Capítulo Sete
Victor Decker:
Afastei-me de Puck, sentindo o peso do seu olhar de julgamento quando finalmente retomei a consciência. O cavalo relinchou, trazendo-me de volta ao momento presente.
— Parece que alguém não está exatamente contente em me ver, hein? — Puck provocou, e eu não pude evitar chutar sua canela.
— Não comece, Puck. — Disse com um tom áspero. — Minha manhã já foi agitada o suficiente para ser considerada interessante.
Puck lançou um olhar de relance para os corpos dos inimigos caídos ao nosso redor, uma expressão de desgosto se formando em seu rosto.
— O que diabos são essas criaturas? — ele perguntou, visivelmente curioso e ao mesmo tempo horrorizado.
— Feéricos que não pertencem à Nevernever — respondi. — Eu já os tinha visto antes. Estavam na sala do trono com alguém que parecia o Caleb quando roubaram um pedaço do cetro.
Puck franziu a testa, confuso.
— O cetro das estações? O que aconteceu? — ele perguntou, agora completamente intrigado, enquanto observava os fragmentos do cetro que eu tirara da minha bolsa.
— Eu não queria que isso acontecesse, mas preciso sair das Terras Winter imediatamente — expliquei, minha voz carregada de preocupação. — O cetro das estações foi quebrado.
Mostrei os pedaços do cetro a Puck, contando-lhe a história por trás disso, e seu olhar se tornou ainda mais chocado.
— Oh, droga. Então é daí que vêm os rumores sobre Mab querer caçar quem o quebrou e roubou dela. Uma guerra está a caminho. Ótimo. Devemos economizar algum tempo e eliminar alguns feéricos agora, ou prefere esperar? — Puck sugeriu, devolvendo os fragmentos do cetro à minha bolsa.
Mais uma vez, não consegui conter minha frustração e acertei sua canela com um chute, o que o fez soltar uma risada.
— Só isso? Vou te levar de volta e pensar em como resolver essa confusão — Puck disse casualmente, e eu o encarei com surpresa.
— Levar-me de volta para o mundo humano? Isso é simples. Eu estava planejando isso desde o início, faz parte do resgate, sabe...
— Do que está falando? — gritei, fazendo Puck dar um pulo para trás. — Esqueça voltar para o mundo humano! Precisamos encontrar uma solução para o cetro e recuperar a outra parte daqueles feéricos. É a única maneira de evitar a guerra que Mab está prestes a iniciar contra todos.
Puck suspirou, tentando me convencer.
— Victor, isso não é mais da sua conta — ele argumentou, olhando para mim com calma. — Você pode ir para casa e levar uma vida simples e comum, como sempre quis desde o início desta jornada.
Entretanto, essa não era mais uma opção há muito tempo. Eu havia abandonado a ideia de uma vida normal ou qualquer coisa parecida fazia muito tempo, algo que eu nunca admitiria em voz alta. Aceitar essa realidade seria negar minha própria humanidade. Minha estadia na Corte Winter havia me ensinado que eu era uma mistura de humano e feérico.
— Você viu o que fiz aqui — disse, erguendo a cabeça com determinação e desafiando-o a contestar. — Sei que sou valioso, mesmo que a maioria dos meus poderes esteja selada.
Puck deu um passo à frente, ficando a centímetros de mim.
— A maioria dos seus poderes? Selados? — ele perguntou com espanto. — Colocaram uma restrição em você?
— Sim, Mab o fez, e por alguma razão, eu senti quando ela o fez. Só consigo usar as magias das sombras e os dons herdados da minha família, os quais permanecem intactos — expliquei, vendo sua raiva começar a surgir.
— Como ela se atreve! — ele exclamou com indignação. — Essa rainha de gelo arrogante.
— Você pode desfazer isso? — perguntei com esperança.
Puck balançou a cabeça com pesar.
— Desculpe, Victor. Apenas Mab, ou alguém com poder igual ao dela, pode remover uma restrição uma vez que tenha sido imposta. Isso só reforça a necessidade de você voltar ao mundo humano e deixar tudo para trás — ele insistiu, fazendo-me ameaçar dar um soco nele, fazendo-o recuar.
— Está bem, mas antes, que tal passarmos a noite aqui? Conheço um lugar nas proximidades.
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Virei-me na direção de Puck e com um ágil movimento, subi no cavalo das sombras. Puck começou a avançar lentamente pela paisagem coberta de neve, até que finalmente chegamos a uma construção abandonada, uma espécie de estrutura imponente com enormes pilares de pedra.
Ao entrarmos, me deparei com um baú repleto de aconchegantes cobertores, alguns cantis de água, uma aljava de flechas e uma garrafa de vinho escuro cuja origem me era desconhecida. Instintivamente, afastei a garrafa de vinho para o lado. Puck partiu em busca de lenha, retornando com um punhado de galhos e um ramo carregado de estranhas frutas azuis, das quais ele assegurou que eram seguras para consumo. Juntos, afastamos as flores delicadas para criar uma fogueira, embora eu sentisse uma pontada de culpa cada vez que arrancava uma delas. Eram tão belas, suas pétalas quase transparentes e delicadas.
— Você está estranhamente silencioso, Victor — Puck comentou enquanto acendia a fogueira em uma pequena tigela de barro. Seus olhos verdes, inclinados e perspicazes, lançaram-me um olhar perscrutador. — Na verdade, você não proferiu uma única palavra desde que chegamos aqui. O que está acontecendo?
— Estou apenas ponderando se deveria socá-lo por ter ido embora sem se despedir — Respondi com calma, e sua expressão se tornou culpada.
— Bem, veja isso. — Ele mudou de posição com agilidade e fez um gesto rápido com a mão. — Então, Princesa. — Ele começou enquanto uma agradável fogueira crepitava no centro do espaço. — Parece que perdi muita coisa desde que me afastei de você. Conte-me tudo.
— Tudo? Bem, depois que você partiu, fiz um acordo com Lea que me levou a uma cidade na Inglaterra. Lá, fiz alguns amigos, lutei contra criaturas que estavam atacando humanos e feéricos. — Eu respondi, encolhendo os ombros. — E então, Caleb me entregou à Rainha Mab.
Puck me analisou, como se esperasse que eu guardasse ressentimento contra Caleb.
— Não sinto nada por ele, mas o perdão não será tão simples — Respondi com tranquilidade, aproximando-me mais da fogueira. Puck fez o mesmo, e nossos corpos se encostaram.
— Por que Caleb te entregou à Corte Winter? — Puck perguntou.
— Eu disse a ele que meu coração e meu amor já tinham dono quando ele se declarou para mim — Respondi, sentindo as batidas aceleradas do coração de Puck sob meus dedos.
— E quem seria essa pessoa? — Sua voz emergiu quase como um sussurro, suave demais.
— Achei que você já soubesse quem é essa pessoa. — Retruquei.
Levantei o olhar e encontrei seu rosto a meros centímetros do meu. A penumbra havia envolvido o local, embora o tapete de flores continuasse a brilhar intensamente. A luz da fogueira dançava nos olhos de Puck enquanto nossos olhares se encontravam. Mesmo que ele exibisse um discreto sorriso torto, a emoção em seu rosto era inconfundível. Parei de respirar quando nossos lábios se tocaram, seus lábios pairando a uma polegada dos meus.
Então nos beijamos com ternura, e Puck me puxou para mais perto, fazendo-me sentar em seu colo. A felicidade de tê-lo ao meu lado inundou meu coração. No entanto, no minuto seguinte, ele se afastou, e eu o encarei, confuso.
— Acho que não precisamos nos preocupar com rondas para inimigos — Puck comentou com um sorriso enquanto olhava ao redor. Uma enorme redoma mágica surgiu, criando espinhos e escudos para nos proteger. — Você está muito habilidoso com seus poderes.
Soltei uma risada, sentindo saudades daquela peculiaridade única dele.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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