Capítulo Dezessete
Victor Decker:
Eu estava paralisado de horror, meu corpo tremendo enquanto meus olhos buscavam o ponto de origem daquela explosão vermelha. Sabia, no fundo, o que — ou quem — poderia ser responsável por aquilo. O vazio da perda de Puck e dos outros pesava como uma âncora no meu peito, mas logo esse vazio foi substituído por algo mais feroz, algo mais primal.
Raiva.
Ela inundou minha mente, queimando com uma intensidade que nunca havia sentido antes. Meu sangue fervia, minhas mãos se apertaram ao redor do cabo da espada, e em um instante, minhas asas se abriram, surgindo com um impulso violento. Eu não podia deixar isso impune.
— Meghan, Ash, Branca! — gritei, minha voz vibrando com a força da minha fúria. — Tirem quem sobreviveu daqui, agora!
Não esperei por uma resposta. Já estava voando, batendo as asas com tudo que tinha, rasgando o céu partido, rompendo as correntes de magia e sombras que tentavam me segurar. O ar ao meu redor tremia com a violência de meus movimentos, cada batida das asas me impulsionando mais rápido, mais alto. Eu iria descobrir quem fez isso.
Eu atravessava o céu como uma flecha disparada, deixando para trás os destroços do que antes fora um campo de batalha, o som do vento cortando ao meu redor. A dor pela perda de Puck ainda estava ali, dilacerante e crua, mas a raiva a transformava em combustível. Eu não pararia até encontrar a fonte dessa destruição.
Quando atingi o limite entre os reinos, o ar parecia mais denso, quase sufocante. O Reino das Sombras estava à minha frente, como uma muralha de trevas vivas, pulsando e se contorcendo, mas isso não me deteria. Eu não hesitei, avancei com uma força avassaladora e atravessei as barreiras de sombras, rompendo o limiar como se fosse feito de vidro.
O Reino das Sombras, que antes parecia impenetrável, estava desmoronando. As estruturas sombrias que dominavam o horizonte estavam rachando, a escuridão em si parecia descontrolada, como se algo maior do que qualquer um de nós estivesse consumindo tudo. Mas eu não me importava. Havia um nome em minha mente, uma presença que sabia que encontraria no coração daquele caos.
Minhas asas me carregaram direto para o centro do reino, onde a explosão vermelha havia começado. A cada batida, a raiva crescia dentro de mim, alimentada pela visão da destruição ao meu redor, pela memória dos rostos que haviam desaparecido. Eu encontraria quem fez isso. E faria pagar.
O céu acima ainda se retorcia, mas eu já havia cruzado todas as barreiras, o medo agora transformado em pura determinação. Minha espada cintilava com o brilho da minha fúria, pronta para o confronto.
No centro daquela escuridão, uma figura esperava.
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A figura à minha frente emergiu da escuridão como uma sombra viva, mas eu a reconheci imediatamente. Vermelha. Seu vestido, rodopiando como se tivesse vida própria, dançava em meio àquele caos, enquanto ela ria como uma maníaca. Havia algo de perturbador em seu sorriso, algo profundamente errado, como se ela estivesse se deliciando com a destruição ao seu redor. Cada movimento seu era como um espetáculo perverso, uma demonstração de poder que ela mal podia conter.
— Vermelha — falei, minha voz saindo como um rosnado de pura raiva. — O que você fez?
Ela parou de rir por um breve momento, apenas para me lançar um olhar de triunfo, seus olhos brilhando com uma loucura que eu nunca tinha visto antes. O sorriso em seus lábios se alargou de maneira sinistra, e ela deu um passo à frente, cada gesto carregado de uma confiança perturbadora. O caos ao nosso redor parecia alimentá-la, como se o próprio colapso do Reino das Sombras fosse parte de seu plano.
— Simples — ela respondeu, com a voz escorrendo veneno e prazer. — Usei o feitiço que Conrad me ajudou a preparar e... transferi tudo para mim. — Seu sorriso se expandiu ainda mais, como se as palavras fossem doces em sua boca.
Tudo para ela. As palavras ressoaram em minha mente, e o horror do que ela havia feito começou a se solidificar. Ela não apenas causou a destruição — ela havia absorvido todo o poder de Conrad e do Reino das Sombras e das outras cortes. Era como se ela tivesse engolido a própria essência do lugar, transformando-se em algo ainda mais perigoso, mais poderoso do que qualquer coisa que eu pudesse ter imaginado.
Minha raiva explodiu.
— Você destruiu tudo — gritei, minha voz cheia de uma fúria tão crua que quase me sufocava. — Você matou todos!
Ela deu de ombros, o sorriso nunca saindo de seus lábios.
— Matar? — Ela riu, um som agudo e distorcido. — Eles eram apenas ferramentas. Úteis, sim, mas descartáveis. Eu fiz o que tinha que ser feito para garantir minha ascensão. Agora, eu sou o poder das sombras, e tudo o que existia aqui pertence a mim.
Cada palavra dela era como uma lâmina cortante, perfurando meu controle. O chão abaixo de nós tremia, e a escuridão ao redor parecia se contorcer em resposta à raiva crescente dentro de mim. Eu não podia permitir que isso continuasse. Vermelha havia absorvido o poder de um reino inteiro, e ela se tornara uma ameaça além de qualquer coisa que já enfrentei.
— Você não ficará com isso — murmurei, apertando minha espada com mais força. — Eu vou te parar.
Ela riu novamente, desta vez um som mais profundo, mais sombrio.
— Me parar? — Vermelha deu mais um passo à frente, a escuridão ao seu redor pulsando como se estivesse viva. — Oh, querido... você mal começou a entender o que eu me tornei. Quer tentar? — Ela levantou as mãos, e o ar ao redor se distorceu, tremendo sob o peso de sua magia. — Então venha! Vamos ver o que você consegue fazer contra o verdadeiro poder das sombras.
Meu sangue fervia. Eu não tinha escolha. Ela tinha que ser detida, custasse o que custasse. As lembranças de Puck, de Caleb, de todos que haviam desaparecido... tudo isso agora me impulsionava para frente. Eu não lutaria apenas por mim. Lutaria por eles. Lutaria para impedir que ela levasse o mundo à ruína.
Com um grito de guerra, bati minhas asas e avancei, minha espada brilhando com um poder que mal conseguia conter. Vermelha teria o que merecia.
Antes que eu pudesse alcançá-la, Vermelha ergueu a mão com um movimento suave, quase preguiçoso, e num instante fui atingido por uma onda de magia. Era como ser atropelado por um muro invisível.
Senti meu corpo ser lançado para trás com uma força esmagadora, o impacto me arrancando o ar dos pulmões enquanto voava pelo campo de destruição. Meu corpo se chocou contra o chão com brutalidade, o chão duro rasgando minhas asas, o gosto metálico de sangue invadindo minha boca.
Por um momento, o mundo ao meu redor girou. Minha cabeça latejava, e a dor irradiava por cada nervo do meu corpo. O céu acima estava ainda mais distorcido, como se o próprio tecido da realidade estivesse desmoronando.
Com dificuldade, me apoiei nas mãos, lutando para me levantar. Meu corpo tremia, mas a raiva queimava com mais força que a dor. Eu sabia que Vermelha era poderosa — mas sentir aquela força de perto era aterrorizante. Ela não era mais apenas uma mulher manipulando sombras; ela havia se tornado uma tempestade de poder puro, e cada gesto seu reverberava com uma magia que parecia capaz de destruir tudo à sua volta.
A voz dela ecoou pelo campo, fria e carregada de sarcasmo.
— É só isso? — ela perguntou, os olhos brilhando com uma luz cruel. — Sério? Eu esperava mais de você. Conrad te temia, sabia? Ele achava que você era um desafio. — Ela riu, um som cortante e desdenhoso. — Mas, honestamente... você está me decepcionando.
A raiva me envolveu novamente, ainda mais intensa agora. Não importava o quanto ela fosse forte. Eu não podia — não iria — desistir. O destino de tudo estava em jogo, e eu não poderia deixá-la ganhar.
Com um grito de pura fúria, levantei-me de novo, sentindo minhas asas se curvarem com a dor, mas ainda prontas para o combate. Eu não iria ceder.
— Você vai me subestimar até o fim, Vermelha — gritei de volta, o eco de minha voz ressoando no caos ao nosso redor. — Mas é você que está cometendo o maior erro.
O sorriso de Vermelha se alargou, perverso e cheio de uma satisfação sádica. Sua mão, brilhando com um glamour intenso, fechou-se lentamente, e eu senti o chão abaixo de mim começar a se transformar. **As sombras ganharam vida**, serpenteando ao redor das minhas pernas e subindo pelo meu corpo, me puxando com uma força implacável. Minhas asas se prenderam ao solo, esmagadas contra a terra, e cada tentativa de movê-las era uma dor aguda e sufocante.
Eu me debatia, tentando me libertar, mas a força das sombras era maior, implacável, como uma mão invisível me arrastando para um abismo sem fim. O ar ao meu redor parecia se esgotar, cada respiração um esforço árduo, cada batida do meu coração um lembrete de que o tempo estava acabando.
Vermelha me observava com um olhar vitorioso, seu sorriso maníaco nunca se desfazendo. Ela sabia que tinha o controle.
— Não posso perder meu tempo lutando com você agora — ela disse, sua voz escorrendo com um tom de desdém. — Tenho um reino para controlar e outro para dominar.
Seus olhos brilharam com uma ambição crua, e a cada palavra, eu sentia o chão me puxar mais fundo.
— Ainda tenho que mostrar aos mortais que o Reino das Sombras existe... e que uma rainha benevolente o governa.
Ela soltou uma risada diabólica que ecoou pelo ar, rasgando a tranquilidade que uma vez existiu. Meu corpo estava afundando completamente nas sombras, o peso esmagador da escuridão me envolvia, sufocante e fria, engolindo tudo ao meu redor.
Eu lutei. Eu tentei resistir. Mas não adiantava. As sombras eram implacáveis, e quanto mais me debatia, mais elas me consumiam, me arrastando para o fundo de uma escuridão inescapável.
Com um último suspiro, fechei os olhos, sentindo meu corpo ser completamente engolido pelo abismo. Eu estava afundando, e o mundo ao meu redor desaparecia em silêncio.
Tudo se foi.
E então, apenas o vazio.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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