Capítulo Sete
Victor Decker:
Qualquer guia de turismo em Nova Orleans que mereça seu crachá enfatizaria a importância de evitar passeios solitários pelas ruas da cidade durante a noite. No epicentro do Quarteirão Francês, onde a luminosidade dos postes e a presença turística prevaleciam, a segurança era relativamente garantida. Contudo, nos arredores do distrito, becos sombrios abrigavam bandidos, gangues e predadores noturnos.
Blue e Caroline apertaram suas bolsas enquanto passávamos por uma casa, sentindo o peso do olhar de algumas pessoas que nos observavam. Mark, Bruno, Pauline e Puck enfrentaram-nas com olhares desafiadores por alguns instantes, desafiando-as a se aproximarem e testemunharem as consequências.
A atmosfera noturna carregava um suspense palpável, e o grupo se manteve alerta enquanto avançávamos pelas ruas menos iluminadas. À medida que nos afastávamos do Quarteirão Francês, o murmúrio distante de conversas e risos turísticos dava lugar a uma calma tensa.
Os becos estreitos pareciam esconder segredos sombrios, e Blue e Caroline trocavam olhares cautelosos, prontos para reagir a qualquer sinal de perigo. As casas, agora mergulhadas na penumbra, lançavam sombras sinistras que ampliavam a sensação de desconforto.
Enquanto continuávamos nossa jornada, a rua ficou mais deserta, e a presença de outros transeuntes diminuiu. Uma sensação de isolamento se instalou, ecoando nas paredes desgastadas dos prédios. Mark, Bruno, Pauline e Puck mantinham-se firmes, transmitindo uma presença que desafiava qualquer potencial ameaça.
Cautelosos, seguimos adiante, conscientes de que, mesmo em uma cidade tão vibrante como Nova Orleans, a noite revelava um lado mais sombrio que exigia respeito e precaução.
No meu caso, a preocupação não residia nos predadores humanos, pois nossa presença parecia obscurecida pelo esplendor que a magia derramava sobre nós. Minha energia mágica pulsava dentro do peito, e a aura de glamour nos envolvia de maneira perfeita, tornando-nos praticamente invisíveis aos olhos mundanos. Exceto por um sem-teto de cabelos dourados, que encolheu-se de medo contra uma parede, entoando "Aqui não, aqui não" enquanto passávamos.
Contudo, a escuridão não apenas ocultava a visão humana; revelava também criaturas fantásticas, como um phouka com cabeça de cabra observando-nos de um beco do outro lado da rua, sorrindo de forma enlouquecida. Além disso, uma gangue de barretes vermelhos nos seguiu por vários bairros, até que ergui a espada e as sombras obedeceram instantaneamente, atacando-os e forçando-os a fugir em segundos.
Nova Orleans mostrava-se como uma cidade feérica, onde mistério, imaginação e tradições antigas se entrelaçavam de maneira perfeita. Este local atraía dezenas de feéricos exilados, criando uma atmosfera única e encantadora.
Adentrávamos ainda mais os becos do Quarteirão Francês, avançando com determinação em direção ao nosso objetivo. No entanto, na entrada de um beco estreito, a gangue de barretes vermelhos, que eu pensava ter desistido, surgiu novamente, obstruindo nossa saída. Eram anões baixos e robustos, de chapéus vermelhos ensanguentados, olhos e presas mandibulares brilhando na escuridão.
— Estou cansado disso — declarei, virando-me lentamente e inundando o beco com a cintilante luz do meu poder. Apertei os punhos, extraindo glamour do ar, absorvendo a raiva, apreensão e a promessa de violência. Enquanto canalizava o glamour, senti náusea e tontura, lutando para permanecer firme sobre meus pés.
Por um momento, o beco ficou em silêncio, e então as sombras avançaram contra os Barretos, prendendo-os em espinhos no chão em questão de segundos. O poder das sombras era minha resposta, e a gangue percebeu que a resistência era inútil diante da magia que eu comandava.
Com os barretes vermelhos imobilizados pelos espinhos sombrios, o beco mergulhou em um silêncio tenso. Seus olhares de surpresa e impotência refletiam a compreensão de que enfrentavam algo além do seu domínio.
— Aconselho que reconsiderem suas escolhas — proferi, minha voz carregada de autoridade mágica. O brilho intenso ao redor de mim diminuiu, mas a aura de poder permanecia.
Os Barretos, agora reavaliando sua posição, lançaram olhares nervosos entre si. Sem uma palavra, decidiram recuar, afastando-se cautelosamente dos espinhos que os mantinham presos.
— Sigam seu caminho e lembrem-se deste encontro — adverti, permitindo que as sombras se dissipassem e libertassem os barretes vermelhos que choramingando no chão. — Sumam da minha frente.
Os barretes vermelhos, libertos dos espinhos sombrios, saíram correndo apressadamente.
— Victor, como sabiam que estavam nos seguindo? — indagou Mark.
— As sombras sussurram — respondi, sentindo a náusea se dissipar enquanto Puck me oferecia suporte. As forças mágicas ao meu redor se aquietaram, mas me senti cansado. — Estou bem.
Ouvi uma batida de palmas e olhei para uma porta e era uma mulher de estatura miúda, com a pele de um verde exuberante e cabelos formados por ramos de flores entrelaçados.
Ela nos fitou com seus grandes olhos negros, uma aura de deboches pairando ao seu redor.
— Impressionante. — O oráculo de Nova Orleans me filtrou. — Você está mais poderoso desde a última vez que te vi, há um ano.
Sorri e me coloquei de pé novamente, com Puck me apoiando.
— Preciso da sua ajuda, e não quero nada em troca, muito menos dar uma das minhas memórias. — Falei. Então, ela ia retrucar, e notei que ele estava se desfazendo. — Sabe que somos os únicos que podem te ajudar a não se desfazer.
A oráculo piscou os olhos, como se estivesse processando a informação, e então seu olhar tornou-se mais sério. Ela franziu a testa enquanto seus contornos pareciam oscilar.
— Vocês, mortais, têm uma audácia surpreendente ao pensar que podem me oferecer algo que eu ainda não possuo. — A voz dela ecoou como um sussurro etéreo.
Puck apertou minha mão, transmitindo confiança, enquanto eu mantinha o olhar firme na oráculo.
— Não estamos subestimando sua sabedoria, apenas reconhecendo sua necessidade de algo único que podemos fornecer. — Expliquei, escolhendo minhas palavras com cuidado.
Ela parecia intrigada, mas ainda desconfiada.
— O que vocês querem em troca, então? — Perguntou, sua forma continuando a se desvanecer como sombras ao vento.
— Nada além da sua orientação e assistência para enfrentar uma ameaça iminente que afeta não só nós, mas também o equilíbrio do mundo sobrenatural. — Respondi, mantendo meu tom resoluto.
A oráculo ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse a proposta. Então, sua presença tornou-se mais sólida novamente, e ela assentiu lentamente.
— Vocês têm coragem e propósito. Aceito a oferta de vocês. — Afirmou, sua voz ecoando com uma mistura de aceitação e mistério.
Puck e eu trocamos olhares de alívio.
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Adentramos a sinistra morada da Oráculo e deparei-me com um lugar verdadeiramente aterrorizante, imerso na escuridão profunda, ainda pior do que da última vez que estive aqui, há um ano. Vi até um rato costurado com asas, um detalhe macabro que só intensificava a atmosfera sombria do local. Logo à esquerda, um sofá vermelho jazia em ruínas, sua estrutura destroçada e a cabeceira adjacente exibia partes faltantes. Um espelho estilhaçado refletia minha figura distorcida, e notei que parte do glamour sobre mim se desfazia lentamente, assim como o de Puck, Carolien.
Caroline, Bruno e Mark resmungaram algo quando uma barata passou voando, sendo capturada por algo no teto que a devorou. Pauline, Blue, Puck e eu éramos os únicos que permanecíamos completamente calmos.
Na verdade, após tudo que passei no último ano, este lugar não me causava grande impacto. Puck, como feérico antigo, já havia testemunhado muitas coisas, e Pauline, com suas visões, conhecia a natureza assustadora do reino feérico. Blue também comentava que lugares assim eram semelhantes à decoração usada pela sua família.
— Sigam-me, por favor — a mulher declarou com um sorriso enigmático após fechar a pesada porta. Puck me lançou um olhar, e eu assenti, seguindo-a naquele lugar sombrio.
Ela nos conduziu a outra sala, onde uma mesa redonda repousava sob um pano vermelho, com diversas cadeiras ao redor. A mulher se acomodou sobre a mesa, fazendo gestos convidativos para que nós dois nos sentássemos em uma das cadeiras. Sentamo-nos, com Puck ao meu lado, que segurou minha mão discretamente por baixo da mesa. O restante do pessoal ficou em pé enquanto a Oráculo me lançou um olhar calmo, um sorriso cético surgindo em seus lábios.
— Então, o que deseja saber? — A Oráculo perguntou. — Como uma situação diferente, irei dar algo de graça.
— Desejo saber sobre a profecia do anjo das sombras — falei. — Como encontrar uma porta para o meio do nada.
A Oráculo inclinou a cabeça, considerando minha pergunta. Seus olhos brilhavam com uma sabedoria ancestral enquanto mergulhava em suas visões.
— O Anjo das Sombras está destinado a trilhar o início de tudo, quando os mundos dos feericos clamarem por seu fim. Em seu poder, repousará a decisão crucial de preservar ou extinguir, o fim ou o recomeço. Como a criança detentora da magia de todas as cortes, ele personifica o equilíbrio entre as duas partes outrora separadas. Aquele que se opuser a ele enfrentará a sua própria ruína. — Olhou para mim. — Em relação ao caminho do meio do nada...A porta para o meio do nada está em um caminho que um sabe e a verdade vai revelar — Ela pausou, examinando meu rosto em busca de qualquer sinal de compreensão. — Para encontrá-la, você deve seguir o caminho dos suspiros do vento e buscar a árvore de ébano no limiar entre o crepúsculo e a aurora. Lá, sob a sombra das folhas imortais, a porta se revelará a quem tem a coragem de enfrentar o desconhecido e disposto a sacrificar uma parte de si-mesma — Ela falou com uma eloquência que ecoava mistério.
A sala pareceu se encher de um silêncio pesado enquanto eu absorvia as palavras da Oráculo. Puck apertou minha mão, transmitindo confiança. Eu sabia que o caminho à frente seria repleto de desafios, mas a busca pela verdade por trás da profecia do anjo das sombras nos guiaria para além dos limites do conhecido.
Ela tossiu e caiu sentada na cadeira novamente. Sua mão tremia, e percebi que ela se desfez em pequenos brilhos.
— Criança, já fiz a minha parte, agora saiam da minha casa e encontrem algo para impedir que morram — A Oráculo disse rispidamente.
Olhei para um canto e avistei uma adaga, pegando o objeto sob o olhar atento da Oráculo sobre mim. Virei-me na sua direção e joguei a adaga para Puck.
— Ei, isso é meu — A Oráculo disse. — Fizemos uma troca justa.
— Esse será o nosso pagamento por te ajudar — respondi, notando que os olhos dela brilharam perigosamente.
Ela sorriu de forma cética para mim.
— Devo dizer que está ficando igualzinho aos feéricos — ela disse. — Arrogante e cético. Isso será seu fim.
Me aproximei.
— Querida, depois de tudo que passei, estou no meu direito de ser desse jeito — respondi.
Virei-me e saímos do lugar.
— Vamos ver até onde essa arrogância irá te levar — a Oráculo disse atrás de mim.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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