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12. Espelho, Espelho Meu (p.4)

— Onde ele está? — foi a primeira coisa que Arthur ouviu Diana falar. Ela atravessou a porta para dentro da sala antes que Narcisa pudesse protestar, como se já tivesse certeza de que iria encontra-lo ali.

Ela vasculhou o ambiente com os olhos, passando pelo espelho onde Arthur observava tudo pelo outro lado. Mas, é claro, ela não podia vê-lo.

Arthur estava nervoso, seus dedos gelados e seu coração tinha uma frequência maior do que o normal. Pressentia que o que quer que Narcisa estivesse fazendo, ia dar certo, e provavelmente seria ruim. Mas não conseguia sair dali. Estava seguindo exatamente o que ela queria, e isso era terrível, mas  curiosidade o obrigava a permanecer de pé, esperando e observando.

Diana ainda estava de pé no meio da sala, usando um jeans sob medida por baixo de um longo casaco verde, calçando botas de salto alto que a deixavam com pelo menos mais quinze centímetros.

E Narcisa logo veio ao encontro dela, estava bonita como sempre, porém dessa vez era mais do que isso: ela estava radiante. Ela jogou os braços ao redor do pescoço da outra feiticeira, dando-lhe um abraço apertado e falando em voz baixa.

— Não se preocupe com o garoto — ela disse. — Eu senti sua falta.

Ele imaginou que Diana fosse a empurrar para longe, no entanto, isso não aconteceu. Apesar de não retribuir, ela apenas permaneceu rígida em seu lugar.

— Onde ele está? — Diana repetiu novamente, fazendo enfim com que a outra se afastasse dela.

— Por que não pode esquecer esse seu moleque por um minuto? — Narcisa reclamou, batendo o pé com impaciência.

— Porque você o sequestrou.

Narcisa deu um sorriso irônico.

— Considerando que ele próprio me procurou, talvez não deva chamar de sequestro. — ela disse, e Arthur protestou, mesmo sabendo que ninguém o ouviria.

— Eu te conheço bem o suficiente — disse Diana estreitando os olhos — pra saber que você têm meios de conseguir tudo o que quer.

— E eu te conheço bem o suficiente pra saber que ele seria a isca perfeita. — Ela deu de ombros. — E veja só, aqui está você. Meu plano deu certo no final.

— Eu não vim bater um papo, Narcisa. Eu vim buscar Arthur.

— Me chama de Narcisa agora? — ela perguntou, aparentando estar magoada. — Eu sei por que você quer Arthur de volta, sei por que gosta tanto dele. Ele é quase uma cópia exata do pai.

Arthur franziu o cenho, prestava toda a atenção agora, tentando entender a conversa.

— E o que isso importa pra você? — Diana perguntou.

— O que importa pra mim, é você. É saber que você usou o garoto pra substituir o pai. — Narcisa pôs a mão sobre o peito de forma dramática. — Ele poderia ser seu filho.

Diana estava balançando a cabeça veementemente.

— Ele não é uma substituição. E eu não posso ter filhos, você sabe disso, nunca pensei nele como um filho.

— Tenho certeza que nunca pensou nele como um filho, mas é claro que ele assumiu o lugar do outro Arthur. O Pai foi seu amante por anos, depois que ele morreu, você só esperou até que o filho tivesse idade suficiente. E eu não te culpo, ele é adorável.

Do outro lado do espelho, dentro da sala inversa, Arthur paralisou. A voz de Narcisa ecoava em sua cabeça, repetindo diversas vezes a palavra “amante”. Esperava que o termo perdesse o sentido, como o que acontece quando você repete uma mesma coisa diversas vezes, mas não perdeu.

— Você nunca contou pra ele não é? — continuou Narcisa. Ao olhar novamente pra ela, Arthur viu que tinha um sorriso de sarcasmo no rosto. — Ele não sabe que mesmo quando era casado, o pai dele continuava procurando por você. Sabe, até certo ponto, é bem legal. Um deles morreu, mas você ainda tem o outro. — Ela deu de ombros  — Você se apaixonou duas vezes praticamente pelo mesmo cara.

Diana deu um passo para mais próximo dela e fez algo inesperado. Ela desceu a mão no rosto de Narcisa, estalando os dedos conta sua maçã do rosto, deixando o local imediatamente vermelho.

Porém Narcisa não revidou, na verdade ela deu um sorriso doentio e abanou a mão no ar. Arthur não tardou a perceber que não havia mais um vidro que o separasse delas. E Diana também não tardou a notar a presença dele, e seu rosto exibia perplexidade.

Arthur não a cumprimentou, somente fixou seu olhar por um segundo, esperando que ela negasse o que Narcisa havia dito, no entanto ela não fez isso. Sendo assim, simplesmente atravessou a sala, pegou seu casaco, que havia deixado pendurado na noite anterior, e saiu batendo a porta com força atrás de si.

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