C A P Í T U L O 4
— Anna. — repetiu Thales enquanto Ian organiza seu lugar à mesa. Assim que o mesmo termina de pôr os talheres, Thales se senta de frente para minha irmã que está ao lado de Steven. Minha mãe está ao lado da amiga, que está sentada na cadeira de chefe. E eu evitando de todas as formas olhar para frente, pois Ian perceberá meu desconforto.
— Então, estão se preparando para o grande jogo? — pergunta tia Jess quebrando o gelo.
—Com certeza! — responde Thales eufórico. — É o grande jogo que definirá qual time poderá disputar o campeonato estadual com o nome do colégio.
—Amy, esta competição decide qual dos times pode seguir em frente representando o colégio, já que é apenas um time por instituição. — minha mãe parece muito interessada no que Jess diz.
—E quando esse jogaço acontece? — pergunta mamãe curiosa.
—Bem, estamos em setembro, então daqui a três meses, já que anualmente é em dezembro. Mas eu fico mais ansiosa pela competição das líderes de torcida, já que a regra de uma equipe por colégio vale para elas também.
— Hum... líderes de torcida dançam né Tia Jess? — pergunta Anny.
— Sim meu bem. — responde Jess. Então, Anny simplesmente me lança um olhar estranho, é difícil saber o que se passa na cabeça dessa criança.
— Anna dança. — comenta me fazendo engasgar com o suco. Olho para a pestinha com meu melhor olhar reprovador.
—Não, eu não danço! — a essa altura já sinto os olhares sobre mim.
Fofoqueira!
—Não sabia que ainda dançava. — solta Ian surpreso.
— Claro que ela dança! E muito bem! — exclama minha irmã.
— Anny, eu não danço! — minto, pois eu sei que danço muito bem. Fiz jazz por quase dez anos. Conclui as dez etapas do balé. Sapateado ( que por acaso Ian era meu companheiro) dos quatro aos quinze anos e introduzi por alguns meses a dança contemporânea.
—Ah, dança sim! — questiona Jess com um belo sorriso me fazendo lembrar o de Ian, assim como seus cabelos loiros que estão presos a um grampo dourado. — Já vi você dançando e lembre-se que fez sapateado com Ian.
—Certo. Vamos mudar de assunto. — retruco desconfortável com o rumo da conversa.
—Então, o que acharam da comida? — pergunta Ian querendo com certeza ouvir elogios.
— Divina! — começa mamãe com os elogios desnecessários.
— Uma delícia igual a você! — zomba Thales. Reviro os olhos diante das bajulações
—Perfeita querido. — elogia Jess.
—Touché! — comenta Anny.
—Levarei como um elogio Anny. — sorrir Ian.
—Irmão , sua comida está incrível! - diz Steven Tyler Lewis bajulando o irmão mais velho por algum motivo desconhecido. Todos olharam para mim esperando um elogio.
—Satisfatória. — foi a única coisa que consegui dizer deste maravilhoso purê. Detesto bajulação. Ian apenas deu um sorrisinho sarcástico e voltou a comer seu purê.
Queria não transparecer meu desconforto, mas é quase impossível.
Thales e Ian iniciam um assunto que eu particularmente optei por não participar.
Terminei meu jantar o mais rápido possível. Após a sobremesa me preparei para ir embora, mas ninguém percebeu meu desespero. Então minha mãe resolveu conversar por mais uma hora com Jess me deixando como ouvinte da conversa de Ian e Thales.
— Jamie Oliver está caidinha por você. — comenta Thales com Ian. — Ela é gata e apetitosa. — credo! Será que essa menina sabe a forma que falam dela por ai?
Ian aparentemente não se importa com ela está caidinha por você.
—Thales, qual é?
— Qual é nada! Vou conseguir esse encontro para você. — retruca Thales nem se importando com a opinião do amigo. As amizades de hoje em dia estão assim?
Ian apenas dá de ombros como se não fizesse diferença.
—Faz o que quiser. — me senti a própria vizinha fofoqueira que escuta atrás da porta com um copo para melhorar o som. Mas sem a porta ou o copo.
— Eu sei que ela é da trupe da Zaara, mas ela é gata! — pareceu cauteloso ao dizer o nome Zaara na minha frente.
Não queria mais ouvir aquela conversinha de idiotas, então resolvi me levantar e seguir até a cozinha. Não é que eu seja uma mal-educada e não peça permissão para fazer qualquer coisa na casa dos outros, é que eu cresci entre essa casa e a minha, por isso não é tão casa dos outros assim.
Bebo um longo gole de água para ter líquido no meu corpo e assim poder voltar a sala de estar e absover os assuntos que dois garotos conversam.
Meu corpo já tinha líquido suficiente quando resolvi retornar para sala, mas antes que Ian e Thales tomassem conta do meu campo de visão, as vozes baixas deles tomaram conta do meu campo de audição.
— Agora consigo entender o motivo pelo qual Josh traiu essa tal de Anna. — me encosto na porta para ouvir melhor.
—Qual é o motivo para um imbecil ter sido um imbecil? — questiona Ian entediado.
Ainda me pergunto qual é o excelente motivo pelo qual Thales dá razão a traição de Josh.
— Ela é desleixada! Caras como o Josh esperam que a boa nerd virem uma gata pagável. Mas isso não aconteceu, ela continuou desleixada.
—Eu acho que você só deve mudar por você mesmo. Quando entender que é a hora. Não por idiotinhas como Josh. — me defendeu Ian. — Anna é incrível! — acrescentou na sua defesa.
— Zaara é uma gata! A diva poderosa daquela escola, já a Anna parece uma mal-amada. — isso doeu. Acredite palavras doem.
Eu era uma traida, mal-amada, desleixada, nerd, idiota, burra, estúpida e cada nome feio que exista no mundo. Thales praticamente me chamou de: M.T (merecidamente traída).
Eu me odeio por ter ouvido aquilo e por me importar com que as pessoas falam pelas minhas costas.
— Anna? — a voz de Ian me tira do transe. O olho raivosa. — Tia Amy está a chamando para irem pra casa. — não respondo apenas o encaro com meu lado perverso trabalhando as cinco maneiras de torturar alguém. — Está tudo bem? — parece preocupado. Não respondo, como um robô sigo para onde minha mãe estava, sendo seguida por Ian.
— Foi um prazer vê-lo Thales! Amanhã temos aula de literatura. — avisa mamãe entusiasmada.
— Claro Sra. Sanderson! Prazer Anna. — a última frase foi direta para mim.
— Prazer?! Eu estudo com você desde a quinta série. E você me diz "prazer"???? Seu FALSO idiota da merda! Aprende a ser homem e falar na cara o que pensa! — isso era o que eu queria ter dito, mas a minha sensatez me permitiu dizer apenas isso:
—O Prazer foi todo seu. Eu fico apenas com o desprazer. — e novamente minha sensatez permitiu apenas que eu dissesse em voz alta a palavra prazer. Ele sorriu e eu caminhei para minha casa do outro lado da rua.
Entrei em casa e corri para meu quarto apenas ouvi minha mãe gritar dizendo que eu precisava de um bom banho. Mas pela primeira vez não a obedeci, fui em direção ao grande espelho do meu closet e encarei o reflexo me perguntando:
— Quem é você Anna? —
Acho que não tenho uma resposta lógica para essa pergunta, pois nem eu mesma sei quem sou.
—Vai viver na sombra de um homem, ou uma traição? — voltei a me perguntar.
Eu não conseguia mais me encarar, era vergonhoso saber que não me acho boa o suficiente para mim mesma.
— Você é incrível Anna e só precisa de si mesma! Eu sou autosuficiente. — repito de olhos fechados o que acho ser o meu novo mantra.
—Concordo com suas palavras Anna. — escuto a voz doce de Anny invadir meu sistema auditivo e logo me fazer raciocinar sobre suas palavras, rapidamente abro meus olhos e a encontro encostada no batente da entrada do closet vestida com seu sueter florido. — Nunca gostei do Josh. Sempre achei que você merecia mais do que aquele traste de cabelos cacheados.
—Você o amava quando ele trazia hambúrguer.
— Eu não o amava. Eu amava o hambúrguer que ele trazia. — esclarece me fazendo soltar uma leve gargalhada, coisa que não acontecia há tempos. — Vou te dizer uma coisa. — ela segue em direção a dois divãs que possuem no meu closet e se senta em um deles me indicando o vago ao seu lado.
Respiro fundo e resolvo sentar onde ela indicou.
— Sabe por qual razão amo tanto o Steven? — pergunta com um brilho diferente no olhar.
Penso por um bom tempo na resposta:
—Porque ele é fofo? — sugeri confusa.
— Também. Mas eu o amo pelo fato de que ele soma e multiplica coisas boas na minha vida. Eu sou ótima sem ele, mas sou ótima triplamente com ele. — ela faz uma pausa. — Precisamos excluir quem não acrescenta coisas boas na nossa vida. —queria perguntar onde essa menina tinha aprendido isso, porém me contive e apenas deixei a sua última frase invadir meus pensamentos.
"Precisamos excluir quem não acrescenta coisas boas na nossa vida."
— Steven acrescenta na minha vida e por isso um dia iremos nos casar. — ela sorrir e estende seus bracinhos ao redor dos meus ombros. — Eu admiro muito você. Mas você não pode ser a Anna boba que ainda espera Josh Mackenzie bater na nossa porta dizendo o quanto estava errado. Isso não acontecerá! E se acontecer eu mesma jogo água escaldante na pele dele. — minha irmã tem o espírito vingativo. — Faça coisas novas, malucas e diferentes! Entre para as líderes de torcida do time de futebol americano ,do Ian claro. — começa a ficar entusiasmada. — Lembre-se do que o Will disse para a Clark em como eu era antes de você : Viva! Apenas viva!. E é isso que eu reafirmo: Viva Anna, viva! Descubra coisas novas. Principalmente descubra você. Seja a Anna depois de Josh Mackenzie! Uma Anna que aprendeu sobre si mesma, que aprendeu a se amar em primeiro lugar. Não a Anna que recebeu o diagnóstico de depressão por achar que não pode mais viver sem alguém que a "complete". Nós não precisamos ser completados, precisamos ser acrescentados.
— Como aprendeu isso? — pergunto incrédula.
— Livros. Ficção adolescente. — Responde se levantando do divã e seguindo em direção a porta. — Você é o céu, no momento certo encontrará seu mar ou Oceano. Já que os dois são infinitos por si só e só tem o acréscimo do outro. — ela sorri. — Aprenda a se valorizar, pois ninguém fará isso por você. Tenha uma refletiva noite!
♥
Valorize-se é gratis!
Beijos...
Acompanhe minha outra obra:
As inconveniências do Amor.
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