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Capítulo 110- Em um dia nublado


Olá, pessoal. Não sei o que vão pensar desse capítulo, mas, espero que entendam necessidade que tive de escrevê-lo assim. Não ando muito satisfeita com minha escrita, e por isso, ando naqueles dias em que a cobrança comigo mesma se torna excessiva, mas, espero que pelo menos a leitura seja agradável. Espero que me enviem seus comentário.. Eu o revisarei assim que puder. Obrigada por tudo. Beijos


ANNE

O dia amanheceu nublado, mas ainda não havia sinal de chuva. Estavam no auge da primavera, e as manhã eram agradáveis sem o calor habitual do verão, e sem a umidade fria e desagradável do inverno, o que tornava qualquer atividade fora de casa muito mais prazerosa.

Sentada na varanda da fazenda dos Blythes com uma caneca de chá nas mãos, Anne observava o céu naquele dia e pensava no quanto sentia falta daquela vida tranquila de cidade do interior, onde se podia acordar com os passarinhos cantando em sua janela, caminhar descalça na grama verde sentindo o orvalho da madrugada molhando-lhe os pés, e o cheiro das flores que se tornavam tão característicos como se todos os jardins tivessem se juntado para perfumar o mundo com sua fragrância maravilhosa.

Ali, ela podia ver os pastos verdes, as plantações crescendo, colher uma fruta do próprio pé, sentar-se embaixo de uma árvore sentindo a suavidade do vento em seus cabelos, respirar ar puro sem a poluição comum das grandes cidades, nadar no riacho onde a água cristalina possibilitava ver-lhe o fundo, sentir a simplicidade da vida passando diante de seus olhos como se não tivesse pressa que o dia seguinte chegasse rápido demais. Em Nova Iorque, a vida fluía em outro ritmo, corria-se demais, o tempo que tinham nunca era suficiente para que fizessem a maioria das coisas que precisavam , e não era possível ter essa mesma visão do céu que Anne tinham agora, pois os enormes prédios construídos por lá impediam esse acesso, tirando todo o privilégio dos moradores de maravilharem com um céu azul sem nuvens, ou cheio de estrelas quando a noite chegava, dando a impressão de que se podia tocá-las com a ponta dos dedos se tivesse uma oportunidade.

Anne colocou a mão sobre sua barriga, desejando sentir sua menininha mais de perto, e pensou no quanto queria criá-la em Avonlea. Ela desejava que seu bebê tivesse a mesma oportunidade que Shirley de correr por todos os lugares com segurança, se lambuzar na terra, andar a cavalo, e crescer com liberdade longe das quatro paredes de um aparamento, onde tudo o que teria era um espaço reduzido para sua diversão.

Gilbert dissera que eles viriam para Avonlea quando estivesse formado, mas, Anne também sabia que as melhores oportunidade em sua profissão estavam em Nova Iorque, então, não lhe espantaria se no último minuto ele decidisse que deveriam ficar onde sua profissão tinha mais chances de alcançar uma ascensão que não teria em uma cidade pequena. Em seu coração, Anne sabia que sempre seria uma garota do interior, por mais, que Nova Iorque lhe desse mais perspectivas de progresso, ela trocaria tudo pela calma e sossego de onde crescera. No entanto, ela também não ficaria no caminho de Gilbert se ele quisesse permanecer em Nova Iorque por mais tempo do que o planejado, pois seu lar sempre seria onde Gilbert estivesse, portanto, ela o seguiria por onde ele fosse, sem reclamações ou arrependimentos.

Contudo, ela não conseguia deixar de pensar na alegria que seria ter todos os seus amigos por perto, poder visitar Matthew e Marilla sempre que tivesse vontade, ver sua filhinha brincar junto com o filho de Diana e de Josie quando ela também tivesse os seus próprios filhos, sem falar em Milk que ia adorar ter aquele espaço imenso para fazer suas travessuras. Seu filhinho peludo nunca soubera o que era uma vida ao ar livre, e ali, ela até podia vê-lo se esfregando na grama toda, e sujando seu pelinho branco e suas patinhas imaculadas até que fosse impossível reconhecê-lo como um principezinho de uma grande cidade.

Ela ainda ria com aquela imagem em sua cabeça quando sentiu alguém se sentar ao seu lado, e notou com prazer que era Mary. Ela continuava a mesma desde que Anne a conhecera quando ela e Sebastian ainda eram namorados, e o tempo parecia não ter passado para aquela mulher fantástica que como Anne já tinha passado por maus bocados na vida.

- Você está feliz por ter uma menina? - Mary perguntou ao ver Anne com as mãos em cima do próprio ventre.

- Sim, mas eu juro que tinha quase certeza de que seria um menino. Eu e Gilbert fizemos uma aposta que para variar ele ganhou. Até agora não acredito que me enganei acerca disso. - Anne disse rindo e Mary disse:

- Eu nunca vi o Gilbert tão feliz. É a primeira vez que o vejo tão relaxado depois de tanto tempo. - Mary disse ajeitando alguns fios de cabelo que escapavam do coque que fizera pela manhã.

- Sim, ele merece um pouco de paz depois de tudo o que passou nos últimos tempos. Você não faz ideia de como foram os dois últimos meses para nós dois. - Anne disse suspirando. Ela ainda podia sentir o terror das dores de cabeça de Gilbert rondá-la como se pudessem retornar a qualquer momento.

- Eu posso imaginar, querida. Eu queria ter estado lá com vocês. Por que não nos avisou, Anne? - Mary disse colocando sua mão por cima da dela com carinho.

- Aconteceu tudo tão rápido que não tive tempo nem cabeça para avisar ninguém. - Anne disse com seus olhos tristes perdidos naqueles dias em que toda a dor do mundo parecia ocupar o lugar do seu coração.

- Eu imagino como deve ter sido para você descobrir que estava grávida no meio daquele caos.- Mary disse penalizada por saber que aquela garota tão amável tivera que enfrentar mais um furacão de problemas em sua vida, só que dessa vez estava longe de quem poderia ter lhe dado todo o suporte e amor para passar por mais aquela provação que a vida se encarregara de colocar em seu destino. Anne sorriu de leve ao se lembrar da única alegria que tivera naqueles dias:

- Acho que foi a certeza de ter um filho de Gilbert crescendo dentro de mim é que me deu forças. - Ela fechou os olhos, e as lembranças vieram à sua mente com tanta força que a expressão de seu rosto toda mudou de relaxada para tensa. Mary ficou preocupada com essa mudança repentina em Anne e disse;

- Desculpe-me por tocar nesse assunto, querida. Eu não queria que se entristecesse.

- Não se preocupe. Talvez seja bom falar sobre isso agora que tudo passou. Eu já guardei isso dentro de mim por tempo demais.

- Muito bem. Se tem certeza que quer falar sobre isso, estou aqui para ouvi-la- Mary disse segurando-lhe as mãos para dar-lhe coragem. Anne ficou quieta por um momento, tentando capturar seus reais sentimentos naqueles dias turbulentos, e então, começou a falar:

- Acho que nunca senti tanto medo de perder alguém como senti de perder o Gilbert. Eu tive que me manter forte por ele e pelo nosso bebê, mas, lá no fundo eu sentia-me completamente apavorada. Eu não sei o que faria se ele não tivesse sobrevivido à cirurgia, eu acho que não suportaria tanta dor.

- Pela sua filha você teria feito um esforço, eu tenho certeza, Anne. Quando somos mães, o nosso instinto de proteção é o que prevalece. Talvez você sofresse demais, mas, ainda assim teria esse serzinho incrível dentro de você para lembra-la do quanto foi amada pelo pai dela. - Anne olhou para Mary um tanto descrente das palavras que ela dizia, mas, ela sabia que a outra mulher estava certa. Talvez seu coração morresse ao perder o amor de sua vida, mas, ela continuaria a respirar para dar a sua filha tudo o que ela merecia ter.

- Eu creio que você está certa, mas, naqueles dias eu andava completamente sem chão para pensar assim, e o pior de tudo era que eu nem podia contar ao Gilbert sobre o bebê. Por ordens médicas ele não podia sofrer nenhuma emoção de nenhum tipo, então, esconder dele minha gravidez também foi terrível. Meu coração me dizia que ele tinha o direito de saber que ia ser pai, mas em minha cabeça o medo de causar um mal maior era constante, e assim, eu escondi dele até quando ele pôde ouvir de mim de forma segura que eu lhe daria o filho que nós dois desejávamos tanto, mas, não pense que não me senti a pior das criaturas por não tê-lo deixado saber disso antes.- Anne respirou mais alguma vezes profundamente, pois lembrar de tudo era difícil, mas, agradecia mentalmente a Mary pela oportunidade de colocar aquilo tudo para fora.

- Você agiu como seu coração mandou, Anne, e nunca agimos errados quando colocamos o bem-estar da pessoa que amamos em primeiro lugar. Você foi tão forte por suportar tudo isso sozinha, embora eu me pergunte como conseguiu aguentar tanta pressão novamente depois do sofrimento brutal pelo qual passou no último ano.- os olhos bondosos de Mary sobre ela deixavam Anne emotiva, por isso, ela teve que enxugar uma lágrima desavisada que caiu de seus olhos de repente.

- Gilbert é o amor da minha vida., Mary. Eu faria qualquer coisa por ele, e suportaria qualquer adversidade desse mundo para vê-lo feliz e bem, e foi esse amor junto com o meu bebê que me fizeram seguir em frente, E agora que ele está bem de novo, eu só posso me sentir agradecida por essa nova oportunidade por poder demonstrar tudo o que ele significa para mim.

- Pode ter certeza que Gilbert sabe, minha querida. Porque ele te ama na mesma proporção. Vocês foram feitos para se amarem assim, e pense nesse bebê como uma dádiva recebida dos céus para compensar cada lágrima de tristeza derramada, e que as que vierem agora sejam apenas de felicidade.- Mary disse abraçando Anne com toda amizade, admiração e consideração por aquela garota tão miúda em sua constituição física , mas, tão gigantesca dentro de si mesma, de coragem, determinação e força.

- Obrigada, Mary. - Anne disse retribuindo o abraço.

- Bem, querida. Agora vou entrar para começar a fazer o almoço, pois, por mais bom cozinheiro que Sebastian seja, não confio nele sozinho m minha cozinha.- Anne riu e Mary abriu a porta para entrar dando de cara com Gilbert logo atrás dela, e pela expressão dele, a mulher de Sebastian percebeu que ele tinha ouvido cada palavra que Anne dissera. Ele pediu silêncio gestualmente para Mary, e ela assentiu passando por ele sem dizer nada.

Anne sentiu-se renovada depois da conversa que tivera com Mary. Ela não tinha percebido como aquilo tudo estava pesado dentro dela, até que a mulher de Sebastian trouxesse o assunto à tona. Foram dias terríveis dos quais ela não queria mais se lembrar, e que pertenciam ao passado onde deveriam

ficar.

O perfume suave de Gilbert chegou até ela, e Anne soube que era ele que acabara de sentar ao seu lado. Um imenso sorriso se formou em seus lábios, e quando ela se virou para olhá-lo, Anne viu um Gilbert sério e entristecido que não combinava em nada com o Gilbert sorridente e cheio de vida dos últimos dias:

- O que foi, amor. Por que está me olhando assim? Aconteceu algo que eu deva saber? - ele apenas balançou a cabeça sem tirar os olhos dela, e a maneira como Gilbert encarava seu rosto era como se ele estivesse vendo-a pela primeira vez de verdade.

- Por que não me contou, Anne?

- Não contei o que?

- Como sofreu com minha cirurgia. Quer dizer, eu sei que você sofreu, só não sabia que tinha chegado ao extremo. - Anne suspirou, percebendo de imediato o que tinha acontecido e disse:

- Você ouviu minha conversa com a Mary.

- Desculpe. Não foi minha intenção. - Ele baixou o olhar envergonhado.

- Eu não estou chateada que tenha ouvido, eu só não queria que tivesse acontecido. Tudo o que eu quero agora é esquecer, e seguir com nossa vida. - Ela disse beijando-o no rosto.

- Por que preferiu contar para a Mary tudo aquilo e não para mim? Nós nunca de fato falamos sobre isso, depois que eu acordei da cirurgia, e me desculpe, eu devia ter me interessado em saber em como você tinha se sentido naquele tempo todo. Fui tão egoísta com minha felicidade que esqueci da sua. - Ele colocou os braços ao redor do ombro de Anne e trouxe a cabeça dela para seu ombro.

- Amor, eu nunca conheci alguém menos egoísta do que você na minha vida. Você já abriu mão de tanta coisa por mim e fez tanta coisa por mim que não posso dizer mais nada, a não ser que o seu amor por mim sempre foi a minha base desde que nos conhecemos. Eu nunca tinha sido amada assim antes de você, e se hoje eu sou essa mulher forte que enfrenta tudo de peito aberto, você é que é o responsável por isso. Sua mão sempre esteve na minha quando eu precisei, e nem por um minuto eu me senti abandonada quando você estava em cirurgia ou em recuperação em seu quarto, porque eu te sentia comigo o tempo todo.- ela sentiu a mão direita de Gilbert subindo até o seu ombro e descendo novamente até seu antebraço enquanto ele dizia:

- Você nunca precisou de mim para ser forte. Desde que te conheci, você sempre me mostrou sua força em diversos momentos importantes. Eu é que preciso de você 'para me manter em pé e continuar a ter esperanças, se alguém precisa ser conduzido pela mão para que siga em frente, esse alguém sempre foi eu. Você me ensinou a ter coragem, a ter fé na vida quando pensei que a tinha perdido quando meu pai morreu, e quando eu me senti responsável pela morte de minha mãe, foi você que mostrou que eu estava errado e que devia me orgulhar de quem eu me tornei. Você não faz ideia do quanto é importante para mim, e do quanto minha vida é perfeita a seu lado. - Anne puxou o rosto dele em direção ao seu e o beijou, e desse modo deixou que ele soubesse onde o seu coração sempre estaria independentemente da situação.

- Eu também quero que saiba que não foi ideia minha não te contar logo de cara sobre o bebê. O seu médico me fez prometer que eu evitaria qualquer situação na qual você poderia se estressar e acabar complicando o seu quadro físico e emocional, e eu sabia que se te contasse, você não só ficaria feliz, mas, também iria se preocupar demais comigo, e por isso, eu não quis te colocar em risco. Espero que você me perdoe por isso. - Ela colocou a sua mão sobre a coxa dele e fez ali um carinho suave.

- Eu não preciso te perdoar por nada. Você fez tudo para me poupar e com isso, acabou colocando toda a carga daqueles dias em cima de si mesma. E juro que vou te compensar por isso tudo um dia. - Gilbert disse acariciando o queixo de Anne de leve.

- Você já faz isso todos os dias com seus cuidados comigo, quando compra aquele sorvete que eu adoro, quando massageia minhas costas quando me sinto cansada, quando penteia meus cabelos quando eu não tenho paciência nenhuma para isso, quando me fala do amor que sente por mim somente pelo olhar. Tudo isso é mais do que suficiente para eu saber o quanto é profundo o seu sentimento por mim. - Anne passou as mãos pelos cabelos de Gilbert e ele lhe beijou a testa e disse:

- Você sabe que eu nunca amei e nunca vou amar alguém como eu amo você. Eu já disse isso muitas vezes. - Ele a abraçou de modo que Anne encostou sua cabeça no peito dele e disse:

- Eu adoro ouvir toda vez que você diz, por isso, pode repetir quantas vezes quiser.

- Eu prometo que vou repeti-lo pelo resto da minha vida, minha princesa ruiva. Você merece ouvir essas palavras de mim a cada segundo que estamos juntos. - Ele acariciou o rosto dela com o polegar e depois perguntou:- E como está nossa filha esta manhã?

- Tudo bem até agora, pelo menos não senti nenhum enjoo ainda. - Anne disse sorrindo ao sentir a mão de Gilbert em seu abdômen, e sorriu mais ainda ao ver Gilbert abaixar a cabeça até próximo da sua barriga e dizer:

- E aí, minha princesinha linda. Aqui quem fala é o seu papai. Quero que cuide bem da mamãe quando eu não estiver por perto, porque essa mulher maravilhosa que você vai conhecer em breve merece todo o nosso amor e cuidado. - E para completar, Gilbert deixou um beijo na barriga dela sobre a blusa fina que ela usava.

- Não creio que ela já possa te ouvir, meu amor. - Anne disse achando graça na maneira como Gilbert tentava se comunicar com a filha.

- É claro que ela me ouve. Eu tenho certeza disso. - Ele disse categoricamente.

- Se você diz. - Anne respondeu segurando na mão de Gilbert que se levantou e a puxou com ele:

- Vem comigo, vamos dar uma volta.

- E aonde iremos? - Anne perguntou surpresa com o convite inesperado.

- É um lugar que eu tenho certeza que você ama assim como eu.

Assim, Anne apenas concordou, não fazendo mais nenhuma pergunta, pois conhecendo Gilbert, ela sabia que ele não lhe diria até que chegassem lá, então, apenas o seguiu silenciosamente.

GILBERT

Gilbert dirigia o carro vagarosamente, pois as estradas que levavam até onde queria ir com Anne não estava em muito boas condições, além disso, havia muitas pedras e cascalhos que poderiam tornar aquela pequena viagem em algo perigoso para sua noiva grávida de quase três meses.

Ele observou Anne sentada a seu lado em silêncio total e perdida em um daqueles seus momentos no qual ela adorava analisar tudo o que se passava ao seu redor, mas, sem de fato dizer o que estava pensando. Isso lhe deu mais oportunidade para estudá-la com mais atenção e ponderar com cuidado sobre tudo o que tinham conversado naquela manhã. Ele não tivera intenção de ouvir o que ela estava contando para Mary. Aquilo acontecera por puro acaso, mas, Gilbert não se arrependia de ter parado na porta no instante em que Anne começara a falar sobre os seus sentimentos no dia de sua cirurgia, e nos dias em que ficara inconsciente, porque fora assim que descobrira quanta coisa sobre aqueles dias ele ainda ignorava.

Anne passara mais uma vez pelo inferno por sua culpa, e ele sequer lhe perguntara como ela tinha se sentido em sua ausência. Ele se sentira tão aliviado por estar de volta inteiro e sem sequela nenhuma, que se esquecera da mulher que ficara a seu lado integralmente, e ouvindo a história toda pelos lábios de Anne foi que Gilbert percebera o tamanho do seu egoísmo, e ele era egoísta em muitos momentos, não era tão egocêntrico assim que não conseguia admitir aquilo para quem quisesse ouvir. Embora Anne dissesse que não o via desse modo, ele sabia que ela dizia isso porque sempre que olhava para ele, Anne o fazia com os olhos do amor, e como ele mesmo dissera a ela no outro dia, quando se amava alguém como os dois se amavam, os defeitos passavam a ser invisíveis aos olhos, tornando-se parte da pessoa em questão, e por isso não eram mais vistos como defeitos. Contudo, Gilbert pensava que vinha melhorando com bastante esforço, era verdade, porém, Anne o ajudava diariamente nessa tarefa sem o perceber.

Gilbert subestimara a força dela, e sua capacidade de superação. Ele a virara se transformar através dos anos da garotinha assustada e tímida, naquela mulher incansável e decidida, mas, nunca pensara que sua força ia além disso, e como se enganara. O fraco ali era ele, enquanto sua noiva era uma fortaleza inteira, e ele sempre precisaria dela a seu lado e não o contrário.

Como se pressentisse que Gilbert estava pensando nela, Anne desviou os olhos da paisagem e os fixou nele. O sorriso que surgiu em seus lábios foi incrível, assim como o brilho que iluminava todos o seu rosto. Ela estava mais bela agora com a gravidez, porque a tristeza que ela carregara por meses fora embora e em seu lugar estava aquela Anne de antes, radiante, cheia de vida, e encantadora. Uma flor agreste em meio a um deserto, ela transformara cada pedra em rosas sem espinhos, e infinitamente perfumadas, e ele esperava que essa nova Anne com a essência espiritual da de antigamente jamais precisasse retornar ao seu exílio interior.

- Estamos longe ou perto, Gilbert? Eu não queria perguntar, mas, você anda tão cheio de mistérios ultimamente. Primeiro foi o dia em que compramos o berço para o nosso bebê e agora mais um mistério. Onde está me levando, Gilbert Blythe? - ela perguntou parecendo impaciente, e ele riu ao pensar que ela nunca seria boa em esconder sua ansiedade. Anne Shirley era curiosa demais para se contentar com meias palavras, por isso, ele respondeu:

- Não há mistério nenhum. Eu pensei que depois de rodarmos alguns quilômetros, você mesma reconheceria o caminho.- Anne olhou para ele como se tentasse entender o que ele queria dizer com aquilo, e então, como se recordasse de algo, ela olhou ao redor, e disse desconfiada:

- Você está me levando para a praia?

- Sim. Pensei que nunca descobriria. - Gilbert disse com um olhar maroto e Anne balançou a cabeça inconformada por não ter percebido antes.

- Gilbert, não creio que hoje seja um bom dia para nadar, e eu nem trouxe roupa de banho. - Ela disse assim que Gilbert fez a última curva e estacionou na entrada da praia.

- Eu não te trouxe aqui para nadar.

- Ah, não? Então, por que exatamente estamos aqui? - ela perguntou ainda mais curiosa.

- Vem comigo. - Ele disse puxando-a pela mão. - Ou será que quer que eu te carregue no colo até lá? - ele perguntou percebendo-lhe a hesitação.

- Não é necessário, meu amor. Acho que consigo caminhar com minhas próprias pernas. - Ela respondeu ao olhar de desafio que Gilbert lhe lançou.

Eles caminharam por alguns minutos até alcançarem a faixa branca que levava até à margem, e pararam na areia, observando o mar que naquele dia não estava tão calmo como na maioria das vezes em que estiveram ali. As ondas estavam maiores, e se quebravam nas pedras com violência, isso queria dizer que uma tempestade logo chegaria em Avonlea. Anne olhou para Gilbert e disse:

- Por que estamos aqui, Gilbert?

- Você me disse ontem que queria se casar na praia, então, resolvi te trazer aqui para que você me dissesse com certeza se é isso mesmo o que quer. - Anne o olhou espantada antes de dizer:

- Então, você estava me escutando quando eu te disse isso?

- É claro que eu estava escutando. Nada que vem de você me passa despercebido. - Gilbert disse abraçando-a pela cintura.

- Eu pensei que estava mais interessado no que fizemos depois dessa nossa 'conversa". - Anne disse insinuante.

- E estava, mas, isso não quer dizer que não ouvi o que me disse antes. Você falou mesmo sério quando disse que quer se casar aqui? - Gilbert perguntou apoiando seu queixo no ombro de Anne.

- Sim. Este lugar tem muito de nossa história, então acho justo que o desfecho dela seja também contada aqui.

- Não acha isso significativo?

- O que?

- Estarmos de volta a esse lugar com você grávida, depois de quase um ano atrás que estivemos aqui e você me contou que tinha perdido o bebê?

- É verdade. Eu disse que esse lugar é mágico. É como se cada onda que chegasse até a margem escrevesse na areia um pedaço das nossas histórias. - Anne disse se enrolando nos braços de Gilbert como um caracol.

- Eu também sinto isso. Todos os nossos momentos importantes de alguma forma estão ligados a esse lugar, e também penso que aqui seria o lugar ideal para o nosso casamento.

- Acha que tia Josephine vai concordar em fazer nosso casamento aqui? - Anne virou o rosto para Gilbert e seus olhos se encontraram naquela comunicação que somente o dois conheciam tão bem.

- Eu acho que ela vai concordar com o que você quiser, meu amor. É o nosso casamento, e se você vai ficar feliz em se casar aqui, é lógico que ela vai concordar. Você sabe que tia Josephine te enxerga como um a filha. - Gilbert disse beijando-a no topo da cabeça.

- Eu também a amo muito. Você sabia que foi ela que me deu conselhos valiosos a seu respeito? - Gilbert a olhou sorrindo e perguntou:

- É mesmo? E o que ela te disse?

- Foi logo no início quando começamos a nos envolver e eu tinha sérias dúvidas se devia me entregar ao que sentia por você, e ela me convenceu que eu deveria escutar a voz do meu coração, e aqui estamos nós, a um passo do nosso casamento, e com um bebê a caminho.

- Então, eu tenho mais a agradecer a ela do que pensava. - Gilbert disse puxando Anne para uma pedra, e se sentando com ela em seu colo.

- Tia Josephine é uma mulher para ser admirada. Eu ficarei feliz se um dia for metade da mulher que ela é.- Anne disse colocando seus braços ao redor do pescoço de Gilbert.

- Você não precisa ser como tia Josephine, minha querida, pois já é incrível sendo você mesma. E tenho todos os meus amigos para provar o que eu digo. - Gilbert beijou-a na ponta do nariz, o que fez Anne sorrir.

- Já está me bajulando de novo. - Anne falou.

- Eu não estou dizendo nenhuma mentira. Você sabe que sou seu maior fã. Não existe mulher nenhuma como você meu amor. Então em alguns anos você deixará tia Josephine no chinelo.

- Tia Josephine é insubstituível, meu amor.

- Não para mim, e tenho certeza de que ela não beija como você. – Seus lábios roçaram os de Anne, e o gosto dela era sempre o melhor de todos que o fazia querer beijá-la para sempre. Eles ficaram por alguns minutos trocando vários beijinhos rápidos, e então Gilbert disse;

- Quando você tiver nossa filha, quero trazê-la aqui, e apresentá-la a esse lugar incrível, pois quero que ela entenda desde cedo o que esse lugar significa para nós dois.

- É uma ideia incrível, Gilbert.- Anne esse com admiração.- ja que estamos aqui, queria te perguntar se já pensou em um nome para nossa filha?- os olhos e Gilbert se perderam por um momento na movimentação da ondas que estavam cada vez mais agitadas enquanto uma brisa mais forte começava a soprar.

- Tem alguma sugestão?

- Bem, eu tenho pensado em um nome que vi uma vez em um livro. - Anne disse um tanto tímida.

- Então, me diga, pois agora me deixou curioso.

- Rilla. O que acha?

- Amor, eu adorei. Acho que vai combinar perfeitamente bem com ela. - Gilbert disse entusiasmado.

- Então, temos um nome? - Anne perguntou ansiosa

- Sim. Ela vai se chamar Rilla. – Gilbert se abaixou como fizera naquela manhã e disse perto da barriga de Anne. – Ouviu isso, princesinha? Você vai se chamar Rilla. Foi a mamãe que escolheu esse nome incrível para você.

- Você gostou mesmo, Gilbert? Se quiser podemos pensar em outras opções. - Ela disse parecendo incerta sobre a escolha.

- Eu amei, querida. O nome da nossa bebê vai ser Rilla, e é assim que vou chamá-la toda vez que quiser conversar com ela. - Gilbert disse colocando uma mecha de cabelo de Anne atrás da orelha dela.

- Obrigada. - Anne disse beijando-o nos lábios em seguida.

- Não tem que me agradecer. Eu escolhi o berço e você o nome. Eu acho bastante justo.

- Não acho que devemos voltar para casa? Parece que uma tempestade vem por aí, e não quero que você dirija no meio dela.

- Está bem. Vamos para casa.- Gilbert concordou, e de mãos dadas eles caminharam até o carro, e em pouco tempo já estavam entrando na fazenda dos Blythes. Assim que pisaram na varanda, a chuva começou a cair, primeiro em pingos grossos, e depois torrencialmente. Eles se sentaram um pouco na varanda para observar aquele fenômeno da natureza que sempre agradara aos dois, mas, que em Avonlea era muito melhor do que quando observavam a chuva cair do seu apartamento em Nova Iorque.

- Você ainda não me disse. - Anne falou deitando sua cabeça no ombro de Gilbert.

- Não disse o que? - Gilbert perguntou distraidamente, enquanto aspirava o perfume dos cabelos dela.

- O que quer de prêmio para a aposta que ganhou de mim.

- Ainda está pensando nisso? - Gilbert perguntou com um sorriso.

- É lógico que sim. Eu propus a aposta. Você ganhou, então eu tenho que cumprir com minha parte no acordo. - Anne disse olhando diretamente para ele.

- Você parece mais ansiosa do que eu pelo pagamento dessa aposta. - Gilbert disse esfregando a ponta do seu nariz no dela.

- Você não vai mesmo me dizer, não é? Vai continuar me enrolando com isso até que me tenha implorando para saber o que quer.

- Prometo que te digo assim que chegarmos em Nova Iorque. - Ele disse esfregando o polegar nos lábios macios de Anne.

- Promete mesmo? - ela insistiu.

- Prometo. Agora me deixe fazer o que estou desejando desde que chegamos aqui. - E antes que Anne dissesse qualquer coisa, Gilbert capturou seus lábios deixando-a quase sem fôlego com o beijo que trocaram.

- Que tal um banho agora? - ele sussurrou em seu ouvido.

- Gilbert, estamos quase na hora do almoço. Não acha que devemos deixar isso para mais tarde.

- Não acho que Mary vai se importar se nos atrasarmos um pouquinho. - Ele disse mordendo a pontinha da orelha de Anne que não precisou de mais nenhum incentivo para aceitar o convite de seu noivo.

- Você é insaciável, Gilbert Blythe. - Anne disse rindo baixinho.

- Vai dizer que você não adora esse meu lado atrevido?

Anne balançou a cabeça em negativa e apenas sorriu, deixando que Gilbert a levasse para cima e provasse que estava mentindo.

No andar de cima onde ficava o quarto de ambos, Gilbert encheu a banheira de água quente, acrescentou sais de banho enquanto Anne observava todo o movimento que ele fazia com seus olhos brilhando de expectativa. Aqueles momentos entre os dois eram sempre assim, cheios de desejo, paixão e uma cumplicidade que todos os casais deveriam ter, mas, apenas uma minoria conseguia torná-lo bem mais do que apenas troca de carícias. Gilbert estendeu a sua mão, Anne a segurou com força, e logo estava nos braços dele.

Seus olhares se acariciaram dando permissão um ao outro para iniciarem aquele instante de intimidade máxima entre um homem e uma mulher. Anne levou as mãos aos botões da camisa de Gilbert, e os desabotoou um a um, até chegar ao último, jogando a camisa dele em um canto qualquer do banheiro, enquanto seus dedos delicados deslizavam pelos músculos dos braços de seu noivo, sentindo-lhe a rigidez e firmeza. Então, suas mãos passearam até o peito nu de Gilbert, onde ela apertou e arranhou suavemente, observando a expressão de Gilbert que respirava cada vez mais rápido, e suas pupilas estavam maiores também, denunciando sua excitação que aumentava a cada segundo.

Delicadamente, ele fez Anne se virar deixando-a de costas para ele, e assim abriu todos os botões da blusa dela, enquanto ele lhe mordicava suavemente a nuca, depois correu seus lábios pela pele das costas desnuda, fazendo Anne se encostar nele para se apoiar, pois suas pernas enfraqueceram de repente. Os dedos de Gilbert não pararam por ali, e continuaram a descer até que ele encontrou o zíper da calça de Anne na parte frontal da peça, e o abriu rapidamente, fazendo com que a calça deslizasse até os pés de Anne, que terminou de tirá-la com um único movimento , e a chutou para longe, enquanto Gilbert fazia o mesmo com a dele. Logo, Gilbert a fez ficar de frente para ele novamente, e seus lábios encontraram os dela de maneira furiosa faminta e necessitada, ao mesmo tempo em que suas mãos a livravam da lingerie azul de renda que ela usava, e ele do restante de suas roupas íntimas.

Deste modo, eles entraram na banheira juntos, onde um mundo de espuma e amor os esperava. Gilbert se sentou no fundo com as costas apoiadas na borda, e ajudou Anne a se sentar em seu colo, acomodando assim seu corpo sobre o dele. Os dedos de Gilbert traçaram uma linha imaginária nas costas de Anne, fazendo uma subida e descida tão lenta, que ela arfou enquanto sua pele era coberta por arrepios sucessivos. Em seguida, ela se aproximou dele, pegou o rosto do rapaz entre as mãos, e deixou que seus lábios doces roçassem a testa de Gilbert. Logo depois, ela desceu para as bochechas dele, alcançou seu queixo macio, onde deixou uma fileira de beijos, e somente então, ela acabou com a espera ansiosa de Gilbert para que seus lábios se grudassem novamente, e provassem tudo o que tinham direito um do outro.

Os toques se tornaram urgentes, como se eles não conseguissem ter um do outro tudo o que desejavam. As carícias de Anne em seu corpo, faziam Gilbert querê-la mais do que deveria e por várias vezes ele chegou ao limite de si mesmo, mas refreou-se no último minuto, pois ele queria Anne com ele quando atingissem o ponto máximo de seus corpos. Ela também delirava sobre o toque dele, e a água quente se tornou torturante com tanto calor que suas peles compartilhavam, mas, ao mesmo tempo era tão excitante com as espumas que os cobriam completamente. Anne se movimentou em cima dele, e Gilbert mordeu os lábios com força, silenciando o gemido que subiu à sua garganta. Seu autocontrole estava acabando, ainda assim, suas mãos não paravam de excitar Anne que com seus olhos azuis enevoados pelo desejo, mostrou-lhe que como ele, ela pouco se controlava. Assim, com seu olhar no dele, a ruivinha lhe deu permissão para que ele se libertasse, e a levasse com ele naquele ponto onde tudo mais se transformaria em uma onda crescente de loucura e paixão.

Seus corpos unidos dançaram juntos naquele vai e vem sincronizado que intensificava seu desejo, e os aproximava de sua libertação total. Gilbert se perdeu naquele corpo feminino que o seguia a cada novo suspiro, e a cada gemido que escapava de seus lábios sem que ele conseguisse obter algum tipo de controle de si mesmo, pois quando ele e Anne se tornavam um só, não havia nenhuma barreira que os impedisse de ter a satisfação completa de seus sentidos. Era assim que se reconheciam parte um do outro, era assim que seus corações se falavam por meio de suas próprias batidas, era assim que aquele amor se consagrava no ato mais lindo e sagrado do mundo, pois o que tinham era uma comunhão total de quem eram, do que desejavam e de como se pertenciam e se pertenceriam para sempre. Então a explosão do mais lindo arco íris aconteceu, e Anne se agarrou a Gilbert, descansando sua cabeça no ombro dele, enquanto os lábios dele se mantinham colados em sua testa.

Um hora depois, quando desceram para o almoço, o semblante de ambos não escondia como se sentiam relaxados e em paz, e Mary sorriu para si mesma ao ver o rosto corado de Anne e os olhos brilhantes de Gilbert que a fizeram pensar o quanto era bom ser jovem e estar apaixonado.

GILBERT E ANNE

O dia seguinte amanheceu sem chuva, para o alivio de Anne que já se perguntava se teriam que enfrentar uma hora de estrada lamacenta, e depois mais quatro de trem até Nova Iorque no meio de um temporal. Eles acordaram com o raiar do dia, arrumaram suas coisas, e depois foram até Green Gables falar com Matthew e Marilla como tinham prometido. E mais uma vez a sua antiga protetora lhe surpreendeu dizendo:

- Espero que volte logo, querida Anne. Já estamos com saudades. - Ela enxugou os olhos que marejavam em seu velho avental e Anne respondeu com um sorriso doce:

- Estamos pensando em fazer o casamento em Avonlea. Especificamente na praia, então, creio que se tudo sair como planejamos, em dois meses estaremos de volta para o meu casamento.

- Que alegria, saber disso, meu amor. - Matthew disse abraçando-a pelo ombro com carinho.

- Eu também espero que quando sua filha nascer, você a traga para ser batizada em Green Gables, e se me permitir, eu farei a roupinha que ela usará nesse dia.- Anne ficou ainda mais tocada por essas palavras de Marilla que lhe mostravam a sua real aceitação do bebê que Anne esperava, e isso ela realmente não esperava que acontecesse de pronto, mas, estava feliz por não mais carregar um peso no coração toda vez que pensava que seu bebê poderia ser rejeitado pela única mulher que conhecera como mãe, e Marilla surpreendente como era não lhe dera as costas e nem a decepcionara.

- É claro, e gostaria de convidá-la para ser a madrinha dela, você aceita?

- Será uma honra enorme ser madrinha de sua filha. - Marilla respondera lhe dando um abraço mais do que caloroso.

Depois dessa despedida tão reconfortante, eles se encaminharam para a estação de trem, e nunca foi tão difícil para Anne voltar para Nova Iorque e deixar tudo o que amava para trás mais uma vez. Ela gostava da vida que tinha com Gilbert na grande metrópole, mas, depois dessa visita rápida que fizera a Green Gables, ela percebeu que nunca sentiria que Nova Iorque era seu lar como sentia que suas raízes estavam em Green Gables, e esperava que um dia pudesse voltar a viver ali definitivamente.

Quando chegaram a Nova Iorque já estava perto da hora do almoço, e assim que entraram no apartamento, Gilbert deixou as bagagens no quarto, e foi direto para a cozinha preparar a refeição que comeriam, pois Anne não tinha tomado o café da manhã, por conta dos enjoos que a acometeram ao acordar, e durante a viagem ela continuara reclamando que não estava se sentindo bem, e ele sabia que no estado em que ela se encontrava, um jejum muito longo só pioraria o quadro todo, por isso, ele preparou uma sopa leve na esperança de que ela conseguisse se alimentar corretamente dessa vez.

Porém, durante todo o almoço, ela apenas brincara com a sopa, e Gilbert começou a ficar preocupado pelo ar de tristeza que Anne exibia desde que tinham colocado os pés na estação de Nova Iorque.

- Anne, a comida está ruim? - ele perguntou em uma tentativa de iniciar uma conversa com ela e descobrir porque ela parecia estar chateada, quando na verdade, o seu medo de que Marilla ficasse zangada com a gravidez fora infundado.

- Não, por que?

- Bem, desde que coloquei esse prato na sua frentes, você só engoliu duas colheradas, o que me faz pensar que perdi meus dotes culinários, ou o seu paladar se tornou mais refinado e você não aprecia mais minha comida como antes.- ele disse em tom de brincadeira.

- Não diga bobagens. Sua comida está ótima. - Ela respondeu sem sorrir da piada.

- Então, por que está com essa carinha tão triste? Pensei que agora com o problema de Marilla resolvido, você respiraria mais aliviada e começaria a curtir nossa filha com mais calma e sossego.

- Desculpe-me, Gilbert. Eu estava apenas pensando, porém não se preocupe, são bobagens da minha cabeça. - Ela disse segurando na mão dele por cima da mesa.

- O que dissemos sobre esconder o que pensamos e sentimos? Não quero mais segredos, Anne. Diz logo o que está te deixando triste assim. -ele fez um carinho em seu pulso e ela respondeu suspirando alto:

- Eu estava apenas pensando no quanto sinto falta de morar em Avonlea. Não quero que me leve a mal, e nem pense que não gosto da nossa vida aqui, mas, tenho saudades de Green Gables, de conversar com Diana sempre que quiser, de caminhar na praia como fizemos ontem, de ver Mary cozinhar suas receitas deliciosas, ver Shirley crescer, e caminhar pela fazenda como quando eu era somente uma adolescente inconsequente e que falava demais.

- Eu entendo, amor. Mas, você sabe que é temporário. Quando eu me formar, vamos voltar para casa definitivamente. - Gilbert disse beijando-lhe as mãos.

- Tem certeza que é isso o que quer? Você não acha que Nova Iorque te dá mais oportunidades de ter sucesso em sua carreira do que uma cidade pequena como Avonlea?

- Eu não quero ser médico para ter sucesso na vida Anne. Eu quero ser médico, porque meu sonho é ajudar pessoas, e Avonlea é o nosso lar de verdade. Nossos antigos amigos estão lá, nossa casa dos sonhos está sendo construída lá, e quero que nossa filha cresça em um ambiente onde ela sinta que faz parte de algo verdadeiro, onde ela possa ficar suas raízes como nós fizemos e que aprenda o que é ter um lar de verdade.- Anne olhou admirada para o seu noivo e pensou que Gilbert era mesmo uma rapaz extraordinário. Ela tivera medo que Nova Iorque o seduzisse com suas belas luzes coloridas, e o fizesse desejar um futuro diferente do que tinham planejado, mas, Gilbert Blythe mais uma vez provara que como ela, ele era um rapaz do campo, e o seu coração sempre pertenceria aquelas planícies verdes onde seu pai muito antes dele escolhera para chamar de lar.

- Acha que seu pai ficaria feliz com o nosso bebê? - Anne perguntou de repente.

- Eu acho que ele iria ser um avô babão pior que o Matthew. Ele adorava crianças, Anne, e apesar de nunca termos conversado sobre isso, eu tenho certeza de que ele iria amar nossa filha imensamente.- ele disse com os olhos brilhando como se alguma lembrança de um sonho distante que tivera o fizesse sentir que seu pai estava por perto de alguma maneira.

- Eu gostaria muito de tê-lo conhecido melhor. - Anne disse e Gilbert respondeu;

- Ele teria amado te conhecer também, principalmente por você ser uma Cuthbert. - Eles sorriram um para o outro sabendo bem o porquê daquelas. palavras de Gilbert

- E agora futura mamãe, que tal comer essa sopa deliciosa que te preparei?

- Está bem. – Anne respondeu, e assim ela comeu todo o conteúdo de seu prato, fazendo Gilbert se sentir satisfeito pela conversa que tiveram tão abertamente sobre os seus planos futuros. Não restava nenhuma dúvida de que ele queria ser um médico do interior e não de uma cidade grande. Sua necessidade de vir até Nova Iorque fora um sonho antigo que tivera com seu pai, e quando ele conseguira passar em uma das mais conceituadas faculdades na área de Medicina dos Estados Unidos, ele sentira que estava honrando o nome de seu pai, mas, nem por um minuto ele pensara em ficar ali para sempre. Seu lar era Avonlea, e era lá que ele queria ter seu consultório e atuar como médico. Aquelas pessoas que viviam lá o conheciam a vida inteira, e queria recompensá-las por terem-no tratado como um filho desde que seu pai o levara para viver naquelas terras tão gentis. Ele era parte daquela comunidade, assim como Anne, e era lá que queria edificar seu lar e criar a sua filha junto com a mulher que fizera dele o que ele era agora, um homem seguro do que queria, pois ele realmente tinha encontrado o seu caminho e nunca mais se perderia dele.

No fim da tarde, Jonas e Sharon apareceram para trazer Milk para casa. A amiga tinha se oferecido para ficar com ele no fim de semana anterior quando Anne e Gilbert viajaram para Avonlea, e agora entregavam seu cãozinho feliz para os seus respectivos donos.

- Espero que ele não tenha dado trabalho. - Anne disse acariciando a cabecinha peluda de Milk.

- Não, ele é um doce. Fico com ele quantas vezes precisar. - Sharon disse já se mostrando completamente apaixonada pela bola de pelo branca.

- Obrigada. - Anne disse. - Não querem entrar?

- Claro. - Jonas respondeu apertando a mão de Gilbert. - Ei, Blythe, como foram de viagem?

- Bem. Conseguimos rever nossos antigos amigos, Anne visitou os pais dela adotivos, passeamos na praia. Foi uma viagem muito boa, na verdade.

- Nós íamos começar a preparar o jantar. Não querem ficar e comer com a gente? - Anne perguntou.

- Nós adoraríamos, mas, só se vocês permitirem que eu e a Sharon providenciemos tudo. - Jonas disse com um sorriso.

- Você vai cozinhar? Não sabia que era bom no fogão, Jonas. - Gilbert disse rindo e Jonas respondeu:

- Não zoa, Blythe. Eu estava pensando em comprar pizza. Você me disse outro dia que a Anne adora a pizza que fazem aqui em frente. Pensei em ir lá com a Sharon e comprar duas pizzas para nós. O que acham?

- Eu acho uma excelente ideia. Mas, eu vou com vocês. Passei muitas horas inativas dentro de um trem, e sinto que preciso caminhar um pouco. - Anne disse animada com a ideia.

- Está bem. Vocês podem ir comprar as pizzas. Enquanto isso, eu preparo um suco natural para nós. - Gilbert disse concordando.

Logo, Anne, Jonas e Sharon já tinham saído do prédio e caminharam até o outro lado da rua, onde se localizava a pizzaria da qual Jonas mencionara. A fila naquele dia não estava muito grande, mas o aglomerado de pessoas fazia o lugar que não era muito grande ficar abafado, por isso, Anne pediu para que Sharon esperasse com ela lá fora, enquanto Jonas ficava lá dentro para fazer os pedidos e esperar que as pizzas ficassem prontas.

Assim, as duas amigas ficaram em frente da pizzaria esperando por Jonas enquanto conversavam animadamente sobre a viagem de Anne para Avonlea. De repente, uma voz interrompeu a conversa de ambas ao chamar o nome de Anne, e a ruivinha se sentiu gelar ao ver que era Roy Gardner que se aproximava. Ela apertou a mão de Sharon nervosamente enquanto a amiga retribuía tentando lhe dar tranquilidade.

- O que faz aqui, Roy? - Anne perguntou assim que ele se aproximou dela e de Sharon.

- Eu preciso falar com você. - O jeito desvairado dele olhá-la fez Anne engolir em seco. Ele parecia mudado. O rapaz bem apessoado que ela conhecera logo que chegara ali parecia ter desaparecido. Os cabelos estavam bem mais compridos e estavam precisando de um bom corte. Roy tinha emagrecido, a pele do rosto estava pálida, mas, de tudo aquilo, o que mais a impressionou foram os olhos avermelhados e injetados como se ele não dormisse a dias, porém quando ele chegou mais perto ainda, ela sentiu seu hálito fétido de bebida, e tarde demais. Anne percebeu que ele estava completamente bêbado.

- Não temos mais nada para conversar. Vá embora. - Anne disse tremendo da cabeça aos pés.

- Você ouviu o que ela disse, Roy. Vá embora. - Sharon disse reforçando as palavras de Anne.

- Fique fora disso, garota. A conversa aqui é entre mim e Anne. Não se meta! - ele disse com a voz pastosa cheia de grosseria.

- Acho melhor entrarmos, Anne. - Sharon disse com a voz controlada.

- Acho que tem razão. - Anne respondeu e se virou junto com Sharon para segui-la para dentro da pizzaria quando sentiu Roy segurá-la pelo pulso, e trazê-la para ela ele sem a menor dificuldade.

- Você não vai a lugar nenhum sem antes falar comigo.- Roy disse, e Anne não pôde deixar de notar suas narinas dilatadas e a veia que pulsava em sua têmpora mostrando o quanto ele estava nervoso, e de repente, ela percebeu o perigo que o rapaz representava para ela e sua filha no estado em que se encontrava, por isso, ela tentou se libertar dele dizendo:

- Solte-me, Roy, por favor.

- Não sem antes falar comigo. - A voz dele soou ameaçadora e o coração de Anne tremeu, mas, ela achou forças para dizer:

- Já disse que não tenho nada para falar com você, por favor, me deixe ir- ela estava entrando em desespero, e olhou para Sharon pedindo ajuda. A amiga se aproximou e gritou:

- Deixe-a ir, Roy. Não vê que ela não quer falar com você?

- Saia daqui sua intrometida. Vou deixar, Anne ir quando eu quiser!- Em sua ira insana Roy não percebeu que afrouxara o aperto no pulso de Anne, e ela aproveitou para escapar dele, mas, não tinha dado nem dois passos quando ele a garrou de novo, e em seu desespero para fugir dele , ela pisou em falso e caiu sentada no meio da calçada. Imediatamente, ela levou as mãos a barriga, tentando proteger seu bebê. Roy se aproximou dela e ela se encolheu toda, com nojo da presença dele e do hálito alcoolizado que estava lhe dando enjoos.

- Anne, me perdoe, eu não quis machucar você. - Ele disse com a voz trêmula e arrastada.- Anne não respondeu, mas, Sharon correu para ela e deu um empurrão em Roy gritando;

-Saia de perto dela, seu animal! Não vê o que fez? – ela se virou para Anne, estendeu a mão e disse:- Venha querida, eu te ajudo. - Anne balançou a cabeça, e com lágrimas escorrendo pelo rosto ela disse:

- Não posso.

- O que foi? Está sentindo alguma coisa? - Sharon perguntou preocupada enquanto olhava para Anne que tinha os dois braços em volta da barriga. e balançava para frente e para trás enquanto continuava a chorar copiosamente.

- Por favor, chama o Gilbert. - Ela disse com a voz trêmula.

-Anne, só me diz se está sentindo alguma dor. - Sharon perguntou mais preocupada ainda.

- Eu preciso do Gilbert aqui. Por favor, traga-o para mim. - Anne disse entre lágrimas. Sharon assentiu, correu para dentro da pizzaria, e em poucas palavras contou a Jonas o que acontecera. O rapaz andou apressadamente para fora, e se aproximou de Anne que continuava sentada no meio da calçada enquanto várias pessoas estavam em volta dela.

- Anne, vamos, eu vou te levar para o hospital.

- Não. - Ela disse balançando a cabeça. – Eu não vou sem o Gilbert.

- Jonas, vá chamá-lo. Eu vou ficar aqui com ela. - Sharon disse.ao namorado que beijou Anne na testa e disse:

- Volto logo, querida.

Jonas atravessou a rua com cuidado e depois correu até o apartamento de Gilbert como se sua vida dependesse disso. Ele não quis esperar o elevador, subindo toda a escadaria até o terceiro andar o mais rápido que conseguiu, e quando por fim, bateu na porta do apartamento de Gilbert, Jonas estava quase sem fôlego. Gilbert abriu a porta com um pano de prato nos ombros e quando viu Jonas naquele estado, ele disse:

- Nossa, Jonas. O que foi? Esqueceu a carteira?

- Anne. - Foi tudo o que ele conseguiu dizer, e Gilbert nem esperou que ele dissesse mais nada, pois o rapaz sentiu seu coração se apertar no mesmo instante. Ele sequer perguntou o que tinha acontecido, pois seu instinto lhe dizia, que Anne estava em perigo , e seguiu correndo para a pizzaria com Jonas em seu encalço, e todo o caminho ele pensava." Deus, permita que ela esteja bem". Quando chegou na calçada, e viu Anne sentada no chão, com Sharon segurando sua mão, Gilbert não perdeu tempo, correu para as duas garotas, e se abaixou perto de Anne que suspirou aliviada quando o viu, atirando seus dois braços em volta do pescoço dele , chorando desesperada.

- Amor, me diga o que está sentindo? - ele falou baixinho abraçado a ela, enquanto sua preocupação chegava a um ponto que o fazia ter dificuldades para respirar de tanta ansiedade.

- Dói. - Ela disse apontando para a barriga que as suas mãos protegiam. Gilbert fechou os olhos por um instante enquanto um pensamento atroz chegava até ele deixando-o desesperado, enquanto ele orava para os céus pedindo ajuda, "Por favor, Meu Deus, não permita que isso aconteça novamente". Então, ele reuniu forças para que sua voz soasse calma, tentando fazer com que Anne confiasse no que ele lhe disse a seguir:

- Fica calma, amor. Eu vou te levar para o hospital. - Gilbert pegou-a no colo enquanto Jonas chamava um táxi, e Gilbert sentiu seu coração se partir ao ouvir Anne dizer:

- Por favor, Gilbert. Eu não quero perder o nosso bebê de novo. Salve a nossa Rilla.

- Confie em mim. Eu estou aqui dessa vez. Você não vai perder nossa filha. Acredita em mim? - ele perguntou acariciando-lhes os cabelos.

- Eu acredito. - Anne disse com seus olhos azuis cheios de lágrimas, o que fez o peito de Gilbert se contrair em agonia. Ela não merecia aquilo, ambos não mereciam. Ele precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa para que Anne não passasse pela dor de perder um filho mais uma vez. Assim que entraram no táxi, Gilbert deu o endereço do hospital ao motorista, enquanto acomodava Anne em seu colo, que deitou a cabeça em seu ombro soluçando baixinho.

- Por favor, querida. Não fique assim. Vai ficar tudo bem. Eu prometo. - E enquanto dizia isso, Gilbert percebeu que não estava apenas tentando convencer Anne de suas palavras, e sim, tentava com todas as forças convencer a si mesmo.

-

-Espero que não me odeiem por esse final, mas, como eu disse antes, isso era algo que eu já tinha em mente , mas, prometo não deixá-los em suspense por muito tempo. Até o próximo capítulo. Beijos

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