Capítulo 101- Sob o feitiço da lua
Olá, pessoal. Eu queria me desculpar, pois estou muito cansada essa semana, então não posso dizer se esse capítulo ficou como eu desejava. Espero que agrade a você, caso o efeito seja o contrário, espero que pelo menos apreciem a leitura. Por favo, comentem, para que eu saiba o que acharam. Muito obrigada, e desculpem qualquer erro ortográfico. Beijos. P.S. Quero apenas dizer que para quem não sabe, tenho outra fanfic da Anne e Gilbert que se chama Broken hearts, caso se interessem em lê-la, está em meu perfil. - Pessoal. Eu reparei que pelo aplicativo esse capítulo aparece com vários números no meio das frases, e quando fui corrigir no computador, eles não existem, então, creio que o problema é do aplicativo, me desculpem, por esse inconveniente, mas , não consigo mudar essa configuração. Espero que não atrapalhe a leitura de vocês, caso isso ocorra, sugiro que leiam pelo computador.
ANNE
A coragem sempre fora a sua aliada desde a mais tenra idade, ela tivera que lutar por si mesma em um mundo desigual, frio e cruel.
Se fora difícil encontrar forças para sobreviver e se proteger da maldade alheia, pelo menos, ela sabia que podia contar com sua imaginação e sua capacidade de criar para si uma identidade diferente da sua, e assim escapar do temor do que a aguardava do lado de fora. Contudo, a sua realidade atual tinha um novo rosto e um novo nome, e não eram os mesmos que ela carregava dentro de si em todos aqueles anos de atribulações
. Era o medo que a acordava de madrugada e a fazia se encolher do seu lado da cama, enquanto suas mãos agarravam as de Gilbert em busca de um pouco de calor. Era o medo que zombava de sua vulnerabilidade e incertezas, e que a fazia checar mil vezes a respiração de Gilbert, prometendo a si mesma que essa seria a última vez.
Era o medo que disparava o seu coração, cada vez que ela se lembrava de que não tinha controle nenhum sobre o furacão que caminhava a passos lentos em sua direção, arrasando com as únicas esperanças que lhe restavam..
Era o medo que a fazia abraçar Gilbert com força no meio da noite, para ter certeza de que ele não iria desaparecer a qualquer momento deixando-a órfã do seu amor. Era o medo que a fazia ter pesadelos, passar madrugadas inteiras acordada ouvindo o barulho da chuva, o sopro do vento, e as batidas do seu coração.
Anne tentava não pensar negativamente sobre a situação que estavam passando, mas as lembranças de como tinha sido no último ano não a deixavam se acalmar. Era óbvio que a situação era outra, mas, o cenário que se pintava diante dos olhos de Anne era parecido demais com aqueles momentos nos quais ela esperava que o destino ou uma força superior lhe mostrasse o rumo por onde sua vida deveria seguir enquanto esperava que Gilbert acordasse, e ambos pudessem juntar seus sonhos novamente. E felizmente eles tinham conseguido superar dia a dia, pouco a pouco o abismo que ficara entre eles , e foram preenchendo cada espaço vazio que ficara com seu amor.
Entretanto, o que a assustava agora não era saber que rumo tomar, porque isso ela já tinha estabelecido em sua cabeça. O que temia era sucumbir no meio do caminho, porque mesmo que Gilbert dissesse que ela era uma leoa, não era assim que se sentia no momento quando o pavor de seus pensamentos ainda a fazia se esconder no banheiro para chorar, mesmo sabendo que Gilbert poderia ver os traços das lágrimas em seu rosto depois. Anne não era uma covarde, e não achava que tinha o direito de ser, principalmente quando olhava para o rapaz ao seu lado e o via aceitar com serenidade mais aquela provação contra a qual ele poderia muito bem se rebelar, mas não o fazia.
Era incrível a capacidade de Gilbert de ser resiliente quando o mundo ao seu redor o estava castigando mais uma vez. Ele sempre lhe sorria pela manhã como se acordar mais um dia fosse -lhe tão precioso que ele precisasse celebra-lo com toda a alegria que era capaz de ter. Depois iam para a faculdade juntos conversando pelo caminho sobre seus planos futuros, como se não houvesse ameaça nenhuma entre eles capaz de acabar com tudo aquilo como se fosse fumaça, e quando estavam juntos em casa depois de suas tarefas habituais, ele lhe dedicava toda a sua atenção como se fosse ela a enferma e não o contrário
Era assim que iam vivendo suas vidas, como se a normalidade de sua rotina continuasse a mesma, mas no fundo, Anne sabia que não era assim. Ela passava a maior parte do tempo pensando em Gilbert, e mesmo quando estava no meio de uma aula importante ela não conseguia se desligar dele, porque, ela sentia que precisava estar com ele a toda hora, ouvir sua voz falando com ela daquele seu jeito carinhoso, e ver seus olhos brilhando toda vez que ela dizia eu te amo.
Era quase paranoico e nem um pouco saudável viver dessa maneira, mas ela tinha tanto medo de perder Gilbert em algum momento em que não estivesse por perto, que não conseguia mudar de atitude. As dores de cabeça dele tinham diminuído, mas não desaparecido totalmente. Havia momentos que ela podia ver pela palidez de suas bochechas que estavam ali incomodando-o, embora Gilbert nunca reclamasse de nada.
Os remédios que ele tomava para desfazer o coágulo em seu cérebro pareciam estar agindo lentamente, ao mesmo tempo que o deixavam sonolento, e Gilbert dormia sempre que chegava em casa depois do trabalho, e tal fato angustiada Anne, porque ela entendia que se havia dores de cabeça o coágulo ainda existia, e se não o vencessem, tudo indicava que estavam caminhando para uma cirurgia que ela gostaria que pudessem evitar, porque Anne não se sentia forte o bastante para aguentar a tensão de tudo aquilo e ainda a possibilidade de Gilbert esquecê-la novamente, e ela não achava que fosse alguém tão ruim assim para merecer passar por aquilo uma segunda vez.
- Ei, Anne, acorda. - a voz de Gilbert parecia vir de tão longe que ela quase não lhe deu atenção tão envolvida estava com seus pensamentos perturbadores.
- Desculpe-me. Eu estava distraída.- ela disse tentando disfarçar sua preocupação.
- O que foi, Anne? Não conseguiu dormir de novo?- Anne o olhou espantada. Como ele sabia de suas noites insones quando ela tomava o maior cuidado para não incomodá-lo? E ele sempre parecia mergulhado em um sono profundo devido a medicação toda a vez que olhava para ele no meio da madrugada, portanto, ela não conseguia entender como ele adivinhara que ela não conseguia dormir.
- Como você...?- ela não terminou a pergunta, pois o sorriso de Gilbert lhe dizia que nunca conseguiria esconder nenhum segredo dele por pior que fosse.
- Amor, eu sei que não anda dormindo bem, porque eu te escuto virar na cama a noite toda.- ele disse se sentando mais perto dela no sofá onde estavam estudando para as provas que se aproximavam, ou fingiam que estudavam.
- Mas, você sempre parece estar mergulhado no sono.- Anne disse ainda sem entender como aquilo poderia ter acontecido.
- Eu apenas finjo que estou adormecido, porque sei que você ficaria muito brava se soubesse que ando te observando durante a noite.- ele confessou ainda sorrindo.
- E posso saber por que não anda dormindo também? As dores de cabeça andam te incomodando nesses períodos?- ela perguntou franzindo a testa.
- Não, eu ando preocupado com você. - Ele respondeu abraçando-a pelo ombro.- Anne deixou o livro de literatura moderna que estava lendo e se virou para seu noivo encarando-o seriamente.
- Não devia se preocupar comigo quando é você quem precisa de cuidados especiais.
- Você também precisa de meus cuidados, mesmo que diga que não necessita nem um pouco deles. Entretanto, suas atitudes nos últimos dias têm me provado o contrário. - Anne baixou o olhar para seu livro tentando escapar do olhar de Gilbert que varia todo o seu rosto procurando evidências se o que estava dizendo era verdade. Porém, ele não a deixou fugir dele tão fácil, e logo ela sentiu que ele segurava em seu queixo e o puxava em direção a ele.
- Você pensa que não percebo o quanto anda nervosa? Que não se alimenta e se atira no meio desses livros como se eles pudessem livrá-la
de sua agonia? Que passa a noite toda me olhando como se temesse que algo me aconteça enquanto dorme? Se isso é um tormento para você, imagina como é para mim te ver assim.- Anne sentiu que ia chorar. Gilbert acabara de descrever tudo o que se passava com ela, e não tinha imaginado que ele percebera aquilo tudo mesmo ela disfarçando cada angústia por trás de um sorriso.
- Desculpe. Não pensei que era tão óbvio assim como me sinto.- ele encostou a cabeça no ombro dele, e sentiu Gilbert acariciar seus cabelos.
- Eu não quero te ver assim, Anne. Você não merece passar por isso.- ao ouvir aquilo, Anne respondeu com a voz quase zangada:
- E você merece estar passando por isso? Eu não acredito que você aceite tudo dessa maneira tão passivamente
- Anne, só porque eu não falo sobre o assunto não quer dizer que ele não me chateie. Mas, eu decido que ia passar por isso da maneira mais serena possível. Não tem outro jeito, amor.- Gilbert respondeu apertando-lhe a cintura suavemente. Ela sabia que ele estava certo, que opções eles tinham a não ser esperar e rezar para que tudo desse certo, mas o lado rebelde dela, o qual ela aprendera controlar com o passar dos anos, não se permitia ser calado naquele instante e por isso ela respondeu.
- Eu queria que fizesse bem mais do que isso
- Mas, o que eu poderia fazer diferente disso, Anne?- Gilbert perguntou surpreso.
- Não sei. Talvez gritar, berrar, atirar coisas pela janela, qualquer coisa que acabasse com esse clima falsamente tranquilo que criamos dentro desse apartamento.- ela disse com a voz alterada.
- E no que isso melhoria tudo isso?- Gilbert perguntou olhando-a intensamente.
- Pelo menos estaríamos sendo sinceros com nossos sentimentos .- Anne disse quase em um murmúrio. Se estava sendo dramática não se importava, pois o momento exigia ações dramáticas, embora duvidasse que Gilbert concordasse com ela.
- Anne, vou te fazer uma pergunta e quero que a responda da forma mais sincera possível. - os olhos dele estudavam os dela tentando ler suas reais emoções, e Anne engoliu em seco, pois sabia que Gilbert era capaz disso e até mais, e dessa forma respondeu:
- Está bem.
- Do que tem medo, Anne?- ela o olhou com seus olhos muito abertos quase arregalados, não sabendo se teria coragem de dizer tudo o que se passava com ela todos aqueles dias, porém, ela não queria mentir, não podia. Gilbert merecia sua sinceridade.
- Eu tenho vários medos, mas não quero revelá-los a você agora.
- Por que não?- ele a puxou para mais perto, e Anne percebeu o quanto seria difícil estar perto daquele rosto, e não deixar que ele tivesse a resposta que queria
- Gilbert, por favor, não me obrigue a falar.
- Anne, se partilhar seu medo, ele vai acabar diminuindo até desaparecer de dentro de você. - Ele agora acariciava seu rosto em movimentos lentos como se quisesse sentir todos os seus traços de uma só vez. O que poderia dizer que ele já não soubesse ou que ela mesma já não houvesse contado?
- Eu tenho medo de que você tenha que fazer essa cirurgia, que seja complicada demais e você....- ela não conseguiu dizer, pois aquele era seu pior pesadelo que já o vivera ao vivo uma vez e não queria ter que repetir a dose.
- Que eu te esqueça. É isso, Anne, que te apavora tanto a ponto de deixá-la acordada a noite?- ela o olhou sem conseguir dizer nada, mas balançou a cabeça concordando. Estava cansada, exausta de todos aqueles sentimentos emaranhados dentro dela, em uma carga perigosa que podia sentir explodir a qualquer minuto dentro de si. Gilbert a abraçou e ela encostou sua cabeça no peito dele e se deixou ficar por um segundo assim, ouvindo o coração dele batendo como se cantasse para ela uma canção antiga e triste. Como podia amar alguém daquela maneira desvairada que amava Gilbert, e não ser capaz de salvá-lo daquele mal que estava em sua cabeça e poderia levá-lo dela? Anne queria gritar por sua impotência diante daquele fato, mas preferiu ficar calada.
- Eu não vou te esquecer. Eu prometo.- as mãos dele estavam em suas costas e faziam movimentos circulares para acamá-la.
-Você não pode me prometer isso, pois não sabe o que pode acontecer. - Ele a fez olhar para ele de frente e respondeu:
- Eu sei o quanto ficou magoada da outra vez, e você pensa que não me senti culpado ou me martirizei por isso? E desde então eu prometi que isso nunca mais aconteceria. Acredita no que eu estou dizendo?- Anne olhou para aquele rosto tão amado, e pensou consigo mesma que acreditaria em qualquer coisa que ele dissesse, mesmo que fosse uma ilusão, uma história criada apenas para sossegá-la, mesmo que soubesse lá no fundo que Gilbert não poderia fazer aquela afirmação por si mesmo, pois era seu cérebro que decidiria por ele.
- Eu acredito em você.- ela disse abraçando-o pelo pescoço.- eu acredito nesse amor que nós sentimos, nesse futuro que queremos construir juntos. Mas, eu também sei que não depende apenas disso, pois nem sempre a vida faz as mesmas escolhas que nós fazemos, e é disso que tenho medo, Gilbert. De não ter certeza de como vai ser, do que esperar. Eu já te disse uma vez, eu posso não ter nada na minha vida, mas, se eu ainda tiver você eu tenho tudo o que preciso.- o olhar que Gilbert lhe lançou lhe falava de todas as coisas que queria escutar, e seus lábios se perderam nos dele, em busca do gosto que se mesclou ao seu, cheio de paixão e desejo, cheio de uma necessidade imensa de sentir o amor que lhe dava esperança, que a ajudava a continuar caminhando, que não a deixava desistir. Gilbert intensificou o beijo, e Anne o acompanhou até que nenhum ar restasse, e eles precisaram se separar.
- Eu adoro beijar você.- Gilbert disse acariciando suas bochechas.
- Eu também adoro beijar você entre outras coisas.- Anne disse com um tom de voz maroto.
- E o que seria essas outras coisas?- Gilbert perguntou puxando-a para seu colo.
- Eu amo esses seus cachinhos lindos, esses seus olhos que parecem um poço de mel. Amo o seu sorriso iluminado, e essa boca que me deixa louca toda vez que me toca.- e foi o que bastou para que se beijassem de novo e de novo até que seus corpos precisassem bem mais do que o roçar de seus lábios.
Mais tarde quando já estavam na cama, e Anne apoiava sua cabeça no peito e Gilbert tendo sua nudez coberta apenas com um lençol, ele lhe perguntou:
- Anne, você se lembra que é o aniversário do nosso noivado?- Anne quase tinha se esquecido da data. Com tantos problemas em sua cabeça, comemorar qualquer coisa era a última coisa que desejava.
- Não me diga que está pensando em fazer algo especial? Não podemos ficar em casa só nós dois?
- É claro que não. - Gilbert disse com a voz séria.- Não vou permitir que essa data importante passe em branco.
- Gilbert, não creio que seja uma boa hora para isso. Não estou em clima para comemorações. - Anne disse em protesto.
- Nós vamos comemorar mesmo assim. Eu não quero que você deixe de celebrar uma data tão significativa para nós dois por conta do que está acontecendo comigo. Por isso, eu pensei se não gostaria de ir para Avonlea e encontrar nossos amigos? - Anne olhou para Gilbert em pânico. Ela amava Avonlea, mas as lembranças lá eram mais fortes, e naquele momento seu estado de espírito só tenderia a piorar, então ela respondeu:
- Acho que prefiro ficar em Nova Iorque.- Gilbert pegou seu rosto com as duas mãos e o puxou em sua direção para perguntar:
- Eu achei que seria a primeira a concordar comigo. Você nunca recusa uma oportunidade de visitar Green Gables. Por que não quer ir?
- Você sabe porque. Eu amo Avonlea, assim como amo Green Gables e todos os nossos amigos, mas, não acho que seja o momento de voltar.
- Eu entendo, meu amor. Desculpe por te propor isso, eu não tinha pensado dessa maneira. Prometo que vou pensar em outra coisa.- ele disse beijando-a no topo da cabeça.
- Eu realmente não me importo, Gilbert. Eu somente quero ficar com você. Não acho que comemorar essa data seja tão importante.
- É claro que é. Minha mulher deve ter o melhor sempre em todos os momentos.- Anne sorriu. Ele não a chamava assim a um bom tempo, e era sempre maravilhoso escutá-lo dizer aquilo.
- Está bem. Se é o que meu noivo deseja, então, vamos comemorar o aniversário do nosso noivado. – ela sorriu e deu um selinho em Gilbert que disse:
- Acho que podemos fazer alguma coisa com os meus amigos da faculdade. Vou perguntar para o Jonas se ele tem alguma sugestão.
- Está bem Mas, agora creio que precisamos dormir. Temos faculdade amanhã, e você precisa repousar por conta das medicações.- Anne disse se ajeitando na sua posição favorita para descansar que era se deitando sobre o peito de Gilbert.
- Tem razão. Está tarde, mas, não quer que eu te faça um chá? Talvez te ajude a dormir melhor.- ele se ofereceu.
- Eu só preciso de você essa noite e mais nada. – Anne disse tocando os cabelos de Gilbert com amor.
- Tudo bem, então.- ele desligou a luz e o quarto caiu em uma penumbra suave bastante convidativa a uma boa noite de sono, porém, Anne não dormiu imediatamente. Ela ainda ficou um bom tempo ouvindo o ressonar de Gilbert, sua respiração calma, e sua mente repassou tudo o que conversaram naquele dia, e inconscientemente acariciou o peito dele devagar.
Ela ainda estava terrivelmente preocupada, e sabia que ficaria assim até que tudo voltasse a ficar bem de novo, Ela não tinha ideia de quanto tempo aquilo tudo duraria , mas esperava que o problema de Gilbert se resolvesse o mais rápido possível. Anne tinha consciência de que se estava sendo difícil para ela, para seu noivo deveria ser muito pior. Era ele que tinha que se submeter a um tratamento experimental que o deixava sonolento e limitava sua ações. Por causa disso, ele estava proibido de dirigir, não podia realizar atividades no trabalho que forçassem demais sua concentração por risco de causar-lhe dores de cabeça, e quando estudava para uma prova tinha que dosar as horas que se dedicaria ao estudo para não sobrecarregar seu cérebro. Ainda assim, Gilbert não reclamava, se dava ao luxo de se preocupar com ela, e ainda queria comemorar o aniversário do seu noivado..
Ela não conseguia entender de onde ele tirava tanta força para se manter em pé quando tantas pessoas na mesma condição já teriam se rendido. Tudo o que ela sabia era que não tornaria a vida dele mais difícil do que estava sendo, e superariam juntos cada nova etapa do tratamento que surgisse. Com um suspiro, ela se aconchegou a ele, e para sua surpresa dormiu quase no mesmo instante.
GILBERT
Um raio de sol entrou pela fresta da janela, e fez Gilbert despertar. Ele olhou para Anne que ainda dormia com todo o seu cabelo ruivo espalhado pelo seu peito, e sorriu com ternura.
Anne não vinha dormindo bem, e ele sabia exatamente quantas horas ela passava em claro, porque também não conseguia dormir, por mais sonolento que estivesse. Sua preocupação não era por si mesmo, nunca fora, sua preocupação era e sempre seria Anne.
Ela entrara em um período de pânico que o assustava, por mais que ela escondesse dele como se sentia, Gilbert sempre sabia, porque aprendera a ler os olhos dela, a maneira como falava, seus gestos, e sabia exatamente o que ela estava fazendo quando se trancava no banheiro e saía de lá com os olhos avermelhados e tristes.
Sua noiva se fazia de forte porque não queria que ele percebesse sua fragilidade diante do problema que estavam enfrentando, e Gilbert se odiava por ser ele o causador mais uma vez de sua inconstância emocional. Ele podia sentir as mãos dela em seu rosto incontáveis vezes na noite, sua agitação enquanto tinha um pesadelo, e o jeito com que ela se certificava de que ele continuava a respirar normalmente a todo momento. Era como se temesse que enquanto ela dormisse, Gilbert se sufocaria durante o sono.
Ele não a abordara diretamente sobre isso, e esperara que ela lhe disse qual era o seu medo maior. Embora ele mesmo soubesse que o fantasma da amnésia dele era que a mantinha acordada todos aqueles dias, e o pavor de ele não reconhecê-la caso tivesse mesmo que passar por uma cirurgia tão delicada era o principal fator de sua inquietação. E Gilbert queria tanto que ela acreditasse que ele jamais a esqueceria de novo, que não a deixaria sozinha para viver em um inferno igual ou pior do que ela vivera por três meses que durara sua recuperação. O rapaz acreditava no poder do amor que sentiam, e que nele estava sua salvação. Ele voltaria para ela e somente por ela, porque Anne era o que fazia sua vida valer a pena naquela terra.
Se não fosse por ela, sabe-se lá onde ele estaria. Talvez em alguma parte do mundo ainda lambendo suas feridas, e vivendo o luto pela morte de seu pai. Gilbert sabia o que estava fazendo quando cruzara o Atlântico de volta para casa com a desculpa de que viera em busca de sua vocação. Ele não mentira sobre isso, mas, essa não foi a única razão para retornar para um lugar onde não lhe oferecia muitas opções para seguir com sua vida. Ele viera também em busca de uma certa menina ruiva que lhe roubara o coração ao primeiro olhar, e nunca se arrependeria de ter lutado por ela, de ter feito de tudo para que ela aceitasse seu amor, e teria feito tudo de novo se fosse necessário, porque ele acreditava com todo o seu coração que ela fora feita especialmente para ele, e que mulher nenhuma o faria tão feliz.
Gilbert desceu os dedos pelos cabelos dela suavemente enquanto lhe observava o rosto sereno. Era a primeira vez que a via dormir tão calmamente naquela semana, e esperava que isso durasse pelos próximos dias. Ele também podia perceber as olheiras em volta dos seus olhos, e a falta de apetite que era sempre uma indicação de que ela não estava bem. O rapaz desejava tanto saber o que fazer ou dizer para deixá-la mais confiante que aquilo tudo passaria o mais rápido que ela esperava, mas, não tinha o poder de mudar o que estava para acontecer e se teria sucesso ou não, eles só saberiam com o tempo.
Felizmente, ele conseguira convencê-la a comemorar o aniversário de seu noivado, e embora Anne se mostrasse relutante a princípio, ela acabara cedendo por conta de seus argumentos. Ele pensara que sua noiva desejaria passar a data em meio aos seus amigos de Avonlea, mais ela o surpreendera dizendo que preferia ficar em Nova Iorque, dando a entender que as lembranças do passado voltariam a atormentá-la por conta da nova situação pela qual passavam e ela não teria forças suficientes para lutar contra elas.
Ele ainda não sabia o que fariam naquela data específica, e não queria uma festa tradicional como normalmente acontecia, por isso, ele conversaria com seus amigos para que ao ajudassem a ter uma ideia criativa. Anne merecia se divertir naquele dia especial, pois Gilbert não queria que ela ficasse trancada naquele apartamento, tentando imaginar o que os esperava dali para frente. Ele queria vê-la sorrir, se sentir mais leve, e arrancar de cima de si mesma todo o peso que vinha carregando. Gilbert tinha a impressão que Anne pensava que cabia a ela curá-lo, pois a saúde dele se tornara sua obsessão. Ela lhe perguntava trinta vezes por dia se ele estava tomando o medicamento no horário certo, se estava seguindo todas as prescrições médicas, e mesmo não se importando com sua própria alimentação, ela se preocupava excessivamente com a dele, e Gilbert aprendera a não se irritar com isso, pois era a maneira que ela encontrara de se sentir no controle, e de sentir que estava cuidando dele do jeito que desejava.
Gilbert bocejou, e depois se espreguiçou devagar, fazendo o mínimo de movimentos possível para não despertar Anne. Em seguida, ele a deitou na cama e ajeitou o lençol sobre ela, e foi para a cozinha preparar o café da manhã. Normalmente era Anne que cuidava desse detalhe da rotina de ambos, porém, Gilbert não achava prudente acordá-la naquele momento, e ele mesmo podia preparar o café da manhã antes que fosse hora de irem para a Faculdade.
Assim que tudo ficou pronto, Gilbert foi até o quarto acordar Anne que continuava dormindo tranquilamente. Ele quase sentiu remorso ao fazê-la despertar, mas não tinha outra escolha, porque não podiam se atrasar naquele dia já que no início do primeiro período teriam prova.
Deste modo, ele foi até a cama e tocou os cabelos dela, e em seguida seus lábios pousaram na sua testa, desceram até a ponta do nariz onde ele plantou um beijinho carinhoso, e logo alcançou-lhe os lábios, os quais beijou apaixonadamente sentindo Anne corresponder sem estar completamente desperta. Os braços dela lhe rodearam o pescoço, e ela abriu os olhos assim que seus lábios de separaram.
- Que horas são?- Ela perguntou sonolenta.
- Seis horas .- Gilbert lhe respondeu sorrindo enquanto ela se sentava na cama esfregando os olhos com gestos nervosos.
- Por que não me acordou? Tenho que preparar o nosso café da manhã.
- Acalme-se, já está tudo pronto. Eu mesmo o preparei. - Gilbert disse segurando a mão dela.
- Como assim já preparou o café? Desde que horas está de pé?- ela parecia zangada e Gilbert não entendeu bem o que aquilo significava.
- Eu acordei a uma hora atrás .- ele respondeu vendo Anne bufar, jogar as cobertas de lado, e passar por ele como um furacão raivoso.
Gilbert a seguiu até a cozinha, e ficou observando seus movimentos frenéticos, colocando geleia e manteiga sobre a mesa junto com o café, leite, torradas e panquecas que ele já tinha arrumado antes, sem ainda entender a razão de ela ter ficado tão zangada.
- Eu não acredito que fez isso.- Anne disse enquanto atacava a panqueca com o garfo como se quisesse destrui-las com sua raiva, levando pequenos pedaços aos lábios.
- Qual é o problema, Anne?- Gilbert perguntou se sentando com ela na mesa.
- O problema Gilbert foi você ter se levantando ao raiar do dia e não me chamar. O café da manhã é minha responsabilidade, você não tem que se levantar antes do necessário. Você precisa descansar.
- Anne, eu tenho um coágulo no cérebro, e não sou inválido, e posso realizar pequenas coisas por aqui.- ele disse começando a ficar irritado com a atitude de Anne.
- Não, você não pode. Eu não quero que você se arrisque- Anne respondeu ríspida.
- E no que estou me arriscando ao fazer um café, Anne?- Gilbert disse subindo seu tom de voz como ela.
- Está perdendo horas de descanso por algo que é minha responsabilidade.
- Anne, eu sou estudante de Medicina e sei muito bem quais são os riscos que corro, e posso decidir por mim o que posso ou não fazer. Pare de me tratar como criança.- ele não queria ter falado com ela tão bruscamente, e se arrependeu no minuto seguinte ao ver o rosto dela se crispar e Anne gaguejar ao dizer.
- Desculpe...Eu só não sei o que fazer, eu não sei como agir. Eu não sei como lidar com isso, Gilbert.- e então para a sua tristeza, ela explodiu em lágrimas, soluçando alto, deixando que ele visse o seu desespero. Gilbert correu para abraçá-la, diminuindo a distância entre eles,
- Perdoe-me, meu amor. Eu não devia ter falado dessa maneira com você. Fui um grosso insensível. - Ele a envolveu ainda mais em seu abraço, enquanto ela se agarrava a cintura dele sem parar de chorar. Querendo confortá-la e não sabendo bem o que fazer para conseguir isso, ele a carregou no colo para o sofá, deitando com ela em seus braços enquanto beijava seus cabelos, murmurava palavras de consolo, seu coração sofrendo com ela enquanto a via se desfazendo em lágrimas, enterrando a cabeça em seu peito, deixando a frente de sua camisa toda molhada.
Gilbert esperou pacientemente que a crise passasse, o que pareceu durar bem mais do que esperava, mas, ele preferia que ela colocasse sua angústia para fora assim do que guardá-la por tempo indefinido, até que ficasse esgotada por conta dela.
Quando por fim, ela parou de chorar, eles continuaram abraçados até que ela levantou o rosto e o encarou com seus olhos inchados, e as bochechas úmidas parecendo completamente desolada.
- Desculpe me descontrolar assim. Eu sei o quanto deve ter sido ridícula a cena que acabei de fazer.- sua voz parecia esgotada como se aquele choro tivesse sugado todas as suas forças. Gilbert olhou para a mulher em seus braços e tentou imaginar o quanto aquilo tudo estava cobrando de sua sanidade mental, mas não conseguiu. Ele próprio não sabia até onde ele conseguiria controlar as suas próprias emoções.
Estava sendo mais desgastante que na época da amnésia quando ele tentava trazer suas lembranças de volta. Agora ele estava lutando contra algo concreto, um dragão que ele poderia tanto vencer quanto ser destruído por ele.O rapaz não se sentia o Gilbert Blythe de sempre, essa era outra versão dele que estava tendo que construir para aguentar a pressão daqueles dias onde ele tinha que se equilibrar entre seus pensamentos inquietantes e as emoções conturbadas de sua noiva.
- Não pense assim, amor. Tem sido duro para nós, principalmente por estarmos vivendo algo tão brutal pela segunda vez. Mas, quero que você se lembre que estou aqui e que você não tem que esconder de mim o que sente para me poupar.- ele segurou o queixo dela com carinho.
- Mas, não posso me descontrolar dessa maneira. Você precisa de mim.- Anne respondeu encostando sua testa na dele, e assim seus olhos ficaram próximos, e Gilbert sentiu o poder daquele olhar azul sobre ele.
- Sim, eu preciso de você, mas você também precisa de mim. Se equalizarmos nossas forças, podemos enfrentar tudo isso juntos. Só peço que não me coloque em uma redoma para me proteger de tudo, porque você não vai conseguir. A vida que temos juntos só é incrível porque confiamos um no outro e dividimos cada momento, porém, você também tem que aprender a dividir os pesares, porque toda vez que sente dor, você se afasta se mim, Anne, e eu não suporto isso. É como se fechasse a porta dos seus sentimentos na minha cara, e isso é a única coisa que consegue acabar comigo de verdade. - Talvez ele não devesse estar desabafando daquela maneira em um momento tão delicado para os dois, mas, ele não conseguia ver Anne daquele jeito sem sofrer com ela também.
- Eu sei que tem razão, mas, não quero que pense que não confio em você, porque se tem alguém a quem confiara minha vida esse alguém é você. - Anne disse acariciando todas as linhas do rosto de Gilbert. - Contudo, eu sempre enfrentei sozinha minhas lutas, e embora eu partilhe quase tudo com você, essa é a única parte de mim que ainda não consegui te deixar ter acesso.
- Você tem que se lembrar que não está mais sozinha, Anne. Que a sua luta é a minha. Estamos juntos em tudo e sempre será assim. Não se esconde de mim, Anne. Por favor, me deixe te conhecer por inteiro.- Gilbert disse beijando-a na testa.
- Não estou me escondendo. Eu só não sei lidar com algumas emoções, mas, eu prometo que vou tentar ser uma mulher melhor para você.- a voz dela saiu tão triste que Gilbert a fez olhá-lo nos olhos outra vez enquanto dizia:
- Você não tem que ser melhor do que já é. Eu não mudaria nada em você, porque foi por essa Anne que me apaixonei e amo tudo nela até o último fio de cabelo. Entendeu?- ela sorriu e Gilbert sentiu que tinha ganho seu dia. Fazer Anne sorrir era um grande presente, pena que ele não conseguisse isso sempre.
Uma hora depois, eles caminhavam de mãos dadas para a faculdade. Iam devagar e sem pressa, porque queriam aproveitar ao máximo o cenário adorável daquela manhã de primavera, o perfume das flores enchia o ar, o rosto das pessoas parecia mais suave, menos preocupado, como se a nova estação trouxesse uma leveza que no inverno deixava de existir. Uma revoada de pássaros passou voando sobre eles, e Anne olhou para cima com um sorriso lindo nos lábios que fez Gilbert suspirar ao observá-la tão em paz. Eram tão raros esses momentos agora que ele gostaria de prolongar aquele instante mágico, mas, as responsabilidades os chamavam e tiveram que seguir caminho até que chegaram ao seu destino.
Enquanto Gilbert caminhava para a sua sala de aula , ele pensou satisfeito que em duas semanas estariam de férias, e quem sabem não pudessem fazer uma viagem se seu médico permitisse. Dali a um mês, ele saberia qual seria o diagnóstico final sobre seu problema, e poderia então entender quais decisões tomar.
- Olá, Gilbert. Pronto para arrasar na prova?- Carlos perguntou de se jeito debochado.
- Vou tentar fazer o meu melhor.- o rapaz respondeu com um sorriso.
- Ah, quando ele fala assim é porque já gabaritou a prova inteira sem nem mesmo ter lido uma questão.- Patrick disse entrando na conversa de repente.
- Você me fazem parecer um gênio.- Gilbert disse balançando a cabeça negando aquela possibilidade.
- Bom, se não é um gênio chega bem perto.- Jonas deu-lhe um tapinha amistoso em seu ombro.
- Muito bem, então, o gênio aqui precisa de um conselho, ou melhor uma boa ideia para o meu aniversário de noivado..
- Aniversário de noivado? Interessante. Acho que até hoje nunca ouvi ninguém usar esse termo.- Jonas disse e depois perguntou:- Quando?
- No próximo Domingo, e não sei o que fazer para surpreendê-la.- Gilbert disse coçando a nuca .
- Que tal se fôssemos para uma praia? Eu conheço uma em Nova Iorque que se chama Centerport Beach. É um lugar incrível, livre de aglomeração de turistas, e todas as vezes que fui até lá com amigos nos divertimos a valer.- Patrick disse animado com a ideia.
- É uma ideia interessante. Anne gosta muito de praia. Em Avonlea costumávamos nos reunir com os amigos nos fins de semana e era muito divertido.- Gilbert disse considerando a possibilidade de ir com Anne e seus amigos para uma lugar assim totalmente novo. Ele gostava de novidades e podia apostar que sua mulher ia adorar também.
- Podemos aproveitar o dia pegando onda, e depois passamos a noite acampando, e no dia seguinte podemos velejar. E ai, Blythe? Acha que sua garota vai gostar dessa surpresa? – Patrick disse satisfeito consigo mesmo por ter tido uma ideia tão genial.
- Eu acho que ela vai adorar. Vocês iriam mesmo com a gente? A Anne ficaria muito feliz com a presença de vocês.
- É claro que vamos. Podemos sair cedo no sábado, se todo mundo concordar.- Carlos sugeriu.
- Eu topo. Vou chamar a Sharon.
- Eu também tenho uma gatinha para convidar. - Patrick disse e depois olhou para Carlos e perguntou:- E você, Carlos vai levar alguém?
- Não, eu estou tranquilo. Quero me divertir sozinho dessa vez.
- Ih, está parecendo que nosso amigo está na fossa. - Patrick disse zombando de Carlos que assumiu uma carranca divertida.
- É mesmo. Ele nunca perde a oportunidade de ter uma gatinha a tiracolo - Jonas disse acompanhando Patrick na zoação.
- Qual é o problema de vocês? Um homem não pode decidir que quer viajar sozinho? Não preciso de babá o tempo todo como vocês dois. - Carlos disse se fazendo de sério.
- Nossa, a coisa está pior que nós pensamos, Jonas.
- Definitivamente, ele está na pior. - Jonas concordar.
- Quer um carinho para acabar com a carência? - Patrick disse bagunçando o cabelo arrumadinho de Carlos, que lhe lançou um olhar fatal.
- Ei, Blythe, quer dar uma força ai? Estes caras estão me zoando. - Carlos reclamou.
- Eu não vou me meter. Isso é entre vocês.- Gilbert disse se divertindo. Ele adorava aquele clima descontraído que sempre existia quando seus amigos se juntavam. Amenizava um pouco a tensão sob a qual ele vinha vivendo todos aqueles dias.
A entrada do professor de Anatomia na sala acabou com as brincadeiras, e logo todos estavam sentados em suas carteiras com os olhos pregados na primeira prova do dia. Gilbert respondeu as questões com extrema facilidade, sentindo-se aliviado pela medicação que estava tomando para o coágulo não ter afetado o seu raciocínio. Quando eles saiu para o intervalo naquele dia, ele estava extremamente ansioso para contar a Anne o que fariam no seu aniversário de noivado, pois não via a hora de pegar a estrada e passar com ela um dia inteiro na praia.
GILBERT E ANNE
- Gilbert, tem certeza de que é prudente fazermos essa viagem?- Anne perguntou enquanto via Gilbert colocar o suco, os sanduiches de peito de peru, e várias frutas que compraram para aquela pequena excursão dentro de uma bolsa térmica.
- Anne, você parecia tão animada com a ideia quando te contei, por que parece que está relutante agora? – Gilbert perguntou, levantando o olhar para ela depois de acrescentar uma garrafa grande de água mineral junto com os outros itens e fechar o zíper com um ruído seco.
- Não estou relutante. Estou apenas preocupada. Fiquei muito animada quando me contou, mas, na hora não considerei os riscos.
- Anne, eu não vou dirigir, e a viagem é relativamente pequena se considerarmos que vamos ficar dentro de um carro por apenas uma hora. Não tenta sabotar o alegria que quero te dar com esse passeio.
- Está bem. Mas, me promete que se sentir alguma coisa diferente, vai me dizer? Você sabe que não pode tomar sol demais, e precisa se hidratar bastante.- Gilbert sorriu ao pensar que mesmo em um dia especial como aquele, Anne não deixava de se preocupar com ele. Precisava fazer alguma coisa para que ela se desligasse do problema dele e curtisse imensamente aquele fim de semana.
_ Tudo bem, Anne. Prometo que não vou abusar, e se me sentir mal eu te falo na mesma hora, está satisfeita?- ele disse tocando a ponta do nariz dela com o dedo indicador.
- Sim.- ela disse sorrindo e beijando-o nos lábios.
Apesar de toda a preocupação que Anne sentia em relação ao estado de Gilbert, ela estava satisfeita por ver-lhe a animação. Era algo que estavam a acostumados a fazer em Avonlea, mas, ali em Nova Iorque, essa era a primeira vez que frequentavam uma praia em plena primavera. De todas as coisas que ele poderia ter imaginado para fazerem juntos naquele dia, com certeza, passear na praia foi a que mais lhe agradou. Gilbert sempre sabia dar o tom certo para qualquer ocasião, e sabia com precisão o que a fazia feliz.
Era ainda bem cedo quando Patrick, Jonas e Carlos apertaram a campainha do apartamento, pois queriam chegar na praia cedo para aproveitarem todo o sol do dia. Sharon não pudera ir pois tinha um compromisso de família, porém, liberara Jonas para acompanhar Anne e Gilbert naquela pequena viagem , e desde que ele se comportasse, ela não via problema nenhum em não ir com ele.
Em solidariedade aos dois amigos solitários, como Patrick mesmo dissera, ele também não levaria nenhuma acompanhante especial, e assim, todos partiram naquela pequena aventura, dividindo a carona e a companhia.
Anne e Gilbert foram com Jonas no carro dele, e Carlos foi no de Patrick, e deste modo a animação parecia ser geral, e até Anne que a princípio se mostrara um pouco apreensiva em viajar nas condições de Gilbert fora contagiada pelas boas vibrações dos três amigos de ambos, e em pouco tempo estava sorrindo e se sentindo ansiosa para chegarem logo ao seu destino.
A paisagem íngreme do lado de fora que se exibia aos olhos de todos conforme iam avançando em quilômetros tinha seu charme. Anne se encantou pelos vales montanhosos que se estendiam por todos os lados, cobertos por uma névoa fina comuns em lugares altos naquela hora da manhã, e ficou mais maravilhada ainda ao ver o sol nascer por entre as nuvens que vez ou outra se misturava ao colorido do céu, e quis registrar em sua mente aquela imagem feita pelos deuses e que nenhum ser humano por mais criativo que fosse conseguiria reproduzir com perfeição.
- Não acha isso incrível?- ela disse para Gilbert que estava sentado com ela no banco do passageiro, e segurava sua mão.
- O que especificamente?
- Toda essa beleza ao nosso redor . Em momentos assim é que me dou conta de quantas coisa ainda existe para ser vista e apreciada nesse mundo.- o olhar dela estava perdido lá fora, mas, o de Gilbert estava mergulhado no rosto dela.
- Nenhuma beleza se compara a sua, Anne. Eu posso te olhar por dias seguidos e ainda vou te achar a coisa mais linda e perfeita que Deus colocou no mundo.- Anne o olhou surpresa. Gilbert sabia sempre o que dizer para deixá-la sem palavras . Seu noivo era romântico sem ser piegas, mesmo achando que ele exagerava quando falava de sua beleza, Anne adorava esses instantes em que ficavam íntimos e se apreciavam como se fosse a primeira vez.
- Essa beleza toda somente existe nos seus olhos. - ela disse um tanto sem graça encarando Gilbert parcialmente.
- Se você se visse como realmente é acreditaria no que digo.- Gilbert falou beijando-lhe a mão. Anne preferiu ficar quieta e não dizer nada, porque nunca se considerara tão bonita assim, mas, saber que Gilbert a enxergava além de si mesma lhe causava um sentimento prazeroso capaz de tirar-lhe o fôlego.
Eles chegaram a Centerporch Beach antes que o sol estivesse muito alto, e às nove em ponto já estavam aproveitando aquele pedaço de paraíso quase deserto. Enquanto Patrick, Jonas e Carlos se divertiam jogando futebol, Gilbert aproveitou para dar um mergulho, pois essa era a atividade que mais gostava quando iam a praia.
Anne ficou sentada na areia debaixo do seu guarda sol e se manteve atenta a cada movimento de Gilbert, e ficou ainda mais impressionada por observá-lo assim ao ar livre como a muito não tinha a oportunidade de fazer .
Suas braçadas eram perfeitas como não podiam deixar de ser, o movimento do corpo dele sobre a água era quase hipnotizante. Ela tinha se esquecido de como era vê-lo tão ao natural, tão em seu estado primitivo e tão sexy.
Gilbert saiu da água e veio em sua direção com os cabelos encharcados pingando por entre os cachos , sua pele morena chamando a atenção de Anne para os músculos do seu peitoral que tinham se desenvolvido bastante durante aqueles meses em Nova Iorque, e a trilha de pelos que seguiam até onde os olhos de Anne não conseguiam alcançar. Não importava quantas vezes já tivesse visto Gilbert assim, até mesmo sem nenhuma roupa cobrindo aquele corpo lindo, ela sempre sentiria seu coração disparar, seu corpo se arrepiar, e seu desejo por ele queimar feito uma chama. Ela tinha um Eros perfeito vivendo sob o mesmo teto que ela, e tal constatação fazia sua cabeça girar de maneira perigosa.
- Não vai mergulhar?- Gilbert disse se sentando na cadeira ao lado da dela.
- Daqui a pouco.- ela respondeu olhando para as onda do mar que iam e vinham calmamente beijar a areia da praia, e depois retornavam para seu caminho de origem
- Gostou da praia?- Gilbert perguntou tentando decifrar o que ela pensava. Anne parecia tão longe, como se tivesse dividida entre o momento presente e alguma lembrança presa dentro de sua linda cabeça ruiva.
- É linda. Eu nunca pensei que Nova Iorque pudesse ter lugares assim. Embora deva confessar que a praia de Avonlea continua sendo minha favorita.- ela se virou para Gilbert e percebeu que que ele a olhava intensamente, e só por aquele olhar ela já se sentia quente por dentro.
- Eu sei. Aquele lugar é especial para nós dois por motivos óbvios.- ele disse sorrindo, e Anne pode ver todas as covinhas adoráveis que ela amava.
- Tem certeza de que não quer mergulhar?
- Talvez eu faça isso mais tarde.- Anne respondeu. Ela não gostava tanto de mergulhar quanto gostava de observar o mar, por isso ainda não tinha se aventurado a pegar uma onda como Gilbert tinha feito poucos minutos atrás.
- Você não sabe o que está perdendo - ele disse maroto.
- Eu sei que a água deve estar uma delícia, mas estou com preguiça e prefiro ficar aqui apenas observando você nadar.- Anne respondeu esticando seus pés na areia.
- Ah, eu não te trouxe aqui para ficar apenas como espectadora.- Gilbert disse puxando Anne para seu colo.
- O que está tentando fazer?- ela disse enquanto Gilbert a segurava no colo e caminhava com ela em direção ao mar.
- Se Maomé não vai a montanha, a montanha vem a Maomé.- ele disse olhando-a com uma alegria genuína que a fez gargalhar. Uma onda pequena veio e molhou a ambos, e Anne se pendurou no pescoço dele para não perder o equilíbrio enquanto Gilbert a ajudava segurando em sua cintura. Seus olhares se cruzaram no momento em que Anne virou a cabeça para beijá-lo no rosto, e ela ficou por um segundo sem respirar, porque aquela versão molhada de Gilbert acabava com ela . Logo, os lábios dele estavam sobre o seus, e Anne se esqueceu de tudo o que pudesse atrapalhar aquele momento, seus corpos molhados ainda mais por conta da água, e o movimento do mar que os jogava um contra o outro. Ela sentiu as mãos de Gilbert em sua coxa, por baixo da saída de banho que ela usava por sobre o biquini que não tivera tempo de tirar, porque Gilbert a pegara de surpresa. Ele a impulsionou para cima, fazendo com que ela colocasse as pernas em volta de sua cintura, e assim o espaço entre eles se tornou infinitamente menor. Eles se esqueceram completamente de onde estavam, seus beijos se tornaram mais quentes e as mãos de Gilbert acariciam cada parte dela por cima da saída de banho. Foi só quando Jonas se juntou a eles dentro da água, e disse:
- Ei, vamos acalmar esse fogo ai. Estamos em domínio publico.- que se separaram e Anne encostou sua cabeça no peito de Gilbert para esconder seu embaraço.
- Não amola, Jonas. Por que não me deixa beijar minha mulher como eu quero.- Gilbert disse irritado pela interrupção.
- Quer dizer que o bom rapaz, Gilbert, não é tão bom rapaz assim.- Patrick disse se aproximando deles com uma prancha de surf.
-Não enche você também, Patrick. Eu e Anne somos noivos, que esperavam, que apenas andássemos de mãos dadas?
- Eu imagino bem o que vocês devam fazer entre as quatro paredes daquele apartamento, mas, o mundo aqui fora não precisa de uma comprovação ao vivo, não é Jonas?- Anne sentiu que ficava cor-de-rosa ao ouvir os amigos de Gilbert falarem de sua intimidade com ela tão explicitamente, por isso, ela disse ao noivo:
- Vamos, voltar para a sombra. O sol está ficando quente demais para você.
Desta forma, eles caminharam de mãos dadas para debaixo do guarda-sol enorme que tinham trazido para a praia com eles junto com seus pertences.
- Desculpe-me, Anne. Não quis deixa-la embaraçada.- Gilbert disse vendo-lhe o rosto ainda corado.
- Está tudo bem. Estou me acostumando com a irreverência dos seus amigos. Eles não falam por mal. É o jeito que encontram para se divertir. Não me ofenderam de forma nenhuma. Afinal de contas, estamos aqui para celebrar nosso aniversário de noivado, e não quero que nada te deixe aborrecido.- ela tocou o rosto bronzeado de Gilbert . Era de dar inveja a capacidade dele de pegar uma cor tão linda em apenas alguns minutos se expondo ao sol, enquanto ela não tinha a mesma sorte. Pele de garotas ruivas não fora feita para ser agraciada pelos raios solares.
- Está mesmo tudo bem? – Gilbert perguntou pra ter certeza de que ela estava sendo sincera.
-Sim. Vamos nos divertir.- ela disse beijando-o de leve nos lábios.
O resto do dia passou tranquilo. Anne deu alguns mergulhos sob a supervisão de Gilbert que evitou contato direto com o sol. Anne ficou com pena de vê-lo assim confinado ao guarda-sol sem poder surfar que era uma atividade que ele adorava, ou jogar futebol com os amigos. Porém, ele não parecia aborrecido, e se mostrava satisfeito por ver que Anne estava tendo um dia feliz, pois fora exatamente essa a sua intenção. Ele quisera tirá-la daquela preocupação paranoica com a saúde dele, e tinha conseguido pelo menos temporariamente.
Quando a noite chegou, eles armaram suas barracas nos espaços designados para isso, e depois prepararam peixe assado na brasa que comeram em volta de uma fogueira, tomando cerveja e suco de uva. Em um momento em que os amigos de Gilbert estavam entretidos com um violão que Jonas tinha levado, Gilbert puxou Anne pela mão e a levou até a margem da praia, de onde podiam ver a lua cheia que dava o ar de sua graça sobre um mar calmo e brilhante. Gilbert se sentou na areia e colocou Anne sentada no meio de suas pernas, repousando suas mãos no abdômen dela.
- Isso é realmente lindo.- Anne disse admirando a beleza da lua imponente no céu.
- Esse dia foi mágico, não acha? Espero que tenha sido tão especial para você como foi para mim.- Gilbert disse com sua cabeça apoiada no ombro de Anne.
- Tudo que vivo com você é especial, Gilbert. Nunca me esqueço de nada, está tudo arquivado dentro de mim.- Anne colocou sua mão por cima da ele transmitindo-lhe seu calor pela ponta dos dedos.
- Você é importante demais para mim, amor. Eu faço qualquer coisa para te ver feliz. Sinto muito mais uma vez pelo que está passando por minha causa.- a voz dele era magoada, mas, Anne não deixou que continuasse.
- Não vamos falar sobre isso, hoje. Quero apenas te dizer que a culpa não é sua. Vamos conseguir passar por tudo isso juntos, meu amor. – assim, ela o beijou, e dessa vez o beijo foi calmo, mas não menos intenso, e quando se separaram , eles ficaram mais um pouco observando o encanto da lua, e depois foram para sua barraca onde dormiram a noite toda abraçados.
Ainda era de madrugada, quando Anne ouviu Gilbert chamando-a, e assim que abriu os olhou, ele lhe entregou uma caneca de café fumegante, e disse sorrindo:
- Vista um biquini, que vou te levar a um lugar especial.- ela o olhou surpresa, mas, não perguntou nada. Se era uma surpresa que Gilbert lhe preparara, ela não queria saber em antecipação.
Eles andaram a pé até a outra ponta da praia, e pararam assim que alcançaram um barco de velejar. Gilbert lhe estendeu a mão e a ajudou a subir nele, e no momento que alcançou o convés, ela perguntou:
- De quem é esse barco, Gilbert?
- Eu o aluguei por duas horas. Vou te levar para um passeio .- Gilbert disse se posicionando atrás do leme.
- Você sabe como conduzir um barco? – Anne perguntou espantada.
- Eu não vivi dentro de um barco por quase um ano sem aprender nada sobre ele. Confie em mim, eu sei o que estou fazendo.
- Eu confio em você. Mas, por que teve essa ideia de me trazer para velejar?- Anne disse se colocando atrás de Gilbert e abraçando-o pela cintura.
- Você me perguntou uma vez qual era a sensação de viajar a bordo de um navio, e eu quis que você sentisse pelo menos um pouquinho dessa emoção. Eu sei que não se compara a um grande cargueiro, mas, eu acho que pode ter uma pequena ideia de como é viajar assim.
- Eu já disse que você é o homem perfeito ? Como pode sempre acertar em todas as suas surpresas?- Anne perguntou se colando as costas dele.
- É porque eu te amo, e você é minha inspiração. – ele respondeu, virando a cabeça para trás para olhar para ela.
- Obrigada. Essa é mais uma experiência que nunca vou esquecer.
- Agora, feche os olhos e sinta a liberdade em suas veias.- ele sussurrou, e Anne obedeceu, sentindo o vento brincar em seus cabelos, conforme Gilbert ia aumentando a velocidade, levando-a a um nível de adrenalina nunca imaginado. Quando abriu os olhos, ela observou Gilbert mover o leme para direção que desejava e tal movimento evidenciava cada músculo de seu braço, deixando-a admirada. Ele parecia tão mais jovem enquanto conduzia o barco ao sabor do vento, e o jeito com que lhe sorria de minuto a minuto a fazia suspirar pelo rapaz maravilhoso que ele era, e pelo seu amor por ele que fervia em seu coração como um uma tempestade prestes a desabar. Como queria poder livrá-lo do mal que o afligia, como queria poder em um passe de mágica trazer a normalidade a vida deles de antes, mas , teria que confiar que a vida faria o melhor por eles.
- Quer conduzir um pouco? Não é nada difícil.- Gilbert ofereceu.
- Não, obrigada. Prefiro te observar fazer isso.
Desta forma, ficaram velejando por cerca de duas horas, e Anne finalmente entendeu qual era o tipo de liberdade sobre a qual Gilbert sempre falava com ela. Era como se o corpo não tivesse peso, e sua alma voasse junto com a brisa, era se sentir invencível, capaz de alcançar o impossível, era perseguir a linha do horizonte e se imaginar chegando ao fim dela com o mundo inteiro em suas mãos. Ao voltarem para praia, Anne se sentia leve, e estava feliz por Gilbert a ter levado com ele naquela pequena aventura a qual ela nunca esqueceria, e seria mais uma a ir para seu álbum de memórias.
Eles voltaram para casa no fim da tarde, e se despediram daquela praia espetacular com um ultimo mergulho, e durante todo o caminho de volta Anne cochilou com a cabeça no colo de Gilbert. Em pouco tempo, Jonas os deixou no apartamento, prometendo que repetiriam aquela experiência em breve. Anne não disse nada, mas não quis estragar a animação do rapaz. Contudo, ela não podia esquecer que dali a algumas semanas Gilbert poderia estar entrando em uma mesa de cirurgia, e sua recuperação depois dela seria um pouco lenta. Assim, Anne e Gilbert se despediram do amigo e subiram para o apartamento.
Uma vez lá dentro, Gilbert disse que iria tomar banho, e Anne decidiu preparar um lanche leve para ambos, o qual ficou pronto em menos de quinze minutos. Então, ela foi para o quarto chamar Gilbert para comer com ela, mas, percebeu pelo barulho do chuveiro que ele ainda estava no banho. Assim, ela se aproximou da porta que estava entreaberta e observou seu noivo de costas completamente nu embaixo de uma cascata de água gelada. Seu corpo estremeceu, enquanto ela observava a água abundante escorrer pela pele das costas bronzeadas dele, sua garganta secou, e ela levou a mão ao peito para controlar seu coração que dava piruetas dentro de seu peito. De repente, Gilbert se virou de frente e ficou surpreso ao vê-la parada ali contemplando sua total nudez. Anne nunca fizera isso pela própria iniciativa, já tinham tomado muitos banhos juntos, mas, era sempre por sugestão ou atitude dele, e pegá-la assim olhando-o quase que hipnotizada fazia sua imaginação ir para lugares desconhecidos, mas, não menos desejados.
- Por que não se junta a mim?- ele disse com a voz rouca, e Anne se sentiu incapaz de recusar. Ela levou a mão as tiras dos sutiã do biquini o qual ela ainda vestia, e o desamarrou jogando-o ao chão, ouvindo com prazer Gilbert suspirar profundamente ao observar o seu gesto. Em seguida, ela pegou na mão que ele lhe estendia, e deixou que ele a puxasse de encontro ao próprio corpo, sentindo toda a força do abraço de Gilbert envolve-la. A água estava gelada, mas, ela nem sentiu, pois seu corpo estava tão quente que a única coisa que conseguia perceber era o seu desejo e o de Gilbert crescer a cada minuto. Ele desceu as mãos por suas costas, alcançando o seus quadris, e arrancando em um só gesto sua calcinha que era a única peça que restava sobre o seu corpo. Os lábios dele correram por seu rosto, tomando-lhe os lábios em um beijo desesperado , o qual ele sugou, lambeu, mordicou matando a vontade que estava de fazer isso desde do dia anterior quando Jonas os interrompera. Anne enrolou seus dedos nos cabelos encaracolados da nuca de Gilbert, primeiro acariciando-os devagar, depois puxou-o com força em sua direção, devorando a boca dele com a sua. O desejo se espalhou entre eles, como uma fogueira incessante de muitas vontades. Gilbert libertou-lhe os lábios, mas aprisionou o seu pescoço sob a língua dele que saboreou cada pedacinho dele, fazendo Anne gemer alto e encostar seu corpo mais ainda no dele. Gilbert a tirava do eixo, provocando-lhe desejo e prazer simultaneamente, ela perdia completamente a noção do que era certo ou errado, tudo o que queria era ir ate o fim com ele mais uma vez. Os lábios dela saborearam a pele dele de um jeito ardente que fez Gilbert tocá-la mais intensamente ainda, e quando se deram conta, não conseguiam mais parar. Gilbert a encostou no box do banheiro, enquanto prendia as pernas dela em sua cintura, deixando em uma posição na qual ele a possuiu completamente. Anne encostou sua testa na dele, enquanto seus corpos se moviam um contra o outro, e Gilbert sussurrava seu nome sem parar. Quando explodiram juntos embaixo de toda aquela água que servia muito pouco para aliviar a quentura de seus corpos, Anne se sentiu levada para um plano completamente diferente onde seu amor por Gilbert era tão grande que fazia daquele ato uma composição perfeita de notas de paixão e rendição. Talvez fosse o momento que estavam vivendo tão cheio de incertezas, que fazia com que cada toque que partilhavam tivessem mais significado do que o anterior, e quando sua respiração voltou ao normal., ambos sentiram que mais uma vez fizeram um amor que transcendia qualquer compreensão humana. Era uma elevação de espírito, e uma comunhão de corpos que somente duas pessoas que se pertenciam poderiam partilhar.
Eles voltaram para o quarto perdidos ainda no encantamento da paixão. Gilbert enxugou cada parte da pele de Anne, acariciando devagarinho as marquinhas suaves de biquíni que o sol deixara sobre ela, e sentindo-se completamente dominado por aquela loucura que o fazia desejá-la além do imaginável. E assim, passaram a noite, hora conversando, provando do lanche que Anne preparara para ambos, hora se amando ardentemente, e quando o sono veio silenciosamente fazendo com que Anne não conseguisse mais manter seus olhos abertos, ela sentiu o beijo suave de Gilbert em sua testa, e ainda conseguiu ouvi-lo dizer:
- Eu te amo, Sra. Blyhe.- e quase mergulhada no mundo da inconsciência ela respondeu:
- Eu também te amo para sempre.- e então ela adormeceu.
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