Quarta carta
1 de junho de 2020.
Laura,
São quatro horas da manhã e estou chorando porque terminei de ler um livro incrível. Absorvi a história e fiquei pensando "caralho, isso sou eu". Tenho uma estante lotada de livros, Laura, mas isso nunca aconteceu antes.
A Tash, de Tash e Tolstói, resumiu exatamente o que eu sinto. E eu sou assexual.
Eu também estou chorando porque tudo fez sentido. Sou assexual, mas sempre achei que sentiria atração sexual quando amasse alguém de verdade. Quando sentisse um laço com alguém. A questão é que eu não sinto isso. Nunca senti. E aí, quando percebi a forma como me sinto perto de você...
Você é diferente de toda amizade que eu tive. Você é diferente de todas as pessoas que conheço. Nossa relação é diferente. Tudo o que eu desejo num relacionamento romântico está em você. Todas as risadas, as madrugadas juntas assistindo a qualquer coisa... Tudo isso me fez perceber que eu te amo. Amo de maneira romântica. O que eu sinto por você vai além da amizade.
Quando percebi isso, só comecei a chorar, chorar porque fui tão cega, ignorei tantos sentimentos. É tão estranho como conseguimos passar uma vida inteira sem saber quem somos. Eu tenho vinte anos, achava que já me conhecia o suficiente, mas uma palavra mudou tudo o que eu sabia sobre mim, fez com que minha vida inteira se encaixasse e entrasse nos eixos.
É um sentimento de alívio saber quem sou, saber que pertenço a algum lugar e não sou só estranha, não sou exigente demais na hora de me relacionar com pessoas. Acima de tudo, não é estranho que eu não tenha tido nenhuma experiência sexual ainda. Talvez nem queira ter, não sei. Mas agora sei como respeitar meu corpo e os meus desejos.
Depois de tudo isso, mesmo que você não vá ler tudo o que eu escrevi, que não nos vejamos nunca mais, queria dizer que sou grata porque você me fez perceber que está tudo bem ser como eu sou, você me acolheu e então fez minha vida inteira fazer sentido. Obrigada por isso.
Com amor,
Alice
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