Capítulo Vinte - 2ºparte
Victor Decker:
Meus pensamentos estavam em completo êxtase, e nem percebi o quanto me aproximara da misteriosa rosa roxa.
— Mirna Decker? — murmurei com delicadeza.
Havia tanto tempo desde que ouvi esse sobrenome. De onde eu conhecia? Pertencia a um homem adorável e amável, pelo que me lembrava.
A voz da Rosa era tão simples e calma. Uma luz vermelha irrompeu de suas pétalas, emanando uma sensação de calma que fez meu coração se aquecer. Inclinei-me bem baixinho e abri o centro da flor, esperando encontrar uma superfície dura e escorregadia. No entanto, meus dedos encontraram uma penugem aveludada, incandescente, que revestia as pétalas como uma inovação em fibra óptica. Como se estivesse respondendo ao meu toque, a luz se intensificou e depois tomou a forma de um rosto, assustadoramente real: a menina que eu havia visto em meus sonhos, agora um pouco mais velha.
— Ele era meu avô — murmurei, e a voz da flor ficou em silêncio, então ela suspirou.
— Por favor, meu doce neto, diga que seu avô partiu sem arrependimentos — sussurrou o rosto, lágrimas brotando de seus olhos luminosos. Sua expressão triste alterou suas feições. — Quero saber que ele não se deixou dominar pela dor e pela perda.
Os olhos dela eram idênticos aos meus, e eu a reconheci vagamente, mas não consegui abrir a boca para ver sua expressão de sofrimento que se tornava ainda mais tocante. Antes que eu pudesse me afastar das pétalas, ela soltou um suspiro, e eu contei tudo a ela.
— Meu avô morreu isolado da família. Ele e minha mãe brigaram, e acabamos nunca mais o visitando ou ligando para ele. — falei, sentindo como se minha alma tivesse sido ainda mais fraturada, como vidro, quando ela começou a chorar em minha mente.
— Por que você está neste lugar? O feitiço que coloquei sobre nossa família se dissipou — a flor disse com desespero. — Diga-me que a Vermelha não encontrou nenhum de vocês? Eu rezei para proteger minhas filhas quando seus cavaleiros estiveram vivos, mas me lembro de ter enviado uma fugir. Vi a outra ser capturada antes de fechar os olhos uma última vez, minhas queridas gêmeas. Diga-me como estão Morgana e Adelaide?
Meu coração se apertou ao pensar na dor que ela deve ter sentido ao longo dos anos, mas também com a possibilidade de que a fiel cavaleira da Vermelha seja minha tia. Estremeci com esse pensamento, antes que eu pudesse responder ou perguntar por que a Vermelha queria sua morte, Puck e sua irmã me chamaram de volta à realidade.
— Preciso ir — Falei. — Mas prometo que vou contar tudo quando voltarmos a nos encontrar.
Pela primeira vez, o rosto triste da Rosa se iluminou com um sorriso sincero. Levantei-me e segui Puck e sua irmã, lançando um último olhar para a flor roxa, com seus lamentos finalmente se dissipando.
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Virando em um túnel, o terreno à minha frente se transformou em uma floresta de estátuas. Era evidente que se tratavam de personagens do País das Maravilhas. Observei quando o Camundongo correu em direção a duas estátuas congeladas.
Uma das estátuas retratava um homem baixo, usando uma cartola grande e com uma carta em sua faixa. A outra, lembrava um coelho branco, ou pelo menos alguma criatura que se assemelhava a um coelho. Sua expressão era demente, com um lampejo selvagem nos olhos brancos. Uma xícara de chá estava equilibrada em cima de um bolinho em seu prato, e sua pata estava mergulhada na xícara de chá a partir do pulso, como se estivesse embebendo algo.
— Herman Chapelão, a Lebre Careca. — A Irmã Um apontou para as estátuas, que estavam congeladas em poses de pavor sob uma camada espessa de gelo azulado. — Conseguimos resgatar a Lebre Careca, mas a Rainha Vermelha as congelou por não seguirem suas ordens. Isso custou nosso território, mas o que aconteceu com a Lebre foi uma afronta. Ela foi congelada, e seus poderes foram retirados.
Ela apontou para uma estátua distante, que com certeza era a segunda irmã. Suas roupas, corpo e pernas eram réplicas fiéis da primeira irmã, mas seu rosto estava marcado por cicatrizes e cortes recentes, dos quais ainda escorria sangue. Em sua mão esquerda, um par de tesouras de jardinagem havia substituído os dedos. Ela deve ter se mutilado.
Comparada a ela, a Irmã Um parecia uma fada adorável.
Puck se aproximou de uma das estátuas e bateu na testa.
— Pare com isso — A Irmã Um advertiu. Puck sorriu e se afastou, abrindo um pequeno saco. — Hora de ver se isso pode descongelá-los.
Ele soprou o pó sobre cada estátua. No começo, nada aconteceu, mas então todas as criaturas do jardim começaram a se mexer e espirrar descontroladamente.
— Diabo! — A Irmã Dois exclamou e levantou sua mão com tesouras como se fosse atacar algo. No entanto, ela parou e olhou ao redor.
O coelho branco estava ocupado secando seu relógio de bolso com um guardanapo e pedindo desculpas ao Pai Tempo. Seus olhos brancos brilhavam como bolas de gude enquanto ele sorria, revelando três dentes amarelados e tortos. O Camundongo abraçava o Chapeleiro Louco, que parecia confuso com toda a situação, mas também divertido.
Cada estátua voltou a ser quem era antes de ser congelada.
— Bem, que horas são? — O Chapeleiro perguntou, ignorando tudo o mais ao seu redor.
— Hora do chá — o Camundongo respondeu.
— Nada de festa no cemitério — A Irmã Dois resmungou.
Soltei uma risada sincera, talvez a primeira desde que chegamos a este lugar ou desde que me envolvi com os feéricos.
— Quem seria este? Por que ele se parece com... — A Irmã Dois começou a dizer, apontando para mim, mas sua irmã a cortou.
— Não há tempo para isso, temos que voltar ao trabalho! Há muito o que fazer, e precisamos estar preparados para a batalha — A Irmã Um me empurrou pela arcada de volta ao labirinto.
— Para onde ela o está levando? — A Irmã Dois perguntou, seus olhos azuis faiscando com suspeita e raiva. — Ele e seu amiguinho invadiram nosso território.
— Estamos indo para o espelho. — A Irmã Um pegou meu cotovelo e me guiou pelo caminho. Quase escorreguei na neve, mas ela me equilibrou. — Eles têm muito o que fazer e precisam ir até a Rainha Branca. Ainda estamos em guerra.
A Irmã Dois resmungou, mas voltou sua atenção para os outros que estavam tentando encontrar uma solução para sair daquele lugar.
— Por que está com tanta pressa para sairmos daqui? — Puck perguntou.
— Meu querido, lembre-se de que estamos esperando alguém para nos ajudar por muito tempo — A Irmã Um respondeu, como se fosse óbvio. — Quanto mais tempo nos prepararmos para a l
uta, melhor. Algumas almas ficaram infelizes por causa disso, embora algumas ainda tenham assuntos não resolvidos ou amores perdidos. Mirna é a alma mais infeliz deste lugar; o servo de Morfeu a trouxe, mas ela sempre lamentou suas escolhas.
Meu coração se apertou, determinado a encontrar uma solução para libertar minha avó de seu sofrimento. Finalmente, chegamos a um espelho.
— Lembre-se de não confiar demais em Morfeu, ele esconde mais do que você pode imaginar — disse a Irmã Um, passando a mão sobre o espelho. O espelho se partiu como gelo, revelando uma câmara em um castelo com tapetes luxuosos e cortinas douradas. No centro estava uma mulher de cabelos brancos, usando um vestido ricamente decorado e parecendo ansiosa.
A Irmã Um tirou uma pequena chave e a virou para abrir a superfície do portal. Ela batia impacientemente os pés no chão. Puck atravessou o espelho.
Olhei para ela.
— Quero que cuide da alma da minha avó até que ela resolva seus assuntos — pedi.
— O que você pretende fazer? — ela perguntou, curiosa.
— Quero plantar uma flor perto do túmulo do meu avô — disse. — Peço apenas isso; ela merece um funeral adequado em vez de permanecer isolada entre os outros.
Ela suspirou e me olhou.
— Veremos até onde você chegará para resolver este assunto — ela disse, e então atravessei o espelho.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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