Capítulo 108 - A um passo da felicidade
Olá, pessoal. Estou postando mais um capítulo enorme, e espero que se animem em lê-lo e comentem sobre ele, pois sinto-me extremamente animada ao ler cada comentário e perceber que fiz um bom trabalho. Muito obrigada por tudo. Vou corrigir os erros depois. Beijos.
ANNE
Era mais uma manhã de primavera clara e ensolarada. O perfume de variadas flores enchia o ar, porque perto do apartamento onde Gilbert e Anne viviam, havia uma infinidades delas, de todas as cores e tamanhos, e tão adoráveis que a ruivinha por várias vezes pensara em ir até elas e fazer uma coroa de flores para si mesma, e usá-la em seus cabelos, mas depois acabava desistindo deste ato ao pensar que não estava mais em Green Gables onde coisas assim eram comuns, porém em Nova Iorque seriam vistas como peculiares ou como infantilidade de uma garota que estava prestes a ser mãe.
Anne sentia muita falta dessa simplicidade por onde sua imaginação fértil transitava e que em Green Gables ela deixava fluir com facilidade. Em Nova Iorque, ela sentia que sua postura tinha que ser outra, porque por mais que houvesse uma diversidade de culturas, e as pessoas quase nunca parassem para observar com atenção a beleza de um céu estrelado, ou apreciarem o calor do sol em suas peles, dando a impressão que pouco se importavam com o que acontecia ao seu redor, também havia uma certa dificuldade de se aceitar o diferente, apenas não era algo tão explícito como o seria em Avonlea, mas as pessoas guardavam dentro de si tal preconceito que Anne às vezes enxergava velado em seus olhos. Apesar disso, ela amava morar em uma cidade grande onde havia tanto para se ver e aprender. Sua alma errante se esbaldava naquele banho cultural que tantos museus, teatros e bibliotecas em Nova Iorque tinham a oferecer, o que para ela que possuía quase uma necessidade física por conhecer coisas novas, era realmente um mundo fantástico de oportunidades.
Além de tudo isso, ela passara a ver Nova Iorque como seu segundo lar, uma vez que a menina dos seus olhos sempre seria Green Gables, porém, fora ali que Gilbert escolhera para dar início a sua formação como médico, e fora ali que ela escolhera para vir morar também, porque onde Gilbert estivesse, ela também queria estar, Não conseguia se ver vivendo em outro lugar onde seu noivo não fizesse parte, e apenas rezava para que nunca mais tivessem que se separar independentemente de quais fossem os motivos.
Anne se aproximou um pouco da janela para olhar a rua e as pessoas que caminhavam por ali àquela hora da manhã, e respirou fundo o ar doce que entrava em seu apartamento, tentando fazer seu mal-estar passar. Infelizmente, ela não acordara em seu melhor dia, pois desde que colocara o pés para fora da cama, ela sentia enjoos frequentes e a cabeça rodava em alguns momentos, contudo ela tentava levar sua rotina do dia da melhor forma que conseguisse, tentando não se preocupar demais com esses sintomas que ela sabia por suas leituras frequentes sobre o assunto que eram comuns no início da gravidez. Mas, só quem passara por um período traumático como ela entenderia porque sentia aquele medo dentro de si de perder o que acabara de recuperar. Ela temia pelo bebê, mesmo não tendo nenhum fato concreto que pudesse justificar esse pensamento nada saudável, ela temia não conseguir levar sua gravidez até o final mesmo seguindo todas as instruções médicas.
Desde o início soubera que sua gestação era de risco, mas, até aquele momento o médico dissera que o embrião estava se desenvolvendo normalmente, por isso, ela não tinha motivos para preocupações adicionais e poderia levar sua vida com as atividade diárias as quais estava acostumada, e também ele lhe alertara que seu estado emocional poderia influenciar na maneira como a gravidez seguiria seu rumo, portanto, tudo o que ela deveria fazer era relaxar, deixar que as coisas acontecessem devagar, e tentar não se deixar levar pela ansiedade, mas, aquilo era mais fácil de dizer do que fazer.
Em meio à sua instabilidade emocional, uma coisa a deixava mais calma. Gilbert parecia melhor a cada dia. Suas antigas enxaquecas nunca mais o incomodaram, e isso por si só já era uma notícia maravilhosa. Ele estava feliz com o bebê, e não cansava de dizer a ela umas dez vezes por dia o quanto a amava, e Anne não parava de sorrir nesses momentos, porque se havia algo que a deixava com o coração aos pulos e literalmente caminhando nas nuvens era quando escutava aquelas palavras de Gilbert.
Se alguém lhe dissesse que o amor era um sentimento capaz de crescer infindavelmente, ela não teria acreditado, pois mesmo quando lia aqueles romances antigos que descreviam uma paixão avassaladora, Anne sempre imaginara algo doce e tranquilo, mas amar, Gilbert mudara todo o seu conceito sobre o sentimento, pois não havia nada de calmo na maneira como se amavam, talvez a doçura se aplicasse em alguns momentos, mas a paixão era mais do que avassaladora, e quando começavam um incêndio juntos, era difícil de apagar o fogo, e assim um amor que começara com dois adolescentes competindo entre si, acabara se tornando uma imensidão de emoções inexplicáveis, e desta forma o que sentia por Gilbert ia crescendo a cada dia, e ela imaginava que continuaria crescendo até o seu último dia nesse mundo.
Uma tontura mais forte a acometeu, e ela puxou uma cadeira para perto da janela e se sentou nela. Não queria se deitar no sofá, pois logo Gilbert a veria assim e se preocuparia, e apesar de não ser nada demais, ele acabaria exagerando na reação, se ela bem o conhecia. Por isso, ela permaneceu com o olhar preso lá fora, deixando que a brisa suave tocasse seu rosto em uma carícia suave, fazendo-a suspirar baixinho pela sensação tão boa que aquilo lhe provocou.
Não demorou muito tempo, ela ouviu a voz de Gilbert que vinha do quarto. Ele passara a manhã toda organizando suas gavetas, parando apenas para almoçar com Anne, e logo retomou a atividade de separar livros e papéis importantes de outros que não usaria mais ou não teriam mais utilidade. Ele se aproximou dela na janela, colocou uma mão em seu ombro e perguntou:
- Amor, você viu se o carteiro passou por aqui hoje?
- Não, por que? Está esperando alguma correspondência? - Anne perguntou franzindo a testa.
- Eu escrevi para um amigo a alguns dias e estou esperando sua resposta. - ele disse evasivo.
- É muito importante? - Anne perguntou curiosa. Ele nunca deixava de lhe contar nada, mas aquilo era algo incomum em Gilbert. Ela sabia que era uma bobagem se importar por ele não ter lhe falado nada sobre a tal carta, mas, a verdade era que se sentia contrariada por isso. Eles dividiam tudo, e praticamente sabiam tudo o que um e o outro fazia quando estavam longe, então, por que parecia que Gilbert estava guardando um segredo e não queria que ela soubesse.
- Na verdade é importante sim. - ele tornou a falar deixando a curiosidade a contrariedade de Anne maior.
- Por que só estou sabendo disso agora?- Gilbert olhou para ela espantado ao perceber que no rosto dela não havia o costumeiro sorriso endereçado a ele, e sim uma expressão séria que denotava certa ira se formando dentro dela.
- Anne, é importante, mas, não é nada com o qual deva se preocupar. Você não tem motivo para ficar brava.
- Talvez, mas mesmo assim não gostei de não ter me contado.- ela respondeu sentindo-se ridícula pela cena que estava fazendo por algo tão simples, mas, não conseguia controlar sua indignação. Ele nunca escondia nada dela, por que estava fazendo isso naquele momento? Ela sentiu Gilbert se abaixar e puxar seu rosto para ele e o encarou séria enquanto ele dizia:
- Anne, por que está chateada com isso?
- Não sei, por um segundo, eu tive a sensação de que você não me contou de propósito, e me senti deixada de fora.- ela disse envergonhada por sua atitude sem sentido, mas, pelo menos estava sendo sincera com Gilbert ao invés de guardar para si aquele sentimento desagradável.
- O que? - ele perguntou sem entender, olhando-a com incredulidade.
- Eu sei que estou sendo ridícula. Desculpe-me pela minha falta de jeito.- Anne disse abaixando a cabeça . O enjoo tinha piorado, e talvez isso estivesse influenciando em seu humor. Não queria começar uma briga boba com Gilbert, pois ele realmente não fizera nada errado, ela era quem estava exagerando a situação.
- Vem cá.- ele disse fazendo-a se levantar e abraçando-a pela cintura.
- Você não está sendo ridícula. Na verdade, eu escrevi uma carta para o Muddy perguntando a ele se podíamos passar o restante de nossas férias naquela casa de praia que eu e você fomos uma vez, e por isso, estou esperando por uma resposta.- Anne levantou a cabeça surpresa.
- Por que não me contou que estava planejando essa viagem?
- Porque eu queria que fosse uma surpresa.- ele disse beijando-lhe o topo da cabeça.
- Desculpe-me, meu amor. Não quis estragar seus planos. Eu nem mesma sei o que me deu para ficar irritada assim.
- Não importa, querida. Tudo o que eu quero é que não preocupe mais essa cabecinha ruiva linda. Agora venha se sentar comigo no sofá, que quero namorar minha noiva maravilhosa.- ele a puxou para o sofá, e Anne se sentiu grata pelos braços dele a apoiarem, pois não confiava em si mesma para caminhar sozinha.
Gilbert se sentou no meio do sofá, e Anne se deitou acomodando sua cabeça no colo dele. Ele começou a acariciar os cabelos dela com carinho, depois deixou sua mão descer até a barriga dela e perguntou;
- Como está nosso bebê?
- Tão bem quanto a mãe dele.- ela mentiu. Sua cabeça estava pesada e o estômago dava piruetas de tanto enjoo, mas, ela continuava olhando para Gilbert como se estivesse no sétimo paraíso.
- Ainda faltam tantos meses para ela nascer, e mal posso esperar para que esse dia chegue logo.- Anne sorriu da certeza dele de que seria uma menina. Sempre que conversavam, ele referia-se ao bebê no sexo feminino, enquanto ela continuava acreditando que daria à luz a um menino. Felizmente, logo saberiam o sexo pelo exame que ela tinha feito na última semana. O médico avisara que os resultados chegariam em breve, e isso deixava a ambos extremamente ansiosos.
Anne levantou a cabeça para implicar com ele, lembrando-o da aposta que fizeram, mas, ficou muda por um instante ao olhar para o rosto de Gilbert. A luz natural que vinha da janela pegava o rosto dele em cheio, realçando cada traço daquele rosto incrivelmente desenhado. Os cabelos escuros já tinham crescido bastante, e os cachos adoráveis tinham quase chegado ao seu tamanho normal. Anne adorava a maneira como se enrolavam em seus dedos, e por isso, levantou a mão e alcançou um cachinho que caia na testa de Gilbert casualmente e começou a brincar com ele distraidamente. Não satisfeita, ela enterrou os dedos na cabeleira farta, indo até a nuca de Gilbert e acariciou-a lentamente. Gilbert fechou os olhos, suspirando de satisfação enquanto a pele descoberta do braço dele se arrepiava por inteiro, a fazendo sorrir por ainda conseguir afetá-lo daquela maneira. Depois de alguns segundos, seus dedos abandonaram-lhe a nuca e seguiram todo o caminho até o rosto, onde se demoraram por um tempo extasiada pelo efeito que a beleza de Gilbert tinha sobre ela. Não conseguia parar de admirá-lo, ele era lindo demais, e a cada dia que passava essa característica ficava mais evidente aos olhos dela.
No auge de seus quase vinte e um anos, Gilbert era simplesmente deslumbrante, e não havia mais nenhum traço do adolescente que ele fora. Seu corpo todo tinha se transformado, e agora ele não mais exibia um constituição esbelta, e sim músculos firmes e fortes que faziam Anne suspirar todas as noites enquanto o observava dormir nu ao lado dela.
- Como você é bonito.- ela declarou quase sem pensar e viu um sorriso vaidoso surgir nos lábios masculinos.
- Você é que é maravilhosa.- ele disse ao abrir os olhos e deslizar os polegares pelas bochechas de Anne até chegar aos lábios, onde ele se demorou admirando.- Adoro beijar você.
- Então, por que ainda não está fazendo isso?- ela perguntou com um sorriso maroto, e não precisou falar uma segunda vez, pois Gilbert a fez levantar a cabeça e encaixar seus lábios nos dele, beijando-a com o mesmo ardor de sempre que fazia a cabeça dela girar. Deus, como ele beijava bem. Ela nunca experimentara o beijo de mais ninguém para comparar, mas duvidava que encontrasse outra pessoa que fosse capaz e lhe roubar a alma com apenas um suave deslizar sobre seus lábios como Gilbert fazia. Ele aprofundou o beijo, e Anne deu passagem para que a língua dele brincasse com a dela em uma dança sensual que a deixava totalmente dominada pela paixão dele.
O ar acabou, mas o desejo não. Eles separaram suas bocas, mas seus corpos ficaram grudados, e as mãos de Gilbert continuaram acariciando Anne por cima das roupas, deixando claro o que estava sentindo naquele instante. E Anne pensou como era incrível se amarem aquela maneira. O tempo nunca passava para eles, o desejo era sempre intenso, a paixão queimava a ambos em suas chamas, nunca libertando-os completamente de seu feitiço, e os beijos não eram apenas uma necessidade física, mas uma necessidade espiritual também, que os unia de uma forma completamente louca e maravilhosa.
- Vamos para o quarto?- ele disse em seu ouvido, e Anne sorriu concordando. Assim, ele se levantou e puxando-a pela mão, e ela apenas o seguiu, esquecendo todo o resto para se unir a Gilbert em seu ninho de amor.
GILBERT
Eram seis da tarde quando Gilbert acordou. Anne dormia ao seu lado, e com um beijo carinhoso e molhado, ele a fez despertar. Ela abriu os olhos com um sorriso nos lábios entre o beijo, e segurou o rosto dele em suas mãos delicadas.
- Eu já te disse o quanto te amo, hoje?- Gilbert perguntou olhando-a intensamente.
- Várias vezes, mas, adoro ouvir você dizer mesmo assim.- ela respondeu ainda com seus lábios roçando os de Gilbert.
- Eu te amo demais, Anne. Cada dia mais que o dia anterior. Acho que vou precisar de outro coração para que tanto amor caiba aqui dentro.- ele disse colocando a mão dela em seu peito
- Neste caso, acho que preciso de mais que dois corações, porque vou ter que que dividi-lo com nosso filho.- Anne disse em tom de brincadeira.- E antes que eu me esqueça, eu também te amo muito
- Você é perfeita. - Gilbert disse trazendo-a para seu peito
- Você é incrível.
- Por que eu sou incrível?- ele disse deslizando a ponta do nariz pelo rosto de Anne
- Por que é o amor da minha vida. - ela respondeu sem hesitar, seus olhos brilhando feito cristais em seu rosto incrivelmente imaculado. Como sempre ele não resistiu, beijando-a como fizera a algumas horas quando cruzaram a porta daquele quarto e se entregaram ao que sentiam sem pudor. Esses momentos com ela eram sempre assim, não havia aquela rotina que cansava e desgastava os relacionamentos entre muitos casais. Não havia pressa ou era apenas carnal. Seu desejo por ela nunca mudara, apenas havia ganhado mais intensidade, talvez pela familiaridade que havia entre seus corpos, e saber de antemão o que um ou o outro gostava, e o que dava mais prazer.
Ela sorriu quando suas bocas se separaram e Gilbert não conseguiu evitar de pensar como ela era linda de todas as formas, e como ele era rendido a tudo que se relacionava a ela. As mãos delicadas deslizando por suas costas o fizeram se lembrar de como era sentir as carícias dela enquanto se amavam. Anne sabia ser suave e envolvente ao mesmo tempo, e aquela combinação dela de sexy e comportada ao mesmo tempo o estimulava de um jeito que ela nem imaginava.
Ela ainda era esquentadinha, e isso nela também era outro atrativo. Gilbert tivera que mentir sobre a carta para que ela não desconfiasse do que ele tinha em mente, mas ele vira a raiva dela crescer e quase explodir em questão de segundos quando ela descobriu sobre a carta. O jovem estudante nunca pensara que ela ficaria tão brava por ele não tê-la mencionado. Pelo menos Anne aceitara suas explicações sem questionar muito sobre o assunto, mas, a verdade era que ele não havia escrito para Muddy, e o conteúdo da carta também era outro. A resposta ainda não chegara, mas assim que ele tivesse uma confirmação sobre o que estava planejando, ele falaria com ela e lhe contaria a verdade.
Ele estava extremamente ansioso com aquilo tanto quanto estava para saber o sexo do bebê. Ele tinha certeza que era uma menina, não sabia bem explicar porque sua intuição de pai lhe indicava isso, era algo que não saía da sua cabeça, mesmo quando Anne implicava com ele dizendo que a aposta que fizeram já estava ganha por ela, pois sua intuição de mãe lhe garantia que era um menino
Era engraçado brincarem assim com algo tão importante para os dois, e na verdade, o que viesse os deixaria emocionados da mesma forma. Entretanto isso dava leveza ao momento, os fazia ver o futuro com mais ânimo e esperanças do que o último mês que fora tão conturbado por conta se sua cirurgia e das incertezas que surgiram na época. Tanto Gilbert quanto Anne tiveram seus próprios receios para administrar. Ela sofrera com a possibilidade de ele esquecê-la por completo, e ele tivera medo de nunca mais acordar e ver aquele rosto de anjo que ele amava com loucura
Felizmente, o destino. lhes dera uma trégua de tristezas e mágoas, e ainda lhes preparara a mais maravilhosa das surpresas, talvez como recompensa pelo sofrimento que tanto lhes calejara por dentro. Era certo que lágrimas ainda existiam, mas, agora eram de felicidade, e Gilbert nunca se sentira tão bem no papel da vida que representava agora.
- Eu queria saber o que o faz me olhar tanto, Gilbert Blythe?. Acho até que decorou cada sarda do meu rosto como se eu fosse um mapa de suas viagens.- Anne disse com humor e Gilbert respondeu
- É que você é tão linda que não consigo evitar de te olhar assim.- o olhar carinhoso dele sobre Anne a fez corar, e Gilbert acabou rindo do jeito que ela desviou o olhos dos dele, porque ela nunca conseguia encará-lo por muito tempo sem se sentir tímida ou nervosa, e o porquê disso ele ainda não descobrira.
- Você sempre me deixa sem graça. Acho que é a única pessoa no mundo capaz de me tirar todas as palavras.- Anne disse pensativa.
- Isso é bom ou ruim?- ele perguntou, descendo as mãos pela lateral do corpo de Anne enquanto ela colocava as dela em seu ombro e lhe fazia um carinho gostoso com elas no local
- Depende da situação. Quando me diz coisas bonitas como agora, eu não me importo de não saber o que dizer, porque isso quer dizer que me emociona de um jeito bom. Só me sinto desconfortável quando isso acontece em uma discussão, porque odeio ficar em desvantagem. - ela disse fazendo uma careta.
- Ou seja, odeia perder para mim. - Gilbert disse com cara de convencido.
- Eu nunca perco para você, Gilbert Blythe. Você adora contar vantagens sobre isso, mas sabe muito bem que sempre ganho de você em tudo. - Anne disse provocando-o, e Gilbert adorava aquilo.
- Bem , não sei se concordo com isso.- Gilbert disse puxando-a para seus braços, enquanto Anne fazia cara de brava.- Porém, tem uma coisa na qual empatados sempre.
- É mesmo?- Anne perguntou ao ver o rosto dele tão próximo do seu.
- Sim. Quando fazemos amor, nossa sintonia é perfeita. E nesse nosso jogo quente nunca tem um ganhador ou perdedor. Somos apenas eu e você empenhados demais em satisfazer um ao outro, e enlouquecidos demais para se importar com regras.- e assim um beijo se seguiu , e algumas carícias mais ousadas também, mas foram interrompidas por Anne que respondeu com os lábios de Gilbert ainda sobre os seus.
- Precisamos fazer o jantar.
- Tem certeza que quer parar agora? - a voz dele saiu rouca. Aquilo tudo entre eles era louco demais e quase impossível de impedir de acontecer. Gilbert amava tocar a pele de Anne que ficava extremamente rosada na hora do amor. Ela era tão deliciosa que ele sentia aquela necessidade imensa de tê-la em suas mãos pelo tempo que fosse possível, e era inebriante como um bom vinho da safra mais rara que se pudesse encontrar. Ele nunca sentira nada disso antes, nem mesmo em suas viagens pelo oceano, quando começara a conhecer o corpo das garotas, e se envolvera em aventuras bem picantes, ele conseguia se lembrar de qualquer uma delas que tivesse lhe causado metade das sensações que Anne lhe causava. Aquilo nada tinha a ver com luxúria, pois ele não precisava dela apenas para satisfazer seus desejos como homem, ele precisava de Anne porque ela era essencial em sua vida, e era a parte mais importante dela.
- Acho que já passamos tempo demais nessa cama hoje. Nós precisamos comer, pois você tem que concordar comigo que tanto amor assim apenas faz aumentar o nosso apetite. Enormes quantidades de energia são gastas, e eu preciso repô-las tanto quanto você.- ela disse como se estivesse repreendendo-o por querer mantê-la ali mais tempo, mas, Gilbert sabia que ela era totalmente viciada em fazer amor com ele, assim como ele era em tê-la em sua cama.
- Eu posso concordar com você, mas, isso não quer dizer que seja de todo verdade. Quero que saiba que você me satisfaz completamente, Sra. Blythe.- ele viu Anne engolir em seco, e esperou pela resposta atravessada que ela lhe daria, mas, Anne simplesmente ficou calada como se não encontrasse nada melhor para dizer.- O que isso? Vai me deixar ganhar assim tão fácil? Nem vai tentar responder?
Anne colocou os pés para fora da cama, e se fez de desentendida. Gilbert viu que ela não o encarava de frente, e soube que ela estava constrangida, mas, isso não queria dizer que não tivesse gostado do que ele dissera. Ela acharia uma forma de revidar, disso ele tinha certeza.
Ela caminhou pelo quarto nua a procura do seu robe que deixara em algum lugar dali, e Gilbert aproveitou para admirá-la da cabeça aos pés, ao mesmo tempo que sentia seu corpo inteiro pegar fogo ao vê-la como uma Eva coberta apenas pelos seus cabelos ruivos. Anne encontrou o robe e quando ia vesti-lo, ela parou com ele nas mãos ao notar os olhos de Gilbert deslizando fascinados sobre ela. Ele não se conteve e disse:
- Você não tem ideia do quanto fica sexy desse jeito. Queria que se exibisse assim para mim mais vezes.- as bochechas dela ficaram tão vermelhas que Gilbert teve que sorrir. Depois de ele tê-la visto tantas vezes despida, Anne ainda sentia vergonha que ele a olhasse daquele jeito. Sua garota era realmente a mulher mais adorável do mundo.
- Vou tomar banho.- ela disse para escapar da situação embaraçosa, e para provocá-la um pouco mais, Gilbert disse:
- Posso te fazer companhia?
- Não. – ela respondeu caminhando apressadamente para o chuveiro fazendo Gilbert gargalhar.
Por fim, ele se levantou vestindo apenas sua calça jeans, e foi para a cozinha começar a preparar o jantar de ambos. Anne entrou ali pouco tempo depois, seu cheiro delicioso inundando todo o ambiente, e envolvendo os sentidos de Gilbert completamente enquanto ele grelhava um pedaço de carne, e esperava o macarrão terminar de cozinhar.
- Espero que esteja com fome. O jantar fica pronto em dez minutos.- ele disse estranhando o seu jeito quieto que quase não falara com ele desde que saíra do banho.
- Não estou com tanta fome assim, mas, o seu macarrão parece ótimo. - ela disse sem sequer sorrir. Ele segurou no pulso dela e perguntou:
- Está tudo bem?
- Sim. - ela respondeu com um meio sorriso tenso, e Gilbert ia insistir em mais uma pergunta, quando a campainha tocou e ele foi atender, se deparando com o carteiro a quem esperara o dia todo. Ele pegou a correspondência que lhe foi entregue, e viu com alegria que a resposta que esperava chegara. Com um sorriso maior que o mundo, ele agradeceu ao rapaz, fechou a porta, caminhou até a cozinha para terminar o jantar quando viu Anne se virar para ele terrivelmente pálida. Ele mal teve tempo de chamar o nome dela, e de repente a viu cair desfalecida aos seus pés.
GILBERT E ANNE
Ele andava pelos corredores do hospital completamente desnorteado. Suas mãos suavam tanto que ele teve que enxugá-las várias vezes na lateral de sua calça jeans. Gilbert trouxera Anne ali no mesmo instante em que ela desmaiara, e ele não conseguira fazê-la acordar, e naquele momento, ele estava tão nervoso que não sabia o que fazer.
Ele aprendera todo o procedimento de primeiros socorros na faculdade em casos assim, e tentara de tudo, mas, Anne não voltara a si, e ele não tivera outra escolha a não ser correr com ela para o hospital, rezando para que nada grave estivesse acontecendo com ela, e não desejando pensar que aquilo pudesse ter a ver com o bebê que ela esperava. Gilbert se recusava a acreditar que seu sonho maravilhoso poderia ser interrompido por uma segunda vez, e Anne não suportaria se algo acontecesse com o bebê, ela seria engolida pela escuridão de sua dor de vez.
Sem aguentar o peso de seus pensamentos, ele se sentou no sofá da recepção escondendo a cabeça em seus braços. Quando chegara ali, a primeira pessoa que vira foi Jonas, que ao observar Anne sendo carregada para o centro de emergência, viera em sua direção extremamente preocupado e perguntara:
- Gilbert, o que aconteceu com a Anne?
- Eu não sei. Ela parecia bem durante o dia, e de repente desmaiou aos meus pés quando estávamos preparando o jantar.- ele passou as mãos pelos cabelos despenteando-os totalmente. Só de pensar o que poderia estar acontecendo lá dentro, fazia o seu coração querer parar de bater.
- Você ligou para o médico dela?- Jonas perguntou preocupado com o estado do amigo.
- Confesso que não tive cabeça para pensar isso na hora. Tudo no que pensei foi trazê-la para cá.- ele confessou envergonhado por ter se esquecido daquele detalhe.
- Deixa que eu ligo para ele. O contato dele está no meu bip por conta de eu trabalhar no hospital de estagiário.- Gilbert agradeceu Jonas com um aperto afetuoso no ombro, e assim que o amigo falou com o médico, Gilbert se sentiu aliviado pelas palavras do rapaz que se seguiram:
- Ele está vindo nesse instante,
- Obrigado, Jonas. Eu realmente me sinto tão impotente. E se alguma coisa ruim acontecer com ela por causa do bebê?- Gilbert perguntou sentindo a angústia em suas palavras no minuto em que saíram de sua boca. Ele ainda tinha medo, não podia negar para si mesmo, pois nunca esquecera o caso de sua mãe e de Mary, e embora não sentisse mais o peso da culpa pela morte de sua mãe, a lembrança de como ela morrera o deixava mais apavorado naquele momento.
- Calma, Gilbert. Vai ficar tudo bem. Anne é forte, e você também, caso contrário não teriam passado por tanta coisa sem entregar os pontos. Vamos esperar o médico chegar e ver o que ele tem a dizer.- Jonas o tranquilizou, e assim Gilbert tentou mudar o rumo de seus pensamentos para que não fosse influenciado pela negatividade deles.
Uma hora de puro desespero e impaciência se passou, até que o Dr. Miller viesse falar com Gilbert que se encontrava a ponto de entrar na emergência sem qualquer autorização. Lhe doía pensar que estava ali do lado de fora sem fazer nada, enquanto Anne se encontrava em um quarto de hospital precisando dele desesperadamente.
-Olá, Gilbert. Podemos conversar?
- Claro.- Gilbert respondeu engolindo em seco, tentando preparar o seu espírito para o que ouviria do médico. Eles foram até o consultório do Dr. Miller, e ele educadamente pediu que ele se sentasse, pois precisavam ter uma conversa séria.
- Gilbert, o que tenho a lhe dizer é tão complicado quanto sério. Você sabe que essa gravidez da Anne é de risco, não é?
- Sim, eu sei. Tem algo errado com o bebê?- ele perguntou sentindo seu coração se acelerar.
- Não, não tem nada errado com o bebê. Ele continua a se desenvolver normalmente. O problema é a Anne. Por acaso ela tem visto um terapeuta?
- Sim. Ela tem um terapeuta que a atende desde que viemos para Nova Iorque. Mas, o que isso tem a ver com a gravidez dela?- ele perguntou sem entender o que o Dr, Miller tentava lhe explicar.
- O desmaio que ela teve foi porque a pressão arterial dela baixou consideravelmente. Ela não se alimentou direito, por isso seu corpo enfraqueceu e ela perdeu os sentidos. Vou receitar alguns suplementos que possam ajudá-la a melhorar esse quadro, pois não é nada difícil de resolver se ela seguir minhas instruções direito. Porém, não é isso que me preocupa. O emocional dela não está bem, Gilbert, e desconfio que foi isso que causou toda essa alteração no organismo dela. Ela já voltou a si, mas, não consegui fazê-la falar sobre o que a preocupa, e não preciso te dizer que se isso não for resolvido dentro dela, a gravidez pode ser bem complicada. Por isso, eu te aconselho, a fazê-la conversar com um terapeuta antes que a coisas se compliquem. No aspecto físico, está tudo bem, e pelo menos com isso você não terá que se preocupar.
- Obrigado, doutor. Posso vê-la?
- Pode sim. Vou liberá-la daqui a meia hora.
Gilbert saiu do consultório e foi até o quarto que o médico lhe indicou. Assim que entrou, ele viu que Anne estava acordada e olhava para o teto como se estivesse pensando em algo extremamente importante. Ele se sentou ao lado dela na cama e disse com a voz cheia de carinho:
- Ei, amor. Como está sentindo?- Anne desviou o olhar do teto para encarar Gilbert e disse com a voz baixa.
- Desculpe-me.
- Pelo que eu deveria te desculpar?
- Pelo trabalho que estou lhe dando. Eu não queria que fosse assim.- ela baixou a cabeça, e Gilbert segurou em sua mão dizendo:
- Você não está me dando trabalho nenhum. Na verdade, é uma honra poder cuidar de você.- ele disse beijando-lhe o dorso da mão.
- A gente pode ir para casa?- Anne perguntou com os olhos tristes.
- Daqui a pouco. O Dr. Miller disse que vai te liberar em meia hora. Agora me diga do que precisa. - Gilbert disse segurando o queixo de Anne e fazendo com que ela olhasse para ele firmemente.
- Eu só preciso de você. Por favor, fica comigo. - Ela disse a ponto de chorar.
- É claro que eu fico. Nada me tiraria do seu lado. - Gilbert disse envolvendo-a com seus braços, e ficaram assim até que a enfermeira viesse dizer que ele poderia levar Anne para casa.
O caminho para o apartamento foi feito em silêncio. Como Gilbert estava dirigindo, ele devotava toda a sua atenção para o trânsito, mas, de vez enquanto ele arriscava uma olhadela para Anne que mantinha seu olhar fixo na rua, dando-lhe a entender que não estava para conversas naquele momento. Ao chegarem o prédio de seu apartamento, Gilbert fez questão e carregá-la nos braços. Não queria que ela fizesse mais esforço do que o necessário. Ela não protestou diante desse ato de seu noivo, apenas enroscou seus braços ao redor do pescoço dele e deixou que sua cabeça descansasse no ombro dele até que Gilbert a depositou na cama, sentou-se a seu lado e perguntou:
- Eu sei que deve estar cansada, e talvez não queira conversar, mas, eu não posso deixar isso para depois.- ele esperou que ela o olhasse nos olhos e perguntou:- Vai me dizer o que está acontecendo?
- O que quer dizer?- Anne perguntou com seus olhos enormes e magoados naquele dia.
- Anne, eu conversei com o médico, e ele me disse que fisicamente você está bem, mas, emocionalmente tem algo te incomodando. Então, quero que me diga o que está acontecendo, amor. Não devemos ter segredo um para o outro.- Anne respirou fundo, e encostou a cabeça na cabeceira da cama, e quando olhou para Gilbert , seus olhos estavam cheios de lágrimas quando disse;
- Estou com medo pelo bebê.- Gilbert a olhou espantado e se aproximou mais dela, segurando em sua mão e perguntou:
- Por que Anne? O médico disse que está tudo bem com vocês. O que te faz ter medo ainda?-
- Eu perdi o nosso primeiro filho, Gilbert, e tenho medo de não conseguir levar essa gravidez até o final. Eu sei que isso pode soar como uma bobagem, mas, depois de tudo o que passei, eu não consigo evitar esse pensamento.- para a tristeza de Gilbert , ela começou a chorar, e ele então entendeu o tamanho do drama de Anne. Assim como ele tinha seus receios por conta de ter perdido sua mãe no próprio parto, sua noiva ainda carregava a dor de ter perdido o primeiro filho, e nesse momento quando estava em uma fase bastante sensível, era natural que se sentisse assim, porém, ele estava ali para evitar que ela se enterrasse fundo nesse sentimento, e acabasse transformando um momento tão bonito que estavam vivendo em uma situação digna de preocupação.
- Amor, eu entendo como se sente, e sabe que eu estarei aqui para te dar o apoio que precisa, mas, você não deve se sentir assim. O que aconteceu no passado foi triste, mas, isso não deve ter influência no nosso presente. Não quero te ver sofrendo assim, Anne.- ele a abraçou, seu coração se partindo ao ouvir os soluços de sua noiva que tentava controlar a própria angústia, mas, conseguindo precariamente seu autocontrole de volta.
- Desculpa, Gilbert. Eu não queria estar me sentindo assim. Eu vou tentar melhorar, eu juro.- ela disse enxugando as próprias lágrimas com suas mãos.
- Por que não me disse que estava se sentindo assim? Pensei que estivesse feliz com o bebê.- ele disse acariciando as bochechas dela com o polegar.
- Eu estou feliz. Você não imagina o quanto. Isso é tudo o que eu quis, mas eu tenho medo de perder o nosso bebê, e não vou suportar se isso acontecer.
- Não vai. Você só precisar se cuidar, meu amor, e afastar esses pensamentos ruins de sua cabeça. Eu vou te ajudar. - ele a abraçou novamente, pensando que ele sempre imaginara que tentar engravidar seria o maior problema para Anne, a espera, a frustração de não conseguir, e a pressão que aquilo faria com a cabeça dela. Porém, agora ele percebia que estar grávida, por mais que fosse a realização de um sonho, também se constituía em um desfio, porque mais do que lutar para se manter saudável fisicamente, Anne tinha que lutar para que sua mente não sabotasse sua felicidade, e aquilo sim seria sua maior batalha. Ela balançou a cabeça concordando, e depois se agarrou a ele como se o medo que tinha dentro de si fosse maior que a coerência daquilo tudo.
Anne acabou adormecendo momentos depois, e Gilbert velou seu sono por algum tempo. Ele a entendia melhor quem ninguém, pois vira com os próprios olhos como todos os acontecimentos do último ano a tinham afetado, mais do que a ele, porque ela tivera que passar por um período agonizante de um sofrimento solitário, até que ele soubesse de tudo que acontecera e só então, conseguira dar-lhe o apoio que ela precisara, mas, ainda assim ela passara por uma prova de fogo terrível, e suas cicatrizes ainda estavam lá em seu coração, embaixo de uma boa dose de força, boa vontade, e coragem. Ela amadurecera em um ano, o que só deveria acontecer aos poucos, contudo, ele tinha que admitir que Anne não era uma garota comum, então, talvez por isso, as coisas que aconteciam com ela sempre cobrariam mais dela do que o fariam com outras pessoas, por entenderem que ela as superaria de qualquer maneira, pois não estava em seu espírito desistir.
De repente, ele se lembrou da carta pela qual tanto esperara, mas acabara esquecendo por conta de todos os acontecimentos do dia. Assim, ele beijou Anne na testa, saiu do quarto e foi verificar o conteúdo que continha nela. Ao abrir a tal carta, ele sorriu com tristeza ao ver que a resposta que queria estava escrita naquelas pouca linhas, porém, os planos teriam que ser mudados, porque Anne não poderia viajar no estado emocional no qual se encontrava, e Gilbert se sentiu frustrado por não poder seguir com seus planos da maneira como desejava. Não era o fim do mundo, no entanto, ele queria tanto dar aquele presente a Anne e infelizmente percebia que eles teriam que ser adiado por tempo indefinido.
Assim, ele escreveu outra carta agradecendo pela resposta afirmativa, e explicou a situação na qual se encontravam, e porque teria que deixar para outra ocasião mais apropriada, pois a saúde de Anne e do bebê vinham em primeiro lugar sempre. Ao terminar de escrever, Gilbert selou a carta, e a colocou na caixa do correio do prédio para ser enviada no dia seguinte. Depois, ele voltou para o lado de Anne que acordou uma hora mais tarde, parecendo mais calma e com o rosto mais corado ao invés da palidez doentia que apresentara antes. Ele colocou o jantar em uma bandeja e o levou para o quarto onde fizeram a refeição juntos.
- Gilbert, eu sinto muito mesmo por tudo.- ela começou a dizer assim que terminou de comer.
- Eu já te disse para não se preocupar com isso. É normal que se sinta assim, Anne. Eu sei o quanto aquele período foi difícil para você e não a culpo por estar passando por esse momento tenso. Só peço que tente não sofrer mais com isso, Anne. Aquilo tudo passou, e estamos vivendo uma nova vida juntos, eu quero que você seja feliz, pois já passou pelo inferno antes e não vejo razão para que volte para lá. Nós nos amamos, vamos ter o nosso bebê, e tudo ficará bem. É nisso que quero que acredite e confie.- Gilbert disse olhando-a com todo o carinho do mundo.
- Eu realmente não sei o que faria sem você. Tem sido incrível partilhar tudo isso com você, e sei que o que aconteceu no ano passado também te afetou. Eu não posso ser tão egoísta a ponto de achar que eu fui a única que sofreu. - Anne tocou o rosto de Gilbert e ele lhe beijou a palma e depois continuou:- Você tem sido minha força, Gilbert. Se eu consegui me levantar de todos esses tombos que a vida me deu, você é o único responsável por isso.- Aqueles olhos azuis, e aquele sorriso eram uma das coisas mais marcantes da personalidade de Anne, e sempre que pensava nela eram as primeiras coisas das quais se lembrava. Eles eram o seu guia fora da escuridão pois sempre que a vida perdia o compasso era ali que ele encontrava seu caminho de volta.
- Estamos juntos nessa, se lembra?- ele disse tocando os cabelos de Anne que caiam pelos seus ombros admiravelmente.
- Sim, somos um T. I. M. E.- ela soletrou rindo, ao se lembrar
de quando Gilbert o fizera da primeira vez
- Isso mesmo, e espero que nunca mais se esqueça disso. - Ele disse antes de beijá-la.
Nos dias que se seguiram Anne foi ficando mais forte, e voltou a fazer suas atividades diárias, depois de passar três dias em completo repouso, como sugerido pelo médico e reforçado por Gilbert. Ela estava mais alegre, e as preocupações anteriores pareciam não afetá-la tanto, pelo menos era o que ele imaginava, vendo-a sorrir com mais frequência, se expressar com mais facilidade, aproveitando cada segundo da vida de maneira leve, e sendo feliz da maneira que podia ser. Nesses momentos observando-a bem de perto, Gilbert sempre admirava o jeito de Anne encarar tudo o que acontecia ao redor deles com naturalidade. Ela jamais fazia julgamentos apressados, sempre analisava tudo com atenção e cuidado, e quando deixava-o saber a profundidade de seus pensamentos acerca do assunto, ele se espantava com sua capacidade de análise e observação. Definitivamente, Anne Shirley Cuthbert tinha uma inteligência acima da média, e Gilbert podia ver o quanto ela estava preparada para o mundo lá fora, era pena que o mundo, na época em que viviam, ainda não estivesse preparado para alguém como ela.
Apesar de ainda se sentir temerosa, Anne tentava seguir em frente sempre segurando a mão de Gilbert. Ela se sentia mais forte do que a alguns dias, mesmo que às vezes ainda se pegasse em certos momentos sentindo que cada passo que dava ainda era incerto. Gilbert falara com ela sobre as terapias com o Dr, Spencer, que deveriam se tornar mais frequentes pelo menos naquele período de gravidez, e o bom médico concordava com ele. Anne dissera que ia pensar sobre o assunto e que em alguns dias ela se decidiria, mas, a verdade era que apesar de saber que as terapias foram as responsáveis pela sua melhora considerável das suas antigas depressões, ela não queria fazer uso delas agora. A ruivinha sentia uma grande necessidade de caminhar com as próprias pernas, resolver o que quer que ainda a assustasse em seu interior, porque ela não atravessara duas tormentas inteiras para se acovardar na época em que deveria ser a mais feliz de sua vida.
Independentemente de qualquer coisa, ela estava feliz, e decidira que a única coisa a permanecer em seu pensamento seria o nascimento saudável de seu bebê e a vida maravilhosa que estava tendo ao lado do homem que amava. Ela sabia que ainda tinha muitos fantasmas contra os quais lutar, mas, se não desistira antes quando o mundo desabava ao seu redor, não desistiria agora que tinha tudo a seu favor. Assim, ela passou a realmente aproveitar as férias como merecia.
Ela e Gilbert acordavam tarde, tomam o café da manhã, e cuidavam de alguns afazeres do apartamento, além de darem mais atenção para Milk, que estava no céu com seus donos lhe fazendo companhia o tempo todo. O engraçado era que ele passara até a ser mais carinhoso e companheiro de Anne e sempre a vigiava de perto onde quer que ela estivesse. Era como se ele soubesse por instinto que uma nova vida crescia no ventre de Anne, e por isso, ela precisava de mais cuidados. A ruivinha se lembrava de ter lido em algum lugar que os animais tinham essa percepção aguçada em saber o que realmente acontecia com seus donos, mas, como não podia afirmar se isso era verdade ou não, ela apenas passou a curtir a presença do cachorrinho com a mesma alegria que ele demonstrava por estar com ela.
Naquela manhã de sexta-feira, Anne estava um pouco mais afobada que o normal. O Dr. Miller tinha mandado avisar que os resultados do sexo do bebê haviam chegado, e que ele havia marcado uma hora para que ela e Gilbert fossem vê-lo no sábado de manhã, já que ele estava com seus horários esgotados naquele dia.
Para controlar sua ansiedade, Anne combinara de sair com Cole e Sharon para comprar alguns coisas para o bebê, como fraldas, mantas e uma cestinha própria para carregar um bebê, porque o bercinho, Gilbert a fizera prometer que comprariam juntos assim que soubessem o sexo da criança; Ela concordara sem drama algum, pois também queria que ele estivesse presente quando fossem escolher o berço de seu filho, pois ela considerava esse gesto algo íntimo e familiar demais para fazê-lo com qualquer pessoa que não fosse o seu noivo.
Assim, Gilbert ficou sozinho no apartamento, e resolveu ler um pouco enquanto esperava Anne voltar das compras com seus amigos. Ele sabia que ela ia demorar, mas, não se importava de não ter ido junto, pois, ele entendia que ela precisava de um pouco de espaço para si mesma. Ele não era mais o garoto inseguro de outros tempos que sentia que precisava disputá-la com seus amigos. Ele também crescera e amadurecera naquele tempo em que ele e Anne viviam juntos em Nova Iorque, e por isso, sua possessividade em relação a ela tinha se acalmado para níveis bastante normais. Gilbert ainda sentia ciúmes dela, isso nunca iria mudar, mas, era maduro o suficiente para não fazer uma tempestade em copo d'água por qualquer coisa. Ele era um homem agora e em breve seria pai, além de um médico formado, e não achava que insegurança excessiva deveria continuar ocupando um espaço grande em sua vida.
Ele estava no terceiro capítulo do livro quando a campainha tocou, e quando foi atender, ele encontrou o carteiro em sua porta com uma correspondência que ele não esperava que chegaria, e quando leu o remetente no envelope, Gilbert correu para abrir e ler, pois estava curioso com aquela novidade tão inesperada. Assim que terminou de ler, um sorriso imenso surgiu em seu rosto, e ele imediatamente se perguntou porque não pensara em nada parecido.
Logo sua grande satisfação deu lugar a uma outra ideia. Aquilo merecia uma comemoração, por isso, iria preparar um jantar especial e esperar Anne chegar para que ele pudesse finalmente revelar a ela o que vinha planejando, e isso aconteceria em mais ou menos duas horas, pois esse fora o horário que ela dissera que estaria de volta. Por esta razão, Gilbert começou a pôr a mão na massa naquele instante.
Ao entrar no apartamento duas horas depois como o prometido, Anne estranhou a mesa posta para duas pessoas, onde havia luz de velas, flores, duas taças de cristal e uma bebida parecida com vinho, mas, que ela logo percebeu que era suco de uva, pois sua curiosidade tinha sido maior e ela tivera que provar para descobrir o que era. Naquele instante, Gilbert apareceu vestido casualmente com os cabelos úmidos do banho, e maravilhosamente lindo como sempre. Anne olhou confusa para toda a arrumação da mesa, e se perguntando se havia esquecido alguma comemoração, porém, Gilbert veio em seu socorro com um sorriso enigmático no rosto, e disse:
- Eu sei que está surpresa, mas, por que não toma um banho, e depois conversamos durante o jantar ? Eu tenho algo para te contar.- Anne assentiu, sem dizer nada, pois estava realmente sem imaginação nenhuma para tentar adivinhar o que Gilbert estava aprontando aquela vez.
Desta forma, ela tomou um banho rápido, vestiu um vestido leve estampado de flores, e voltou para a sala onde Gilbert a esperava todo galante. Ele puxou a cadeira para ela se sentar, enquanto servia-lhe o suco de uva e dizia:
- Deveria ser vinho de verdade, mas, como você não pode consumir álcool, eu acho que não se importará com a imitação.
- Então, vai me contar o que está planejando, Gilbert Blythe?- ela perguntou sem aguentar mais a curiosidade.
- Vamos jantar primeiro, e depois, eu prometo que te conto o que tudo isso significa.- Anne engoliu a frustração e acompanhou Gilbert no jantar até que finalmente, ele se deu por satisfeito e disse:
- Vamos nos sentar no sofá que quero te fazer uma pergunta.- eles caminharam de mãos dadas até a sala, se sentaram juntos no sofá, enquanto Anne quase morria de ansiedade por Gilbert fazer tanto mistério em torno do que tinha a lhe contar. Ele segurou em suas duas mãos e disse:
- Você se lembra que combinamos de nos casar em Paris?- ele perguntou de repente, e Anne olhando-o surpresa respondeu:
- Sim, mas, se bem me lembro será daqui a um ano.- Gilbert deu-lhe um sorriso suave enquanto sus mãos subiram para os cabelos dela e disse:
- Eu escrevi para tia Josephine duas semanas atrás perguntando-lhe sobre a possibilidade de fazer nosso casamento lá daqui a dois meses.
- O que?- Anne perguntou com o coração batendo forte.
- Sim, meu amor. Eu decidi que quero me casar com você agora, pois , quero que quando nosso filho nascer, você já seja minha legítima esposa. – Anne sentiu sua garganta se apertar e perguntou sem acreditar no que ele acabara de lhe contar.
- Você fez isso por mim?
- Você sabe que faço tudo por você, e não vejo motivos para não nos casarmos imediatamente. A única coisa é que como o médico aconselhou que você não passe por mais estresse, e eu sei que uma viagem longa assim poderia ser muito cansativa e não quero arriscar nada com você grávida, então, os planos tiveram que ser mudados. – O sorriso de Anne quase morreu pela decepção que sentiu, mas, depois ralhou consigo mesma, ao ver o quanto estava sendo ingrata com o que Gilbert tentara fazer. Se ela estava chateada, ele deveria estar três vezes mais por ver todo o seu plano ir por água abaixo.
- Tudo bem, amor. Podemos deixar para o próximo ano. Eu não me importo, desde que esteja comigo, eu posso esperar o tempo que for para nos casarmos.- Gilbert a olhou intensamente e então respondeu;
- Quem disse que teremos que esperar.
- Não entendi.- Anne ficou novamente confusa com o rumo da conversa, e Gilbert tratou logo de esclarecer:
- Eu enviei outra carta a tia Josephine agradecendo a ela por nos ajudar com o casamento, e explicando que teríamos que adiá-lo por conta dos últimos acontecimentos, e hoje, eu recebi uma carta dela que eu nem esperava que chegasse me dizendo: "Se Anne não pode vir a Paris, eu vou levar Paris até ela".
- Oque isso significa? Desculpe-me mas acho que hoje meu raciocínio está lento.- Anne disse envergonhada por não entender de primeira o que estava acontecendo.
- Isso quer dizer que faremos nosso casamento em Nova Iorque daqui a dois meses à moda francesa. O que acha da novidade?- Anne não conseguiu responder tão maravilhosa a ideia lhe pareceu. Tia Josephine era mesmo incrível, e Gilbert o melhor noivo do mundo. Sem conseguir demonstrar o que estava sentindo de outra maneira, ela o beijou de um jeito tão intenso que tirou o fôlego dos dois, e quando se separaram, Gilbert perguntou ofegante:
- Isso quer dizer que minha ideia foi aprovada?- Anne não respondeu novamente, dando-lhe outro beijo ainda maior, e em seguida, sem se separar dele, puxou-o pela mão até o quarto onde queria mostrar a ele o quanto ela aprovava aquela ideia.
Ela empurrou-o na cama e se deitou por cima do corpo dele, suas mãos deslizando pelo peito forte até encontrar os botões da camisa e abri-los um por um até sentir a carne macia dele em seus dedos. O cinto foi o próximo item a ser retirado, assim como a calça e o que havia por baixo dela, dando a Anne uma visão completa do corpo de seu noivo que sempre a fazia suspirar maravilhada. Gilbert por sua vez, não perdeu tempo em despi-la, pois assim como Anne, ele estava louco para que suas peles estivessem grudadas sem uma peça de roupa como empecilho. Esse era um momento que realmente apreciavam, seus corpos juntos em uma festa de amor particular.
Os beijos foram aumentando de intensidade, e o deslizar dos dedos de Gilbert por seu corpo se tornaram mais frenéticos, e quando ele a tocou mais intimamente, Anne sentiu que lhe faltava completamente o ar, e para demonstrar a intensidade das sensações que o rapaz provocava nela, suas unhas se enterraram nos músculos das costas dele, fazendo Gilbert gemer alto, deixando-a perceber o quanto estava excitado naquela noite. Eles rolaram pela cama e trocaram de posições muitas vezes, enquanto o desejo crescia sem controle. Anne enterrou as mão nos cabelos dele, e Gilbert desceu seus lábios pela pele quente dela, fazendo seus corpos se comunicarem em uma conexão perfeita, e quando Anne pediu ofegante que ele a possuísse, o mundo todo mudou de cor de repente como se a felicidade que ambos sentiam dentro de si por estarem mais uma vez se unindo em nome do amor que sentiam, espalhasse seu esplendor pelo ambiente ao seu redor. O prazer explodiu em questão de minutos, e Anne não soube mais quem era no momento em que seu corpo estremeceu por ter atingido o seu limite junto com Gilbert que a abraçou tão forte, que cada músculo seu conseguia sentir a força dos dele.
Anne o viu entreabrir os olhos enquanto um sorriso preguiçoso se desenhava nos lábios masculinos tão desejáveis aos seus olhos. Ela se aproximou do ouvido dele e disse:
- Já tem sua resposta em como eu aprovei sua ideia sobre o casamento.- com essas palavras, ela acabou ganhando um beijo de Gilbert que a fez se esquecer de tudo, menos do homem que a fazia perder a cabeça completamente.
O dia seguinte amanheceu especial para ambos, pois seria o momento em que saberiam se o bebê que Anne esperava seria um menino ou uma menina. Assim, quando se sentaram na frente do obstetra de Anne, ambos estavam tão nervosos que não paravam de apertar a mão um do outro. No momento em que o Dr. Miller abriu o envelope, leu o conteúdo que havia dentro dele, e olhou para Anne e Gilbert com a expressão séria, ela respirou fundo e esperou que ele enfim lhes contasse o que ambos queriam tanto saber.
- Bem, Gilbert e Anne, tudo o que tenho a dizer é que em sete meses vocês terão uma princesinha em seus braços.- Anne abriu a boca pra falar algo, mas, tanto sua emoção quanto a sua surpresa não permitiram. Ela olhou para Gilbert e vu um enorme sorriso em seus lábios, e logo percebeu o que ele estava pensando. Por mais incrível que aquilo pudesse ser, apesar de toda a intuição de Anne ter-lhe dito que seria um menino, seu lindo e tão competitivo noivo tinha ganhado a aposta.
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