Capítulo 4- Perigosa atração
Olá, pessoal. Mais um capítulo dessa nova história. Espero que o apreciem e me deixem seus comentários como incentivo. Beijos e muito obrigada.
ANNE E GILBERT
Os latidos alegres de Zeus fizeram Gilbert sorrir. Depois de uma semana preso no apartamento, o pastor alemão Belga tinha finalmente a liberdade para se divertir e correr como qualquer outro cachorrinho de um ano.
Zeus tinha surgido na vida de Gilbert de maneira inesperada. Através de um amigo, ele soubera da história de uma cadela que fora resgatada de uma caverna onde dera cria a quatro filhotinhos. Ela havia fugido de seu antigo dono por conta de maus tratos, e uma ONG protetora de animais a levara para um abrigo onde ela fora nutrida e bem cuidada, e os filhotinhos foram colocados para adoção.
Gilbert sempre amara animais, mas não estava procurando por nenhum para adotar, pois morava em um condomínio cuja presença de animais de estimação era proibida. Por insistência de seu amigo, o rapaz foi convencido a visitar o abrigo onde a mãe e os filhotinhos estavam, e quando ele viu Zeus foi amor à primeira vista, e assim, ele acabou mudando de condomínio e indo para outro onde animais e seus donos podiam transitar sem problemas, desde que seguissem estritamente algumas regras impostas pelo síndico. Assim, o cachorrinho de pelo cinza e branco começou a fazer parte da família Blythe, assim como ele e Gilbert se tornaram grandes amigos.
O jovem empresário também ajudou os irmãos de Zeus a encontrarem um lar assim como a mãe deles, ao mesmo tempo em que ele se tornava um membro da ONG que cuidara do seu filhote, para onde doava generosas somas de dinheiro todos os meses.
Apesar de sua fama de arrogante e osso duro de roer para quem não o conhecia, seu histórico era bem diferente para seus amigos que o enxergavam como uma alma generosa demais. Ele gostava de ajudar a quem precisava, embora detestasse fazer alarde sobre isso, porque tudo o que ele fazia em prol de pessoas mais carentes era de coração e não para se promover, e assim deixava que seu lado caridoso ficasse escondido por baixo da fina camada de sua fama de mau no mundo dos negócios para o qual fora moldado pelo seu pai.
Seu velho lhe dizia que não se sobrevivia em um mundo tão competitivo como aquele se não tivesse uma couraça bem resistente, uma mente ágil e sangue frio, e Gilbert aprendera a perceber desde cedo que John Blythe tinha razão, e assim, ele se tornara o melhor em sua área, e dificilmente alguém o passava para trás em alguma transação que valesse muito dinheiro. Gilbert Blythe era um ás no mundo dos negócios, enquanto que em sua vida pessoal um outro lado seu se fazia presente.
Poucos conheciam o cara alegre, espontâneo e que se derretia facilmente por seu animal de estimação. Zeus era tratado como um filho, e não havia o que ele não fizesse por seu melhor amigo, assim como por sua família. Gilbert não tinha irmãos, mas tinha primos e primas a quem tratava com todo carinho e consideração, e a quem presenteava em todos os Natais e aniversários, e ninguém diria que esse rapaz que na intimidade era tão aberto ao afeto e amizade fosse o mesmo que no seu dia a dia de trabalho era mais frio do que um iceberg em relação aos seus concorrentes.
Ele e Zeus chegaram a uma praça onde o rapaz começou a fazer alguns exercícios de barra, enquanto seu cachorro corria de um lado para o outro aproveitando sua limitada liberdade. Depois de um tempo, ele arrancou a camiseta que estava toda suada por conta de seu esforço físico, e recebeu vários olhares insinuantes de mulheres jovens e mais velhas que assim como ele aproveitavam a manhã de sábado para relaxarem do lado de fora de suas casas e apartamentos, depois de ficarem presas em escritórios realizando trabalhos corporativos a semana inteira. Ele não ligava para a atenção feminina que recebia nos vários lugares que frequentava. Na verdade, Gilbert estava tão acostumado a ser avaliado por seus atributos físicos que não se sentia nem um pouco lisonjeado com isso, e apesar de seus amigos o considerarem um conquistador nato, eram poucas as garotas por quem ele realmente se interessava e a quem convidava para um segundo encontro. Talvez na adolescência ele tivesse sido mais atirado, curioso por conhecer tudo sobre o sexo oposto, e na Faculdade ele tivesse beijado mais bocas do que conseguia se lembrar, mas, aos vinte seis anos e uma carreira de sucesso, Gilbert ficara mais seletivo e uma garota para realmente chamar sua atenção e mantê-la por muito tempo precisava ter algo mais, e nos últimos tempos essa peculiaridade estava cada vez mais difícil de se encontrar no mundo em que ele vivia.
Em um segundo, sem que esperasse, uma certa garota de olhos azuis e cabelos de fogo surgiu em sua mente e o fez sorrir ao se lembrar das duas vezes que a vira, e embora a primeira o tivesse encantado de um jeito completamente inesperado, a segunda vez foi que mais o deixara impressionado.
Sem dúvida, ela era linda. Tinha um rosto inesquecível, uma boca tentadora e curvas que fariam qualquer homem se render aos seus pés, mas era a personalidade dela que o deixara intrigado. Não tivera a oportunidade de falar muito com ela, pois a situação delicada que ele provocara não dera muito espaço para um diálogo mais longo. No entanto, a faísca daqueles olhos irados o fizera perceber que ali estava uma mulher que valia a pena conhecer.
Ela era intensa assim como seus cabelos lindos e flamejantes atestavam sem muito esforço, e pelo jeito que ela o atacara verbalmente defendendo uma ética moral que ele não tivera na opinião dela, o rapaz logo percebeu que ali estava uma oponente magnífica. E quando ela o chamara de atrevido, Gilbert ficara tentado a roubar um beijo daquela boca deliciosa só para ver até que ponto ela aguentava ser provocada.
Pensando sobre sua conduta naquele dia, Gilbert não acreditava estar agindo errado, porque ele comprava naquela panificadora desde que era criança, portanto, todo mundo o conhecia por ali, e ao contrário do que a ruivinha pensava, ele só não pegava a fila dos clientes comuns porque ligava para a panificadora todo dia antes de ir para o trabalho, pedindo que deixassem seu café expresso e suas rosquinhas de canela separados por conta da sua falta de tempo e correria diária que o impedia de ter uma alimentação decente nas primeiras horas do dia. Esse era um serviço que o local oferecia, mas que pouca gente usava, e deste modo, ele não tinha quebrado nenhuma lei do consumidor.
No entanto, sua chapeuzinho ficara muito aborrecida, e Gilbert não resistira em irritá-la um pouco mais, só para ver aquele rosto rosado ficar ainda mais corado. Pena que ele não pudera ficar mais tempo, convencê-la que fora tudo uma brincadeira e convidá-la para um café. Talvez ela não aceitasse logo de cara, mas, ele teria o maior prazer em ganhá-la pelo seu charme. Só esperava poder vê-la outra vez e apagar a má impressão que ela tivera dele.
Encerrada sua sessão de exercícios ao ar livre, Gilbert assoviou para Zeus, que veio correndo em sua direção, e ambos voltaram para casa onde o jovem empresário pretendia passar o resto da manhã, colocando em dia seus assuntos pessoais. À noite, ele teria uma festa para ir, e embora não estivesse muito animado, ele prometeu a pessoa que a estava organizando que iria, e por isso não poderia faltar com sua palavra.
Gilbert tomou um banho, vestiu um par de shorts, mas permaneceu sem camisa, pois quando estava em casa, ele adorava a sensação de liberdade que tinha de não ter que usar roupas de executivo que era obrigado a vestir no escritório, e quando estava pronto para se deitar no sofá e passar o resto da manhã assistindo uma partida de futebol do seu time favorito, a campainha tocou.
Ele franziu a testa se perguntando se tinha marcado algo com alguém, mas, pelo que se lembrava , não tinha nenhum plano além da festa daquela noite, então não fazia ideia de quem era a pessoa impaciente do outro lado que o estava deixando maluco com a insistência em tocar sua campainha de dois em dois minutos.
O rapaz abriu a porta pronto para dar um sermão em quem quer que fosse no corredor, quando deu de cara com Amanda.
-O que está fazendo aqui? - ele perguntou irritado.
- Vim te ver. Você nunca mais me ligou. - ela se queixou com sua voz melosa.
- Eu pensei ter te dito que queria um tempo. - Gilbert disse, olhando para ela sem acreditar que ela tivesse vindo até ali sem ter sido convidada.
- Eu sei, mas, eu estava com saudades, e não queria ficar mais tempo longe de você. - ela passou a mão pelo peito nu de Gilbert que afastou a afastou de seu corpo, e disse:
- Isso não está dando certo, Amanda. Você não respeita meu espaço e está me deixando sufocado. Então é melhor a gente terminar de vez. - ele disse impaciente.
- Não é possível que você tenha deixado de me amar tão de repente. - Amanda disse chorosa.
- Amanda, amor nunca foi mencionado entre nós. Eu nunca te enganei, e nunca disse que te amava. Você assumiu isso sozinha. Podemos ser amigos se quiser, mas, isso é tudo o que posso te oferecer.
- Isso quer dizer que está terminando comigo? - ela perguntou chorosa e ele respondeu:
- Sim, eu estou terminando com você. Não estamos dando certo. Eu não estou feliz e nem você, então, é melhor seguirmos nossos caminhos separados. - Gilbert disse, esperando que Amanda entendesse a mensagem e fosse embora.
- Está bem. Se acha que é o melhor para nós dois, por hora eu aceito. Mas espero que reconsidere um dia desses. - ela disse com seus olhos brilhando, cheios de esperança.
- Quem sabe? Por enquanto cada um segue seu caminho. - Gilbert disse, sentindo-se aliviado por Amanda não fazer uma cena ou implorar para que ficassem juntos. Assim, ela se despediu com um aceno de cabeça e foi embora, deixando Gilbert finalmente sozinho para assistir seu jogo em paz.
Em outro ponto daquela grande cidade, uma certa ruivinha terminava de contar mais uma história para um bando de crianças claramente animadas, desta vez vestida de Branca de Neve. Ela observou uma a uma ir embora acompanhada de seus pais, e sorriu para seus amigos Cole e Diana que olhou para ela com admiração e disse:
- Você definitivamente nasceu para isso.
- Obrigada. Eu amo essa parte do meu trabalho. - Anne disse, tirando sua peruca escura, e deixando seus cabelos ruivos caíssem livres sobre os seus ombros.
- E aí? Animada para a festa hoje à noite? - Cole perguntou, ajudando Anne a se livrar de sua fantasia pesada.
- Vamos dizer que estou cheia de expectativas. - Anne disse sorrindo para o amigo.
- E Roy? Você falou com ele? - Diana disse conferindo o caixa do dia.
- Mandei uma mensagem. Ele estava em reunião, mas, logo ele respondeu dizendo que queria que eu me divertisse já que ele não está aqui para me acompanhar. - Anne disse aborrecida.
- Então, eu e Jerry passamos em sua casa, às oito horas. Tudo bem?
- Perfeito. - Anne respondeu, trancando a loja e depois virando-se para Cole. - Nos vemos lá. - e deste modo, cada um foi em uma direção contrária.
Normalmente aos sábados, o expediente da livraria ia até o horário de almoço. Deste modo, Anne tinha a tarde livre para si mesma. Como naquele dia, ela iria a uma festa com Diana e Cole, o ritual de se arrumar começou cedo, e enquanto fazia as unhas e hidratava o cabelo, Bertha, que tinha até aquele momento ficado em seu quarto tricotando, veio até Anne e perguntou:
- Vai sair?
- Sim. Diana me convidou para uma festa de noivado de um amigo, não é nada demais. Eu volto logo. - Anne respondeu, observando o rosto da mãe que apresentava uma expressão melhor naquele dia. Geralmente, ela parecia sonolenta e exausta o tempo todo. Era bom vê-la com melhor humor naquele dia.
- Não se preocupe. Vá e se divirta, filha. Você merece, pois trabalha tanto a semana inteira. - Bertha disse acariciando os cabelos de Anne.
- Eu pedi para Megan vir e te fazer companhia hoje à noite, até que eu volte da festa. - Anne disse, pois não confiava muito em deixar sua mãe sozinha. Ela nunca tinha lhe dado motivos para pensar que não ficaria bem em sua própria companhia, mas, no quadro de depressão no qual ela se encaixava, Anne preferia não se arriscar.
- Está bem. - Bertha disse, beijando-a no rosto e voltando para seu quarto.
O resto da tarde passou bem rápido, e assim, às oito em ponto Anne estava pronta à espera de Diana. Ela vestia um vestido tomara que caia preto, que valorizava seus seios pequenos, era justo na cintura e depois caia rodado até a metade de suas coxas. Por cima, ela colocou um bolero da mesma cor do vestido, pois à noite, por conta do outono, o clima era mais fresco que durante o dia. Os cabelos caiam por seus ombros em ondas naturais enquanto um colar de pérolas e brincos que faziam par com ele enfeitavam seu pescoço e orelhas, e nos seus pés, ela estava usando um scarpin preto de salto médio.
Um toque em sua campainha a fez olhar para o relógio e perceber que era hora de ir. Ao sair do quarto, Anne deu uma espiada na mãe que cochilava em sua cadeira de balanço em frente à TV e disse para sua acompanhante:
-Estou indo. Qualquer contratempo, me liga no celular
- Pode deixar. - a moça lhe disse sorrindo, e deste modo, Anne foi só ao encontro da amiga e de seu noivo que a esperavam do lado de fora.
- Uau! Você caprichou. - Diana disse cheia de admiração ao vê-la toda arrumada.
- Achei que a ocasião merecia um toque especial. - Anne respondeu, sentindo-se extremamente bem com seu visual mais sofisticado do que o que costumava usar no seu dia a dia.
- A festa vai estar cheia de homens solteiros de olho em você. - Diana disse, enquanto elas caminhavam em direção ao carro parado em frente da casa de Anne.
- Eu sou comprometida, Diana, e não estou à procura de nenhuma aventura. - Anne respondeu, antes de cumprimentar Jerry e entrar no carro
A festa parecia bem animada, quando eles chegaram, e assim que entraram no salão de festa, um garçom passou por elas lhe oferecendo salgadinhos , outros petiscos e bebidas, ao que Anne recusou, ao passo que Diana se serviu de uma taça de vinho, e ficaram conversando animadamente.
- Você viu o Cole por aí? - Anne perguntou, olhando por todo o salão a procura do amigo.
- Ah, esqueci de te avisar. Billy teve uma emergência no trabalho e não vão poder vir.
- Que pena. - Anne se lamentou pois esperava tanto se divertir ao lado de seu amigo aquela noite
Após trinta minutos passados em que Anne estava se sentindo extremamente à vontade com seus amigos e os convidados da festa, Jerry disse animado:
- Esperem aqui um instante que vou falar com meu chefe que acabou de chegar.
- Agora você vai conhecer seu concorrente.- Diana disse, apontando discretamente para a porta.- Anne se virou curiosa para onde Diana lhe indicava, e quase parou de respirar ao ver os olhos castanhos esverdeados que ocuparam bastante os seus pensamentos nos últimos dias, encarando-a quase sem piscar.
-Não pode ser.- ela disse, colocando as mãos no rosto, enquanto via Jerry conversar com o rapaz que não tirava os olhos dela.
- O que foi? - Diana perguntou, olhando para Anne preocupada com sua expressão chocada. Anne ia responder, mas não teve tempo, pois o rapaz estava a dois passos dela, por isso, ela preferiu ficar calada.
- Então, nos encontramos de novo, Chapeuzinho Ruivo. - Gilbert disse, admirando a beleza de Anne tão incrivelmente realçada pelo vestido preto que revelava um corpo curvilíneo e tão atraente a seus olhos.
Anne sentiu a inspeção dele pelo seu corpo, e era como se ele a tocasse sem necessariamente usar as mãos. Sua pele se arrepiou e para disfarçar o que aquilo causava em seu íntimo, ela apenas respondeu, fingindo-se de desinteressada.
- Como vai?
- Vocês já se conheciam? - Jerry perguntou intrigado com o comportamento de ambos.
- Nos esbarramos no outro dia, mas não fomos devidamente apresentados. Muito prazer, sou Gilbert Blythe. - ele disse, estendendo-lhe a mão que Anne ignorou ao dizer:
- Anne Shirley Cuthbert.
Ao invés de ficar desconcertado com a forma rude de Anne responder a sua apresentação espontânea, Gilbert sentiu-se ainda mais atraído por aquela mulher intrigante. Sua intuição estava mesmo certa. Essa não era uma mulher comum, e sim uma raridade perdida entre a futilidade que parecia crescer a cada segundo na cidade de Nova Iorque.
- Anne é a dona da livraria onde trabalho. - Diana disse sem entender porque Anne estava tratando Gilbert com tanta aspereza. Nunca a vira agir assim antes.
- É mesmo? - ele disse encantado com aquela informação. Ele tinha imaginado que ela era funcionária da livraria, e não que fosse a dona, o que tornava tudo aquilo ainda mais interessante.
- O que me torna sua concorrente direta. É você que está construindo a nova livraria na Quinta Avenida, não é? - ela disse aquilo parecendo magoada com aquela ideia, o que fez Gilbert responder:
- Meu pai está construindo, eu apenas trabalho para ele.
- Isso não muda muita coisa, já que você será o dono um dia. - Anne disse, encarando-o com seus olhos azuis, hipnotizando-o por um segundo antes que ele respondesse a afirmação dela:
- Sim, daqui a muitos anos eu espero.
- De todos os lugares nessa cidade, vocês tinham que construir essa livraria na Quinta Avenida? - Anne perguntou à queima roupa. Gilbert apenas lhe deu um daqueles sorrisos debochados do outro dia que o deixava tão atraente, o qual ela pôde observar antes de ouvi-lo dizer:
- Eu não sabia que a Quinta Avenida era propriedade particular.
- E não é. - Anne respondeu sem graça ao perceber que tinha dado a ele abertura para contestar o que ela dissera.
- Então, acho que isso responde a pergunta que me fez. O local é público, senhorita, então, qualquer um pode construir lá o que quiser, e isso não a torna proprietária exclusiva daquele ponto em questão. - ele viu os olhos de Anne faiscarem de raiva. Deus! Ela era magnífica. Quem poderia imaginar que por trás daquele rosto aparentemente doce se escondesse um vulcão cheio de emoções pronto a entrar em erupção na primeira oportunidade?
- Acho que preciso de uma bebida. - Anne disse, indo em direção à mesa onde várias bebidas estavam sendo servidas aos convidados.
- Eu também. - Gilbert seguiu-a enquanto Jerry e Diana se olhavam sem entender nada.
Anne se serviu de uma taça de champanhe e Gilbert de uma dose de uísque, e sem tirar os olhos dela que tentava não olhá-lo de volta, ele disse:
- É um prazer saber que é dona daquela livraria adorável na esquina.
- Não posso dizer o mesmo de você. E já que tocou no assunto, eu quero saber porque me chama de Chapeuzinho Ruivo. - ela tomou um gole de champanhe enquanto esperava pela resposta dele.
- Eu te vi contando a história do Chapeuzinho Vermelho no outro dia.- Anne levantou o olhar surpresa pelo que ele dissera, e perguntou:
- Você andou me espionando?
- Só fiquei curioso para conhecer a livraria que Jerry elogiou para mim no trabalho. - ele a viu passar as mãos pelos cabelos, e sentiu uma vontade incontrolável de tê-la em seus braços. Aquela garota lhe causava sentimentos que ele não conseguia identificar, mas que de forma nenhuma eram ruins.
- Isso para mim ainda é espionagem.
- Você está dizendo isso, não eu. - os olhos dela faiscaram de novo, o que o fez pensar em um dia de tempestade. Sim, com certeza Anne era como uma tempestade intensa e vibrante, exatamente como ele gostava.
- Você está dizendo que eu não sou competição para você? Eu já o considerava arrogante, mas agora seu egocentrismo chegou no auge.- ela estava com raiva e não era pouca, mas nem por isso podia deixar de observar que tudo naquele homem lhe caía bem, desde a jaqueta de couro preta, sua calça jeans suavemente surrada nos joelhos como ditava a moda do momento, e a camisa social vinho aberta no colarinho que a deixava ver alguns de seus pelos escuros no peito se insinuando para fora da camisa. Gilbert Blythe era irritante, mas tão diabolicamente bonito que era difícil não se encantar por aqueles olhos castanhos.
- Eu sei do que precisa.- Gilbert disse colocando seu copo de uísque sobre a mesa, e fazendo o mesmo com a taça de champanhe de Anne;- Vamos dançar.- e antes que ela pudesse protestar, eles já estavam na pista de dança se movimentando entre os outros casais.
- Sempre age contra a vontade dos outros, Sr. Blythe? - ela perguntou, o que o fez sorrir de canto.
- Apenas com mulheres lindas que estão decididas a me odiar. - ele disse em tom de brincadeira.
- Eu não o odeio, apenas não gostei da maneira como falou da minha livraria. - Anne disse, apoiando seu queixo no ombro dele.
- Você é que me acusou sutilmente de estar tentando atrapalhar o seu negócio na Quinta Avenida. Deveria confiar mais em si mesma, Srta. Cuthbert. - ele disse, sentindo a respiração dela em seu pescoço. Era bom tê-la em seus braços, exatamente como imaginara que seria.
- Eu confio. - Anne respondeu com convicção, mas falhando em tentar fingir para si mesma que a proximidade de Gilbert não a estava afetando. O calor do corpo dele era convidativo demais, e ela se controlou para não chegar mais perto, pois não podia se esquecer que era uma mulher comprometida, e não devia se sentir assim com ninguém mais a não ser seu namorado.
- Então, vou te propor um desafio, a modernidade contra a tradição. O que acha? - Gilbert disse aquilo quase sussurrando em seu ouvido.
- Eu aceito. - ela respondeu, pois ia adorar provar para ele que sua livraria nunca perderia sua popularidade para a monstruosidade que ele estava construindo do outro lado da rua. - Não devíamos apertar as mãos para selarmos nosso acordo?
- Eu prefiro fazer isso, tendo você em meus braços.- Gilbert respondeu com a voz rouca, e Anne sentiu seu coração disparar, sem saber o que fazer, ela levantou a cabeça e encarou Gilbert que fixou o olhar em seus lábios, e instintivamente Anne o mordeu na parte inferior, fazendo Gilbert ofegar e dizer:.
- Não faz isso. - a tensão entre eles era nítida, e Anne se deu conta de que estava se sentindo atraída pelo último homem por quem deveria ter aquele tipo de sentimento. Ela sentiu seu rosto corar, enquanto via uma chama dourada queimar naqueles olhos que a puxavam para ele como um imã. Em um último ato de sanidade ela disse:
- Preciso ir.- Assim, ela saiu dos braços dele sem que Gilbert a impedisse, e de longe ele a observou falar com Diana e Jerry e ir em direção à saída, enquanto um sorriso se desenhava nos lábios dele ao se lembrar do desafio que propora a Anne, e no quanto aquilo seria excitante e ele não estava pensando só na livraria.
.
-
.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro