Gal Sal
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Sentimentos...
Bons ou ruins, todos temos e nunca devemos reprimilos, por mais amedrontador que seja senti-los ou encara-los de frente.
Eu sinto sentimentos, as vezes temo eles...
Alguns são fortes, fortes demais para controlalos, por isso os temo. Não consigo parar de pensar no que Gaspar está sentindo agora nesse momento recebendo o presente que lhe entreguei junto ao livro.
Ele deve estar magoado ou com raiva...talvez os dois, apesar de tudo, do que está sentindo...ele não vai demonstrar isso.
Não vai demonstrar nenhum tipo de sentimento, não para mim, porque eu não sou confiável.
Não é como se eu quisesse que ele demonstrasse algo também, por mim que ele se afogue em seus próprios sentimentos. Em sua própria tristeza, sua própria raiva.
Ele merece isso.
Merece enfrentar a realidade que suas próprias consequências causaram. Não é justo ele simplesmente ignorar tudo isso.
Eu sei que ele sente...ele tem que sentir...não é justo. Ele não pode simplesmente seguir em frente e ignorar tudo que aconteceu.
Tudo que ele sentiu.
Por que ignorar isso? Ele não parece se importar com a ausência dela...talvez não sinta saudades...
Odeio esse Dante. Por que fingir ser alguém que não é? Ele quer tanto assim agradar sua nova família? Seus novos amigos...
Agradar esse tal de Arthur Cevero.
Maldito garoto, acha que pode entrar na Nostradamus e fazer o que quer. Ainda vou fazer esse gaúcho sentir o mesmo que ele fez Antony sentir naquela briga no corredor.
Ele, a arrogante da Webber, o idiota do Fritiz e o asiático. Todos eles, se têm laços com César Cohen vão sofrer tanto quanto o mesmo.
Veremos se a equipe E dura para sempre e essa idiotice de amizade verdadeira.
Isso não existe e o Cohen sabe disso, é tudo superficial. Tudo sempre é.
*Patético* penso observando uma das folhas do quadrinho que César tanto gostava de ler durante os intervalos.
- Pena. - A jogo na lixeira de meu quarto voltando a me deitar em minha cama, a madrugada está quase se encerrando e mais uma manhã me aguarda.
Não consegui dormir, estou ansioso de certa forma para ver o Gaspar, quero saber qual foi sua reação ao relembrar do passado, espero que tenha doído.
Se ele não sente dor eu vou fazer com a ele sinta. De uma forma ou de outra, não me importo com as consequências.
Não tenho nada a perder, a diretoria é praticamente meu lar, lá eu tenho paz. Somente eu, a secretária que nunca nota a presença de ninguém, o ventilador de teto e a bela planta no canto do cômodo.
Lá dentro eu tenho paz, pouco me importa os concelhos de Veríssimo. Ele não sabe de nada do que está acontecendo no próprio trabalho então não é ninguém para me dizer que preciso me colocar em meu lugar.
Eu estou em meu lugar, eu sempre fui Gal Sal, sempre tive a Nostradamus como meu lugar, os que me encomodam que fiquem quietos.
Quem César Cohen pensa que é? Agora que tem seus amiguinhos criou coragem, como se fossem amizades verdadeiras.
*Patético* penso novamente colocando meu travesseiro contra meu rosto, o que eu estou fazendo? Gastando meu tempo com alguém irrelevante.
Eu deveria estar dormindo.
Vou dormir,pelo menos um pouco...
*Que maravilha* penso ironicamente ao sentir meu celular vibrar informando que já eram seis da manhã.
- Droga... - Resmungo comigo mesmo me levantando da cama, ouço batidas na porta. Passo por ela ignorando as batidas e caminhando até meu closet pegando meu uniforme o vestindo sem pressa.
Coloco minhas coisas em minha mochila me sentando em minha cama novamente, pego meu celular mandando mensagem em um grupo avisando aos meus colegas que eu vou a aula hoje.
Não entendo esse papo de "se você não for eu não vou". Como se eu fosse a solução para eles não reprovarem de ano.
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Grupo Escripitas
Gente?
Alguém on?
Antony
Bom dia flor do dia
Não começa de graça
Antony
Acordou de mau humor hoje Gal?
Te importa isso?
Henry
Eitaa
Começar o dia com barraco
Eu gosto.
Antony
Gosta pq não é contigo né?
Henry
Exatamente
Bruno
Oi
Bom dia grupo
Érika
Bom dia!
@Kish?
Ainda dormindo cara?
Kish
Tô aqui
Henry
Eae Brunão!
Vai na aula hj?
Vocês vão né?
Antony
Estou só terminando meu café
Já vou para a Nostradamus
Henry
Blz
Já já estou indo também
Bruno
Nos vemos lá então
Kish
Já tô indo
Até lá gente
Henry
Até!
Estranho
Gal?
Você vai?
Vou
Até lá
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Desligo meu celular encarando a porta que ainda estava recebendo batidas de alguém atrás dela, possivelmente a servisal da casa sendo insuportável como sempre.
Respiro fundo me levantando novamente, vejo jogado em um canto de meu quarto um álbum de fotos, caminho até ele o guardando com cuidado em minha estante.
*Eu deveria ser mais organizado com minhas coisas* penso abrindo a gaveta guardando a pasta, não consigo evitar de abri-la novamente observando a foto de um lago com alguns patos nadando no lugar tranquilamente.
Observo a foto só por um segundo, já é o bastante...
O bastante para voltar ao passado relembrando tempos que não voltam mais...
• FLASHBACK ON •
Nublado.
Hoje o dia está nublado, o frio começa o que seria uma ótima desculpa para me trancar em meu quarto e apenas existir debaixo das cobertas mas infelizmente isso não é possível.
O clima chuvoso junto ao o silêncio nas ruas deixam tudo tão melancólico, tenho sorte de ter Jasmim ao meu lado, ela aquece meu dia de certa forma.
- Então, o que acha de um cinema? Nesse frio seria bom um filme legal com ele, não acha? - Pergunta Jasmim voltando a se sentar na pequena mesa em um canto mais afastado da cafeteria onde estamos localizados. A jovem coloca sobre a mesa as coisas que havíamos pedido, dois copos de café junto a alguns doces e bolinhos - Você pediu com leite de amêndoas, certo? - Pergunta a jovem me entregando um dos copos.
- Sempre peço a mesma coisa desde que esse lugar abriu Jasmim - Explico pegando o copo de suas mãos - Mesmo assim, você sempre pergunta a mesma coisa.
- Tenho esperanças que um dia você vai escolher o novo, sair da zona de conforto é bom, sabia? - Comenta a jovem pegando um bolinho o comendo por inteiro - É até saudável - Explica a jovem olhando para o cardápio.
- Sair da zona de conforto? Estamos falando de cafés? - Pergunto a encarando confuso.
- O que você acha? - Pergunta a jovem olhando para mim com seu sorriso de canto. Respiro fundo mudando de assunto, odeio quando respondem minha pergunta com outra pergunta.
- Viemos aqui para descutir sobre a surpresa que quer fazer ao Gaspar, lembra? - Explico tomando um gole de meu capuccino com leite de amêndoas. - Sobre a ideia do cinema, é melhor esquecer isso - Comento não achando uma boa ideia - Gaspar odeia filmes de romance, nunca ri com filmes se comédia, não entende os de suspense e não se assusta com os de terror - Reviro os olhos só de lembrar na ocasião em que o chamei para ir ao cinema. De todas as péssimas ideias que já tive na vida essa está no topo delas - Nem vou falar sobre os filmes de ação, vai por mim. Cinema não é uma boa ideia Jasmim - Explico para Jasmim que volta a pensar em qual surpresa poderia fazer ao seu namorado.
- Que tal uma boate? Ele gosta de dançar valsa ao som metal - Comenta a jovem sorrindo bobo para o nada.
- Valsa com o que? - Encaro Jasmim confuso - Olha, em boates tem bebidas e você sabe o que aconteceu da última vez - Explico descartando essa ideia.
- Haha aquele show foi incrível! - Comenta Jasmim sorridente se lembrando do ocorrido de alguns anos atrás.
- Fala isso para as freiras que o castigaram - Comento mordendo um bolinho que de bom só tinha a aparência mesmo - Nossa senhora que negócio ruim - Reclamo olhando para a vitrine da cafeteria onde havia vários deles - Fresquinhos é o meu cacete!
- Gal, cala a boca haha - Exclama a jovem notando que um dos atendentes havia olhado em nossa direção - Quer que nos expulsem? Essa cafeteira é boa demais para sermos enchotados dela cara.
- Boa? Você comeu iss--- paro minha frase encarando a jovem surpreso com a coragem que tem de estar comendo seu terceiro bolinho.
- Que foi? - Pergunta Jasmim percebendo que eu a encarava.
- Nojo. - Digo de forma seca com repulsa - Enfim, nada de bebidas.
- Cadê a graça em comemorar um ano de namoro sem bebidas? - Pergunta Jasmim cruzando os braços.
- Tem graça comemorar um ano de namoro? - Pergunto com deboche recebendo um leve chute da mesma por baixo da mesa - Não use agressão amiga, só fiz um humilde comentário - Explico calmamente.
- Para a sua informação comemorar meu namoro com Gaspar é algo que se deve fazer todos os dias - Afirma Jasmim sorridente - Outra coisa, que história é essa de freiras e castigo? - Pergunta a jovem com preocupação.
- Você já viveu no orfanato Jasmim, sabe bem como as coisas funcionam lá - Explico sem muita importância. É claro que quando Gaspar me contou o que elas o obrigaram a fazer eu fiquei puto ao ponto de cogitar em colocar fogo em cada um daquelas velhas, mas fogo no orfanato não seria uma boa ideia.
- É mas eu saí de lá já faz alguns anos, por que elas continuam com a mesma forma de "educar" as crianças de lá? - Pergunta a jovem indignada.
- Porque elas são tudo, menos santas - Digo com sinceridade. - Sabe Jasmim, você tem sorte de ter saído daquele lugar, agora sua vida é perfeita, não é filinha do prefeito? - Comento a provocando, a jovem com um sorriso fraco comenta.
- É...perfeita - Comenta a jovem olhando para seu café pensativa.
- Pais babacas? - Pergunto preocupado.
- Hm? - Ela volta a me encarar confusa - Como assim?
- Seus pais, eles são babacas? - Pergunto notando certo encômodo vindo da jovem.
- Que? Claro que não, eles são legais e super liberais - Explica a jovem calmamente - Você tem toda razão Gal, eu tenho muita...sorte.
- Hm... - A encaro com preocupação, entendo que Jasmim não queira conversar sobre o assunto. É um direito totalmente dela mas se pelo menos soubesse mentir direito eu ficaria menos preocupado - Jasmim, sabe que pode me falar sobre qualquer coisa, não sabe? Tipo, qualquer coisa mesmo. - Explico segurando sua mão que estava sobre a mesa, a jovem me encara por alguns segundos voltando a desviar o olhar.
- Não é nada, nada demais... - Murmura a jovem.
- Se não é nada demais pode me contar, não pode? - Pergunto a encarando seriamente, suspirando fundo a de longos cabelos começa a me explicar.
- Eu só sinto que não posso decepciona-los de forma alguma, entende? Sei lá, eu me esforço para agradar todos da família mas...parece que eles só querem um rosto bonito para sorrir para as câmeras em algumas entrevistas... - Explica Jasmim cabisbaixa - Mesmo assim, é sem dúvidas melhor que o orfanato, queria poder tirar o Gaspar daquele lugar...
- Ele sabe se cuidar, e sobre esse lance com sua família, pessoas como o seu pai pensam apenas no dinheiro, é claro que todos gostaram da ação bondosa de adotar uma pobre órfã e...bom, as eleições estão chegando e passar uma boa impressão é o principal objetivo dele - Explico com desprezo, não espero nada de bom vindo desses políticos - Eu entendo esse seu querer de sentir que eles tem orgulho de você mas...não se esforça muito com isso Jasmim, viva sua vida e deixem que eles sintam orgulho pelo o que você é e não pelo o que eles querem que você seja - Aconcelho a jovem seriamente acariciando levemente sua mão - No fim das contas nada que você faça será o suficiente para eles, pais são assim e não vale a pena se esgotar mentalmente por isso, não vale mesmo a pena - Explico por ter experiência própria quando o assunto são pais que só se importam com sua conta bancária.
- É...acho que tem razão Gal - Comenta a jovem pegando outro bolinho.
- Sempre tenho. - Explico me gabando - Voltando a tal surpresa para o seu querido Gaspar, que tal um restaurante?
- Restaurante? - Pergunta Jasmim fazendo uma careta - Isso é tão clichê Gal, credo.
- Já pensamos em todas as possibilidades Jasmim - Reclamo cruzando os braços.
- E você descartou todas colocando defeitos nelas - Retruca a morena também cruzando os braços.
- Você que me pediu ajuda com isso, dá próxima vez que for escolher um namorado escolha um menos sem graça e anti-social - Explico já cansado de ouvir ideias para onde levar Gaspar e descartar todas já que não daria certo. O Gaspar é tão responsável que chega a ser chato, essa é a verdade. - Devia ter pensado nas consequências antes de se apaixonar por alguém como ele - Reclamo com a morena que comenta.
- Pensar? Não pensamos no amor Gal, em como ou quando vamos sentir - Explica a Jasmim sorrindo bobo para mim - Bom, é claro que as vezes sonhamos com o amor perfeito mas nada é planejado de fato...apenas sentimos, entende? - Explica a jovem olhando para mim que não entendendo nada sobre o amor dou de ombros.
- Simplesmente acontece Gal, um dia você vai entender isso - Comenta Jasmim colocando uma de suas mãos sobre meu ombro.
Olho para o nada pensativo com as palavras da mesma.
Um dia vou conhecer o amor, mas quando? Quem? Pra quê?
*Como se eu precisasse de mais problemas em minha vida* Penso tirando a mão da jovem de cima de meu ombro.
- Quem disse que eu quero sentir isso? - Pergunto olhando para Jasmim.
- Querendo ou não, você vai sentir um dia. Como eu disse, simplesmente acontece - Explica a mesma calmamente - Eu até acho que você sente...só não sacou ainda - A jovem olha para mim sorrindo canto para mim.
- Sacar? Que assunto nada haver Jasmim - Reclamo com a mesma - Me erra garota.
- Te errar? Ah eu acertei em cheio não é? Você sabe bem do que eu estou falando, ou melhor, de quem - Comenta Jasmim me provocando.
- Não comece com suas brincadeiras - Digo em um tom ameaçador, por mais que a jovem não tivesse medo de nada.
Abslutamente nada.
- Não disse nada. Até porque você sabe né? Começa com Léo e termina com onardo.
- Jasmim! - Engasgo com minha bebida não esperando a fala da mesma em um tom tão alto - Para com isso, somos só amigos, talvez nem isso. Ele é estranho!
- E daí? Você também é - Comenta a jovem com naturalidade - Eu acho que vocês se entendem muito bem, isso é fofo, sabe?
- Você não tem que achar nada - Reclamo cruzando os braços.
- Nossa Gal, seu ignorante eu só fiz um comentário - Explica Jasmim emburrada.
- A conversa não é sobre minha vida e sim sobre a sua. O que quer fazer com a tal surpresa? - Pergunto mudando de assunto.
- Sinceramente não sei mas o que fazer, você descartou todas as minhas ideias - Comenta a jovem desanimada.
- Elas são ruins, só fui sincero - Comento calmamente.
- Ah, isso é tão complicado - Murmura Jasmim debruçada na mesa da cafeteria.
- Complicado? Você sabe que se você estiver feliz ele também estará, não é? - Comento já sabendo o quão gado esse loiro é pela jovem.
- Mas dessa vez eu quero que seja o contrário Gal, quero me sentir feliz o vendo feliz...quero fazer algo especial, essa data merece algo especial...
- Sinceramente Jasmim, não sei como posso te ajudar, eu nunca amei então...foi mal - Explico pegando outro bolinho o mordiscando, assim como o primeiro que comi me arrependo profundamente de ter o colocado na boca - Que foi? - Pergunto notando o olhar de preocupação da jovem sobre mim, odeio quando me encaram dessa forma.
- Você realmente nunca amou ninguém Gal? - Pergunta Jasmim, bufo encomodado por termos voltado novamente para esse assunto.
- Você já viu a minha idade Jasmim? Você que é super emocionada e está procurando namorar cedo, temos quinze anos e isso não é idade para namorar, sabia? - Comento mudando de assunto.
- Tenho dezesseis então ---
- Grande diferença - Resmungo revirando os olhos - Olha, eu não sei o que fazer, você não sabe o que fazer e é isso. Fudeu - Dou de ombros sem importância.
O namoro não é meu mesmo.
Jasmim continua a me encarar preocupada o que me deixa confuso porque sinceramente não entendo o porquê da preocupação com a minha vida amorosa, porque ela não cuida da vida amorosa dela?
Eu não me sinto na necessidade de ter alguém, sempre me senti mais do que bem estando sozinho. Sem falar que sou jovem e não quero nada que seja complicado. Eu nunca em minha vida faria tudo que Gaspar fez e faz por sua namorada e nem o que Jasmim faz pelo loiro. Mas cada um com sua vida, por mim que esses dois se afundem em sua melosidade desnecessária.
Sempre ouço a frase o amor é cego. Eu acho que ele é mais que isso, o amor também é surdo, mudo e absurdamente desnecessário.
As vezes me pergunto se um serei infectado por essa coisa, se farei coisas sem sentido por estar cego, mudo e surdo pelo amor...
Não que eu queira. Eu não quero mas Gaspar e Jasmim parecem tão felizes...tão completos...
Talvez seja isso que me falta já que eu nunca me senti completo, sinto que me falta muitas coisas mesmo tendo todo o dinheiro que alguém poderia ter.
Acho que o que me falta está além das cédulas, além do que posso comprar.
- Eu vou pensar em algo que ele goste, mas de qualquer forma obrigada pela ajuda Gal - Comenta Jasmim se levantando olhando para a movimentação da rua - Preciso voltar para casa, meu pai diz que os fins de semana são da família. - Explica a jovem bufando em sua frase.
- Hm, entendo - Murmuro me levantando junto a mesma - Pode ir, eu pago a conta.
- Certeza? - Pergunta a jovem olhando para mim.
- Tenho sim, se cuida tá? - Me despeço da jovem deixando o pagamento em cima da mesa do estabelecimento.
- Se cuida também migo! - Exclama Jasmim saindo da cafeteria e atravessando a rua sumindo de minha vista, o atendente caminha até mim recebendo o pagamento e me perguntando se desejo fazer mais algum pedido, nego levemente com a cabeça saindo da cafeteria.
Eu poderia ir para casa e descansar um pouco repondo a péssima noite de sono que ando tendo ultimamente mas minha casa não é o lugar ideal para se descansar em paz.
Caminho pelas ruas por um tempo não sabendo muito bem para onde ir, encontro meu conforto em baixo de uma árvore próximo a um parque repleto de bancos de pedras e um pequeno lago no centro.
Eu diria que é um parque bonito se os seres humanos não fossem tão desprovido de higiene ao meio ambiente.
Um tempo se passa e eu continuo a observar as folhas da grande árvore interagindo com o vento, ouço passos se aproximando do banco onde estava descansando um pouco, olho para sombra que para próximo ao banco provavelmente esperando eu ceder espaço para o mesmo se sentar, não preciso tirar os fones de ouvido para saber que era Leonardo Gomes ao meu lado, seu cheiro de perfume amadeirado já entrega sua presença.
Continuo a encarar o lago esperando algo acontecer, talvez uma folha cair, ou um galho, ou um meteoro, ou algo mais catastrófico...
Qualquer coisa.
- Vai se sentar ou não? - Pergunto impaciente com o jovem que apenas me encarava sem dizer ou fazer nada.
- Achei que não iria perguntar - Comenta Leonardo se sentando ao meu lado - O que faz por aqui Gal Sal? - Pergunta o jovem olhando para mim.
Dou de ombros sem importância.
- Hm - Ele murmura me olhando preocupado - Por que está chateado Gal Sal?
- Quem disse que estou? - Pergunto de forma ríspida para o loiro que sorri para mim me provocando.
- Uou, agora está bravo, por que está bravo Gal Sal? - Pergunta novamente.
- Não tô bravo - Reclamo me afastando para o canto do banco - Tem como você ser menos espaçoso Léo? Nossa. - Resmungo impaciente com a falta de noção do mesmo.
- Acordou grosso ein Gal - Brinca o loiro envolvendo seu braço em volta de meu pescoço - Olha, infelizmente o banco é bem pequeno então não temos escolha a não ser ficarmos juntinhos cara. - Explica Leonardo me provocando, acerto o jovem com uma cotovelada em suas costelas - O porra! assim não Gal, quanta agressividade cara.
- Sempre temos escolha Leonardo - Comento me levantando do banco caminhando sem rumo, noto que o loiro está atrás de mim me acompanhando - Tá indo pra onde Léo? - Pergunto me virando para o mesmo.
- Pra onde você está indo? - Pergunta Leonardo calmamente.
- Por aí - Digo voltando a caminhar.
- Que conhecidencia Gal, estou indo para o mesmo lugar - Brinca o jovem me acompanhando sabe se lá pra onde.
- Leonardo, não me leva a mal mas eu tô afim de ficar sozinho, entende? - Explico suspirando pesadamente.
- Hm, entendo...mas tem certeza? - Pergunta Leonardo me olhando com preocupação - Se quiser te faço companhia Gal.
- Companhia? - Pergunto parando de caminhar me virando para o loiro - Você não tem alguma coisa para fazer hoje? Tipo...sei lá - Dou de ombros olhando para o jovem - Por que quer me seguir por aí?
- Sei lá, eu só te vi em um completo tédio naquele banco e me indentifiquei de certa forma, eu também não tenho muito o que fazer hoje - Explica Leonardo dando de ombros - Entendo que queira ficar sozinho, eu também quero. Que tal fazermos isso juntos? - Pergunta o jovem sorrindo para mim.
- Hm, tanto faz - Dou de ombros voltando a caminhar, nos sentamos debaixo de uma árvore observando as folhas caírem lentamente, depois de muita insistência de Leonardo empresto um de meus fones ao mesmo para ouvir Dragões Metálicos junto a mim.
Após alguns minutos de silêncio o jovem comenta com uma risada frouxa.
- Você é estranho Gal - Comenta Leonardo olhando para o lago.
- Eu? - Pergunto olhando para o mesmo - Por que sou estranho?
- Porque sim. - Explica o loiro com simplicidade.
- Falou o cara mais normal do universo - Digo colocando minha cabeça sobre seu ombro. Passei grande parte da noite acordado e começo a sentir os efeitos disso.
*Deveria ir para casa e dormir um pouco* penso sentindo minhas pálpebras pesadas.
- São quatro da tarde e já está com sono Gal? Por isso e várias outras coisas você é estranho haha - Comenta Leonardo me balançando levemente - Gal? Cara?? Gal Sal?? - Pergunta o loiro me balançando novamente. - Estranho... - Comenta o jovem finalmente me deixando em paz.
Quando Leonardo Gomes está calado ele é até uma boa companhia para passar uma tarde nublada.
Agora finalmente posso dormir...
•FLASHBACK OFF•
Guardo a foto do lago fechando a gaveta em seguida, caminhando até a porta onde as batidas ainda estavam constantes.
Abro a porta olhando para a empregada que ao notar minha presença me comprimenta.
- Bom dia Gal, que bom que acordou - Comenta a mulher sorrindo de forma meiga para mim, a mesma abre espaço para minha passagem - O café já está pronto, desça pois seu pai já está a sua espera.
- Quantas vezes tenho que dizer para não bater na minha port---espera, meu pai? - Paro minha frase descendo as escadas a procura do mesmo que finalmente havia saído de seu escritório, não me lembro a última que tivemos um café da manhã juntos.
- Pai? - Desço as escadas o chamando, vejo o mesmo sentando na grande mesa da cozinha tomando seu café calmamente. Caminho até a mesa me sentando próximo do mesmo. - Bom dia pai - Comprimento o mais velho que se levantando explica a mim.
- Está atrasado Gal, tome seu café depressa, te levarei para a Nostradamus hoje. - Explica o mais velho saindo da cozinha, olho para o outro lado da mesa notando que Aghata também estava ali.
Não tinha notado a presença da jovem, por que ela está tão quieta hoje?
A encaro por alguns segundos esperando a mesma dizer alguma coisa, mas graças a seu livro que toma grande parte de sua concentração a jovem não diz nada.
Abslutamente nada, o que é estranho para uma jovem tão hiperativa como Aghata.
Desde que Aghata pegou esse livro a mesma vem agindo de forma...diferente.
Pego uma fruta na cesta a minha frente observando a jovem virando as páginas lentamente.
- Não vai comer nada mocinha? - Pergunta o mordomo olhando para Aghata enquanto me servia com um pouco de café. - Aghata? - O mais velho a chama novamente que sem tirar os olhos do livro responde o mesmo.
- Hm? Ah não, valeu - Comenta a jovem em meio a bocejos. - Tô sem fome, mas obrigada de qualquer forma.
- Com sono? - Pergunto olhando para a jovem que afirma com a cabeça levemente - Notável. Sua cara está deplorável,bom, mais que o normal. - Comento calmamente a provocando.
- Ah, você não pode falar grande coisa de mim Gal Sal, também está acabado, sabia? - Comenta Aghata não tirando os olhos do livro.
- Odeio quando tem razão - Comento com a jovem me levantando - Vamos indo, estamos atrasados. - Explico para mais nova que se levanta da mesa comentando.
- Estamos sim, e por incrível que pareça desta vez a culpa do nosso atrasado não é minha - Explica Aghata rindo frouxo da situação.
Saímos da casa entrando rapidamente no carro estacionado próximo a casa, sento ao lado de Kian e Aghata no banco de trás. A viagem foi silenciosa, como sempre meu pai não fez nenhum comentário ou algo do gênero, não quero encomodar meu pai então também permaneço em silêncio durante toda a trajetória até o colégio.
A única pessoa extrovertida o suficiente para iniciar um assunto, o mais sem noção ou sem sentido possível está ocupada demais com sua leitura.
*Onde ela conseguiu esse livro?* Penso olhando pelo retrovisor o livro que a jovem tem em suas mãos.
Não parece ser um dos meus ou do escritório de meu pai. Talvez tenha pegado na biblioteca da Nostradamus.
*Preciso entregar os livros na biblioteca* Lembro-me do aviso que Mia deu em casa sala sobre a data de entrega limite dos livros.
O carro para em frente ao colégio Nostradamus, abro a porta pronto para sair do automóvel, paro ao ouvir meu pai comentar.
- Saia do carro Aghata, preciso ter uma conversa a sós com Gal - As palavras de Kian me fazem gelar.
A jovem olha para mim com certa preocupação, a mesma ao ouvir o mais velho ordenar novamente saí do carro.
- Ouviu o que disse Aghata? - Pergunta Kian olhando para a jovem que sem dizer nada saí do automóvel olhando para mim receosa.
Um silêncio toma conta do carro, tão pesado que consigo senti-lo sobre meus ombros, sinto ele se mesclando dentro de mim junto ao medo, medo de ter feito algo.
Algo que o encomodou.
Olho para meus pés de cabeça baixa até sentir sua mão sobre meu rosto tirando algumas mechas de cabelo deixando alguma marcas amostra.
A última briga nos corredores da Nostradamus me renderam ematomas, nada que doa muito.
Quem diria que Clarissa Leão é uma jovem tão forte assim.
*Essa garota é ridiculamente forte* Penso observando suas amigas passarem próximo ao carro caminhando até os portões da Nostradamus.
- O que é isso Gal? - Pergunta Kian seriamente - Mais brigas? - Ele pergunta olhando para mim impaciente - Quantas vezes tenho que te falar sobre isso?
*Quantas vezes? Você nunca disse nenhuma vez. Nem se importa...* Desvio o olhar guardando meus pensamentos para mim mesmo.
- Eu quero respostas quando faço perguntas Gal Sal - Reclama o mais velho rispidamente.
- Foram eles que começaram - Digo colocando meus cabelos novamente sobre as marcas em meu rosto.
- Quem fez isso? - Pergunta o mais velho, antes que pudesse responder ele pergunta novamente - Quando isso aconteceu? E por que não revidou?
- Eu tenho tudo sobre controle pai - Digo respondendo suas perguntas.
- Se tivesse tudo sobre controle o Veríssimo não teria me chamado aqui para conversar sobre seu histórico de advertências - Reclama o homem seriamente - Você está roubando as coisas dos outros? Que tipo de merda você tem na cabeça?
- Eu não peguei nada! A ideia foi do Leonardo pai, eu não quero nada de ninguém e---sou bruscamente interrompido pelo mais velho que alterando seu tom de voz reclama.
- Não coloque Leonardo em sua confusão Gal, ele é um bom jovem, por que não segue o exemplo dele e para de me dar trabalho? - Reclama o mais velho abrindo a porta do carro - Eu não quero mais ouvir reclamações suas naquela diretoria garoto, que essa seja a última vez.
- Tá - Resmungo abrindo a porta do carro me levantando, sou bruscamente interrompido pelo mais velho que segura meu rosto apertando minhas maçãs, seus dedos contra a região machucada apertam os machucados me causando encômodo. O encaro nos olhos ouvindo atentamente suas palavras.
- Como disse? - Pergunta o homem seriamente - Tá? É assim que te ensinei Gal?
- Desculpa... quis dizer sim senhor... - Corrijo minhas palavras anteriores o encarando da mesma forma.
- Não me faça perder meu tempo com suas inrresponsabilidades Gal, estamos entendidos?
- Sim...sim senhor. - Comento afirmando com a cabeça, saio do carro assim que o mais velho me solta.
Caminho junto ao mesmo até o portão do colégio. Lá a minha espera estava todos os meninos próximo a Aghata que reclamava algo com Antony, os murmurios se encerram ao me aproximar junto a Kian.
O mais velho passa por todos entrando no corredor principal do colégio, Leonardo me encara seriamente preocupado com a presença do homem.
- Bom dia Kian. - Leonardo o comprimenta calmamente, o mesmo se vira sorrindo educadamente para meus amigos.
Sinto nojo ao ver esse sorriso...
- Bom dia Leonardo - Kian o comprimenta da mesma forma - Bom dia para os jovens também. - O mais velho sorri para os outros do grupo que acenam e o comprimenta também. - Preciso resolver alguns assuntos com Veríssimo, tenham um bom dia de aula meninos - Comenta o homem se despedindo de todos voltando a caminhar para dentro dos corredores do colégio.
- Assuntos? - Pergunta Leonardo olhando para mim - Tudo bem Gal? - Pergunta o jovem preocupado. O encaro por alguns segundos voltando meu olhar para Aghata que voltou ainda estava reclamando sobre algo com Antony.
- Vai lá e pega então garota - Comenta Antony apontando para nossos pés onde havia uma grade fixada no chão, possivelmente um boeiro ou algo relacionado ao sistema de esgoto da Nostradamus.
- Eu? Descer lá? Nem por um caralho que eu vou! A culpa foi sua, vai você e pega! - Reclama Aghata seriamente.
- Culpa minha? Eu não fiz nada demais, o erro foi seu pirralha - Reclama Antony cruzando os braços não dando importância para a indgnação de Aghata o que a deixou mais nervosa do que já aparentava estar.
- Cê tá zuando né? Se vira e me devolve o livro Antony, na moral eu tava na minha e você veio bancar o babaca - Reclama Aghata olhando para mim - Gal manda ele fazer alguma coisa cara, meu livro caiu lá em baixo e a culpa é toda dele! - A jovem aponta para Antony feito uma criança birrenta.
- Eu não fiz nada! - Retruca Antony da mesma forma.
- Aí! Quanto mi mi mi - Reclama Érika revirando os olhos - É só um livro garota, dá próxima vez é só olhar para onde anda, ok?
- Quem te chamou na conversa ein? - Pergunta Aghata rispidamente olhando para a ruiva que reclama novamente.
- Nossa que grossa - Reclama Érika cruzando os braços.
- Dá próxima vez, é só tomar conta da suas conversas, ok? - Explica Aghata da mesma forma que Érika havia dito para a mesma.
- Pirralha grosseira!
- Intrometida do caralho!
- Gente, parem de brigas. - Comenta Leonardo acalmando os ânimos - Temos algo mais importante para conversarmos - Explica o loiro se virando para mim - O que seu pai quis dizer com assuntos com o Veríssimo? - Pergunta o jovem olhando para mim seriamente.
- Isso não é assunto seu - Digo de forma seca.
- E se for? - Pergunta Henry. O encaro seriamente esperando o mesmo voltar a calar a boca já que nunca ouvi uma palavra útil se quer sair desse garoto. Mas é claro que ele não calaria, a não ser que eu o aconcelhe educadamente a ficar quieto.
- Henry, não se mete - Reclamo olhando para o jovem que insiste no assunto.
- Mas é sério, talvez seja da nossa conta, quero dizer...é sobre o que fizemos naquele dia? - Pergunta Henry com certa preocupação - Eu nunca achei que diria isso mas acho que fomos longe demais gente...
- Ih qual foi? Tá fraquejando Henry? - Pergunta Kish o olhando com desprezo - Eu que fiz todo o trampo de arrombar os armários e pegar os pertences daqueles otários e você que está arrependido é? Nossa, como você é estranho cara.
- No fim das contas todos somos estranhos - Explica Henry dando de ombros.
- Voltando ao assun--- Aghata interrompe Leonardo apontando para o boeiro.
- Meu livro. - Explica a jovem.
- O assunto não é seu livro o garota - Reclama Érika com Aghata.
- Está falando do assunto que não chegou em você Érika? - Pergunta Aghata a Érika com deboche.
- Nossa, garotas são insuportáveis, só sabem brigar - Resmunga Antony bufando ao vento.
- A Aghata que tá enchendo o saco, Gal manda ela ir embora cara - Reclama Kish.
- Quem disse que eu quero estar aqui? Eu já disse, quero meu livro, livro que você derrubou lá dentro então apenas pegue e me devolva! - Reclama Aghata voltando a encarar Antony.
- Você tem provas que eu fui o responsável por isso? - Pergunta Antony com deboche - Não, não tem. Então some logo daqui pirralha.
- A porra do seu pé na minha frente é uma boa prova! - Reclama Aghata impaciente - É sério, eu não estaria ainda nessa conversa se ele não fosse importante, só pega ele e me devolve Antony - Explica a jovem olhando para dentro do boeiro apreensiva.
- Já falei que não vou pegar, porque não fiz nada - Explica Antony não dando importância com a situação.
- Fez sim, caralho para de mentir! - Exclama Aghata.
- Ele não fez nada! - Reclama Henry.
- Eu não o vi fazendo nada também - Comenta Érika apoiando os dois jovens.
Olho para Leonardo que dá de ombros confuso, lerdo como sempre não viu nada o que aconteceu aqui.
- Ela tropeçou Gal, e agora está me culpando porque o tal livro caiu no boeiro - Explica Antony se vitimizando.
Se ele soubesse que seu sorriso forçado engana todos menos a mim ele pararia com esse teatro idiota, procurando briga com uma adolescente, que coisa mais ridícula.
*Por que não arruma briga com alguém da sua idade? Justo hoje que Aghata está na dela você começa com as implicâncias, somente eu posso fazer isso com minha prima* Penso me abaixando tentando olhar dentro do boeiro.
É escuro e o cheiro não é nada agradável.
- Você viu o que aconteceu Léo? - Pergunto ao jovem, o único que tem o bom senso de não mentir na minha cara.
- Infelizmente não, eu tava olhando para... - O loiro para sua frase ainda encarando o carro de meu pai.
*Ele tava me observando...?* O encaro pensativo.
- Que foi? - Pergunta Leonardo.
- Nada - Digo automaticamente.
Aghata se abaixa próximo a mim olhando para a escuridão dentro do boeiro.
- É um problema se tiver o perdido? Não pode comprar outro ou algo assim Aghata? Ele é tão importante assim? - Pergunto para a mais nova que apenas me encara, seu olhar de preocupação respondeu todas as minhas perguntas.
- Como ele foi parar ali? - Pergunto a todos me levantando.
- Ela caiu - Antony e Henry dizem em uníssono.
- Isso mesmo - Érika e Kish afirmam ao mesmo tempo.
Olho para Aghata que com ódio encara todos.
- Você caiu Aghata? - Pergunto para a jovem.
- Do que adianta dizer? Eu já disse que não e que--- Ah esquece Gal, acredite em seus amigos...não me importo, só quero meu livro de volta... - Explica Aghata visivelmente mal com a perda de seu bem.
Não visivelmente, todos a enxergam de uma forma mas eu a conheço, felizmente ou Infelizmente a conheço bem, sei que se fosse apenas um livro ela não reclamaria. Ela não é mimada em relação a bens materiais...
Talvez fosse um diário dela pu algo do gênero.
- Acha que eu vou acreditar neles só porque são meus amigos? - Pergunto a Aghata olhando de relance para todos.
*É exatamente por isso que não acredito, os conheço. Sei sobre a índole de cada um desse grupo... não vou reclamar, sou igual a eles, talvez até pior...*
- Sim? - Pergunta Aghata confusa com o que eu disse.
- Amigos ou não, eu acredito só na verdade - Digo firmimente - Não quero dizer que você é um mentiroso caralho Antony mas você não me soou convincente, e não me admira que Henry esteja do seu lado, baba ovos são assim mesmo - Explico olhando para os dois até ser interrompido por Érika.
- Mas é verdade Gal, ela caiu, eu vi - Explica a ruiva.
- Viu mesmo Érika? - Pergunto para a mesma, antes que a jovem respondesse me viro para Bruno que estava estranhamente calado. Fugindo da confusão, para variar. - Me diga Bruno, o que realmente aconteceu aqui?
- Eu? ham...bom, a Aghata estava caminhando e...caiu - Explica o maior olhando para todos, o mesmo volta a olhar para mim suspirando pesadamente - Caiu porque...o Antony a fez tropeçar colocando o pé na frente de onde estava passando...
- Nossa Bruno, valeu por estragar a brincadeira cara, de novo - Reclama Antony revirando os olhos junto a Henry que reclama.
- Para de estragar as coisas mano! - Reclama o jovem cruzando os braços.
- Brincadeira? Ninguém viu graça nisso Antony - Reclama Leonardo - Deixa a Aghata na dela cara, ela não te fez nada.
- Eu achei graça - Comenta Henry sorrindo para Aghata que desvia o olhar emcomodada com toda a situação.
- Você vai pegar o livro da minha prima e vai pensar duas vezes antes de tentar fazer qualquer coisa contra ela, entendeu bem? - Explico para Antony calmamente que começa a se explicar.
- Foi só uma brincadeira Gal, eu não sabia que o livro ia cair---
- Caindo ou não, isso não tem graça e se tivesse a machucado seu pé também não sairia ileso - O Interrompo seriamente.
- Está me ameaçando Gal? - Pergunta Antony se aproximando de mim me encarando seriamente.
- Acha que é uma ameaça? - Pergunto o encarando da mesma forma - Estou deixando claro que se a machucar vai doer mais em você do que nela, e isso não é uma ameaça, é um lembrete não só a você mas todos desse lugar, entenderam? - Me viro para o resto do grupo que afirmam automaticamente.
Vejo Antony com ajuda de Bruno levantarem a grade do boeiro, olho para Érika e Henry que assim como também ajudaram Antony no começo dessa brincadeira também vão ajudar até o final.
- Como vamos entrar aí dentro? - Pergunta Érika com nojo ao sentir o cheiro do boeiro.
- Tamo na merda, literalmente, haha - Comenta Henry rindo de sua própria piada. - Tenderam gente? merda, esgoto, tenderam?
- Entendemos Henry, eu riria se não fosse nojento - Explica Antony a seu amigo.
- Obrigada Gal... - Ouço Aghata me agradecendo.
- Por? - Pergunto encarando a jovem.
- Ah você sabe, por convencê-los a pegar meu livro...obrigada - Explica a jovem sorrindo para mim.
- Hm, em casa eu quero ler esse tal livro e ver se ele vale tanto a pena assim - Comento caminhando até as escadas do colégio - Agora tchau, cansei desse cheiro.
- Nem me fale, esse boeiro tá horr--- Interrompo a jovem bruscamente.
- Falei de você Aghata, com boeiro ou não você fede bastante. - Comento calmamente adentrando no colégio.
- Babaca! - Exclama Aghata segurando sua risada.
Atravesso o pátio do colégio observando aos arredores, a maioria dos alunos estão a caminho de suas respectivas salas. Não vejo Dante na sala de aula, não que eu esteja o procurando, pouco me importa o paradeiro desse garoto.
Mas é estranho sua ausência, ele nunca falta.
Talvez sua falta tenha relação com as fotos que lhe entreguei de presente, tanto faz.
Sento em minha carteira pensativo, tenho a sensação que fiz algo coisa de errado, normalmente eu faço, na visão dos adultos eu sempre faço já que sou o típico adolescente rebelde, o riquinho medito a besta que gosta de se me meter em brigas, o mimado que gosta de arrumar problemas.
Se eu dissesse que as vezes eu evito confusão será que alguém acreditaria nisso? Minha fama já se espalhou por todos os corredores desse lugar.
Eu não sou uma pessoa boa, disso todos sabem,bom, todos dizem...talvez eu seja...
E se eu for? Eu não acho que eu seja o jovem mais comportado da Nostradamus mas sinceramente. Eu só sou o que todos dizem que sou.
Não entendo pra que tantas regras decedindo o que é certo e o que não é. O que deve e que não deve ser seguido.
Por que é certo? Por que não é? Tantas normas e regras não me deixam respirar. Não vou segui-las se achar que não devo as seguir, não ligo para as consequências de ter minha liberdade.
Ainda bem que esse é o último ano, nunca mais verei o rosto de Veríssimo e de muitos alunos desse colégio.
*Que saco, por que os alunos não podem se atarsar e os professores sim?* Penso comigo mesmo olhando para o velho relógio abandonado na parede que indicava que Morato estava sete minutos atrasado para sua aula. Se eu estivesse no lugar dele estaria totalmente errado em me atrasar dessa forma.
Seria um completo inrresponsável sem compromisso com meus estudos.
E ele não tem compromisso com seu trabalho, nosso aprendizado que se dane, dando aula ou não seu salário ainda vai estar lá no fim do mês.
- Joui? O que está fazendo aqui? - Ouço César perguntar a outro jovem que entra na sala alegremente comprimentando o Cohen.
- Tenho aula vaga então decidi vir aqui te ver! - Explica o asiático sorridente.
Ignoro a existência do japonês ao meu lado voltando a me debruçar em minha carteira.
A voz dele é insuportável. *Não se porta como alguém de grande influência econômica* penso o observando, reviro os olhos ao ver tanta melosidade entre os dois.
*Cafonas* me levanto não suportando mais ver gente feliz perto de mim, que todos saltitem cantarolando felizes e contentes para a casa do caralho.
*Não sei como Nathaniel gosta desse asiático insuportável* me apoio nos armários próximo a porta esperando algo acontecer, talvez alguém chegar.
*Até o Gaspar se atrasou hoje, que estranho...* penso olhando aos arredores não vendo ninguém, vejo a distância um loiro caminhando até minha direção, pela forma despojada de andar já descarto a ideia de ser Gaspar.
Ao se aproximar um pouco mais sinto o cheiro do perfume de Leonardo, o único loiro que não queria ver agora está vindo até mim para puxar assunto fingindo que se importa com o porquê de meu pai estar aqui.
- O que está fazendo aqui? - Pergunto para Leonardo que se escora nos armários ao meu lado respondendo minha pergunta.
- Aula vaga, aparentemente o Constantino ficou doente ou algo assim, e você? O que faz aqui? - Pergunta o jovem olhando para mim.
- O que se faz em uma escola Leonardo? - Pergunto de forma ríspida.
- De mau humor Gal? Eu sei o que fazemos em escolas mas nem eu e nem você estamos estudando então... - O loiro olha para as escadas me convidando a passar o tempo no terraço do prédio. - Vamos?
- Não, Aghata disse que as câmeras foram ligadas novamente e quem for pego lá em cima vai se dar mal - Explico voltando a entrar em minha sala.
- Como ela sabe disso? - Pergunta Leonardo me seguindo até minha carteira.
- Ela é amiga da Mia que é filha do Veríssimo então...é isso, não quero problemas. - Comento me sentando novamente em minha carteira.
- Oi? Espera eu ouvi bem? Gal Sal não quer se meter em problemas? - Pergunta Leonardo fingindo espanto - Caramba, por essa eu não esperava hahaha - Brinca o jovem, bom eu acho que foi uma piada. Espero que seja.
- Essa é a parte que eu rio da sua piada sem graça para você não se sentir constrangido? - Pergunto seriamente para Léo que se senta a meu lado.
- Ok, você não tá em um bom dia, já entendi - Explica o jovem se espreguiçando em uma cadeira observando o teto - Eu vou ficar aqui e qualquer coisa é só você me falar, ok?
- Como assim?
- Ah você sabe, se quiser me contar o porquê está meio estranho, qualquer coisa eu tô aqui cara - Explica Leonardo calmamente.
- Quem disse que eu estou estranho? - Pergunto o olhando confuso.
- Ninguém disse, mas você está. - Responde o jovem - Eu te conheço Gal, tem alguma coisa te encomodando...eu posso te ajudar, se quiser é claro.
- Não. - Digo de forma seca.
- Não? - Pergunta Leonardo. - Não o que exatamente?
- Não, você não me conhece, e não, não tem nada me encomodando, e se tivesse você também não poderia me ajudar porque eu não quero sua ajuda - Explico suspirando fundo - Só vai embora, já é o bastante se realmente quiser me ajudar...
- Quer ficar sozinho? - Pergunta o jovem, afirmo com a cabeça recebendo um largo sorriso do mesmo - Que ótimo! Eu também quero ficar sozinho, a gente faz isso junto então. - Explica a loiro calmamente voltando a encarar o teto da sala.
- Léo, você tem que parar com esse argumento estúpido, o conceito de ficar sozinho é--- o jovem me interrompe mudando de assunto.
- Bora falar mal dos outros daqui, isso vale mais a pena do que você me convencer a ir embora - Comenta Leonardo olhando para os alunos da sala.
- Insuportável - Resmungo impaciente com o loiro.
- Aquele ali é mesmo, nossa ele tem cara de ser aqueles alunos que toda vez que alguma explicação está sendo dita ele começa a conversar, acertei? - Pergunta Leonardo apontando a cabeça para um aluno aleatório próximo a mesa do professor.
- Hm, nem sabia da existência desse aí na verdade. E você não pode falar muito sobre o comportamento alheio Leonardo, você não é o primeiro da classe - Comento olhando para o jovem que dá de ombros em concordância.
- É, ando dando muito trabalho na direção, e olha que é só meu primeiro ano aqui na Nostradamus cara - Comenta Leonardo sorrindo para mim - Você é uma péssima influência Gal Sal, sabe disso não é?
- Eu? - O encaro fingindo surpresa. Como se fosse a primeira vez que ouço isso. - Eu apenas te fiz um convite, você entrou no grupo porque quis. Agora não reclame, nunca disse que tínhamos uma boa fama, sempre deixei claro o que os outros pensam de mim e do grupo.
- Diga com quem tu andas e eu direi quem tu és. - Comenta Leonardo pensativo.
- Isso significa que...? - O encaro confuso não entendendo sua frase.
- Eu ainda não saquei o que é ser um escripita, agente só faz o que quer e é isso? - Pergunta Leonardo pensativo.
- Só isso? Existe coisa melhor do que fazer o que quer? - Pergunto encarando calmamente.
- Espera, então eu posso fazer o que quero? Tipo, qualquer coisa? - Pergunta o jovem com interesse no assunto.
- Depende - Respondo o jovem.
- Depende o que? Se é certo ou não? - Pergunta Leonardo.
- Cara, esquece isso de certo ou não, quem decide isso e você e sua consciência, se você não acha errado vai e faz, para de pensar no que os outros vão pensar ou fazer...se você for pensar nos outros você nunca viverá sua própria vida - Comento o aconcelhando - Só não esqueça que toda ação tem suas consequências, então se sua escolha for ruim de certa forma não espere consequências boas. - Explico o encarando seriamente.
- Mas você acabou de dizer que quem decide se é certo ou não sou eu mesmo - Comenta Leonardo confuso.
- É, mas existe leis e as normas para conviver em sociedade, você não precisa necessariamente segui-las mas penitenciárias existe para esse intuito mesmo. - Comento tentando não soar contraditório, por mais que as vezes pareça.
O grupo escripitas prezam a liberdade e o direito de fazer o que quer, em um ambiente escolar os direitos se ressaltam um dos outros. É claro que o mais forte terá mais direitos.
Ninguém disse que a vida de um colegial era fácil, se te disseram, mentiram.
Não importa o quanto os adultos preguem a igualdade entre todos os alunos, cada jovem tem o mesmo direito entre si. Mas até eles sabem que não é assim que as coisas funcionam, na práticao mais popular sempre terá o maior respeito dos outros.
Se você não tem o respeito dos outros você não tem nada, os jovens se portam como animais a lei é realmente do mais forte.
Prefiro pisar do que ser pisado...
É claro que eu não vou ser o mais fraco, alianças são formadas para isso. Juntos somos fortes e no final das contasz somos amigos, eu acho...
Amigos insuportavelmente irritantes as vezes.
As vezes sempre.
Mas são amigos.
- Espera, espera, deixa eu ver se entendi - Comenta Leonardo respirando fundo - Então eu posso e não posso ao mesmo tempo fazer o que quero? - Pergunta o jovem ainda com dúvidas.
- Estamos falando do que exatamente Leonardo? levar uma suspensão ao meu ver é tranquilo mas um boletim de ocorrência ou uma intimação judicial é outra coisa - Explico o encarando desconfiado. Por que exatamente ele quer saber sobre esse assunto?
- Hãm? - O jovem me encara extremamente confuso.
*Nossa que garoto burro* Respiro fundo usando palavras simples com o loiro.
- Leonardo, o que exatamente você quer fazer, onde e porque. - Digo calmamente apesar de já estar impaciente com um assunto que não vai fazer diferença alguma em minha vida.
- Eu não vou contar, a vida é minha cara - Comenta Leonardo sem a menor consideração pelos quinze minutos que gastei com toda essa conversa.
- Não vai me contar? - Pergunto o encarando seriamente.
- Não. - Responde o loiro - E nem adianta me olhar dessa forma querido, você não me coloca medo Gal Sal.
- Querido é sua vó - Reclamo me levantando caminhando até a janela do cômodo.
- Não, não. Ela é querida, no feminino, entendeu? - Responde Leonardo me provocando - Ficou curioso Gal Sal?
- Não, independente do que você for fazer, bom ou ruim, aqui ou lá fora, tomara que se ferre e morra - Digo dando de ombros.
- Nossa senhora, me quer morto? Essa doeu viu. Certeza que não está de mau humor Gal Sal? Gal? - O jovem me chama novamente mas não o respondo, muito menos olha para sua direção - Ah,vai me ignorar agora? Nossa Gal, sério? Hum. Mau humorado.
*Você ainda não me viu de mau humor* Penso olhando para o pátio do colégio, ainda falta alguns minutos para o fim da primeira aula e se depender de Leonardo ele vai ficar até o fim do dia enchendo minha paciência.
Por que ele é tão estranho?
- Bom, já que não tá muito afim de conversa acho que tô indo então - Comenta Leonardo dando de ombros, me viro para trás vendo o mesmo passar pela porta da sala caminhando pelos corredores.
Me aproximo da porta perguntando ao loiro:
- Para onde vai?
- Por que está perguntando? - Pergunta Leonardo me provocando - Achei que estava me ignorando Gal, já sentiu minha falta?
- Responde o que eu perguntei Leonardo. - Digo já me arrependendo do que perguntei.
- Me responde você a minha pergunta, por que quer saber? - Pergunta Leonardo calmamente.
- Só quero saber - Respondo caminhando até o mesmo - Não importa para onde vai, eu vou também.
- Você vai? - Pergunta o jovem confuso.
- Vou, não quer companhia? - Pergunto não deixando o mesmo responder - Vamos logo, se não o zelador vai nos mandar para a sala novamente.
O jovem dá de ombros me acompanhando, paramos em frente as escadas pensando se realmente era uma boa ideia subir até o terraço. Lá é calmo e vazio, um bom lugar para matar aula mas agora com essas câmeras não sei se o lugar ideal para passar o tempo.
- Podemos ir para a biblioteca, se quiser - Comento dando ideia de outros lugares.
- Odeio livros - Comenta Leonardo revirando os olhos -Que tal o teatro? - Pergunta o jovem caminhando na direção do lugar - Não acho que tenha lá, se tiver é só mandarmos meter o pé também.
- Meter o pé? Seu vocabulário é tão degradante Leonardo - Comento o seguindo.
- Ah, perdão se não falo feito um almofadinha - Comenta o jovem abrindo a grande porta dupla do cômodo.
- Acho que precisa de aulas de bons modos - Digo provocando o loiro.
- Eu tenho modos, só não vejo necessidade de usá-los, mas se quiser que use - O jovem abre as portas dando passagem para mim - Entre senhor Gal Sal, primeiro as damas.
- Besta - Passo pela porta não dando importância pelo o que o mesmo disse, ouço um assobio atrás de mim vindo do loiro, solto uma pequena risada revirando os olhos.
Caminhamos até as cadeiras acolchoadas onde normalmente os alunos se sentam formando a platéia, encaramos o palco vazio durante alguns segundos até Leonardo quebrar o silêncio.
- Que peça incrível né? Tô sem palavras... - Brinca Leonardo olhando para o palco vazio, o mesmo começa a aplaudir o nada, faço o mesmo comentando.
- Realmente é uma peça incrível, viu só aquela parte? - Pergunto entrando na brincadeira que por mais que não fosse tão engraçada me soltava algumas risadas.
- Vi sim cara, achei a melhor cena de todas, digno de bilheteria essa peça - Explica Leonardo se espreguiçando na poltrona.
- Verdade - Comento mudando meu olhar para o teto do teatro, vários detalhes empalhados na madeira do lugar cobria todo o teatro - A Nostradamus é tão antiga, olha só que coisa de velho esses arabescos nada haver - Comento apontando para o teto do lugar.
- Ela é antiga mesmo, me adimira que esse lugar ainda esteja de pé - Explica Leonardo - Ouvi dizer que existe um bunker em baixo da biblioteca.
- Sério? - Pergunto surpreso com a informação - Hm...como faz para entrar lá?
- Sei lá, talvez uma passagem super secreta ou algo assim... - Explica Leonardo dando de ombros - Talvez tenha alguns livros e coisas velhas, se realmente existe um bunker aqui, não acho que tenha algo de interessante lá.
- Hm, talvez tenha - Comento deixando minha imaginação tomar conta de minha mente - Talvez tenha corpos lá, vários corpos...
- Vários corpos? - Pergunta Leonardo fazendo uma careta - Cara você é estranho, sabia?
- Não sou estranho, são possibilidades, elas existem até que se prove o contrário - Explico calmamente - Imagina só, você é um diretor de um colégio repleto de baderneiros e já está cansado deles, cansado de tudo. Aí você também tem um bunker debaixo da sua escola que por uma bela conhecidencia e aprova de som. - Comento dando de ombros - Não insinuando que eu trancaria jovens em um bunker até morrerem de fome ou algo assim, mas...quem sabe não é? O mundo é tão maluco.
- Baderneiros presos em um bunker? Cacete, nós estaríamos ferrados Gal - Brinca Leonardo com certo desespero em sua risada - Imagina só? Acho bem a cara do Veríssimo fazer uma coisa dessas, eu também faria se estivesse no lugar dele.
- Não somos nada fáceis de conviver - Comento já tendo consciência disso - Dentre todos do grupo, qual você acha que morreria primeiro no bunker? - Pergunto curioso com a resposta do mesmo.
- Hm... - O loiro pensa por poucos segundos chegando a conclusão que - Kish, ele é magrelo então seria fácil para mata-lo.
- Matar o Kish? Pra que Leonardo? - Pergunto pensando em mortes naturais como fome ou falta de oxigênio e não em assassinatos.
- Pra comer cara, isso se chama lei da sobrevivência, eu morreria sem dúvida, mas de fome não haha - Brinca o jovem mudando de ideia - Ok, vou mudar os nomes porque o Kish é meu amigo, talvez o Henry então.
- Você comeria o Henry cara? Sabe que ele não toma banho, não sabe? - Pergunto olhando para o loiro indgnado. Essa conversa está tão estranha.
- Hahahaha, sério? Ok espera um pouco...o Bruno então, ele tem muita massa corporal e--- Interrompo Leonardo deixando claro que a pergunta não era exatamente essa.
- Olha a pergunta foi quem morreria primeiro, não quem você mataria -Explico fazendo a pergunta novamente - Quem morreria em um bunker?
- Érika - Responde Leonardo rapidamente.
- Érika? - Pergunta confuso.
- Sim, tipo, ela tem caustrofobia então acho que teria um ataque caustrofobico ou algo assim. - Explica Leonardo calmamente - Sei lá, acho que ela morreria primeiro.
- Faz sentido - Comento seguindo a lógica de seu argumento.
- E você Gal? O que acha? - Pergunta Leonardo curioso.
- Eu. - Respondo sem pensar muito - Não viveria um dia em um cubículo com todo o grupo - Digo com sinceridade.
- Nossa Gal - Leonardo me encara fingindo decepção.
- Vocês não são insuportáveis, quero dizer, vocês são sim mas...acho que eu sou mais insuportável então sei lá, alguém me mataria porque eu só sei reclamar de tudo. - Explico pensativo - Acho que em situações como essas pessoas negativas como eu só atrapalharia...
- Você não atrapalha ninguém Gal, e pensando bem. Acho que eu que morreria primeiro - Comenta Leonardo com firmeza - Se tentassem te matar eu me enfiaria na confusão,eu morreria no seu lugar Gal Sal...
- Você morreria...por mim? - Pergunto o encarando perplexo. Quem seria idiota o suficiente para fazer uma coisa dessas?
Esse garoto definitivamente é estranho.
- Claro, ou nós dois morreriamos juntos, sei lá - Explica o loiro dando de ombros - Caralho esse foi o assunto mais estranho que já tivemos, esquece a parte que eu comentei sobre canibalismo tá? Acho que o Kish nunca mais confiaria em mim se ele ouvisse isso... - Comenta o mesmo pensativo - Enfim...por que está me olhando assim Gal? Se perdeu na minha beleza ein? - Pergunta o jovem me provocando.
Desvio o olhar pensativo. Isso é tão estranho, ele é estanho. Mas não é ruim, eu acho...
- Por que você é assim Leonardo? - Pergunto após alguns minutos de silêncio.
- Assim como? - Pergunta o loiro olhando para mim - Cara eu não sou canibal, só falei que caso tivessemos que voltar a nossa era primitiva eu---
- Não assim, bom você é estranho mas...não é sobre isso... - Comento não sabendo como explicar - Você sabe do que estou falando Leonardo, você é...assim, por que é assim?
- Eu sou? - Pergunta o jovem confuso.
- É burro. - Digo cruzando os braços impaciente. Odeio quando me responde uma pergunta com outra pergunta, isso é tão irritante.
Leonardo é irritante, estranhamente irritante.
- Por que eu sou burro? Olha, não sei exatamente como te responder isso... - Explica Leonardo coçando sua nuca sem graça - Sei lá, vai ver é falta de vitaminas ou ---
- Léo... - O chamo respirando fundo, não vou ser grosso e chamá-lo de burro por não me entender, até porque não é fácil me entender...
*Dentre todos ele pelo menos se esforça para tentar me entender...*Penso o observando desconfiado.
- Por que? - Pergunto o encarando pensativo.
- Por que o que Gal? Cê tá bem? - Pergunta Leonardo confuso - Ainda estamos falando do bunker ou...por que tá me olhando assim? Você que está falando as coisas sem nexo algum e o burro sou eu, só ando com gente maluca - Resmunga o jovem desviando o olhar.
- Por que você é assim? Tipo, assim comigo...? Por que fala coisas engraçadas e legais, você não é assim com os outros do grupo... - Comento me sentindo estranho ao perguntar isso a ele.
Sua estranheza é contagiosa.
- Eu tenho que ser assim com os outros também? - Pergunta Leonardo olhando para mim.
- Me diga você se tem, por que só é assim comigo? - Pergunto ao jovem.
- Porque sim... - Ele responde - Sei lá, eu só gosto de...de ter sua companhia, ela me deixa avontade para falar o que falo, fazer o que faço...ser o que sou, eu acho... - Explica o loiro voltando a encarar o teto - Não que os outros não me deixem avontade mas...sei lá, nos conhecemos a mais tempo, entende?
Permaneço em silêncio pensando em suas palavras, eu o deixo avontade para ser engraçado e insuportável ao mesmo tempo, profundo e sem noção ao mesmo tempo em suas falas.
Ele é naturalmente estranho...
- Desculpa se eu falei alguma coisa nada haver Gal - Ouço Leonardo dizer enquanto se levanta - Foi mal, as vezes eu falo coisas estranhas, você sabe, eu so assim e...me desculpa se isso te encomodou de alguma forma... - Explica a jovem soltando uma risada frouxa - Bom,a aula já deve ter acabado então...acho que eu tô indo pra minha turma.
- Você vai...embora? - Pergunto me levantando - Talvez a outra aula também seja vaga...
- É mas eu vou indo mesmo assim, é melhor... - Explica o loiro abrindo as portas do grande teatro novamente - Foi uma peça legal, talvez possamos assitir outra novamente, o que acha?
Afirmo levemente com a cabeça observando Leonardo sumir em meio aos corredores do colégio. Não sei se devia ter tido algo, ainda estou processando o que Leonardo me disse.
Essa conversa foi... estranha...
*Eu devia dizer algo a ele* penso olhando para a porta *eu vou* passo pela porta dupla olhando aos arredores, vejo se aproximando outro loiro, seus cabelos longos e suéter azul marinho.
*Gaspar* O encaro seriamente observando o mesmo caminhando até mim, sinto a mesma sensação de antes, dessa vez martelando em minha cabeça intensamente.
Eu fiz algo de errado. Algo realmente errado, algo que não devia ter feito.
*Ele está bem?* penso ao notar a forma como o mesmo está caminhando até mim com passos firmes e rápidos em minha direção.
*As fotos* Me dou conta da situação ao notar expressão séria me encarando, entro no teatro novamente olhando ao arredores, não tem outra saída.
Não que eu queira fugir mas a sensação de que não devia ter feito isso me invade rapidamente.
Não importa o que sinto. A verdade é apenas uma. Não é justo ele simplesmente seguir em frente esquecendo de toda dor causada.
Causada por ele...
Ele merece se lembrar disso todos os dias, a culpa é toda dele e eu vou lembrar isso a ele.
Todo o dia enquanto eu estiver respirando. Ele pode fingir o quanto quiser esse papel ridículo de Dante, mas os demônios de Gaspar sempre estarão com ele garantindo seu tormento.
Eu serei seus demônios.
- Qual é o seu problema? - Ouço o loiro perguntar rispidamente passando pelas portas do teatro, seu tom de voz, seus olhos levemente avermelhados, ele estava chorando?
Por que estava chorando? Eu perco minha melhor amiga e quem se vitimiza é ele? Que ridículo, o pior é que todos sentem pena do pobre Gaspar.
- Me responda Gal - Reclama Gaspar se aproximando de mim.
- Bom dia pra você também Gaspar - O comprimento calmamente a alguns passos de distância do loiro.
- O significa isso? - Pergunta Gaspar com as fotos em mãos - Você anda tirando fotos minhas por aí? Sabe o quanto isso é doentio Gal? - Pergunta o mesmo me olhando com desprezo.
- Fotos? não sei se esqueceu mas o álbum de bons momentos ficou comigo, eu só lhe entreguei algumas fotos dele - Explico calmamente - Não gostou do presente Gaspar? - Pergunto fingindo decepção - Pena, achei que gostaria de vê-las novamente...
- Álbum...? - Pergunta o loiro olhando para as fotos.
- Então realmente se esqueceu? - Pergunto seriamente - Bons momentos foram esquecidos com tanta facilidade, é tão insignificante assim pra você? Porque a anos atrás não pareciam - Comento o encarando com desprezo - Eu esperava mais de você Gaspar...
- Essa foto não é do álbum, de onde tirou ela? - Pergunta Gaspar me mostrando uma foto onde Arthur e o mesmo estavam juntos próximo a um bar, estava de noite mas a foto registrou com muita clareza a forma como os dois se olhavam.
- Por que está dando importância para isso? Ouviu o que eu acabei de dizer? - Pergunto olhando para a foto em sua mão com ódio. Ele não vai esquecer de tudo que viveu com Jasmim e viver outro romance. Chega de felicidade de vivencias felizes,ele não merece isso.
- Por que estou dando importância? Gal você não pode sair por aí fotografando os outros, você não deveria estar lá observando os outros, isso é doentio - Reclama o loiro alterando seu tom de voz.
- E quem disse que eu estava lá? Eu não gastaria meu tempo com você e muito menos com esse guitarrista amador. - Digo no mesmo tom que o mesmo.
- Essa letra é sua Gal então para de mentir - Reclama Gaspar se aproximando de mim.
- Eu não estou mentindo - Digo firmimente - A letra é minha mas e daí? Isso prova alguma merda? - Pergunto ao mesmo voltando a falar antes que me respondesse - Você por acaso leu o que escrevi? Porque não parece que entendeu meu recado, quer que eu explique, amigo?
- Cala a boca Gal, eu não quero você se metendo na minha vida, pare de me seguir e tirar fotso, me deixe em paz. - Reclama Gaspar seriamente.
- Eu faço parte da sua vida Gaspar, você gostando ou não. - Explico olhando para o loiro da mesma forma que o mesmo me encara.
Um silêncio toma conta do teatro, seu olhar de ódio fuzilando minha alma aos poucos. Eu não vou fraquejar.
Sorrio para Gaspar me lembrando das discussões idiotas que sempre tivemos, assuntos banais e sem sentido, ele vai virar as costas e se recompor já que nunca foi do seu feitio perder a cabeça.
*Fugindo de novo das brigas, eu sabia* Penso olhando para o loiro que se virando de costas para mim comenta.
- Já dei o aviso, me deixe em paz Gal. - Comenta o loiro se virando caminhando novamente até a porta.
*Fugindo de seus problemas como sempre* penso o encarando com indgnação.
- Doeu Gaspar? - Pergunto ao mesmo, minha fala ecoa pelo teatro fazendo o loiro parar de caminhar se virando lentamente para minha direção - Quando viu as fotos você se lembrou dela, não lembrou? - Pergunto não contendo meu sorriso de canto. - Me diz uma coisa, doeu se lembrar dela? Como se sente sabendo que apesar de ter passado tanto tempo ainda dói, você ainda é um monstro Gaspar, isso dói, não é?
Vejo seus passos correndo rapidamente até mim, por poucos segundos eu sinto a sensação que martelava minha mente se materializando criando um peso enorme sobre mim, peso que me leva ao chão antes que eu pudesse fazer algo.
Ou talvez tenha sido o murro que Gaspar desferiu contra mim.
Seu gesto foi tão repentino que quando me dei conta já estava ao chão, sinto seu peso sobre mim. Sua visão sobre mim me desferindo socos descontroladamente me deixou com...medo.
Não esperava isso de Gaspar, ele nunca vez isso antes. Talvez ele realmente não seja mais o Gaspar...quem é esse Dante?
- Me deixa em paz! Eu não te fiz nada Gal, para com isso e só me deixe em paz! - Exclama o loiro fora de si, sinto suas lágrimas caindo sobre meu uniforme junto a algumas gotas de sangue.
Ele acertou meu nariz em cheio.
Seguro suas mãos o empurrando de cima de mim, limpo o sangue que escorre por meu rosto, me encomodo ao ver o sangue tomando conta do tecido branco da manga do meu uniforme.
Quem esse garoto pensa que é?
- Paz? Você não merece paz Gaspar! A culpa é toda sua por tudo que aconteceu, não vai fugir dessa culpa, você tirou tudo de mim! - Exclamo me levantando, o loiro olha para mim com preocupação mudando seu olhar lentamente para suas mãos levemente sujas de sangue.
- Eu...eu não queria fazer isso, eu não tive culpa Gal! Eu...eu não... eu não quis te machucar, me desculpa Gal - Exclama o loiro em meio a lágrimas.
- Quer que eu sinta pena? A culpa é sua, assuma ela e para de fingir garoto - Reclamo me aproximando do jovem que continuou no chão olhando para suas mãos trêmulas.
- Me desculpa Gal, eu não --- o interrompo rispidamente.
- Para de fingir! Não me importa se você queria ou não - Digo me abaixando próximo ao loiro, me aproximo de seu rosto o segurando com firmeza. Lembro-me do gesto que meu pai havia feito no carro deixando uma lágrima escorrer por meu rosto. - Boas intenções não bastam Gaspar, elas não valem porra nenhuma! - Aperto suas maçãs com força, seu olhar fixa o chão do teatro. Nem para olhar nos meus olhos ele tem coragem.
- Eu não entendo por que está fazendo isso Gal...quer que eu sinta dor? E depois...? Isso não vai mudar as coisas, não vai mudar o que aconteceu - Explica Gaspar cabisbaixo - Eu já pedi desculpas...eu também sinto falta dela...
- Então demostra! - Exclamo perdendo a calma - Demostra que sente falta dela...que ela era importante...demostra que sente falta de tudo, os momentos...
eu...eu sempre estive com vocês, ela se foi e... - O encaro com ódio secando as lágrimas que insistiam em sair de mim - Você também foi, você me deixou sozinho! Isso não é justo Gaspar, você não foi justo comigo e eu também não serei com você.
Olho para as fotos próximo a Gaspar que permanece em silêncio. As pego novamente e caminho até a saída do teatro.
Paro por um segundo deixando claro as minhas intenções. Meu problema com Gaspar não é sua maneira de agir ou sua voz, eu não o odeio como César Cohen. É diferente, é pior, abomino sua existência.
Ele não merece estar vivo. Ele matou as pessoas, matou a Jasmim e me matou por dentro...
Eu também vou mata-lo.
- Você não se cansa de abandonar os outros, não é? Se pensa que pode simplesmente seguir em frente e esquecer o passado você está enganado Gaspar, eu faço parte do seu passado e vou te lembrar dele todos os dias. - Explico olhando seriamente para o jovem - Todo maldito dia Gaspar, enquanto eu e você respirarmos. Ou encara seus demônios de frente ou aprende conviver com eles, eu serei o próprio diabo, serei o que você mais teme, você merece isso. - Fecho a porta o deixando no teatro.
Respiro fundo me recompondo, por mais que meu nariz estivesse escorrendo sangue sem cessar junto a minhas lágrimas eu não posso fraquejar.
Eu não sou fraco.
- Gal...? - Ouço uma voz embargada me chamando, olho para o final do corredor notando que era Aghata correndo até mim me olhando com preocupação - Gal! O que aconteceu? Cara, por que seu nariz tá zuado? O que aconteceu Gal? - Pergunta a jovem desesperada. - Gal? Quem fez isso contigo? Gal fala alguma coisa! - Exclama a jovem olhando aos arredores.
- Meu pa---
- Ele fez isso?! - Pergunta Aghata se infurecendo - Já deu! Eu vou acabar com aquele bro---
- Aghata! - A Interrompo voltando a perguntar.
- Meu pai já foi embora? - Pergunto preocupado olhando aos arredores, se ele me vê assim vai ficar mais do que bravo.
Fiz exatamente o que ele disse para eu não fazer.
- Kian? Eu não sei, tipo, acho que foi embora, mas talvez esteja aqui, sei lá - Comenta Aghata olhando para mim - Cê tá bem Gal?
- Já que não me ajudou em nada com essa resposta pode me ajudar chamando a Marcela? - Pergunto colocando minha mão em meu nariz - Tá doendo pra caralho isso aqui - Digo sentindo um forte encomodo com a dor.
*Vou arrancar sua carne fora Gaspar* Penso irritado com o mesmo, espero não ter fraturado nada, pelo bem dele mesmo eu espero isso.
- Marcela? Quem é Marcela Gal? - Pergunta Aghata olhando aos arredores.
- A enfermeira do colégio Aghata, como não a conhece? - Pergunto me apoiando na jovem que me guia até a enfermaria do lugar.
- Eu não saio me esfolando por aí Gal, por que conheceria a enfermeira daqui sendo que não tenho motivos para ir até ela? - Responde a jovem me levando até o lugar.
Adentro na enfermaria cambaleando sendo recebido pelo olhar de decepção de Marcela. Eu sei que prometi que não viria aqui novamente da última vez mas ela é paga para cuidar de situações como essas então o que me basta é ouvir seu sermão.
- De novo Gal? - Pergunta a mulher de jaleco branco - Meu Deus eu não consigo mais lidar com esses encrenqueiros... - Reclama a mesma saindo de trás de seu balcão.
- Também senti sua falta Marcela - Digo tentando descontrair a situação.
A mesma me pede para me sentar em uma maca na sala ao lado, encaro o ventilador de teto por alguns minutos enquanto a mais velha conversa com Aghata sobre o que havia acontecido, como a jovem sabia ao certo no que eu havia me metido a conversa se encerra rapidamente.
Com uma maleta de primeiro socorros em mãos a mulher se aproxima de mim limpando o sangue de meu rosto e o excesso em meu uniforme.
- Quero só ver como vai lavar isso garoto - Comenta Marcela quebrando o silêncio que havia na sala - Aposto que não é você que lava, não é? - Comenta a mesma em tom descontraído - Coitada da sua mãe viu, isso aqui não vai sair com cloro haha - Brinca a mais velha olhando para meu uniforme, suas risadas param ao notar a afeição em meu rosto.
- Não vou lavar nada, tenho empregados exatamente para isso. - Digo desviando o olhar encerrando o assunto.
Após limpar a ferida ela encara meu rosto com preocupação.
- Quem fez isso Gal? - Pergunta Marcela acariciando meu rosto, não a respondo. Isso não é da conta dela. - Era forte? - Pergunta a mesma tocando em meu nariz - Dói quando toco aqui?
- Aí! - tiro a mão da mulher de meu rosto - É claro que dói! Não faça isso Marcela! - Reclamo levantando da cama hospitalar.
- Gal, continue parado, estou tentando te ajudar - Explica a mulher calmamente - Quem fez isso com você?
- Se quer mesmo ajudar pare de fazer perguntas que não são da sua conta - Reclamo a encarando - Eu só cai. - Digo a primeira coisa que me vem a mente.
- Caiu? - Pergunta Marcela desconfiada - Caiu no punho de alguém? de quem? Bom, seja quem for tirou seu nariz do lugar. - Explica a mulher com preocupação - Olha, eu não vou dizer nada porque sempre que vem aqui eu digo. Eu digo e você ouve tudo atentamente, sempre que você sai por aquela porta volta no dia seguinte com mais machucados, me pergunto se eles são de seus colegas daqui ou de alguém da sua casa...
- O que quer dizer com isso? - Pergunto rispidamente - Eu não tenho amigos aqui, todos são insignificantes para mim. E Pare de se meter na minha vida, apenas faça seu trabalho. - Reclamo voltando a me deitar na maca.
- Eu estou fazendo Gal, ou tentando. Meu trabalho é manter todos os alunos da Nostradamus bem, não só em questão de físicas, eu sei que não dói apenas os machucados... - Explica a mais velha segurando em minha mão - Tem algo aí dentro que também dói, não tem? Sabe que pode conversar comigo sobre isso também, não sabe Gal? Quero tiver bem fisicamente e principalmente psicologicamente, entende o que quero dizer? - Pergunta Marcela me olhando com pesar.
Desvio o olhar a agradecendo pela ajuda. Depois de Aghata ela é a única mulher que parece realmente se importar comigo.
- Obrigada Marcela, mas está tudo bem... - Digo calmamente.
- Eu vi seu pai hoje, ele é um homem bastante sério, não é? - Comenta a mulher preocupada - Como ele te trata Gal? Ele sabe que você arruma brigas com frequência aqui no colégio?
- Me trata bem. - Respondo automaticamente - Ele sabe, ele não gosta muito dessas brigas...
- Nenhum pai gosta de ver seu filho se machucando em brigas Gal, elas nunca são a solução para nada no mundo - Comenta a mais velha pensativa - Você devia se cuidar mais Gal...
- Eu vou parar com isso, prometo - Explico com a voz embargada.
- Não prometa a mim Gal, você já fez isso várias vezes e não compriu e eu não estou julgando você por isso. Prometa a si mesmo e cumpra pelo seu próprio bem Gal, você tem que se cuidar...é jovem demais para arrumar tantas brigas assim... - Explica a mais velha fechando sua pequena maleta.
Permaneço em silêncio observando a mulher guardando suas coisas. A mesma volta caminhando calmamente até mim.
- Pode chorar Gal, não vou contar para o resto do seu grupo - Comenta a enfermeira se aproximando de mim.
- Chorar? Por que eu choraria? - Pergunto olhando para suas mãos que alcançam meu rosto lentamente.
- Porque colocar seu nariz de volta no lugar é algo que vai doer bastante - Explica a enfermeira colocando suas duas mãos em meu nariz.
- Espera como ass---
•Após alguns minutos de dor e sofrimento•
*Putaquipariu* saio da enfermeira desnorteado, eu nunca mais quero arrumar briga com ninguém.
Não que envolva socos em meu nariz.
- Olha ele ali! - Exclama Henry caminhando até mim junto ao resto do grupo - Caralho Gal, então é verdade que quebraram seu nariz? - Pergunta o jovem surpreso olhando para o pequeno saco de gelo em minhas mãos.
- Não é verdade. - Respondo colocando o saco de gelo em meu rosto novamente - Eu só caí.
- Caiu? - Pergunta Bruno preocupado - Como assim Gal?
- Caí da escada. - Respondo o maior passando por todos. O grupo me segue continuando a fazer perguntas idiotas.
- Caiu da escada? Espera, por que estava lá em cima do terraço? - Pergunta Antony curioso - Achei que lá em cima era proibido entrar, não era?
- Se capotou da escada cara? - Pergunta Érika tentando fingir preocupação.
- Deve ter sido uma cena engraçada - Comenta Kish segurando sua risada.
- Como assim caiu da escada? - Ouço Leonardo me perguntar olhando para mim.
Não acho que consigo mentir para ele, nem quero tentar.
Ele não mentiria para mim então não é justo se eu mentir para ele...
- Dá pra pararem de me seguir me enchendo de perguntas irritantes? - Pergunto me virando para todos - Sumam da minha frente - Reclamo seriamente observando o grupo se dissipar em meio as outras pessoas do colégio.
Perdi metade do intervalo com essa situação toda.
- Tô com fome - Me viro para Leonardo que como sempre está ao meu lado.
- Quer que eu vá embora também? - Pergunta Leonardo olhando para mim - Entendo se quiser ficar sozinho...
- Você pode me fazer companhia nisso, e me pagar um lanche - Explico caminhando até o refeitório junto ao loiro.
Caminho até a máquina de besteiras recém instalada no refeitório, não sei o porquê Veríssimo gastou dinheiro com algo que em poucas semanas será arrombada por vândalos do colégio.
- Já reparou que aos poucos a Nostradamus está virando colégio americano? Tipo, armários para estudantes, máquinas com essas besteiras aí, qual é a próxima ideia do Veríssimo? Fazer um time de futebol americano? - Comenta Leonardo olhando para o pátio.
- Colégio americano? Riquinhos idiotas nós já temos - Comento pegando alguns pacotes de batatas, pego também uma lata de refrigerante e uma garrafa de água já que não sou eu que vou pagar.
- No caso você né haha - Brinca o loiro mudando sua expressão ao notar a quantidade de coisas em meus braços - Cê não comprou água né? Aquele bebedouro ali é de graça Gal, por que quer me levar a falência? - Pergunta Leonardo seriamente.
- Eu gosto de água com gás - Explico calmamente - É só três reais Léo, larga de ser mão fechada.
- Mão fechada? Água nem deve ter preço cara, o capitalismo é uma droga! - Exclama o loiro indignado - Quem colocou essa máquina aqui?! Tirem agora, isso está me saindo caro---
- Para de gritar seu escandaloso, eu pago então. - Reclamo pegando os pacotes de batatinhas e a garrafa de água com gás - Seu pobre. - Reclamo caminhando até uma mesa vazia e mais afastada no refeitório.
O intervalo já está acabando e vários alunos se levantam caminhando até o pátio para aproveitar os poucos minutos que lhe restam de liberdade.
- Você está certo Gal - Comenta Leonardo olhando para mim - Riquinhos americanos já temos na Nostradamus, iu eu só tomo água com gás!
- Eu não disse isso - Explico abrindo a garrafa pet - E muito menos com essa voz estranha.
- Iu iu perdão, eu gosto só de água com gás mi, mi, mi - Brinca Leonardo com uma voz afeminada - É tudo a mesma coisa cara, besta.
- Sou besta por ter minhas preferências? - Pergunto abrindo os pacotes de batatinhas.
*Sem Sal* penso olhando para o pacote desistindo de comer.
- É besta por gastar três conto em água, isso sim - Comenta Leonardo em meio a risinhos - Ih, que cara é essa? - Pergunta o loiro olhando para mim que encarava o pacote com decepção.
Gastei dinheiro com essa porcaria murcha e sem sal. Meu dia só piora.
- Pronto, agora vai começar a falar mal das batatinhas - Comenta Leonardo olhando para mim - Você é terrível Gal, não dura um dia em uma escola pública.
- Credo, que nojo - Comento tirando a embalagem de perto de mim, o cheiro de morte industrializada me deixou enjoado rapidamente.
- Que isso Gal, não precisa falar assim do sistema de educação cara, é uma merda mas falar que é nojento é meio pesado - Comenta Leonardo chamando minha atenção.
- Do que você está falando Léo? - Pergunto me virando para o mesmo - Tô falando disso aqui - Coloco o pacote próximo ao mesmo - Prova e fala que eu tô exagerando.
- Quer que eu prove? - Pergunta o jovem olhando para o pacote com receio.
- Ui, eu tenho medo de um saco de batatinhas sabor cebola e salsa - Digo da mesma forma que o mesmo havia feito.
O jovem me encara por alguns segundos em silêncio, o encaro da mesma forma esperando o mesmo abrir o saco de batatas.
- Não vai comer Leonardo? - Pergunto seriamente.
- Tô de dieta, valeu - Responde o mesmo se levantando da mesa de onde estávamos.
- Ui, eu tô de dieta---
- Gal, nas duas primeiras vezes foi engraçado. Agora já deu meu amigo - Explica o jovem encomodado com minhas imitações, é claro que ele não está achando graça já que as provocações estão sendo direcionadas ao mesmo.
- Você começou com o ui, ui. Agora me deixa falar o quanto eu quiser - Explico sorrindo para o mesmo - Eu até gostei.
- De que? - Pergunta Leonardo - Espera, de falar ui? Hahahaha - O jovem cai na gargalhada, ainda recuperando o fôlego ele comenta - O cara gostou de falar ui, que papo estranho Gal.
- Estranho é você rindo de uma palavra com duas letras - Comento cortando sua risada. Sorrio ao notar sua expressão voltando ao normal.
- Nossa você é tão chato as vezes - Resmunga Leonardo cruzando os braços.
- Ui, ui ele ficou zangado agora - Comento me levantando, caminho até as lixeiras levando as embalagens.
Coloco as embalagens nas devidas cores das cinco lixeiras em minha frente.
- Qual a diferença entre as cores? - Pergunta Leonardo olhando para as lixeiras confuso.
Me viro lentamente para o mesmo o encarando seriamente.
- Léo... - Respiro fundo colocando minhas mãos em seu ombro - Pelo bem da nossa amizade eu vou ignorar essa pergunta extremamente idiota que você me fez... - Explico o olhando com preocupação, Leonardo não é o cara mais esperto mas esse nível de burrice é preocupante.
- Eu falei alguma best---espera, então somos amigos? - Pergunta Leonardo surpreso, vejo um sorriso sincero surgir em seu rosto - Você nunca disse isso antes...
- É... - Desvio o olhar confuso, não sei o que dizer, não sei se devo. Ouço o sinal tocar indicando que o intervalo já havia acabado - Eu sei que nunca disse mas...você é meu amigo, ao contrário de muitos você é legal e nunca pediu nada em troca de nossa amizade, você nunca ligou para o que os outros dizem de mim, você só ficou e...não foi embora como o Gaspar. - Respiro pesadamente me afastando lentamente do loiro - Bom, acho que te devo um obrigada por tudo.
- Obrigada? Não agradeça Gal, eu só...eu só não entendo porquê ele simplesmente se afastou de você, tipo, você é legal e...bom, azar o dele de não ser mais seu amigo, não é? - Comenta o jovem dando de ombros.
- Talvez o problema não seja ele... - Comento pensativo.
- Ei... - Ouço Leonardo me chamar, olho para o mesmo que comenta - O problema não está em você Gal, não se culpe por nada do quw aconteceu...
- Não acha conhecidencia literalmente todo mundo me odiar? Talvez...e se eu tiver um problema? Sei lá, algo que encomode todo mundo, algo inrreversivél... - Digo perguntando para o loiro que permanece em silêncio.
Eu devia perguntar isso a mim mesmo e não a ele.
Afinal são meus problemas...
- Não é todo mundo Gal, existe muitos que gostam de você - Comenta Leonardo - Tipo eu. Eu gosto de você...
- Você não conta como todo mundo, você é estranho Léo. - Digo sorrindo para o mesmo.
- É, você já falou isso algumas vezes, tipo, todo dia sempre que tem a oportunidade. - Explica o loiro me acompanhando até a sala - Seu nariz tá legal? Foi uma queda em tanto ein, acha que consegue ficar na sala? - Pergunta o jovem com preocupação.
- Então...eu meio que não caí da escada - Comento com certo arrependimento de ter mentido para o jovem.
- Eu sei Gal, você mente mal, quer conversar sobre isso depois da aula? - Pergunta Leonardo olhando para o professor Calisto que aos poucos se aproximava de minha sala.
- Pode ser agora? - Pergunto olhando para o mesmo - É claro que pode, você nem gosta de estudar mesmo - Digo o puxando para a direção do teatro novamente.
- Que? Espera você quer matar aula durante o dia inteiro Gal? - Pergunta Leonardo me olhando preocupado - Não acha que pode trazer problemas para a gente?
- Pode, mas acho que o segundo ato dessa peça vai ser incrível - Explico passando pelas portas do lugar novamente.
Está vazio. Menos mal.
- Hm, tem razão Gal - Comenta Leonardo voltando a se sentar na mesma cadeira que havia se sentado da última vez, me sento a seu lado voltando a encarar o palco vazio.
O chão liso e empoeirado coberto por vários assentos tom azul turvo, cor que não combina com o vermelho vibrante das grandes cortinas próximo ao palco. Tudo é calmo e silencioso, me pergunto se minha discussão com Gaspar ecoou pela Nostradamus.
Tomara que sim, é bom que todos ouçam o que ele é de verdade.
Fraco e falho, é assim que ele estava jogado ao chão. Ele nem se quer me respondeu...
Covarde.
- Gal? - Me desperto ao ver os dedos de Leonardo estalando em frente oa meu rosto, ele parecia estar falando a alguns minutos.
- Hm? - Olho para o jovem confuso - Que foi? - Pergunto voltando a realidade.
- Como assim que foi? Voceê me chama aqui para conversar e fica olhando pro nada, não vai me contar o que aconteceu?
- Vou... - Digo voltando a minha atenção para o jovem - Antes de tudo, eu só disse aquilo sobre as escadas porque não quero dar satisfação da minha vida para nenhum deles - Explico me referindo aos escripitas que apesar de serem meus amigos não são tão confiáveis ao ponto de contar meus problemas a eles.
- Entendo, olha não quero falar que você mente mal mas... você mente mal Gal - Explica Leonardo.
- O importante é ninguém saber a verdade, pelo menos não agora... - Explico olhando para Leonardo seriamente - Não conte a ninguém Leonardo Gomes.
- Relaxa eu não v---nossa, me chamou de Gomes. - Comenta o mesmo preocupado - Você nunca me chama assim, o que aconteceu?
- Tô falando sério Léo. - Afirmo seriamente - Olha, lembra daquela ideia de trazer Gaspar até o laboratório?
- Claro que lembro, a ideia foi minha - Comenta Leonardo com orgulho de seu plano estúpido, plano que eu levei toda a culpa de novo, para variar.
- Sabia que essa sua ideia me custou uma bronca do meu pai? - Comento chamando a atenção do mesmo - Não diga isso com tanto orgulho Leonardo, seu plano foi falho.
- Falho? Oras, o Gaspar foi até o laboratório e agente bateu um papinho legal, não tão legal assim mas a minha parte de tentar chamá-lo para os escripitas eu fiz Gal, eu tentei o convencer assim como me pediu - Explica Leonardo suspirando fundo - Talvez com o tempo agente o convença a entrar para os---
- Eu não quero ele no grupo, quero ele longe de mim, longe de todos...ele não merece ter nenhum tipo de amigo - Comento com rispidez olhando para o palco vazio.
- Mas voc---
- Eu mudei de ideia, agora o alvo será o maldito Gaspar. Vou fazer ele se arrepender de tudo que fez - Comento o interrompendo.
- Então vai deixar o Cohen de lado? - Pergunta Leonardo confuso - Eu não saquei seu raciocínio Gal, primeiro você detesta o Cohen e quer que o Gaspar volte a ser nosso amigo, agora vai deixar o Cohen em paz e o alvo será o Gaspar, os papéis se inverteram?
- Inverteram? - Pergunto segurando minha risada - Os papéis não se inverteram, até porque eu nunca vou querer César Cohen por perto. Ele é insuportável, o Gaspar também é. Acho justo tratá-lo da mesma forma.
- Então...vamos fazer o que com o Gaspar? - Pergunta Leonardo me olhando com receio.
- Vamos? Léo, você não precisa fazer nada...eu sei que Gaspar era seu amigo e entendo se não quiser fazer nenhum tipo de mal a ele - Explico para o mesmo - Mas te peço uma coisa Leonardo...não me impeça.
- Impedir de que exatamente...? - Pergunta Leonardo olhando seriamente para mim.
- De nada, não me impeça de nada que eu quiser fazer. - Explico olhando para o jovem seriamente - Eu tenho tudo sobre controle e sei o que faço.
- Sabe mesmo? - Pergunta Leonardo preocupado - Eu não dúvido que você tenha tudo sobre controle mas...as vezes os sentimentos nos deixam confuso, entende? - Explica o jovem pensativo - Eu acho que você devia pensar muito bem antes de fazer qualquer coisa contra o Dante, talvez sua escolha não tenha volta e o que nos resta do nosso grupo vá embora...não acha que se conversamos com ele as coisas possam voltar como antes? Tipo...amigos novamente, seria legal, não acha?
- Primeiro, o nome dele não é Dante, e as coisas não podem voltar a ser como era antes, o que restou de nosso grupo aquele maldito garoto matou. - Explico fechando os punhos - Ele acabou com tudo, com todos...
- Gal, ela faz falta, eu sei...sei que os dias são difíceis sem ela mas você é jovem demais para estar morto por dentro, tenho certeza que ela não gostaria disso... - Explica o loiro me confortando - Sabe o que ela diria vendo essa situação entre vocês dois? - Pergunta o jovem com um sorriso de canto em seu rosto.
- Diria para pararmos de brigar, se não ela arrancaria nossas orelhas - Comento com um sorriso frouxo.
- Se quiser eu posso arrancar a orelha doa dois, faço isso com muito prazer haha - Brinca o jovem segurando em minha mão - Ela não gostaria de ver vocês dois tão distantes assim, amigos são para os momentos de dores também...vocês deviam estar apoiando e ajudando um ao outro Gal - Explica Leonardo me confortando.
- Momentos de dores? Isso prova que ele não é meu amigo, ele nunca foi...ele não estava lá...ele me deixou sozinho...por que ele simplesmente foi embora? Por que esse Dante chegou e começou a ignorar tudo o que houve? Por que as coisas aconteceram daquela forma...? - Pergunto apertando sua mão desviando o olhar.
Odeio chorar perto dos outros, apesar que só a eu e Leonardo aqui. Ele não contaria isso a ninguém, eu sei disso, mas mesmo assim me sinto fraco de certa forma.
- Gal...eu também não entendo quem é esse Dante e porquê as coisas aconteceram daquela forma mas eu tenho certeza que assim como dói em mim e em você também dói nele...acha justo o culpar dessa forma? Sabe, isso deve estar pesando muito para ele...é uma ferida que não podemos tocar dessa forma... - Explica Leonardo seriamente.
*Eu não vou tocar em sua ferida, eu vou abri-la, vou rasgar sua alma de dentro para fora Gaspar* Afirmo com ódio.
- Ele merece isso, é um falso que fingiu, um covarde que fugiu, um mentiroso que enganou todo mundo! Acha mesmo que ele era nosso amigo? Cadê ele então? Ele deixou todo mundo, fugiu de seus problemas, problemas que ele mesmo criou! - Exclamo indgnado - Você não entende Léo? A culpa é toda dele! Por que não está com raiva? Você perdeu sua amiga! - Reclamo encarando o jovem que suspirando pesadamente me explica.
- E ele a namorada...ele também sente falta dela Gal, não podemos acusar ele dessa forma, é ---
- É injusto? O que ele fez também foi, por que não entende isso Leonardo? A culpa é toda dele! - Exclamo indgnado tentando o convencer.
Não entendo o porquê Leonardo sente pena de Gaspar, ele nem se quer é mais o Gaspar...
- Gal! Por favor escuta o que você mesmo está dizendo, cara...isso não tem relação alguma, a morte dela não tem nada haver com o Gaspar e você sabe disso - Explica Leonardo firmimente - Você tem que parar de achar um alvo para descontar suas mágoas...ele é seu amigo, não o culpe por isso, ele sente tanta dor quanto você - O jovem me encara nos olhos, suas pupilas marejadas desviam o olhar para o chão - Me explica o por que você o culpa tanto pela morte dela. - Comenta Leonardo olhando para mim seriamente aguardando alguma resposta.
- Porque sim, a culpa é dele... você não entende Leonardo... - Murmuro cabisbaixo, sinto uma de suas mãos levantando minha cabeça levemente me fazendo o encarar.
- Então me explica Gal, qual é a reação de Gaspar com o acidente de Jasmim? - Pergunta Leonardo aflito - É sério Gal, eu não entendo o seu ódio por alguém que já foi tão próximo de você...por favor me explica o que aconteceu, eu...eu preciso saber o que você sabe e não quer me contar...
Permaneço em silêncio por alguns segundos, eu prometi que manteria segredo. Assim como os meus segredos morreram com ela os de Jasmim morrerão comigo.
Não é fácil, confio tanto em Leonardo mas a mentira sempre vai machucar menos que a verdade.
- Eu não sei Léo... - O respondo cabisbaixo.
- Não sabe ou não quer me contar? - Pergunta Leonardo nitidamente encomodado - A Jasmim era minha melhor amiga Gal,eu nunca me abri tanto para alguém como fiz com ela, conversar com ela era terapêutico, entende? Ela disse que você a ouvia assim como a mesma me ouvia...ela tinha problemas assim como todo mundo tinha e tem até hoje - Explica o jovem com certa indgnação - Eu vivi com ela, morei no mesmo inferno de orfanato com ela durante anos e mesmo assim ela não confiava em mim...não o suficiente para me contar sobre alguns assuntos, mas com você era diferente, não é? Ela era sua confidente assim como você também era...eu não estou reclamando de nada Gal, mas eu sei que tem algo,tem algum detalhe, alguma coisa que você sabe sobre o que aconteceu e não quer me contar...isso é frustante cara, me sinto como um inútil, eu poderia ter sido útil, quero dizer, se eu pudesse ter feito algo eu teria feito mas - Aflito o loiro se perde em suas palavras respirando pesadamente - Eu só não entendo como alguém pode ter simplesmente sofrido uma hemorragia e...isso não faz sentido Gal.
- Você não é médico então é claro que não faz sentido a causa da morte dela pra você - Explico mudando de assunto - Eu sinto muito por te fazer se sentir assim mas...eu prometi que não contaria nada, mesmo se pudesse eu...eu não faço ideia de como começar a explicar... - Comento cabisbaixo - Mas entenda que se culpo o Gaspar dessa forma é porquê realmente a um motivo. - Afirmo seriamente ao loiro.
- Eu não posso acusar alguém de algo tão sério como isso Gal, principalmente não sabendo de toda a história mas...eu sempre vou te ajudar no que precisar, não sabe? - Explica Leonardo sorrindo fraco para mim, meu rosto avermelhados coberto por algumas lágrimas que escorreram durante toda a conversa me deixa angustiado, não queria vê-lo dessa forma.
*Não devia ter iniciado esse assunto* penso com arrependimento, aperto sua mão o confortando.
- Não precisa se me meter nessa confusão, você nunca precisou... - Explico sorrindo para o nada - Acredita que meu pai tem razão? Em toda a minha vida eu ouvi palavras verdadeiras saíndo da boca daquele homem - Comento dando uma risada frouxa me lembrando de suas palavras.
- Seu...pai? - Pergunta Leonardo me encarando confuso.
- É, ele disse que você é uma boa pessoa...ele tem razão. Você não é alguém ruim Leonardo, você faz algumas merdas mas sinceramente todos fazemos, não é? - Pergunto pensativo recebendo a afirmação do mesmo que ainda me encarava um pouco confuso - Sabe, você é realmente uma boa pessoa, acho que boa até demais para andar com péssimas influências como eu e o resto daqueles baderneiros...- Explico olhando para o jovem ao meu lado seriamente - Você sabe que não precisa ser um escripita, não é? Acho que você nem deveria ser---
- Opa opa, calma lá - Leonardo me interrompe com preocupação - Esse papo tá estranho e eu tenho alguns porques - Explica o jovem confuso. - Primeiro, por que o meu belo e lindo nome tava na boca do teu pai? O que exatamente ele falou e por que falou, quero diser, ele acha que eu sou bom? Tipo, bom? E outra, você tá me tirando educadamente do grupo?
- Que? Não Léo - Explico para o jovem - Eu só quis dizer que talvez seja melhor para você se fizesse laços com pessoas mais...sei lá, legais e normais, entende?
- Normal? Gal, eu tenho noção das amizades que faço e não entendo esse papo de pessoa boa, bom ou não, importa mesmo? Você mesmo disse que o bom e ruim sou eu e minha consciência decide, não é? - Explica Leonardo calmamente - Ao meu ver os escripitas não são tão ruins como muitos dizem, quero dizer, ah a gente é só um grupo estranho e mau compreendido. E sinceramente, eu não sei do que seu pai tá falando de mim, ele não faz ideia que dentre todos do grupo eu sou o mais estranho, não é? - Pergunta Leonardo sorrindo para mim - Eu deveria me preocupar com seu pai me elogiando? Isso não parece ser nada normal.
- Não é mesmo, na verdade não sei se foi bem um elogio, foi só um comentário - Explico dando de ombros - Um comentário positivo então, parabéns. Meu pai não te odeia, o que é um milagre já que ele não gosta muito de---
- De seus amigos? - Pergunta Leonardo me interrompendo.
- De pessoas. - Explico resumidamente.
- Ah, saquei. Bom, se ele me acha legal deixa ele se iludir com isso né hahaha - Brinca o jovem se espreguiçando em sua poltrona - O tão famoso Kian me acha um garoto bom, eu sou incrível mesmo - Comenta Leonardo se gabando.
- Pronto, começou... - Reviro os olhos me perguntando porquê comecei a falar de elogios com o cara mais vaidoso que eu já vi na vida.
- Eu sei que sou legal e até bonzinho, alguém um dia teria que notar meu grande potencial, eu retiro tudo o que disse sobre seu pai cara, ele não é tão burro assim, ele viu o quão inteligente sou e---
- Para de ser besta, não falei em momento algum sobre potencial ou inteligência, inclusive tá aí duas coisaz que você com certeza não tem - Digo com sinceridade - Eu disse que ele disse bom, e eu não sei o que isso quer dizer então pode parar de se achar garoto, esqueceu que o talento dele é mentir? - Pergunto cortando sua alegria.
- Nossa, primeiro você diz que seu pai está certo e que eu sou uma ótima pessoa. Depois você me chama de burro e sem potencial - Reclama Leonardo me olhando torto - Cara, entender você é tão complicado.
- Não tô pedindo para você me entender - Reclamo me levantando.
- Mas eu sou um garoto muito esforçado, e é claro muito bom também. Se o Kian falou tá falado cara - Brinca o jovem se levantando junto a mim - Já vamos embora? Achei que ia me contar sobre as escadas - Comenta Leonardo com curiosidade.
- Escadas? - Pergunto confuso - Ah, não te contei sobre a briga... - Comento suspirando pesadamente.
- Briga? Entre você e o Dan---Gaspar - Pergunta o loiro preocupado - Vocês brigaram?
- É, mais ou menos... - Murmuro suspirando pesadamente - Já teve a sensação de arrependimento? - Pergunto olhando para o loiro que responde sem pensar muito no assunto.
- Claro, todos nos arrependemos de algo que fizemos...ou que não fizemos... - Explica Leonardo me tranquilizando - Isso é totalmente normal Gal, o arrependimento prova que você assumiu seu erro para si mesmo, isso nos faz mais humanos...
- Acha que eu errei? - Pergunto o encarando seriamente - Eu não estou falando dessa briga Leonardo, não me arrependo de nada que disse e sinceramente, falaria de novo. Eu me sinto mais leve depois de tudo issso... - Explico ao loiro que me encara apreensivo - Por que tá me encarando assim?
- Você sabe que sua leveza teve um preço, não sabe? Dante pode estar se sentindo --- Interrompo o loiro rispidamente.
- Para de chamá-lo de Dante, toda vez que você fala essa dtiga você alimenta essa mentira absurda - Reclamo o encarando seriamente.
- Gal... - O jovem suspira pesadamente mudando de assunto - Foi ele que fez isso com você? - Pergunta Leonardo com certa preocupação.
- Foi, parece que ele se irritou mas não me arrependo de nada do que disse a ele... - Explico com firmeza - Eu...me arrependo de algo que não disse na verdade...
- Algo que não disse? - Pergunta Leonardo - Ah, entendo perfeitamente... - Murmura o jovem olhando para o palco do teatro pensativo.
- Um conselho sincero, se arrependa de algo que fez e não do que não fez, é menos doloroso. - Explico caminhando até as portas do teatro novamente - Se quer dizer, não tenha receio, insegurança ou medo, apenas diga...o que for para acontecer, bom ou ruim acontecerá de qualquer forma... - Aconcelho o loiro que ainda pensativo volta a me encarar.
- Gal... - O jovem me chama com certo nervosismo, o encaro confuso me perguntando porquê ele está tão estranho, bom, mais que o normal.
Permaneço parado a espera do que quer que ele queira me dizer, após alguns segundos de silêncio pergunto impaciente.
- Vai falar ou não Leonardo? - Pergunto encarando o loiro que desvia o olhar novamente coçando pescoço aflito.
- Você...ahm...você foi mesmo até a enfermeira? - Pergunta o jovem mudando de assunto de novo.
*Mudando de assunto de novo? Por que você é tão estranha Leonardo Gomes?* Penso o encarando desconfiado.
- Era isso que queria me perguntar Leonardo Gomes? - O encaro seriamente esperando uma resposta sincera do mesmo.
- É que...sei lá, seu nariz parece meio torto... não está doendo? - Pergunta o jovem caminhando até as portas junto a mim.
- Tá doendo um pouco, mas acho que isso é normal - Comento calmamente, minha calma rapidamente se esvai ao ouvir o comentário de Leonardo.
- Normal? E se ele cair? Sei lá e se---
- Meu nariz não vai cair Leonardo, não seja idiota cara - Reclamo o interrompendo.
- Hm, mas e se cair? Quero dizer, olha minha mãe sempre disse que um beijo sempre sara as lesões e machucados - Explica Leonardo com simplicidade.
- Sua mãe é estra--- Paro minha frase olhando para o loiro que sorria de canto para mim. O acerto com um leve soco em seu ombro - Você nem tem mãe Leonardo! - Reclamo segurando minha risada entre os dentes - Seu engraçadinho!
- Haha jogando isso na cara de um órfã? Você é mau Gal Sal - Comenta Leonardo fingindo tristeza. Depois do incêndio no Orfanato Santa Merefreda os sobreviventes do lugar foram transferidos para lares de tutores de todo o país, tive sorte que Leonardo permaneceu em um lar aqui em São Paulo.
Não sei o que faria sem sua companhia.
- Falando nisso, como eles são? Você nunca comenta nada sobre seus tutores - Comento olhando para o loiro que dá de ombros fazendo um breve e raso comentário.
- Ah não tem muito o que falar, eles são normais, até que toleráveis mas sei lá...as vezes eu tenho vontade de pegar todo meu dinheiro e meu carro e sair por aí sem rumo - Explica o jovem pensativo - Mas aí eu lembro que não tenho dinheiro e nem carteira de motorista, então fico em casa mesmo.
- Entendo. - Comento segurando a risada. - Parece ser complicado...
- Pode rir Gal Sal, eu sei que quer - Comenta Leonardo parando em frente a grande porta do teatro - Para onde vamos agora?
- Espera - Digo colocando minha mão sobre a sua no exato momento que o loiro abria as portas do grande teatro. O loiro me encaro por alguns segundos esperando algo acontecer, talvez alguma resposta já que meu gesto foi rápido e sem motivo algum. Desvio o olhar cochicando para o mesmo - Ouviu isso? - Pergunto ouvindo passos se aproximando dos corredores.
- Passos? - Pergunta Leonardo - Estamos em um lugar público Gal, é claro que terá passos por aí - Explica o jovem sem dar importância para meu comentário.
Me afasto do jovem tentando ouvir de quem são as vozes que pertence aos passos, pude ouvir a de Veríssimo rouca e cansada como sempre junto a alguma familiar.
Talvez meu pai ainda esteja aqui, o que me preocupa de certa forma.
- Não são só pessoas Léo, escuta - Explico tentando ouvir alguma coisa dos corredores, essa sensação estranha ainda permanece em minha mente. Receio que talvez ela não vá mais embora...
- Está preocupado? É só ver quem é e--- o interrompo bruscamente ao ouvir a voz grave e cansada de Veríssimo em frente as portas do teatro, olho para Leonardo negando levemente com a cabeça, o jovem aos poucos se afasta da porta desistindo de abri-la.
- Ele não está em sua turma, de acordo com alguns alunos ele saiu no primeiro período senhor Veríssimo - Explica outra voz masculina, talvez seja o zelador do colégio.
- Procure ele novamente zelador, vá a diretoria e chequem as câmeras. Quero Gal Sal na minha sala agora mesmo. - Ordena Veríssimo impaciente, recuo alguns passos para trás temendo que entrassem aqui e me vissem.
*O que eu fiz dessa vez?* Penso olhando de relance para o palco vazio do teatro me lembrando do ocorrido com Gaspar.
*Essa voz...é ele* abro a porta vagarosamente deixando uma minúscula fresta que apenas confirma o quem eu achei que era.
Arnaldo Fritiz.
Lá está ele, o homem que meu pai tanto fala, tanto odeia. Não sei quem é Arnaldo Fritiz, mas sei que não é o mesmo homem simpático e querido por todos na frentes das câmeras. Tem algo nele, algo que encomoda profundamente o meu pai.
- Onde está o responsável por Gal? - Pergunta Arnaldo suspirando pesadamente - Esse jovem tem que parar de arrumar brigas constantes com meus filhos, estão os desgastando Veríssimo, na última vez que estive aqui o senhor me prometeu que faria algo a respeito sobre o comportamento desse jovem - Explica o homem colocando uma de suas mãos no ombro de Gaspar que ao lado do mais velho permanecia em silêncio - Está vendo o que Gal está desencadeando na vida do meu filho? Não posso permitir que isso continue acontecendo e você como um diretor que preza a segurança de todos da Nostradamus também não pode permitir - Explica o homem com firmeza, Veríssimo olha para o zelador que volta a entrar nas salas próximas a minha procura.
- Vou entrar em contato com o responsável de Gal novamente, o mesmo acabou de sair da Nostradamus mas pelo visto Gal já arrumou outro problema, lamento por todo esse encômodo senhor Arnaldo, por enquanto aguarde no conforto da secretaria enquanto não resolvemos essa situação - Explica o diretor do colégio calmamente acompanhando o homem e seu filho até o final do corredor onde se encontra a secretaria.
- Gal? - Ouço Leonardo me chamar com preocupação - Cara, cê tá legal? Gal? Gal! - O jovem toca em meu ombro me despertando de meus pensamentos.
- O Arnaldo...ele tá aqui, merda ele vai contar para meu pai - Digo recuando da porta do lugar - Vão me achar, droga eles vão me achar e contar ao meu pai!
- Que? Espera, contar o que exatamente? Qual o problema da presença de Arnaldo na Nostra---
- Como assim qual o problema? É o caralho do Arnaldo Fritiz! Nossa fudeu, meu pai vai me matar, Leonardo fudeu! - Exclamo olhando desesperadamente para o nada.
- Fudeu o que? Cara foi você que levou um murro no nariz, você não está totalmente certo nessa confusão mas o Dante com certeza também não é o santo, entende? - Explica Leonardo tentando me acalmar - Por que o desespero?
- Não chama ele de Dan---esquece! - Reclamo abrindo a porta lentamente observando a movimentação do corredor, por enquanto vazio. - Eu preciso da sua ajuda Léo. - Explico olhando para o jovem que ainda confuso pergunta.
- Pra que? O que vai fazer? - Pergunta Leonardo observando junto a mim pela fresta - Vai dar um perdido no véio?
- Eu preciso sair da Nostradamus e chegar em minha casa o mais rápido possível - Explico tentando ficar menos tenso. Essa sensação atormentadora de que fiz algo de errado está bem clara agora.
Eu fiz e me sinto estúpido por isso, como não pensei na consequência de algo tão sério quanto isso?
- Gal, eu não tô entendendo nada do que você está falando. - Comenta Leonardo me encarando pensativo - Por que quer sair da Nostradamus? Cê tá fugindo do do Veríssimo ou do Arnaldo? - Pergunta o jovem tentando entender alguma coisa.
- Fugir de quem? Não cara! - Exclamo voltando a fechar a porta do teatro - Olha, eu preciso de três favores seus Léo...
- Três? Ah Gal, o que você fez? - Pergunta Leonardo receoso de minhas próximas palavras.
- Primeiro, presta muita atenção no que eu vou te falar agora porque eu não tenho tempo para repetir de novo, ok? - Explico tirando as fotos de meu bolso mostrando para o loiro - Segundo, não conta pra ninguém, por favor...pra ninguém mesmo sobre isso... - O encaro seriamente mostrando as fotos para Leonardo que encara algumas com certa nostalgia.
- Esse show foi insano - Comenta Leonardo sorrindo para uma das fotos que tinha em mãos - E o piano do seu pai? - Pergunta o jovem olhando para outra foto, o mesmo volta a me encarar confuso - Ok, eu oficialmente não tô entendendo caralho nenhum.
- Olha essa outra foto, ele é recente, tipo, mês passado no máximo - Explico mostrando a última foto para Leonardo que me encara abismado - Sim, esse é o Gaspar.
- Ele é gay? Quem é esse outro cara na foto? - Pergunta Leonardo analisando a imagem - Esquece a primeira pergunta, já tirei minha conclusão.
- Tirou? - Pergunto curioso - Esse outro jovem se chama Arthur Cevero, não sei qual é o tipo de relação entre eles mas pelo o que vi nas fichas é bem... estranho... - Explico olhando para a foto com desprezo.
- Estranho tipo bom ou---oi??? ficha? Do que cê tá falando Gal? - Pergunta Leonardo extremamente confuso - Essas fotos são do seu álbum, isso eu saquei mas por que você tem essa terceira contigo? Você tirou?
- Eu não tirei foto nenhuma Léo, essa foto e outras fotos dos Fritiz acompanhado por fichas estranhas estavam no escritório do meu pai - Explico pegando as fotos novamente - Eu preciso voltar para minha casa agora e colocar esse foto de volta no lugar antes que meu pai descubra que eu a peguei, se não ele vai ficar puto de verdade - Comento dando uma espiada novamente para o corredor - O terceiro favor e me ajudar a sair da Nostradamus exatamente por esse motivo que acabei de te explicar, me ajuda nessa? - Pergunto tenso com a situação, a expressão de confusão de Leonardo apenas piorar. Respiro fundo mantendo a calma - O que você não entendeu Leonardo?
- Nada! Calma, por que tem fichas e fotos do Dante no escritório do seu pai? - Pergunta Leonardo desconfiado.
- Não sei, e não era só do Gaspar, todos os Fritiz estavam lá, o Thiago, a Beatrice e inclusive o Arnaldo - Comento com Leonardo - As fichas tinham algumas informações, não sei ao certo eu...eu não vi direito, estava nervoso demais para reparar com calma... - Explico voltando a fechar as portas novamente.
- Você tava nervoso? Por que? - Pergunta Leonardo preocupado.
- Por que? Por que?! Eu entro no escritório do meu pai e sua mesa está repleta de fotos e fichas bizarras! Ele é um doente que está perseguindo uma família sabe se lá porque, como quer que eu fique Leonardo?! - Pergunto desesperado.
- Para de surtar Gal! - Exclama Leonardo em meio a surtos.
- Não dá! Meu pai vai chegar aqui e dar de cara com Arnaldo que vai contar para ele sobre as fotos! Ah droga, eu não devia ter mostrado nada para o Gaspar, ele contou para Arnaldo que vai contar a meu pai que vai me matar, Leonardo eu sou um homem morto! - Exclamo entrando em pânico, eu não devia ter pegado nada de meu pai, seja lá qual motivo de todas as fotos e fichas em cima daquela mesa com certeza não é da minha conta e eu não deveria ter me metido em nada.
Ele vai ficar mais do que bravo comigo.
- Gal, é sério...não surta... - Murmura Leonardo tentando me acalmar - Então você precisa voltar para casa e colocar essa foto novamente no escritório do seu pai antes que ele perceba? Certo? - Pergunta Leonardo seriamente, afirmo com a cabeça tentando manter a calma - Eu te ajudo, sempre vou te ajudar no que precisar mas...por que pegou a foto? - Pergunta Leonardo me encarando nos olhos, desvio o olhar arrependido do que fiz.
- A porta estava aberta e quando eu vi todas aquelas fotos e...eu vi ele, o Gaspar...ele estava tão feliz...na maioria delas na companhia de Arthur e... - Suspiro pesadamente voltando a olhar para Leonardo - Eu não acho tudo isso justo Leonardo, ele jurou amar tanto ela e agora esse Arthur aparece e ele simplesmente se esqueceu de tudo...se esqueceu dela...eu só queria que ele se lembrasse de novo, é claro que eu não pensei direito, cacete eu não pensei em nada! Eu não pensei nas consequências de pegar algo relacionado ao trabalho do meu pai...- Volto a olhar para o chão envergonhado de mim mesmo, de mim e meus sentimentos que de novo tomaram conta de mim.
Encosto minhas costas na grande porta dupla do teatro observando as cortinas empoeiradas do lugar.
- Eu deixei a raiva e a indignação tomar conta de mim e... é tão injusto, eu me senti tão mal em ver Gaspar seguindo em frente e conseguindo criar novos laços que...eu só queria que ele sentisse o que eu sinto, não quero sofrer com a perda dela sozinho... - Tento explicar em meio a algumas lágrimas que por mais que não quisesse que saíssem estavam lá. Escorrendo por todo meu rosto demostrando minha fraqueza.
*Eu não pensei nas consequências, eu fiz tudo errado...* Limpo meu rosto com a manga de meu uniforme levemente manchado de sangue. Olho para o canto do teatro onde Gaspar me acertou com ódio e tristeza ao mesmo tempo.
Suas lágrimas gritavam de dor e agonia, assim como as minhas gritam agora.
É insurdecedor, é doloroso...
*Eu mesmo provoquei isso...* Sinto a mão de Leonardo próximo a meu rosto, seus dedos limpam levemente minhas lágrimas me confortando.
- Olha...eu não sei bem o que dizer sobre isso, eu...sinto muito por você Gal, em partes em te entendo mas o mais preocupante de tudo isso é o fato do seu pai estar fazendo essas coisas, quero dizer, isso com certeza não é com o consentimento dos Fritiz, ou são? Sei lá, não faz muito sentido tudo isso... - Explica Leonardo preocupado - O importante agora é você colocar essa foto no lugar de onde ela não deveria ter saído.
- Eu preciso voltar para casa e tentar entrar no escritório dele novamente - Explico olhando aos arredores - Não tem outra saída a não ser o portão principal, não acho que vão me deixar sair.
- A gente dá um jeito - Explica Leonardo olhando para mim seriamente - No três a gente passa pelo zelador ou seja lá quem for, corre até o gramado, a gente pula o muro e mete o pé.
- Meter o pé? - Pergunto olhando para o loiro em negação.
- Quer sair daqui ou não? - Pergunta o jovem seriamente, antes que pudesse responder o mesmo abre as portas rapidamente saíndo por ela, o acompanho rapidamente, sinto sua mão puxando meu braço com mais rapidez ao ouvir a voz do zelador gritando por meu nome - Caralho corre! - Exclama Leonardo correndo junto a mim até o pátio principal.
- Gal Sal! Pare agora garoto! - Reclama o funcionário do colégio nos seguindo, atravesso o pátio correndo até o gramado do colégio olhando para o grande muro. Me pergunto como caralhos eu vou conseguir passar por cima disso.
- Gal! - Ouço Leonardo ao meu lado me chamando, me viro para o mesmo olhando para o loiro que com suas mãos próximo a meus pés esperava alguma atitude minha - Anda logo Gal! - Exclama o jovem olhando para o zelador que aos poucos se aproximava de nós.
- Que isso? - Pergunto confuso.
- Tu nunca deu pezinho para ninguém mano? - Pergunta Leonardo abismado - Só sobe aí, rápido!
Obedeço o jovem colocando meu pé esquerdo em cima de suas mãos, antes que pudesse tirar minhas dúvidas sobre o que é um pezinho sinto o impulso Leonardo me levar para cima do muro. Seguro na parte de cima do muro usando o peso de meu corpo para atravessar o outro lado rapidamente, olho para Leonardo que sorrindo para mim se despede calmamente.
- Agente se vê mais tarde Gal - Comenta Leonardo se virando para o zelador cruzando os braços - Fala ae Sidney, como vai indo seu trabalho? - Pergunta o jovem calmamente com o senhor mau humorado que agarrando o braço do mesmo reclama.
- Graças a muleques como você ele anda indo muito mal!
Olho para a rua ignorando os olhares de alguns pedestres sobre mim caminhando em direção a minha casa, se meu pai não tivesse me trago hoje um motorista estaria de prontidão nesse exato momento em frente a Nostradamus, pronto para me levar para o lugar que eu quisesse.
* O jeito e andar,bom,correr* penso caminhando rapidamente até a direção de minha casa já sabendo que não tenho tempo a perder.
No caminho penso em que fazer caso não tenha a sorte que encontrar a porta do escritório aberta novamente. Realmente não devia ter entrado naquele cômodo, sinto que sei de coisas que não deveria saber.
Fotos da família Fritiz? Isso tem haver com o trabalho? Com certeza não, que tipo de trabalho meu pai está fazendo então?
Todas aquelas fotos...isso gerou desconforto no Gaspar, se ele contar a seu pai eu terei grandes problemas com meu pai.
Não posso atrapalhar seu trabalho, não há coisa que o irrite mais que isso.
*Trabalho, é sempre a droga do trabalho* penso finalmente me aproximando de minha casa, entro no condomínio de casas e apartamentos passando pelos seguranças do lugar, olho para a garagem a procura do carro de meu pai torcendo para que não estivesse em casa.
O que eu diria a ele?
*O que eu faço agora?* Penso olhando para a porta, entrar pela porta da frente não é uma boa ideia já que algum funcionário da casa com certeza perguntaria o porquê voltei do colégio algumas horas mais cedo.
Caminho pelo gramado da grande residência caminhando até os fundos da casa na esperança de encontrar alguma porta aberta na varanda.
*Quando está fazendo um frio do caralho todas as portae estão abertas até o canto, é incrível isso* penso ironicamente tentando abrir a porta da varanda que parece estar trancada por dentro.
Dou algumas leves batidas no vidro a procura de alguém mas a casa parece estar totalmente silenciosa.
- Dia de feira - Ouço uma voz rouca se aproximando de mim, me assusto com o jardineiro que com suas botas cobertas de terra explica novamente - Hoje é dia de feira, a governanta foi até a feira acompanhado com o mordomo, o motorista já deve estar voltando com os dois - Comenta o rapaz de meia idade calmamente - Te trancaram para o lado de fora, senhor? - Pergunta o mesmo preocupado.
- Ah...oi... - O encaro confuso - Você trabalha aqui? - Pergunto não reconhecendo o rosto do rapaz.
- Ah sim, estou dando alguns reparos nas rosas da mansão, fui buscar uma ferramenta melhor já que o jardim está repleta de erva dani---
- Ok, isso não me importa - Comento o interrompendo - Eu te fiz uma simples pergunta, um sim ou não me basta. - Reclamo caminhando até as janelas da varanda que também estavam fechadas.
- Sim senhor, eu trabalho aqu---o que está fazendo? - Pergunta o rapaz curioso.
- Te importa? - Pergunto encarando o homem de cima a baixo - Não está pensando em entrar na varanda cheio de terra, está?
- Ah, não senhor...eu só achei que estava precisando de alguma ajuda - Comenta o homem olhando para mim - Você não devia estar no colégio?
- Não, não deveria - Explico de forma seca - Meu pai tá em casa? - Pergunto ao rapaz enquanto tento abrir outra janela que também se encontra trancada.
- Não senhor, não voltou desde cedo quando levou o senhor e a senhorita Aghata para o colégio - Explica o homem calmamente - Inclusive, não deveria estar lá?
- Já disse que não. - Reclamo impaciente - Faz alguma coisa com essa janela, eu preciso entrar agora. - Aponto para a varanda desistindo de contar com minha força.
O homem sem perguntar nada tenta abrir a janela ao meu lado que realmente estava trancada, por sorte a janela ao lado oposto de mim estava apenas emperrada. Entro finalmente na casa respirando fundo, coloco minha cabeça para fora da janela olhando para o jardineiro que voltou a fazer seu trabalho.
- Não preciso te lembrar que se contar qualquer coisa sobre eu não estar na escola você perde seu emprego, não é? - Explico o encarando seriamente.
- Não senhor... - Murmura o rapaz concentrado em seus afazeres no jardim.
Volto a minha atenção para o resto da casa que estava silenciosa e calma. É estranho não ouvir gritos nesse lugar, um estranho bom...
*Ele não está em casa...* Olho para o grande e antigo piano de Kian respirando fundo. É só entrar lá e deixar a foto onde ela estava.
É fácil e simples.
*Espero que ele não tenha sentido falta dela* Penso olhando para a foto subindo as escadas rapidamente, caminho até a porta imponente do escritório de meu pai virando a marçaneta rapidamente antes que pudesse me arrepender de ter feito isso.
Fico surpreso ao ouvir o ranger da porta se abrindo revelando o grande e organizado local de trabalho de meu pai.
*Por que está aberta?* Penso olhando para a porta desconfiado, esquecê-la aberta uma vez é até normal mas pela segunda vez é...estranho.
Um estranho nada bom.
Caminho vagarosamente até a mesa localizada no centro do cômodo, caminho com cautela não querendo arriscar deixar marcas de pegadas no carpete, passo pelas estantes repletas de livros e poucos potes com crânios em conservação.
Nunca entendi o motivo dessas cabeças ósseas nas prateleiras, uma vez ele me disse que era algo relacionado a seus estudos em ciências humanas mas pelo o que eu sei o mesmo não trabalha nessa área.
No que meu pai trabalha exatamente?
Eu nunca parei para pensar nisso, talvez por não poder fazer perguntas relacionadas a seu trabalho eu nunca havia pensado nisso. Pensando ou não, nunca terei respostas...
*A não ser que eu as busque aqui...* Penso por poucos segundos antes de ser interrompido por mim mesmo. *Você enlouqueceu Gal?! Guarda essa foto e some daqui agora!* Afirmo a mim mesmo tirando essa ideia imprudente de minha cabeça.
Me aproximo da grande mesa que dentre tantos móveis e estantes era a mobília que mais se destacava no cômodo. Talvez por sua madeira antiga porém bem reservada e polida, ou talvez por estar cheia de papéis e fotos sobre a mesma, um pequeno porta retrato estava posicionado próximo a um grande e velho livro.
Penso em dar uma olhada no grande livro mas a foto no retrato me chamou mais a atenção. Um homem engravatado e bem arrumado ao lado de uma mulher de longos cabelos negros e sorriso de orelha a orelha, sorriso tão forçado quanto o de meu pai, seu vestido vermelho vibrante dava destaque a sua pele pálida e frágil contra os raios de sol que iluminava toda a foto, atrás havia a grande mansão onde eu estou nesse momento.
*Eu tava na foto, só não sabiam ainda* Penso olhando para a barriga da mulher da foto que aparentava estar grávida.
Coloco o retrato novamente no lugar que estava voltando a olhar as fotos e fichas, dessa vez com mais calma.
- Arnaldo Fritiz - Pego a ficha do homem olhando os dados do tão famoso ator e empresário, dentre sua dada de nascimento e alguns nomes de laços parentais encontro uma frase que me faz pensar cada vez mais no que exatamente meu pai trabalha.
Seja o que for, não é algo bom...
*Falha tentativa de exterminação, em 2009 no Orfanato Santa Merefreda* Olho para o documento em mãos me lembrando do ocorrido, como esquecer do incêndio que destruiu não só o lar de meus melhores amigos mas também matou a maioria dos órfãos do lugar.
Lembro-me bem da manchete que saiu em todos os jornais onde dizia que um jovem órfã salvou a vida de Arnaldo Fritiz durante o incêndio. Em forma de gratidão o renomado ator adotou o jovem e sua pequena irmã.
Foi a partir desse momento que a vida de Gaspar mudou. Foi a partir desse momento que ele mudou...foi a partir desse momento que esse Dante apareceu e eu perdi meu amigo...
*Tentativa de...exterminação? Tentaram mata-lo no incêndio...* Penso olhando para as outras fotos de várias pessoas sobre a grande mesa. Pego outra de Gaspar onde o jovem descansava tranquilamente em sua varanda ao lado de Beatrice que acariciava sua ave de estimação.
*Vão matar todos esses?* Penso preocupado e receoso de saber o porquê e quem está fazendo isso.
Kian não é o responsável por isso, ele não faria isso, por que faria? Não faria. Ele nunca faria isso...ele não faria isso.
*O que está acontecendo aqui?* Olho para a mesa tentando manter a calma, não sei o que está acontecendo mas eu preciso fazer alguma coisa a respeito.
Preciso? Eu devo fazer, eu tenho que fazer...
Coloco a foto de Gaspar e Arthur novamente próximo a ficha do mesmo, tiro outra ficha dentre vários papéis perplexo.
*Esse é aquele treinador do coreano* penso olhando para a ficha com o nome Cristopher Cohen.
*Cohen?* Encaro o papel seriamente já sabendo de quem se trata.
*Que porra toda é essa?* Olho aos arredores não entendo nada, sinto meu ser gelar por inteiro ao ouvir alguma porta do andar de baixo se abrindo, saio do escritório rapidamente fechando a porta, atravesso o corredor a caminho do meu quarto. Sou parado ao ouvir uma voz familiar me chamando.
- Gal? - Me viro com certo alívio reconhecendo que era Aghata - Quando você chegou? Não te vi no carro - Comenta a adolescente com sua mochila e livro em mãos.
- É claro que não viu, estava tão concentrada em seu livro que não notou minha presença - Comento entrando em meu quarto, vejo o olhar da jovem desconfiado sobre mim. A encaro por alguns segundos antes de explicar - Eu tive que sair mais cedo, se não fosse pela ajuda de Leonardo eu esta---Leonardo, nossa eu me esqueci dele - Pego meu celular rapidamente a procura de seu contato.
Entro em nossas conversas vendo uma foto de um ventilador de teto de algum cômodo. Cômodo que eu conheço bem.
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Estranho
Onde você está?
Tá na diretoria??
Sim
O Veríssimo tá puto aq ksksk
Acho que só saio daqui com meus pais
Sério?
Nossa Léo
Me desculpa por te colocar nisso tudo cara
Isso o que?
Gal, você pediu minha ajuda e eu o ajudei, não tem dq se desculpar cara
Tá de boa
Eu tô aqui por outra coisa
Eu acho
Como assim
?
"Rebeldia"
Mn
O Veríssimo é um imbecil tbm
Ele me perguntou onde você estava aí eu falei que não sabia
Ele ficou insistindo querendo saber onde você estava e é claro que eu não ia contar
Saca só as palavras dele: - Eu só vou perguntar mais UMA vez, onde ele está?! Onde ele está??
Aí eu com a maior educação e humildade falei - achei que só ia perguntar uma vez.
O cara me colocou ma detenção pq eu o respondi com falta de respeito
Mn, eu nem fiz nada
Esse véio tá doidão dazideia
Você falou mesmo isso?
Léo
Eu riria se você não estivesse em encrenca por minha causa cara
Que sua causa o que Gal
Eu assumo as consequências do que faço e sinceramente eu não fiz nada de errado
Eu só ajudei um amigo, isso é crime?
Não.
Ou é?
Depende do crime
No caso eu acho que sim
Nss eu nunca havia pulado um muro antes...
Foi tão estranho.
Um estranho bom ou ruim?
Sla
Acho que bom
Então tá ótimo
Ou
Conseguiu guardar a foto??
Seu pai te viu? Não né?
Né?
NÉ???
Não viu
Eu entrei e coloquei na mesa
Assim como estava
Menos mal
Agora é só fingir que nada aconteceu, certo?
Léo...
Eu preciso fazer algo a respeito disso tudo
Disso o que?
As fotos?
Olha você pode até me chamar de burro mas eu ainda não entendi muito bem pq seu pai tem fotos dos outros no escritório dele
Eu acho que tô começando a entender...
Sério??
Eu não tô gostando disso Léo...
Tô com uma sensação horrível
Sensação?
Consegue definila?
Gal você tá bem??
Não
Eu tô com medo...
Medo?
Do seu pai?
É...
Tipo, medo de ele machucar alguém, entende?
Alguém tipo você?
Tipo qualquer um
Sla cara...
Acha que é seguro você ficar aí?
Por enquanto sim
Ele não pode saber que eu entrei no escritório, tirando isso o resto eu sei lidar
E se descobrir?
Não vai
Ele não vai.
O que você viu lá dentro?
Cara
Amanhã eu te falo
Acho que essa assunto precisa acontecer pessoalmente
Léo é sério, não conta pra ninguém cara.
Gal
Eu não vou contar
Relaxa
Olha, apesar de toda essa situação bizarra eu fico feliz em saber que você confia em mim para me contar...
Tipo, você não costuma confiar e contar as coisas para os outros, principalmente da sua família...
Eu sei guardar tudo isso pesa muito em você, fico aliviado em saber que você confia em mim de certa forma
Obg por confiar em mim Gal, de verdade.
Eu que te agradeço Léo...
Eu preciso entregar sua mochila cara, talvez eu entregue para Antony já que ele mora no teu condomínio
Deixa com você
Amanhã eu pego
Então vai na aula amanhã?
Possívelmente sim
Ok...
Te vejo lá então
Se cuida Gal
Você também Léo
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Desligo o celular pensativo nas palavras do loiro, eu nunca sei digerir as coisas que Leonardo Gomes fala. Ao mesmo tempo que suas falas são toscas e banais elas também são...estranhas...
Um estranho bom...
*Leonardo Gomes e sua estranheza agradável* penso sorrindo para o teto, olho para a porta de meu quarto onde Agatha ainda estava a me observar .
- O que está fazendo aqui? - Pergunto com certo encômodo. - Esse é o meu quarto e você sabe que não gosto da sua presença dentro dele. - Reclamo olhando para a adolescente que se senta ao lado de minha cama me mostrando seu livro.
- Eu já pedi desculpas por quebrar seu espelho Gal, para de ser rancoroso - Comenta Agatha folheando seu livro com animação - Você disse que queria ler junto comigo mais cedo, lembra? Que tal agora, tipo, agora mesmo!
- Agora? Você acabou de chegar Aghata, não quer almoçar primeiro? - Pergunto a encarando seriamente - O livro não vai desintegrar se você colocar uma colher de comida na boca, sabia?
- Eu tô sem fome - Explica a adolescente calmamente.
- Você falou a mesma coisa mais cedo, você comeu alguma coisa na escola Agatha? - Pergunto preocupado com a jovem.
- Relaxa eu--- a jovem é interrompida por uma voz grave que se pronuncia dentro do escritório.
- Quem entrou aqui? - Pergunta Kian saindo do cômodo com passos firmes e rápidos até o quarto de Agatha. O mais velho começa a bater na porta a procura de Agatha. A jovem se levanta caminhando até a porta de meu quarto perguntando a Kian qual era o problema.
Sinto meu peito sendo violentamente esmagado pela sensação estranha que novamente toma conta de mim.
Eu sei bem qual é o problema.
- Por que tá esmurrando a porta do meu quarto? - Pergunta Agatha olhando para Kian que caminha até a jovem rapidamente - O que eu fiz desssa vez?
- O que está fazendo no quarto do Gal? - Pergunta Kian se aproximando da jovem.
- Tô conversando com ele, nós vamos---aí que isso! Me solta caralho! - Exclama a jovem ao ser agarrada pelo maior que a arrasta até seu escritório. Me levanto rapidamente correndo até o corredor, a jovem se contircia tentando se livrar das mãos de Kian que puxava seu braço até o cômodo. - Solta! Cê tá me machucando cara, me sol---
- No que você tocou aqui? - Pergunta Kian empurrando a jovem para dentro de seu escritório - Me fala a verdade garota, no que você mecheu aqui?
- Que? Eu nem entrei aqui, acabei de chegar! Nossa pra quê me puxar desse jeito, é só me perguntar - Reclama Agatha encomodada.
- Não mente pra mim Agatha, por que entrou aqui? - Pergunta Kian rispidamente - Me responde! - Exclama o mais velho impaciente.
- Já te respondi! Não entrei aqui, e nem pense em tocar em mim de novo se não eu---
- Fui eu. - Murmuro com minha voz trêmula, encaro o chão sentindo os passos de Kian se aproximando lentamente de mim.
*Droga...* Sinto os dedos do mais velho levantando minha cabeça até a altura do olhar do mesmo.
Seu olhar profundo e cansado penetram minha alma, silenciando todos os pensamentos de que eu fiz algo de errado.
Eu fiz, e já está feito.
- Você entrou lá dentro? - Sua pergunta me faz pensar se mentir seria uma boa escolha.
Temo dizer a verdade mas se mentir a culpa cairá sobre Agatha, isso não é justo para a adolescente.
- Sim... - Respondo o mais velho seriamente.
- O que você viu lá? - Pergunta meu pai seriamente.
- Nada...apenas um retrato de um lindo casal... - Explico tentando manter a calma. Um sorriso largo surge no rosto do mais velho que olha novamente para seu escritório.
- Gostou da foto? - Meu pai me pergunta colocando uma se suas mãos em meu ombro - Todas são lindas, não acha?
- São... - Respondo sentindo a força do maior sobre meu ombro - Antes de qualquer ameaça eu já esclareço que não vou contar a ninguém, não precisa se irritar com nada e nem com ninguém...
- Contar o que? - Pergunta Agatha me olhando preocupada.
- Nada, não é nada Agatha - Explico estendendo minha mão para a mais nova que caminha até mim a segurando fortemente - Vamos para a sala começar nossa leitura, que tal? - Pergunto para a jovem que afirma animadamente.
- Vamos! Cara você vai adorar, é tipo um conto paranormal, tipo, muito foda a criatura nos observa pelas sombras e---
- Sem espoiler Agatha - Comento caminhando até as escadas, olho para trás notando o olhar de meu pai que próximo a porta de seu escritório ainda me encarava.
*Poderia ter sido bem pior* Penso com certo alívio de ter acontecido apenas troca de olhares.
Sinto que o pior ainda está por vir, mas por enquanto, um conto de terror é uma boa leitura para passar o tempo.
Até porquê nada é mais aterrorizante do que o dono dessa fria casa.
Oiê!
Autora aqui entregando mais um capítulo, espero que a demora tenha valido apena para vocês!
Não esqueçam da estrela e aquele comentário bacana que, sério, me ajuda muito!
Eu adorei escrever esse capítulo, espero que você tenha adorado lê-lo!
Um abraço de vento para quem quiser e baey baey!
⚠️✒️ Capítulo revisado mas pode conter erros na escrita!
Total de palavras: 22.473
Hey, está se hidratando não é? Espero que sim viu!
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