Capítulo Dezoito
Victor Decker:
A porta da biblioteca se abriu com violência, nos fazendo pular. Desfiz a magia que nos envolvia, e Morfeu nos encarou com curiosidade.
— Gostaria que não fizessem amor em minha biblioteca. — Morfeu disse, sua expressão demonstrando clara repulsa. — Descobri onde está o cetro, mas preciso que esteja pronto para ajudar alguém que pode ser útil em sua expedição.
Puck se levantou de um salto, rugindo de raiva, mas eu segurei seu braço, olhando-o com gentileza.
— Está tudo bem. — Eu sussurrei para ele, dissipando sua fúria com um olhar. — Não estávamos planejando uma aventura no País das Maravilhas.
— Tudo bem, mas quem vamos ajudar? — Puck perguntou.
— Um velho amigo, alguém que levou o golpe que estava destinado a mim quando a Rainha Vermelha me capturou, enquanto sua avó fugia para o Reino Mortal. — Morfeu explicou e jogou uma peça de xadrez em forma de gato em minha direção. — Seu nome é Chessie, e ele pertence a uma estirpe rara, parte espírito e parte carne, as duas ao mesmo tempo. Ele pode desaparecer e reaparecer no ar e assumir qualquer forma. Um ser assim é quase impossível de matar. Quando a Vermelha o atingiu com a espada Vorpal, a única lâmina capaz de cortar qualquer magia no Reino Interior, ela dividiu sua magia em duas. Ele foi partido ao meio, mas ainda está vivo.
— Você quer que ele traga alguém de volta à vida? — Puck perguntou, sua curiosidade óbvia e mal contida.
— Não exatamente. Sua cabeça está segura e nas mãos de Victor neste momento. — Morfeu apontou para a pequena peça de xadrez que piscou um olho para mim. — A parte inferior de Chessie foi capturada pela Rainha Vermelha e nunca mais foi encontrada.
Morfeu estalou os dedos, e uma imagem apareceu diante de nós: era uma criatura grotesca com garras de dragão e uma cauda cheia de ferrões afiados. A visão arrepiou minha espinha.
— Este é o Bandersnatch. Ele é maior do que um caminhão e engole suas presas inteiras, deixando que se decomponham lentamente na escuridão de seu estômago. Uma morte que pode levar mais de um século para se completar. — Morfeu explicou, e eu olhei para a cabeça do gato Chessie, sentindo compaixão encher meu coração. — Acredito que a parte inferior de Chessie pode estar guardada junto com a joia do seu cetro das estações. Portanto, essa não será apenas uma missão de roubo, mas de recuperação.
Olhei para a cabeça do gato, que parecia triste, e me levantei.
— Eu vou ajudar a recuperar o seu corpo, não se preocupe. — Falei, e a cabeça do gato sorriu para mim. — Considere isso um agradecimento por ter ajudado minha avó em sua fuga da Rainha Vermelha.
A cabeça do pequeno gato sorriu para mim, mas seus olhos se voltaram para Morfeu, ainda cheios de desconfiança.
— Quando partiremos? — Puck perguntou.
— Vou preparar tudo para que vocês possam sair o mais rápido possível. — Morfeu respondeu. — Enquanto isso, vou elaborar um plano para que estejam atentos aos novos brinquedos da Rainha Vermelha.
— Quais são os novos brinquedos? — Perguntei, curioso.
— De acordo com meus espiões, ela trouxe um jovem de cabelos brancos que tem a habilidade de manipular as sombras. — Morfeu explicou, fazendo meu coração acelerar. — Ele está acompanhado de um enorme cão que emana uma aura gélida.
Puck e eu trocamos olhares, ambos sabendo instantaneamente que se tratava de um dos novos brinquedos da Rainha Vermelha. De alguma forma, Caleb e Bond estavam no País das Maravilhas, e aparentemente, eles estavam leais à Rainha Vermelha.
************************
Aguardava ansiosamente em um corredor gélido e espelhado, onde uma mesa de vidro e algumas cadeiras eram minha única companhia. Sabia que Puck deveria me encontrar aqui após pegar algumas armas que Morfeu havia disponibilizado.
Morfeu havia me explicado de maneira direta como funcionava a morte neste lugar. No País das Maravilhas, todas as coisas, vivas ou não, possuíam almas, algo completamente diferente do Nevernever.
O cemitério era considerado um local sagrado, reverenciado por todos os habitantes deste mundo. Ninguém podia adentrá-lo, exceto as guardiãs do lugar: as irmãs Twid. Nas mãos dessas gêmeas, os mortos eram cuidados como um jardim virtual de fantasmas, sendo semeados, regados e mantidos livres de ervas daninhas espirituais. Uma das irmãs nutria as almas, acalmando os recém-chegados e mantendo a paz na flora espiritual, enquanto a outra arrancava os espíritos decaídos, aprisionando-os em outras formas para a eternidade.
Antes de partir em suas próprias tarefas, Morfeu apontou para a minha marca de nascença, que era uma chave universal para as criaturas do País das Maravilhas, utilizada para curar e acessar entradas secretas. Mesmo com todas essas informações, ainda estava às escuras sobre por que a Rainha Vermelha desejava a cabeça da minha avó e o que a levou a se revoltar contra uma simples feérica.
Tudo o que aprendi me levava de volta às imagens que Morfeu havia me permitido ver e às informações básicas sobre seu passado. Como eu havia conseguido escapar tão facilmente da Rainha Vermelha? Qual era a razão pela qual meu avô o odiava tanto?
O eco de botas pesadas no chão espelhado chamou minha atenção, e olhei para cima para ver Puck, vestido com um cinto de couro e várias facas presas à cintura.
— Pronto para uma aventura? — Ele perguntou com um sorriso largo.
— Parece que você está pensando que estamos indo para a guerra. — Respondi, estalando a língua. Nossas roupas haviam sido magicamente alteradas para nos fazer parecer ainda mais com habitantes deste mundo. Eu estava usando uma túnica por baixo de uma camiseta branca e calça jeans, nossos disfarces perfeitos. Puck, por outro lado, se assemelhava a um cavaleiro.
— Sempre é bom estar preparado para tudo. — Ele disse com simplicidade. — Como vamos chegar a esse lugar?
Continuamos andando até encontrarmos Morfeu ao lado de um espelho.
— Através do espelho. — Ele respondeu e estendeu a mão delicadamente para mim. — Espero que saibam lutar para chegar ao seu destino. Lembre-se de que a cabeça deve guiar o corpo.
— Por que você não pode sair daqui? — Puck perguntou e olhou para o pé de nosso guia, notando uma corrente que apareceu quando Morfeu se aproximou do espelho.
— Por que deseja saber, Goodfellow? — Morfeu questionou, e Puck apontou para a corrente que agora estava à vista. — Exato, estou aprisionado em minha própria casa. Só parte de mim pode sair, e foi assim que consegui me livrar daqueles cavaleiros que os atacaram.
— Não tenho muita pena de você, inseto. — Puck comentou antes de pular através do espelho. Antes de segui-lo, olhei para Morfeu.
— Esta é sua punição por desafiar a Rainha Vermelha e roubar sua espada? Sei que você está escondendo algo em suas palavras. — Afirmei, e Morfeu apenas sorriu em minha direção.
Sem perder mais tempo, saltei para dentro do espelho.
_____________________________
Gostaram?
Até a próxima 😘
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro