C A P Í T U L O 41
Pov ★ Anna
O clima entre Ian e eu estava leve, apesar da estranheza da nossa situação no dia seguinte, eu havia evitado falar sobre aquilo e ele fazia o mesmo.
Dois corvardes.
Bernice Bonnie mexia freneticamente no celular com um sorriso bobo em seus lábios ao meu lado na bancada. A bancada era de três lugares, Henry havia faltado naquela manhã.
Me esquivei o suficiente para ter uma visão com quem ela conversava ignorando minha existência.
Roberto Gonçalvez.
Fiquei curiosa com aquilo.
Sorrisos bobos em uma conversa virtual.
Conversas aleatórias na hora do almoço.
Sorrisos e encaradas nada discretas.
O que significava?
— Então, a conversa está boa não é mesmo? — adverti chamando sua atenção. Bonnie encarou o celular e olhou para mim se sentido sem graça por aquela distração.
— Desculpe, estou mandando mais mensagens que o normal. — seu rosto ganhou um tom de vermelho.
— Não precisa se desculpar, você tem o direito de enviar quantas mensagens quiser, para quem quiser. — quis frisar a liberdade que a garota tem de conversar com quem quiser.
—Anna, não é nada disso que está pensando! — replica como se estivesse feito algo de errado. E não fez! — Roberto e eu somos apenas amigos. Não faço parte da realidade dele. — põe uma mecha de seu cabelo preto atrás da orelha encarando a bancada.
— E qual seria a realidade dele? Vocês são de planetas diferentes? Pois só a atmosfera diria que vocês sejam de realidades diferentes, e ele não sobrevivesse na Terra. Talvez o clima global não seja tão a favor da realidade de vocês. — questiono levantando seu queixo. — Às vezes você terá que pegar a contra mão para chegar ao seu destino. Pois nada parece fazer sentido.
— Eu acho que não daria certo.
— Por quê?
—Não há um motivo claro, é confuso, mas é o que eu acho. — responde com a respiração pesada mostrando frustração.
— Porque não há um motivo! Você precisa ser clara consigo mesma. Às vezes só é preciso arriscar, possivelmente será desgastante e de alguma forma alguém sairá machucado na história. Mas parece que só de sentir a presença de alguém importante já faz seu corpo disparar e a respiração acelerar sem nem entender os motivos. Você só precisa estar perto ou saber que está tudo bem, mesmo que esse bem estar não seja em você. E parece que essas sensações de alguma maneira acabam subtraindo toda dor.— as palavras fluíram deixando um gosto amargo em meus lábios, algo que não consegui controlar, elas simplesmente sairam.
Tentei sorri para conforta-lá e mostrar que nada do que eu disse havia me afetado, porém afetou, afetou muito. Lá no fundo sabia que aquele conselho quem devia escutar era eu.
— Tudo bem? Você tem certeza que não sente nada pelo Ian além da amizade? — pergunta me analisando profundamente. Ela sabia que eu iria sair ferrada dessa história. Mas antes de qualquer resposta sair da minha boca o professor de química avançada, Sr. Marsh, entra na sala de aula vestido numa fantasia de espantalho. As roupas rasgadas e com palha grudada pelo corpo. Na cabeça havia um grande chapéu.
— Não me olhem assim, é Halloween! — exclama indignado com a forma incrédula que os alunos o olhavam. — Eu tenho autorização para estar fantasiado e tem vários moleques com fantasias ridículas andando por esse colégio. Me sinto no primário. Ah, hoje temos assunto novo. — a turma inteira suspira.
— Mas é Halloween, devíamos ter o dia livre. — um dos caras do time adversário diz.
— Filho, é Halloween, não natal. Faço boas ações somente nessa época do ano. — todos riram da resposta do professor.
Olhei uma última vez para Bonnie que sorriu sem exibir os dentes, nossos olhares foram até a cadeira de Henry que estava vazia, aquilo nos fez ficar preocupada. Ninguém quer faltar no Halloween, mas também ninguém quer estudar. E Henry Manchester não costuma faltar, nem doente.
A aula de educação física do segundo período de todas as quartas - feiras era a "melhor", supostamente. As pessoas mais populares da escola eram daquele horário, inclusive Ian. Graças ao céus eu não sou dessa turma, seria muito desconfortável. Mas segundo o folheto que todos os alunos receberam, a pior pegadinha do dia seria feita contra a professora mais chata, Srta. Robinson. A mulher que todos esperam que em sua velhice próxima seja trancada em um asilo.
Eu não queria presenciar a possível pegadinha, apesar de não gostar da professora, ainda tenho empatia pelo meu próximo.
—Nós não podemos perder! — repete Mia pela milésima enquanto ajudo Bonnie a fechar seu armário. — É daqui a uns quinze minutos. Rápido e marcante.
— Eu não sei. Nesse momento estou preocupada com Henry. — diz Bonnie tentando colocar mais um livro no armário.
— Eu também estou, mas podemos filmar e enviar para ele. — questiona como se tivesse tido uma ideia brilhante. — Fará bem para a alma dele, ver a pior professora do colégio sendo vítima de algum infame por aí.
— Eu concordo com a Bonnie. Apesar da Srta. Robinson ser um ser humano horrível que não nos libera estando menstruadas da sua aula...bom... Não consigo encontrar um bom motivo para não querer ver, além do " me preocupo com meus semelhantes". — digo me sentindo uma pessoa horrível.
— Anna! — repreende Bernice.
— É, depois da menor pausa, algumas mulheres esquecem o que é estar menstruada. — alega Mia pensativa. — Mas agora fiquei mais preocupada com Henry.
— Já que agora temos horário livre, podíamos ir na casa dele saber o que está acontecendo. — diz Bernice dando de ombros.
— Quer matar aula? Gostei. Mas ninguém veio de carro. — ao dizer isso os olhares curiosos das minhas amigas vieram até mim, como se fosse a galinha dos ovos de ouro e eu rapidamente entendi o motivo.
Ian Lewis. Esse era o nome do motivo.
— Nem pensar! — nego antes mesmo do assunto ser esclarecido.
— Qual é? — questiona Mia fazendo biquinho. — Por favor! São só alguns minutos.
— Não, eu não vou pedir o carro do Ian. Nem pensar!
A sala de física avançada estava quase vazia, apenas Ian conversava com o seu professor.
Eu sabia que o loiro iria ganhar uma bolsa de estudos através do futebol em quaisquer universidades e também sabia o que gostaria de estudar lá. Sua paixão por física e futebol o levariam longe. E mesmo sem entender aquilo me deixava orgulhosa.
Seu professor depois de algum tempo me avistou e sorriu.
— O que Deseja jovem? — sua pergunta fez Ian me notar.
— Ah... É... preciso falar com o Ian. Mas posso esperar até acabarem. — respondo sem graça com o olhar dos dois.
— Ah, não precisa esperar. Já acabamos por aqui. — diz o professor sorridente. — Lembrem-se sempre do grande caminho pela frente, garoto. — aconselha calmamente enquanto pega suas coisas e sai.
Fico encarando a porta fechada com alguns enfeites que deveriam ser assustadores, assim como todo colégio deveria estar decorada com artefatos de dar medo, mas nem chegou perto disso, por alguns minutos antes de voltar meu olhar ao loiro que observa cada detalhe em mim. Seus braços estavam cruzados tencionando mais ainda os músculos. Engoli seco.
— Então? — incentiva para que eu comece a falar.
— Me empresta seu carro, tipo, agora. — digo de uma vez. Sua testa franziu e deu uma mordida no lábio inferior.
— Por quê exatamente?
— Eu vou matar aula. Na verdade, tenho tempo livre e as meninas e eu pensamos em ir para uma lanchonete que gostamos. — minto coçando a orelha, depois avalio o esmalte preto recém pintado tentando não o encarar.
Seus olhos azuis pareciam analisar minhas expressões de um modo questionador.
— Certo. Tudo bem. — retira dos bolsos as chaves do Carro e se aproxima para me entregar. Sorrio vitoriosa por ter conseguido, mas antes que a chave pudesse estar em minhas mãos, seu olhar reprovador me questiona. — Mas quando voltar não se esqueça de me contar a verdade. Sei quando está mentindo, garota má. — o objeto metálico é posto em minhas mãos.
Sinto um leve desconforto por saber que ele sabe que estou mentindo. Seus dedos tocaram minha mão trêmula e sairam logo após deixar as chaves. Sinto sua presença se afastando e fico me perguntando " qual motivo não contei a verdade?".
Olho pela última vez para a porta fechada e passo as mãos pelo rosto, frustrada.
Após alguns minutos de surto, deixo a sala de aula e caminho em direção as minhas amigas que esperavam apreensivas e suplicantes.
— Então? — começa Bernice. Tento manter um sorriso alegre ao exibir as chaves entre os dedos.
— Conseguimos! Mas qual o motivo dessa cara? — questiona Mia intrigada.
— A desculpa da lanchonete não funcionou, ele sabe que eu menti. — suspiro frustada.
— Mas vai funcionar quando trouxermos um lanche de uma lanchonete, vai dar certo. Só iremos fazer uma visita ao Henry e trazer o carro dele em segurança. Nada de ruim vai acontecer.
A última frase de Mia não soou convincente, sempre que alguém dizia que algo ruim não iria acontecer, acontecia.
Bjs♥
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