C A P Í T U L O 28
Steven se joga ao meu lado no sofá. Mesmo estando concentrado em minha leitura, sei que seus grandes olhos me analisam. Mas sigo adiante com a atenção no conteúdo de Física avançada, minha matéria predileta. Simplesmente gosto dos cálculos equacionários que ela me desafia, é tudo tão fora do comum.
— Sua leitura parece chata! — reclama meu irmãozinho entediado com que leio. Na verdade, para Steven, tudo que envolve parágrafos demais é uma chatisse. O que eu particularmente não entendo, já que Jess Lewis sempre nos obrigou a ter uma boa leitura.
— Tudo depende do seu ponto de vista. Gosto de física. — defendo minha matéria favorita.
— Tipo física quântica do homem formiga? — seus olhos brilham ao mencionar um de seus super- heróis mais cobiçado. — Ou lá em Os Vingadores: o ultimato?
— Tipo isso. — respondo meio incerto.
Steven e eu sempre fomos muito próximos. Compartilhamos boa parte das coisas que acontecem na nossa vida para o outro. Independente da diferença de idade busco entender as complicações da vida do meu irmão, mesmo não sendo fácil. Quem briga por bonecos de coleção? Aparentemente Steven Lewis. Pois soube da sua pequena ida a diretoria por isso.
— Recebi uma mensagem no email que utilizo na escola. — paro imediatamente minha leitura, sei exatamente do que ele quer me falar. Encaro um ponto fixo a minha frente, mas não ouso olhar para ele. — Era o papai. Ele disse que ainda somos uma família. — sussurra parecendo reflexivo em suas palavras.
Senti vontade de me ocultar em alguma parte do universo. Longe de tudo.
— Isso é ótimo. — tento não me importar com suas palavras. Mas só tento.
— Então, você apoia a ideia de sermos uma família de novo? Com o papai? — os olhos do pequeno brilhavam com a bendita pergunta.
Não, minha resposta era não. Eu não apoiava essa ideia. Ele machucou a todos nós, mas Steven não sentiu como Mamãe e eu sentimos. Nada garante que Scott Lawrence não vá nos trocar novamente por dinheiro. Ele é assim, um egoísta nato.
Suspiro fundo antes de elaborar uma boa resposta.
Penso.
Penso.
Penso.
— Física é uma matéria excelente! — exclamo mudando radicalmente de assunto. — Já disse que é minha matéria favorita?
— Ian! — ouço a repreensão de meu irmão mais novo.
Outro suspiro. Merda!
— Steven, não faz diferença para mim. — sou sincero. — Já tivemos essa conversa antes.
Seu olhar ficou triste e um desapontamento surgiu em meu peito. Eu vi Steven crescer. Estive ao seu lado em todos os momentos. Cada festinha com apenas refrigerante e torta. Cada apresentação no colégio que sugava um sábado a noite inteiro. Mas nunca reclamei, sempre estive lá, simplesmente por saber o quanto a família importa.
— Mas se isso faz você feliz, me fará também. — volto a dizer sentindo novamente aquele olhar brilhante sob mim. Steven sorrir contente.
— Me lembro que papai detestava a marvel. — diz me olhando ainda sorridente. — Será que ele mudou essa opinião?
Quando pretendia responder essa pergunta, a porta se abre revelando minha mãe com seus olhos azuis cintilantes. Fazia um bom tempo que não a via com os olhos daquela forma.
Suas mãos tiram o casaco comprido e o colocam em cima do sofá.
Um beijo é depositado em Steven e logo seguida em mim.
Um sorriso estampa seu rosto jovial. Suas mãos balançam demonstrando nervosismo.
— Hum... — aquele grunhido significava que ela tinha algo para falar. — Oi meus filhotes. — e não era aquilo.
— Como foi o seu dia na editora? — pergunto a encarando fixamente.
Jess Lewis ao lado de Scott Lawrence era totalmente diminuída, seus talentos ficavam ocultos perante todos que não a conheciam. Seus diplomas eram exibidos na sala de estar, mas nunca exercidos. Isso pelo porquê Scott detestava a ideia de ter uma mulher inteligente e autosuficiente ao seu lado. A única responsabilidade que ele queria que sua esposa tivesse era a de "dona do seu lar". Na época eu só era um pirralho, não entendia nada. Mas quando ele foi embora, senti que precisava apoiar seus sonhos e a criação da sua Editora foi a realização do maior deles.
— Foi excelente. — seu sorriso se alarga ainda mais. — Estamos trabalhando para ganhar o título de melhor editora de Houston. Isso é muito bom!
— Por isso que seus olhos estão tão brilhantes? — pergunta Steven com a mesma linha de pensamento que eu.
Ela pensa. Morde o lábio inferior e volta a sorrir.
— Também, mas não totalmente. — suas mãos esfregam a calça jeans preta. — Vamos ter um jantar especial esta noite.
— Com a comida requentada que está na geladeira? — questiona Steven arqueando sua sobrancelha direita. Dou um tapinha em sua nuca o repreendendo.
— Não, pedi comida italiana. — ela volta a sorrir. — É a preferida do nosso convidado. — fiquei tão feliz por saber que comida italiana não era a comida favorita do Ian e sim do tal convidado.
— E quem é esse convidado? — minha vez de questionar.
— É um amigo, que logo vão conhecer. — dito isso ela segue em direção a escada ainda com o sorriso. — E se arrumem!
Olho para o meu irmão e dou de ombros.
— Achei que iríamos comer a comida requentada. — fico um pouco confuso com sua fala. — Convidei Anny para o jantar. Ela ama comida requentada.
Após alguns minutos ainda estava sentado no sofá, com Steven reclamando ao meu lado. Tentava me concentrar na leitura, mesmo tendo a voz de um tagarela no meu ouvido.
As pessoas não sabem mais respeitar seu momento de leitura, aquele em que seus pensamentos precisam se concentrar apenas em uma única coisa.
Sempre fui apaixonado por livros, não mais que por futebol claro. Só que a influência da minha mãe me ajudou ao extremo nisso. No início da minha vida como um ser pensante e opinativo de uma sociedade escolar, Jess ilustrava seus livros apenas para que eu pudesse ter um bom desenvolvimento na leitura. Era a nossa parceria. Ela e eu para todas as horas, Scott só entrava depois. Minha prioridade sempre foi minha mãe, tudo por ela.
— Vocês ainda não foram ser arrumar? — escuto a voz feminina que me dá um certo medo.
Havia me esquecido da sua ordem. Levanto meu corpo do sofá e a olho. Minhas pernas se movem caminhando em sua direção. Lhe ofereço um sorriso singelo e observo suas mãos irem para sua cintura demonstrando Impaciência. Suas madeixas loiras eram cobertas por uma toalha azul e um roupão branco era amarrotado por seu nervosismo e ansiedade.
Dou um beijo em sua testa e subo os degraus da escada correndo.
Chego ao meu quarto já tirando a calça moletom e jogando em cima da cama. Tenho o péssimo costume de jogar todas as roupas sujas que uso no dia sobre a cama e só quando vou dormir coloca - lás no cesto.
Pego meu celular no meio da bagunça e verifico minhas mensagens. As primeiras a serem vistas são as de um novo grupo no qual fui adicionado.
"Vingança contra Nick Jonas, o ex- Jonas Brothers".
Sorrir da referência e o pior é que curtia a banda pop Jonas Brothers. Deixo para ler as conversas depois ou talvez ignorar as mensagens, sei que a ideia do grupo foi de Bryan, mas resolvo não me envolver. Já fiz o que meu corpo queria. Lembrar de tudo isso, me fez refletir sobre Anna, justamente a pessoa em que tudo parece girar em tono. Meus pensamentos vagueiam por seu sorriso tímido capaz de romper qualquer guerra ou rumor.
Fecho meus olhos tentando arranca - lá dos meus pensamentos, mas fica difícil quando ela é a dona deles.
Depois de um tempo com a cabeça debaixo do chuveiro, consigo descer os degraus da escada novamente vestido mais adequado para o tal jantar. A calça jeans azul está um pouco desbotada, mas gosto da combinação com a camisa preta básica e para completar um chinelo com estampa divertida. Pronto. Pareço um homem sério e preparado para conhecer o novo amigo da mãe.
Logo avisto Anny e Steven sentados no sofá conversando coisas de crianças da idade deles.
Me sento ao lado de Anny e faço cara de tédio. Algumas caretas aleatórias enquanto escuto Steven balbuciar sobre uma tal de Kaira Rubens.
— Quem é essa? — pergunto me intrometendo na discussão dos dois.
— É a nova amiguinha do seu irmão. — Anny respondeu cerrando os dentes. — Que me parece ser bem próxima dele. Inclusive, ela nem desgruda na hora do almoço. A hora em que nós deveríamos ficar juntos. — escuto seu desabafo com atenção.
— Que feio Steven. Estou impressionado com o seu desrespeito pelo relacionamento de vocês dois. — questiono sorrateiro meu irmão que parece boquiaberto.
— Concordo, Ian. — diz Anny cruzando os braços. Mas antes de qualquer outra fala, ouço a campainha tocar e meu corpo pegar impulso para caminhar meio derrotado até ela.
Mil pessoas diferentes tinha possibilidades de estar atrás daquela porta. Mas nunca imaginei que Houston fosse um lugar tão pequeno ao ponto de não poder nem me manter afastado de certas pessoas.
— Você? — questiono com uma leve curiosidade em meu corpo. Encaro o homem vestido com uma camiseta social azul e uma calça jeans preta. Seu cabelo estava penteado e sua expressão era igual a minha. A testa se franziu e um clima de dúvida se instalou.
Poderia ser engano. Dominic Hernandez bateu em minha porta por puro engalo.
Tentei foca nisso por mais alguns minutos, até que minha mãe surgiu atrás de mim e sorriu, não um sorriso qualquer. Foi o sorriso que todos sentiam falta.
— Dom. — aquilo me fez colocar a mão na testa. Talvez eu estivesse delirando.
Dominic Hernandez sorriu da mesma forma e passou por mim indo em direção dela. Eles pareciam estar dentro de uma bolha.
Pigarreio alto o suficiente para chamar atenção.
Minha mãe desperta do seu transe e segura a mão de Dominic delicadamente.
Que merda estava acontecendo?
— Filho, esse é...
— Eu sei quem ele é, mãe. — a interrompo ainda surpreso e tenso. — Ele é o novo treinador do time. — ela pareceu um pouco surpresa. Não mais que eu.
— Ian. — a voz de Dominic apareceu em forma de cumprimento.
Minhas ações depois desse pequeno momento foram como as de um robô. A comida chegou minutos depois e todos arrumamos a mesa na sala de jantar.
Minha mãe estava muito arrumada para um jantar em casa. Penso enquanto escuto as conversas aleatórias quando já estávamos comendo.
Steven sorria de coisas que Dominic dizia, ele parecia diferente do que é em campo. Menos sério.
Anny suspirava ao ouvir Dominic contar sobre como foi sua vida na Califórnia. Ele morava aqui, mas se mudou assim que terminou a universidade, local onde conheceu minha mãe que é um ano mais velha. Inclusive, Dominic é irmão mais novo de uma amiga de Jess.
Depois de mais de duas horas de conversa, observo minha mãe acompanhar Dominic até seu carro. Ele se despede de todos e agradece pelo jantar.
— Você está estranho, Ian. — ouço a voz de Anny. Levo meu olhar até ela e levando a sobrancelha enquanto percebo a pequena com a cortina aberta vendo minha mãe e Dominic através da grande janela de vidro. Talvez eu estivesse estranho por saber que o cara que está entrando na minha lista negra seja amigo íntimo da minha mãe.
— Ele só está calado e pensativo. — explica Steven ao meu lado no sofá.
— Vocês não irão acreditar no que eles estão fazendo. — diz a eufórica Anny Sanderson. — Dando um beijo de cinema. — aquilo fez meus olhos se arregalarem e uma sensação súbita invadir meu peito. Estou enfartando?
— Impossível, eles só são amigos. — questiona Steven parecendo não acreditar. — Amigos não se Beijam.
Queria retrucar no pensamento que meu irmão tinha. Ele estava errado. Amigos se beijam. Amizade colorida é o nome disso.
Amigos coloridos se beijam. Mas continuam sendo só amigos, nada mais.
— Talvez eles não sejam só amigos. — Anny cruza os braços e arquea sua sobrancelha. — Eles me parecem bem mais que isso.
Fecho meus olhos e jogo todo meu corpo sobre o sofá.
É o meu fim!
Bjs♥
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