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Capítulo Nove

Victor Decker:

Minha mão envolveu firmemente a empunhadura da espada, e dei um passo à frente, ignorando a relutância que se escondia nos olhos de Puck enquanto ele me segurava. O gato, Grimalkin, nos observou com um ar de desprezo, um sorriso irônico brincando em seus lábios felinos.

— Ei, gato. — Puck cumprimentou com um aceno alegre. — Parece que faz séculos desde a última vez que nos encontramos. Qual é a razão de nos arrastar para esta pequena "Marcha Mortal"? Achei que você tinha jurado nunca mais convocar humanos.

O felino bocejou com desdém.

— Fiz isso por causa daquelas suas amigas, a mestiça e a vidente — Grimalkin respondeu, sua voz soando como se estivesse entediado. — Elas conseguem me rastrear e me impedir de tirar minhas sonecas. — Ele se virou com indiferença para cuidar de sua pelagem traseira. — Não quero nada de você, humano.

— Então, como você planeja enviar a mensagem de que estou bem para as garotas? — perguntei, curioso, e ele apontou com a pata. — Ali, atrás daquela casa, há um trod direto para Cambridge. Do outro lado, estão as garotas. Vamos sair daqui agora, antes que o caos diminua e alguém das cortes nos encontre.

Olhei para Puck, que deu de ombros em consentimento. Seguimos o gato pelas sombras em direção à cerca viva que circundava o pátio. Os ramos se afastaram quando nos aproximamos, revelando um estreito buraco na cerca, apenas grande o suficiente para espremer minhas mãos e joelhos. Grimalkin deslizou para dentro sem sequer olhar para trás.

Com uma careta, me ajoelhei e rastejei para dentro, puxando minha mochila atrás de mim. O túnel era escuro e sinuoso, um labirinto de espinhos afiados. Fui perfurado uma dúzia de vezes enquanto lutava para me mover através das curvas traiçoeiras. Gemia enquanto os espinhos prendiam meu cabelo, minha roupa e minha pele. Grimalkin olhou por cima do ombro, piscando seus olhos luminosos enquanto eu lutava.

— Tente não se cortar e deixar um rastro — ele disse quando gemi de dor após me espetar na palma da mão. — Agora, ninguém pode nos seguir, e você está deixando uma trilha muito fácil.

— Como se fosse minha culpa — retruquei, lançando um olhar irritado na direção de Puck, que soltou uma risadinha e se afastou para evitar que eu o chutasse.

— Quanto tempo falta para sairmos daqui? — perguntei com impaciência.

— Não muito. Estamos quase lá. — Grimalkin respondeu e, em seguida, parou de falar, deixando-nos no silêncio penetrante do túnel escuro.

*****************

Continuamos a avançar, navegando pelo apertado túnel de sarça, sentindo cada espinho picar e rasgar nossa pele. A cada passo, a noção de tempo e direção parecia se dissolver num borrão insondável. Inicialmente, tentei desviar dos ramos afiados que me arranhavam implacavelmente, mas logo me rendi à inevitável punição e parei de me importar. Curiosamente, à medida que abandonei a resistência, os arranhões pareciam diminuir em intensidade. Abandonando minha postura de caracol, Grimalkin estabeleceu um ritmo constante, liderando o caminho através dos obstáculos de espinhos, e eu o seguia da melhor maneira possível.

Às vezes, vislumbrava túneis secundários se ramificando em diferentes direções e ocasionalmente captava vislumbres de figuras movendo-se furtivamente entre as moitas. No entanto, nada se revelava com clareza diante dos meus olhos. Então, fizemos uma curva repentina e nos deparamos com um imenso tubo de cimento bloqueando nosso caminho, claramente uma tubulação de drenagem. Através do buraco no topo, vislumbrava o céu aberto e azul.

Curiosamente, o lado oposto do tubo estava claro e convidativo.

— O mundo mortal aguarda do outro lado — Grimalkin informou com sua voz enigmática. — Lembre-se, uma vez que cruzarmos, não teremos como retornar a Nevernever por este caminho. Teremos que encontrar outro portal trod.

— Eu entendo — respondi com determinação.

Grimalkin me lançou um olhar longo e desconfortável.

— Lembre-se também, humano, você esteve em Nevernever. O véu do glamour sobre seus olhos desapareceu completamente. Embora os outros mortais não percebam nada de estranho em você, você verá o mundo de forma um tanto diferente. Portanto, não reaja de maneira exagerada.

— Que glamour desapareceu completamente? — perguntei, confuso.

Grimalkin sorriu misteriosamente.

— Você verá. — Ele respondeu.

Emergimos do tubo de drenagem com o som dos motores de carros e o burburinho do tráfego invadindo nossos ouvidos, um choque após tanto tempo em um reino selvagem. Estávamos no coração da cidade, cercados por imponentes arranha-céus que se erguiam majestosamente ao nosso redor. Uma calçada se estendia sobre o tubo de drenagem, e o tráfego do horário de pico congestionava as estradas, enquanto pessoas apressadas se moviam sob os viadutos, absortas em seus próprios mundos.

Ninguém parecia notar um gato e dois adolescentes, ligeiramente ensanguentados, emergindo de um tubo de drenagem.

— Certo. — Apesar de minha preocupação, o terror de estar de volta ao meu mundo familiar me deixava atordoado, e eu estava impressionado com a grandiosidade das construções de vidro e metal que se erguiam acima de mim. O ar aqui era frio, desconfortável e sujo, com lama entupindo as calçadas e esgotos.

— Victor — ouvi duas vozes femininas dizerem ao mesmo tempo e me virei para ver Caroline e Pauline correndo em minha direção.

— Caroline! Pauline! — exclamei, sentindo uma imensa felicidade ao ver dois rostos familiares. Pauline me abraçou com força.

— Eu estava tão preocupada que você estivesse em perigo ou pior, quando a Rainha de Ferro não respondeu às minhas cartas — Pauline disse. — Tive que recorrer a Grimalkin.

— Amigo, fico feliz em te ver, mas não vou te abraçar porque você está meio fedido — brincou Caroline, tapando o nariz.

— Também estava com saudades de você, Caroline — falei enquanto Pauline se afastava, rindo. — Agradeço por ter entrado em contato com Meghan para me ajudar com o problema na Corte Winter, e ainda por ter feito Grimalkin me trazer de volta para este lugar.

— Eu sei, somos incríveis — Caroline disse, olhando para Puck. — Quem é esse ruivo? E onde está aquele idiota do Caleb? Vou socar a cara dele quando o encontrar!

— Isso será discutido mais tarde. Por enquanto, nossa prioridade é sair daqui, pois estamos atraindo muitos olhares curiosos — disse Pauline, enquanto chamava um carro. Notei que o motorista era o irmão dela, que parecia muito mais relaxado desde a última vez que o tinha visto.

Entramos no veículo, e Grimalkin pulou em meu colo, começando a cochilar. Caroline ocupou o banco do passageiro, enquanto Pauline e eu nos acomodamos na parte de trás com Puck.

Nesse momento, notei que Puck ficou pálido ao entrar em um veículo feito de ferro.

— Você ficará bem? — perguntei preocupado, segurando sua mão.

— Posso tolerar isso por alguns segundos — ele murmurou. — Isso é para me dar forças?

— Claro que sim — respondi, sorrindo e provocando risadas dos outros.

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Quando finalmente vislumbrei o imponente edifício do apartamento de Caroline, uma sensação intrigante inundou meus pensamentos, como se uma versão mais polida de mim mesmo estivesse prestes a emergir. Vestido em um elegante casaco cinza meticulosamente cortado, segurei a porta para Caroline enquanto entrávamos no saguão revestido de mármore.

— Bom dia, senhora. Vejo que trouxe seus amigos — cumprimentou-me o porteiro, James, com um sorriso profissional.

— Bom dia, James — respondi, sem reduzir a firmeza de meus passos.

No entanto, o semblante de James se contraiu em uma expressão de confusão quando ele me olhou mais atentamente.

— Juraria que já o vi antes... — ele murmurou, apontando na minha direção com uma expressão de perplexidade.

— Talvez tenha me confundido com alguém parecido — repliquei, empurrando Puck, que parecia um tanto enjoado, em direção ao elevador, com Pauline e Bruno seguindo atrás.

James, por sua vez, parecia obstinado em sua busca por respostas.

— Senhor, tenho absoluta certeza de que já o vi antes — insistiu, alcançando-nos a passos largos — Acho que...

Antes que ele pudesse concluir sua frase, as portas do elevador se fecharam abruptamente, interrompendo sua investigação.

— Ah, a vulnerabilidade dos humanos diante da magia, fazendo com que esqueçam as coisas — Bruno comentou com um ar de pena, o que lhe rendeu um cutucão vingativo nas costelas por parte de sua irmã, Pauline.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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