouso novamente. Eu sei que isso é chato e cansativo, mas, necessário por pelo menos um mês, e também aconselho para que você não saia de casa além do necessário até essa garotinha nascer. Não queremos que a mãe dela sofra mais acidentes, não é mesmo? - O médico disse cheio de humor.

- Pode deixar, doutor. Vamos cuidar que isso não aconteça. - Gilbert disse com um sorriso aliviado.

- Vou deixá-la mais essa noite aqui e amanhã de manhã terá alta para ir para casa, e também quero que vá me ver uma vez por semana e não mais mensalmente como antes. Quero diminuir qualquer risco que possa impedir essa gravidez de chegar até o final.

- Obrigado, doutor. - Gilbert disse.

Logo que o médico saiu, Gilbert olhou para Anne que não havia dito nada até aquele momento e falou:

- Eu não disse, meu amor,que nossa Rilla não tinha nos deixado? Ela é tão forte quanto a mãe dela. - Anne não respondeu, pois não conseguia falar, ela apenas abraçou Gilbert apertado, e sorriu enquanto lágrimas agora de alívio escorriam pelo seu rosto.

ANNE E GILBERT

Anne voltou para casa no dia seguinte, e as sensações que a envolveram quando pisou no apartamento foram diversas. O primeiro foi de alivio por estar finalmente em um ambiente conhecido, e longe do hospital onde suas lembranças não eram exatamente agradáveis. O segundo de alegria por saber que sua filha continuava crescendo dentro dela depois do enorme susto, e a crise emocional que tivera no hospital. E por último de gratidão por Gilbert ter estado lá quando ela precisara, pois a mão dele na sua a ajudara a caminhar para longe daquele túnel escuro, onde ela não conseguia enxergar uma saída para seu sofrimento, e mais uma vez ele a salvara de se perder de si mesma. Seu matador de dragões a tomara nos braços, e colocara o seu coração de volta de onde ele havia sido arrancado, e então, entrelaçaram seus destinos dessa vez para sempre.

Gilbert também estava feliz por terem voltado para casa. Após passarem por mais uma tempestade, ele sentia que a vida começava a fluir de novo como devia ser. Pela primeira vez, ele sentia que seu coração voltara a bater livremente, e que os últimos vestígios de culpa que ainda carregava pelos seus meses de ausência mental enquanto Anne lutava sozinha para se reerguer de sua tristeza haviam sido apagados, deixando a sensação de que fora suficiente para ela daquela vez. Ela precisara dele, e ele estivera lá e assim sua dívida com ela fora paga, e seu compromisso reafirmado. Eles se casariam em dois meses, aquilo não havia mudado, e mesmo que o bebê não tivesse se salvado, Anne seria sua esposa naquele espaço de tempo, porque Gilbert não via razão para não se casar com a única mulher que sempre amaria.

Fora um período difícil, ele tinha que admitir. Emoções embaralhadas entre alegrias e tristezas, conflitos interiores e descobertas importantes, e por fim, ele compreendia melhor tudo o que havia se passado com ele e com Anne durante todo aquele tempo. Ela ainda era fonte de preocupação para ele. Sua crise no hospital lhe mostrara bem o quanto tudo aquilo a levara a um limite onde um passo em falso a teria feito cair no chão para sempre, e ele a teria perdido, mesmo amando como a amava, o sentimento não teria força nenhuma se ela tivesse desistido, e isso o aterrorizara mais do que ele queria pensar.

Anne fora forte demais em todas as situações, e olhar para ela e não ver aquele brilho especial que era sua marca registrada, o fizera tremer, assim como ouvir todas as palavras que ela lhe dissera no hospital o fizera sentir que ela estava escapando por entre seus dedos, e por um segundo, ele pensara que era tarde demais para tentar fazê-la ficar, mas, seu amor por ela sempre fora a ponte que os ligava um ao outro, e ele conseguira no último minuto ajudá-la a atravessar mais uma vez o oceano que os distanciaria para sempre, e a segurara com ambas as mãos sabendo que ali estava a única razão de sua felicidade.

Vê-la sorrir como antes estava sendo o seu maior desafio agora, porque apesar de terem vencido mais um obstáculo, uma certa melancolia parecia ainda pairar naquele rosto delicado. Seu riso cristalino ainda não fora ouvido nenhuma vez dentro do apartamento desde que retornaram a ele, e até Milk parecia sentir aquela mudança de atmosfera se tornando mais retraído que o normal. Ele entendia que ela ainda estava se recuperando da tensão pela qual passara, e talvez demorasse um pouco para que Anne recuperasse o seu normal habitual, e enquanto isso, Gilbert se ocupava em ficar o mais perto dela possível, e lhe fazer companhia nas mínimas atividades que ela podia realizar com a limitação de movimentos que seu médico impusera a ela. Talvez esse "castigo temporário" como ela se referia a esse seu novo ócio forçado, fosse a causa de sua tristeza. Infelizmente, era uma situação a qual ela tinha que se submeter, e a consciência de sua própria fragilidade física por conta de sua gravidez estivesse pesando mais em seus ombros do que deveria.

Naquela manhã, ela tinha se sentado na janela, antes mesmo que o café da manhã ficasse pronto. Gilbert a ajudara a se acomodar lá como ela pedira, e Anne estava naquela posição a pelo menos quarenta minutos. Ele colocou tudo o que preparara para o desjejum de ambos em uma bandeja, e arrumou tudo na mesinha da sala, mudando a rotina de tomá-lo todos os dias na cozinha. Em seguida, ele foi até Anne e disse:

- Venha, amor. O café está pronto.

- Está bem. - Ela respondeu com um pequeno sorriso que fez Gilbert suspirar por sentir falta da sua alegria espontânea logo de manhã. Ele a ajudou a se sentar na poltrona da sala, e lhe serviu o chá que ela lhe pedira que preparasse, e assim tomaram o café em silêncio, curtindo a companhia um do outro. Quando terminaram, Gilbert levou tudo para a cozinha, e ao retornar para a sala, ele viu Anne tentar se levantar para ir para a janela novamente, mas, ele a impediu dizendo:

- Vem cá, amor. - Ele se deitou no sofá, e a trouxe para seus braços com todo o cuidado. Anne se aninhou entre eles, encostando sua cabeça no ombro de Gilbert que ficou brincando com algumas mechas de cabelo ruivo que ficaram espalhadas por seu peito. - Como está se sentindo?

- Melhor. Quase não sinto mais dor.

- Que bom. Isso quer dizer que seu corpo está começando a reagir aos medicamentos.

- Espero que sim. - Ela disse virando seu rosto em direção ao de Gilbert.

- Por que anda tão calada, Anne? Eu sei que esse período de reclusão tem sido duro para você, mas, achei que gostasse da minha companhia. - Gilbert disse sério, e Anne o encarou da mesma maneira e disse:

- Eu amo a sua companhia.

- Mas, tem falado comigo muito pouco. Até Milk tem ganhado mais atenção do que eu. - Anne riu ao ouvir aquilo e respondeu:

- Meu maravilhoso noivo está com ciúme do nosso peludinho de novo.

- Eu admito isso sim. Essas férias não têm sido o que esperei. - Gilbert disse pensativo, e ao ouvir aquilo Anne se sentiu responsável pelo estado de ânimo de Gilbert.

- Desculpe-me. Eu sei que a culpa é minha por não podermos viajar como o combinado.

- A culpa não é sua, Anne. O que aconteceu tem um responsável e você sabe quem foi. - Ela fechou os olhos e tentou não se lembrar de Roy Gardner e de sua aparência terrível no último dia em que o vira e que quase culminara em sua perda do bebê.

- Eu não quero falar sobre isso. - Ela disse, abrindo os olhos e implorando com eles para Gilbert não insistisse nele.

- Imagino que não deva ser fácil para você lidar com o que aconteceu, e não quero vê-la mal por isso, porém, não falar está te deixando pior. Por que não desabafa comigo ao invés de se se sentar por horas a fio naquela janela, olhando para o nada? Eu estou aqui, Milk está aqui, e nossa bebezinha está dentro de você, e todos nós queremos nossa Anne de volta. - Ele disse tocando o rosto dela com carinho. Era parecia tão linda e tão vulnerável ao mesmo tempo. Como ele queria tirá-la daquela solidão que via em seus olhos.

- Eu não sabia que estava tão ruim assim.- Anne disse baixando o olhar envergonhada.

- E não está. Continua linda e maravilhosa como sempre. Eu só não entendo porque ao invés de estar feliz com nossa vida, você parece estar se afastando de mim. - Anne segurou na mão dele e respondeu:

- Eu não estou me afastando de você, é só que tudo isso mexeu comigo de um jeito, e estou tentando lidar com o fato de que Roy Gardner quase me fez perder a nossa filha. Isso tudo me fez lembrar do primeiro aborto e depois da briga com Sabrina. Eu não pensei que poderia viver uma situação semelhante, e peço desculpas por fazer isso com você também.

- Ei, eu fico feliz que dessa vez eu pude estar lá. Sabe o quanto significa para mim ter finalmente sido o homem que você esperava que eu fosse da primeira vez? Eu carregava isso comigo, Anne, e você não sabe quantas vezes eu me odiei por falhar com você. Se eu estivesse lá, você não teria sofrido tudo o que sofreu. Eu sei que você nunca me culpou todo esse tempo, mas, era para eu ter cuidado melhor de você. - Ele a puxou para o seu peito, e Anne brincou com os pelinhos escuros dali antes de dizer:

- Eu nunca o culpei porque você nunca foi culpado de nada, Gilbert. Você sofreu também, talvez mais do que eu porque teve que carregar tanta coisa dentro de si para me proteger. Você é tudo o que eu sonhei, e apesar de me magoar algumas vezes assim como eu também te magoei, você nunca me decepcionou. E sim, estou feliz com nossa vida e com a nossa bebê, e te peço apenas que tenha um pouco de paciência comigo e com meu comportamento peculiar. Preciso apenas de um tempo para voltar a ser eu mesma. - Anne o beijou no pescoço e Gilbert sorriu, seus olhos percorrendo o rosto dela seguido de suas mãos.

- Eu te dou todo o tempo do mundo desde que não deixe mais o sorriso que tanto adoro sumir de seu rosto. Eu sinto sua falta. - Ele confessou, e aquela carência não era somente física. Ele sentia falta da presença vibrante dela que naqueles dias tinha se apagado, da voz dela empolgada lhe falando sobre todas as coisas que queria comprar para Rilla, sobre o casamento planejado dali a dois meses, enquanto esperavam a resposta de tia Josephine sobre a cerimônia ser na praia de Avonlea.

- Eu também sinto a sua falta. - Ela disse com seus olhos nos dele sem abandoná-los um só segundo. A mão dela passeou pelo peito dele, provocando em Gilbert aquele frio na barriga que ele conhecia bem.

- Anne...- ele tentou protestar. Gilbert sentiu seu corpo chamando pelo dela, mas, aquilo não podia acontecer, ela sabia tão bem quanto ele. Ambos precisavam pensar no bebê e não somente no desejo que sentiam.

- Eu sei. Só quero sentir você. Estou com saudades do seu cheiro em mim, dos seus beijos. - Ela passou as mãos pelos lábios de Gilbert sentindo a respiração dele ficar pesada de repente, e sabia por conhecê-lo tão bem que ele se sentia do mesmo jeito que ela. Deixando de lado a voz que dizia que deveria ir devagar, ela desceu as mãos até o abdômen de Gilbert e fez suas carícias demorarem lá o quanto pôde. A pele dele era macia e quente, e o fato de Gilbert estar sem camisa facilitava o acesso de seus dedos aquela parte do corpo dele. Anne o estava provocando, ela sabia disso também, mas, ele a vinha tratando com tanto cuidado que mal se beijaram naqueles dias, e agora lhe ocorria que ele mantinha a distância fisicamente dela, porque ele sabia que nunca conseguiam ficar somente em um beijo casto e um abraço inocente.

Devagar, Gilbert a fez se deitar sobre o corpo dele, e o beijo que ela tanto esperava aconteceu. Ela ainda usava sua camisola curta de seda, e com um único movimento se livrou dela, e ela ficou apenas de calcinha, sentindo seu corpo formigar de saudade daqueles momentos em que se entregava a Gilbert com paixão. Ele separou os lábios de ambos enquanto Anne ouvia sua respiração curta e rápida, as mãos dele correram por suas costas, parando no limite de sua lingerie.

- Deus! Eu te amo tanto, Anne. Você não faz ideia do quanto eu sinto falta de te ter assim.- ele beijava seu rosto, seu pescoço, sua testa.

- Eu também te amo muito, Gilbert, e eu também preciso muito te sentir assim.- ele a abraçou mais apertado, e assim trocaram mais carícias, sabendo que ali havia um limite que não podiam ultrapassar. Passaram horas assim, apenas abraçados, sentindo o calor da pele um do outro e satisfazendo sua vontade de terem seus corpos tão próximos, tão unidos, tão conscientes um do outro.

- Acha que nossa Rilla vai ter os seus olhos? - Anne perguntou enquanto Gilbert beijava o seu rosto.

- Eu aposto que ela terá os seus. - Ele disse sorridente.

- Por que quer tanto que ela se pareça comigo? - Anne perguntou. - Vai querer condená-la a ter um cabelo de cenoura como você costumava me chamar?

- A cor do seu cabelo é linda. Você inteira é linda, e eu te chamava de cenoura para te irritar.- Gilbert sorriu ao se lembrar da maneira como brigavam por qualquer coisa naquela época, e quanto ele só pesava em beijar aquela boca linda que adorava lhe dizer desaforos.

- Eu sei disso, mas, eu te odiava tanto por isso. - Anne disse rindo.

- Ainda odeia? - ele perguntou mordendo o lábio inferior.

- Não, hoje eu te amo tanto que pode me chamar de cenoura o quanto quiser que vou te amar ainda mais. - Ela disse beijando-o nos lábios.

- É por isso que quero que ela pareça com você, porque você é mil vezes mais bonita do que eu.

-Existem controvérsias sobre isso- Gilbert gargalhou alto, ele estava tão feliz por ver que Anne estava se abrindo novamente. Ele detestava quando ela se tornava fria e distante como nos dias anteriores.

As brincadeiras entre eles continuaram por ali, as piadas e lembranças do passado tomaram metade da manhã de ambos, e depois que o horário do almoço passou, eles tornaram a se deitar no sofá da sala e estavam quase adormecidos quando a campainha do apartamento tocou. Gilbert se levantou franzindo o cenho, sem imaginar quem poderia ser, e ficou ainda mais surpreso ao abrir a porta e dar de cara com o diretor da faculdade;

- Boa, tarde. Gilbert. Eu poderia falar com você e sua noiva? - Gilbert logo imaginou o que poderia ser, mas, não se intimidou. Ele enfrentaria as consequências do que fizera e não se arrependia,

- Claro, Sr. Gardner. Por favor, entre e vamos até a sala, pois minha noiva não pode caminhar até aqui. Ela deve fazer repouso absoluto por um mês.

Quando Anne viu o diretor da faculdade em sua sala, ela olhou para Gilbert sem entender por que aquele homem estava ali;

- O Sr. Gardner quer falar conosco, querida. - Ele lhe explicou sentando-se ao lado dela e pedindo ao diretor que fizesse o mesmo.

- Eu sei que devem estar estranhando a minha visita até aqui, mas, na verdade, eu vim ver como estava srta. Cuthbert. Eu soube o que meu filho fez, e queria ver se estava precisando de alguma coisa.

- Estou bem, e não preciso de nada, obrigada, sr. Diretor. - Anne disse um tanto constrangida e intimidada pela presença dele.

- E o bebê?

- Ela está bem. - Anne respondeu com um meio sorriso.

- Olha, Gilbert. Eu sei que você denunciou meu filho, e não quero que pense que vim aqui pedir que tire a queixa, porque na verdade acho que ele mereceu. Roy passou de todos os limites, mas, sei que a culpa nisso tudo também é minha. Depois que minha esposa morreu, eu me dediquei totalmente ao trabalho, e Roy cresceu praticamente sozinho, tendo como educadora apenas uma governanta que fez um bom trabalho com ele, ou ele teria se tornado alguém ainda pior. Mas, mesmo assim, ele cresceu sendo mimado por todos, e acreditando que bastava ele desejar algo que poderia ter, até ele conhecer uma certa senhorita que o fez entender que nem tudo se compra com dinheiro.- ele sorriu para Anne, que continuava calada apenas absorvendo suas palavras. - Não quero dizer com isso que o meu lapso em relação a educação de meu filho justifique suas ações depois de homem feito, porque ele já é grandinho para saber o que é certo ou errado, e o que ele fez com você foi imperdoável. Mas, como pai, eu queria te fazer um pedido. - Anne olhou para Gilbert e ele lhe apertou as mãos lhe dando coragem.

- Que pedido?

- Ele passou o dia na cadeia ontem, e sairá de lá mais tarde, e vou levá-lo direto para uma clínica onde ele deverá tratar esse seu lado complicado. Ele começou a beber demais recentemente, e quero que ele trate isso também antes que se torne um vício difícil de contornar.- ele parou um instante, olhou para as mãos e disse:- Anne, Roy quer falar com você e te pedir perdão pelo que te fez. Eu entendo que ele talvez seja a última pessoa que você queira ver no momento, mas, é um pai que te pede isso.

- Eu posso pensar no assunto? - Anne disse meio insegura.

- Claro, querida. Ele ficará em minha casa até domingo. Na próxima semana, eu mesmo o levarei para a clínica. Aqui está o endereço caso você resolva ir vê-lo. Só quero que saiba que ele realmente te ama, mesmo que seja de uma maneira distorcida. - Anne pegou o cartão sem olhar para ele, apenas balançando a cabeça como se concordasse.

Gilbert acompanhou o diretor até a porta, e quando voltou encontrou Anne olhando para o nada parecendo chocada com tudo que ouvira. Silenciosamente, ele amaldiçoou a família Gardner, que não deixava Anne em paz e ainda acabara de estragar o pouco de alegria que ela demonstrara ter recuperado com ele naquela manhã.

- Anne, você não precisa ir se não quiser. - Ele disse abraçando-a pelos ombros.

- É verdade que você o denunciou?

- Sim, mas, se vai me recriminar por isso, vou logo avisando que não me arrependo.

- Não, eu acho que fez certo. Roy tinha que encontrar alguém que lhe impusesse algum limite já que ele não tem nenhum. - Anne disse com a voz vazia.

- Então, por que está assim?

- Você acha que ele começou a beber por minha causa? - ela perguntou e Gilbert sentiu sua preocupação.

- É claro que não. Você não tem culpa se o cara é egocêntrico. - Gilbert se apressou em dizer.

- Mas, você ouviu o que o pai dele disse sobre ele me amar.

- Anne, aquele cara pode sentir qualquer coisa por você, mas, nenhuma delas é amor, pois quem ama não quer destruir, magoar ou impor sua presença a alguém, e ele fez tudo isso com você. Tira isso da cabeça amor. - Anne balançou a cabeça, mas, ainda continuou daquele jeito por um bom tempo. Observando-a cuidadosamente, e percebendo que ela não se esqueceria daquele assunto tão cedo, ele foi até o quarto e pegou algo que estava esperando para dar a ela desde manhã.

Anne continuava distraída quando ele chegou, por isso, ele se aproximou devagar, estendeu a mão e disse:

- Isso é para você.- Anne olhou espantada para a coroa de flores, e depois levantou seu olhar de admiração para Gilbert e perguntou:

- Onde conseguiu isso?

- No parque aí em frente. Eu te vi cobiçando as flores que nascem lá da nossa janela. E achei que gostaria de algo que te lembrasse de Green Gables. - Ele disse com um sorriso maroto,

- Ah, meu amor. Você sempre encontra uma maneira de me fazer feliz. - Ela disse tocando-lhe o rosto com carinho.

- Você merece, Sra. Blythe. - Ele colocou a coroa de flores nos cabelos dela. Foi até o aparelho de som, colocou uma música, e depois olhando-a com carinho lhe disse:

- Aceita dançar comigo, minha rainha das flores?

- Mas, eu não posso dançar. - Anne disse rindo.

- Quem disse? - ele a pegou no colo e começou a rodar com ela pela sala, enquanto as gargalhadas de Anne ecoaram pelo resto da tarde dentro do apartamento.

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