Capítulo Vinte e Um - 3°parte
Victor Decker:
Após trancar-me no banheiro, deixei que a água quente do chuveiro lavasse o sangue que ainda grudava em minha pele. Ao sair do banho, enrolei uma toalha em volta da cintura e, finalmente, retornei ao meu quarto. Vasculhei o guarda-roupa em busca de qualquer roupa disponível e acabei vestindo um antigo moletom.
Encontrei minha família na sala, todos conversando ansiosamente. Zack estava dormindo no colo da minha mãe, e percebi que o glamour que o envolvia tinha desaparecido completamente. Meu coração se apertou ao lembrar dos segredos que havia descoberto em meus sonhos, segredos que envolviam Morfeu e Mirna, mas, acima de tudo, a Rainha Vermelha.
— Onde está Caleb? — perguntei, enquanto me aproximava.
Brian moveu-se para o lado, com uma expressão séria no rosto. Caleb estava encurvado contra a parede em um canto, sua cabeça baixa e uma das mãos cobrindo suas costelas. Seus olhos estavam abertos, mas vazios, fixos no chão como se estivessem olhando para o vazio.
Bond, nosso fiel companheiro de quatro patas, aproximou-se lentamente e olhou para mim com olhos suplicantes. Fiz carinho em sua cabeça, e ele parecia apreciar o gesto, sua cauda balançando de leve.
— Parece que ele está se afogando em autopiedade — Mark disse, revirando os olhos com desdém. — Por que ele se preocupa mais com você do que consigo mesmo?
— Mark, por favor — Blue interveio, cobrindo a boca do namorado.
— Blue, não adianta protegê-lo — Mark continuou. — Primeiro, ele desapareceu sem deixar rastros. Depois, o encontramos naquele clube e ele sumiu novamente sem dizer nada. E agora ele está aqui, parecendo um guerreiro de outro mundo que salvou sua família e amigos indefesos.
— Vamos deixá-lo explicar antes de julgarmos — Brian disse, surpreendentemente agindo com sensatez e me defendendo.
Encarei todos calmamente.
— Acho melhor explicar tudo de uma vez, mas vou ser breve — comecei a falar, mas meu pai me interrompeu.
— O que você quer dizer com "ser breve"? — ele perguntou, usando todo o autocontrole que conseguia reunir. — Victor, o que fizeram com você? Volte para casa e esqueça essas coisas.
Invocando a magia, permiti que o glamour que me envolvia se dissipasse, revelando minha verdadeira identidade para todos ali. Manipular o glamour que me ocultava não foi difícil, tudo aconteceu de forma tão natural que me questionei como poderia ter imaginado que seria um desafio. Os olhos de Mark, Blue, Brian e meu pai se arregalaram, enquanto meu pai levava a mão para trás, aproximando-se de minha mãe, que ainda mantinha um semblante tranquilo.
— Agora sou um deles — sussurrei, e finalmente meu coração encontrou paz. — Não posso fugir disso, e você deve saber disso. Mesmo que diga que devo ficar, eu devo ir. Muitos contam comigo para liderar uma batalha.
Minha mãe não contestou nada, apenas estendeu a mão em minha direção, enquanto meu pai me olhava com uma mistura de pena, culpa e horror.
Vi compreensão nos olhos de minha mãe, juntamente com um terrível medo.
— Eu entendo. — Ela murmurou, olhando para Zack e, por último, para Brian. Seu corpo tremia e seu rosto empalideceu. Ela sabia sobre a verdade da família de sua mãe, a origem do país das maravilhas.
Olhei para ela, inúmeras perguntas se formando em minha mente, todas embaralhadas, tornando difícil escolher por onde começar. Minha mãe parecia diferente agora, frágil e assustada, não era a mesma mulher que eu conhecia.
— Há quanto tempo você sabia a verdade? — perguntei a ela. — Sobre a vovó ser do país das maravilhas? Sobre a origem de sua família materna.
— Eu comecei a suspeitar conforme crescia, e depois tive lampejos de memória quando você desapareceu — minha mãe explicou. — No começo, achei que fossem apenas delírios da minha mente, mas então notei a presença dos feéricos na cidade e a minha aparência mudando quando me olhava no espelho.
— Então, somos meio-feéricos? — Brian perguntou, olhando para mim com desconfiança. — Isso significa que eu também tenho essa aparência?
Suspirei e permiti que o glamour se reafirmasse em mim.
— Isso não importa agora — disse, e meu irmão bufou irritado. — Tenho muito o que fazer, fiz uma promessa de voltar.
— O que acontecerá com ele? Vai dizer que ele é um aliado crucial para seus planos? — Mark perguntou, apontando para Caleb.
— Diria que ele precisa de um curandeiro, mas posso cuidar disso no Castelo Branco. – falei e olhei para Caleb, fazendo uma careta. – Eu sei que eu precisaria, se tivesse sido arremessado do segundo andar de casa. Provavelmente ele se feriu muito feio.
— Você está indo embora novamente, não está? — meu pai perguntou com naturalidade, apesar de seus lábios tremerem e ele tentar conter as lágrimas. — Você não voltou para ficar.
Suspirei enquanto todos me observavam.
— Não ainda. — murmurei. — Eu gostaria de poder ficar. Sinceramente, gostaria. Mas... me desculpem. – Sussurrei. – Ainda há algumas coisas que preciso resolver.
— Não! — Zack abriu os olhos e correu até mim, abraçando-me e enterrando o rosto em meu lado. — Você não pode ir!
— Anjo! — alguém exclamou, e olhei para a duende que apareceu do lado de fora, uma feérica de Ferro. — Desculpe interromper, mas a Rainha de Ferro enviou uma mensagem.
— Quem é essa? — perguntei.
— A duende que está morando no nosso jardim — minha mãe respondeu.
— A Rainha de Ferro me enviou para ficar de olho em sua família caso a Corte de Inverno ou a Corte de Verão viessem atrás de vocês neste lugar — a duende explicou. — Mas a carta da minha Rainha diz que a Rainha Mab está marchando contra a Corte de Verão e pode vir atrás de você para recuperar a parte do cetro roubada. Ela diz que você tem um dia e meio para resolver essa situação antes que a Corte de Inverno ataque sua família com tudo o que tem.
Engoli em seco, não podia mais ficar com minha família e explicar as coisas. Aproximei-me de Caleb e o ajudei a ficar de pé.
— Precisamos ir o mais rápido possível — falei, Bond me ajudou a apoiar
o novo príncipe da Corte de Inverno. — Melhor irmos ao resgate.
Uma joaninha voou para dentro e pousou em meu ombro.
Temos um problema, a Rainha Vermelha capturou seus amigos que guardavam a parte do cetro das Estações.
Minha mente disparou com o recado que recebi, e meu corpo se moveu instintivamente. Não havia tempo a perder. Corri escada acima para o segundo andar da casa, e todos me seguiram, a urgência em nossos passos refletindo a gravidade da situação.
Cada passo que eu dava ecoava no corredor, os quadros nas paredes pareciam observar com olhos silenciosos enquanto passávamos por eles. A tensão estava no ar, quase tangível, e a adrenalina corria pelas nossas veias.
A voz na minha mente ecoava como um eco sombrio, enchendo-me de uma determinação feroz. Estávamos todos unidos por um objetivo comum, e o destino de ambos os mundos estava pendurado como uma espada afiada sobre nossas cabeças.
Enquanto subíamos a escada, as palavras ecoavam em nossas mentes, uma advertência de perigo iminente que nos impulsionava adiante. Sabíamos que não poderíamos perder tempo, e nossas mentes estavam focadas no que estava por vir.
Entrei no banheiro e me aproximei do espelho, segurando a chave que nos levaria de volta ao corredor do castelo da rainha Mab. Bond, nosso fiel companheiro, seguiu à frente, enquanto eu estendi a mão para Caleb, ajudando-o a atravessar o portal.
Olhei para trás, observando o resto do grupo, enquanto o portal começava a se fechar lentamente. Havia uma sensação de incerteza pairando no ar, uma dúvida silenciosa se algum dia nos encontraríamos novamente.
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Até a próxima 😘
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