9. Anjo da Guarda (p.3)
Zac saiu do quarto deixando Arthur e Narcisa em uma discussão acalorada — ele queria ver Diana de qualquer maneira, mas ela insistia que a feiticeira estava bem, e que ele não poderia sair da cama.
Caminhando em direção ao próprio quarto, Zac pensava em como poderia contar que voltaria ao País das Fadas, e dessa vez definitivamente. E, principalmente, como iria conseguir relatar para Jack que seus filhos eram, na verdade, filhos de César Veter, decerto um de seus maiores inimigos, sendo este líder dos Anjos de Ar.
Zac assustou-se quando a porta pela qual estava passando abriu-se subitamente e ele foi puxado de maneira brusca pelo braço para dentro de um quarto.
— E então? — perguntou Bernardo enquanto trancava a porta. — Deu tudo certo com seu namorado? Ele está livre agora?
Zac ainda estava em choque, mas assentiu.
— E como foi a tal festa? — Ele cruzou os braços sobre o peito, impedindo a leitura da frase que estava estampada na frente de sua camiseta preta.
— Foi... — Zac tentou inventar algo, mas se frustrou. — Legal.
Bernardo riu, e dois furinhos surgiram em suas bochechas. Zac perdeu um momento o observando, com seus olhos cinzentos, a pele pálida e os cabelos de um loiro-esbranquiçado, cujos fios escondiam as orelhas pontudas. E até mesmo suas sobrancelhas e seus cílios, que eram tão claros que eram quase invisíveis. Zac não queria estar o observando tanto, porém era impossível não fazê-lo.
— Legal? Só isso?
— A Rainha das Fadas só queria se exibir, indo acompanhada de alguém aqui do nosso mundo. Não sei por que ela quis a mim, especificamente — mentiu ele.
— Fadas são meio doidas, né? — ele andou de costas até sua cama, onde deixou-se cair de qualquer maneira, pondo as mãos por detrás da cabeça. O gesto fez com que sua camisa subisse, exibindo parte de sua barriga. Zac desviou os olhos para a frase estampada na frente camisa: “Não sou obrigado”.
— Pois é. — Zac permanecia estático perto da parede. Será que era possível se sentir mais desconfortável?
Como se mandado pela Providência, alguém bateu à porta, e Zac adiantou-se em abri-la, somente para receber um olhar confuso de Jack, que moveu os olhos rapidamente de um para o outro, mas em seguida, ignorou a situação e apenas disse:
— Ben, preciso da sua ajuda. Estou te esperando no escritório — disse ele, puxando as mangas da camisa de seda, estampada com penas de pavão.
— Eu já vou — disse Bernardo.
Ele se levantou e pediu licença para Zac, que prontamente deixou o quarto e seguiu pelo corredor, na direção contrária à de Jack e Bernardo.
***
— Até que horas eu vou ter que ficar nessa cama? — reclamou Arthur pela décima vez.
— Até eu dizer que você pode se levantar — respondeu Narcisa, já impaciente, saindo do banheiro trazendo nas mãos uma espécie de copo feito de cerâmica.
— O que é isso? A poção do banheiro?
— Sim, mas não é assim que se chama. — Ela se sentou na beira da cama, ao lado dele, estendendo o copo em sua direção. O vapor subia para o ar, exalando um cheiro que parecida muito com leite azedo (muito azedo). — É uma poção que, especificamente, cura ferimentos abstratos. A maioria dos feiticeiros conhece como sendo a poção Costura-Alma.
— Usou água do vaso sanitário pra fazer? — perguntou ele, examinando a poção de cor âmbar com uma careta.
— Para de drama, Arthur, bebe isso logo — disse Chloé, que estava sentada em uma cadeira no canto, ainda mal humorada.
— Não posso beber dipirona? — perguntou ele, mais uma vez. — Sério, eu prefiro.
— Não, Arthur — disse alguém entrando no quarto. Era Diana, que nem parecia que havia dormido por tanto tempo. Usava um espartilho preto que dava uma bela vista de seu colo, além de tornar sua cintura ainda mais fina, uma calça jeans azul e uma bota preta. — Beba agora, ou vou despeja-la goela abaixo.
Com nojo, Arthur tampou o nariz e forçou-se a beber. O gosto era forte e salobre, o que fez com que ele tivesse ânsia de vômito. Ele estendeu o copo vazio com uma careta. Precisou de um autocontrole heroico quando sentiu a bile subir por sua garganta.
Narcisa tomou o copo de sua mão e levantou-se com elegância, balançando no ar a saia larga de seu vestido azul-cobalto. Ela desapareceu pela porta do banheiro por alguns segundos e voltou logo em seguida dizendo:
— Estou indo por enquanto, se for preciso eu volto amanhã. Mas sinceramente, não gostaria. — ela olhou com desgosto para Arthur. — Você mal acordou, e eu já não aguento mais ouvir sua voz. — Ela pegou sua bolsa que estava pendurada na cadeira em que Chloé se sentava e direcionou-se a ela quando falou: — Me acompanha até a porta, Jade?
Chloé pareceu levar um segundo para entender que era com ela, mas assentiu e se levantou, abrindo a porta para Narcisa.
Arthur estranhou o comportamento dela. Pensou que a irmã responderia “Vá você sozinha”, ainda mais depois de ser chamada de Jade, nome que ela detestava, porém ela não pareceu irritada.
Diana também acompanhou enquanto as duas deixavam o quarto, e ostentava um sorriso torto no canto da boca.
— Interessante — ela disse e deu de ombros.
— O que é interessante? — Arthur perguntou com uma careta, ainda sentindo o gosto amargo em sua boca, enquanto ela vinha se sentar ao seu lado.
— Nada. — Ela pôs uma mecha de seu cabelo castanho atrás da orelha. — Como está se sentindo?
— Melhor — respondeu ele. — Essa coisa nojenta feita de água do vaso é milagrosa.
Ela riu. Arthur reparou na fina corrente de ouro que desaparecia em seu decote. Conhecia aquela joia, que tinha um pingente de rubi na forma de uma gota. Era a pedra de Diana, que assim como os outros feiticeiros, precisava de uma para canalizar sua magia. Feiticeiros eram vulneráveis sem ela.
— Eu preciso te agradecer — disse ela. — Se não fosse por você, Marina estaria morta agora.
— Não precisa. Eu me sinto tão responsável por ela quanto você. — Ele engoliu em seco, se lembrando de como havia se salvado do que deveria ser morte certa. — Mas precisamos conversar sobre outra coisa.
***
Zac abriu a porta do quarto que ele dividia com Miguel e se deparou com uma cena inusitada.
Delwen estava largado sobre sua cama, usando jeans e camiseta, e com os cabelos escondidos por um boné preto, indiferente a tudo ao seu redor. No lado oposto do quarto, Miguel o observava com atenção. Suas mãos estavam nas costas, e em cada uma delas havia uma pequena faca de lâmina escura.
— O que está acontecendo aqui?! — perguntou Zac alarmado, interrompendo antes que uma tragédia acontecesse.
— Quem é esse cara? — perguntou Miguel.
Delwen sentou-se indignado, e apontou o dedo em riste para Miguel.
— Eu quem pergunto! O que esse cara está fazendo no seu quarto, Isac? — Delwen deu muita ênfase na palavra “cara” ao pronuncia-la, seus olhos amarelos brilhavam em puro ódio.
— Acalmem-se os dois! — Zac mantinha as duas mãos abertas na frente do corpo, em defesa própria, e olhava de um pro outro. — Delwen, não é o que você está pensando, e pelo amor de Deus, Miguel, guarda essas facas!
Nenhum dos dois pareceu se importar com o que ele estava falando, pois não mexeram nem mesmo um músculo.
— Delwen é meu namorado — Zac disse, e as sobrancelhas de Miguel se ergueram em surpresa.
— Noivo — corrigiu o garoto fada da cama. — Espero que não tenha se esquecido.
— Isso, noivo — confirmou Zac, seu rosto ardendo com tanto constrangimento.
— Mas o que ele veio fazer aqui? — perguntou Miguel, que parecia ter relaxado e agora usava uma de suas facas para indicar Delwen do outro lado do quarto.
— A Rainha Aine achou que você estava demorando — disse Delwen. — E disse que eu deveria garantir que você cumprisse sua missão.
— Mas eu acabei de chegar! — disse Zac, jogando as mãos para o alto em exasperação.
Miguel o olhou semicerrando os olhos.
— Do que, exatamente, vocês estão falando? — perguntou ele, desconfiado. — É bom ter uma boa explicação.
Zac olhou irritado para Delwen, que nem pareceu se importar. De uma forma ou de outra, teria que contar para Miguel o que estava acontecendo.
— Eu estive no País das Fadas outra vez — disse ele. — É melhor você sentar, tenho bastante pra contar.
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