12. Espelho, Espelho Meu (p.3)
Chloé estava sentada na cozinha, e havia acabado de beber uma espécie de poção calmante que Diana havia trazido para ela. Isso, claro, depois de muita discussão e insistência. Não que Lívia achasse que estava fazendo algum efeito, já que ela ainda parecia estar nervosa.
Mas não podia culpa-la, até Lívia já estava aflita, o que a fazia sentir uma sensação estranha em seu estômago. Diana também não estava em seu estado normal, já que esteve de pé desde a manhã até a tarde. As vezes tentando se manter ocupada, as vezes andando de um lado pra outro, mas claramente conturbada.
Porém nada se comparava ao estado de nervos de Chloé, que não parava de tentar ligar para o irmão, e que já estava planejando procurar alguém que pudesse ajudá-la a encontrar ele. Mas Diana a impedia, e dizia que deveria esperar um pouco mais, que Arthur logo estaria de volta.
No entanto as horas passaram e passaram, e nem um sinal do garoto.
Até o momento em que o celular de Diana tocou, e era uma ligação dele que era exibida na tela. A feiticeira se apressou em atender enquanto Lívia e Chloé se aproximaram correndo pra saber notícias.
E estavam próximas o suficiente para ver com clareza quando Diana arregalou os olhos e toda a cor se esvaiu de seu rosto. Ela pareceu ter perdido a voz, e após um minuto em total perplexidade, ela engoliu em seco antes de falar.
— O que você fez com ele? Onde Arthur está?
Lívia sentiu seu rosto gelar, e ela e Chloé se entreolharam, compartilhando o mesmo sentimento de preocupação.
***
— Um belo trabalho você fez aqui — Narcisa havia dito ao atravessar o espelho. — Imagino que tenha tentado arrumar um jeito de sair, mas não devia ter perdido seu tempo.
— Ah, mas fazer o que, eu não tinha nada melhor pra fazer, de qualquer forma — respondeu Arthur com ironia.
Ele estava de volta no sofá, e a casa inteira ao seu redor parecia ter sido vítima de um furacão — o que acabava fazendo com que se parecesse com uma extensão do seu quarto. Era quase acolhedor. Quase.
Também, é claro, por algum motivo insano, Arthur pensou que seria legal irritar Narcisa, no entanto, para sua frustração, ela não parecia irritada, mas entretida.
— Falei que podia fazer alguma coisa pra te ocupar.
— Sua proposta não me interessou.
Ela riu e voltou a se sentar na mesma poltrona de mais cedo, colocando os cabelos loiros atrás da orelha enquanto voltava a mexer no celular de Arthur.
— O que vai fazer agora? — ele perguntou.
— Eu vou ligar pra Diana, é claro.
— Não poderia fazer pelo menos isso pelo seu celular? E me devolver o meu também, obviamente.
— Usando o seu vai ser mais convincente. Quando eu terminar, eu te devolvo — ela lhe deu uma piscadela, e ele revirou os olhos.
— A vontade então — disse Arthur de cara feia. Não era como se ela fosse mudar de ideia se ele dissesse que ela não poderia usar seu celular, então era melhor concordar de uma vez.
Mas, como o esperado, ela nem deu atenção ao que ele disse, e em instantes estava com o celular no ouvido, aguardando ansiosa, porém não foi uma longa espera.
— Diana — ela falou com uma delicadeza que o surpreendeu. — Há quanto tempo.
Seu coração bateu mais forte dentro do peito ao se dar conta de que ela iria saber que tinha mentido, que havia fingido ir pra casa com Chloé, mas que na verdade havia saído pra jantar com outra mulher. Engoliu em seco e sentiu seu estômago embrulhar. Ele nem sabia se Diana era ciumenta — imaginava que não fosse –, mas ainda assim, ela deveria ficar irritada.
Mentira tem perna curta. Pensou consigo mesmo, achando de repente que era uma pessoa ruim, e que merecia estar preso ali com uma maluca, no fim das contas.
— Seu garoto está bem — falou Narcisa fazendo uma careta de desgosto, trazendo a atenção dele de volta para ela, e algo na forma como a feiticeira cutucava seu anel no dedo da mão livre, denunciava que ela devia estar nervosa, apesar da constante pose de superioridade. — Cuidei bem dele por você, mas se quiser ele de volta, deveria vir, quem sabe, tomar o chá das cinco comigo. Considerando que faltam quinze minutos, deveria se apressar. Vou te mandar o endereço em uma mensagem. Não se atrase. E ah... — ela sorriu de forma tenra. — Um beijo.
Ela finalizou a ligação e digitou o SMS para Diana, desligando o celular antes de finalmente o devolver ao seu dono, com uma recomendação.
— Mantenha ele desligado até sair da minha casa.
Arthur assentiu e o guardou no bolso da calça, feliz por enfim tê-lo de volta.
— E o que vai acontecer agora? — ele perguntou, ao passo em que ela já se levantava pra sair da sala inversa de volta para a parte normal da casa.
Ela parou se virando para ele.
— Agora você vai esperar e assistir por aqui — disse ela, batendo as unhas compridas no espelho. — Vai nos ver e nos ouvir, mas não vamos ver você. — Ela deu um largo sorriso. — Pense nisso como um camarote, onde vai poder assistir a uma peça dramática, onde você é um dos personagens principais.
***
— Por que você não fala nada?! — bradava uma Chloé impaciente com Diana, que encontrava-se sentada em uma cadeira, com uma expressão atônita no rosto.
— Ela está de volta — foi só o que ela disse.
— Ela quem?
Todavia a feiticeira apenas balançou a cabeça lentamente, fazendo com que Chloé perdesse a paciência de uma vez por todas e começasse a dizer uma série de palavras muito ruins, enquanto seu rosto era colorido por manchas vermelhas. Andava de um lado para o outro sem parar, com as mãos posicionadas rigidamente sobre a cintura.
Lívia se aproximou para tocar ombro dela, ainda que com receio de ser empurrada para longe, porém isso não aconteceu, e apesar do nervosismo, Chloé aceitou e parou de falar, fechando os olhos e erguendo um pouco o queixo enquanto inspirava o ar profundamente.
Depois que Chloé recuperou o controle sobre si mesma, Lívia abaixou-se em frente a Diana.
— Diz o que aconteceu. Quem estava no telefone? Era pra falar sobre Arthur, não era?
Diana balançou a cabeça e respirou profundamente, como se tomasse coragem pra fazer alguma coisa.
— Não importa — ela disse e se levantou. Lívia ficou de pé também. — Vou sair e resolver isso. Fiquem as duas aqui.
E ao dizer isso, desapareceu no ar, com um som baixo como um estalo, sem deixar nenhum vestígio de que estivera ali um segundo antes.
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