Caítulo 76- Vida nova. velhos sonhos
Olá, queridos leitores. resolvi postar esse capítulo hoje, e não sei realmente se vocês vão gostar dele.. Eu estou realmente exausta, e tentei escrevê-lo da melhor maneira possível, embora não tenha certeza se gostei do resultado. Mas, de qualquer forma, espero que me digam o que acharam, pois como sempre digo, os comentários me ajudam bastante. Obrigada por me acompanharem a cada semana fielmente, isso é realmente gratificante. Desculpem-me por qualquer erro ortográfico. Beijos.
GILBERT
Gilbert encerrou mais um dia de trabalho, e foi para casa. O dia tinha sido duro como a maioria nos últimos tempos, e a faculdade estava exigindo cada vez mais de seus esforços e atenção. Ele teria um seminário para apresentar com Dora e mais três amigos dali a dois dias na área de Patologia, e um relatório para entregar em Biologia celular, além das provas e tarefas extras.
Apesar de sua vida ter atingido um ritmo extremamente estressante, ele sempre encontrava um tempo extra para dedicar a sua vida pessoal. Anne era sua prioridade desde que passara a viver com ele em Nova Iorque, e sua preocupação com ela era sempre constante.
Para uma garota vinda do campo, ela vinha se saindo relativamente bem em Nova Iorque. Tinha encontrado um clube de leitura para estimular sua paixão por literatura, e também estava estudando bastante para seu teste da Faculdade que se aproximava. Gilbert procurava ajudá-la como podia, principalmente no que se relacionava aos estudos, mas havia algo que ele tinha notado nela no último mês que o estava deixando ainda mais preocupado.
Anne tinha seus altos e baixos de humor, isso era um fator ao qual se acostumara a respeito dela desde a perda do bebê. Embora ela nunca mais tivesse caído em um estado profundo de tristeza, Anne apresentava alguns sintomas que não eram constantes, mas quando aconteciam duravam por alguns dias.
Ela ficava irritada por qualquer motivo, perdia o apetite, e chorava sem um motivo aparente. Gilbert tentava descobrir aos poucos porque isso vinha acontecendo. Ele usava de todos os seus recursos possíveis para fazê-la falar, mas Anne nunca fora uma pessoa que gostasse de expor seus sentimentos com facilidade. Ela os guardava para si, e somente falava sobre eles quando era obrigada a isso. Gilbert conhecia bem esse lado introspectivo dela desde que começaram a namorar, e desconfiava que isso tinha a ver com a sua primeira infância no orfanato, onde ela tivera que ser forte e lidar com os próprios problemas, pois somente podia contar consigo mesma, e certos hábitos, Gilbert sabia que eram difíceis de mudar.
Confiança não era uma coisa que se adquiria com facilidade, e Anne confiava muito pouco nas pessoas. Suas inseguranças sempre a levavam para o lado mais escuro de seus medos, e penetrar nessa couraça que ela construíra a tanto tempo envolta de si mesma não era fácil, nem mesmo para ele que era a única pessoa além de Cole e Diana com quem ela dividia suas preocupações e medos.
Alguma coisa havia acontecido algumas semanas atrás que a estava deixando inquieta. Ele notava isso nela todos os dias, e também o estava afetando, mesmo que indiretamente. Gilbert somente não sabia como fazê-la falar sobre isso, sem que Anne se sentisse incomodada demais.
Gilbert também notara a mudança dela em relação a Dora. Não era nada muito as claras, e Anne agia de maneira tão sutil que Dora não percebia, mas a maneira como sua noiva usava a ironia para falar com a amiga dele em certas ocasiões deixara bem claro para ele que Anne não estava mais satisfeita com a amizade dele e de sua colega de Faculdade.
Ele não sabia como aquilo acontecera, e nem porquê de repente Anne começara a olhar para Dora com outros olhos. Ele não se lembrava de nenhum incidente específico envolvendo a garota, e quebrara a cabeça por dias tentando descobrir o motivo daquela animosidade gratuita, entretanto não encontrara uma explicação aparente.
No que se referia ao relacionamento de ambos como casal tudo continuava correndo bem. Anne era incrível em tudo que fazia, e era um verdadeiro prazer chegar em casa e tê-la esperando por ele, não havia grandes impasses entre eles, e discussões e brigas deixaram de ser um item comum em suas vidas.
Entretanto, Anne ainda conservava seu gênio forte, e apesar de ela estar conseguindo mantê-lo sobre controle, Gilbert sabia que bastava uma fagulha para ela explodir e incendiar tudo com seus belos olhos azuis que brilhavam com o pólvora queimando.
Assim, ele tentava evitar confrontos, em seus momentos mais vulneráveis em que Anne não conseguia conter as lágrimas por conta de sua batalha interna, ele apenas a abraçava e tentava fazê-la se sentir segura e amada, e desejava do fundo do coração que ela se abrisse o suficiente para que ele lhe desse bem mais do que aquele simples consolo. Gilbert odiava vê-la lutando sozinha contra um demônio invisível que sugava suas forças. Ela sempre lhe dissera que ele era um príncipe, mas não o deixava mais matar seus dragões por ela como antes.
Crescer não era fácil, amadurecer era outra tarefa complicada demais. Mas, Gilbert sentia orgulho de que estivesse se tornando um homem de bem como seu pai, e boa parte desse mérito ele devia a Anne, porque fora ela que mostrara a ele por quais pontes cruzar para ser o homem que queria ser. Por isso, ele queria fazer o mesmo por ela, queria que ela sentisse que sua fragilidade tinha um abrigo quando ela não conseguia escapar de sua dor, e podia se agarrar a ele, sabendo que Gilbert estaria lá por ela em qualquer circunstância.
Fora assim que Gilbert descobrira que amar era muito mais que beijos e abraços perfeitos. Era também saber ouvir, apoiar, sofrer junto, e compreender que o silêncio compartilhado valia mais que mil palavras, pois a cumplicidade não era apenas para o amor que acontecia entre eles todas as noites, ela era ainda mais importante quando a dor de alguém era impossível de ser descrita, e o conforto de um ombro onde se pudesse despejar suas angústias era o melhor lugar para se traçar um novo recomeço.
Assim como viver com outra pessoa era um aprendizado constante. Não havia como fingir ou sufocar as emoções que mais te atingiam sem que a pessoa ao seu lado se sentisse excluída ou deixada de lado por uma razão qualquer. Da mesma forma que a alegria podia ser percebida em.um único olhar ou gesto, a tristeza também podia ser pressentida nos pequenos detalhes, por isso, um relacionamento somente daria certo quando tanto o homem quanto a mulher aprendiam que um casal era o alicerce de um lar, e que não haveria futuro nenhum se cada um resolvesse separar o amor de seus infortúnios íntimos.
Partilhar o fardo da vida assim como momentos de extrema beleza era o segredo para uma relação duradoura. E era isso que Gilbert tentava mostrar para Anne todos os dias, mesmo quando ela não parecia disposta a deixá-lo descobrir suas partes mais sombrias. Ainda assim, ele a fazia compreender que mesmo que fosse difícil para ela confessar os tormentos de seu coração, ele estava ali para garantir que sua jornada por este mundo não fosse dura demais. Haveria sempre flores junto aos espinhos, e o sol sempre despontaria no horizonte depois de um dia chuvoso, e nenhuma maré seria tão alta que não se acalmaria ao amanhecer.
Mas apesar de toda sabedoria adquirida com as inúmeras rasteiras que levara naquele ano, Gilbert sabia que tinha muito que aprender, e era humilde o suficiente para reconhecer que saber ouvir, e manter a mente sempre aberta eram um dia melhores caminhos para se adquirir conhecimentos sólidos e permanentes.
Por isso, naquela tarde ao fechar as portas do laboratório ele fora conversar com Dora sobre Anne. A amiga era bastante coerente quando se tratava de dar conselhos, e ouvir o que ela tinha a dizer sempre o ajudava a enxergar um caminho onde parecia não ter nenhuma luz.
Assim, Gilbert chegou ao dormitório dela dez minutos após caminhar do laboratório até ali. Dora veio atender-lhe logo que ele bateu na porta, e lhe sorriu parecendo ter ficado surpresa por vê-lo naquela tarde, pois Gilbert raramente vinha procurá-la em seu dormitório.
- Gilbert, aconteceu alguma coisa? - ela perguntou examinando-lhe o rosto para ver se descobria o que o trouxera ali.
- Desculpe-me por aparecer sem avisar. Estou incomodando? – Ele disse sem jeito. Não estava arrependido de ter vindo, mas, de repente ele sentiu falta de Bash. Gilbert nunca encontrara alguém tão conhecedor da alma feminina como ele, e o rapaz se servira muitas vezes de seus conselhos tão sábios e inspiradores, porém, na falta dele, ele adotara Dora como sua confidente, embora nunca fosse tão aberto com ela quanto ele sempre fora com Bash.
- Claro que não. Só não repare na bagunça. – Ela apontou para a confusão de papéis sobre sua mesa. - estou dando os retoques finais em nosso seminário.
- Desculpe-me por não poder ajudá-la com isso. Anne não me parece muito bem essa semana, e não quero deixá-la sozinha.
- Não precisa se preocupar. Você fez boa parte do trabalho sozinho, e eu posso muito bem terminar o que falta. - Dora disse puxando uma cadeira para Gilbert e o convidando a sentar-se nela. Assim que viu o amigo acomodado, ela foi direto ao ponto da conversa. - É por causa de Anne que está aqui?
- Sim. Eu ando um pouco perdido sobre o caso dela. Não sei o que fazer para ajudá-la. - ele disse com o queixo apoiado nas mãos.
- Explique-me melhor a situação. – Dora pediu, indo até a geladeira e voltando com um copo de limonada que entregou para Gilbert.
- Eu realmente não sei se é algo sério ou se é somente mais um daqueles momentos em que Anne resolve se fechar para o mundo. Às vezes, tenho a impressão que ela se tranca em um casulo, e depois de alguns dias volta a se libertar feito uma borboleta incrivelmente linda e feliz. Ela me deixa confuso, e me sinto pisando em ovos quando se trata de discutir com ela seus sentimentos mais íntimos.
- Esses momentos instáveis são frequentes? - Dora perguntou cruzando os braços à sua frente.
- Não nos últimos tempos. Quando ela me contou sobre a perda do bebê e depois que descobriu sobre dificuldade de gerar um bebê, ela teve muitos momentos assim. Mas, falamos tanto sobre o assunto, e com a empolgação em recomeçar nossa vida juntos aqui em Nova Iorque, ela me pareceu aberta a novas possibilidades. - Gilbert disse coçando a nuca.
- Há quanto tempo ela está assim? - Dora perguntou olhando fixamente para Gilbert.
- Desde aquele dia que você foi fazer o trabalho comigo lá em casa. Anne chegou em casa tarde e se comportando de maneira estranha. Você até pensou que era por sua causa.
- Ah, sim. Você disse que iria falar com ela depois. - Dora disse se lembrando muito bem da expressão grave do rosto de Anne ao olhar para ela e Gilbert, Dora tivera a nítida impressão de ver um lampejo de ciúmes nos olhos da garota, mas não quisera dar importância demais ao fato, tanto que fora embora e. seguida e não pensar a mais no assunto.
- E tenho tentado todas essas semanas, mas você não sabe o quanto Anne se torna difícil em momentos assim. Ela se tranca tanto dentro de si mesma que não me deixa ter nenhum acesso.
- Você acha que isso pode ter alguma coisa a ver com o aborto espontâneo que ela sofreu quando você estava no hospital? - Dora ajeitou os óculos sobre o nariz enquanto esperava pela resposta de Gilbert
- Eu não saberia dizer porque Anne nunca mais tocou no assunto. Não que eu pense que o problema tenha sido resolvido completamente, mas, não encontrei nenhum indício de que seja essa a causa de seu atual comportamento. - Gilbert disse pensativo.
- Eu não sou nenhuma especialista no assunto, e talvez somente um profissional pudesse dizer com certeza o que se passa com Anne. Mas, eu acredito, que o seu trauma ainda está muito presente no subconsciente dela, e provavelmente quando ela se recorda por algum motivo do que aconteceu, todo esse processo depressivo é desencadeado. Por que você não a leva a um terapeuta? Eu já te falei que meu tio é um ótimo profissional para tratar de casos assim.- Dora sugeriu.
- Eu falei com Anne sobre isso meses atrás, e ela disse que pensaria no assunto, no entanto, também não me falou mais nada. Talvez seja hora de abordar esse assunto novamente.
- Sim. Mas, tenha cuidado, fale com Anne deixando claro que a escolha é dela. Não faria nenhum bem se ela se sentisse forçada a fazer algo apenas para te agradar. - Dora aconselhou.
- Dora, você sabe que daria uma ótima psicóloga? Tem certeza que quer ser cirurgiã? - Gilbert disse olhando-a admirado. Ela era tão jovem, mas, possuía tanto conhecimento sobre os mistérios da mente humana.
- Tenho sim. Venho de uma família de cinco psicanalistas. Seria de se admirar se eu não soubesse nada sobre esses assuntos. Meus pais e tios costumavam discutir seus casos em jantares ou reuniões de família, então, passei grande parte de minha vida mergulhada em tragédias. humanas. Foi por isso que optei por uma área diferente. - ela disse sorrindo.
- Você é uma garota um nível, - Dora. – Gilbert disse tocando no ombro da amiga com afeição.
- Imagina. Eu fico feliz em ajudar você e Anne. Vocês merecem ter uma vida feliz- ela disse encabulada com o elogio de Gilbert.
- Mesmo assim, eu quero lhe agradecer. Se tiver algo que eu possa fazer para te ajudar, por favor não hesite em pedir.
- Tem uma coisa sim. Se você não se importar. – Dora disse animada.
- Então me diga o que é. – Gilbert insistiu em saber.
- Você me ajudaria com o baile de inverno este fim de semana, se não tiver nenhum plano? Me deixaram encarregada de ser a anfitriã do baile, e não queria fazer isso sozinha. É claro que pode levar Anne, quem sabe assim ela não se sinta mais animada.
- Claro que posso te ajudar. Eu sei que esse baile é para arrecadar fundos para nossa formatura e ficarei muito feliz em ser seu parceiro também nesse trabalho. Além do mais, acho que Anne vai adorar, ela sempre amou ir à festas em Avonlea.
- Então, está combinado. Te espero no sábado à noite no salão de festas da Faculdade. - Dora disse feliz por Gilbert ter aceitado seu convite.
- Está certo. Agora preciso ir, pois minha princesa ruiva me espera. Até logo.
- Até logo, Gilbert. - Dora ficou observando Gilbert se afastar e pensou consigo mesma que ele era o rapaz mais maravilhoso que já conhecera, e esperava que Anne soubesse a preciosidade que tinha nas mãos.
Enquanto isso, o jovem estudante de medicina chegava em seu apartamento e encontrou sua noiva perdida entre recortes de jornal. Ele olhou para ela intrigado e perguntou assim que se aproximou da mesa onde ela estava sentada, e lia com toda atenção um determinado artigo que estava em suas mãos.
- Anne, o que está fazendo? - Gilbert sabia que Anne adorava ler, mas nunca imaginara que jornais diários fossem de seu interesse:
- Estou procurando emprego. - ela disse sem olhar para ele.
- Procurando emprego? Por que? - Gilbert perguntou novamente surpreso por aquela novidade. Anne olhou para seu noivo como se somente naquele momento lhe ocorresse que deveria ter falado com Gilbert primeiro antes de qualquer outra coisa.
- Desculpe-me. Eu sei que devia ter contado, mas, foi algo que somente me ocorreu essa manhã. Você se importa? - Anne perguntou parecendo recear que Gilbert não gostasse da ideia.
- É claro que não. Mas, e a Faculdade? – Gilbert olhou para ela preocupado enquanto esperava pela resposta dela. Não se importava que ela trabalhasse fora, desde que não desistisse da Faculdade por isso.
- Não se preocupe. Já pensei em tudo. Vou arrumar um emprego de meio período. Assim poderei estudar de manhã sem problema algum. - Anne disse sorrindo como se estivesse pensando nisso a tempos.
- Nesse caso te desejo boa sorte. Já sabe no que quer trabalhar? - Ele disse, abraçando-a pela cintura assim que ela se levantou da mesa.
- Alguma coisa envolvendo livros é claro. Já separei alguns recortes de emprego que me interessaram nessa área, e vou fazer uma visita a cada um deles amanhã. – Anne disse enterrando as mãos nos cachinhos de Gilbert, o que o fez suspirar. Ele adorava quando ela lhe fazia aquele tipo de carinho.
- Espero que encontre algo a sua altura. Você é inteligente demais para trabalhar em um emprego comum. - Gilbert falou, admirando a luz suave que vinha da janela e iluminava os cabelos de Anne, fazendo-os brilhar como se fossem chamas.
- Obrigada, meu amor. Você se lembra que vai me ajudar a estudar essa noite, não é?
- Claro. E o que vamos ler? - Gilbert perguntou beijando o rosto de Anne.
- Animal Farm. George Orwel – Anne disse esperando para ver a reação de Gilbert.
- Este era o livro favorito de meu pai. Eu nunca realmente o li, mas me lembro bem que é um livro que faz duras críticas à sociedade da época. Ele o deixava em sua cabeceira junto com sua Bíblia. – Gilbert disse saudoso do homem que um dia tivera sonhos grandes para ele. Que pena que não estivesse ali para ver seu filho trilhar os degraus de uma carreira na medicina.
- Sim, o sonho de um mundo igualitário é a principal moral deste livro. – Anne disse olhando cheia de encantamento para seu noivo.
- Podemos fazer chocolate quente antes? Tenho a impressão que teremos uma noite bem fria. - Gilbert disse abraçando Anne bem apertado, e esfregando a ponta de seu nariz no dela.
- Que ótima ideia, amor. - Tem certeza que não vai ficar entediado?
- Tenho. Qualquer atividade por mais tediosa que seja se torna extremamente excitante quando tenho você do meu lado. - É então, a beijou daquele jeito que não deixava dúvida nenhuma quanto ao que acabar a de dizer.
ANNE
Anne se levantou exultante naquele dia. A ideia de procurar emprego vinha rondando sua mente a mais ou menos uma semana, e por isso, no dia anterior resolvera procurar alguma ocupação nos classificados dos jornais que Gilbert recebia todas as manhãs em seu apartamento. No início não soubera por onde começar, mas, logo que descobriu o que queria fazer, ficou mais fácil selecionar as opções que lhe agradavam.
Ficara aliviada por Gilbert entender e aceitar sua vontade de ter uma ocupação, pois não queria que ele pensasse que estava lhe faltando alguma coisa e ficasse ofendido pela sua súbita vontade de trabalhar fora. Gilbert lhe dava tudo o que precisava, inclusive amor em abundância, carinho, um colo para chorar se precisasse, e a presença dele ao seu lado todos os dias.
Não havia nada que ele não fizesse por ela, nada era difícil demais ou dispendioso ao extremo. Anne desconfiava que ele iria até o fim do mundo somente para vê-la feliz, e Anne sabia quanto custava cada hora do seu dia. Gilbert estava sempre estudando ou trabalhando e não tinha muito tempo para o lazer ou diversão, porém quando chegava à noite, não importava se teria uma prova difícil ou tarefas extras do trabalho para fazer, ele deixava tudo de lado para dedicar-lhe toda a sua atenção.
Anne era tão grata por Gilbert estar sempre por perto, principalmente naqueles dias em que não confiava em si mesma para ficar sozinha. Desde o incidente da pracinha vinha se sentindo vazia de novo, e não era por falta de amor. Era só aquela sensação de se sentir incapaz, de se sentir metade de uma mulher, por querer tanto um filho e saber que talvez não fosse possível.
Ela tinha sufocado aquela necessidade, e achou que com o tempo ela desapareceria, mas descobrira que estava enganada no momento em que vira aquela garotinha que a fazia lembrar Gilbert. Provavelmente era loucura de sua cabeça, mas, sempre imaginara que seu bebê perdido fosse uma menina e que teria os olhos e o sorriso de seu noivo. No entanto, era algo sobre o qual não pensava mais a um bom tempo, mas que permanecera oculto em seu coração somente esperando para vir à tona em um momento qualquer. E de repente, estava revivendo cada segundo de sua dor novamente com o se fosse um pesadelo que não tinha fim, ela apertava os dentes, tentava aguentar firme, porém tanto esforço a deixava exausta, e sem vontade de fazer quase nada.
Anne tentara esconder de Gilbert aquela sua súbita recaída. Não queria que ele tivesse que se preocupar com ela, pois tinha coisas demais em seus ombros, e ela não desejava que ele ficasse sobrecarregado com os problemas íntimos dela, mas, ela sabia que ele percebera.
Não havia nada que acontecesse com ela, que Gilbert não intuísse. Ele podia não saber o motivo exato, porém, ele a via com seu coração, por essa razão, qual quer mudança em seu comportamento nunca passava despercebida a ele, assim como acontecia com Anne em relação à seu noivo. Entretanto, Gilbert não a pressionava a lhe contar nada. Isso era outra coisa pela qual ela se sentia extremamente grata. Ele apenas a abraçava e secava suas lágrimas com beijos, dizendo que tudo ficaria bem, que estavam juntos e que ele amava acima de qualquer coisa.
Se Gilbert soubesse que a causa de sua recuperação no dia anterior tinha sido a bênção do amor dele por ela, talvez ele realmente acreditasse, como Anne acreditava que ele seria o melhor médico do mundo, pois ele não tinha apenas a cura em suas mãos para doenças físicas, Gilbert também tinha o dom de curar os males da alma.
Assim, na manhã do dia anterior quando acordara, ela sentira que precisava encontrar algo para ocupar seu tempo antes que ficasse maluca com seus pensamentos obsessivos. Embora, ela amasse cuidar do apartamento, das coisas de Gilbert. Inventar comidas gostosas para deixá-lo feliz, Anne tinha muito tempo livre nas mãos, e como Marilia sempre dizia, quando se tinha uma mente ociosa pensamentos ruins faziam sua morada, e ela não viera para Nova Iorque para ser um peso para Gilbert. Ela viera construir uma vida com ele, e era exatamente isso que faria dali para frente.
Desta forma, trabalhar fora lhe traria independência, e também a faria cultivar pensamentos mais saudáveis dos que os que tivera aquela semana. Gilbert precisava do seu apoio assim como ela precisava do dele, e não seria de grande ajuda se ela estivesse mergulhada em sua auto piedade. Ela era forte, não era o que todos diziam? Então, ela iria a luta e mostrar a si mesma que poderia superar qualquer coisa, e não deixaria que suas misérias interiores sepultassem seu coração na amargura sendo ela tão jovem.
Por esta razão, ela se levantou disposta aquela manhã, como se as duas semanas em que passara em um estado infeliz não tivessem existido. Anne era ela mesma novamente, e correu para a janela para dar boas-vindas ao dia ensolarado que se iniciava. Ela fechou os olhos e inspirou o ar puro que adentrava o apartamento fazendo-a se sentir revigorada.
Em seguida, ela abriu os olhos e se deleitou com a vista perfeita que conseguia ter do centro da cidade de onde estava. De repente, a vida lhe parecia maravilhosa de novo, e tudo o que queria fazer era desfrutá-la inteirinha ao lado de Gilbert, aproveitando as possibilidades que um novo dia lhe oferecia.
Como se ouvisse seus pensamentos, ela escutou seu noivo dizer ao seu ouvido, antes de abraçá-la pela cintura:
- Tão linda, não acha? - Anne pensou que ele estivesse falando da vista, mas quando de virou para concordar com ele, a garota percebeu que ele tinha os olhos fixos em seu rosto.
- Assim você me deixa encabulada. - ela disse corando de leve como se fosse a primeira vez que ouvia um elogio assim dele.
- Por quê? Estou apenas falando a verdade. Em toda minha vida nunca vi uma garota acordar com tamanho frescor como você. É incrível como parece mais linda do que estava ontem. - ele disse todo romântico, beijando os cabelos dela.
- Isso significa que já dormiu e acordou com muitas garotas? - o intuito da pergunta fora apenas para tentar ser engraçada, mas lá no fundo se recriminou pelo que dissera. De fato, não queria saber com quantas garotas Gilbert tivera um relacionamento íntimo enquanto viajava pelo Pacifico. Ele nunca lhe falara sobre isso, mas ela não era mais a garota ingênua que fora, e ela sabia por pequenas partes de conversa que ouvira entre Bash e seu noivo, sem perceberem que ela estava prestando atenção, que elas existiram, e isso bastava para que ela sentisse seu peito arder de ciúmes.
- O que a faz pensar que tive outras garotas antes de você? - Gilbert a olhou com aquele seu sorriso de lado que ela amava.
- Você não quer que eu acredite que vivia uma vida de celibatário enquanto descia de porto em porto daquele navio? - Anne disse. Não queria admitir que sua curiosidade fora aguçada, e mesmo que se arrependesse depois, ela queria saber que tipos de garotas atraiam Gilbert antes dela.
- Eu não disse isso. Apenas enfatizei que nunca dormi ou acordei com nenhuma. Eu sei que vai parecer horrível o que vou dizer, mas eu apenas me divertia com elas.
- Se acha horrível por que fez isso, então? - Anne perguntou espantada.
- Por que elas procuravam as mesmas coisas que eu. Elas não eram garotas como você, amor. - Ele disse sério.
- Você quer dizer que eram promíscuas? - Anne perguntou mais espantada ainda.
- Digamos que eram espíritos livres que não se importavam com quem se deitavam, desde que tivessem como garantia um bom vinho e uma noite de diversão. – Gilbert parecia sério agora, e Anne percebeu que nunca tinha se preocupado em saber sobre aquele ano em que ele estivera fora. Em sua ingenuidade, nunca lhe passara pela cabeça que ele tivesse experimentado coisas assim.
- Naquela época eu estava magoado demais pela morte de meu pai, e então, andei fora de mim e fiz coisas das quais não me orgulho. Até que encontrei Bash, e ele colocou um pouco de juízo em minha cabeça. - Gilbert olhou-a nos olhos e perguntou:- Te decepcionei?
- Não, pelo contrário, somente por reconhecer que fez coisas não tão louváveis, me mostra exatamente tudo que preciso saber sobre seu caráter. O que importa para mim é o que você representa nesse momento. E é esse Gilbert Blythe que amo de todo o meu coração. – O beijo que trocaram foi um daqueles que Anne mais amava, lento, sem pressa, mas não menos intenso. Era o tipo de beijo que conseguia arrancar tudo dela, até a última gota de sua consciência, mas Gilbert o interrompeu dizendo:
- Preciso ir, hoje terei apresentação de trabalho, e não posso chegar atrasado. O que vai fazer na minha ausência? - ele perguntou ainda abraçando Anne pela cintura enquanto ela o acompanhava até a porta.
- Bem, vou fazer uma visita aos lugares dos empregos dos quais te falei, e depois vou ao clube de leitura.
- Quero te fazer um convite. Vai haver um baile para arrecadar fundos para nossa formatura, e me convidaram para ajudar. Não vou ficar preso nisso a noite toda, e gostaria que fosse comigo. - os olhos dele pareciam ansiosos pela resposta dela, e Anne disse:
- Eu adoraria, mas não vou atrapalhar?
- Nem um pouco. Estou louco para te apresentar aos meus amigos.
- Nesse caso conte comigo. – Anne afirmou, beijando-o de leve nos lábios. Sabia exatamente qual vestido usaria para aquela noite.
Assim que Gilbert saiu, ela tomou seu café da manhã com calma, e se vestiu com cuidado, pois queria causar uma boa impressão quando fosse procurar por emprego.
A animação tomou conta dela no momento em que colocou os pés nas rua. Estava bastante contente naquele dia, pois Anne realmente sentiu que estava começando a construir para si mesma e para Gilbert um novo futuro. O trabalho era o primeiro passo, logo viria a Faculdade, e ela cruzou todos os dedos desejando passar com louvor. Se dependesse da torcida de seu noivo ela já estava dentro do Campus estudando a matéria que mais amava
Anne sorriu ao pensar em quantas coisas novas ainda esperavam por ela. Estava vivendo em Nova Iorque com o homem de seus sonhos, em breve seu marido e médico formado. Ela também se tornaria a professora que sempre desejara ser. O que mais podia desejar? Seu buscasse em seu coração ela sabia que havia algo mais, porém, naquele momento ela não deixou que se manifestasse, pois não queria que nada estragasse aquele dia magnífico.
GILBERT E ANNE
Anne chegou ao clube de leitura um pouco atrasada naquele dia, mas estava radiante. Fora contratada em sua segunda entrevista, e foram seus excelentes conhecimentos em literatura que a fizeram conquistar o emprego, assim como sua maneira correta de se expressar e simpatia.
Ele trabalharia em uma livraria bem em frente à loja onde o clube de leitura funcionava. Sua função seria tomar conta de toda a parte literária do lugar, além de ser uma contadora de histórias às quartas feiras à tarde, quando a livraria recebia a visita de pequenos leitores encantados pela atmosfera criada ali.
Essa foi a parte que mais gostou. Anne sempre adorara trabalhar com crianças desde que ainda vivia no orfanato e tomava conta dos pequenos. E aquilo não tinha nada a ver com sua necessidade de ser mãe, embora ela intui que talvez lhe fizesse bem realizar aquele trabalho, pois poderia assim suprir a falta que sentia de ter um bebê em seus braços.
- Você parece feliz.. - Roy observou assim que ela entrou na lona.
- Sim, realmente estou me sentindo muito bem, hoje. - Anne disse, tirando seu casaco pesado de inverno.
- Algum motivo especial? - se fosse em outro momento Anne teria uma boa resposta para aquele atrevimento todo do rapaz, mas naquela tarde estava tão satisfeita, que não se importou.
- Arrumei um emprego. – Ela disse sorridente.
- Não sabia que estava-procurando por emprego. - Roy disse sério.
- Nem eu. Me decidi ontem. E por incrível que pareça fui contratada para trabalhar na livraria que faz frente com esta loja.
- É mesmo? Que ótimo! É de um amigo meu. Se tivesse me dito, eu teria de dado ótimas referências.
- Muito obrigada, mas não foi preciso. Com o vê fui capaz de conseguir o emprego por mim mesma. – Anne lhe deu as costas e foi para o encontro do clube de leitura. Ela estava furiosa por dentro, mesmo que não demonstrasse, pois detestava quando um homem insinuava que uma mulher somente conseguiria um emprego se tivesse sua-ajuda.
Ainda bem que Gilbert era diferente. Ele a conhecia bem, e somente lhe oferecia auxílio para algo, quando ele percebia que ela realmente apreciaria sua colaboração, caso contrário jamais se manifestava ou dizia qualquer coisa que fosse considerada machista do ponto de vista feminino. Aquele Roy precisava de uma boa lição de moral, para parar de ser tão intrometido. Ele que a pegasse em um dia de mal humor que ela lhe diria tudo o que ele precisava ouvir e mais um pouco.
Felizmente quando o encontro literário acabou, ele não estava por perto, fazendo Anne respirar aliviada. E enquanto voltava para casa falando com seus botões, ela tinha esquecido completamente de sua irritação, pensando apenas que não via a hora de chegar no apartamento e contar para Gilbert as novidades.
Mas, para seu desapontamento, quando entrou em casa, Gilbert não estava lá. Ele lhe deixou um bilhete dizendo que tinha saído mais cedo do trabalho por conta do baile, e já havia se arrumado e ido para o salão de festas, pois precisavam da ajuda dele para organizar o início do evento. Ele também lhe deixou o endereço do baile, e disse que estaria espetando ansiosamente por ela, e que aguardaria a melhor dança da noite para ela.
Anne sorriu ao terminar de ler o bilhete. Ela também estava ansiosa para estar com ele, pois fazia tempo que não participavam juntos de algo assim, por isso, ela decidiu que começaria a se arrumar naquele instante, pois queria estar bem bonita quando encontrasse Gilbert.
No entanto, quando estava se encaminhando para o quarto, ela viu que uma carta de Diana tinha chegado para ela, e estranhou que Gilbert não tivesse mencionado nada no bilhete que deixara para ela. Talvez na pressa, ele tivesse se esquecido, e acabaria se lembrando somente mais tarde depois da festa. Mas, não importava. Ela estava muito feliz por finalmente ter notícias de sua amada Diana. Assim, ela sentou-se no sofá e começou a ler:
Querida Anne,
Espero que esta carta a encontre bem e feliz, e que Nova Iorque esteja te tratando com toda a consideração que merece.
Sinto tantas saudades, minha querida amiga. Avonlea não é mais a mesma sem você. Até Green Gables parece ter perdido a graça sem sua presença vibrante. Você não sabe, mas eu sempre te considerei a alma daquele lugar, e depois que você partiu até sua cerejeira preferida parece chorar a sua ausência
Entretanto, apesar da melancolia que parece tomar conta de tudo, tenho algumas novidades que quero compartilhar apenas com você. Minha lua de mel com Jerry não poderia ter sido mais perfeita, ele me levou a tantos lugares inesquecíveis que jamais conseguirei tirá-los das minhas lembranças, sem contar que Jerry é o marido mais maravilhoso do mundo, e estou ainda mais apaixonada por ele. Não é incrível, que apesar de tudo o que sofremos, nós duas encontramos os príncipes perfeitos para o nosso final feliz? Acho que a princesa Cordélia teve uma grande participação nisso, pois abriu nossas mentes para essa grande aventura que se chama vida, e só posso te agradecer por nunca deixar de acreditar que a felicidade nesse mundo seria possível.
Eu tenho mais uma coisa para te contar, minha querida Anne, e espero que se sinta feliz por mim apesar de tudo. Pensei muito antes de escrever-lhe isso, pois não querida fazê-la sofrer, mas também sei que nunca me perdoaria se escondesse algo assim de você, e desejo do fundo do coração que não me odeie ao terminar de ler essa carta.
Bem, eu e Jerry vamos ter um bebê. Nem pude acreditar quando soube. Estamos casados há dois meses, e de repente descubro que serei mãe. Confesso que não sei se estou preparada para isso, mas Jerry me disse que me sairei muito bem na tarefa de criar nosso filho ou filha. Ele realmente ficou feliz quando soube e não para mais de falar nisso. Até minha mãe que achei que odiaria a ideia de ser avó, começou a tricotar sapatinhos de bebê, sem contar que meu pai está distribuindo charutos para todos os seus amigos.
Eu nunca pensei que minha vida de casada me faria tão feliz, a única coisa que me falta é você, minha irmã, e rezo para que ao ler essa carta não sofra, pois um dia sei que também terá o filhinho que tanto deseja nos braços.
Dê minhas lembranças a Gilbert, e diga a ele que todos os esperam ansiosos para que possam nos visitar no Natal.
Com amor, Diana.
Anne terminou a carta com lágrimas nos olhos. Estava feliz por Jerry e Diana. Eles mereciam a felicidade que estavam conquistando juntos, e Anne tinha certeza que criariam seu filho com todo o amor do mundo. Não podia dizer que aquilo não mexia com ela mais do que gostaria, porém, não estava pesarosa por si mesma, ou sentia qualquer tipo de inveja de Diana. Cada uma tinha sua história, e a estavam vivendo de acordo com o que a vida lhes tinha reservado. A dor de seu coração sempre a acompanharia enquanto não tivesse seu sonho realizado, mas não podia culpar ninguém por isso a não ser a si mesma.
Anne dobrou a carta com cuidado, e a guardou junto com seus outros tesouros adquiridos ao longo de sua jovem vida. Eram objetos pequenos que aos olhos de outra pessoa não valiam nada, mas que para Anne significam tudo, pois cada um contava um pedacinho de sua história e ela os conservaria até o último dia de sua existência.
Em seguida, tomou um banho, e foi até o armário parar pegar o vestido que escolhera para a ocasião. Era um modelo novo que Marilla tinha feito para ela com o presente de despedida antes dela vir para Nova Iorque com Gilbert. Ele era preto e de um ombro só que ia justo até abaixo dos joelhos de Anne, onde uma fenda lateral discreta se abria quando ela andava, dando-lhe um ar elegante. Ela prendeu as laterais de seu cabelo com uma presilha de prata, e para completar colocou brincos de pérola minúsculos que combinaram delicadamente com seu traje. A maquiagem que usava era suave, e ao se olhar no espelho gostou do que viu, embora seus olhos tivessem um brilho triste sutil, mostrando-lhe que mesmo não querendo admitir, a notícia da gravidez de Diana a deixara sinceramente sentida, mas lidaria com isso mais tarde, pois naquele momento tinha uma festa para ir onde seu lindo noivo esperava por sua chegada.
Naquele momento, Gilbert não parava de olhar para o relógio. A festa tinha dado início a mais ou menos uma hora, e Anne estava atrasada. Ele se perguntou se ela teria desistido. Talvez devesse ir até o apartamento para verificar se tudo estava bem por lá, e estava quase saindo quando ouviu Dora perguntar:
- Onde pensa que vai, Dr. Blythe?
- Anne está demorando demais. Pensei em ir até o apartamento para encontrá-la. – Gilbert explicou, olhando mais uma vez impaciente para o relógio.
- Dê mais um tempo à ela. Talvez ela tenha se atrasado para se arrumar. Daqui a pouco ela chega. – Dora disse tentando animá-lo.
- Talvez tenha razão. – Gilbert respondeu se deixando convencer pelas palavras da amiga.
Mais alguns minutos se passaram, e Anne ainda não havia chegado. Então, ele ouviu Dora praguejar baixinho e olhou para ela na intenção de descobrir o que a aborrecera tanto, quando ela disse
- Ah, não. Jonas está vindo para cá. Por favor, Gilbert, me leve para dançar? Não quero falar com ele agora. - Gilbert ia recusar, pois prometera a Anne que seria dela sua primeira dança, mas vendo o desespero da amiga que sempre o ajudava em seus momentos ruins ele respondeu:
- Está bem. Mas, você sabe que não poderá fugir dele para sempre.
- Eu sei, mas não me sinto preparada para confrontá-lo hoje.
Assim, Gilbert pegou Dora pela mão no mesmo instante em que Anne entrou no salão de festas. Ela correu os olhos por todos os lugares possíveis, e não viu Gilbert em parte alguma. Já ia perguntar por ele para um rapaz que Anne reconheceu como sendo colega de sala de Gilbert, quando seus olhos paralisaram ao vê-lo na pista de dança com Dora em seus braços.
Lágrimas vieram ao seus olhos, ao se lembrar que ele lhe prometera a primeira dança da festa, mas ele parecia ter se esquecido, pois rodopiava pelo salão todo sorridente, enquanto Dora se derretia com o charme dele. Ela respirou fundo, engoliu as lágrimas e estava pensando em ir embora, quando sentiu alguém puxá-la pela cintura,
Anne se virou pronta para dizer os piores desaforos para o dono das mãos atrevidas que não a largavam, quando se surpreendeu ao ver que era Roy.
- O que você estava fazendo aqui?
- Não a estou seguindo se é isso que está pensando. A loja onde trabalho está patrocinando o evento, por isso, ganhei convites extras. - ele disse olhando-a de cima a baixo. - E você o que faz aqui?
- Meu noivo está trabalhando no evento. - Anne respondeu simplesmente sem dar maiores detalhes.
- E como ele deixa a mulher mais linda da festa sozinha dessa maneira. Ele não tem mesmo noção do perigo. - Roy continuava a olhar para Anne de um jeito que a deixava incomodada.
- Na verdade, acabei de chegar, e ainda não o encontrei. - não era de todo verdade, mas não queria que Roy soubesse que seu noivo estava dançando com outra mulher, ao invés de estar com ela.
- Nesse caso, ele não vai se importar se você dançar comigo. – e sem esperar pela permissão de Anne, ele continuou a agarrar a cintura dela forçando-a a ficar em seus braços, enquanto uma música romântica começava a tocar. Para não fazer uma cena, Anne se obrigou a ficar calma, mas estava com tanta vontade de socar a cara daquele rapaz idiota que se achava irresistível. Mas, não faltariam oportunidades. Disso ela tinha certeza.
Anne estava tão aborrecida com a ousadia de Roy em segurá-la tão próxima a ele daquele jeito, que não viu quando Gilbert e Dora pararam de dançar.
- Acho que podemos voltar a nossos postos. Não estou vendo mais Jonas por aqui. - Dora disse esticando o pescoço e não enxergando nenhum vestígio de Jonas por perto.
- Ele deve ter ido para outro lugar. Gilbert disse concordando com ela.
- Estou com sede. Vou pegar uma bebida. Quer uma também? - Dora ofereceu.
- Não obrigado. - Gilbert respondeu.
Ao se ver sozinho, Gilbert começou a observar todas as pessoas que chegavam com atenção. De repente, cabelos ruivos na pista de dança chamaram sua atenção, e ele viu com incredulidade outro cara agarrando sua noiva descaradamente em um lugar público, sem levar em consideração o anel que ela tinha no dedo. E o que Anne fazia nos braços daquele estúpido quando devia estar nos dele? Gilbert se perguntou. Sem cerimônia, o rapaz se aproximou do casal, enquanto o ciúme que ele prometera manter sobre controle queimou em seu peito sem avisar, e ele ficou louco de vontade de arrancar o sorriso do rosto daquele engraçadinho com. seus punhos, somente porque o rapaz não tirava os olhos de cima de Anne.
- Não vai me apresentar, amor? - Gilbert perguntou com a voz falsamente doce, fazendo Anne olhá-lo espantada por não ter notado sua aproximação
- Olá, eu sou Roy, amigo de Anne. - O rapaz disse estendendo sua mão para apertar a de Gilbert, que a ignorou completamente quando disse;
- E eu sou o noivo dela. - em seguida, ele colocou suas mãos na cintura de Anne possessivamente e a levou para longe dos olhares insistentes de Roy.
- Anne, pode me explicar o que estava fazendo com aquele cara ao invés de estar aqui comigo? - ele perguntou com o maxilar travado de raiva.
- A mesma coisa que você estava fazendo com Dora quando cheguei. – Anne respondeu furiosa por ele cobrar dela algo que ele tinha feito primeiro.
- Está querendo dizer que estava dançando com ele para me fazer ciúmes? - Gilbert estava mais furioso ainda.
- Não. Ele me arrastou para a pista de dança antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Mas mesmo indiretamente, parece que deu certo, não é?
- Anne, de onde você conhece esse cara? -
- E por que acha que eu te responderia agora? - ela disse desafiadora.
- Porque sou seu noivo.
- Mas, isso não lhe dá o direito de me dizer com quem eu devo ou não dançar. - Anne viu o olhar de Gilbert endurecer de mágoa. Ela não queria ter falado com ele daquele jeito, mas ficara tão furiosa por ele estar dançando com Dora quando ela chegou que perdera a cabeça. Então, ela deixou o assunto morrer. Não queria discutir com ele no meio do baile.
Dora se aproximou sorridente para falar com Anne, mas a ruivinha não a olhou. Então se virou para Gilbert, e viu que ele estava fuzilando de raiva, assim ela achou melhor se afastar e deixar que os dois se resolvessem sozinhos.
A festa não foi nada divertida para Anne que passou a noite toda ao lado de Gilbert de cara amarrada. Enquanto ele não parava de se perguntar se o fato de ele ter dançado com Dora era a única causa daquela ira todo. Ainda assim, ele não pôde deixar de pensar como Anne estava fabulosa aquela noite, pena que ela resolvera brigar com ele ao invés de se divertir. Ele teria tido o maior prazer de mostrar a ela o quanto ela estava mexendo com seu hormônios masculinos aquela noite, principalmente por causa daquela fenda lateral de seu vestido incrível que lhe dava uma bela visão da coxa direita dela quando Anne caminhava.
Eles deixaram a festa horas depois, e Gilbert percebeu que Anne continuava mergulhada em sua fúria logo que chegaram em casa. Ela arrancou os sapatos e foi em direção ao outro quarto, o que fez Gilbert perguntar surpreso
- O que está fazendo, Anne?
- Vou dormir no outro quarto, hoje. Preciso ficar sozinha. - Ela fechou a porta sem esperar pela-reação de Gilbert que suspirou baixinho balançando a cabeça, sem compreender o que realmente tinha gerado toda aquela fúria gratuita. Mas, ele resolveu que não ia insistir. Iria deixá-la descansar e falaria com ela no dia seguinte. Os dois estavam de cabeça quente e acabariam brigando. Entretanto, não ia deixar aquele episódio passar em branco dessa vez, pois precisava saber o que estava acontecendo.
Gilbert se despiu, vestiu um pijama, escovou os dentes e foi para a cama. Mas, não conseguiu dormir de pronto. Ele sentia falta de Anne a seu lado, pois desde que ela viera para Nova Iorque, essa era a primeira vez que dormiam separados, e ele se acostumara adormecer admirando o rosto dela, portanto, não ia ser fácil passar aquela noite sozinho naquele quarto.
No quarto ao lado, Anne fitava o teto sem também pregar o olho. As emoções se misturavam dentro dela em um misto de raiva, pesar, ciúme e amor. Ela já havia estado nesse caminho antes, e sabia bem como terminava, portanto, não queria repetir o processo. O orgulho que a fizera dar as costas para Gilbert naquela noite não parecia mais fazer tanto sentido agora que estava ali deitada sozinha naquela cama. O abraço de Gilbert antes de dormir era o maior responsável por suas ótimas noites de sono e sabia por intuição que passaria insone todas as horas até de madrugada se ele não estivesse com ela.
Anne se levantou e foi para o quarto onde Gilbert dormia. A luz suave do abajur desenhava figuras estranhas no teto, enquanto seu noivo de olhos fechados parecia ressonar.
Ela se sentou ao lado da cama como sempre fazia quando queria observá-lo em segredo, e não pôde deixar de notar que Gilbert era tão bonito dormindo quanto acordado, e ela era completamente apaixonada pelas duas versões. Ela pegou a mão dele que descansava sobre o peito e beijou-lhe a palma, fazendo Gilbert acordar de seu breve cochilo, e olhar para ela preocupado.
- O que foi, Anne? Teve algum pesadelo. – Ele perguntou sentando-se na cama.
- Não. Na verdade eu nem cheguei a dormir. – Ela respondeu brincando com os dedos da mão de Gilbert.
- Por que não? – Ele perguntou olhando-a apreensivo.
Senti sua falta- ela respondeu vendo Gilbert sorrir com sua confissão.
- Isso quer dizer que estou perdoado? - ele perguntou chegando mais perto dela.
- Não há nada a perdoar. Foi meu ciúme idiota que nos levou a isso. Desculpe-me, Gilbert. - ele tomou-lhe o rosto nas mãos e disse mergulhando os olhos castanhos nos azuis dela:
- Como você pode sentir ciúmes de Dora, Anne? Você sabe que ela é minha amiga desde que vim para Nova Iorque.
- Eu sei, mas o jeito que ela olha para você não me parece coisa de amiga. - Anne respondeu desconfortável.
- É como ela olha para mim? - Gilbert perguntou tentando entender a desconfiança de Anne em relação à Dora.
- Como se o em que ela sente em relação a você fosse mais do que admiração fraternal. Talvez, eu esteja louca por pensar assim, e exagerei essa noite. Não devia ter falado com você como falei.
- Tudo bem, eu mereço. Falei com você como se fosse seu dono, e fez bem em me colocar no meu lugar. Isso nunca mais vai acontecer, eu prometo. - Gilbert disse suavemente tocando o rosto de Anne de uma maneira tão doce que a fez fechar os olhos, e suspirar pelo prazer do toque dele em sua pele macia.
- Deus! Anne. Eu te amo tanto. Faz ideia do quanto? - ela abriu os olhos e o encarou não dizendo nada, deixando que seus olhos falasse por ela. Sua alma naquele momento era como um espelho refletindo seus sentimentos mais íntimos, deixando que Gilbert enxergasse todo o seu amor que se igualará ao dele em tamanho e intensidade.
Seus lábios se encontraram em uma entrega completa, sem deixar que nada impedisse a união de seus corações. Gilbert deitou Anne a seu lado, e deixou que suas mãos abrissem caminho pela pele dela, sendo seguidas imediatamente pelos seis lábios. O toque quente de Gilbert fez a temperatura do corpo de Anne subir tanto que ela pensou que entraria em combustão com ele em questão de segundos. Ela também o deixou maluco com sua maneira de tocá-lo, se demorando em cada parte do corpo dele onde Anne sabia que Gilbert sentia mais prazer. Ela o levou com ela a cada passo do desejo que ia aos poucos se tornando uma paixão inextinguível.
A pele de Anne em contato com a de Gilbert a fazia chegar a um ponto de excitação tão grande, que até respirar era difícil, e ela arfava a todo momento em busca de ar. Gilbert parecia estar na mesma vibração que a dela, e ia se perdendo no corpo feminino, como se buscasse em cada curva saciar sua sede do amor que o deixava completamente submisso ao que sentia naquele momento. E assim o amor se fez, não apressadamente, mas de maneira lenta onde cada emoção era intensamente sentida, multiplicada e partilhada, onde todos os sentimentos se reuniam em um único. Quando Gilbert gritou seu nome, foi que Anne compreendeu que tinham chegado juntos mais uma vez ao ápice daquele momento glorioso em que o prazer tornava seus corpos a fonte de seus desejos mais secretos.
-- Foi lindo. – Ela sussurrou enquanto buscava as palavras certas para descrever aquela explosão de amor.
- Foi perfeito, como sempre é com você. – Gilbert responde, beijando-a na testa. Ela sentiu suas pálpebras pesadas e logo adormeceu abraçada a Gilbert que tinha um sorriso de satisfação nos lábios. Era ainda de madrugada quando Anne acordou de seu sono profundo, e foi até a janela observar a calmaria de Nova Iorque àquela hora onde todos pareciam dormir
Gilbert abriu os olhos e procurou Anne ao seu lado, notando-lhe a figura quase escondida na escuridão do quarto envolta em um lençol. Ele se aproximou dela tocando-lhe o ombro e dizendo:
- Anne. - a voz de Gilbert sussurrando seu nome fez a garota ruiva olhá-lo com. os seus olhos azuis brilhantes e dizer:
- Posso te pedir uma coisa?
- Claro, o que quiser. – Ele disse carinhosamente enquanto ela o enlaçava pelo pescoço, deixando seus rostos bem próximos e falou sorrindo:
- Eu quero ter um bebê.
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