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Capítulo 103- Um raio de sol



Olá, queridos leitores. Este capítulo está bastante emocional, e eu o escrevi da maneira que achei que os personagens se sentiriam em uma situação assim. Espero que apreciem o capítulo e me deixem suas opiniões como sempre tão importante para mim e o desenvolvimento da história. Desculpem qualquer erro ortográfico. Farei a correção assim que puder. Obrigada por tudo. Beijos, Rosana.


ANNE

As palavras de Sharon chegaram até ela como em uma névoa de incredulidade. O que ela mais desejara tinha mesmo acontecido? Será que tinha sido agraciada com aquela bênção justamente em mais um momento difícil? Quando todos os seus pensamentos estavam concentrados no homem que acabara de lhe dar aquele presente?

Anne se sentou na cama olhando para Sharon ainda incapaz de falar. Suas emoções estavam complicadas demais dentro dela para conseguir dizer alguma coisa. Ela olhou ao redor e se lembrou que fora em um lugar assim que sua sentença cruel fora assinada, e agora neste mesmo lugar essa sendo perdoada e liberada de sua culpa.

Um bebê, ela pensou. Tinha um bebezinho dentro dela, seu e de Gilbert, e ela mal podia coordenar seus pensamentos com essa ideia, e muito menos expressar em palavras seus sentimentos. Havia uma mistura deles tão grande que Anne quase se sentia sufocar de ansiedade, alegria, amor e medo. Ela cobriu o rosto com as mãos, ao perceber que o medo se sobressaía sobre todos os outros, porque havia tanta coisa em jogo no momento, e a vida de Gilbert era uma delas. Não havia garantias de nada, e como da outra vez teria que confiar que tudo ficaria bem, e que seu amor imenso por ele a ajudaria a salvá-lo. Entretanto, agora havia outra vida dentro dela que clamava por sua atenção, e ela teria que ser duas vezes mais forte dessa vez

- Anne, está tudo bem com você? - Ela ouviu a voz de Sharon falando com ela novamente, levantou a cabeça e encarou a amiga sem perceber que seu rosto estava banhado em lágrimas.

- Eu estou bem, só me sinto confusa. - Ela respondeu com sinceridade.

- Eu entendo. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, não é? Porém, eu devo te perguntar como se sente em relação ao bebê? Eu sei que talvez não seja o que você desejava agora, mas, eu não consigo imaginar coisa melhor que poderia te acontecer no momento. Uma criança é uma benção imensa.

- Um bebê foi o que eu sempre quis, Sharon. Só não imaginava que poderia acontecer agora, ou melhor, eu não imaginava que pudesse acontecer em alguma fase da minha vida, já que me deram apenas cinquenta por cento de chance de conceber.- Anne disse com um sorriso leve pousando a não sobre seu ventre e a deixou ali como se dessa forma pudesse proteger a vida que já crescia em sua barriga.

- Nossa, Anne. Você nunca me contou sobre isso. Como descobriu? - Anne ficou em silêncio. Não sabia se queria contar para Sharon todo o seu drama do passado. Não por falta de confiança, mas, porque ainda sentia o horror que tinha sido tudo aquilo, o sofrimento pelo qual passara, e sua lenta caminhada para se recuperar. Ela apenas queria se concentrar naquele momento onde ainda não sabia como lidar com a notícia que recebera, pois seus sentimentos contraditórios bagunçavam totalmente como se sentia por dentro.

Um lado seu queria gritar de felicidade, porque seu sonho enfim estava se concretizando, mas, seu outro lado tinha receio de acreditar demais naquilo e se decepcionar terrivelmente no final. E ainda tinha a cirurgia de Gilbert para considerar que estava deixando seus nervos em frangalhos. Como conseguir se equilibrar entre duas vertentes quando seu emocional estava a ponto de desmoronar?

- É uma longa história que vou te contar um outro dia, mas, não agora. Eu preciso pensar em como vou evitar que Gilbert descubra sobre o bebê nesse momento. - Sharon a olhou espantada e não menos chocada com o que ela dissera:

- Como assim não vai contar para o Gilbert? Ele é o pai e merece saber do filho que está a caminho.

- Você não entendeu o que eu disse. Eu vou contar, mas, não agora. O médico me pediu para que evitar qualquer situação que ele pudesse se estressar ou se emocionar demais, pois poderia ser muito perigoso em seu estado. Então, eu vou esperar que passe esse período da cirurgia para contar para ele sobre o nosso bebê. - Ao dizer essas palavras, a voz de Anne se embargou um pouco, mas ela conseguiu se controlar antes que se desmanchasse em lágrimas, pois ela já se sentia em prantos dentro do seu coração. Sharon segurou em sua mão, notando-lhe a emoção explícita em seu rosto e disse:

- Você não está sozinha, Anne. Estamos todos aqui com você.

- Obrigada, Sharon. Todos esses dias tem sido difícil para mim me manter confiante, e a notícia de que espero um filho de Gilbert torna tudo isso mais intenso, porém, mais doce de certa forma. E acho que posso ter esperanças de que tudo vai acabar bem no final. - Ela tentou sorrir, embora a apreensão ainda tomasse conta dela. Anne não queria se apegar a ideia de que seria mãe em breve, não queria começar a amar aquela sementinha em seu ventre tão completamente para depois perdê-la de uma hora para outra. O passado lhe ensinara bem a não esperar demais da vida, porque todas as vezes em que fora feliz, algo em troca lhe fora tomado, e não tinha motivos para acreditar que seria diferente agora.

Não havia felicidade sem dor, ela lera essa frase em algum lugar, e por experiência, Anne sabia que essas palavras de alguma forma eram verdadeiras. Por isso, ela não queria pensar demais naquilo, pois se desgastaria em teorias, e precisava de sua força para se concentrar em algo mais importante agora. Gilbert vinha em primeiro lugar, e sua recuperação também, e somente quando ele estivesse em casa, totalmente livre de qualquer perigo era que ela se permitiria pensar em um futuro com o bebê deles. Por ora, ela se contentaria em cuidar de seu noivo e de si mesma até que pudesse contar a ele aquela novidade tão linda

- Anne, tudo vai dar certo. Gilbert vai se recuperar rápido, e vai ficar maluco quando você contar a ele sobre o bebê. Ele te ama tanto, Anne. Um filho vai unir vocês dois ainda mais.- Sharon dizia todas as palavras que ela queria ouvir, e lá no fundo, ela desejava tanto que Gilbert estivesse ali com ela, pois ele também se sentia culpado pelo que acontecera, e descobrir que ambos geraram juntos outro bebê seria uma libertação e tanto para o peso que Anne sabia que como ela, ele ainda carregava, porém, não podia arriscar a saúde dele sendo afoita, e passando por cima de ordens médicas, ela teria que guardar segredo até que fosse seguro deixar que ele soubesse de tudo.

- Eu queria tanto que pudéssemos ter ouvido essa notícia juntos. Gilbert sempre quis ser pai, e a constatação de que talvez nunca pudéssemos ter um filho biológico o deixou arrasado, ainda assim, ele tentou me consolar dizendo que poderíamos adotar um filho, se isso era tão importante para mim. – ela parou um instante, lembrando-se da conversa que tivera com ele a tanto tempo atrás, mas cada palavra e sentimento daquele dia estavam em suas memórias como um eterno lembrete de sua limitação como mulher, depois, respirando fundo ela continuou falando: - Meu noivo é o melhor homem do mundo, Sharon. Não tem um só dia que não agradeça por ele ter surgido em minha vida. Gilbert é o meu lar, eu sequer consigo imaginar um segundo nesse mundo sem o amor dele.- uma lágrima escorreu quando Anne disse isso, e Sharon correu para abraçá-la.

- Anne, querida. Esse é para ser um momento feliz, e não para que você fique deprimida desse jeito. Eu sei que é difícil, mas, você e Gilbert vão ter uma vida longa juntos, não pense assim. Você precisa ser otimista, ter fé. - Sem perceber Anne começou a soluçar. Ela estava feliz pelo bebê, mas, tinha medo por Gilbert, e as duas emoções juntas a estavam deixando descontrolada.
Um médico entrou no instante em que Sharon a consolava, e vendo seu estado, ele perguntou preocupado:

- Sente-se mal, Sra. Blythe?- ela estranhou que ele a chamasse daquele jeito, pois a única pessoa que usava esse nome era Gilbert. Ela olhou para Sharon, e percebeu que fora a amiga que a registrara no hospital com o sobrenome do seu noivo. A moça notou o olhar interrogativo de Anne sobre ela, e disse baixinho:

- Achei que gostaria de ter algo de Gilbert com você nesse momento. -Anne apertou a mão de Sharon em agradecimento, enquanto se concentrava no médico que acabava de entrar, e respondeu a pergunta que ele lhe fizera com a voz trêmula:

- Eu estou um pouco nervosa com a situação.
- Por que? Você não quer o bebê?- a pergunta do médico foi direta e chocou Anne com seu tom um tanto seco, o que a fez responder:
- Sim, eu quero demais esse bebê, mas, estou passando por um momento muito difícil, e essa notícia me pegou totalmente de surpresa.

- Quer falar sobre isso?- o médico disse quase com compaixão. Anne ia dizer que não, mas, algo dentro dela quis deixar sair. Não aguentava mais a ansiedade e o peso daquilo tudo em cima dela, e por isso, ela balançou a cabeça concordando. Sharon percebendo a importância do momento disse:

- Vou deixá-los sozinhos, e quando quiser ir embora é só me avisar.- Anne sorriu fraco para amiga assim que ela cruzou porta, e então ela ouviu o médico dizer:

- E então? - Anne esperou um segundo, enquanto o médico a observava pacientemente, e então ela começou a contar tudo o que acontecera no último ano, seu aborto espontâneo, o coma da Gilbert, a amnésia, sua vinda para Nova Iorque, o coágulo que estavam enfrentando, e agora aquela gravidez inesperada. Quando terminou de contar, ela se sentia estranhamente vazia, mas aliviada.

- Você é noiva de Gilbert Blythe?- Anne olhou para o médico surpresa e perguntou:
- E o senhor o conhece?

- Sim. Ele foi meu aluno na aula de reprodução humana no ano passado, e por isso, quando você me contou sua história, eu me lembrei do caso. Gilbert sempre foi um dos meus melhores alunos, sempre dedicado e disposto aprender. Eu fiquei realmente penalizado quando soube do que aconteceu com ele antes, e mais ainda agora com esse novo drama que ele está vivendo.

- Então, o senhor pode imaginar o que é para mim descobrir que estou grávida e não poder contar para ele no mesmo instante.- Anne disse olhando para as próprias mãos.

- Sim, e você sabe que essa sua gravidez tem um certo risco pelo seu histórico anterior.

- Eu sei.- ela se lembrava quando lera o resultado dos testes de fertilidade que atestavam que ela tinha cinquenta por cento de probabilidade de engravidar, e também tinha uma nota que discorria sobre os riscos de um gravidez naquelas condições.

- Mas, isso não quer dizer que não possa ter uma gravidez tranquila. Desde que você siga toda as instruções de seu médico, e tome todos os cuidados necessários, seu bebê virá ao mundo saudável e sem nenhum problema adicional.- Anne sentiu um certo alivio ao ouvir aquilo. Pelo menos eram boas notícias depois de seus eternos pesadelos de que talvez nunca pudesse engravidar, e se caso acontecesse, haveria sempre o medo de perdê-lo como agora.

--Você tem um ginecologista de confiança em Nova Iorque, Anne?- ela balançou a cabeça em resposta, e o médico disse:- Vou te dar o endereço de minha clínica, ou posso indicar outro colega na mesma área se preferir.

- Não, acho que prefiro ir até a sua clínica.- Anne respondeu prontamente, pois a ideia de ter que se consultar com outro médico estranho, e contar todo o seu drama novamente não lhe agradava nem um pouco.

- Muito bem. Aqui está o meu cartão. Eu sou o Dr. Miller, e peço que vá a minha clínica o quanto antes, pois quero realizar alguns exames para começarmos a cuidar de sua gravidez da maneira correta.- Anne pegou o cartão, leu as informações nele contidas, e respondeu guardando-o em sua bolsa.

- Obrigada. Dr.Miller. Prometo que vou procurá-lo ainda na próxima semana..

- Estarei aguardando-a, e diga a Gilbert que lhe desejo toda a sorte do mundo.

- Obrigada, Doutor.- Anne disse, apertando-lhe a mão e se despedindo.

Quando saiu do quarto e se viu no corredor, Sharon a esperava sentada em uma poltrona perto do corredor. Assim que a viu, ela caminhou em sua direção com um sorriso nervoso nos lábios e perguntou:

- Tudo bem com você? O que o médico lhe disse?

- Que minha gravidez é de certo risco.- Anne disse com um sorriso triste e Sharon a abraçou:

- Oh, Anne, eu sinto muito.

- Eu já sabia que se eu engravidasse correria certo risco, mas, isso nunca impediu o meu sonho de ser mãe.

- Você já sabe o que vai fazer sobre isso?

- O Dr. Miller me pediu para ir até o consultório dele na próxima semana, pois ele quer realizar alguns exames. Ele também me disse que se eu seguir à risca todos os cuidados médicos nada me impedirá de ter um filho saudável.

- Isso é ótimo, minha amiga. Quer que eu vá com você?- Anne olhou para
Sharon agradecida. Ela se sentia temerosa de enfrentar tudo aquilo sozinha sem Gilbert, pelo menos, naquele início de gravidez, e ter o apoio de Sharon era-lhe muito importante.

- Sim , por favor. Eu queria o Gilbert comigo, mas já que não é possível vou precisar de todo o apoio que eu conseguir.- ela pensou em Matthew, e em Diana. Como eles lhe faziam falta. Anne não se permitia pensar em Marilla do mesmo jeito, porque não sabia até que ponto receberia o apoio dela naquele assunto, porém, Matthew nunca escondera sua vontade de ter um neto, e Diana estaria ao lado dela se pudesse, e é claro que sempre poderia contar com Cole para o que precisasse, no entanto, a única pessoa que desejava do seu lado naquele instante era a única que não poderia ter, e seu coração sofria com isso, por mais, que dissesse a si mesma que era temporário.

- Fique tranquila. Estarei lá com você e vou te apoiar em tudo, até que Gilbert possa fazê-lo por si mesmo.

- Obrigada mais uma vez, Sharon. Eu queria apenas te fazer mais um pedido. Provavelmente Jonas pode vir a saber sobre minha gravidez aqui no hospital, caso ele lhe diga alguma coisa, só peça a ele que não comente com ninguém por enquanto, pois não quero que Gilbert fique sabendo até que eu mesma possa contar tudo a ele.

- Não se preocupe. Vou garantir que ele não conte nada a ninguém.- Sharon respondeu apertando-lhes as mãos com afeto.

Elas pegaram um táxi para casa, pois Anne não se sentia bem o bastante para caminhar. Assim que desceu em frente ao próprio prédio, Anne se despediu de Sharon, e subiu até o apartamento contando os passos, pois, tentava dessa maneira disfarçar o turbilhão de emoções e dúvidas dentro de si, prometendo por todo o caminho que se controlaria ao máximo para que seu noivo não percebesse o que estava acontecendo com ela.

Porém, bastou que abrisse a porta de entrada, e ver Gilbert deitar seu olhar preocupado sobre ela para que Anne sentir todas as suas estruturas abaladas.

- Anne, pelo amor de Deus, onde estava? Li seu bilhete, mas, isso foi a cinco horas atrás, e nele você me dizia que voltaria em no máximo em duas horas.- ela não respondeu de pronto, pois sua garganta se fechou, e para seu horror, lágrimas abundantes chegaram e junto com elas soluços doloridos sacudiam seu corpo frágil, e a única coisa que conseguiu murmurar diante de um Gilbert assustado com sua reação foi:

- Por favor, só me abraça.- ele caminhou apressadamente em sua direção e a tomou em seus braços, e ao sentir o calor dele envolve-la, ela chorou mais ainda fazendo Gilbert perguntar:

- O que foi, amor? Está se sentindo mal? Alguém magoou você? Diga-me alguma coisa para que eu possa te ajudar.- Gilbert estava aflito, ela podia sentir, e por pouco ela não contou sobre o bebê, mas, no último minuto, ela se conteve, pois, não podia fazer aquilo com ele, mesmo sabendo que Gilbert ficaria bravo com ela depois por ter omitido algo tão importante dele.

- Não, só me prometa que vai voltar para mim. Por favor, Gilbert, só diga que quando sair daquela cirurgia, eu vou ter você inteiro para mim de novo.

- Anne...

- Prometa-me, por favor. Eu não vou conseguir ficar bem se você não me prometer.- era egoísmo de sua parte fazer aquilo com ele, mas, a verdade era que o medo retornara tão forte no momento em que o vira, que não conseguia controlar o choro. Ela estava apavorada, seus nervos estavam descontrolados, tudo que queria era que Gilbert continuasse abraçando-a até que aquele terremoto passasse e pudessem ficar em paz outra vez.

- Anne, se isso te faz ficar melhor. Eu prometo que vou voltar para você, meu amor. Eu sempre vou voltar para você, não importa quantos obstáculos me impeçam. – ela se afastou um pouco para olhar para aquele rosto adorado, por entre as lágrimas que atrapalhavam um pouco sua visão, ela viu os olhos castanhos de Gilbert brilhando cheios de amor, e sem pensar, ela o beijou, esfregando seu rosto molhado no dele, suas mãos correndo pelo peito coberto apenas por uma camiseta fina de algodão, ouvindo o coração dele pulsar contra o seu, enquanto seus lábios desesperados necessitavam do gosto dele, da sua força, do seu amor. Eles andaram até o sofá, onde Anne se deitou e puxou Gilbert sobre ela, não se importando com o peso do corpo masculino sobre o seu. Ela o queria como nunca, sua alma clamando pela dele, sua pele implorando pelo único toque que desejaria a vida inteira.

Eles se despiram, e em menos de segundos estavam se amando. Gilbert não fez nenhuma pergunta, como se sentisse que ela precisava daquilo tanto quanto ele. A cirurgia seria no fim da próxima semana, e depois não sabiam quanto tempo ficariam sem se tocar daquela maneira, por isso, seus gestos eram todos tão desesperados quanto apaixonados, e Anne nunca se entregou a Gilbert como fizera naquele momento. Seu corpo parecia insaciável, assim como cada toque ia além da razão. Seus beijos quentes, molhados e frenéticos seguiam os movimentos de cada um de seus músculos, enquanto o deslizar pela pele um do outro também tinha um ritmo próprio quase como se quisessem que cada parte fosse marcada com o fogo da sua paixão. Quando chegaram ao êxtase final, Anne ouviu Gilbert dizer quase ofegante:

- Eu te amo.

- Eu te amo mais.- ela disse antes de sentir seu corpo explodir junto com o dele no ápice do seu desejo.

Ninguém poderia separá-los naquele instante em que se agarravam um ao outro como se protegessem de qualquer sofrimento ou dor que rondasse sua felicidade, e permaneceram assim por horas como se o mundo todo fosse uma mera paisagem lá fora, e a única coisa que fosse real e verdadeira era o amor que havia naquele abraço e no entrelaçar de seus dedos.



GILBERT

Ele olhou para Anne adormecida em seus braços, e tocou-lhe a face pálida. Ela era tão linda que roubava-lhe o fôlego olhá-la assim, tão suave e tranquila perdida no mundo do sonhos.

Eles tinham se amado no sofá da sala do jeito mais louco e selvagem possível, e depois ficaram abraçado sem dizer nada, apenas sincronizando suas respirações, seus corações no mesmo embalo, suas mãos agarradas, e quando Anne adormeceu, ele a carregou para a cama e ele acabou pegando no sono também..

Ele sabia que tinha que acordá-la pois estava na hora do jantar, mas, algo na expressão serena dela o impediu. Gilbert queria ficar mais um tempo assim com ela, pois tinha receio de perder algum segundo dela em seus braços e não saber quando poderia sentir o calor dela de novo. Tinham poucos dias antes da cirurgia, e cada momento juntos era importante para ambos. Ele tinha tanta coisa ainda para dizer para ela, que não sabia como faria isso antes de deixá-la para seguir o seu destino naquele hospital para o melhor ou pior de tudo.
Seu destino era uma incógnita, mas seu amor por Anne sempre seria a coisa mais real que já tivera e já vivera. Ela era o sentido de tudo quando dentro dele nada parecia se encaixar. Ela era sua força quando sentia que estava a ponto de sucumbir à exaustão da vida , ela era seu raio de sol em um dia em que a escuridão ameaçava tomar conta da melhor parte de si mesmo. E nos últimos dias, ela vinha sendo a única razão de ele se levantar da cama e enfrentar seus pensamentos pessimistas e o início de uma angústia sem fim. Gilbert não temia a cirurgia, não era esse o ponto principal. Ele temia o que viria depois, talvez uma sequela, o esquecimento do que fora até ali . Ele já passara por isso, e se lembrava bem de como fora viver por três meses em um mundo totalmente branco dentro de sua cabeça, e enfrentar isso de novo seria um martírio sem precedentes.

E esse parecia ser o maior medo de Anne também, o que lhe causava os pesadelos, que não a deixava dormir e nem comer direito, e o que a fizera voltar para casa aquela tarde em prantos, fazendo-o prometer que ele voltaria para ela de qualquer maneira, e ele o faria se dependesse dele.

Anne o deixara preocupado com sua crise, depois de dias se fazendo de forte, mas, ele sabia que esse momento chegaria, pois Anne, como ele, não era feita de ferro, e em algum instante entre sua fortaleza e fragilidade, a segunda se destacaria, e estava feliz por ter estado lá para abraçá-la como ela precisara que ele estivesse.

Ela se mexeu e resmungou o nome dele, e Gilbert pensou que ela despertaria, mas ao invés disso, ela se aconchegou mais a ele deitando sua cabeça no peito dele, e Gilbert sentiu que seus olhos marejavam, e suas emoções se agitaram dentro dele como um grande furacão arrasando com cada uma de suas defesas. Ele não esperava se emocionar daquela maneira apenas vendo-a dormindo, e pensou que somente Anne era capaz de fazer seus sentimentos transbordarem por ela como um rio cheio demais.

Com cuidado Gilbert beijou-lhe a testa, seu olhar se demorando em cada traço dela, reconhecendo para si mesmo que nunca vira algo tão belo na vida. Um anjo encarnado cujo coração não conhecia o preconceito, um caráter incrível que nem mesmo a sordidez do mundo fora capaz de destruir , uma rosa que desabrochava no raiar de cada dia viçosa e fresca, uma alma livre cuja imaginação era tão fértil como a terra na época da colheita. Assim era Anne, a mulher da sua vida, a única que nascera para ele, e a quem amaria até o fim de seus dias.

Sem se conter mais, ele puxou a nuca dela suavemente em sua direção e a beijou, mesmo sabendo que ela despertaria, pois precisava dos lábios dela sobre os seus novamente , e sentir todo o calor daquele corpo macio contra o seu. Anne correspondeu mesmo antes de estar completamente desperta, como se todos os seus sentidos estivessem condicionados a responder ao toque de Gilbert de qualquer maneira. Então a boca dele explorou cada recanto da dela, sentindo o perfume de Anne invadindo o seu sistema , e milhares de sensações se espalharam por sua pele em uma loucura nova que fez o desejo entre eles se alastrar como fogo sobre palha seca.

Ela rolou sobre o corpo dele, suas mãos apertando o ombro de Gilbert sentindo-lhe os músculos da região, enquanto ele tocava-lhe as costas nuas em movimentos lentos, mas intensos. Em um certo momento, eles não puderam mais prosseguir, e assim se separaram depois de trocarem vários beijos curtos e molhados . Anne deixou que seus cabelos se espalhassem pelo peito de Gilbert enquanto o encarava com um sorriso suave e dizia:

- Que delícia ser acordada assim, amor.

- Desculpe--me por tirá-la de seu sono tranquilo, mas não resisti quando te senti tão perto de mim.- os dedos dele estavam em seus cabelos e logo encontraram o caminho até o rosto dela, onde suas mãos acariciaram cada ângulo sem pressa.

- Se me prometer me acordar assim todos os dias, está perdoado.- ela disse entre um ar risonho e um olhar cheio de uma malícia inocente.

- Vou fazer o melhor que puder. - Ele disse entrando na brincadeira dela, mas, logo ficou sério e perguntou: - Vai me contar agora porque chegou em casa daquele jeito?- Anne deixou seu ar de riso morrer, e olhou séria para ele antes de responder:

- Não foi nada. Eu apenas perdi o controle. Desculpe-me.
Anne desviou o olhar do dele nesse ponto da conversa, o que fez com que Gilbert não acreditasse muito no que ela dissera:

- Vamos, Anne. O que está escondendo de mim?- ele viu o olhar dela brilhar com uma emoção que ele não reconheceu, mas logo ela assumiu uma expressão neutra deixando-o ainda mais desconfiado. Anne brincou com os dedos em seu cabelo e respondeu:

- Não tenho nada a esconder. Apenas estou tensa com toda essa situação, mas, prometo que vou melhorar.

- Eu sei que está sendo sofrido para você, mas, acredite. Está sendo difícil para mim também. Odeio vê-la desse jeito por minha caus. - ele desabafou, seu peito subindo e descendo em uma demonstração de suas emoções profundamente alteradas. Ela pegou rosto dele entre suas mãos e disse:

- Gilbert não é culpa sua. Não fique tenso desse jeito. Isso só te fará mal.

- Não consigo evitar de me sentir assim.- Ele disse se sentando na cama quase que imediatamente ao pronunciar essas palavras .

- Desculpe-me por tornar as coisas ainda piores para você
- Anne se lamentou infeliz, e Gilbert tratou de abraçá-la e dizer:

- Você é a única coisa boa nisso tudo. Não sei o que faria se não tivesse você.

- Estou aqui, Gilbert. Você sabe disso.- Anne disse beijando-o no rosto.

- Sim, eu sei. É por isso que te amo ainda mais .Não quero que se esqueça, Anne, de tudo o que significa para mim.- seus braços estavam ao redor dela novamente, e ficar assim com Anne era tudo o que podia desejar. O sorriso que brilhou no rosto dela com essas palavras fez o coração de Gilbert sossegar. A última coisa que queria era causar mais preocupação ou tristeza para Anne.

- E eu quero que não se esqueça de que sou sua mulher, e que quando acordar daquela cirurgia eu estarei lá segurando sua mão.

Ambos trocaram um olhar cúmplice daqueles que somente duas pessoas que se amavam profundamente quanto eles poderiam fazer. Havia muitas palavras nas entrelinhas, que não precisavam ser oralizadas, pois seus corações sabiam exatamente o que queriam dizer.

- Que tal se preparássemos algo para comermos agora? - Gilbert disse, e ele viu o rosto de Anne empalidecer de repente, e com um sorrio fraco, ela respondeu:

- Está bem.

E assim ambos se vestiram e foram para a cozinha juntos preparar o jantar, e depois de um tempo relativamente curto, tudo estava pronto. Apesar de terem feito o prato favorito de Anne, espaguete ao molho, Gilbert a viu brincar com a comida sem de fato comê-la. Preocupado, Gilbert perguntou:

- Não está com fome, Anne? Você parecia tão animada quando sugeriu esse prato.

- Eu sei, mas acho que fiquei satisfeita de apenas vê-lo preparando-o. - Aquilo não soou muito animador aos ouvidos de Gilbert que perguntou novamente:

- Tem certeza que é só isso? Não está se sentindo mal novamente, não é?- Ele viu Anne hesitar enquanto colocava uma porção de macarrão na boca, e mastigar com cuidado antes de engolir.

- Não, está tudo bem.- ela disse e Gilbert decidiu acreditar nela daquela vez.

Mesmo assim, ele esperou que Anne saísse disfarçadamente da mesa como nos outros dias para ir até o banheiro, mas como não aconteceu, ele sentiu -se mais calmo com isso . Talvez as emoções dela tivessem lhe dado uma trégua naquela noite, e Anne pudesse finalmente desfrutar de uma refeição sem o mesmo ritual de todas as noites, quando ela se trancava no banheiro dizendo que era para escovar os dentes, e Gilbert sabia que era outra coisa.

Qual o preço que teriam que pagar ainda para poderem viver seu amor sem que se esbarrassem a toda hora em um empecilho, ou espinho que estava disposto a cobrar mais um pouco deles, Gilbert não sabia. Ele apenas esperava que Anne fosse resistente como ele imaginava que ela fosse, para não desistir de fazê-lo, e percorrer todo o caminho de volta sem ele.

Eles se deitaram não muito tarde aquela noite, porém, ao invés de dormir ficaram se olhando por muito tempo e trocando confidência , relembrando momentos em Avonlea, e em Nova Iorque. Nenhum dos dois parecia ter pressa em adormecer ou que o dia amanhecesse logo, porque as lembranças e aquele momento eram tudo o que parecia importar. Eles não queriam pensar em nada que não estivesse fora daquele apartamento, entre as quatro paredes do seu quarto onde o amor de ambos sempre se mostrara mais forte, livre de qualquer influência externa, longe de tudo que pudesse ferir, fora do alcance da dor.

Quando não puderam mais manter os olhos abertos, eles dormiram aninhados juntos em um único travesseiro, as pernas de Anne nos meio das de Gilbert, suas mãos espalmadas no abdômen dele, enquanto Gilbert a abraçava junto a si. O dia seguinte veio e como todos os outros trazia uma ansiedade que se espelhava tanto no rosto de Gilbert quanto no de Anne, pois tinham apenas mais quatro dias pela frente separando-os do dia que selaria seu destino, onde ambos de alguma forma teriam que recomeçar de onde pararam ou do zero, na pior das hipóteses.

Porém, eles resolveram que passariam aqueles dias completamente alheios ao mundo lá fora, mesmo que ameaça de uma mudança repentina estivesse no ar cada vez que suas mentes traiçoeiras dava uma ajudazinha para que não se esquecessem totalmente. Como estavam de férias, os compromissos eram mínimos, então, Anne dedicou parte de sua atenção a livros que queria ler, mas não tivera tempo por conta de seus dias atarefados nos últimos tempos, e Gilbert passou a organizar todo o seu armário e gavetas onde havia coisas demais acumuladas, mas, nem por um minuto, ele perdia Anne de vista, ela podia estar sentada com um livro nas mãos no sofá com Milk ressonando ao seus pés, ou na cozinha preparando a comida favorita dele, mesmo que ela própria estivesse comendo cada vez menos, seus olhos estavam sobre ela, admirando-a, cuidando, e observando certas particularidades que desde o dia em que ela voltara chorando para casa estavam sutilmente diferentes. Anne estava diferente de alguma maneira que ele não conseguia descobrir. Ela lhe sorria, conversava normalmente, segurava em suas mãos, tudo como sempre fizera, porém, ele às vezes a pegava olhando para o nada como se estivesse em busca de uma solução para um problema muito complicado em sua mente, ou sorria de leve como se compartilhasse uma descoberta muito doce consigo mesma, ou ainda ficava agitada, como se algo dentro dela exigisse uma ação imediata.

Gilbert deixara de perguntar ao perceber que ela não lhe contaria de livre e espontânea vontade, assim, ele deixou tudo aquilo passar, como se ele não tivesse noção de que Anne estava escondendo algo dele. Talvez não fosse nada sério, e talvez não fosse nada, apenas uma pequena impressão de sua mente preocupada demais com tudo o que tinha a ver com ela, pois conhecê-la bem demais era que não o deixava se enganar de que Anne estava apenas nervosa por conta de sua cirurgia eminente.

Assim, os dias foram passando, e a quinta-feira chegou, e a ansiedade e o temor que ele e Anne foram capazes de ignorar de certa forma estava de volta, porém, eles se recusavam a gastar energia com tais pensamentos,, e por isso, tentaram fazer daquele dia o melhor de todos. Eles ficaram mais tempo na cama, tomaram o primeiro banho do dia juntos, compraram pizza ao invés de perder tempo na cozinha com o almoço, e somente a tarde foi que cada um fez algumas atividades separados.

Anne foi se encontrar com Sharon, pois elas tinham combinado de fazer algumas coisas juntas naquele dia, e Gilbert até achava válido que ela saísse um pouco de casa, se afastando um pouco da realidade do qual não podiam mais fugir. Desta forma, ele decidiu que também tinha algo a fazer, e por isso, foi até o hospital falar com Jonas para que o ajudasse em uma questão importante para ele. O amigo como sempre estava em seu período de estágio, e quando viu Gilbert, ele veio falar com ele imediatamente, seus passos ecoando pelos corredores do hospital em um ruído seco e característico.

- Olá, Blythe. Eu ia mesmo te visitar hoje. Queria saber como se sente para a cirurgia amanhã.

- Estou tentando ser otimista. Você sabe dos riscos, como também deve saber que não tenho escolha. - Gilbert disse passando a mão pelo próprio pescoço em um gesto nervoso.

- Não pense assim, Blythe. Suas chances de recuperação são excelentes. Não se apegue a lado ruim da coisa toda. A esperança deve vir em primeiro lugar.

- Eu sei, mas o que me preocupa realmente é a Anne. Não sei como ela vai enfrentar isso tudo. Ela é forte, mas, eu também sei que ela tem suas fraquezas, e não quero vê-la em desespero por minha causa.

- Ela não está sozinha Prometo que vamos cuidar dela até que você esteja bem de novo. Ela terá todo o apoio que precisa.

- Obrigado, Jonas. Isso é o mais importante para mim, e por esta razão, eu vim até aqui te pedir um outro favor.- ele tirou um envelope do bolso e o entregou para o amigo dizendo:- Poderia entregar para a Anne quando eu estiver em cirurgia? É imprescindível que ela leia o que está aí. - Jonas olhou para o envelope azul em suas mãos e em seguida seu olhar se encontrou com o de Gilbert, fazendo-o balançar a cabeça enquanto dizia:

- Blythe, você acha mesmo isso necessário?

- Não é uma carta de despedida, Jonas. São apenas palavras que não terei tempo de dizer a ela até amanhã. Por favor, é importante que ela receba esse envelope, e não vou ficar tranquilo se você não me prometer que o fará. - Jonas continuou-o a olhá-lo e Gilbert percebeu a enorme responsabilidade que aquilo seria para o amigo, porém, não voltou atrás. Não confiava em mais ninguém para fazer aquilo para ele.

- Está bem Blythe. Se é tão importante, eu prometo que entrego para ela. – Jonas respondeu enfiando o envelope no bolso da calça.

- Obrigado. Agora preciso ir. – Gilbert disse apertando a mão do amigo.
- Boa sorte, amanhã, Blythe. Todos os nossos pensamentos estão com você:- Gilbert apenas assentiu, e caminhou para fora do hospital com seus pensamento .agitados em sua cabeça.

Anne não demorou a voltar para casa, e parecia estar calma apesar do que estava para acontecer no dia seguinte. Eles jantaram e foram para cama, contudo, não fizeram amor aquela noite, pois estavam tensos demais para fazer qualquer coisa que não fosse se agarrarem um ao outro em um abraço apertado que resumia um mundo inteiro de amor naquele espaço mínimo entre os dois.

Eles despertaram cedo, e tomaram seu desjejum rapidamente. A pequena mala com as coisas que Gilbert precisaria no hospital tinha sido arrumada por Anne no dia anterior, e assim eles não tinham muito o que fazer a não ser esperar pelo momento em que a internação de Gilbert se concretizaria, e depois a cirurgia seria realizada como o panejado. Uma hora antes, eles se sentaram juntos no sofá, e Anne se agarrou a ele como se nunca mais fosse soltá-lo. Gilbert também tinha essa vontade de ficar com ela presa em seus braços para sempre, mas, sabia que isso seria impossível. Corajosamente Anne não derramou nenhuma lágrima, e Gilbert teve que admitir que ficara aliviado com isso, pois, nervoso como estava, não saberia como lidar com uma crise de choro de Anne naquele instante. Deste modo, eles ficaram assim, sentindo seus corações batendo, suas respirações descompassadas, e o calor um do outro agir como um conforto temporário, porém eficaz

Então, o relógio badalou nove horas, Gilbert puxou Anne para um beijo intenso e apaixonado, o último que teriam nas próximas horas. Assim, eles se levantaram, pegaram a mala de Gilbert que estava perto da porta e saíram para o corredor. O momento tinha finalmente chegado.


GILBERT E ANNE

Os acontecimentos seguidos à saída deles do apartamento até a chegada ao hospital ocorreram de maneira tão rápida, que Anne mal conseguira processar tudo de uma só vez.

Seu coração batia tão rápido que ela tinha medo de que em algum momento ela não suportasse e acabasse desbando no chão da sala de espera. Assim que pisaram no saguão da recepção, Gilbert fora levado dela, e Anne sequer pudera se despedir dele direito. Ela queria tê-lo acompanhado até a sala de emergência onde ele seria preparado para a cirurgia, mas não fora permitido, pois lhe disseram que somente os médicos e o paciente podiam ter acesso àquela ala do hospital. Ela quisera protestar, mas seu bom senso prevaleceu ao fazê-la perceber que o que menos Gilbert necessitava era uma cena da parte dela naquele momento tão tenso para ele. Assim, ela se limitou a ficar na sala de espera, olhando para as paredes brancas a sua frente, enquanto seu amor estava em alguma parte daquele hospital esperando para ser operado.

O único momento que ela pôde ter um breve vislumbre de Gilbert, antes de ele ser carregado para a sala de cirurgia foi quando passaram com ele deitado na maca perto do corredor onde Anne estava sentada. Ela correu até ele, segurou em sua mão por um breve momento e disse:

- Volta para mim. - e com aquele sorriso maravilhoso que ela amava mais que tudo ele respondeu:

- Sempre.

Assim, ela fora deixada sozinha novamente, totalmente consumida por seus terrores e preocupações, tentando não se deixar sucumbir pelo seu cérebro que a tortura com um milhão de "se". Se Gilbert não acordasse, se Gilbert não aguentasse a cirurgia, se Gilbert não se lembrasse dela, se Gilbert nunca mais acordasse, até que desesperada ela se obrigou a pensar em outa coisa, e instintivamente, ela colocou a mão protetoramente sobre sua barriga, se permitindo pela primeira vez pensar em seu filho.

No dia anterior, ela tinha ido a clínica em companhia de Sharon, e para Gilbert não desconfiar, ela lhe dissera que iria tomar um café com a amiga no centro da cidade. Fora difícil disfarçar seus enjoos nos dias anteriores aquele, e muitas vezes acabara chorando no chuveiro por causa da carga emocional pela qual estava passando. Ela carregava um filho do amor de sua vida, e mesmo sabendo que isso daria a ele a maior alegria do mundo, ela não podia contar pela própria segurança dele. Por esta razão, Anne tivera que se segurar ao máximo para não deixar nada escapar em suas conversas que o fizesse desconfiar do seu estado, embora, ela percebesse que ele intuíra que ela estava diferente, mas, pelo menos não chegara a conclusão do óbvio, e a tensão do momento também contribuíra para que Gilbert não descobrisse o que ela estava escondendo, pois a cabeça dele estava ocupada demais com outras coisas para que ele enxergasse em Anne a possibilidade de uma gravidez.

Sharon fora de grande apoio naquele momento em que Anne não tinha Diana ou Cole a seu lado. Ela a acompanhara até o consultório, e ficara com Anne até que a ruivinha realizasse todos os exames necessários. Os resultados sairiam dali a alguns dias, mas, pelo menos fisicamente o médico dissera que ela parecia bem. Ele apenas receitara à ela ferro e um suplemento para ajudá-la com os enjoos e a falta de apetite, e Anne, voltara para casa com um preocupação a menos mesmo que temporariamente.

- Seu pai vai voltar para a gente, e eu vou contar a ele sobre você meu amor, e posso imaginar a felicidade dele ao saber que você está a caminho e que seremos uma grande família.- ela falava com o bebê , acreditando piamente que ele poderia ouvi-la, pois sempre acreditara que a conexão de uma mãe com o seu bebê fosse uma coisa fora de discussão. Eles partilhavam tudo, suas emoções, sentimentos e sensações, por isso, era tão importante se manter tão otimista a respeito daquela situação, para que seu bebê não sofresse com o nervosismo dela.

- Anne, minha querida. - ela olhou em direção aonde a voz tinha vindo e se deparou com Cole vindo em sua direção acompanhado de Sharon, e Anne quase chorou de alívio por perceber que não estava mais sozinha. Ela se atirou nos braços do amigo, e pela primeira vez naquele dia, ela se permitiu chorar enquanto Cole lhe dizia palavras de conforto, consolando-a com o imenso carinho que sentia por ela. Então, o amigo se aproximou do ouvido dela e disse baixinho:

- A Sharon me contou do bebê.- o que fez Anne chorar mais ainda, pois nunca a falta de Gilbert foi tão doída como naquele momento em que sem querer passou pela sua cabeça que ele poderia nunca vir a saber da enorme benção que crescia em seu útero gerado pelo amor de ambos.

- Fique calma. Você precisa pensar no seu filho agora.- Sharon disse apertando-lhe a mão, e Anne apenas assentiu, sabendo que amiga tinha razão.
Em meia hora, Carlos tinha chegado, depois Patrick e por último Jonas, e todos se reuniram em volta dela como se assim pudessem criar uma rede de proteção de otimismo e esperança, enviando para Gilbert todas as vibrações positivas possível, e Anne se sentiu imensamente agradecida por não estar se sentindo completamente desesperada como na última vez em que estivera em uma situação semelhante com Gilbert.

Mais três horas tinham se passado e nenhuma notícia da cirurgia tinha sido divulgada, e Anne começou a se sentir aflita a ponto de sufocar. Por isso, ela se levantou, foi até Jonas e perguntou:

- Existe alguma capela nesse hospital, Jonas?

- Sim. Quer que eu te leve até lá?- ele perguntou e ela assentiu.
- Deseja que eu vá com você, Anne?- Cole perguntou preocupado com o estado agitado em que ela se encontrava.

- Não. Eu prefiro ficar um pouco sozinha. - ela respondeu beijando as mãos de Cole, e seguiu Jonas até uma capela pequena nos fundos do hospital. Enquanto ela se sentava no banco de madeira, Anne percebeu Jonas parado perto dela que parecia indeciso sobre algo, e assim perguntou::- Algum problema, Jonas?

- Não. Na verdade, Gilbert me pediu para te entregar isso, e não sei ao certo se devo fazer isso agora, mas, como prometi a ele não posso quebrar minha palavra.- ele estendeu a Anne o envelope azul com a letra caprichada de Gilbert, e Anne o pegou com as mãos trêmulas, sem sequer imaginar o que poderia estar escrito ali.

- Vou deixá-la sozinha para que possa ficar à vontade. Se precisar de mim, estou no corredor.- ele disse, apertando o ombro dela direito com afeição, e saiu pela porta da pequena capela.

Sem perder tempo, Anne desdobrou a folha de papel que estava dentro do envelope e começou a ler com seu coração se acelerando a cada palavra:

Meu amor,

Aqui estamos novamente frente a uma situação que traz à tona todas as nossas dúvidas e receios, e sinto muito por ser eu a provocá-la mais uma vez. Eu jamais desejei machucar você, embora o tenha feito algumas vezes sem que realmente eu pudesse impedi-lo. Contudo, quero que saiba, que todas as mágoas causadas por mim nunca foram por falta de amor, e sim por excesso dele, e por isso, é que lhe peço que nunca se esqueça desse sentimento que fala através de mim por todos os meus poros.

Amar você tem sido o melhor sonho realizado da minha vida, e nunca me arrependi de ter lutado por você, de ter feito de tudo para mantê-la ao meu lado, porque você Anne, era a parte que faltava para que eu me sentisse completo, você é a melhor parte de mim, é o que me fez lutar em todos os momentos quando eu sentia uma enorme vontade de desistir de mim mesmo e de meus sonhos. Nunca existiu ninguém para mim a não ser você, e saber que sou amado da mesma maneira me torna tão imensamente abençoado por ter tido o privilégio de conhecer a garota mais linda e maravilhosa do mundo, e nunca quero perder essa dádiva de tê-la em minha vida como minha mulher para sempre.

Você me fez prometer que voltaria para você, e pretendo cumprir essa promessa até meu último suspiro, mas, caso eu não possa, por favor, não quero que fique triste, e nem deixe de viver por mim, pois você merece tudo de bom que a vida tem a lhe oferecer e muito mais. Eu te daria o mundo se pudesse, Anne, mas, você mesma pode seguir seu próprio caminho, pois a luz que vem de dentro de você vai te guiar até as estrelas se você permitir, e quero que se lembre de tudo o que é capaz de fazer, porque você sempre foi mais forte do que eu.

Você se lembra de todos os nossos planos? Se eu não puder realizá-los com você, quero que você siga com eles mesmo assim. Vá até Paris no próximo ano e visite aqueles lugares maravilhosos onde uma vez eu te declarei todo o meu amor, conclua sua faculdade e mostre ao mundo a mulher inteligente e corajosa que você é. Termine nossa casa, e more nela se quiser ou a transforme em um grande orfanato para crianças que merecem um lar cheio de carinho e amor que só alguém com seu coração puro é capaz de lhes dar. Construa um futuro rico e próspero para si mesma. e acima de tudo, se permita amar e ser amada de novo, pois você mais do que ninguém merece uma vida boa e feliz.

Eu sempre te amarei minha Anne com e. Você não sabe a felicidade que causou em minha vida por ter sido tão minha em todos aqueles nossos momentos em que fizemos amor tão apaixonadamente, que conseguimos alcançar o paraíso somente com nossos beijos. Serei eternamente seu onde quer que eu esteja, e se nossos olhos não puderem mais se encontrar quero que guarde essa verdade dentro de sua alma incrível. Eu te amei ontem, hoje, amanhã e todos os dias em que me permitirem continuar respirando, e quando eu não puder mais, ainda assim levarei esse amor comigo, pois um sentimento assim durará por toda a eternidade.

Esta não é uma carta de despedida, meu amor, e sim um lembrete do que nos espera quando eu abrir os meus olhos, e puder olhar para você e dizer: Eu voltei para você, agora e para sempre

Com amor,

Seu Gilbert.

Anne não conseguia parar de chorar, as lágrimas rolavam embaçando sua vista, e quando terminou de ler a carta com grande esforço, ela soluçava tanto que seu coração parecia querer se partir. Ela não conseguia imaginar uma vida sem ele, doía demais pensar que poderia perder a única pessoa que era capaz de fazê-la sorrir e se sentir feliz. Ela nunca poderia amar de novo, e se aquele fosse o romance trágico que ela imaginara que um dia teria, isso significava que morreria amando Gilbert Blythe, porque ela sempre pertenceria a ele e a mais ninguém.

- Anne, não chore assim. Vai ficar tudo bem.- a voz ao seu lado era conhecida, e quando Anne olhou para o lado era Dora que se sentara ali. Naquele instante, ela se esqueceu da raiva que um dia sentira daquela garota, de tudo que ela fizera para separá-la de Gilbert, e percebeu que naquele momento em que seu coração agonizava terrivelmente, ela não conseguia pensar em nada que não fosse em Gilbert e em seu amor por ele. Por isso, quando Dora lhe estendeu a mão, ela aceitou sem hesitar, e assim unidas, ela fizeram uma prece em silêncio desejando que toda aquela situação acabasse da melhor maneira possível.

Olhando para a luz que vinha do altar iluminado pela luz da manhã, Anne não pôde deixar de se lembrar de Nora, e de suas palavras quando lhe dissera que milagres estavam em todos os lugares, e apenas bastava que se abrisse bem os olhos para poder enxergá-los, e foi por esse milagre que Anne implorou enquanto pensava no rapaz que ela amava mais que a si mesma.
Quando voltou para junto de seus amigos com Dora a seu lado, o médico apareceu e disse-lhe com a voz cansada:

- A cirurgia terminou bem. Tivemos uma complicação duramente o processo, mas, conseguimos contorná-la com sucesso. Teremos que deixar Gilbert em coma induzido por dois dias, para que a cicatrização ocorra sem nenhum problema adverso. Vamos esperar que tudo corra como o esperado, pois agora só depende dele.

- Posso vê-lo, Doutor?- Anne disse com a voz quase sumida, pois precisava ver Gilbert de qualquer maneira ou enlouqueceria.

- Claro. Ele foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva como é comum nesses casos, e como você é noiva dele, tem permissão para acompanhá-lo. Venha comigo.

Anne seguiu o médico sentindo sua ansiedade chegar ao topo, e rezou ardentemente para que Gilbert acordasse depois daquele período de quarenta e oito horas, e que ainda se lembrasse dela, pois aquilo era o seu maior tormento.
Quando ela entrou no quarto, ela o viu deitado na cama de olhos fechados coberto apenas com um lençol e parecia dormir tranquilamente. Seus cachinhos tinham sido cortados curtos, e sua pele tinha assumido uma tonalidade mais pálida, mas, nem por isso ele deixara de ser o rapaz mais lindo que ela já tinha visto. Suas mãos acariciaram os cabelos dele de leve, descendo até o rosto onde seus dedos tocaram o queixo forte, as maças do rosto suaves, e os lábios que a beijaram ainda aquela manhã.

Como o amava! Daria a sua vida por ele se preciso fosse, faria qualquer coisa para que ele abrisse os olhos e a olhasse daquele seu jeito carinhoso que fazia mil borboletas se agitarem dentro dela como a primeira vez em que o vira.
Ela precisava tanto dele, seu filho precisava dele, e Anne jamais se conformaria se Gilbert não mais voltasse para ela.

Sentindo as lágrimas caindo por seu rosto silenciosamente, Anne se aproximou dele e o beijou de leve em seus lábios mornos, sussurrando em seu ouvido baixinho:

- Por favor, volta para mim. Seu filho está crescendo aqui em meu ventre, e precisa conhecer o pai maravilhoso que você será quando ele nascer. Eu te amo tanto, Gilbert, e estou aqui, rezando para que você desperte a fim de que possamos ser finalmente felizes.

Sem dizer mais nada, ela se sentou ao lado dele, e segurando em sua mão direita, ela olhou para fora onde o sol brilhava com toda a sua força, prometendo um dia maravilhoso de primavera, porém, ali, onde Anne estava totalmente à mercê da sorte e do destino, somente lhe restava esperar.

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