Pov ★ Anna

Sexta-feira.

Me trocava rapidamente no vestiário para encarar o último ensaio antes do grande jogo. Todos estavam ansiosos, nervosos e eufóricos, eu me mantinha neutra sobre isso.

Depois do episódio da chuva algo em mim havia estremecido, as palavras dele aqueceram meu corpo, apesar do frio por estarmos encharcados pela chuva. Ele estava lá e me parecia sincero, só que nada é tão simples assim, eu fui usada e machucada novamente, não posso simplesmente me dar ao luxo de permitir que todos brinquem tão facilmente com meus sentimentos.

Sento no banco do vestiário e inicio uma discussão nenhum pouco saudável comigo mesma.

Eu não me arrependia da nossa noite, não me arrependia de nada que havíamos vívido, só me arrependia de como tínhamos  começado, com mentiras. Talvez tudo pudesse ter sido diferente, ou não, já que detestava Ian, o que hoje me faz rir. Mas eu não  tinha outra opção a não ser o contentamento, algumas coisas não são para ser, o melhor que podia fazer era ignorá-lo até o próximo verão quando, se tudo sair como o esperado, irei para uma faculdade em Nova Iorque. Ian e eu perderemos o contato e provavelmente nos veremos apenas em feriados prolongados, e então sorriremos um para o outro pelas lembranças, porém será apenas isso, agiremos como dois estranhos.

É isso que realmente quero?
Não sei, provavelmente eu esteja ferida pelas circunstâncias e esteja cega diante de todo bem que Ian Lewis fazia em mim.
Pessoas boas também te farão mal, porém é preciso lembrar das coisas boas que elas fizeram, equilibrar ou pesar mais um dos dois lados.

Decidida a não pensar em mais nada daquilo resolvo que é hora do treino, hora de esvaziar minha cabeça de problemas relacionados ao total fracasso da minha vida amorosa.

Enquanto caminho em direção ao ginásio com duas grandes camas elásticas e mais alguns colchonetes espalhados ouço a voz alta de Sarah xingar, talvez seja pela pressão que ela mesma se cobra para apresentar uma coreografia perfeita.

Suspiro fundo ajeitando o boné azul.

Apesar dos dias difíceis eu ainda fazia parte dos Wolves Blue, era uma participante da equipe e isso me ajudou a focar em outras coisas que não envolvessem está trancada em meu quarto. Porém Sarah estava com a obsessão de que tudo deveria ser perfeito, sem falhas, só que a coreografia era muito complexa. Havíamos tido duas ideias para coreografias completamente opostas, uma era menos difícil, com acrobacias arriscadas, só que com mais liberdade. A outra nos mantinha presos na monótona dança que precisava de mais acrobacias que passos e ao ver da capitã era superior a que nos sentíamos mais à vontade para executar.

— Não acredito que ela fez isso! — esbraveja a morena raivosa.

Fico sem entender sua raiva, então me aproximo de Jace e Mia querendo informações sobre a situação.

— O que aconteceu? — pergunto muito curiosa.

— Zaara Gilda.  — responde Jace encarando Sarah. — Ela publicou um vídeo da coreografia deles, então descobrimos que é a nossa. A que nos matamos para ensaiar. — acrescenta indignado.

Zaara Gilda será sempre uma pedra no sapato?

— Mas não temos como provar que é nossa? — questiono vendo possibilidades.

— Não, não temos nada e se apresentarmos a mesma coreografia será uma desclacificação certa para nós. — suspira passando as mãos pelo cabelo.

— Sabem o que vou fazer? Vou acabar com Zaara Gilda agora mesmo! — afirma Sarah com fogo nos olhos, mas Quent a impede de dar qualquer passo.

— Vamos acabar com ela amanhã.

— Como? Ela nos roubou a coreografia. — a aflição era a expressão que dominava o rosto da garota, assim como o de todos. Zaara era cruel e não máscarava isso.

— Nos ainda temos outra coreografia. — disse Kira tocando o ombro de Sarah.

— Ela é inferior. — retruca a morena frustrada.

— Ela só precisa de ajustes. — falei pela primeira vez.

— Anna tem razão, só que não podemos ensaiar aqui, sabe se lá o que Zaara ainda pretende.  — pontuou Quent lado a lado de Sarah.

— Eu conheço um lugar. — uma voz do além aparece nos fazendo encarar o cara baixinho e sorridente, Henry.  Ele não havia voltado para a equipe desde o Halloween e quase nunca se comunicava com ninguém.  — Mas terão que me aceitar de volta na equipe. — coloca as mãos no bolso.

— O que nos garante que não abandonará a equipe novamente?  — questiona Sarah.

— Talvez vocês não acreditem mais na minha palavra, porém é a única coisa que posso dar. — soa sincero.

— Bem-vindo a equipe, Henry!  — disse Quent com mais alegria.

Todos ficaram mais felizes com a possibilidade de uma chance para continuarmos na competição, possivelmente aquela era a senhora esperança agindo.

★ ★ ★

O lugar que Henry havia mencionado era um galpão perto da sua rua. Confesso que de início fiquei temerosa, afinal quase roubaram o carro de Ian.

Desço do ônibus escolar sendo seguida apenas por Mia, o resto da equipe já estava encarando o lugar.

— Espero que não aconteça nenhuma merda dessa vez. — murmura Mia proxima de mim. Compartilhava do mesmo pensamento que minha amiga.

Os olhos de todos eram vidrados no estilo peculiar do galpão completamente pichado, Mia e Bonnie pararam ao meu lado temerosas com todas as complicações que a vida pode nos causar. 

Dizer que não sentia falta de Ian era uma mentira completa, a cada pensamento aleatório surgia algo que me ligava a ele fazendo meu coração doer.

O sorriso.
O sarcasmo.
A alegria.
O entusiasmo.
A amizade.
O beijo.
A essência.
A inteligência.

Tudo que eu mais admirava parecia tão explícito em todos os momentos que nos víamos, porém... eu não tinha nem um "mas" para contestar.

— Oi meninas. — cumprimenta Henry desajeitado.

— Oi. — falamos ao mesmo tempo, entretanto Mia o tratou com desdém enquanto Bonnie e eu tentávamos sorrir.

— Peço desculpas pelo episódio da minha casa, fui corvade ao não enfrentar o meu pai, mas estou tentando concertar as coisas. — explica com o sorriso iluminado de sempre.

Sorriso iluminado me fazia lembrar Ian e suas covinhas.

Droga!

— Entendemos, mas não pense que as coisas são tão fáceis assim, seu pai nos ameaçou na sua frente e você não fez nada. — questionou Mia irredutível. — Então, se me dão licença.  — a negra triunfante nos olhou e entrou em seguida com seus passos confiantes.

— Eu entendo você e está tudo bem. — afirmou Bonnie após um breve silêncio.

— Faço das palavras da Nice as minhas. — toquei o braço da minha amiga.

— Eu errei feio, se não fosse o Ian Lewis nem sei o que talvez tivesse acontecido com vocês. — o nome que eu não queria que ninguém dissesse em voz alta havia saído dos lábios arrependidos de Henry. — Ele gosta de verdade de você, Anna. — essa foram suas últimas palavras antes de entrar no galpão deixando-me com o coração na mão.

"Ele gosta de verdade de você, Anna"

Dizem que a visão de quem está fora da bolha é diferente, já que se enxerga coisas que você não é capaz de ver, mas a visão de quem está dentro também é completamente divergente, pois também se enxerga coisas que ninguém consegue ver.

— Tudo bem? — pergunta Bernice Bonnie preocupada.

— Sim, estou bem.  — respondo forçando um sorriso.

— E como está seu coração um dia antes dos seus dezoito anos? — muda radicalmente de assunto.

— Se sentindo mais desgastado pela idade. — brinco sorridente.

Na verdade eu estava apavorada com tudo que acontecia, tínhamos apenas algumas horas de ensaio para uma apresentação de extrema importância amanhã com uma coreografia ensaiada algumas vezes e que não agradava a capitã. Então,  meu coração não estava nada bem como tantas emoções.

Bjs♥

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