Capítulo Cinco
Victor Decker:
Eu hesitei em participar daquela festa. Primeiro, porque simplesmente não estava no clima, e segundo, a ideia de dançar com os feéricos Winter não parecia ser uma escolha sensata. Especialmente depois de ter testemunhado um grupo de barretes vermelhos embriagados, com um glamour poderoso, atacar um boggart e desmembrá-lo membro por membro, como se fosse um ritual macabro.
Em grande parte, preferi me manter nas sombras, tentando desesperadamente evitar chamar atenção, ao mesmo tempo em que ponderava se a Rainha Mab me consideraria rude se eu simplesmente me retirasse para o meu quarto, ou se Oberon me forçaria a permanecer na Corte Summer contra a minha vontade. Enquanto observava as estátuas congeladas de humanos e feéricos espalhadas pelo pátio, uma sensação de urgência começou a crescer em mim, alimentando a ideia de que aquele era o momento certo para uma fuga desesperada.
Ao meu lado, Bond estava sentado, saboreando uma guloseima que eu tinha tirado da mochila encantada que me acompanhava, leal como sempre. Ele rapidamente ficava invisível sempre que alguém se aproximava, um truque que aprendemos para manter nossa discrição.
A calma reinava, pelo menos por enquanto. Caleb estava misteriosamente ausente, o que, de certa forma, aliviou minha tensão. Kierran havia se afastado para buscar seu pai e avôs, provavelmente para discutir o que fariam comigo.
Encostei-me na parede, mergulhando em meus pensamentos. Foi então que senti algo emergir das sombras e me fundi contra a escuridão como um reflexo. Bond se assustou, puxando a manga da minha camisa enquanto se juntava a mim, sua pelagem eriçada e olhos atentos ao desconhecido.
Ficamos ali, imóveis na penumbra, aguardando, enquanto o mistério se desenrolava ao nosso redor.
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Caí no chão gélido da sala do trono, e uma intensa friagem envolveu meu corpo, originada do que parecia ser a fonte do terrível frio que dominava o ambiente. O majestoso Cedro das Estações pairava a algumas polegadas acima do altar, banhando o rosto do príncipe em uma luz azul gélida que parecia emanar da própria essência do inverno.
Uma voz cortou o silêncio glacial, fazendo-me erguer os olhos. Caleb estava ali, ao lado do trono, fixando seu olhar no imponente cetro.
— O que você está fazendo aqui? — indagou ele, enquanto me levantava, revelando uma expressão de espanto e desconfiança.
— Ela me ordenou que vigiasse o cetro — retruquei, balançando a cabeça. — Parece que você está igualmente fascinado pela Rainha do Inverno.
Caleb soltou um suspiro, e pude perceber os tormentos refletidos em seu olhar, como se o passado o assombrasse.
— Você não precisa dizer nada — murmurei serenamente, desviando meu olhar novamente para o cetro.
Caleb parecia perdido em pensamentos, seus dedos acariciando a superfície congelada do cetro.
— É realmente magnífico, não acha? — ele sussurrou, com os olhos brilhando de admiração. — Tudo isso é tão esplêndido e único. Sinto-me honrado por estar envolvido nisso...
Antes que pudesse ouvir mais, um rosnado profundo ecoou pelo ambiente, e o lobo que nos acompanhava arreganhou os dentes ameaçadoramente. Caleb se virou com agilidade, sacando uma espada de sua cintura. Ao mesmo tempo, um grito estridente perfurou o ar, deixando-me ainda mais tenso. O grito ecoou novamente, seguido por um estrondo que fez as paredes tremerem.
Minha espada materializou-se em minha mão, e o semblante de Caleb se tornou sombrio.
— Como eles conseguiram entrar aqui? — sibilou Caleb.
No fundo da sala, figuras sombrias começaram a emergir das próprias sombras. Quatro delas eram esguias e quase cadavéricas, suas silhuetas distorcidas assemelhando-se a grotescos bonecos enquanto se moviam rapidamente de quatro patas. Os rosnados de nosso lobo de companhia se transformaram em latidos furiosos.
Meu coração disparou quando uma figura adentrou a luz, trajando uma armadura segmentada vermelha, com uma coroa escarlate emblematizada. Embora usasse um elmo, o visor estava erguido, revelando um rosto que eu jamais poderia confundir. Sua pele pálida e seus olhos intensos me deixaram sem dúvida alguma. O olhar de Caleb queimava de fúria sob aquele elmo.
— Quem são vocês? — questionou Caleb, erguendo a espada ameaçadoramente.
— Somos a elite do monarca — proferiu a figura, cuja duplicata revelou-se como Tetius. — Eu sou Tetius, e estamos aqui em missão.
Ele fez um gesto amplo com o braço, e com gritos agudos que pareciam facas roçando umas nas outras, os feéricos avançaram sobre mim. Eles eram incrivelmente rápidos, suas formas carmesins parecendo manchas enquanto se moviam velozmente pelo chão.
O primeiro atacante saltou em minha direção, atingindo meu rosto com uma garra retorcida de arame, tão afiada quanto uma navalha. Minha espada, dourada e resplandecente, surgiu, emitindo um grito agudo enquanto desferi um golpe que lançou o atacante para longe. Virei-me rapidamente para enfrentar o próximo adversário, mergulhando enquanto esquivava das garras de arame que passavam sobre minha cabeça.
Caleb estendeu a mão, e uma lança afiada surgiu do chão, perfurando um dos inimigos. No entanto, eles se esquivaram com agilidade, saltando para trás e nos forçando a recuar. Caleb agarrou meu pulso, arrastando-me para trás do trono.
— Fique fora do caminho — ordenou ele, enquanto os feéricos investiam novamente sobre nós, rodeando o trono e deixando profundas rachaduras no gelo. Caleb desferiu um golpe, fazendo um deles recuar, mas outro se aproximou por trás e feriu-o com garras de aço. Ele conseguiu evitar um golpe fatal, mas uma fina linha de sangue apareceu em seu rosto. Caleb balançava a espada desesperadamente, tentando manter os assassinos afastados, mas eram muitos e velozes demais.
Avancei e cortei um dos inimigos, enquanto nosso lobo de companhia se lançou sobre outro, arrancando-lhe a cabeça. Caleb estava no centro de um furacão afiado, lutando desesperadamente para mantê-los à distância. Eu via linhas vermelhas em seu rosto e peito, e meu estômago se contorceu ao vê-lo cambalear, retalhando o ar com a espada em um círculo desesperado para se defender. Era uma luta desigual.
Avancei e cortei um dos inimigos e o bond pulou em outro separando a cabeça do corpo. Caleb estava no meio de um turbilhão afiado, desesperadamente tentando mantê-los longe. Vi linhas de vermelho em seu rosto e peito. Atacava então vi Tetius se aproximar do centro e o pegar em sua palma.
Avancei e ele levantou o cetro para me atacar, interrompendo o golpe e aproximando-a, batendo sua espada contra o cetro com toda a força do meu corpo, juntando as armas com um retinido ensurdecedor E então o Cetro das Estações se partiu. Rachou ao longo da base e sua ponta praticamente se separou do restante. Tetius guinchou e cambaleou para trás, fluido preto jorrando do cetro quebrada como seiva de uma árvore derrubada.
Desmoronei sobre os joelhos quando uma grande onda de energia caiu com tudo por cima de mim. Era como se todo meu corpo fosse atingido por um raio. Meu pulso retinia e um zumbido soou por todos os meus ossos, fazendo o corpo tremer. Agarrei o punho da espada com a mão direita, entrando em pânico, desesperado para não a deixar cair.
Tetius pegou a ponta que tinha um brilho azul e sorriu para mim.
— Pelo menos já tenho o que precisamos — Tetius falou.
— O que está fazendo? — Falei.
Ele me observou com olhos solenes.
— seguindo as ordens do monarca. — Tetius disse.
— O Rei sombra? — perguntei Lutando para focar a vista. Tudo parecia estar se movendo em câmera lenta. A poucos passos de distância, Caleb e os assassinos lutavam e os gritos vinham do local da festa. Bond tinha suas mandíbulas apertadas ao redor da perna de um feérico, e Caleb o prensou sem piedade com sua espada. — Você não tem mais um rei.
— Quem disse que o monarca é um rei ou que somos os feéricos das sombras — Ele disse, puxando sua espada. — Sigo os comandos da rainha vermelha.
Olhei fixamente para a lâmina de aço, esperando que fosse rápido.
— Não carrego nenhuma má intenção contra você, Minhas ordens não incluem matá-lo. Mas devo obedecer minha senhora. — ele disse.
Então, Tetius avançou para o centro da batalha, segurando a ponta do Cetro das Estações.
Tentei alertar Caleb, mas o som de minha voz foi abafado por um brilho repentino que os envolveu. Uma esfera negra com espinhos negros emergiu, protegendo-nos dos ataques dos feéricos. Minhas mãos irradiavam energia enquanto eu lutava para mantê-los a salvo.
Os assassinos esticavam-se para alcançar-nos, mas Tetius interveio com sua espada.
— Chega. Conseguimos o que viemos buscar. Vamos embora. — ordenou ele, embainhando a espada, seus olhos voltados para o feérico que estava congelado no chão. — Busquem o irmão dele, rápido. Não podemos deixar evidências para trás.
Os feéricos vermelhos obedeceram, erguendo o corpo do feérico morto com cuidado, evitando tocar nas perfurações congeladas em sua pele. Eles também coletaram os pedaços do cetro quebrado no chão. Tetius virou-se para mim, seu olhar frio, enquanto a escuridão começava a fechar minha visão.
— Adeus, Victor Decker. Espero que nossos caminhos não se cruzem novamente. — Ele se virou e seguiu os assassinos que se retiravam, levando a ponta do Cetro das Estações, que pulsava em tons de azul e branco, cobrindo suas luvas de gelo.
Senti-me desabar de joelhos quando uma onda de energia colossal irrompeu sobre mim, como se meu corpo inteiro fosse atingido por um raio. Meu pulso pulsava, e um zumbido ressoava em meus ossos, fazendo-me tremer. Segurei firmemente o punho de minha espada, desesperado para não deixá-la cair.
Tetius examinou a ponta do cetro, que brilhava em azul, e dirigiu seu olhar para mim.
— Não tenho intenção de prejudicá-lo. Minhas ordens não envolvem matá-lo, mas devo obedecer à minha senhora. — Ele falou com seriedade.
E com isso, Tetius deu meia-volta e afastou-se rapidamente, desaparecendo da minha vista. Virei-me para acompanhá-los, mas eles já haviam desaparecido, deixando-nos para trás em meio ao caos da sala do trono.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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