Capítulo 5- Peter Pan
Olá pessoal. Estou postando mais um capítulo da minha nova fic. Espero que gostem e me deixem seus comentários e votos. Muito obrigada por tudo, vocês são demais.
ANNE E GILBERT
Era mais um início de semana, e como a maioria de seus amigos e população mundial, Gilbert detestava segunda-feira. Ele sempre acordava de mau-humor, pensando que passaria o dia todo enfurnado em um escritório, sem poder sair por cinco minutos que fosse, pois a sua mesa estava transbordando de trabalho enquanto seu celular não parava de tocar, clientes do outro lado da linha demandando milhões de coisas que ele teria que resolver no decorrer do dia.
Céus! Porque fora inventar de ser executivo? Ele não poderia ter escolhido um trabalho menos estressante? Como ele invejava alguns amigos seus que não tinham responsabilidade nenhuma na vida, que deixavam suas casas e suas famílias para sumirem no mundo com apenas uma mochila nas costas e dinheiro suficiente para os levarem aonde quisesse ir.
Gilbert tinha esse sonho em sua cabeça de viajar pelo mundo, conhecer países diferentes, dormir cada dia em um lugar indistinto, fazer novos amigos, e sentir a liberdade de voar o mais alto que pudesse. Convites não lhe faltaram, mas ele nunca tivera coragem de romper seus laços familiares, e se aventurar em uma viagem completamente fora dos padrões aos quais estava acostumado, e também porque era um cara que não saberia deixar suas obrigações de lado para se tornar um nômade sem nome.
Não era a falta de conforto que o incomodava, e sim a sua necessidade de estar perto daqueles a quem queria bem, e tanto seu pai quanto sua mãe pertenciam ao seu pacote de afeições familiares a quem nunca conseguiria abandonar, e deixar o ninho de vez.
O rapaz alimentou Zeus que também parecia não estar em seus melhores dias, refletindo o humor negro de seu dono, decorrente da segunda-feira, e em seguida saiu para o trabalho, seguindo seu itinerário costumeiro.
Porém, antes de ir para o escritório, ele parou na sua panificadora favorita, e tentou a sorte, sonhando em encontrar a ruivinha que não saíra de seus pensamentos o fim de semana inteiro, mas para seu grande desapontamento, ela não estava na fila como no outro dia, e esse fato fez seu mau humor aumentar de intensidade.
Anne o tinha intrigado com seu jeito sarcástico e comentários pouco gentis a seu respeito, e fora essa espontaneidade que mais chamara sua atenção nela. Ela era pura energia, e autêntica, do tipo de pessoa que Gilbert mais admirava e queria conservar por perto, pois ele passava boa parte de seu dia sendo bajulado por conta de seu nome e ascensão profissional, e era um alívio encontrar alguém que o enxergava como um ser humano normal.
Ser endeusado devido a sua conta bancária e poder não eram uma de suas coisas favoritas. Ele sabia o que o nome Blythe significava no mundo dos negócios, pois seu pai trilhara esse caminho antes dele, mas não queria ser colocado em um pedestal e ser visto como alguém inatingível.
Gilbert trabalhava duro, porque seu pai o exigia, e o fizera começar de baixo como um funcionário comum, dizendo-lhe que se um dia ele quisesse se tornar o dono de tudo aquilo, o rapaz teria que aprender como cada coisa funcionava e colocar a mão na massa.
Foram anos de aprendizado e dedicação, mas, valera a pena porque Gilbert sabia valorizar cada funcionário pelo seu esforço, e os tratava como iguais. Ele nunca usara sua posição dentro da empresa para humilhar ou espezinhar alguém. Outra coisa que seu pai lhe ensinara era que não importava o grau de estudo ou classe social, todo mundo merecia respeito e consideração, e por isso, Gilbert era muito estimado e admirado em seu trabalho.
O rapaz saiu da panificadora com apenas um cappuccino nas mãos, pois até mesmo seu apetite tinha sido afetado pelo primeiro dia útil da semana. Ele caminhou até o escritório, prestando atenção em cada detalhe em sua rota, sem deixar de notar como as ruas pareciam adoráveis no início da estação. As árvores estavam perdendo suas folhas que em um colorido alegre se espalhavam por toda parte em tonalidades laranja e amarelo, e quando os raios do sol conseguiam penetrar os ramos das árvores, se refletindo entre eles, as cores se transformavam em um vermelho distinto e raro assim como era o tom ruivo dos cabelos de Anne.
O rapaz balançou a cabeça ao perceber o que estava fazendo. Será que toda vez que olhasse para alguma coisa naquela cor se lembraria de Anne? Ele não era um sonhador incurável e nem um romântico obcecado por poesia e histórias de amor, apesar de entender, justamente por ser um leitor ávido, que toda forma de expressão escrita tinha seu valor,
Então, o rapaz não entendia por que estava sendo uma tarefa árdua tirar aquela garota de sua cabeça, quando ele já percebera que ela estava disposta a mantê-lo na sua lista de desafetos. Era óbvio que o desafio que isso representava aguçava seu interesse em fazê-la mudar de ideia, pois era a primeira vez que alguém do sexo oposto lhe mostrava deliberadamente seu desprezo por ele, e seu ego masculino ultrajado lhe implorava por retaliação.
Entretanto, Anne não era qualquer garota que cairia facilmente por seu charme. Ele teria muito trabalho em conquistar-lhe o afeto, e no fim quem poderia sair queimado naquele jogo era ele, porque ele já percebera em poucos minutos com ela para onde tudo aquilo o poderia levar.
Gilbert chegou ao trabalho com o humor um pouco melhor do que quando acordara naquela manhã. Ele passou por sua secretária, a cumprimentando com um sorriso educado, e indo direto para sua sala, onde Jerry o esperava com uma série de assuntos para discutir com ele naquele dia.
- Bom dia, Jerry. - Gilbert disse, colocando sua pasta de executivo sobre a mesa que usava para trabalhar.
- Bom dia, Gilbert. Como foi seu fim de semana? - o rapaz perguntou, esperando que ele se sentasse antes de lhe responder.
- Normal, considerando que fiquei em casa o domingo todo maratonando The Walking Dead.- ele disse, sorrindo de canto.
- Eu nunca imaginei que você gostasse desse tipo de filme.- Jerry disse, colocando todos os assuntos pendentes sobre a mesa.
- Nem eu, mas um amigo meu ficou buzinando no meu ouvido o quanto essa série era boa, e resolvi arriscar. Até que para um domingo à tarde foi um excelente passatempo.- Gilbert concluiu.
- Eu não troco meu futebol para assistir um bando de zumbis tomando conta de uma cidade. Essa não é decididamente minha ideia de diversão.
- E o que mais faz aos domingos, além de assistir futebol na TV?- Gilbert perguntou de forma descontraída. Ele e Jerry às vezes deixavam o trabalho um pouco de lado e conversavam sobre assuntos mais pessoais. Não chegavam a ser amigos íntimos, mas, tinham uma convivência de trabalho muito boa, o que permita que se abrissem um com o outro, mesmo que fosse de forma superficial.
- Eu passo o tempo com minha noiva.
- Ah, sim. Diana, não é mesmo? E como vai aquela chefe marrenta dela que por acaso é nossa concorrente?- Gilbert perguntou, querendo parecer desinteressado, o que não teve muito sucesso, pois o ar de riso de Jerry, o fez compreender que fracassara completamente na encenação.
-Você está falando da ruivinha da festa de sábado que você arrastou para a pista de dança? - Jerry perguntou com a intenção de zoar com Gilbert, pois ficou bastante claro naquela festa que houvera muita faísca entre seu chefe e Anne, e o interesse parecia ter sido mútuo, embora a ruiva fosse comprometida e estivesse prestes a se casar.
- Eu não a arrastei para a pista de dança. Fizemos tudo de comum acordo.- Gilbert respondeu, sabendo que a versão de Jerry era a verdadeira. Ele arrastara mesmo Anne para a pista de dança, pois foi a única maneira que ele encontrou de tê-la em seus braços.
- Se você diz. - Jerry falou, sem deixar que seu sorriso discreto abandonasse os seus lábios.
- Jerry, só por curiosidade. O que sabe sobre a Anne? - Gilbert perguntou, sem conseguir se conter. Ele precisava de mais informações sobre aquela garota incomum
- Você está mesmo interessado.- Jerry confirmou por si mesmo o que qualquer um poderia ver, mesmo que Gilbert jurasse de pés juntos que seu interesse era puramente profissional.
- Ela é uma belíssima mulher. - Gilbert disse, se lembrando mais uma vez de seus belos olhos azuis incendiados de pura ira.
- Que já tem dono. Anne namora a três ano um famoso editor .- Gilbert sentiu um certo incômodo dentro de si ao ouvir aquilo. Era óbvio que uma mulher como aquela não estaria sozinha, seria muita sorte dele que a maravilhosa Anne com seus cabelos ruivos brilhantes, e uma boca que o fazia ter ideias indecorosas de como desejava beijá-la não tivesse nenhum príncipe de armadura brilhante em sua vida, e justamente por isso, ela se tornara um desafio ainda maior.
- Eu entendi o recado, Jerry. Agora me diga o que mais tem a me contar sobre essa garota intrigante. - ele disse, ansioso por qualquer pedacinho da história de vida daquela ruivinha que tinha toda a sua atenção naquele momento.
- Tudo o que sei é o que minha noiva me contou, pois elas são amigas desde a faculdade. - Jerry disse, fazendo uma pausa para depois prosseguir.- Ao que parece, Anne assumiu a livraria aos dezessete anos, pois seu pai faleceu, e a mãe que era uma das proprietárias na época, entrou em depressão, e Anne ficou com todas as responsabilidades da casa, da loja, e da mãe doente.-
Gilbert ouviu o relato de Jerry palavra por palavra, e as analisou em silêncio, enquanto sua mente criava a imagem de uma garota tão jovem se tornando adulta antes do tempo, e com um enorme fardo nas mãos.
- Deve ter sido difícil para ela sendo tão jovem assumir tanta responsabilidade assim.
- Sim, pelo que Diana me contou, Anne sempre teve uma personalidade forte, e mesmo baqueada pela morte do pai, ela não se deixou abater e foi à luta em busca de aprender tudo o que podia sobre administração, e em pouco tempo, já cuidava de tudo como os pais dela faziam no passado.
- Isso é realmente impressionante.- Gilbert disse, no fundo não se surpreendendo tanto assim, pois pelo pouco que conhecera dela, ele percebera que havia muita determinação naquele rosto delicado, então, ele apenas se perguntava se havia alguma coisa que ela não conseguisse fazer.
- Esse relacionamento dela é sério mesmo?- ele perguntou, brincando com a tampa da caneta repetitivamente.
- Parece que sim. Eles até andaram falando sobre casamento.- Jerry respondeu, se divertindo cada vez mais com aquela história. Seu chefe estava de quatro pela ruivinha e ainda não percebera, e pelos três anos que trabalhava com Gilbert, ele nunca o vira ficar tão interessado em uma garota daquela maneira.
- Mas, ela não é muito nova para se casar?- Gilbert perguntou, enquanto Jerry organizava toda a papelada em cima da mesa que teriam que revisar.
- Anne tem vinte anos, mas creio que para o amor não tem idade. Eu e Diana começamos a namorar com 15 anos, e já estamos juntos a 4 anos, então, acho que quando encontramos a pessoa certa, o amor simplesmente acontece sem que precisemos procurar por ele em nenhum outro lugar. - Jerry disse, enquanto Gilbert analisava cada palavra que ele dissera.
- E a mãe dela? Melhorou da depressão?- Gilbert nem sabia porque perguntara aquilo, mas, sentia uma necessidade absurda de saber cada vez mais coisas sobre aquela ruivinha, e quanto mais ouvia Jerry lhe contar detalhes da vida de Anne, mas encantado Gilbert ficava por ela.
- Parece que não, e por isso, Anne ainda cuida dela diariamente.- Jerry respondeu, e Gilbert se sentiu triste por Anne lidar sozinha com algo tão pesado. Contudo, ele não perguntou mais nada, pois já tinha feito um interrogatório completo sobre Anne, e por mais que se sentisse tentado a saber mais, Gilbert se controlou, e silenciosamente começou a trabalhar junto com Jerry em todos os relatórios sobre a construção da loja que teriam que revisar, mas, em alguns momentos sua mente escapava de seu controle e lhe trazia lembranças de uma voz doce contando uma história infantil, e ele sorria feito bobo, enquanto seu olhar se perdia nas escritas burocráticas dos relatórios.
Naquela manhã na casa de Anne, a segunda-feira começava mais animada do que a de Gilbert, e assim que colocou os pés para fora da cama, Anne correu para o banheiro, pois estava feliz com a perspectiva de uma nova semana começando, principalmente porque o domingo fora extremamente tenso.
Sua mãe passara boa parte do dia na cama, e seu passeio dominical de bicicleta com Morgana fora adiado, porque a ruivinha tivera medo de deixá-la sozinha. Assim, maratonar séries e filmes no dia anterior não fora uma opção, e sim uma obrigatoriedade, porque teria ficado maluca se não tivesse mergulhado seus neurônios no mundo da ficção, pois se não bastasse, o problema com Bertha, Anne também tivera que duelar com sua própria cabeça que a todo momento lhe trazia lembranças daqueles olhos castanhos que lhe lembravam a de um felino predador.
Ela se envolvera de um jeito com aquele homem na festa, que chegaram a ser vergonhoso seus pensamentos. Anne desejara ardentemente que Gilbert a beijasse, assim como desejara tocar aqueles músculos fortes escondidos pelo tecido da camisa, e ela quase pudera imaginar o que havia por baixo.
Gilbert Blythe era charme puro e se não tivesse noção de onde estavam, e quem era o homem que tentava convencê-la de seu bom caráter, ela teria caído fácil em sua abordagem perfeita. Ele era um daqueles homens bonitos que não precisavam de muito para capturar a atenção de uma mulher, e necessitava bem menos ainda de palavras para seduzi-las, pois seu jeito de olhar ou mesmo sorrir conseguiam essa proeza muito bem, e era por isso que Anne pretendia ficar bem longe dele, e apenas se lembrar que eram rivais nos negócios e tinham um trato, o qual ela pretendia levar muito a sério.
Era uma questão de honra mostrar ao grande Gilbert Blythe que ele havia subestimado sua capacidade de reverter o resultado daquela situação. Sua livraria podia não ser a mais sofisticada do mundo, mas estava naquele negócio por muito tempo, e não era à toa.
Assim, ela terminou seu banho, se vestiu, e quando foi para a cozinha ficou satisfeita de ver a mãe sentada na sala com Morgana deitada em sua cestinha enquanto tentava preguiçosamente alcançar o novelo de lã vermelho que Bertha estava usando para tricotar.
Ao terminar seu café da manhã, Anne se aproximou da mãe e disse:
-Tenho que ir para o trabalho. Acha que vai ficar bem? - Bertha abriu um de seus raros sorrisos e respondeu:
- Pode ir, meu amor. Vou estar exatamente aqui quando voltar. - em seguida, lhe estendeu o cachecol que estava fazendo e continuou: - Estou fazendo esse para você.
- Está ficando lindo mamãe. Você arrasa sempre.- Anne respondeu. A mãe tinha um talento com as mãos que ela nunca tivera. Tentara aprender várias vezes com Bertha como fazer pontos incríveis na área do tricô, mas, desistiu um tempo depois ao perceber que sua praia era as palavras, e não lã e agulhas. - Preciso ir. - Anne se inclinou, deu um beijo no rosto da mãe, e depois se virou para Morgana e disse: - E você mocinha, se comporte e seja uma boa companhia para a mamãe. - A gata a encarou com seus olhos verdes esmeraldas e apenas abanou o rabo como se tivesse entendido tudo o que sua dona tinha lhe dito.
- Ela sempre é uma excelente companheira . - Bertha disse, acariciando os pelos macios de Morgana que se esticou toda com o carinho, fazendo Anne sorrir.- Tenha um bom dia de trabalho.- Bertha concluiu.
- Obrigada. Eu te ligo mais tarde para saber como a senhora está. - Anne caminhou até a porta, atirou um beijo no ar para sua mãe, e saiu para a manhã fresca daquele dia com bons pressentimentos.
As ruas já estavam apinhadas de gente, o que deixava Nova Iorque incrivelmente viva, pois o contraste da etnia que desfilava pelas calçadas era uma das características mais atraentes daquela cidade. Anne se sentia completamente parte daquele cenário, por que vivera sua vida toda naquela grande metrópole, e adorava cada parte dela, com suas nuances, variedades e beleza. Nova Iorque era uma cidade que estava sempre em constante inovação, e a quantidade de pessoas que vinham visitá-la todos os anos crescia absurdamente. Era notável como a cidade parecia estar viva vinte quatro horas por dia, porque o movimento de pessoas não cessava nunca, e essa vibração cheia de energia desfilava pelas ruas contagiando a todos que se deixasse levar pelo magnetismo que só a Grande Maçã parecia possuir.
Anne chegou no trabalho sorrindo, pois aquele seria um dia especial. Uma vez por mês, ela iniciava a semana com uma contação de histórias onde havia até encenação de personagens, envolvendo Cole e Diana na brincadeira.
- Bom dia, Anne. Você parece iluminada essa manhã. - Cole observou com satisfação os olhos azuis brilhantes, e o sorriso largo estampado no rosto da ruivinha.
- Você sabe o quanto fico animada quando iniciamos a semana com contação de histórias e teatro.
- É só isso mesmo o motivo dessa sua animação?- Diana perguntou cheia de humor.
- Eu não sei do que está falando.- Anne respondeu, fingindo que estava ajeitando alguns livros sobre o balcão da loja.
- Ah, você sabe sim. Não adianta disfarçar. Por isso eu quero saber o que foi aquele clima entre você e o patrão do Jerry na festa de noivado de Peter. - Anne engoliu em seco, pois sabia que Diana não ia deixar passar aquilo que vira com seus próprios olhos.
- O que foi que eu perdi? - Cole perguntou com curiosidade.
- Não perdeu nada demais.- Anne tratou de responder.
- Se você chama toda aquela tensão sexual entre vocês de nada, eu realmente nem consigo imaginar como seria se realmente existisse algo rolando entre vocês. - Diana ironizou de forma divertida.
- Meu Deus! Como é que perdi uma situação dessas?- Cole comentou com seus olhos castanhos levemente arregalados.
- Você está exagerando a coisa toda, Diana. - Anne respondeu querendo encerrar logo aquele assunto, pois já estava ficando nervosa, e não queria passar o dia todo com a imagem de Gilbert Blythe na cabeça.
- Vocês literalmente estavam se engolindo com os olhos e todo mundo percebeu.-
- Pelo menos, o cara é atraente?
- É sim, mas, nada fora do normal.- Anne respondeu, sabendo que banalizara a coisa toda. Gilbert não era só bonito, ele tinha magnetismo de sobra, era inteligente, sua forma de conversar era divertida e envolvente, e sua companhia não era nem de longe entediante, o que tornava toda aquela combinação perigosamente atraente para seu coração.
- Eu acho que metade da população de Nova Iorque contestaria essa sua afirmação. Jerry me disse que Gilbert sempre está às voltas com uma garota diferente.
- Um Dom Juan, e ainda por cima nosso concorrente. Esse tipo de homem realmente não me interessa.- Anne disse, tentando parecer indiferente, enquanto sua cabeça gritava "Mentirosa ".
- Hum. Amor e ódio. Adoro esse tipo de romance clichê.- Cole disse, totalmente com um sorriso malicioso que fez Anne responder.
- Vocês estão vendo romance onde não existe. Por acaso se esqueceram que tenho namorado?
- Que nunca está aqui para ficar com você ou te levar para sair. Que mal existe em se divertir um pouco?- Cole disse, abrindo o caixa do dia.
- Você está me aconselhando a trair meu namorado? - Anne perguntou espantada.
- Não, eu estou te aconselhando a largar o chato do Roy, e agarrar o chefe bonitão do Jerry. Como é mesmo o nome dele Diana? - Cole perguntou, se virando para a amiga que assim como ele se divertia ao ver a cara irritada se Anne.
- Gilbert Blythe.
- Uau! Até o nome exala poder. Você está perdendo tempo com seu namorado entediante, Anne.
- Cole, você ouviu o que eu disse? Ele é o nosso concorrente direto. - Anne disse, olhando para o amigo como se ele tivesse enlouquecido.
- Qual é o problema? Um pouco de tensão apimenta a relação.
- Ah, chega dessa conversa. Vamos começar a nos arrumar, porque daqui a pouco as crianças vão começar a aparecer para a contação de história do dia.- Anne disse, perdendo a paciência de vez com a zoação de Cole, sabendo que teria que aguentar aquilo o dia todo.
- Você é quem manda, chefe - Cole respondeu, enquanto ele e Diana seguiam Anne até os fundos da loja onde estavam suas fantasias.
Enquanto isso, no escritório de Gilbert, as horas pareciam engatinhar. Ele olhou desanimado para a pilha de trabalho que o esperava em cima da mesa, e desconsolado deu adeus à sua hora de almoço, pois de forma nenhuma conseguiria sair do escritório para comer uma refeição decente. Teria que se contentar com um sanduíche rápido da lanchonete da esquina. Ele estava quase pegando o telefone para fazer seu pedido, quando uma vozinha infantil dentro do escritório o interrompeu:
- Olá, primo Gilbert.
- Júlia. Quanto tempo não te vejo. Vem aqui me dar um abraço.- ele disse para a garotinha loira de olhos verdes que logo estava em seus braços.
- Você esqueceu de sua família, Blythe?- Gilbert ouviu seu primo dizer.
- Desculpe-me, Moody. Eu sei que estou devendo uma visita para vocês. Como está a Ruby?
- Bem, ela ficou em casa tomando conta do bebê. Sabe como são os recém-nascidos. Precisam da mãe em tempo integral.- o rapaz disse com um sorriso enquanto Gilbert o observava com atenção. Se havia uma pessoa cujo casamento tinha lhe feito bem, esse era seu primo Moody. Ele tinha casado com sua primeira namorada séria, e parecia extremamente feliz em seu papel de pai e esposo. - A Ruby também me pediu para lembrá-lo do batismo de Lucas para daqui um mês.
- Diga a ela que não me esqueci. Está anotado na minha agenda. - Gilbert respondeu, enquanto sentia os dedinhos de Julia em seus cachos. Era o passatempo preferido dela, bagunçar-lhe todo o cabelo enquanto ele falava com o pai dela.
- Está livre para o almoço? - Moody perguntou. O rapaz ia responder que não, mas, viu ali uma oportunidade de se livrar por algum tempo do escritório, e respondeu:
- Claro que sim.- depois encarou Jerry que lia atentamente um documento e disse:
- Acha que consegue trabalhar sem mim por algum tempo?
- Claro. Fique fora o tempo que precisar. Os documentos mais importantes já revisamos, e se não conseguirmos terminar os outros hoje, podemos fazer isso amanhã. - Jerry respondeu com simpatia.
- Obrigado. Vou tentar voltar o mais rápido possível. - ele olhou para o primo, enquanto colocava Júlia no chão e disse:- Vamos. - deste modo Gilbert e os dois visitantes saíram do escritório e se dirigiram a um restaurante que ficava a duas quadras dali.
Durante o almoço, os dois rapazes colocaram a conversa em dia, e falaram bastante sobre negócios. Moody era advogado em uma empresa multinacional, e sempre que podia ajudava Gilbert com algum problema jurídico da livraria.
- Você deveria se casar e ter seus próprios filhos.- Moody disse, ao ver Gilbert ajudando Júlia a tomar sorvete de sobremesa.
- Eu sequer tenho namorada, e quanto mais pensar em ter filhos. - Gilbert respondeu, enquanto limpava com um guardanapo a boquinha suja de sorvete de sua prima.
- E Amanda.?
- Eu termine com ela. Carente e pegajosa demais. Esse não é o meu tipo preferido de mulher
- Eu não sabia que tinha um tipo favorito de mulher. Sempre te vi acompanhado de garotas que não seguiam um padrão muito parecido. - Moody disse, terminando o seu café.
- Eu me tornei mais seletivo com o passar dos anos. - Ele respondeu, lhe passando pela cabeça que só uma ruivinha temperamental lhe interessava no momento, mas, não ia dizer nada para Moody, ou ele lhe faria milhares perguntas sobre a pessoa em questão.
- Espero que você encontre sua cara metade logo.- o primo disse com um sorriso, e depois olhou para a garotinha que brincava com a colher do sorvete e disse: - Vamos, Júlia. Vou te deixar na casa de sua avó e volto para te pegar daqui a duas horas.
- Por que não a deixa comigo? - Gilbert sugeriu, tendo uma ideia repentina.
- Mas, você não tem que voltar para o escritório?
- O Jerry pode realizar o trabalho sem mim por algum tempo.- Gilbert respondeu.
- Está bem. Eu tenho uma reunião aqui no centro de Nova Iorque que deve durar no máximo uma hora. Acha que consegue aguentar essa garotinha durante esse tempo?
- Claro, eu e Julia sempre nos demos bem.- Gilbert respondeu, acariciando os cabelos sedosos da menina de cinco anos.
- Por mim tudo bem.
Assim, eles pagaram pelo almoço e saíram do restaurante pouco tempo depois. Uma vez lá fora, Moody se despediu da filha e de Gilbert, e assim os dois rapazes tomaram direções opostas.
-Você vai adorar o lugar aonde vou te levar. - ele disse, pegando a garotinha no colo que lhe sorriu com meiguice.
Gilbert sabia bem porque tivera aquela ideia. O pretexto era entreter Júlia, mas o real motivo era ver Anne novamente mesmo que isso lhe custasse alguns desaforos da ruivinha.
Quando ele chegou com Júlia na livraria, Gilbert ficou surpreso pela decoração do dia, o que tudo indicava era um daqueles dias de contação de histórias, e pelo jeito o tema escolhido seria Peter Pan. Ele sorriu com sua boa sorte, pois assim teria um motivo válido para estar ali.
Gilbert procurou por Anne com o olhar e a encontrou caracterizada de Sininho. E por Deus, apesar de ser uma fantasia sem nenhuma intenção de ser sensual, ela abraçava o corpo de Anne de um jeito que fazia a imaginação dele ir até a lua e voltar ao planeta terra em poucos segundos.
Anne usava um vestido de tecido brilhante na cor amarela, que contornava suas curvas como se prestasse uma homenagem ao corpo esguio e arredondado nos lugares certos. O comprimento ia até a metade das coxas, exibindo pernas fabulosas, enquanto no busto ele era cheio de pedrinhas brilhantes que atraiam seu olhar para um belo par de seios pequenos e completamente moldados pelo tecido aderente. O vestido não tinha mangas, por isso era possível para ele ver os braços alvos de contornos delicados, enquanto que nos cabelos magníficos, ela fizera uma trança, entrelaçada por pequenas flores artificiais que lhe dava aquele ar de fada que o personagem exigia .
Os olhos castanhos dele continuaram sua excursão pelo figurino dela até chegarem no rosto, cuja pele brilhava por conta de algum produto de beleza especial. Os lábios foram pintados de vinho, tornando-os ainda mais tentadores, e nos olhos, ela usara delineador da mesma cor deles, realçando o azul quase oceano que era mais um detalhe perfeito naquela mulher fascinante.
- Podemos ir até a fada, primo Gilbert?- Júlia disse, fazendo com que o rapaz desviasse os olhos de Anne para se concentrar em seu rostinho infantil.
- Claro, meu amor. Eu te trouxe aqui para ouvir uma história.
Diana foi a primeira que o notou, e discretamente ela se virou para Cole e disse:
- Se você queria conhecer o crush Anne, ele acabou de chegar.
- Santo Deus! Isso é que eu chamo de homem de verdade.- Cole disse baixinho, depois de dar uma boa olhada no rapaz que Diana lhe mostrara. - Será que é casado? Ele está com uma garotinha.
- Não. Jerry me disse que ele é solteiro e não tem filhos. A garotinha deve ser uma sobrinha que ele trouxe até aqui para participar da contação de histórias.
- Deixa comigo, que vou atendê-lo. - Cole disse indo em direção à Gilbert para quem sorriu e perguntou:
- Em que posso ajudá-lo?
- Eu trouxe minha priminha para participar do evento de leitura. Eu sei que precisaria agendar antes, mas o pai dela a deixou comigo por algumas horas por conta do trabalho, e eu queria saber se vocês abririam uma exceção dessa vez. - Gilbert disse com toda simpatia que conseguiu.
- Não se preocupe. Sempre temos um lugar para mais um. - Cole disse, estendendo os braços para a garotinha que esperou a permissão de Gilbert para ir para o colo de Cole. Ela tinha sido muito bem educada pelos pais., ele pensou, que tiveram o cuidado de lhe ensinar desde cedo que não deveria confiar em estranhos. - Como você se chama, docinho?
- Júlia.- a garotinha respondeu, enquanto a levava até Anne que já estava rodeada de crianças que queriam tocar sua fantasia a todo momento
- Uma visitante retardatária. O nome dela não está na lista, mas, eu disse ao tio dela que ela podia ficar. - ele explicou rapidamente, sentando-a perto de Anne que segurou em sua mão, e quando levantou os olhos para cumprimentar o tio da menina, seu sorriso morreu e ela não conseguia tirar os olhos do rapaz que lhe cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso irresistível que fez seu coração disparar.
- Você vai começar a contar a história agora, Sininho? - Uma das crianças perguntou, fazendo Anne voltar instantaneamente para a realidade do porquê estarem todos ali reunidos em volta dela.
- Vou sim, mas primeiro quero apresentar a Wendy, cujo nome verdadeiro é Diana e que vai nos auxiliar na história de hoje. Peter Pan, principal personagem da história que está sendo caracterizado por Cole, e eu quero fazer uma pergunta. Qual de vocês gostaria de ser o Capitão Gancho? - vários bracinhos se ergueram, até que um garotinho que não devia ter mais que seis anos apontou para Gilbert e disse: - O Capitão Gancho deveria ser ele.- Todas as vinte uma crianças concordaram com a opinião do garotinho, até Júlia que sorriu para o primo, e o chamou com sua mãozinha direita para que se aproximasse.
- Você se importaria em participar da história?- Anne lh perguntou, mesmo sendo contrária aquela ideia. No entanto, não queria desapontar seus pequenos leitores por conta de sua antipatia pelo visitante.
- É claro que não. É só me dizer o que tenho que fazer.- Gilbert respondeu, adorando a ideia de ser o pirata da história, se lembrando de sua infância quando ele lera Peter Pan pela primeira vez e desejara ser criança para sempre como o personagem.
- Venha comigo. - Anne disse, deixando Cole e Diana responsáveis por tomar conta das crianças.
Gilbert foi com Anne até uma sala nos fundos da livraria, onde ela lhe estendeu uma camisa branca, um tapa olho, uma espada, e um chapéu parecido com o do capitão Gancho.
- Acho que essas roupas devem servir.- Anne disse, evitando encará-lo.
- Vou colocá-las agora mesmo. - E sem cerimônia nenhuma, ele começou a desabotoar a camisa que estava usando, fazendo Anne engolir em seco ao se deparar com um tronco masculino perfeitamente esculpido. Gilbert devia pegar pesado na malhação, pois seu peito era musculoso, e o abdômen era tão trincado, que Anne mordeu o lábio inferior ao refrear a vontade que lhe deu de passar as mãos por aqueles gominhos firmes que faziam sua pulsação se acelerar. Ela quase lamentou quando ele vestiu a camisa que lhe dera, afastando dos olhos dela aquela visão dos deuses.
- Pode me ajudar com isso? - ele disse apontando para o tapa olho que deveria ser amarrado atrás da cabeça.
- Claro. - ela respondeu, e ao passar por ele, o olhar malicioso que Gilbert lhe lançou fez Anne entender que ele tinha notado sua minuciosa análise do corpo dele. Disfarçando seu embaraço, ela tratou de fazer o que ele lhe pedira, pois sua necessidade de sair de perto dele e se juntar aos outros se tornou urgente, dizendo a si mesma que deveria evitar de ficar sozinha na mesma sala que Gilbert em ocasiões futuras.
Assim, eles voltaram para a loja ,enquanto Gilbert lhe perguntava:
- O que eu faço agora?
- Improvise. É isso que fazemos por aqui.- ela respondeu mantendo a maior distância possível dele.
Durante a hora seguinte, Gilbert interagiu todo o tempo com a história da Anne. Toda hora que era sua vez de encenar o personagem, ele fazia uma voz de pirata engraçada, que mesmo Anne não desejando mostrar nenhum tipo de satisfação por seu rival nos negócios estar participando daquela atividade acabou rindo. Gilbert e Cole até improvisaram uma luta de espadas que Diana fez questão de filmar e documentar com muitas fotos. Quando a última frase foi dita por Anne, encerrando a narrativa, todas as crianças sorriam felizes por terem vivenciado algo tão divertido.
Cada menina levou para casa uma varinha mágica, e os meninos um tapa olho de pirata, e pirulitos que eram entregues a cada criança assim que elas se despediam na porta da loja em companhia dos pais.
- Vou tomar um copo de água e já volto.- Anne disse para Gilbert assim que o rapaz voltou para a parte frontal da loja depois de ter trocado de roupa.
- Pode olhar a Júlia para mim?- ele perguntou a Diana que assentiu, e assim, ele seguiu Anne até a cozinha onde a encontrou com um copo de água nas mãos e disse:
- Eu queria agradecer por ter me deixado participar de sua história. Eu nunca me diverti tanto. - Os olhos dele correram mais uma vez pelo corpo de Anne, que ainda não havia tido tempo de trocar de roupa. Mas, ela estava tão linda, que ele não se importaria de admirá-la vestida daquele jeito por muitas horas.
- Eu é que tenho que te agradecer por ter aceitado participar da brincadeira. Você tem talento, deveria pensar na carreira de ator.- Anne disse sentindo a proximidade dele enchê-la de tensão. Nunca conseguia ficar tranquila quando Gilbert estava tão próximo dela.
- Eu tenho uma família enorme de primos e primas e todo Natal nos encenamos a história do O Grinch. É claro que é tudo improvisado também, mas já se tornou uma tradição a qual adoramos preservar.- ele disse, se aproximando um pouco mais.
- Deve ser divertido.- Anne disse, e logo se viu mergulhada naquela orbe castanha que parecia hipnotizá-la com seu calor.
- É sim.- ele disse a um passo dela, seus rostos cada vez mais perto.- Você ficou linda vestida de Sininho.- Gilbert disse, e Anne tentando quebrar o clima íntimo no qual ambos estavam envolvidos, disse:
- Veio até aqui me espionar novamente, Sr. Blythe?
- Não. - ele respondeu, encarando aqueles lábios que estava louco para provar.
- Então, por que veio até aqui?- Anne perguntou, prendendo a respiração, querendo impedir o que estava para acontecer, mas ao mesmo tempo desejando que acontecesse logo.
- Tem certeza de que não sabe?- ele disse, colocando uma mecha de cabelo que havia escapado da trança atrás da orelha dela. Anne não teve tempo de responder, pois passos no corredor a fizeram se afastar de Gilbert a tempo de ver Roy entrar na cozinha e dizer;
- Oi, amor. Acabei de chegar e Diana me disse que estava aqui.
- Roy! Que bom que está aqui. - ela disse, jogando os braços ao redor do namorado, e escondendo o rosto em seu ombro, tentando organizar todas as suas emoções confusas, ao mesmo tempo e que se sentia aliviada por ele a ter salvado de cometer uma loucura.
- Eu estava com saudades.- ele disse, acariciando o rosto dela.
- Eu também. - ela respondeu permitindo que seus lábios encontrassem os dele, e rezando para que o beijo lhe causasse a mesma sensação que Gilbert conseguia lhe causar só com um olhar, mas, infelizmente isso não aconteceu.
Quando se separaram, ela disse sentindo-se nervosa e na obrigação de explicar ao namorado porque estava sozinha na cozinha com outro homem:
- Deixe-me te apresentar.- mas ao se virar para falar com Gilbert, ele já tinha ido embora.
-
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