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5. Amor e Odio (p.2)

Arthur permaneceu sentado no sofá mesmo depois que todos foram dormir. A última havia sido Marina, que desligou o celular e o deixou carregando, para em seguida olhar para ele e perguntar:

- Não vai dormir?

- Daqui a pouco - ele havia lhe respondido.

No entanto, a noite passava e ele não conseguia sentir sono. A impressão que tinha era de que se fechasse os olhos novamente, veria Dean ser ameaçado por Morselk, dentro da cela na masmorra fria da casa do Anjo de Terra. O mesmo lugar em que ele e Chloé haviam sido torturados há não muito tempo. Ainda não havia conseguido esquecer, e temia que Dean passasse por algo minimamente parecido.

Em um ímpeto, Arthur se levantou e saiu de casa, caminhando pela estreita ruazinha, em direção ao mar. Não muito distante dali observou a construção em que havia tido um outro pesadelo com Diana, há não muito tempo: a casa abandonada e a enorme árvore, cujos galhos ameaçavam invadir suas janelas a cada rajada mais forte do vento.

Continuou andando em direção à praia, e quanto mais perto chegava, mais o chão se tornava arenoso. Arthur estava andando descalço, e a areia grudava em seus pés, e entrava entre seus dedos.

O poste que deveria iluminar a beira do mar tinha a lâmpada quebrada, e soltava faíscas por causa da maresia, emitindo um zumbido constante. Arthur sentou-se relativamente longe de onde as ondas batiam, a uma distância suficiente para sentir o cheiro que vinha do oceano com o vento, sem se preocupar se as ondas o molhariam.

Era o primeiro dia da lua minguante, e lá estava ela, brilhando no céu, acompanhada de suas constelações. Arthur nunca fora muito de observar o céu - na verdade, deixava isso a cargo dos centauros, que o faziam com maestria -, mas aquela sim era uma noite bonita de ser observada.

Fechou os olhos e respirou fundo. Conseguia sentir a umidade do ar. O vento assobiava em seus ouvidos, acompanhado do som constante das ondas se quebrando. Pôde sentir também a presença de alguém se sentando ao seu lado, e a reconheceu apenas pelo aroma de flor de macieira que ela exalava.

- Eu pensava - Arthur disse, ainda com os olhos fechados - que o fato de eu estar com raiva de você, fosse mudar alguma coisa.

O vento assoprou forte, lançando gotículas de água do mar sobre seu rosto, os pelos de seu braço se arrepiaram, e ele não sabia se era pelo frio, ou pela presença de Diana.

- E não mudou? - perguntou ela.

- Quase nada - ele respondeu, abrindo os olhos e os fixando na escuridão além do mar, enquanto um bolo parecia se formar em sua garganta. - Meu coração ainda bate mais forte, meu rosto queima e o estômago se revira inteiro. E sabe, Chloé sempre implica com meus relacionamentos, porque eles não duram nada. Mas acho que eu nunca namorei por muito tempo por falta desse sentimento. Essas sensações são estimulantes, e pela primeira vez, alguém tinha me feito sentir assim sempre, e não apenas quando nos conhecemos. E tinha que ser justamente você.

Ela não respondeu, então ele continuou falando, enquanto apertava os dedos das mãos até doerem.

- Eu continuo me sentindo do mesmo jeito sempre que você aparece, mas uma coisa realmente mudou. Junto com essas sensações, vem a mágoa. - Ele olhou para cima por um momento, para as estrelas, buscando apoio. - Fico imaginando coisas, e acabo com raiva. - Ele baixou a cabeça, olhando para a areia, que cobria as pontas dos seus dedos, colando em seus pés descalços. - É contraditório, eu não sei o que fazer, minha cabeça virou uma bagunça.

Ele a olhou, e ela também estava olhando para ele, e no segundo seguinte, seus lábios estavam pressionados um contra o outro. Arthur não sabia se ele havia a beijado, ou se tinha sido ela - talvez até tivessem sido os dois -, mas o fato é que os ambos queriam aquilo.

Começou como algo suave. Os lábios dela estavam gelados, por causa do vento que vinha do mar, e Arthur podia apostar que os seus também estavam. Sentia o gosto salgado da maresia, ao mesmo tempo em que a textura sutil de sua boca enquanto tomava-a para si. Pouco depois, o beijo se intensificou, com a urgência de semanas sem se tocar.

Diana foi chegando mais perto, até estar sentada sobre ele. Nesse ponto, eles não se beijavam mais. As ondas quebravam atrás dela e o vento soprava os fios de cabelo soltos da trança sobre seu rosto. Ela o abraçou, acariciando sua nuca com as pontas dos dedos. Arthur havia enterrado o rosto em seu pescoço, sentindo o cheiro familiar. As mãos exploravam as costas da feiticeira, por debaixo do casaco. A pele era macia, e estava quente sob seu toque.

- Esquece tudo - ela sussurrou em seu ouvido. - Só por hoje.

Em resposta, Arthur empurrou a gola do casaco dela, expondo sua clavícula e deixando um beijo ali.

Ele não estava mais pensando direito, e seu corpo inteiro pedia por ela. Fechou os olhos e a apertou mais forte, respirando fundo. A sensação era a mesma de quando teve morfina correndo por suas veias: alívio.

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