C A P Í T U L O 53
Pov ★ Ian.
Quinta - feira.
Os dias literalmente estavam cansativos e frustrantes, eu me sentia incapaz de fazer qualquer coisa e ainda tinha o acréscimo do sentimento de futilidade, um babaca egoísta que não pensa em nada a sua volta apenas em sim próprio.
A pior parte dos meus dias era encontrá-la pelos corredores cheios de gente, nossos olhares sempre se encontravam e eu via a decepção estampada em seu rosto, o que me matava por dentro. Havia tanta coisa que precisava ser dita, porém ela nunca permitia que eu me aproximasse e eu entendia completamente seu afastamento, era sua tentativa de tentar me odiar. Possivelmente ela tenha conseguido aquilo, já que se negou de todas as formas a apresentar o trabalho de literatura ao meu lado com a justificativa de não ter encontrado qualidades suficientes para suprir o quão ruim eu era. Confesso que tinha um texto gigantesco sobre como ninguém a merecia e o quanto ela era boa demais para esse mundo. Porém ela não quis ouvir absolutamente nada do que eu tinha para dizer.
Eu estava acabado!
Não conseguia mais me concentrar em nada.
Como capitão do time sempre soube o que exatamente fazer em campo ou fora dele, eu era a porcaria de um quarterback que sabia como lançar ou correr, mas estava agindo como um inexperiente, um jogador que nem sabia pegar a bola sem atrapalhar a jogada dos outros.
— Tudo bem, cara? — pergunta Brad se aproximando. Coloco as mãos nos joelhos suspirando fundo por ter errado outro passe.
— Sim, está tudo bem. — respondo forçando um sorriso. Eu estava estressado, suado, sujo e decepcionado comigo.
— Pois não parece! — ouço o grito do treinador Dominic se aproximando. — Você já errou seis vezes o mesmo passe, Lewis. O que está acontecendo? — questiona colocando uma das mãos na cintura e a outra ajeitando o boné azul.
— Eu vou beber água. — disse Brad praticamente correndo do meio de campo.
— Só estava um pouco distraído. — admito passando as mãos sujas pelo rosto.
— Eu entendo que algumas coisas estão difíceis, mas precisa resolver seus problemas. O jogo é em dois dias e eu sinto em dizer que não será titular.
Olhei em sua direção incrédulo com essa informação.
— Como assim?
— Eu preciso de pessoas que não estejam distraídas, pois esse jogo é um dos mais importantes da equipe e preciso de todos concentrados. — afirma tocando meu ombro. Eu entendia sua atitude, Ian Lewis não estava bem para entrar em campo, o que me fez gritar internamente mais ainda. Droga! Esse era o meu jogo, o jogo que definiria nosso futuro. Concordei pondo as mãos na cintura e suspirando frustrado.
Minha cabeça estava uma completa bagunça e eu não me sentia no direito de sofrer, afinal quem era o culpado de tudo era somente eu. Sentia-me melancólico e até vulnerável por tudo ter terminado assim, nada teria chegado a esse ponto se tivesse falado a verdade, pois não podemos construir nada sem um alicerce forte.
Depois de um tempo sendo parcialmente congelado pelo fim de tarde gélido resolvo ir para o vestiário. O lugar que estava lotado de caras suados, fedidos e que entendiam o quanto precisava ficar sozinho quando as coisas não iam bem.
Cumprimento por quem passava enquanto caminhava para meu armário no local. Tiro uma toalha branca e me sento para esperar minha vez.
— Ei. — disse John sentando-se ao meu lado no banco.
— Ei. — respondo tocando seu ombro.
— Parece que vou começar em campo no jogo de sábado.
— Isso é ótimo! — sou sincero. Aquele moleque me deixava orgulhoso.
— Eu não acho, você é o quarterback titular. — protesta encarando-me como se quisesse que eu acordasse e percebesse isso.
— Só que não tenho agido como um bom líder ultimamente e é compreensível que não esteja em campo. — afirmo sorrindo sem mostrar os dentes.
— É pela Anna? — pergunta cauteloso.
Suspiro fundo.
— Não exatamente, tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. — e tinha mesmo. Afinal, ainda havia meu pai insistindo em querer voltar para nossas vidas.
— Somos amigos, amigos também são família. — foi sua vez de tocar meu ombro me encorajando. — Saiba que estarei aqui se precisar. — se levanta sorridente.
Pela primeira vez no dia alguém tinha feito-me sorrir. Um sorriso divertido.
★ ★ ★
Eu parecia um garoto de quinze anos de castigo no quarto por ter feito alguma das desventuras da idade, mas eu não tinha quinze anos e nem estava de castigo, mas vivia trancado.
Ouço batidas na porta e logo em seguida minha mãe aparece com seu melhor sorriso.
— Fiz biscoitos. — exibe uma bandeja cheia de biscoitos com gotas de chocolate.
— Obrigado. — agradeço retribuindo seu sorriso. Ela se senta na ponta da cama e encara as mãos. — Aconteceu alguma coisa? — pergunto a instigado para me contar.
— Eu é quem pergunto. Aconteceu alguma coisa?
— Eu não serei titular no jogo de sábado. — digo uma meia verdade.
— Oh, sinto muito. — disse tocando meu rosto.
— É, mas está tudo bem. — a tranquilizo.
— Sabe eu terminei meu novo livro. — sorriu. — E o primeiro exemplar vai para meu filho mais velho. Foi uma experiência incrível escrevê-lo e trabalhosa também. Está na primeira gaveta do seu criado-mudo. — indica e eu logo abro vendo o livro de capa marrom com um globo terrestre no centro.
Norte, Sul. Esse era o título da obra.
— Essa é a história do amor incondicional de dois vizinhos desde a infância. Eles precisaram enfrentar a si mesmos para admitir um sentimento tão intenso. Os dois tiveram mais razões para desistir do que para ficarem juntos, mas eles escolheram persistir naquele sentimento devastador. — explica olhando no fundo dos meus olhos.
— Interessante, pena que tudo no mundo da literatura é mais simples. — suspiro desanimado.
— Hum... acho que não, não desistir de alguém até mesmo no mudo da literatura é difícil, mas na vida real às vezes só precisamos admitir o que sentimos. — suspira. — É, só que também temos o orgulho que não ajuda em muita coisa nesse sentido. — se coloca de pé enquanto analiso sua fala mastigando um biscoito.
— Tenho que buscar o Steven na aula de boxe. — disse caminhando em direção a porta.
— Ele não havia desistido? — questiono franzindo a testa.
Steven sempre gostou de artes marciais sejam elas qual forem, isso ele puxou de mim.
— É, ele está nessa fase de não saber o que quer. Nisso ele não puxou para a mãe e nem para o irmão, pois sabemos o que queremos e lutamos por isso. — dá uma piscadela. — Ah, também vou ao Dominic entregar biscoitos para ele e John, então retire o lixo antes da chuva. — ordena saindo do quarto, respiro fundo comendo mais biscoitos.
Algum tempo depois eu ainda permanecia tentando a todo custo relaxar, mas o estresse me mantinha agitado.
Um barulho alto vindo do céu ecoa fazendo-me dar um salto da cama com a recordação de que precisava colocar o lixo para fora.
Como Steven e eu passávamos o dia inteiro no colégio e minha mãe costumava almoçar na editora não fazíamos tantas refeições em casa, por isso não tínhamos uma pilha de lixo tão exagerada assim.
O céu estava escuro e com nuvens acinzentadas por todo lado, seria uma daquelas chuvas de interditar Avenidas inteiras.
Enquanto arrumava uma maneira do lixo caber dentro da lata observo um carro estacionar na garagem da frente. Era o carro de Amy Sanderson, mas a motorista não se parecia tanto com ela. Anna Sanderson desceu um pouco distraída do carro, porém seus passos eram ágeis por medo da chuva. Eu poderia simplesmente ter entrado em casa e deixá-la partir, ser feliz seguindo em frente, isso também me faria feliz, só que sou um idiota egoísta que sabe o que quer e eu quero ela.
Fecho rapidamente a lata de lixo e corro em sua direção antes que fosse tarde.
— Ei. — digo tocando cuidadosamente seu braço. Ela se assusta nos primeiros instantes.
— Não, Ian. — tenta se desviar do meu toque.
— Eu só quero conversar. — suplico olhando no fundo dos seus olhos. Talvez um dos meus maiores medos era encontrar ódio, raiva, rancor e tantos sentimentos ruins naqueles olhos brilhantes, mas não havia isso, o que me deu uma pontada de esperança.
— Mas eu não quero!
— Ótimo, então você só escuta. — sorrio de lado feliz só por tê-la perto. —Eu sei que sou um completo Idiota, parvo, imbecilizado, palermo, basbaque, tantã, mentecapto, pateta, tolo, bocó e tantos outros que você me xingava enquanto dormia bêbada, mas esse cara cheio de defeitos se apaixonou por você em meio ao caos que ele mesmo criou, ele confidenciou coisas jamais ditas antes, então não diga que foi apenas uma mentira. — sou sincero.
— Você me usou, Ian! Eu me envolvi de verdade. — retruca com os olhos marejados e com um sentimento que estava implícito em seus olhos, a decepção. Aquele olhar doeu.
— Eu também me envolvi! Você não viveu nada daquilo sozinha, eu também estava lá com todos os sentimentos descontrolados e a flor da pele. Ou acha que sou de ferro? — protesto movimentado as mãos.
— É, você estava lá junto comigo, mas quem mentiu não fui eu. — sua voz aumentou quando a chuva caiu nos deixando encharcados. Os pingos molhavam seu cabelo claro e seu rosto ainda com a expressão séria. As pequenas gotículas iam descendo por nossos corpos molhando por completo a camisa escura que eu estava e a sua blusa preta. — Sabe o que eu acho? — pergunta me encarando. — Que você não tem coração, aí habita sim alguma máquina de ferro. — coloca seu dedo indicador sobre meu peito.
— Sabe o motivo pelo qual pedi para nunca me deixar? — pergunto sentindo mais gotas da chuva que permanecia forte e fazia meu corpo sentir frio.
— Tinha tudo haver com as suas mentiras? — questiona sorrindo de um jeito sarcástico.
— Talvez, com certeza. — respondo sarcástico. — Eu vivia pensando em qual seria o próximo passo para minha vingança, como usar Anna Beth Sanderson? É isso que pensa? Pois digo o quanto está errada, pedi aquilo porque meu maior medo era perder você. — desabafo sentindo-me sem forças para continuar. — Eu amo você. — fecho os olhos sentindo meu coração acelerar.
— Não pode brincar com isso! — exclama parecendo indignada.
— Você quem disse primeiro.
— Eu estava bêbada! — abro os olhos novamente a observando. — Faça o que pedi, fique longe de mim. — disse dando alguns passos para trás e logo virando-se de costas e seguindo para sua casa. Desta vez não a impedi, pelo contrário, fiquei parado sentindo a chuva tentar lavar minha alma e de quebra levar minha dor junto. Eu sentia que tinha perdido Anna Sanderson, a minha Anna Sanderson.
Bjs♥
Somos poucas, mas que tal criar um grupo no Whatsapp?
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