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7. Convite Irrecusável (p.3)

Alguém bateu na porta quando Marina já estava quase cochilando com a cabeça no colo de Miguel, enquanto ele mexia delicadamente no seu cabelo.

— Marina Ignis — disse Jack, entrando no quarto. — Sinto muito por interromper, mas não gostaria de tomar um café comigo, no meu escritório?

Recusar não pareceu uma opção, então Marina ergueu o corpo a contragosto.

— Tudo bem — ela disse, antes de se levantar da cama e segui-lo.

O escritório dele ficava no andar acima dos que estavam os quartos, e Marina teve curiosidade a respeito de quais seriam os outros cômodos naquele andar.

Ele abriu a porta e indicou que ela passasse na frente. Dando passos para dentro, ela observou o ambiente. Havia uma mesa amarela, e de um lado tinha uma cadeira, enquanto do outro haviam duas. As paredes eram brancas, e a janela coberta por uma cortina marrom. As prateleiras que sustentavam uma série de livros eram do mesmo exato tom berrante da mesa.

Jack atravessou o escritório, sentando-se e indicando uma das outras cadeiras para Marina com a mão. Ela acomodou-se enquanto ele lhe oferecia uma xícara de café, que aparecera magicamente.

Ela aceitou, inspirando profundamente para sentir o cheiro do café antes de dar o primeiro gole. Jack fez o mesmo, com sua caneca, ao invés de uma xícara. Uma caneca amarela, como parecia ser o tema da decoração do escritório.

— Então... — Ele apoiou o café sobre a mesa, se encostando na cadeira e cruzando os braços. — Você e seus amigos estão se sentindo bem instalados aqui?

Marina pressionou os lábios antes de responder.

— Na medida do possível.

— Algo de errado? — Jack uniu as sobrancelhas ao perguntar.

— Ah você sabe... — disse Marina. — Toda essa situação de Diana e Arthur... É complicado, mas estamos confortáveis.

— Ótimo, não se preocupe com Diana — ele disse, balançando a cabeça e sacudindo os cabelos sobre os ombros. — Ela vai acordar em breve. E quanto ao seu namorado, tem uma feiticeira cuidando dele nesse exato momento.

— Não é meu namorado — corrigiu ela apressada, agarrando a xícara de café rapidamente e bebendo para disfarçar o embaraço.

Jack deu de ombros.

— Ele se jogou na frente de um feitiço pra te salvar. — Ele deu um sorriso torto. — Pensei que fosse, mas me equivoquei.

— Vamos direto ao ponto — Marina disse sem rodeios. — O que queria falar comigo?

— Bom — ele aproximou a cadeira da mesa e apoiou os cotovelos sobre ela —, vocês estão sob o meu teto, vivendo com meus filhos, mas quando ofereci minha casa, eu tinha um objetivo. Sabe disso, não é?

— Sim.

— Quero saber se eu realmente tenho seu apoio. Quero deixar tudo às claras. — Ele deu de ombros. — Assim ambos vamos saber onde estamos caminhando.

— Eu preferia ter essa conversa acompanhada de Diana.

Jack sorriu, mas não parecia satisfeito.

— Como quiser. — O celular dele, que estava sobre a mesa, começou a tocar. Ele olhou a tela, e em seguida para ela se desculpando. — Se me der licença, acho que não temos mais o que conversar, e eu preciso atender essa ligação.

— Tudo bem — ela respondeu, apressando-se para deixar o escritório.

Marina fechou a porta assim que saiu e encostou o ouvido nela, fazendo silêncio para ouvir.

— ...esperando até ter uma resposta — Jack disse lá dentro. — Não, não vai. A garota não vai sair daqui.

Marina se sobressaltou quando viu dois garotos surgirem no fim do corredor. Ela se afastou rapidamente e começou a andar em direção a eles, com a maior naturalidade que conseguia fingir.

Eram Zac e Bernardo, e eles entraram juntos em um dos quartos antes de cruzar com ela, que recebeu apenas um aceno de cabeça de Zac antes que eles passassem pela porta e se trancassem lá dentro.

***

— Certo — disse Bernardo assim que trancou a porta —, agora você já pode me dizer por que só podia falar aqui no quarto. No que precisa de ajuda?

— Promete não me dedurar? — perguntou Zac.

Bernardo revirou os olhos de maneira dramática e se sentou na cama, cruzando os braços.

— Fala logo!

— Eu fui convidado pra uma festa — respondeu Zac, que permanecia de pé, transferindo o peso do corpo de um pé para o outro a cada dez segundos.

— Você sabe que não é um prisioneiro aqui, não sabe? — Bernardo perguntou, arqueando apenas uma das sobrancelhas. — Você pode sair, desde que notifique alguém antes. E se você morrer fora da nossa casa, não nos responsabilizamos.

Zac fez uma careta.

— Só tem um probleminha.

— Qual?

— É uma festa no País das Fadas.

— Pensei que não fosse mais voltar lá, depois do que aconteceu — disse Bernardo franzindo o cenho.

— Eu preciso. — Zac se sentou ao lado dele na cama, sem pedir licença. — Fui convidado pela Rainha das Fadas em pessoa, e ela me ofereceu alho em troca.

— O que?

— Hoje mais cedo, ela sequestrou um garoto... é, bom... ele era meu, hum, namorado... Aine me ofereceu ele de volta. — Ele mordeu o canto interno da bochecha.

Bernardo o olhou incrédulo.

— Você é gay?

Zac coçou a cabeça fazendo careta.

— Eu nunca tinha ficado com um garoto antes... Então, sabe... Não sei.

— Tudo bem, não precisamos falar sobre isso — Bernardo respondeu, para o alívio de Zac. — Você provavelmente ainda precisa aprender muito sobre si mesmo, pra parar de hesitar ou se envergonhar disso. — Zac o olhou grato, por entender seus receios. — Deixando isso de lado, com o que precisa de ajuda?

— Isso vai soar bobo — disse Zac e riu nervoso. — Eu não tenho a menor ideia do que se veste em uma festa de fadas, e queria pedir sua opinião.

— Eu posso ajudar com isso, de fato — ele sorriu, exibindo as covinhas que tinha na bochecha, e o olhou com entusiasmo. — E como não resisto à uma história de amor, também vou te ajudar a sair sem ser visto, porque meu pai pode não concordar que você vá até o País das Fadas. Ele não é tão romântico quanto eu.

Zac deu um sorriso torto.

— Eu nem sei como agradecer.

***

Enquanto do lado de fora relâmpagos cortavam o céu e trovões criavam estrondos que ecoavam por quilômetros, do lado de dentro Marina também tinha seu emocional cada vez mais tempestuoso.

— Então Narcisa ainda não conseguiu acordar ele? — ela perguntou para Chloé, sentada em sua cama, abraçando o travesseiro.

— Ainda não — a outra respondeu, igualmente desanimada. — Ela me disse que tinha esperanças de que não fosse demorar pra conseguir, mas ela pode ter dito isso só pra me acalmar.

— Se algo acontecer com ele — ela apertou o travesseiro em seus braços com mais força — vai ser por minha culpa.

— Não é culpa de ninguém — Chloé disse. — Tudo o que a gente pode fazer agora é esperar, e rezar pra que tudo fique bem.

— Com ele e com Diana — acrescentou Marina.

— Sim. — Chloé assentiu. — Com ambos.

***

Bernardo abriu a porta dos fundos para Zac passar.

— Boa sorte — ele desejou antes de fechar a porta e deixá-lo sozinho nos fundos da casa, sob uma chuva fina.

Debaixo de uma árvore ao por do sol, era o que Aine havia lhe dito, e por sorte, havia uma alí. Era uma mangueira, em um tamanho mediano, mas que certamente estaria gigantesca dentro de alguns anos.

Zac não sabia muito bem o que fazer, ainda mais sabendo que com os relâmpagos caindo, uma árvore certamente não era o melhor lugar para de ficar. Ainda assim, apoiou o pé no tronco, e agarrando-se à um dos galhos, içou o corpo para cima. Escorou-se em um galho grosso, e pôs o pé direito entre dois outros galhos que se dividiam em um V. Com alguma dificuldade, conseguiu sentar sobre uma parte firme, e quase despencou de lá de cima quando olhou para o lado e viu a Rainha das Fadas também sentada ali, balançando as pernas no ar.

Com o susto, precisou agarrar um outro galho próximo, o que fez Aine rir e cobrir a boca com a mão.

— Você se assusta muito fácil — debochou ela.

— Eu não estava esperando que você aparecesse como um fantasma! — reclamou Zac.

— Mas você sabia que eu iria aparecer. Não era pra ser uma surpresa.

Zac balançou a cabeça.

— Deixa pra lá.

— Pronto para voltar ao País das Fadas?

— Nunca.

— Excelente! — ela bateu palmas, sem o receio de que pudesse despencar ali de cima ao se soltar. — Feche os olhos.

Zac respirou fundo e obedeceu, ainda segurando o galho da mangueira com firmeza. Sentiu quando a mão delicada de Aine tocou seu braço, e tentou reconfortar a si mesmo, diante do medo que estava sentindo, pensando que em breve estaria com Delwen, que logo poderia saber se ele estava bem.

O som dos trovões e da chuva diminuíram gradativamente, e o ar ficou mais quente e limpo, com cheiro de planta.

— Já pode abri-los novamente — disse Aine com sua voz melíflua.

E Zac obedeceu, abrindo os olhos para notar que já não estavam em uma mangueira, mas em um ipê amarelo. E por entre os galhos podia ver que não muito longe dali uma grande fogueira dançava, com suas línguas de fogo se precipitando em direção ao céu, remexendo-se no ritmo da música forte e pulsante. E aquele céu não tinha sol, não tinha lua, nem tinha estrelas, pois aquele era o céu do País das Fadas.

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