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Capítulo 11- Balé secreto

                                      


"Prometa-me banhos de lua,

E manhãs de sol reluzente.

Prometa-me tardes mornas

E preguiçosas,

E noites ardentes.

Banha-me em arco-íris

Para acabar com minha amargura,

E em troca eu te darei

"Um futuro repleto de ternura."

Rosana

ANNE

- Anne, Cole e Diana estão esperando por você, já está pronta?- a menina ouviu Marilla dizer ao pé da escada.

- Estou quase pronta. Só preciso calçar os sapatos. - respondeu Anne, sentindo um pouco de preguiça de se levantar tão cedo.

Era o primeiro dia de aula, depois do período da colheita e Anne estava ansiosa e receosa ao mesmo tempo. Sabia que teria que confrontar Ruby por causa de seu relacionamento com Gilbert, e não tinha a menor ideia de como ela reagiria, porém, não podia adiar mais aquela conversa, uma vez que não desejava ficar escondendo o tempo todo que estavam juntos, pois não era justo nem com Gilbert e nem com ela mesma.

Não ia ser fácil. Três anos de amor platônico iam pesar entre elas e talvez sua amizade jamais fosse a mesma. Diante daquele pensamento Anne se entristeceu. Gostava sinceramente de Ruby e não queria perdê-la, mas também não queria se afastar de Gilbert, pois ele tinha se tornando uma parte importante da vida dela e não estava disposta a desistir do menino com facilidade.

Teria que encontrar uma maneira de falar com Ruby sem magoá-la demais, explicando como as coisas tinham acontecido, só esperava que Josie Pye não tivesse inventado mil histórias, estragando irremediavelmente a chance que Anne tinha de se redimir com a menina.

Não tivera intenção de quebrar seu acordo sobre Gilbert, mas não tivera como evitar. Ele entrara na vida dela feito um furacão, arrasando completamente com todas as barreiras que ela construira entre os dois, deixando-a completamente vulnerável aos seus encantos.

- Anne, você já está atrasada. Desça logo, por favor. - era Marílla de novo.

- Já estou descendo, Marilla. - afastou os pensamentos que a estavam deixando nervosa, pegou seu material e correu escada abaixo ao encontro de Diana e Cole.

- Então teremos o prazer de sua companhia hoje, Cole?- Anne sorria para o amigo.

- Achei que seria interessante visitar a escola novamente. É sempre enriquecedor voltar as origens. - respondeu o menino com ar divertido.

- Sábias palavras meu amigo. Parece que acordou espirituoso hoje. Posso saber qual o motivo dessa sua súbita inspiração?

- Acho que os ares de Avonlea me deixam assim, especialmente porque tenho a companhia de senhoritas tão belas.

- Vocês dois estão me deixando com dor de cabeça com essa troca de palavras. Tanta sabedoria a esta hora da manhã me soa um tanto quanto indigesta. Não consigo acompanhar vocês dois. Podemos falar em uma linguagem normal pelos próximos minutos?- reclamou Diana, olhando de um para outro.

- Ora, Diana, estamos só brincando. Não fique brava. Eu e o Cole sempre falamos dessa maneira quando estamos juntos. - explicou Anne, passando um braço ao redor da cintura da menina.

- Bem, Cole é um artista talentoso, e você conhece tanta coisa, já leu tantos livros, é cheia de qualidades. Eu me sinto tão comum e idiota quando estou perto de vocês.

- Que bobagem, Diana. Você é uma menina maravilhosa. - disse Cole, afagando os cabelos negros de Diana.

- Quem disse que você é comum? Se esqueceu de que é uma pianista incrível? Eu jamais seria capaz de tocar qualquer instrumento, sou desajeitada demais. – elogiou-a Anne.

- Obrigada, Anne. Às vezes me sinto tão medíocre. Odeio essa sensação. - confessou Diana.

- Não diga besteiras, você é minha melhor amiga e eu te adoro. – disse Anne, beijando a bochecha da menina. – Você e o Jerry parecem estar se dando bem. Sempre que podem estão juntos. - comentou a ruivinha mudando de assunto.

- Sim, Jerry tem se mostrado um namorado muito carinhoso. Me chama de mon'amour o tempo todo. Não é romântico? – disse Diana com os olhos brilhando.

- Bem, se quer minha opinião, me parece um tanto meloso, mas se pensar bem combina com o Jerry, já que ele é francês. - disse Anne, com certa ironia divertida.

- Não amole a menina, Anne. Eu acho muito romântico, Diana. - comentou Cole.

- Não acredito! Quando foi que você desenvolveu este espírito tão emotivo? Quero meu amigo de volta!- exclamou Anne toda dramática.

- Cale a boca, Shirley! Você já falou demais. Ou melhor, falou de menos. Não tem nada para nos contar?- Cole perguntou, arqueando uma sobrancelha.

- Eu tenho uma coisa para contar, mas não sei se é o momento propício - respondeu Anne envergonhada.

- Somos seus amigos e você pode nos contar o que quiser. Sempre vamos amar você. - Diana encorajou Anne com um sorriso.

- Está bem. Eu e Gilbert estamos nos vendo. - disse as palavras bem rápido, antes que se arrependesse.

- O que? Eu ouvi direito? Você está namorando Gilbert Blythe?- Diana olhava para Anne incrédula.

- Não disse que estamos namorando, eu falei que estamos nos conhecendo. - explicou Anne.

- Não sei por que está surpresa, Diana. Sempre soube que Gilbert era caidinho pela Anne.

- E como é ser a garota de Gilbert Blythe? – quis saber Diana.

- Diana, não exagere. Eu não sou a garota de ninguém. Não somos namorados, digamos que estamos nos adaptando um ao outro.

- Bem, Anne, namorados ou não você vai deixar a escola toda morrendo de inveja. - Diana disse muito animada.

- Você não pode contar para ninguém. Principalmente por causa da Ruby. Quero falar com ela primeiro. Prometa para mim que não vai dizer nada. - disse Anne olhando séria para a amiga.

- Prometo. Mas quero dizer que estou muito feliz. Vocês foram feitos um para o outro.

- Ora, Diana. Você e seu Romantismo. - Anne revirou os olhos, depois se voltou para Cole e disse:

- E você, Cole? Vai ficar a aula toda?- perguntou Anne.

- Não, creio que ficarei até a hora do almoço. Da última vez que estive aqui, a Srta Stacy me convidou para falar sobre técnicas de escultura na aula de artes. - explicou Cole.

- Que legal! Vou adorar aprender esse tipo de técnica com você. -disse Anne.

- Eu também. – concordou Diana.

- Obrigado. - agradeceu Cole.

Chegaram à escola e cumprimentaram alguns amigos que encheram Cole de perguntas. Em seguida, entraram juntos na sala de aula e alguns rostos se viraram para vê-los, e em meio a tantos olhares que os observavam estava Gilbert.

Ele não parecia nada feliz, pois estreitava os olhos como se estivesse tentando controlar a raiva, e Anne não conseguiu adivinhar o motivo. Depois se sentou em sua carteira com Diana, e Cole foi procurar a Srta Stacy para organizar com ela a aula que daria.

Neste momento Anne olhou para trás e viu Ruby sentada com Josie. Cumprimentou-a como fazia todos os dias, e Ruby lhe sorriu suavemente.

- Oi, Ruby. Sua mãe está melhor?- perguntou com interesse.

- Está sim, obrigada por perguntar. - respondeu a menina educadamente.

- Não vai me cumprimentar, Shirley?- disse Josie com aquela voz estridente que Anne detestava.

- Oi, Josie- disse de má vontade.

- Parece que se divertiu nesta última semana. Sua aparência está ótima. - comentou Josie com uma leve ponta de ironia na voz.

- Não acho que isso seja de sua conta, Josie. Não sei por que teria que te contar alguma coisa

- Ora, Shirley. Você não perdeu esse seu ar de garota sabe tudo, não é?- Josie provocava, pois queria fazer Anne perder a compostura.

- E você não perde essa sua capacidade de ser desagradável. Por que esse interesse súbito na minha vida social? Será que se sente tão entediada com a sua vida que precisa bisbilhotar os atos de outras pessoas para se sentir melhor?

- Você acha que tenho inveja de você? Que ideia absurda! Por que eu teria inveja de você, ruiva? Olha a grande diferença que existe entre nós. - disse Josie, rindo ruidosamente.

- Tem razão, somos mesmo diferentes, Graças a Deus! – disse Anne, fazendo uma careta.

- Você se acha muito esperta, não é? Quem pensa que engana com essa carinha de santa?- ironizou Josie.

- Eu nunca disse que sou santa, mas a sua opinião não me importa, pois sei que você é o tipo de pessoa que diz essas coisas apenas para mascarar o que tem por dentro, e devo te dizer que o que você tem dentro de si é uma pobreza de espírito tão grande que dá pena, e é aí que está nossa diferença. -. Anne encerrou a conversa neste ponto, deixando Josie boquiaberta com sua franqueza e Diana orgulhosa da amiga. Será que Josie ainda não tinha aprendido que nunca ia ganhar de Anne em uma discussão? Ela era uma dessas pessoas raras que possuía uma sabedoria inata, e já em tão tenra idade conhecia bem a natureza humana, pois experimentara o melhor e o pior dela nos lares adotivos por onde passara, e Josie em sua imensa arrogância não chegaria nunca aos pés da nobreza de caráter de Anne.

Nesse momento Cole entrou com a Srta Stacy e ambos começaram a conversar com os alunos sobre arte moderna e contemporânea. A aula foi bem interessante, e os alunos fizeram muitas perguntas ao menino sobre as técnicas que ele usava em suas esculturas.

Apenas Gilbert parecia alheio a todo aquele alvoroço. Anne notou que ele estava quieto e parecia zangado, e a menina não sabia a razão daquele súbito mau humor. Tentou se lembrar se tinha dito ou feito algo que o deixara assim, mas nada lhe ocorreu. Passaram momentos incríveis juntos no dia anterior e quando Gilbert se despedira parecia tão feliz, mas agora Anne começava a ter dúvidas sobre isso. Será que ele tinha se arrependido de ter ficado com ela? Será que toda aquela paixão que Gilbert demonstrara por ela não passara de uma ilusão?

Ela olhou diretamente para o menino, mas ele parecia estar com os pensamentos em outro lugar e sequer notou este gesto de Anne. A ruivinha sentiu uma dor no peito tão grande que lágrimas escaldantes lhe vieram aos olhos, mas ela se recusou a deixar que rolassem livres por seu rosto. Respirou fundo, engoliu em seco até que aquela sensação angustiante passasse.

A aula terminou e os alunos foram para o recreio. Diana se juntou a Anne e Cole, e os três lancharam juntos. Alguns minutos depois enquanto Diana guardava sua lancheira em seu armário da sala, Cole e Anne permaneceram sentados conversando. Em um dado momento ela ouviu alguém dizer:

- Ora, se não é a aberração e sua irmã gêmea. - Anne sabia exatamente de quem era aquela voz odiosa.

- Billie Andrews! - exclamou Anne. Não era possível! Outro idiota para irritá-la. Parece que tinha sido premiada naquele dia. Primeiro Josie Pye e agora aquele menino insuportável.

- O que você quer? – perguntou Anne de mau humor.

- Queria ver de perto se Cole mudou mesmo como todo mundo está comentando. Mas pelo que vejo ele continua esquisito como sempre, nem mesmo o ar de Paris e essa sua aparência sofisticada conseguem esconder isso. - disse Billy, que riu baixinho como se compartilhasse uma piada particular consigo mesmo.

- E pelo que vejo você continua o mesmo garoto de mente tacanha que não consegue enxerga além de seu próprio nariz. - disse Cole calmamente. Pessoas como Billy não o afetavam mais.

- Como ousa falar comigo desse jeito. Quem você pensa que é?- perguntou Billy furioso.

- Alguém que você jamais será, pois não tem capacidade para isso. - disse Anne também furiosa.

Billy olhou para Anne, depois para Cole, em seguida, deu as costas para os dois e voltou para a sala fervendo de raiva. Ambos iam pagar caro por tê-lo insultado. Achavam que eram muito espertos, mas ia provar que não eram. Veriam quem riria por último.

Anne suspirou aliviada por ver Billy se afastar. Detestava aquele garoto, pois havia algo de malvado naqueles olhos que a assustavam. Nunca se sentia a vontade na presença dele e Billy pouco contribuía para isso, então preferia se manter longe do caminho dele, por medo de se contaminar com a carga negativa que ele carregava.

A menina olhou para Cole e sentiu-se feliz por ver que ele apresentava um semblante tranquilo. Em outros tempos, aqueles ataques vindo de Billy sempre deixavam os nervos de Cole em frangalhos, mas agora parecia que ele apreendera a lidar com isso sem se deixar afetar pela situação em si.

- Anne, está tudo bem?- era Gilbert que se aproximava e lhe lançava um olhar preocupado.

- Está sim. Não se preocupe. - disse ela, sorrindo para ele.

- Vi Billy Andrews falando com vocês de um jeito que me pareceu ofensivo. - Gilbert explicou.

- Realmente ele foi ofensivo, mas eu e Cole resolvemos o problema. - ao dizer isso percebeu a expressão de Gilbert mudar, e uma centelha de raiva iluminar os olhos dele.

- Ah, claro. - Gilbert falou simplesmente. - Nos falamos mais tarde então.

- Tudo bem. - respondeu Anne, vendo-o se afastar sem entender nada.

- O que deu nele?- perguntou Cole.

- Boa pergunta. Ele está agindo estranhamente desde manhã. - disse Anne aborrecida.

- Você devia falar com ele e saber o que está acontecendo. – aconselhou-a o amigo.

- Vou falar com ele mais tarde. - decidiu ela. - Bem, preciso voltar para a aula, a gente se vê depois. Até logo. - deu um beijo no rosto de Cole, se despedindo.

- Até logo, Anne. Espero que dê tudo certo com Gilbert.

- Obrigada, Cole.

Anne entrou na sala de aula e viu Gilbert conversando com Muddy. Quando ela passou o garoto fingiu que não a viu, deixando-a completamente arrasada. Não conseguia entender porque Gilbert a estava ignorando, a única explicação na qual conseguia pensar era que ele se cansara dela e agora queria mantê-la distante, evitando falar com ela diretamente.

O resto da aula demorou a passar. Anne não via a hora de correr para casa e se esconder em seu quarto para chorar. Sua garganta doía por tentar conter as lágrimas e sua cabeça pesava como chumbo. Foi com grande alivio que ouviu a campainha que anunciava o fim da aula tocar. Ela se apressou em pegar suas coisas, queria se afastar dali o mais rápido possível.

- Anne, hoje não vou embora com você. O Jerry virá me buscar e irei para casa com ele. Você se importa?- perguntou Diana toda sorridente.

- Claro que não, Diana. Vá e divirta-se. Dê um beijo no Jerry por mim. - disse ela disfarçando bem a voz para que a amiga não percebesse sua angústia.

- Então, até logo, - deu um beijo em Anne e saiu correndo até o portão de saída onde Jerry a esperava.

A ruivinha suspirou desanimada e começou a caminhar para casa. De repente sentiu alguém ao seu lado e se surpreendeu ao ver Gilbert. Ele lhe sorriu e disse:

- Posso te acompanhar?

- Claro, só que não vou para casa agora. Quero passar em meu clube de leitura primeiro. - Anne respondeu séria sem olhar para ele.

- Ótimo. Assim você aproveita e me mostra as histórias que me disse que escreve. Estou ansioso para lê-las.

- Tudo bem- ela concordou.

Que garoto mais estranho. Ela não estava entendendo nada. Ele a ignorara o dia todo e agora falava com ela como se nada tivesse acontecido. Será que ele era bipolar? Essas mudanças de comportamento de Gilbert estavam deixando-a confusa. Tinha um milhão de perguntas para fazer, mas achou melhor deixá-las de lado por enquanto, pois queria apenas aproveitar a companhia dele que naquele exato momento era tudo que podia desejar.

GILBERT

A ideia de ir para a escola naquela manhã deixava Gilbert extremamente satisfeito. Tivera uma noite memorável com Anne e a veria de novo dali a alguns instantes, e isso era algo que o fazia querer cantar, dançar, declamar poesias, tudo ao mesmo tempo.

Como sua vida mudara naqueles meses em que voltara para casa. Antes não conseguia se imaginar vivendo na pacata Avonlea novamente, mas agora era o único lugar onde queria estar, e sabia que a razão principal era Anne. Ela transformara seus dias monótonos em pura alegria, já não se importava em viver na fazenda porque sabia que a alguns passos de sua porta morava aquela ruivinha linda que o absorvia completamente. Um dia nunca era igual ao outro com Anne. Seu senso de humor era muito agradável, fazia-o rir o tempo todo, mesmo quando ela fingia que estava zangada com ele. Suas conversas eram sempre estimulantes e Gilbert jamais se sentia entediado como normalmente acontecia quando falava com outras garotas, porque Anne tinha uma conexão com as palavras que o impressionava e conversar com ela era sempre um aprendizado.

Ele tomou seu café da manhã sozinho, pois Bash se levantara ao nascer do sol para iniciar os trabalhos na fazenda. Então, o menino pegou seus livros, uma maçã para o lanche e foi direto para a escola. Assim que chegou procurou por Anne, mas percebeu que ela ainda não havia chegado. Assim, ele decidiu estudar um pouco e concentrar toda sua energia no texto complexo sobre biologia que estava a sua frente.

Alguns minutos se passaram até que Gilbert percebesse uma pequena movimentação na porta de entrada da escola. O que viu o deixou visivelmente irritado, pois lá estavam Anne e Diana em companhia de Cole. Será que aquele garoto agora ia ficar grudado em Anne como se fosse chiclete? Aquilo o incomodava muito, mas não sabia por que Cole provocava tanto sentimentos negativos nele; temia que a presença constante do amigo de Anne colocasse em risco a relação de ambos, e ele não estava preparado para perdê-la daquele jeito.

Quando estavam juntos, Gilbert podia sentir que a ruivinha partilhava de todas as emoções que surgiam entre eles, mas quando Cole estava com ela, a insegurança o torturava, pois Anne demonstrava abertamente o quanto ficava feliz por estar junto de seu amigo, tocando-o e abraçando-o a todo momento, e ela nunca agia desta forma com Gilbert.

O ciúme era um péssimo conselheiro, Gilbert sabia bem disso, mas não conseguia evitar senti-lo corroendo suas entranhas, pois doía demais ver Anne tão próxima de Cole e não poder abraçá-la mostrando para todo mundo que ela era sua garota.

Gilbert tentou não olhar para eles, fingindo estar interessado no texto do livro que estava lendo, mas na verdade não conseguia entender uma palavra, pois seu pensamento voava longe dali. Nem mesmo quando a Srta Stacy se juntou a Cole para falarem sobre arte para a classe, ele demonstrou algum interesse, sentia-se tão furioso que achou melhor manter sua cabeça baixa, para que ninguém, especialmente Anne, percebesse seu estado de espírito que piorou consideravelmente quando viu Billy Andrews falar com Anne e Cole de maneira grosseira.

Foi para perto dela, querendo protegê-la daquele garoto estúpido que mais de uma vez tinha tentado ameaçá-la, mas Anne simplesmente dispensara sua ajuda quando disse que ela e Cole tinham resolvido o problema sozinhos. Gilbert sentiu como se um soco de direita tivesse atingido seu estômago, e seus olhos ardiam como se milhões de fagulhas de ira saíssem de dentro deles e se espalhassem ao seu redor. Queria estrangular aquele garoto, queria bater nele, jogá-lo no chão e dizer que ficasse longe da vida de Anne de uma vez por todas, mas ele apenas dissera que estava tudo bem e que se falariam mais tarde.

Naquele instante voltara para a sala cuspindo fogo pelas ventas. Precisava se acalmar ou acabaria fazendo algo de que se arrependeria depois, por isso ficou conversando com Muddy sobre assuntos sem importância, tentando fazer com que as batidas de seu coração voltassem ao normal novamente e aplacassem sua raiva que estava a ponto de explodir como uma bomba relógio. Quando Anne passou por ele na sala de aula, Gilbert sequer olhou para ela. Não queria ver o rosto dela feliz por ter ficado todo o intervalo conversando com seu amigo "pariense".

No final da aula, Gilbert notou Diana se despedindo de Anne deixando-a sozinha para voltar para casa, então tomou uma decisão e foi falar com ela. Se ofereceu para acompanhá-la e ela lhe pareceu um pouco estranha a princípio, mas aceitara sem pestanejar a companhia dele, dizendo que não iria diretamente para casa, pois visitaria seu clube de leitura primeiro. Gilbert achou ótima essa oportunidade, pois isso lhe daria um tempo maior com Anne. Precisava saber o que ela sentia por ele ou ficaria maluco de tanto ciúmes. Iria descobrir sobre a verdade dos sentimentos dela e faria isso naquele dia.

GILBERT e ANNE

Gilbert e Anne fizeram todo o trajeto da escola até o clube de leitura praticamente em silêncio, absortos em seus próprios pensamentos. Só quando chegaram à porta do clube é que ele ouviu Anne perguntar:

- Quer entrar?

- Tem certeza? Da última vez em que estive aqui, você quase arrancou minha cabeça de raiva por que eu entrei nesse seu, digamos, santuário.

- É que você entrou sem ser convidado, mas agora eu quero que você entre por minha própria vontade

- Bem, seu desejo é uma ordem, senhorita. - Gilbert disse sorrindo. Então Anne sentiu-se aliviada, ele se parecia com o velho Gilbert naquele momento, depois de seu comportamento estranho na escola, ou será que ela tinha imaginado tudo? Ela decidiu que pensaria nisso mais tarde e desistiu de tentar adivinhar a razão daquela súbita mudança, preferindo entrar no clubinho com ele.

Colocaram os livros em uma mesa de madeira que estava no centro daquele pequeno espaço e se sentaram nas almofadas coloridas que se espalhavam pelo chão. O olhar de Gilbert se fixou em uma pilha de folhas de papel escritas que estavam em cima de um banquinho e disse:

- E suas histórias? Vai me mostrá-las ou não? – Anne concentrava toda sua atenção nele agora, e Gilbert sentiu como se estivesse sendo estudado por ela, e isso lhe casou certo embaraço.

- Claro. Aqui estão, mas se você rir ou fizer qualquer piadinha, juro que te esfolo vivo. – disse ela, fingindo ameaçá-lo com uma caneta tinteiro.

- Prometo que serei o mais sincero possível em minhas observações sobre os seu trabalho. - brincou Gilbert.

- Neste caso, tem minha permissão para lê-los. - e estendeu-lhe um de seus contos.

Depois de alguns minutos, Gilbert levantou os olhos do que estava lendo e disse todo animado:

- Estou impressionado. Você escreve muito bem. Espero que continue e faça disso uma profissão, pois você é muito talentosa.

- Muito obrigada. - disse Anne corando de prazer pelas palavras de Gilbert.

- Eu é que tenho que agradecer por você partilhar comigo essa sua criação. Mas espere um pouco... - ele disse, levantando-se de onde estava e caminhou em direção a uma pilha de papéis rosa que jaziam em cima de um livro.

- O que é isso?- ele quis saber.

Anne se sentiu desconfortável naquele momento. Esquecera completamente dos poemas que muitas vezes escrevia ali, embalada pelos sons da floresta.

- São poemas meus, mas creio que você não vai gostar, pois sei que não é o tipo de leitura que você aprecia.

- Quem disse que não gosto de poesia? Só por que quero ser médico não quer dizer que não aprecio poemas ou coisas do gênero. Posso lê-los? – ele perguntou de repente.

Anne nunca mostrava para ninguém o que escrevia, principalmente seus poemas, pois revelavam demais dela mesma, especialmente porque muitos deles tinha escrito pensando em Gilbert. Pensou em dizer não, mas isso só aguçaria mais a curiosidade dele, então disse;

- Tudo bem, pode lê-los se quiser. - Esperava que o menino não percebesse o sentido real das palavras de seus poemas e quem era a inspiração para tantas emoções descritas no papel. Mas ele percebera, é claro, porque nada passava despercebido a Gilbert Blythe. Teve certeza disso quando ele terminou de ler e perguntou-lhe a queima roupa:

- Então você tem todos esses pensamentos a meu respeito?- "quero ver você se safar dessa, Anne Shirley Cuthbert"- sua voz interior disse zombando dela.

- E quem disse que escrevi este poema para você?- Anne respondeu com outra pergunta, tentando disfarçar o tumulto de suas emoções.

- A mim está claro que o escreveu para mim. - insistiu Gilbert.

- Está enganado. - agora ela tentava ganhar tempo.

- Estou?- Gilbert perguntou arqueando uma sobrancelha.

- Sim.

- Muito bem, não vou insistir nisso, mas tem uma coisa que quero que me esclareça.

Anne respirou fundo, se preparando para o que estava por vir.

- O que quer saber?- ela perguntou, desviando o olhar do rosto de Gilbert.

- Percebi que você sempre coloca em suas histórias uma cena na qual a garota realiza seu sonho de dançar com o rapaz pelo qual está apaixonada.

- Sim, é que acho essa parte tão romântica. - esclareceu Anne, sentindo certo alívio, pois pensara que ele começaria a interrogá-la sobre os poemas.

- Isso quer dizer que um de seus sonhos é dançar comigo?- Gilbert fez a pergunta esperando que Anne entendesse sua insinuação e lhe desse alguma indicação de que estava apaixonada por ele.

- Nós já dançamos Gilbert, não se lembra? Estávamos no casamento da prima de Diana. – disse Anne.

- Aquilo não foi dançar. - ele disse e depois a enlaçou pela cintura, colou seu corpo e rosto no dela, e disse em um sussurro quase insinuante- Isso é dançar.

Anne engoliu em seco, sabia onde isso levaria e não sabia como se livrar daquela situação, então disse a primeira coisa que lhe veio à mente:

- Não temos música, Gilbert.

- Não precisamos de música. Ouça apenas as batidas de seu coração. - ele respondeu sem soltá-la.

Assim , estavam se movendo ao ritmo de uma música imaginária que somente os dois podiam ouvir, como se estivessem em um balé secreto cuja cadência vinha direto de suas almas unidas naquele instante mágico.

- Então, não vai me dizer o que sente por mim?- Gilbert perguntou de repente, pegando Anne de surpresa.

- Gilbert, quer mesmo falar sobre isso agora?- Anne queria entrar em um buraco e se esconder. O que fizera Gilbert lhe fazer tamanha pergunta? O que será que estava pensando?

- Por que não pode me dizer o que sente por mim?- ele tornou a insistir.

- Por que isso é tão importante? Não basta estarmos aqui juntos?

- Não basta. Eu preciso saber. - Anne viu o olhar decidido dele e percebeu que não escaparia facilmente daquele momento constrangedor, por isso tentou ganhar mais um pouco de tempo.

- A gente não pode mudar de assunto?

- Vou ter que implorar ou você quer que eu me ajoelhe?- sua voz soou mais dura do que planejava mas não recuou, ele tinha que descobrir se o que tinham era verdadeiro ou se ela estava apaixonada por Cole.

- Gilbert, quer parar com isso? Você está me exigindo algo que você mesmo não fez. Nunca me disse o que você sente por mim realmente. Agora Anne estava irritada com toda aquela conversa, por essa razão se afastou dele e se sentou em uma almofada do outro lado da sala.

- Já te disse sim, Anne. Muitas vezes. - disse Gilbert, sentindo que seus braços estavam estranhamente vazios, agora que Anne não estava entre eles.

- Não disse não. - ela respondeu com sua velha teimosia aparecendo em cada palavra.

- Está duvidando de meus sentimentos?- Gilbert quis saber.

- Já disse que quero mudar de assunto. Não desejo começar uma discussão sem sentido. - disse Anne.

Mas Gilbert pareceu não ouvi-la de tão envolvido que estava com a ideia de fazer Anne confessar seus sentimentos por ele, então falou:

- Anne, levante-se e venha cá. Vamos conversar direito. Quero te dizer uma coisa importante.

- Não!- ela disse.

- Anne, precisamos conversar sobre isso. - ele continuou insistindo.

- Já disse que não. - ela se recusava a continuar discutindo com ele.

- Como você é teimosa! – ele disse zangado com a recusa dela em ouvi-lo.

- Como você é autoritário!- ela respondeu no mesmo tom que ele usara.

- Eu só quero falar com você.

- Eu não quero que me fale nada. - Anne tentou encerrar a conversa, concentrando seu olhar em um pequeno quadro de flores que enfeitava uma das paredes do clubinho.

- Então, prefere que eu te mostre?- Gilbert perguntou, mas ela não respondeu. Neste momento, ele abandonou todo o bom senso e disse:

- Foi você quem pediu. - ele caminhou até onde Anne estava, e ela se assustou quando o viu ajoelhar-se na sua frente, a puxou para ele colando sua boca na dela sem esperar por qualquer permissão. Depois foi deitando-a sobre a almofada até que ela estivesse em uma posição que não conseguisse escapar dele.

Anne não teve nem tempo para pensar ou reagir, a única coisa que conseguiu perceber era que aquele era um beijo diferente de todos os outros que trocaram na última semana, pois lhe oferecia o mundo, mas também exigia um tipo de resposta que ela ainda não estava preparada para dar. Mas sua boca correspondia ao beijo com a mesma intensidade que Gilbert a beijava, e seu coração falava uma linguagem que a empurrava de encontro àquela emoção que nascia dentro dela, como uma luz vinda de um túnel muito distante, e se espalhava por seu corpo, pedindo mais pelos carinhos de Gilbert.

Ela sentia que seus sentidos se enfraqueciam diante da grandiosidade daqueles sentimentos que a assolavam naquele momento. Não conseguia resistir, e não queria, mas seus instintos lhe diziam que era perigoso demais se deixar queimar daquela maneira na chama ardente que existia entre os dois há tanto tempo e que ela sabia nunca se extinguiria, só que ela corria o risco de se perder de si mesma, tornando-se refém de suas próprias vontades.

Mas como dizer não para o que aqueles lábios suavemente lhe pediam? Como deixar de lado seus próprios desejos? Naquele instante a razão estava muda, escondida nas sombras da maré daquele amor que como fogo se alastrara pelo seu sangue, e a deixava ali indefesa, fraca e totalmente integre aos beijos de Gilbert Blythe.

De repente Gilbert interrompeu o beijo e a fitou nos olhos, e Anne percebera que ele estava tão transtornado quanto ela. O que começara como uma punição por parte de Gilbert acabara se tornando uma revelação para ambos, pois o menino percebia com clareza que nunca tinha experimentado aquela emoção ardente com outra garota antes, pois nenhuma o fizera se sentir tão completo quanto Anne, quando a tinha em seus braços. Assim, não querendo deixar a magia que ainda pairava entre eles se dissipar, disse com a voz enrouquecida:

- Entende agora o que sinto por você ou ainda vou ter que te dizer com todas as letras?

Anne viu o brilho nos olhos castanhos dele, revelando todo o sentimento que ele guardava dentro de si por ela. E ela também sabia que Gilbert ainda esperava uma resposta para pergunta que fizera antes, mas ela não conseguia dizer nada. Por mais que quisesse confessar a Gilbert o que sentia de verdade, era tudo intenso demais e isso lhe causava medo, pois todas as vezes que entregara seu coração ela tinha se magoado.

E isso tinha acontecido nas casas de adoção por onde passara, sempre jogada de um lugar para outro, sem nunca ter sido amada por ninguém, mas ela amara cada pessoa que encontrara em sua vida, cada amizade que fizera, mas sempre fora obrigada a deixá-las para trás, pois nunca tivera um lar de verdade onde pudesse criar raízes até chegar a Green Gables, e por essa razão não confiava nas pessoas o bastante para abrir seu coração.

É lógico que sabia o que sentia por Gilbert, mas não podia revelar a ele o quanto o amava, porque o terror que sentia de ser abandonada ou ter que abandoná-lo por alguma razão a impedia de dizer as palavras que ele tanto queria ouvir.

Um mar de lágrimas ameaçava cair a qualquer momento e ela teve que respirar bem fundo para não começar a soluçar ali na frente dele. Reuniu toda a força que ainda lhe restava e disse:

- Pode me levar para casa, Gilbert?

O garoto pareceu ficar surpreso por um momento e bastante desapontado também. Na verdade, ele esperava por outro tipo de reação por parte de Anne, depois daquele maremoto de sentimentos que ele tinha certeza atingira os dois. Ainda tentou argumentar dizendo:

- Precisamos conversar.

- Gilbert, por favor, me leva para casa. Não me sinto em condições de falar sobre isso agora e está ficando tarde, não quero preocupar Matheus ou Marilla. - ela estava quase implorando e com alívio viu que ele compreendeu e aceitou o seu pedido.

- Está bem, vou te levar para casa. – Gilbert percebeu que seria inútil insistir naquele assunto naquele momento, e também admitiu que já havia pressionado Anne demais naquele dia., assim, resolveu deixar aquele assunto inacabado para uma próxima oportunidade.

E assim foram para Green Gables, conversando muito pouco sobre amenidades. Ambos tinham coisas demais na cabeça e não queriam falar sobre elas em voz alta. Quando chegaram ao portão da fazenda, Gilbert deu um beijo terno na testa de Anne e perguntou:

- Nos vemos na escola amanhã?

- Claro que sim. - respondeu Anne, beijando o rosto de Gilbert.

Em seguida se virou e sem olhar para trás começou a caminhar em direção a sua casa. E as lágrimas então vieram e rolaram grossas de seus olhos, Anne tentava contê-las, mas parece que caiam ainda mais. Seu corpo foi entrecortado por soluços, e nem ela mesma compreendia por que estava chorando. Só sabia que havia em seu peito uma dor sem nome, um vazio entranho que tomara conta dela quando se despedira de Gilbert no portão de Green Gables. Não queria perdê-lo, não suportaria ficar sem ele, mas desconfiava que isso acabaria acontecendo se não superasse seus receios e demonstrasse seus sentimentos por ele. Quanto tempo Gilbert aguentaria até que perdesse a paciência, achando que Anne só estava se divertindo com ele e fosse embora para sempre?

Fitou o sol que já se escondia no horizonte, anunciando a noite que estava por vir, e em meio ao seu desalento percebeu naquele instante, o quanto se sentia irremediavelmente só.

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