Capítulo Dezenove - 2°parte
Victor Decker:
As adagas de Puck retornaram às suas mãos, e eu empunhei minha espada prontamente. A voz zumbida e aguda cortou o ar, fazendo minha pele se arrepiar. Na frente do grupo de cavaleiros, a figura se virou e retirou seu elmo, revelando um rosto que me fez gelar. Ela vestia uma armadura vermelha, e seu cabelo, uma mistura de tons castanhos e vermelhos, estava amarrado de forma extravagante no alto da cabeça, imitando um coque colorido. Ela usava óculos amarelos que davam um toque peculiar ao seu rosto.
— Oh, parece que temos visitantes indesejados. — Sua voz era carregada de presunção e malícia. — É uma honra conhecer o garoto que minha rainha deseja.
Seu rosto era uma imagem espelhada do de minha mãe, e meu estômago se agitou com o reconhecimento. Tetius estava logo atrás dela, segurando Camundongo, que se debatia.
— Tetius! — Sussurrei entre dentes, minha voz carregada de tensão.
— Não precisa gritar, criança. Estamos bem. — Ela falou com uma arrogância desafiadora. — Estava esperando por você, garoto. Procurando pela joia que minha rainha deseja, não é? Presumo que não vão entregá-la tão facilmente. — Ela ergueu o braço, revelando um sorriso sinistro. — Ah, como adoro quando escolhem lutar, mas não sou tola o suficiente para ficar desprotegida e sem reforços. — Então, fez uma expressão quase inocente. — Desculpe por não me apresentar. Sou Morgana, a general da Corte Vermelha.
Puck se preparou para o combate, e eu ergui minha espada, prontos para o embate que se aproximava.
— Adoro quando optam pela luta, mas não sou ingênua o bastante para não trazer reforços. — Morgana sorriu maliciosamente e olhou ao redor da área. — O que estão esperando? Ataquem.
Estalou os dedos, e duas figuras sombrias entraram na sala, parando atrás dela. Meu coração afundou no peito instantaneamente.
— Tenho certeza de que vocês quatro já se conhecem. — Morgana disse com cinismo. — A maior benesse que fizeram pela rainha, creio eu. Levei a destruição da alma de vários cavaleiros e feéricos e quase duas dúzias de poções para trazê-los de volta, mas valeu a pena. Irônico, não é? Eles quase levaram a joia na primeira vez, e agora farão de tudo para mantê-la aqui.
— Caleb — Morgana ronronou, e a figura entrou no meu campo de visão. — Diga olá aos nossos convidados.
O cão Bond rosnou para mim, e Caleb apontou sua espada na nossa direção. A situação era tensa, e nossas habilidades seriam colocadas à prova diante desse desafio iminente.
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Olhei para Caleb em um estado de torpor, considerando sua jornada desde o Castelo das Sombras, onde viveu por anos, até sua missão atual, que o levou a se mostrar como não um traidor. Bond, o cão que fora meu companheiro no Castelo de Mab e se tornara um amigo leal, estava ao meu lado.
Caleb me encarou sem um traço de reconhecimento em seus olhos, nenhum indício de emoção, nem raiva, nem tristeza, absolutamente nada.
— Todos os traidores da Rainha Vermelha — ele disse com calma. — morrerão.
Puck ficou imediatamente em alerta.
— Sempre soube que teria que enfrentar esse príncipe. — Puck disse, preparando-se para o confronto. — Afinal, ambos estamos sem qualquer tipo de magia.
Morgana riu com desprezo.
— É inútil. — Ela zombou. — Ele ouve você, até mesmo o reconhece, mas não se lembra de sua vida anterior. Ele está sob o controle da coroa da Rainha Vermelha, que permitiu apenas que ele e o cão usassem magia.
Olhei mais de perto para Caleb e meu coração se apertou ainda mais. Na penumbra da sala, o rosto do príncipe estava desfigurado, sua pele esticada até o limite, mostrando feridas por baixo. Suas bochechas estavam afundadas, e apesar do vazio em seus olhos, eles pareciam brilhar com um sofrimento silencioso.
— Ela deve ter envenenado seu corpo. — comentei, minha voz cheia de preocupação.
Morgana encolheu os ombros.
— Às vezes, sacrifícios são necessários. — Ela falou com indiferença. — Agora, isso está ficando cansativo. Acho que é hora de tirar o que quero de você, meu caro. Caleb. — Ela pôs a mão no ombro dele. — Mate o feérico sem usar magia. Não machuque Victor, a Rainha ainda tem planos para ele.
Com um lampejo de luz, Caleb sacou sua lâmina e a brandiu na direção de Puck, que saltou para me proteger. A lâmina atingiu a de Puck, criando faíscas e um chiado. Cambaleei para trás, e Puck agarrou minha cintura, puxando-me para longe a tempo de evitar um ataque.
Eu sabia que esse não era mais o Caleb que conhecia. Portanto, o que eu estava prestes a fazer não o machucaria tanto.
Liberei todo o meu poder sombrio, convocando uma tempestade de magia que atingiu nossos inimigos, jogando-os para fora da sala. Tetius, o Camundongo, foi arremessado para o alto, e eu o peguei em minhas mãos.
Puck agarrou minha mão, e corremos para fora, com meus poderes sombrios nos protegendo. Espinhos surgiram, tentando nos capturar, mas desviamos deles facilmente, com Bond atacando com suas garras.
— Você errou, coisa feia. — Puck disse enquanto corria ao meu lado.
— Ele não é feio. — Resmunguei.
— Ele tentou me comer quando Tetius me capturou, então é feio. — O Camundongo em meu bolso acrescentou.
Alcançamos a beira de uma duna alguns metros à frente e colocamos um pedaço de madeira no chão, no início do declive. Usamos um sapato para mantê-la no lugar e, em seguida, nos preparamos.
— É hora de esquiar. — Puck anunciou.
Corri em sua direção, os braços tremendo enquanto colocava minha prancha no lugar. Ele amarrou uma corda em sua cintura e na minha.
O final do declive se curvava para cima, como uma rampa de lançamento. Deslizei meu pé para cima da prancha.
— Agora! — Puck gritou.
Empurramos juntos e mergulhamos na direção do abismo. A primeira metade da descida foi uma confusão de velocidade e vento, mas logo retomamos o controle. Eu usava a pressão dos pés e das pernas para guiar nossa direção e velocidade. Os músculos familiarizados com o movimento me distraíram da altura.
— Vamos saltar juntos. — Puck instruiu. — Quando atingirm
os o outro lado, soltamos a corda e nos deixamos rolar para reduzir o impacto.
Concordei com a cabeça, sentindo a tensão da corda que nos unia.
Atrás de nós, os inimigos se aproximavam rapidamente. Meus nervos estavam à flor da pele. Inspirei o ar carregado de partículas de areia, reprimindo uma tosse, enquanto o abismo se aproximava.
O vale do outro lado oferecia uma clareira de grama macia antes de se transformar em um matagal. Isso deveria amortecer nossa aterrissagem e reduzir nosso impulso para uma parada segura.
Mas do solo algo emergiu, e antes que eu pudesse reagir, saltamos quando algo foi lançado na nossa direção.
Senti a sensação de lâminas rasgando minha pele, e os gritos, antes presos em minha garganta, foram liberados. Algo irrompeu atrás de cada um dos meus ombros, como guarda-chuvas se abrindo, e Puck deu um puxão na corda.
— Victor! Você tem asas! — Puck gritou. — Concentre-se nelas.
Estremeci, controlando o impulso das asas recém-adquiridas. Dois segundos antes de atingirmos a primeira rocha, paramos no ar.
— Isso, você está indo muito bem. — o Camundongo falou. — Cuidado!
Um pensamento rápido me fez desviar a tempo, enquanto continuávamos nossa queda no abismo, reunindo meus poderes sombrios para nos envolver e proteger enquanto descíamos cada vez mais fundo na escuridão.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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