Epílogo
Victor Decker:
Vou dizer uma coisa: ser rei não é nada como as pessoas imaginam. Não há glória constante ou descanso em tronos dourados. Na verdade, é bem puxado. Todos os dias, sem falhar, há um novo problema para resolver, principalmente quando se trata das fadas das sombras, que parecem encontrar uma razão para brigar por qualquer coisa. É como se estivessem sempre à beira de uma nova disputa, e adivinhem quem tem que mediar? Isso mesmo, eu. Quando não estou equilibrando o Reino das Sombras e o lado vermelho do País das Maravilhas, estou lidando com feéricos obstinados e suas infinitas rivalidades.
E, claro, vocês devem estar se perguntando: "E o Puck? Onde está ele no meio de tudo isso?" Bem, se eu tivesse que adivinhar... ele está exatamente onde vocês imaginam: fazendo travessuras. Ele sempre encontra tempo para isso, não importa o caos que esteja rolando ao nosso redor. Talvez esteja pregando peças nos guardas do castelo ou plantando ilusões nas cortes só para ver o alvoroço que causa.
Às vezes, eu o vejo ao longe, com aquele sorriso malicioso, e mesmo com tudo que preciso enfrentar, não consigo evitar um sorriso também. Porque, no fim das contas, é assim que ele é — imprevisível, travesso, e... meu alívio em meio ao caos.
No Reino das Fadas, o tempo flui de uma maneira estranha, como se estivesse desconectado da realidade do mundo mortal. Parece que foi ontem que eu era apenas um adolescente, correndo pelo parquinho com meu irmão mais novo, sem nenhuma preocupação além do próximo jogo ou da próxima risada. Mas agora, ao refletir sobre tudo que aconteceu, solto um suspiro, consciente de que no reino mortal, os anos passaram mais rapidamente do que eu consigo imaginar.
Eu posso ainda aparentar ter dezessete anos — minha juventude preservada pelo glamour e pelo poder das sombras que agora fluem em mim. No entanto, há uma diferença que carrego comigo: a sabedoria que vem com o tempo, com as responsabilidades, e com as inúmeras decisões que precisei tomar. Não sou mais o garoto que era antes. Mesmo que meu reflexo não mostre, sou um adulto em espírito, forjado pelas lições que a vida de um monarca me trouxe.
Ao longo desses anos no Reino das Fadas, aprendi muito. Governar não é uma tarefa fácil, e felizmente, não precisei enfrentar essa jornada sozinho. Meghan, com sua paciência e gentileza, esteve ao meu lado desde o início, me ensinando sobre as nuances das cortes feéricas. Ash, com sua frieza estratégica e força, sempre me mostrou como manter a ordem, mesmo nos momentos mais difíceis. E, claro, a Rainha Branca, que com sua sabedoria antiga, me guiou em decisões complicadas, sempre com um conselho afiado e preciso.
Com a ajuda deles, aos poucos, fui entendendo o que significa ser um rei. Não apenas tomar decisões difíceis, mas também equilibrar poder e compaixão, luz e sombra. A estrada até aqui foi longa, e ainda que tenha sido desafiadora, é uma jornada que me moldou.
Depois de algum tempo tentando me concentrar nas responsabilidades e problemas diários, finalmente desisti de tentar manter tudo sob controle. Eu precisava de uma pausa, e havia apenas uma pessoa que poderia me dar isso: Puck. Decidi que era hora de encontrá-lo, seja lá onde ele estivesse se escondendo desta vez.
Saí do salão, meus passos ecoando pelos corredores largos do castelo sombrio. As paredes, feitas de pedra escura e entrelaçadas com vinhas, pareciam sempre imersas em uma penumbra suave, como se o tempo ali estivesse permanentemente suspenso entre o crepúsculo e a noite.
À medida que caminhava, encontrei várias fadas das sombras — de empregados silenciosos a guardas que serviam para me proteger. Seus olhares respeitosos seguiam meus movimentos, e eu acenava casualmente para eles, em um gesto que tinha se tornado parte da rotina. O peso da coroa nunca realmente me permitia ser completamente informal, mas tentava manter uma relação próxima com os que estavam sempre ao meu redor.
— Alguém viu Puck? — perguntei repetidamente, enquanto passava por eles. As respostas variavam, de encolher de ombros educados a sorrisos discretos. Todos sabiam que Puck era imprevisível, difícil de localizar quando queria se esconder, mas isso não me impedia de tentar.
À medida que me movia pelos corredores, podia sentir uma leve excitação crescente em meu peito. Sempre havia algo de estimulante em encontrar Puck. Ele trazia um tipo de caos que, por mais desafiador, também me dava a sensação de liberdade que tanto faltava em meu cotidiano como rei. E, no fundo, eu sabia que, por mais travesso que fosse, ele sempre estaria por perto quando eu precisasse.
— Vossa alteza! — uma voz ansiosa chamou, cortando meus devaneios. Olhei para frente e vi um gnomo correndo em minha direção, seu rosto cheio de urgência enquanto ofegava ao tentar me alcançar. — O lorde Puck está lá fora, lutando com um javali gigante!
Meu coração disparou instantaneamente. Claro que Puck estaria envolvido em algo assim, sempre atraindo o caos.
— Leve-me até ele! — ordenei, sem hesitação. O gnomo assentiu rapidamente, virando-se e disparando na direção da saída. Eu o segui de perto, meus passos rápidos ecoando pelos corredores sombrios.
Quando finalmente saímos para o lado de fora, a cena que me esperava era exatamente o tipo de confusão que eu esperaria de Puck. Lá estava ele, no meio de uma clareira, com os cabelos ruivos completamente bagunçados, as roupas rasgadas e sujas de terra, e aquele sorriso travesso estampado em seu rosto. Diante dele, um enorme javali negro, suas presas afiadas brilhando à luz do dia, bufava com raiva, suas patas cavando o solo enquanto se preparava para atacar novamente.
Puck, no entanto, parecia se divertir como se aquilo fosse apenas um jogo. Seus olhos brilhavam de excitação, e ele se movia com a leveza de uma brisa, esquivando-se dos ataques do javali com uma agilidade que parecia quase sobrenatural. A cada movimento, ele deixava escapar uma risada provocadora, desafiando a fera.
— Você não pode estar falando sério, Puck! — gritei, meio incrédulo, enquanto me aproximava, sentindo a mistura de preocupação e admiração crescer dentro de mim.
Ele lançou um olhar para mim, ainda com aquele sorriso travesso, como se tudo aquilo não fosse nada além de uma grande brincadeira.
— Ah, Victor! — respondeu ele, com uma risada alegre. — Você chegou bem na hora! Quer se juntar à diversão?
Eu só conseguia balançar a cabeça, dividido entre a preocupação com a situação e o fato de que, mesmo em meio ao caos, Puck sempre conseguia fazer meu coração se aquecer.
— Vou matar ele — murmurei, minha paciência se esgotando rapidamente. — Já disse mil vezes para não mexer com os animais da floresta. Eles odeiam ser incomodados abertamente! — Minha voz saiu carregada de frustração, a raiva crescendo a cada segundo.
Eu podia sentir o calor em meu rosto, o estresse de todas as responsabilidades agora transbordando por causa da teimosia de Puck. Ele sabia melhor do que ninguém o quão irritados os animais da floresta ficavam quando provocados, e mesmo assim, aqui estava ele, se divertindo como se fosse uma simples brincadeira.
O javali negro bufou furiosamente, claramente cansado das travessuras de Puck, enquanto ele, por outro lado, não parecia minimamente preocupado. Seus olhos brilhavam, e aquele sorriso malicioso que eu conhecia tão bem ainda estava estampado em seu rosto. Puck era um mestre da provocação, mas dessa vez ele havia cruzado a linha.
Eu me aproximei, determinado a intervir, o coração pulsando com uma mistura de preocupação e irritação.
Então, com um movimento rápido e preciso, Puck lançou uma bolota na direção do javali negro. O impacto foi suficiente para assustar o animal, que soltou um grunhido furioso antes de correr para longe, desaparecendo nas profundezas da floresta.
Eu o observei, surpreso e ainda cheio de raiva, enquanto Puck virava-se para mim, seu sorriso largo e cheio de travessura iluminando seu rosto como se ele tivesse acabado de ganhar um jogo.
— Eu já disse para não fazer algo desse gênero! — falei, a raiva ainda evidente em minha voz. Mas antes que eu pudesse continuar a repreendê-lo, percebi que Puck havia se agachado na grama, examinando algo em sua mão.
Curioso e ainda frustrado, dei um passo à frente, olhando para o objeto que ele segurava. Era um anel, antigo e reluzente, claramente mágico. Meus olhos se estreitaram, enquanto minha mente tentava processar o que estava acontecendo.
— Eu fiz isso porque o canalha havia me roubado — Puck disse, com o tom despreocupado de sempre, mas seus olhos mostravam uma certa seriedade que raramente vi.
Pisquei, surpreso pela revelação, e de repente, a situação parecia fazer um pouco mais de sentido. O javali, aparentemente um ladrão improvável, havia roubado o anel de Puck, e ele, em sua maneira típica e caótica, decidiu resolver o problema sozinho.
— E você achou que brigar com um javali gigante era a melhor solução? — perguntei, cruzando os braços, tentando manter a irritação, mas sentindo um traço de diversão surgindo dentro de mim.
Puck apenas sorriu, aquele sorriso travesso que sempre me desarmava, e balançou o anel em sua mão.
— Funcionou, não funcionou? — respondeu ele, provocando, com uma piscadela.
Eu balancei a cabeça, incapaz de conter um pequeno sorriso. Mesmo com todas as travessuras, era impossível ficar bravo com ele por muito tempo.
Puck então se levantou, e, com aquele sorriso imenso e travesso que eu conhecia tão bem, estendeu a mão na minha direção. Nela, repousava o anel reluzente, seu brilho mágico refletindo a luz suave que permeava o ambiente ao nosso redor. Por um momento, o tempo pareceu desacelerar, e tudo ao redor se silenciou.
— É um anel de casamento para você — ele disse, sua voz carregada com uma leveza que contrastava com a intensidade do gesto.
Fiquei paralisado. Meu coração disparou, e por um instante, senti como se o mundo tivesse parado completamente. O sorriso de Puck era grande, cheio de alegria genuína, e os olhos dele brilhavam com uma mistura de humor e... algo mais profundo. Ele não estava brincando.
— O quê...? — Minha voz falhou momentaneamente, surpresa demais para reagir de forma coerente. Eu encarei o anel, tentando entender se aquilo era mais uma de suas travessuras ou se... não, ele estava sério. Puck, o mestre das brincadeiras e pegadinhas, estava ali, me oferecendo um anel de casamento.
Ele inclinou a cabeça, observando minha reação, mas o sorriso travesso nunca deixou seus lábios.
— Vamos lá, Victor — ele disse, com aquele tom brincalhão. — Você já enfrentou criaturas das sombras, salvou reinos e desafiou o próprio destino. Vai me dizer que um simples anel te deixou sem palavras?
Eu ri, sem conseguir evitar. Meu coração ainda batia acelerado, mas, no fundo, eu sabia que nada naquele momento era uma piada. Puck, à sua maneira caótica e imprevisível, estava me oferecendo algo muito maior do que qualquer travessura. Ele estava oferecendo sua vida, seu compromisso, e, de alguma forma, isso parecia a coisa mais natural do mundo.
— Você realmente sabe como me surpreender, não é? — perguntei, sorrindo enquanto pegava o anel da mão dele.
Puck deu de ombros, com uma piscadela divertida.
— O que posso dizer? Eu sou cheio de surpresas.
Eu o olhei por um momento, sentindo o peso do momento. Então, sem hesitar mais, coloquei o anel no dedo, sentindo o calor mágico que ele emitia, como se selasse algo além das palavras.
— Acho que acabei de dizer sim — murmurei, e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Puck me puxou para um beijo rápido, o sorriso dele ainda presente, como sempre.
O beijo foi rápido, mas cheio de significado. Puck se afastou com aquele sorriso travesso que me conquistava todas as vezes, seus olhos brilhando com uma mistura de brincadeira e sinceridade. O mundo ao nosso redor parecia vibrar, como se a magia do momento tivesse ecoado por toda a terra.
Eu olhei para o anel em meu dedo, sentindo a leve pulsação de poder que ele emitia, algo antigo e indomável, muito parecido com Puck. Era mais do que um simples anel, mais do que um gesto de união. Era uma promessa, um laço que transcenderia os reinos, o tempo, e qualquer caos que pudesse surgir.
— Então, somos oficialmente... — Puck começou, com um brilho de malícia nos olhos, já pronto para algum comentário irreverente.
— Sim, oficialmente noivos, senhor das travessuras — completei, antes que ele pudesse soltar alguma piada. — Espero que esteja preparado para o que vem agora.
Ele deu um passo para trás, fingindo surpresa exagerada.
— Eu? Preparado? Victor, você sabe que a diversão só começa agora! — Ele riu, jogando os braços para o alto, como se estivesse saudando a aventura que ainda estava por vir.
Eu não pude evitar sorrir. Sabia que a vida ao lado de Puck nunca seria tranquila. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não queria nada diferente. Governar dois reinos, equilibrar luz e sombra, manter a paz entre feéricos e humanos, tudo isso seria desafiador, mas com Puck ao meu lado, de alguma forma, tudo parecia possível.
Ele se aproximou novamente, seu sorriso suavizando um pouco, e colocou a mão no meu ombro.
— Nós dois, juntos — ele disse, agora com um tom mais sério, quase reverente. — Podemos fazer isso. Podemos governar esses reinos, nos divertir, e, acima de tudo, estar um com o outro.
Eu assenti, sentindo o peso e a leveza de suas palavras ao mesmo tempo. Puck tinha razão. Juntos, poderíamos enfrentar qualquer coisa.
— Juntos, sim. — Respondi, olhando nos olhos dele. E naquele momento, senti a certeza de que, por mais caótica que nossa vida fosse, nós sempre encontraríamos o equilíbrio, entre o caos e a ordem, entre o riso e a seriedade, entre o amor e o poder.
O futuro poderia ser incerto, mas uma coisa era clara: nós estávamos prontos para enfrentá-lo, lado a lado.
Puck, como sempre, terminou o momento com uma piscadela e uma leve risada, seu jeito descontraído e irreverente permanecendo. E, juntos, deixamos o campo, prontos para enfrentar qualquer desafio que os reinos nos trouxessem, sabendo que, no final, estávamos exatamente onde deveríamos estar.
E assim, começava nosso novo capítulo, não apenas como reis de dois mundos, mas como parceiros para a eternidade.
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Desde que assumi o trono como rei das sombras e do lado vermelho do País das Maravilhas, minha vida se tornou uma teia intricada de responsabilidades. Os dias passaram rápido, como um sonho, e o tempo que costumava dedicar à minha família se tornou uma lembrança distante. Não os via há muito, e isso pesava em meu coração. Embora eu ainda aparentasse ter 17 anos, os fardos de um rei me envelheceram por dentro.
Ouvi rumores de que Morgana, minha irmã, estava por perto, vagando pelos arredores do reino. Mas, por algum motivo, ela não havia se aproximado. Talvez, como eu, ela não soubesse exatamente como retomar o contato depois de tanto tempo afastados. Havia uma barreira invisível entre nós, construída pelo tempo e pela distância, e eu sabia que, em algum momento, precisaria enfrentá-la.
E havia algo mais que me inquietava: o casamento com Puck. Eu precisava contar à minha família sobre isso. Era algo que eu desejava compartilhar com eles, mas, depois de tanto tempo sem vê-los, como seria recebida essa notícia? Como seria dizer a eles que não só me tornei o rei de dois reinos, mas também que encontrei um parceiro? Eu sabia que, em breve, essa conversa precisaria acontecer. Não poderia evitar para sempre.
Suspirei, olhando para o horizonte. As sombras ao meu redor sussurravam, como sempre, mas dessa vez, não me traziam a paz que normalmente sentia. Ao contrário, me lembravam das coisas inacabadas, das conversas adiadas.
— Acho que está na hora de uma longa conversa — murmurei para mim mesmo, decidido a enfrentar o que viria, por mais estranho ou difícil que fosse.
No fundo, eu sabia que minha família merecia saber a verdade. Mereciam conhecer o homem que me tornei, o rei que me tornei, e, principalmente, o parceiro que escolhi para caminhar ao meu lado.
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Fim
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