Capítulo 10 - A verdade nua e crua
Olá, mais um capítulo de all about. Espero que mais uma vez se divirtam e me deixem seu feedback e votos. Muito obrigada por tudo. Beijos, Rosana.
ANNE E GILBERT
Anne acordou naquele domingo com uma tremenda dor de cabeça. Não chegava a ser uma ressaca, porque não se embebedara de verdade, no entanto, a quantidade de vinho que havia tomado na festa de Cole era maior do que o recomendado para uma garota que como ela raramente bebia.
Ela virou de lado, sentindo dificuldades para abrir seus olhos doloridos, o que piorou consideravelmente quando um feixe de raio de sol passou pela fresta de sua janela, e iluminou o lugar na cama onde ela estava deitada. Gemendo baixinho, Anne cobriu a cabeça com o travesseiro, sentindo seu estômago enjoado. Precisava se lembrar de nunca mais beber vinho daquela maneira, principalmente se estivesse tentando controlar certos pensamentos em relação a único homem que surgira em sua vida a exatamente um mês, bagunçando sua cabeça desde então.
De repente, ela se lembrou que ele a convidara para jantar naquela noite e ela aceitara, e tal recordação a fez se sentar tão rápido na cama que o quarto todo a seu redor girou perigosamente.
Santo Deus! Que burrada tinha feito! Por que aceitara aquele convite quando prometera não se aproximar de Gilbert a não ser que fosse estritamente necessário? Será que podia culpar o vinho? Só podia ser. Talvez estivesse realmente meio embriagada quando ele a arrastara para pista de dança e ela se agarrara nele como se não fosse mais largá-lo, e Gilbert se aproveitara de sua fraqueza para induzi-la aquele jantar. Maldito homem! Maldito olhos castanhos que conseguiam o que queriam dela sem que Gilbert realmente tivesse que se esforçar para isso.
Anne fechou os olhos novamente e dessa vez não foi por conta da dor, e sim de um cenário completamente sedutor que se desenhou em sua mente, fazendo-a morder seu lábio inferior por antecipação.
Aquelas mãos enormes e quentes em suas costas. O ritmo do corpo dele contra o seu enquanto dançavam, a voz rouca em seu ouvido, e o som da risada dele que parecia ter se grudado em seu cérebro feito cola. Céus! Só podia estar ficando louca, não tinha explicação para aquele calor embaixo de sua pele que se alastrava por cada parte sua, e a deixava naquele estado de carência que nunca tivera antes, quando se lembrava da maneira como Gilbert agira com ela na noite anterior.
Anne abriu os olhos assustada com o que estava sentindo, e pensou que naquele mesmo instante ela deveria ligar para o noivo. Ouvir a voz de Roy lhe traria a coerência necessária para tirar Gilbert Blythe de todo o seu sistema.
Ela pegou o celular que deixara ao lado da cama na noite anterior, e discou rapidamente o número que sabia de cor. O telefone chamou por alguns instantes e caiu na caixa postal, deixando Anne profundamente decepcionada. Ela pensou em deixar um recado, mas desligou antes de fazê-lo, pois não saberia o que dizer. Ligara por impulso, apenas para aliviar sua consciência que a estava acusando de traição, mesmo que tecnicamente não tivesse feito nada de errado, a não ser dançar com outro homem na festa de aniversário de seu melhor amigo. Porém, secretamente ela sabia que seu corpo quisera bem mais do que aquilo, e se perguntava se teria cedido se Gilbert tivesse insistido.
Como um raio, sua consciência de novo a acusou. Estava mesmo sentada em sua cama, pensando em tudo o que gostaria de ter feito com outro homem quando deveria estar apenas pensando na pessoa com quem iria se casar?
Anne olhou desconsolada para Morgana, que mais uma vez se esgueirara pela porta de seu quarto, e agora estava deitada em sua cama, lambendo o próprio pelo enquanto sua dona lhe perguntava:
- O que faço, Morgana? Acha que devo ligar e cancelar o jantar?- A gata a olhou por um segundo como se tivesse entendido a pergunta, depois continuou a se lamber como se nunca tivesse parado.
Ela queria mesmo cancelar aquele jantar? Anne pensou consigo mesma. Gilbert dissera que a estava convidando como amiga, então, do que tinha tanto medo? Gilbert era insistente, convincente e charmoso. Uma combinação quase letal para o seu coração, mas, ela também não era nenhuma garotinha inexperiente, e saberia colocar um limite em qualquer investida de Gilbert que achasse inconveniente. No entanto, o que ela mais temia era a si mesma e quem ela era quando estava com ele, pois não conhecia aquela Anne movida a paixões e sentimentos profundos. Nunca fora assim com Roy, porém, com Gilbert ela se tornava tão intensa que o medo de ir além de seus limites estava presente o tempo todo.
Ela se deitou de novo na cama, abraçada ao travesseiro, pensando consigo mesmo como sairia daquela enrascada. Anne sabia que precisava conversar com alguém a fim de que pudesse colocar seus pensamentos em ordem, pois sozinha não estava conseguindo. Por esse motivo, ela ligou para Diana, e esperou ansiosamente que a amiga atendesse, o que não demorou a acontecer.
- Bom dia, Diana. Eu te acordei?
- Bom dia, Anne. Não, você não me acordou. Está com algum problema? Você nunca me liga no fim de semana.- Diana disse preocupada.
- Não, eu só precisava conversar. - Anne disse, se recostando na cama, enquanto Morgana se ajeitava em seu colo.
- Se eu puder ajudar.- Diana disse esperando que Anne desabafasse.
- Gilbert me convidou para jantar e eu aceitei.- Anne disse, acariciando o pelo de Morgana.
- E isso é um problema?
- Eu ainda não sei. Mas, eu estava pensando se não devia cancelar. - Anne confessou.
- Por que?- Diana perguntou por curiosidade.
- Porque sou noiva, Diana, e não devia sair para jantar com outro homem.
- Eu não vejo problema nenhum. Você me contou que o Gilbert disse que quer ser seu amigo, então, qual é o problema em sair para jantar com ele, Anne?- A ruivinha suspirou ao ouvir aquela pergunta. Será que ela teria coragem de dizer o que estava em sua mente? Confessaria para sua melhor amiga o desassossego do seu coração? Ela sabia a resposta e então se calou, porque se revelasse a realidade de seus desejos, estaria confessando a si mesma o que não podia sentir por um homem que não era seu noivo.
- Eu estou me sentindo mal por causa de Roy. Acha que ele vai se importar se eu for nesse jantar com o Gilbert?- Anne mentiu e mentiria de novo se isso a protegesse do que estava sentindo.
- Não acho que ele vá se importar. Você me disse que o Roy admira os Blythes. Talvez ele veja com bons olhos essa amizade.- Diana ponderou.
- É, acho que tem razão. Obrigada pelo conselho. Até amanhã.- Anne disse se despedindo da amiga.
- Até amanhã.- Diana respondeu antes de desligar.
Anne manteve seu olhar preso no celular, sentindo-se tão covarde por não dizer porque realmente ligara. Desgostosa consigo mesma, Anne olhou para sua gata que brincava com a barra do seu cobertor e perguntou mais uma vez como se a felina pudesse lhe apontar um caminho a seguir:
-E agora, Morgana? O que eu faço?
Naquela mesma hora, Gilbert estava na academia. Quando não estava se exercitando no parque com Zeus, era ali que ele gastava suas energias, e esculpia seus músculos já bastante definidos por anos de prática saudável de esportes.
Entretanto, naquela bela manhã de domingo não era seu lugar habitual de passar o tempo. Normalmente, ele ainda estaria na cama, cheio de preguiça para levantar, depois tomaria seu café da manhã tardio, leria seu jornal matutino na internet, comeria apenas um sanduíche como almoço, e passaria a tarde inteira deitado no sofá da sala assistindo futebol ou um filme na televisão apenas tendo Zeus como companhia.
Mas, excepcionalmente às sete da manhã, Gilbert acordara cheio de adrenalina e não pudera continuar na cama, enquanto seu corpo inteiro lhe implorava para que se levantasse, e fizesse alguma coisa a respeito daquela carga de energia extra que não o deixava dormir as horas necessárias para que realmente descansasse.
Por isso, ele precisara sair, utilizar cada aparelho da academia, para que pudesse controlar sua ansiedade para aquela noite, pois desde que convidara Anne para jantar e ela aceitara, Gilbert não conseguia acreditar que aquilo acontecera mesmo.
Era óbvio que ele também estava ralhando consigo mesmo a cada cinco minutos, por dar importância demais a algo que não deveria ser visto mais do que um jantar entre amigos.
Embora a palavra amizade fosse a última coisa que cruzara sua mente no momento em que a convidara. Vê-la sozinha naquela festa lhe causara sentimentos estranhos, e perceber que Anne sentira ciúmes dele atiçara sua vontade de estar com ela em outro lugar, longe da vista de todos, porque ele queria entender se o que sentia por ela era apenas atração física ou algo mais.
Gilbert mudou de exercício com a palavra amigos buzinando em seu ouvido, e enquanto levantava um peso de dez quilos, ele pensava que não havia nada de amizade na maneira como seu corpo reagia a presença de Anne. Ele não queria admitir que ela começara a ocupar mais tempo em sua cabeça do que seria prudente, e que dançar com ela naquela festa, ver o sorriso dela, sentir o perfume que o acompanhara até em casa, assombrando seus sonhos durante a noite tinham um significado maior para ele do que Gilbert queria confessar.
Porém, ela o surpreendera com sua objetividade ao derramar o vinho na blusa da garota que conversava com ele. Gilbert jamais pensara que Anne faria algo assim por sua causa, mesmo não admitindo diretamente que ciúme era o que ela sentira. A intensidade dela o contagiava e estar perto dela era o que ele mais desejava no momento, porém, Gilbert acreditava que precisava ir devagar. Não estava preparado para se abrir daquela maneira, e deixar que certos tipos de sentimentos adentrassem seu coração sem que ele lhes desse permissão para isso, mas, se isso acontecesse, ele tinha certeza de que Anne não encontraria nenhum obstáculo para se instalar lá dentro, e arrancá-la de lá era que seria o problema.
- Parece que mais alguém teve a mesma ideia que eu.- Gilbert ouviu uma voz dizer, e logo encarou Jerry que lhe sorria espontaneamente. - Achei que não viesse aqui no fim de semana.
- E não venho, mas, hoje eu precisava de algo mais pesado que caminhar no parque. - Gilbert respondeu enquanto levantava mais um pouco de peso.
- Está com algum problema? Se quiser desabafar sou todo ouvidos.- o rapaz disse, ajustando a velocidade da esteira.
- Ainda não é um problema, mas pode vir a ser.- Gilbert respondeu.
- Do que se trata?- Jerry insistiu.
- Anne.- Gilbert respondeu simplesmente sem dar maiores detalhes.
- Você está mesmo a fim dela, não é?- Jerry disse, esperando que dessa vez Gilbert falasse um pouco mais dos seus sentimentos.
- Ela me atrai demais, porém tem o noivo dela que sempre está entre nós.- Gilbert disse como justificativa para os seus sentimentos em relação a Anne.
- E o que pensa fazer a respeito?- Jerry perguntou aumentando a velocidade da esteira.
- Bem, não há muito que eu possa fazer a respeito.- ele respondeu em uma conformidade que não lhe era natural
- É claro que tem e nós dois sabemos disso.- Jerry .disse como incentivo.
- Eu a convidei para jantar hoje à noite, e ela aceitou.- Gilbert disse com certa satisfação.
- Então, você já fez certo progresso?- Jerry disse sorrindo.
- Ainda não tenho certeza. Vou saber no jantar .- Gilbert respondeu, tentando entender os próprios sentimentos. Anne estava mexendo com um lado seu, o qual Gilbert nunca explorara de fato, e isso lhe causava tanto medo quanto curiosidade, pois estava lidando com um mar de águas desconhecidas e não sabia se teria coragem de ir até o fundo, mas quando pensava em Anne e em sua personalidade tão especial, ele também se perguntava se não valeria a pena tentar, e deixar que seu coração decidisse no final.
Quando voltou para casa um pouco antes do almoço, Gilbert ainda pensava sobre isso, e sua ansiedade o levou a ligar para a única pessoa que lhe interessava naquela história toda.
Anne atendeu no segundo toque, e quando ouviu a voz doce dela do outro lado da linha foi que Gilbert percebeu o quanto gostaria de estar com ela.
- Eu só liguei para confirmar o jantar de hoje à noite.- ele disse, tentando não parecer ansioso demais.
- Achei que já tínhamos acertado tudo ontem à noite.- Anne respondeu, fazendo-o sorrir.
- Sim, mas, tive receio que você tivesse mudado de ideia.- Gilbert disse, sendo sincero em cada palavra.
- Gostaria que eu tivesse mudado de ideia?- ela perguntou de forma direta.
- É claro que não. Estou louco para jantar com você. - Ele foi sincero nisso também.
- Eu só quero esclarecer uma coisa. Esse será um jantar apenas entre amigos.- Anne disse, parecendo preocupada do outro lado da linha.
- Eu sei, Anne. Foi por isso que te convidei. Quero muito te conhecer melhor e tirar a má impressão que tem de mim desde o primeiro minuto que nos vimos. - não era apenas isso, Gilbert sabia, mas, ele precisava convencer a si mesmo e a Anne que essa era a principal razão de querer jantar com ela.
-Você sabe que isso não é necessário.- ela disse , e Gilbert respondeu.
- Para mim é sim. Eu quero ser seu amigo, Anne, e quero que confie em mim.- ela não disse nada, e para convencê-la de vez, e não lhe dar tempo para ter um segundo pensamento a respeito do jantar, Gilbert disse: - Eu passo aí a sete para te buscar.
- Está bem.- Anne concordou e depois de uma breve despedida eles desligaram.
O resto do dia passou em um compasso diferente para ambos. Enquanto Anne ainda se perguntava porque não tinha aproveitado a ligação de Gilbert para desistir do jantar, o rapaz contava as horas para finalmente ter o seu momento com ela. Nunca ficara tão nervoso por conta de um encontro com uma garota, e isso só lhe provava que Anne era mais especial para ele do que queria admitir.
Anne se arrumou para aquela noite com uma lentidão incrível. Primeiro porque não tinha ideia do que usar, já que Gilbert não lhe dissera para que tipo de restaurante a estava levando, e depois porque sua cabeça a lembrava a todo momento que iria jantar com um homem que não era seu noivo, por mais que tivesse esclarecido com Gilbert o sentido daquele jantar.
Enquanto se maquiava Anne disse a si mesma, talvez pela milésima vez naquele dia, que poderia passar por aquilo sem maiores consequências para si mesma e seu noivado. Gilbert poderia ter fama de mulherengo, mas nunca a desrespeitara ou dissera qualquer coisa que ofenderia sua condição como mulher comprometida. Por isso, quando desceu as escadas de seu quarto e foi em direção ao homem que estava sentada no sofá dando total atenção à sua mãe, e a Morgana que mais uma vez fez do colo do rapaz seu lugar favorito para ressonar, ela já se sentia mais segura.
- Boa noite, Gilbert.- ela disse, observando a elegância do rapaz vestindo calça social preta, camisa também preta de mangas longas que ele sempre usava dobradas até os cotovelos, os cabelos arrumados em cachos perfeitos, e aquele maldito sorriso que a fazia engolir em seco várias vezes seguidas aliado ao seu coração disparado em mil batidas por segundo.
- Boa noite, Anne.- Gilbert respondeu, admirando explicitamente seu vestido azul marinho justo até as coxas e sem mangas, seus cabelos arrumados em um coque baixo do qual alguns fios teimavam em escapar, e as poucas joias que usava além do anel de noivado.
- Espero não estar casual demais.- Anne disse, sentindo o rosto corado pelo olhar dele que não abandonava o seu.
- Não, você está perfeita. Ou melhor você é sempre perfeita. - Gilbert deixou escapar, fazendo com que Anne corasse mais ainda, enquanto Bertha escondia um sorriso de satisfação. Não era segredo que ela fora e era admiradora dos homens da família Blythe, e esperava que a filha não fosse tão cega a ponto de não perceber como aquele rapaz estava interessado nela. Anne lhe dissera que aquele era um jantar entre amigos, mas, a maneira como Gilbert a encarava nada tinha de amizade e sim um tipo de sentimento que ultrapassava o conceito que sua filha tinha lhe dado anteriormente sobre aquele encontro. Ela podia estar velha, mas ainda conseguia perceber perfeitamente quando um homem queria uma mulher, e sua filha não era exatamente indiferente à Gilbert Blythe, isso ela podia comprovar com seus próprios olhos e naquele mesmo instante.
- Gilbert me disse que vai te levar em um restaurante italiano. Espero que se divirta filha.- Bertha disse sorrindo.
- Eu prometo fazer dessa noite a melhor que Anne já teve em tempos.- Gilbert afirmou olhando para Anne que lhe sorriu.
- Eu acredito nisso completamente.- Bertha respondeu, e quase acrescentou que Anne merecia algo assim depois de o próprio noivo deixá-la sozinha por dias a fio sem se importar se ela estava feliz com isso ou não. Mas, preferiu manter sua boca fechada, pois sua filha ficaria muito zangada se ela partilhasse com Gilbert detalhes do seu noivado.
- Podemos ir se quiser.- Anne disse, e depois acrescentou ao ver Morgana ainda nos braços do rapaz mesmo depois de ele ter se levantado. - Desculpe-me pelo atrevimento de minha gata, mas parece que ela desenvolveu um afeto genuíno por você.
- Eu realmente não me importo. Eu adoro animais, e tenho um Pastor Alemão Belga que se chama Zeus.- Gilbert respondeu, alisando o pelo da gata com carinho.
- O que me espanta é a maneira como ela se afeiçoou a você tão rápido. Ela não costuma ser amorosa assim com Roy que foi quem a comprou para mim. - Gilbert tinha uma boa teoria sobre isso, mas não quis dizer para não ofender Anne, ou mesmo vê-la sair em defesa do seu noivo babaca, e por isso, apenas respondeu:
- Eu me dou bem com animais.- Anne apenas riu diante daquela resposta tão modesta, e quase acrescentou que não conseguia imaginar nada no qual ele não se desse bem. Sua própria mãe retraída por três anos, fora conquistada sem muito esforço por ele, e seu único medo no momento era seguir pelo mesmo caminho que Morgana e sua mãe tinham seguido em relação a Gilbert, mas em um contexto diferente.
Colocando Morgana no chão, Gilbert disse:
-Acho melhor irmos andando ou chegaremos atrasados para nossa reserva.
- Claro. Mamãe prometo não voltar tarde.- Anne disse, beijando Bertha no rosto.
- Não se preocupe comigo, meu amor. Tenham uma ótima noite. - Bertha disse, recebendo outro beijo no rosto, dessa vez de Gilbert.
Do lado de fora da casa, Gilbert conduziu Anne até seu carro, o qual ele havia estacionado a poucos metros dali, e quando abriu a porta para que ela entrasse, a ruivinha disse:
- Estou impressionada, Blythe. Você chegou exatamente no horário que combinamos.
- Nunca deixo uma garota esperando.- ele respondeu sem tirar os olhos do rosto dela, e logo em seguida acrescentou:- Eu preciso te dizer isso e espero que não se ofenda, mas você está incrivelmente linda essa noite.
- Você não me ofendeu, Gilbert. Toda mulher gosta de receber elogios.- Anne respondeu com seu rosto mais uma vez corado. Gilbert tinha o dom de deixá-la envergonhada toda vez que falava com ela daquela maneira.
- Eu nunca sei o que te dizer . A impressão que eu tenho é que sempre te digo algo inadequado.- ele confessou sem jeito.
- Não acho que você sempre diz algo inadequado. O problema é que não estou acostumada com a forma com que você me diz as coisas.- Anne falou, sem encará-lo.
- É por isso que cora toda vez que te digo o quanto é bonita?- Anne respirou fundo. Gilbert era direto, e por mais que gostasse dessa característica dele, ela ficava totalmente sem graça em algumas situações com ele.
- Não costumo ouvir isso sempre.- ela foi sincera também em sua colocação.
- Como assim? Seu noivo deve te dizer isso o tempo todo.- Gilbert disse, esperando uma resposta afirmativa dela.
- Não exatamente. Roy não perde tempo com frivolidades.- Anne respondeu, repetindo exatamente as palavras do noivo quando lhe perguntara porque nunca elogiava uma roupa nova que ela estivesse usando.
- Isso não é possível. Como um homem pode ter uma mulher como você, e não elogiá-la o tempo todo? Desculpe-me dizer Anne, mas seu noivo é um babaca.- Anne quase concordou com ele, mas, depois, percebeu que não podia deixar que Gilbert falasse daquela maneira de Roy, mesmo que de alguma forma ele tivesse razão.
- Eu agradeceria se você não falasse assim do meu noivo. Não me faça me arrepender de ter aceitado o seu convite para jantar.- ela disse com a expressão séria, o que fez Gilbert sentir a ira começar a queimar dentro de si. Ele não entendia porque Anne teimava em defender um cara que claramente não a tratava como ela merecia. Entretanto, ele não queria estragar uma noite que estava apenas começando, por isso, ele engoliu as palavras que queimavam em sua garganta e respondeu simplesmente:
- Desculpe-me. Não quis parecer ofensivo. Apenas estranhei o fato de um homem que diz te amar não fazer o possível para que você se sinta valorizada por ele. - Gilbert recitou exatamente as palavras que Cole vivia lhe dizendo a tempos, mas, teimosamente Anne se agarrou a ideia de que seu noivo sabia sim apreciá-la, só não sabia como fazê-lo de um jeito criativo além do convencional.
- Roy nunca foi muito bom com as palavras, mas, ele tem outras formas de mostrar seu apreço por mim.- Anne disse sem encarar Gilbert novamente, e por pouco, ele não lhe perguntou qual forma seria essa, porém, mais uma vez segurou sua necessidade de abrir os olhos de Anne para o fato de que Roy Gardner não a merecia de forma nenhuma, pois não queria ser acusado de denegrir a imagem do tão imaculado noivo aos olhos dela.
O restaurante para o qual Gilbert a levou era localizado em uma rua bastante tranquila no centro de Nova Iorque. Apesar de apresentar um aspecto elegante e ser frequentado por pessoas da alta sociedade, seu interior era bastante acolhedor e familiar. Gilbert acertara ao trazê-la ali, pois Anne adorava esses tipos de lugares que lhe lembravam o tempo em que seu pai estava vivo, e sempre que tinha um tempo livre presenteava sua esposa e filha com um belo jantar ou almoço à moda italiana e em um restaurante como aquele.
- Eu moro a tanto tempo em Nova Iorque e não conhecia esse restaurante. - Anne comentou, assim que foram levados até a mesa que Gilbert havia reservado para aquela noite.
- Creio que foi inaugurado a um ano. O proprietário é um amigo meu.- Gilbert disse enquanto ele puxava uma cadeira para Anne se sentar, e ela se surpreendia com mais uma delicadeza daquele homem que vinha crescendo cada vez mais no seu conceito.
- Você sempre vem aqui?- ela perguntou, agradecendo ao garçom que lhes entregou o menu. Pedidos feitos, Anne percebeu que até mesmo seu gosto por comida era parecido com o de Gilbert, apenas na questão da bebida eles divergiram um pouco, pois Gilbert queria pedir vinho, mas, receosa por conta da noite anterior, e não querendo arriscar a fazer nenhuma besteira justamente com o único homem que conseguia mexer com sua cabeça de um jeito nada positivo, ela quis champanhe e desejando agradá-la, Gilbert acabou concordando.
- Só em ocasiões especiais.- ele respondeu, e ela ficou tentada a perguntar se ele vinha acompanhado de alguma garota, mas, achou que seria invasivo demais, e por isso, guardou sua curiosidade para si mesma.
- Me fale sobre você.- Gilbert pediu quando já estavam saboreando uma massa deliciosa.
- O que quer saber?- Anne perguntou, olhando-o por cima de sua taça de champanhe.
- Qualquer coisa que queira me contar. - Ele disse, analisando-a com seus olhos castanhos.
- Bem, eu tenho vinte anos, herdei a livraria dos meus pais aos dezessete. Sou formada em literatura, e sempre quis escrever um livro. - Ela contou, fazendo uma pausa para tomar um gole do seu champanhe.
- Por que eu não estou surpreso? A profissão de escritora combina com você, já que é uma excelente contadora de histórias. Por que não tenta?- Gilbert perguntou, admirando a beleza dela no ambiente onde a iluminação fazia seus olhos brilharem, principalmente naquele momento em que ela falava de sua maior paixão.
- Eu até pensei sobre isso uma vez, e escrevi um conto, o qual eu mostrei para o Roy que é editor, mas, ele me disse que eu não devia me animar muito, pois a história não era nem um pouco comerciável, e assim eu desisti.- Anne disse baixando o olhar, deixando que Gilbert percebesse o quanto aquilo a magoava.
- Você devia ter consultado uma segunda opinião. A editora que Roy trabalha não é a única do país. - Gilbert disse, tentando incentivá-lo a perseguir seu maior objetivo.
- Não, depois do que ele me disse eu não tive coragem de tentar. Deixei o sonho morrer, e continuei fazendo o que eu amo que é contar histórias.- Anne disse, sorrindo fraco.
- Mas, não são suas histórias. Você não devia deixar ninguém destruir um sonho seu, Anne. Se escrever é o que deseja, você deveria insistir nisso.- Gilbert disse, e Anne respondeu provando um pouco mais da comida:
- Talvez um dia eu tome coragem e volte a escrever.- Anne disse sorrindo para Gilbert de um jeito tão encantador que o rapaz sentiu seu coração bater mais rápido. Aquela garota era linda demais e tão fora do seu alcance que o deixava maluco.
- Só me promete que quando você voltar a escrever algum novo conto, vai me mostrar. Eu também quero ser o primeiro na fila de autógrafos do seu livro.- ele disse correndo o olhar por todo o rosto dela.
-Você realmente acha que tenho todo esse potencial? Você mal me conhece. - Anne perguntou, curiosa para saber por que Gilbert tinha toda aquela certeza sobre ela, quando seu próprio noivo não a via daquela maneira.
- Eu não preciso saber muito sobre você para enxergar quem você é, Anne. Porque eu vi sua paixão pelos livros quando conta uma história, e é impossível alguém tão maravilhoso assim escrever algo que não seja um sucesso.- Anne o encarou por alguns segundos, ouvindo-o falar sobre ela, e também se perguntando se Gilbert tinha noção de que acabara de chamá-la de maravilhosa. Ela sorriu e disse somente:
- Obrigada.
- E o que mais te faz vibrar, Anne, além dessa paixão pela literatura?- Gilbert perguntou, deixando que seus olhos encontrassem com os dela, fazendo-a sentir-se mergulhando naquela imensidão castanha. Ela não devia estar sentindo aquelas borboletas todas agitadas dentro dela, ela não devia estar enxergando naqueles olhos a mesma chama que havia nos seus. Ela não podia deixar que se perdesse ali, por não encontraria mais o seu caminho de volta.
- A vida me faz vibrar, ler um bom livro, olhar pela janela e ver o sol brilhando lá fora, sentir-me apaixonada pelo mundo e suas complexidade.- ela tentou responder sem deixar que Gilbert percebesse o quanto ele a estava afetando naquele momento.- Agora é sua vez de me contar algo sobre você.
- Eu tenho vinte seis anos, e como você assumi os negócios da família muito cedo. Pensei em fazer medicina quando era mais jovem, mas acabei estudando administração, pela conveniência para as empresas Blythes. Meu sonho maior sempre foi sair pelo mundo com minha mochila nas costas, sem responsabilidade nenhuma com ninguém a não ser comigo mesmo, o que não fiz por motivos óbvios. - Ele respondeu, colocando seu garfo e faca dentro do prato agora vazio.
- Então, Gilbert Blythe é um aventureiro?- Anne perguntou, fazendo o mesmo que ele, pois já tinha acabado de comer e estava satisfeita.
- Entre outras coisas.- ele respondeu, chamando o garçom para fechar a conta.
- E agora eu repito a sua pergunta. O que te faz vibrar além de desejar se tornar um cidadão do mundo?- Anne perguntou.
- Eu acho que sabe a resposta para essa pergunta.- Gilbert disse aquilo, encarando-a de forma tão intensa que Anne sentiu a eletricidade entre eles no ar. Seu corpo inteiro ficou tenso, enquanto um calor absurdo subiu pelo seu corpo, e para disfarçar sua garganta seca, Anne tomou um gole de champanhe, enquanto pensava no que dizer. Felizmente foi salva pela chegada do garçom e a conta, e pôde dessa maneira escapar daquele olhar que parecia a envolver em seu feitiço completamente.
Eles saíram do restaurante e caminharam um pouco pelo Centro da cidade. Àquela hora já tinha esfriado um pouco, mas não excessivamente que atrapalharia o passeio que estavam fazendo.
-Você gosta de sorvete, Anne?- Gilbert perguntou, desejando prolongar um pouco mais aqueles momentos com ela.
- Adoro, por que?
- Vou te levar a melhor sorveteria da cidade.- Gilbert disse cheio de animação.
- Fica muito longe daqui?- Anne perguntou enquanto pensava se não devia recusar, pois o convite para aquela noite fora apenas para o jantar, e não para esticarem o passeio para outro lugar.
- Não, é apenas duas quadras daqui. Podemos ir a pé mesmo.
- Está bem, mas só mais uma hora. Eu preciso voltar para casa, pois acordo cedo amanhã.- Anne disse, e Gilbert disse:
- Está bem, Chapeuzinho ruivo, prometo que não vamos demorar.
Eles caminharam cerca de dez minutos e quando estavam passando em frente de um restaurante bastante sofisticado, Gilbert olhou para ela esquisito e disse:
- Acho melhor deixarmos o sorvete para outro dia.
- Ah, não, Blythe. Vou ficou me tentando o caminho inteiro por conta da sorveteria, agora eu só vou para casa depois de experimentar pelo menos uma bola.- Anne disse, continuando a caminhar. Gilbert segurou em seu pulso e disse:
- Vai por mim, é melhor deixar o sorvete para outro dia.
- Gilbert, o que está...? - então ela viu, o que Gilbert enxergara antes dela, e que em toda a sua vida nunca pensara que aconteceria. Seu peito doeu como se uma faca fosse cravada ali, o ar diminuiu e ela sentiu que iria sufocar e todo o seu corpo tencionou como se tivesse levado um soco na boca do seu estômago
Sem pensar, ela começou a caminhar em direção ao casal que ria e de vez em quando se beijava, mostrando a todos que passavam por ali que estavam completamente apaixonados.
- Anne! - Ela ouviu Gilbert dizer, mas nem isso a fez parar o que estava a ponto.de fazer. Quando se posicionou na frente do casal, o rapaz a olhou assustado, enquanto a garota parecia confusa e olhava de um para o outro sem entender o que estava se passando ali. Com uma calma que ela mesma não sabia que possuía, Anne retirou o anel de noivado do dedo e disse:
- Eu só queria te devolver isso.- a ruivinha colocou o anel na mão do rapaz, deu as costas ao casal e começou a caminhar em direção à Gilbert enquanto ouvia a moça perguntar:
- Quem é ela, Roy?- Anne não soube o que ele respondeu, mas nem se importou, pois tudo o que queria fazer era sair dali o mais rápido possível.
Ela e Gilbert caminharam lado a lado em silêncio até chegarem no carro. E embora respeitasse o silêncio dela, Gilbert percebia sua raiva ferver dentro de si, sentindo uma vontade imensa de voltar e quebrar a cara do idiota que acabara de partir o coração da garota mais maravilhosa do mundo. Roy Gardner era um rato que ele teria o maior prazer de eliminar da face da terra se tivesse a oportunidade.
Dentro do carro o silêncio persistiu, e Gilbert começou a se preocupar com o mutismo de Anne, que além de não falar nada, também não derramava nenhuma lágrima como se estivesse chocada demais até para chorar. Logo que ele estacionou o carro na frente da casa de Anne, ele se virou e perguntou:
- Quer falar sobre o que aconteceu?
- Não, só quero ir para casa.- ela disse de forma seca. Anne sabia que Gilbert não tinha culpa do que acontecera, mas ela estava se sentindo tão péssima por dentro que não sabia como agir, e se começasse a falar acabaria desmoronando na frente de Gilbert, e ela não queria que o rapaz a visse assim. Deste modo, ela saiu do carro acompanhada de Gilbert e disse:
- Obrigada pelo jantar. - Anne disse sem olhá-lo nos olhos.
- Eu é que agradeço por ter aceitado o convite.
- Até logo.- ela disse.
- Até logo.- ele respondeu, e Anne começou a caminhar apressada em direção ao portão de sua casa. Mas, então, ela parou como.se tivesse esquecido algo e tentasse se lembrar o que era. Assim, ela se virou e andou de volta para Gilbert que mantinha o próprio corpo encostado na lataria do carro. Quando estava próxima o suficiente do rapaz, Anne segurou seu rosto com as mãos e colou seus lábios nos dele.
Por um segundo, Gilbert ficou paralisado, por não acreditar que o que mais desejara em todo aquele tempo estava acontecendo. Entretanto, ele não pôde resistir a proximidade dela e aquela boca rosada e tentadora que o vinha atiçando a dias, e por essa razão, ele entreabriu seus lábios e literalmente devorou os de Anne que não lhe negou nada, e deixou que ele ditasse o ritmo do beijo como quisesse.
Ela era doce e macia como ele tinha imaginado, mas muito melhor porque não fazia parte de um sonho, e sim, da realidade daquela noite, a qual ele não imaginara que acabaria daquele jeito.
Pelo seu lado, Anne estava completamente envolvida por aqueles lábios masculinos que eram quentes, deliciosos e sedutores, as mãos dele apertavam sua cintura, e ela podia sentir o corpo sólido dele contra o seu. O que ela não sabia era porque o tinha beijado justo naquelas circunstâncias, pois o motivo real desaparecera de sua cabeça, mas o seu coração mais sábio que seu cérebro vinha desejando isso por um tempo infinito, e tudo o que Anne queria era se derreter naquele calor intenso que incendiava tudo, varrendo qualquer outro pensamento de sua mente completamente.
Eles se separaram porque a falta de ar os obrigou, porém, Gilbert não queria deixá-la ir, porque toda aquela proximidade, o corpo de Anne junto ao seu, o sabor daquele beijo que ela espontaneamente lhe dera, despertara dentro dele uma fome por ela que nunca sentira por mais ninguém.
No entanto, não queria se aproveitar da fragilidade dela, que acabara de descobrir que tipo de canalha era o homem com quem iria se casar, e Anne merecia muito mais respeito e consideração do que já tivera com ela antes.
- Boa noite.- ela disse, baixinho.com a testa colada na dele.
- Boa noite.- Gilbert respondeu, beijando-a na testa, e logo em seguida, ele a soltou, deixando que Anne se afastasse dele.
Após vê-la entrar em casa, Gilbert abriu a porta do carro, e se sentou no banco do motorista. Ele então se olhou no espelho, encarou a si mesmo, e logo em seguida colocou a mão sobre o peito, sentindo que seu coração estava sorrindo.
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