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4. Jack White (p.1)

Zac sentiu o avião tremer levemente enquanto as rodas tocavam o chão da pista de pouso e decolagem. Ele desembarcou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Despediu-se de Amanda e, com alguma dificuldade, conseguiu um táxi.

— Rodoviária Novo Rio — disse ao taxista, que era um homem careca usando óculos escuros, e ele apenas acenou com a cabeça antes de sair com o carro.

Através da janela, Zac observou a cidade. Conseguia ver os morros a distância, e o famoso Cristo Redentor, que a aquela distância, parecia tão pequeno que ele pensou que caberia em sua mão.

O trânsito não estava ajudando, e Zac se contorcia desinquieto no banco de trás, depois de tantas horas sentado na poltrona do avião, sentia que precisava andar e ficar de pé um bom tempo ainda para compensar.

Quando enfim chegaram, Zac pagou em reais. Tinha trocado os dólares pela moeda brasileira ainda em Nova York, e a sensação que dava, apesar de falsa, era de que o dinheiro havia triplicado. Não demorou a perceber que a quantidade de dinheiro em número não fazia a menor diferença, considerando que as coisas custavam muito mais caro. Notou isso ao pagar o táxi e ao comprar água e um lanche para a próxima viagem.

Tomando coragem, Zac comprou uma passagem para Campos dos Goytacazes, mas só conseguiu vaga para dali a algumas horas.

Sem alternativa sobre o que fazer no tempo de espera, Zac saiu andando por ali, torcendo para encontrar algo que pudesse distrai-lo até ser, novamente, obrigado a se sentar por horas em uma poltrona.

***

Marina bateu três vezes na janela aberta entre o seu quarto e o de Chloé e Miguel, como se estivesse batendo em uma porta para pedir permissão para entrar. Lá de dentro, Arthur levantou o rosto para ela.

— Posso? — pediu ela.

Ele apenas deu de ombros e voltou a encostar a cabeça no travesseiro.

Nos últimos dias era onde ele passava a maior parte do tempo — e Marina desconfiava que fazia isso para evitar Diana —, mas desde a briga na praia, ela mal o via, e quando via, era apenas um vulto, de passagem.

E foi por isso que, depois de pular a janela e olhar para ele com atenção, acabou se assustado.

— O que aconteceu com seu rosto? — Marina perguntou.

Arthur estava com as bochechas muito vermelhas, e a pele mais escura. Os olhos pareciam um pouco pequenos na atual situação, e ao lado da sobrancelha, ele tinha uma cicatriz que ganhara depois do encontro com Morselk há algumas semanas. Era uma longa e estreita mancha do rosto, que começava na têmpora e descia até a altura do meio da bochecha. Marina torcia para que essa marca desaparecesse, pois toda vez que via, parecia uma lembrança do que os irmãos haviam passado com o pai de Miguel por causa dela, e pensar nisso doía.

— Passei tempo demais no sol — ele justificou, e levantou o braço, colocando o pulso apoiado na testa, em um movimento quase inconsciente.

— Queria te pedir desculpas — Marina disse antes que perdesse a coragem. Ela se apoiou na parede perto da janela, cruzando os braços protetoramente em frente ao corpo. — Você sabe, pelas coisas que eu falei na praia.

Ele balançou a cabeça.

— Você tinha razão — disse, se virando de lado e afundando o rosto no travesseiro.

— Não, não tinha — ela se sentou perto dele, ponto a mão em seu braço, e torcendo para que ele não rejeitasse o toque. E ele não rejeitou. — Eu não tinha o direito de falar sobre você e Diana, e você tinha o direito de se preocupar comigo, depois de tudo o que passou por minha causa.

Ele se virou para cima, olhando para o teto.

— Muita coisa aconteceu entre Diana e eu. E um problema muito grande, inclusive, quando a gente estava em Nova York.

A curiosidade fazia com que sua língua coçasse para perguntar o que tinha acontecido, porém ela controlou-se e não disse nada.

— Tem problemas que parecem não ter solução — ele completou.

— Só não tem jeito pra morte, com o resto a gente se vira — Marina disse, e sorriu com sinceridade. — Sabe, estava pensando em uma coisa.

Ele olhou para ela com o cenho franzido.

— O que?

— Podia sair comigo e Miguel amanhã, sabe... — ela tentou se justificar — é bom pra se distrair, sair um pouco dessa casa.

Arthur olhou pensativo em direção a lâmpada, e coçou a sobrancelha antes de responder:

— Acho que isso surpreende até a mim mesmo, mas eu gostaria disso.

***

O ônibus estacionou na rodoviária quando já era madrugada. A movimentação no lugar era fraca, e o trânsito na rua próxima era praticamente inexistente.

Não tinha chances de conseguir encontrar o endereço de Jack White naquela hora. Se saísse andando sozinho, acabaria perdido, e mesmo se por um milagre encontrasse, era improvável de conseguir falar com ele até o dia amanhecer.

Frustrado em não encontrar uma solução, Zac se sentou em uma das cadeiras ali, e fechou os olhos por um instante. Não dormiria, sabia disso. Já havia dormido mais que o suficiente nas longas horas de viagem anteriores, só queria se fechar um pouco para o mundo.

Quando os abriu novamente, sobre sua mochila, estava uma folha grande, e viu a mensagem que ela trazia.

“Não tenha medo, esse seu mundo tem estrelas e elas olham por você.”

Ele sorriu e alisou a folha com o polegar, sentindo o seu toque áspero. Guardou-a na mochila e a pendurou nas costas. Levantou-se e caminhou em direção à rua, andando sob a luz dos postes e das estrelas sobre sua cabeça.

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