C A P Í T U L O 19
O cheiro do carro de Ian é bom. Cada coisa aqui dentro parece ter o seu toque e sua costumização.
Meus dedos são curiosos e rapidamente tocam a mini camiseta dos Wolves Blue pendurada ao lado do seu espelho.
— Wolves Blue. — digo sorrateira.
— Sabe que é apenas Wolves? Não existe o Blue literalmente. — questiona com seu olhar voltado para estrada. Seus dedos ainda avermelhados seguram o volante como se sua vida dependesse disso.
— Gosto de Blue.
— Deixa eu adivinhar. — o quarterback parou em um sinal vermelho e fez uma careta pensante. — Azul é sua cor favorita?
— Acertou. Azul é minha cor favorita. — o encaro com um sorriso bobo no rosto. — Não qualquer azul. Azul ciano, que é a cor do céu. Gosto do céu. — admitir o motivo pelo qual gosta de uma cor parece idiota, mas senti que precisava.
— Profundo. Agora advinha qual é a minha?
— Hum... — fiz a careta pensante. — Azul?
— Não. Cinza. — ele sorriu.
— Por que?
— Gosto da neutralidade às vezes. — responde pensativo.
— Ian Lewis, o quarterback do time de futebol americano, o cara mais popular de todo colégio, o mais chamativo e bonito. Está me dizendo que gosta de neutralidade? — zombo sorridente.
— Sim, Anna Beth Sanderson. Estou dizendo que gosto da neutralidade. — continuou com seu sorriso capaz de destroçar corações. — Então você me acha bonito?
— Está vendo, isso se chama ego. — desconverso admirando as paisagens da cidade.
— Não, isso se chama esclarecimentos de fatos sobre eu mesmo. — zomba estacionando em frente a minha casa.
Seu olhar percorreu cada centímetros do meu corpo e eu senti todos os pelos se arrepiarem apenas com aqueles olhos me analisando.
— Então, obrigada pela carona. — agradeço saindo rapidamente do carro, mas sem quebrar o olhar.
— Disponha. — percebi Ian recolocar as mãos no volante, como se estivesse preparado para sair novamente.
Sei que algo está errado, isso é visível. Ian Lewis não é um cara pensativo. E nem um amante da solidão.
Tá certo, isso não justifica o fato de que na cena seguinte abri a porta do carro novamente e o beijei com se minha vida dependesse daquilo e ele sorrateiro correspondeu com a mesma intensidade.
— Não vai para sua casa? — pergunto com nossas testas grudadas.
— Estou evitando. — sua respiração está descompassada e seus olhos permanecem fechados.
— Brigou com a sua mãe. — afirmo colocando meus braços ao redor de seu pescoço e acariciando seus cabelos claros macios.
— É. Estou evitando ao máximo ficar em casa. — suspirou segurando minha cintura.
— Para onde vai? — pergunto cautelosa.
— Qualquer lugar será um bom lugar.
— Posso ir com você? — minha sanidade mental estava fora de controle. Como assim fazer companhia para Ian Lewis ?
—Só não garanto ser uma boa companhia. — sinto seus lábios macios tocarem meu ombro coberto pelo moletom azul.
Minhas vozes interiores gritavam dizendo o quanto Anna Beth Sanderson Collins só podia estar maluca. Beijar Ian como uma namoradinha dele e ainda por cima abraçá-lo e sorrir junto com ele. Parecia um grande absurdo! Mas eu não sentia todo esse paradoxo. Me sinto segura ao lado de Ian Lewis, seu olhar me transmite confiança e seus braços conforto. Isso sim é louco!
Como em todo lugar cheio de civilização com prédios, casas e condomínios por todo lado. Aqui existe um parque, onde se pode respirar fundo e sentir o verde literalmente entrando pelas narinas. Os donos podem passear com seus animaizinhos com um pouco mais de conforto. O parque da cidade é perfeito para quem quer isso. E vejo que Ian precisa mesmo se afastar da civilização caótica.
Seu carro estaciona em uma das vagas aleatórias da rua. As mãos pressionam o volante e o olhar se fixa no caos de cidade grande bem ao lado do parque.
Tiro o meu cinto de segurança e mordo o lábio inferior nervosamente aproximando minhas mãos que fazem o mesmo com o de Ian.
— Vamos. — digo sorrateira voltando ao meu lugar e abrindo a porta do carro. Percebo seu olhar em mim e através do vidro vejo suas mãos desligarem o carro e abrirem a porta.
Seu olhar retorna para mim e lhe lanço um sorriso singelo. Ele olha meio incrédulo para minha tentativa de ameniza o clima péssimo que o quarterback está, mas sorrir sem mostrar os dentes.
Sigo em sua direção e agarro sua mão para ele entender que sorrisos singelos farão parte da nossa tarde de hoje.
— Você é bem corajosa. — se pronuncia pela primeira vez desde sua fala de velho: "eu não sou uma boa companhia".
— Por que? — confesso que suas mãos grandes e quentes entrelaçadas com as minhas gélidas causaram uma fusão que me deixou arrepiada.
— Nem a Sra. Jess Lewis fica perto de mim quando estou em um estado bipolar causado por algum conflito mau resolvido. — sorrio da sua constatação.
— Pra mim você é sempre bipolar. — declaro enquanto caminhamos em direção a um banco de madeira bem conservado no parque repleto de gente.
— Eu não sou bipolar! — se defende parecendo indignado.
— É sim!
— Sério que está me dizendo isso? — questiona entreolhando para o caminho e eu. — Você é a rainha do mal- humor e bipolaridade.
— Claro que não! Eu só tenho uma leve irritação matinal. — digo totalmente revoltada.
— Até parece. — ouço seu murmuro enquanto sento no confortável banco. — Qual é Anna? — sua voz novamente chama minha atenção. — Saímos do carro para você sentar num banco? — encaro o questionamento do loiro com as sobrancelhas arqueadas.
— É um banco no ar livre. — digo óbvia.
— Era só abrir a janela. — zomba com um sorrisinho de Bobão no rosto. — Vem, vamos sentar na grama. É mais prático. — ele caminha em direção a grama bem verde para se sentar, mas ao invés disso seu corpo se deita observando o céu do fim de tarde.
Meu corpo está confortável nesse banco e não pretendo sair daqui.
— Não virá para cá? — pergunta me encarando.
Receosa levanto do banco e caminho em direção ao quarterback.
A grama é bem cuidada e só por esse motivo me deitei igual Ian.
Meu cocó desgrenhado se desfez com a ação do contato com o chão me fazendo xingar Lewis mentalmente.
— Nossas brigas sempre são pelo mesmo motivo, ele é o motivo. — sei exatamente do que Ian fala. Tia Jess sempre conta os motivos dos desentendimentos com o filho mais velho. — Ela tenta sempre encontrar uma justificativa para o que ele fez. Mas eu acho que não existe uma plausível.
— É porque ela é mãe. E mães sempre fazem isso.
— Sempre fazem o que?
— Justificar o que não possui justificativa, pelo fato de que elas não querem que seus filhos criem rancor. — explico olhando no fundo dos seus olhos.
— Isso é impossível.
— Eu sei. Mas mães não acham que seja impossível. Elas só querem o melhor para nós. E justificar o injustificável é uma das atitudes às vezes. Eu sei que parece idiotice, mas brigar com a sua mãe não adiantará nada, assim como essas tentativas falhas de justificar as atitudes do seu pai, pois não dá. — respiro fundo. — Só que agir como se seu pai não fizesse falta, não anui o amor que você ainda tem por ele. Eu sei que o ama, só está machucado. — seus olhos estavam fechados e sua mão voltou a entrelaçar a minha com agilidade.
Pela primeira vez quis dizer o quanto ele podia contar comigo. Algo que parecia loucura.
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