Sentimentos turvos
__________
Oito dias...
Fazem oitos dias que não vou para a Nostradamus, era pra ser motivo de felicidades mas por que me sinto tão desconfortável em casa? Desconfortável em meu próprio quarto ...
Isso não é normal, bom, nada ultimamente tem sido normal. Algo dentro de mim está me incomodando profundamente, é como um silêncio ensurdecedor que murmura em meus ouvidos meus piores medos.
As verdades da qual tanto fujo.
Lembro das palavras de minha terapeuta em momentos como esse, "não sentir sentimentos é a pior coisa que pode se ter em um humano", ela sempre apoiava qualquer tipo de sentimento, bom ou ruim. Eles merecem a nossa atenção. Eu sempre tive o pensamento oposto ao dela, sempre fugi do que sentia, quando não podia correr eu repremia isso dentro de mim até desaparecer, ou adormecer temporariamente.
Ela sempre me aconselhava a não fazer isso. Não fugir de meus próprios demônios. Eles nunca vão sumir de vez, eu nunca serei mais rápido ou forte que eles...
Eles são como uma praga que se alastra por todo o meu corpo, envenenam minha mente com pensamentos intrusivos. Eu não tenho a menor chance contra eles, e quando não se pode ficar contra a um inimigo, se junte a ele.
Eu entendo que ouvir o que eles tem a dizer é muito mais aconselhável do que simplesmente fugir. Talvez eles não sejam tão maus quanto eu penso, talvez só querem uma resposta. Resposta que eu não tenho para dar.
*Por que me isso está acontecendo comigo...?*
Se eu pudesse, eu fugiria. De novo e de novo, fugiria dessas perguntas, desse sentimento...de meu próprio eu.
Eu não quero sentir essa angústia, essa culpa e essa ansiedade infernal que espreme meu peito alfinetando meu coração. Seria pedir muito só sentir coisas boas? Coisas simples mas que me trazem realmente prazer de respirar...sentimentos bons, pessoas boas...
Eu me afastei de tudo isso, as coisas estão se repetindo de novo e apesar de saber o que devo fazer o meu eu procrastinador fala muito mais alto do que qualquer ligação de meus amigos, de meu pai...
As pessoas realmente se importam comigo, elas estão preucupadas com minha ausência. Eu devia dar sinal de vida, mas pra que? Eu vou acabar machucando elas de alguma forma, por mais que eu as ame, esse sentimento não é algo que eu tenha sobre controle, isso vai acabar acontecendo uma hora ou outra...infelizmente eu sou assim e eu faço isso com todos em minha volta...
*Eu deveria vê-la novamente...talvez ela possa me ajudar...* Penso comigo mesmo me lembrando da doutora Andrade. Mulher que me ajudou com sessões durante minha adolescência.
*Hm...que saco... * me envolvo em meus cobertores cobrindo uma fresta de luz que entrava em meu quarto. Mais um dia começa, tenho sorte de estar de detenção assim não preciso me levantar da cama.
Ouço batidas na porta junto a voz de meu pai, eu deveria fingir que estou dormindo mas seria muita falta de consideração com sua preocupação que o mais velho está tendo por mim.
- Filho...? Está acordado? - Pergunta o mais velho dando leves batidas na porta.
- Hm? - Murmuro debaixo das cobertas.
- Filho...? Está aí? - Pergunta o mais velho novamente.
- Fala o que quer pai - Digo tirando apenas a cabeça para fora das cobertas.
- Não vai para o colégio, meninow? - Pergunta o homem girando a marçaneta da porta, mesmo sabendo que ela está trancada.
- Detenção - Digo voltando a me embrulhar nos cobertores, o frio está mais intenso que o normal e não estamos nem perto do inverno.
Talvez o frio esteja em minha cabeça.
E de novo o problema está na minha cabeça, não suporto mais me sentir assim... como se eu fosse um erro e assim como eu minhas ações também são. Não consigo ser normal, não tenho mais energia para tentar ser assim...talvez eu deve só existir no meu canto sem encomodar ninguém...
Quem eu estou querendo enganar? O simples fato de existir encomodar tantos em minha volta, talvez eu não deva exitir...
- Filho? Está ouvindo?? - Pergunta o mais velho não deixando de bater na porta. Esse barulho extremamente desagradável.
- Pai, para de fazer barulho... - Resmungo colocando meu travesseiro sobre minha cabeça.
- Temos que conversar, meninow - Explica o homem por trás da porta - Abre a porta meu filho, deixa seu pai te fazer companhia...
- Pai, você não tem que ir trabalhar?.- Tento o convencer o mais velho - Pode ir, eu tô legal...
- Mas e o colégio? - Pergunta o mais velho novamente.
- Já falei que tô de detenção. - Resmungo me espreguiçando.
- O que? Filho... - Noto a preocupação em seu tom de voz - Isso já faz dias, você já pode voltar as aulas...eu sei que não é o seu lugar favorito mas a Nostradamus é uma oportunidade única que você não pode perder, só mais um ano filho...depois disso vai dar tudo certo...
Encaro o teto durante um tempo até raciocinar as palavras do mais velho, dias? Isso foi ante ontem, não foi? Olho para meu celular e noto que minha detenção já se inspirou a dias, se passaram cinco dias desde aquilo...
- Cacete... - Murmuro ao notar que eu me perdi no tempo mais do que o normal. - A data está certa? - Pergunto a meu pai abrindo a porta rapidamente, vejo a surpresa no olhar do mais velho ao me ver.
- Meninow... - Ouço o maior me chamando com seus olhos lacrimejados.
- Pai...? Por que está chorando? - Pergunto o encarando preocupado. - O que você tem...?
- Meu filho, eu não quero que as coisas se repitam novamente... - Explica o maior me abraçando fortemente. Ainda confuso eu o abraço de volta acariciando suas costas levemente. - Eu sei que falhei como pai, mas eu quero seu bem, entende? Eu não quero que você se isole de novo, eu sei que você tem problemas mas se esconder deles nunca será a melhor escolha...deixa eu te ajudar, meu filho...
- Mas eu tô bem, pai ... - Digo automaticamente tentando o tranquilizar, por que eu menti de novo?
*Ah...* Me afasto do maior sentindo um cheiro estranho, parece suor, sou eu?
*Nossa, sou eu* Olho para o nada envergonhado ao notar que esse cheiro estranho emana de mim.
- Filho, qual foi a última vez que tomou banho? Ou que comeu algo?? Ou que bebeu um copo que seja de água?? - Pergunta meu pai se aproximando de mim - Você não está bem meninow...deixa eu te ajudar...
Volto a entrar em meu quarto caminhando até o banheiro, fecho a porta rapidamente ligando o chuveiro. Ouço a voz de meu pai perguntar por trás da porta novamente, sua voz embargada me trás um sentimento tão pesado.
- Está tudo bem mesmo, filho...?
- Tô sim... - Digo respirando fundo me encarando no espelho, o reflexo mostra minhas olheiras profundas que deixam claro as noites perdidas que ando tendo.
Não consigo dormir, não tenho sono...
Não consigo comer, não tenho fome...
Minhas costas doem, o peso da culpa ainda vai quebrar minha espinha, meus amigos ganharam problema por minha causa, meu pai se sente culpado por não ter sido presente em minha vida, ele está mal...e de novo é por minha causa...sem falar em Joui jouki...
Todos com quem me importo foram afetados, eu desencadiei tudo isso...
*Preciso de um banho, quem sabe tenho sorte e desço pelo ralo...* Penso adentrando no box do cômodo.
Tomo um longo e demorado banho, me envolvo em minha toalha voltando para meu quarto a procura de alguma peça de roupa. Olho de relance para o canto do cômodo vendo em cima da minha cadeira gamer um suéter vermelho familiar, eu deveria devolvê-lo ao dono...
Pego a peça de roupa me sentando em minha cama, encaro o suéter e meu celular, e se eu ligar para ele? Talvez não seja uma boa ideia, apenas mandar mensagem? Ou só deixar isso quieto mesmo?
- Hm... - Murmuro com indecisão colocando o suéter no corpo junto a uma calça moletom preta. Desço as escadas da casa vendo meu pai terminando de preparar alguns mistos quentes enquanto conversava com alguém no celular sobre algo no trabalho. Me sento na mesa encarando minha caneca de força G.
*Eu devia voltar ao fliperama e gastar algumas fichas...* Penso na ideia mesmo sabendo que é só mais uma das minhas ideias que nunca vou colocar em prática.
- Aham, eu sei, eu sei. - Comenta meu pai conversando com alguém em seu celular - Eu já tenho um cliente, receio que apenas daqui alguns meses poderei prestar serviços a seus alunos. Tudo bem assim? Haha ok, te retorno mais tarde então! - O mais velho desliga o aparelho servindo um pouco de café em minha caneca, o mesmo coloca três mistos em meu prato me olhando torto.
- Nem me olha com essa cara, você come feito passarinho! - Exclama o mais velho se sentando na mesa - Come tudo, depois se quiser, assistimos algum filme, tudo pra você? - Pergunta meu pai mordendo seu café da manhã.
- Filme? Você não precisa trabalhar hoje? - Pergunto confuso olhando para o maior.
- Hoje não. - Comenta Cristopher tomando seu café - Come meninow!
- Pai, você não precisa faltar o trabalho por causa de mim, ok? Eu já falei que tô legal. - Digo tomando um pouco de café.
*Amargo igual a minha vida* Dou uma risada frouxa de meu próprio comentário, meu pai me encara confuso não entendendo o por que dei uma pequena risada do nada. Ele deve achar que o filho dele é esquisitão, acho que ele tem certeza disso.
- Primeiro, você disse que está bem mas atuação nunca foi o seu talento - Comenta o mais velho com sua caneca em mãos. - Segundo, Joe está exausto, não posso treinar o meninow dessa forma, tanto ele quanto eu teremos um dia de descanso hoje. - Explica meu pai suspirando fundo,.o mesmo olha seriamente para mim comentando. - Ele esteve aqui noite passada...
Paro de mastigar o encarnado seriamente. Joui esteve aqui? Sinto meu coração disparar esperando meu pai explicar melhor o que o mesmo disse.
- Por que ele veio aqui ? - Pergunto ao meu pai que me encarava confuso. Não me lembro de ter nem se quer ouvido a voz do asiático nessa casa. Eu saberia se ele tivesse vindo, saberia?
- Olha, no começo eu achei que ele tinha vindo te ver mas aí ele subiu as escadas e...eu não sei bem o que ele veio fazer aqui, ele parecia confuso, ele não bateu na porta e não te chamou...eu não queria intervir nisso, parece ser algo pessoal de vocês dois então deixei ele entrar e sair depois... - Explica o mais velho se levantando calmamente, olho para o mesmo que caminhando até uma antiga secretária eletrônica que o mesmo insistiu em trazer para o Brasil em sua volta, mesmo sabendo a facilidade que a tecnologia trás hoje em dia o mais velho insiste que o eletro doméstico permaneça ligado o tempo todo.
- O que está fazendo? - Pergunto me levantando caminhando até o maior, levo minha caneca de café junto tomando mais um gole da bebida. É amargo mas é bom..
- Eu acho melhor você ouvir isso, ele mandou depois de algumas horas que saiu daqui ... - Explica meu pai rebobinado a fita da secretária eletrônica para um momento específico.
Já está gravando, meninow? Ah sim, sim! Olá! Você ligou para a família Cohen, não podemos atender nesse momento. Deixe seu recado e retornaremos assim que possível!
Oi... é o Joui... bom,eu...
...
Você faltou ontem, e ante ontem, e antes disso também. Eu só queria saber como você está...
Eu... eu queria te ver, mas eu não consegui fazer isso... tive medo que não abrisse a porta...
Eu queria conversar contigo, César... preciso te ver, eu entendo se não quiser, mas caso queira é só me chamar pra conversar ou sei lá, assistir Cavaleiro do zodíaco talvez...
Bom, eu... melhoras César...
Espero te ver bem e em breve...
...
*Joui...* - Ouço as palavras do jovem por meio da secretária eletrônica. Sinto um misto de emoções tomar conta de mim, o medo e arrependimento se mesclam com a saudade. Como eu sinto sua falta, Joui...
- Então... - Sinto meu pai tocar em meu ombro me fazendo voltar a realidade, ainda dicernia as palavras do asiático. Depois de tudo que eu fiz ele ainda quer me ver...ele quer me ver...
- Filho...? - Meu pai me chama novamente - Quer conversar sobre isso? Você o Joe são... - Interrompo o mais velho.
- Não. A gente não é nada, tira isso da cabeça, pai - Digo subindo as escadas apressado, noto que o mais velho está a me acompanhar.
- Me desculpe achar isso meninow, é que vocês eram tão próximos, por que terminaram? - Pergunta o maior subindo as escadas preocupado.
- Terminar o que pai? Não temos nada, se tínhamos chance de ter algo eu acabei com ela... - Explico parando em meio aos degraus da escada.
- Por que fez isso? Achei que gostava dele...filho o que está acontecendo? Está bem mesmo? Sabe que não precisa fingir nada pra mim, não sabe?
Olho para o mais velho que subia as escadas se aproximando de mim, vejo o mesmo abrir os braços me envolvendo em um abraço confortante. Sintos lágrimas escorrendo sobre meu rosto...
É tudo tão confuso, eu sou confuso, por que sou assim...?
Como explicar tudo isso? Tudo o que sinto...por que é tão diferente isso pra mim? Por que tudo é tão complicado? Por que não posso sentir raiva ou tristeza como uma pessoa normal?
- Filho...está tudo bem se não estiver bem, todos temos problemas e nem sempre conseguimos resolver todos eles sozinhos, se me contar o que está acontecendo eu vou fazer de tudo pra te ajudar, meninow... - As palavras do mais velho me confortam junto ao seu abraço.
- Pai... - O abraço fortemente tentando controlar minha respiração falha, eu devia contar isso a ele, o quanto dói e sufoca...
Ele é meu pai, afinal ...
- Pode me falar meninow...
- Tô com medo pai...medo de estragar tudo de novo... - Digo com minha respiração falha. - Medo de machucar todos, medo de dar trabalho aos meus amigos, eu não quero encomodar ninguém...
O mais velho se senta nos degraus da escada, o acompanho ainda não saindo de seus braços.
- Medo...? - Pergunta meu pai pensativo. - Medo de estragar as coisas? Você nunca estragou nada, meu filho... - O maior me consola acariciando meus cabelos. - Quem te disse uma coisa dessas?
- Pai, fala sério. Não é preciso que me digam isso, eu me conheço...infelizmente eu me conheço muito bem, e eu sei que não consigo ficar bem comigo mesmo...eu vivo cheio de problemas e eles sempre afetam todos em minha volta...eu gosto da minha equipe...da minha família...mas mesmo gostando e me importando eu acabo estragando tudo. Eu não quero machucar ninguém pai, eu nunca me perdoaria se eu fizesse isso com meus amigos, e muito menos com Joui... - Explico secando as lágrimas que ainda insistiam em cair, o simples fato de estar chorando na frente de alguém me encomoda tanto que não consigo me controlar...
Sou fraco.
- Filho, você tem que parar de ser tão injusto consigo mesmo...você não estraga as coisas... - Comenta o mais velho me encarando nos olhos - Esqueça o passado e não se preocupe precipitadamente com o futuro, viva o agora e se permita sentir... - Explica o mais velho me aconselhando.
- É tão estranho...sentir as coisas.. e como se fosse uma criança tendo minhas primeiras emoções... - Tento explicar ignorando a dor que perfura meu peito me trazendo angústia.
Meu pai melhor do que ninguém sabe como as coisas são diferentes para mim, eu nunca fui o melhor em expressar o que sinto. Ele acompanhou meu desenvolvimento com o psicoterapeuta, apesar de ter meu diagnóstico, ter uma justificativa científica para meu comportamento, apesar de tudo sempre vai ter uma parte de mim que irá reclamar isso comigo, mesmo eu não tendo culpa de ser assim, meu eu sempre irá me julga... apontar o dedo e me culpar por tudo, absolutamente tudo que acontece em minha volta.
Existem problemas no mundo tão maiores que os meus, isso me faz com que eu me ache um encômodo ambulante. Um encômodo desnecessário...
- Sentimentos novos podem trazer novos problemas - Ouço meu pai comentar - Mas olha, você não pode reprimir esses sentimentoa pelo fato de ser um sentimento novo, talvez seja um sentimento bom - Interrompo o mais velho deixando os pensamentos negativos tomarem conta de mim.
- E se forem sentimentos ruins? E se eu não conseguir controla-los?? E se ele agir por mim e isso afetar todo mundo? Pai, eu não quero errar, eu não posso fazer isso... - Digo me desesperando. Suas mãos voltam a acariciar meu cabelo tentando me acalmar.
- Sentimentos são passageiros, sentir eles independente se forem bons ou ruins fazem parte da vida, meu filho... - Explica Cristopher tentando me acalmar - E outra, quem disse que você não pode errar? Nossos erros nos fazem humanos, César - Ele acaricia meu rosto me olhando nos olhso, seu olhar aos poucos me trazem calmaria, ele tem razão... - Nunca tenha medo do novo César, e muito menos de errar sentindo ou fazendo algo novo...
- Mas... - Paro pensando em suas palavras - E se meu erro afetar os outros? Se afetar o Joui...?
- Amar não é e nunca será um erro, meu filho... - Explica meu pai voltando a me abraçar calorosamente. - Quando eu conheci sua mãe, eu achava que nosso amor não era algo certo...achava que eu era muito pouco para ela... - Vejo o mais velho encarar o nada com a nostalgia visível em seu olhar - Ela era tão linda, era educada e...sua personalidade brilhava por onde quer que ela passava...eu não podia machuca-lá com meus problemas...então eu fugi.
- Fugiu? - Pergunto o encarando surpreso.
- Fugi para a Califórnia, meu trabalho ganhou grande destaque lá...estava tudo certo, pelo menos deveria estar mas...eu nunca deixei de amar sua mãe, entende? Não consiguia tirá-la da cabeça... - O mais velho suspira pesadamente, seguro em seu ombro e o mesmo continua a falar. - Tivemos muitos problemas, mas nosso amor sempre falava mais alto que qualquer dificuldade ou empasse que tínhamos, quando eu finalmente percebi que os problemas sempre estarão a minha volta, e quando se tem amigos e alguém que ame eles serão menores, os problemas sempre vão existir...mas assim como tudo na vida, eles passam...
- O que você acha que ela acharia disso...? sabe, acharia de mim e do Joui... - Pergunto encarando o fim da escada pensativo.
- Ela com certeza ficaria feliz em te ver em uma fase tão boa de se viver como essa - O mais velho me responde comum sorriso sincero no rosto - Eu imagino quantos concelhos ela te daria, concelhos melhores que os meus, sem dúvida alguma...mas você conseguiu entender o que quero dizer, não é?
Afirmo com a cabeça levemente o agradecendo por não só me ouvir mas por me ajudar, minha mente é tão confusa, as vezes eu sinto que ninguém me entende mas...minha família faz o possível para entender...isso é bom, o tentar já me basta, é reconfortante...
Um tempo se passa e continuamos ali, meu pai não disse mas nada depois disso. Apenas ficou próximo a mim me fazendo companhia, olho para a porta ao ouvir batidas vindo de trás dela.
Meu pai se levanta e desce as escadas calmamente, o mais velho me encara esperando uma afirmação, sei quem está atrás da porta pela sua voz, concordo com a cabeça e vejo Thiago no gramado. Assim que o mesmo me vê entra na casa perguntando preocupado.
- Cara você tá bem??? Por que não respondeu minhas mensagens?? Tem noção quantas vezes eu te liguei cara? - Comenta Thiago preocupado, vejo seu olhar de preocupação aos poucos se tornando um de indgnação - Tu me matou do coração, sabia?!? Caralho Cesinha, a gente é vizinho! Era só dar um grito avisando que tava vivo! Nossa senhora, ein.
- Haha, eu disse que você estava preocupado com ele - Comenta Cristopher fechando a porta avisando a nós dois. - Eu vou escolher um filme lá em cima, ok? - Explica o mais velho subindo as escadas deixando eu e Thiago no lugar.
- Vai me matar? - Pergunto ao Fritiz que ainda me encarava torto.
- Tu simplesmente dá um puta sumiço do zap e para de ir para o colégio a mais de três dias, não te vi nem na sacada tragando um cigarro cara, tem noção do quão eu fiquei pilhado contigo?? - Pergunta Thiago indgnado.
- Foi mal... - Murmura sem saber o que dizer.
- Foi péssimo Cesinha, mas relaxa que quem será responsável pelo seu assassinato será a Elizabeth - Brinca Thiago bagunçando meus cabelos. Como é bom sentir seu bom humor se espalhando por todo o ambiente novamente.
- Nossa, me fudi então - Digo gargalhando em desespero.
- Espera só até abrir a conversa do grupo, seu pocket vai travar, amigão - Explica o jovem caminhando até a cozinha pegando um copo de água - Posso? - Ele pergunta.
- Beber água na minha casa?? Claro que não cara, falta de educação a sua ein, sem noção. - Digo ironicamente - Veio aqui pra isso, é?
- Haha não mesmo - Ele comenta tomando um pouco de água - Vim ver se estava vivo e também te fazer um convite, amigo.
- Convite? - Pergunto curioso sobre o assunto.
- É, vai acontecer um jantar lá em casa, parece que a Bea quer oficializar o namoro com o tal Tristan e pra isso quer fazer um jantar formal, tá ligado? - Explica o Fritiz revirando os olhos. - Ai ela falou que quer você e o tio Cris lá. Cê topa?
- Ah sim, quando vai ser isso? - Pergunto ao jovem que responde rapidamente.
- Hoje a noite, comida de graça. Vai mesmo recusar esse convite Cesinha?? - Brinca Thiago sendo totalmente convincente para mim.
- Tá, eu apareço lá, mas não é pela comida - Digo acompanhando o jovem até a porta. - Só quero ver Dante descendo o supapo no Tristan mesmo.
- Hahaha eu tô ansioso pra ver isso também, quem sabe eu até ajude Dante com isso - Explica o Fritiz saindo para fora de minha casa.
- Eita, eita, eita - Brinco me despedindo do jovem. - Bom, te vejo mais tarde então.
- Bom, convite feito. Agora só falta chamar Elizabeth e o Arthur - Explica Thiago tirando as chaves de seu carro de seu bolso, o jovem para de caminhar se virando parabmim. - Por que não vem até o bar comigo chamar o Arthur? -
- Eu? - Olho para trás vendo meu pai descendo as escadas concordando com a ideia de Thiago.
- Vai lá meninow, você precisa pegar um sol e sair um pouquinho - Comenta meu pai me dando leves empurrãozinhos para fora de casa, aproveitando que já estava na porta, acho que recusar não é uma opção.
Dou de ombros entrando no automóvel junto a Thiago. No caminho para o bar converso com Thiago sobre a Nostradamus e os ocorridos nela, pelo que o Fritz me disse eu não sou o único faltoso no colégio, Elizabeth também anda faltando a alguns dias, parece que a jovem vem perdendo algumas noites de sono por problemas familiares. Ela se importou com meus problemas mesmo ela tendo os dela...Gal está redondamente enganado achando que eu não tenho amigos de verdade.
Eu tenho, e sou grato por isso...
Grato por eles...
- A gente devia ver como ela está, sei lá, chamar ela pra uma saideira, não acha? - Pergunto pensando em uma forma de animar a jovem.
- É uma boa ideia Cesinha - Comenta Thiago concentrado no trânsito. - Olha, eu vou passar na casa dela mais tarde e convidá-la também para o jantar, tô animado para que meu pai e ela se conheçam. - Explica o jovem não contendo seu sorriso bobo ao pensar na jovem.
- Thiagão ganharão, ein - Brinco com o jovem fazendo o mesmo soltar uma pequena risada de meu comentário - E o Joui...ele está bem...? - Pergunto observando a estrada preocupado.
- Olha, ele tá normal, eu acho. Fez bastante amizade no colégio, a galera do intercâmbio achou ele super legal - Explica Thiago calmamente - Tem até uma mina que também é ginasta. Eles tem muito em comum.
- Sério? - Pergunto não me lembrando de nenhuma ginasta no colégio, talvez seja do intercâmbio, assim como Joui. - Ela é intercambista também?
- Uhum, veio da Itália a bambina, Carina Leone o nome dela, se não me engano - Explica o jovem estacionando o carro em frente ao Bar Suvaco Seco. - Enfim, chegamos no bar, sentiu saudades do suvaco seco Cesinha? - Pergunta o Fritiz saindo de seu carro.
- Claro que senti, ainda mais dos habitantes dele - Comento avistando Ivete na porta do bar tragando seu charuto, como de costume. Assim que a a mesma nota minha presença chama por Arthur apressadamente.
- Fala ae família! Eu trouxe o Cesinha de volta e nem precisam me agradecer, haha! - Exclama Thiago caminhando até o bar.
- Bah, mas esse guri merece uma bebida de recompensa, não é não Arthur? - Comenta Ivete bagunçando os cabelos de Thiago, permaneço parado no meio do estacionamento esperando a gaúcha que se aproximava de mim aos poucos.
Vejo Arthur correr em minha direção me abraçando fortemente.
- Migo, cê tá vivo! - Exclama o Gaudério emocionado - ONDE CÊ TAVA, CARALHO?! - Me assusto com a mudança de humor repentina de Arthur.
- Calma, Arthur... - Digo sorrindo para o mesmo - Eu tava colocando o sono em dia - Explico calmamente, sinto Ivete me abraçar fortemente, assim como o Gaudério.
Olho para a mulher que me olha de volta sorrindente, seu olhar me trás tanto conforto, sorrio para a mesma que me aperta mais ainda no abraço com ajuda de Arthur.
- Vão quebrar a coluna do Cesinha, hahaha! - Brinca Thiago me abraçando junto aos outros.
- Abraço coletivo! - Exclama Arthur fazendo mais força no abraço.
Respiro fundo sentindo meus ossos quebrarem, isso seria uma morte estranha, uma morte boa? Morreria sendo vítima de um abraço que tanto queria sentir.
*O abraço mortal* penso começando a rir involuntariamente.
* Ok, definitivamente eu sou estranho* paro de rir ao notar que estava rindo feito um idiota. Pelo menos a vergonha que passei foi só comigo mesmo em minha cabeça.
- Consegue respirar aí, Cesinha? - Pergunta Ivete não saindo do abraço.
- Um pouco - Digo respirando fundo.
- É o que tu ganha com esse sumiço, guri - Brinca a gaúcha me abraçando com mais força, sinto Arthur fazer o mesmo e logo em seguida Thiago.
Estão em uma competição de quem me abraça mais forte? Vão fuder minha coluna com essa brincadeira.
- Gente...eu tô sem ar - Murmuro com minhas últimas forças - Gente, nem tô zuando. Gente!
Sinto todos se distanciarem me deixando finalmente recuperar o fôlego, cambaleio desnorteado até o bar junto a Ivete e Arthur que me davam um enorme sermão de como eu nunca mais posso sumir dessa forma sem avisar a ninguém, é tão estranho isso, as pessoas realmente se importam comigo...nunca tinha me dado conta disso...
Após o convite feito ao Gaudério que sem pensar muito aceitou o pedido, desde quando Arthur deixaria de jantar com Dante? Thiago foi para a casa de Elizabeth a chamar para o jantar como combinado, todos iríamos para o jantar na casa de Arnaldo Fritiz, só faltava chamar ele...
Olho ansioso para meu celular em cima do balcão, vejo Arthur me olhando com determinação me incentivando.
- Vai lá César, cê consegue cara!
Olho para Ivete que me entrega um shot de uísque e volta para o balcão. Encaro a bebida por alguns instantes ouvindo as palavras da gaúcha.
- Vira o shot e liga logo para Joui, guri! - Comenta Ivete firmemente sorrindo para mim.
Ainda tenso faço o que a mesma disse, sinto o gosto de Jão Daniel descendo queimando por minha garganta, respiro fundo pegando o aparelho telefônico. Não penso duas vezes antes de liga para o asiático.
Ouço sua voz me chamar com certa surpresa e animação ao mesmo tempo.
César-Kun... - A voz do outro lado da linha me chama.
Fico aliviado, ele atendeu e ainda me chama dessa forma...
Talvez as coisas não estejam tão ruins quanto minha mente me dizia que estava, como as coisas podem ser ruins quando se trata de Joui jouki?
Oi, Joui...
Surpresa dada!
Em breve teremos a equipe E reunida novamente! Um capítulo com momentos Danthur e Lizago!
Espero que tenham gostado! Se cuidem e boa semana para todos!
AE, já ia me esquecendo de perguntar se tu tomou água hoje? Tomou mesmo, né? Toma mais um pouco só pra garantir!
⚠️ Capítulo revisado mas pode conter erros de escrita!
Total de palavras: 4.719
Baey baey!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro